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REVISTA-PSB-Cap-1-e-3

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O QUE FAZ O<br />

BRASIL, BRASIL? A<br />

QUESTÃO DA<br />

IDENTIDADE.<br />

Para se ter um Brasil com “B” maiúsculo, é<br />

necessário muito mais que terra, água e<br />

povo. Faz-se necessário tentar entender a<br />

interação entre os povos desta terra e os<br />

recursos que estavam disponíveis, bem<br />

como para quem estavam disponíveis<br />

(DAMATTA,<br />

1984).<br />

Marina Mendes<br />

Para se tornar um país, o Brasil, e ser<br />

conhecido como uma nação, ou casa, ou<br />

lar, é necessário que haja um adulto que<br />

invocará todo o sentido do que é ser<br />

brasileiro, assim como o servo chama pelo<br />

patrão, o fiel clama por seu Deus, a pátria<br />

tem a necessidade de ser invocada pelo seu<br />

morador para que só assim nasça o Brasil<br />

de verdade, forte e potente (DAMATTA,<br />

1984). Assim como Deus está em todas as<br />

partes, assim também está o Brasil e a<br />

identidade nacional que a forma. No<br />

carnaval, na mulher, na comida, na<br />

malandragem, na arte, nas leis, no quarto,<br />

na sala, nos cumprimentos, nas rezas e<br />

orações; aí está o Brasil, o que ele é, o que<br />

foi e quem sabe, pra onde irá? (DAMATTA,<br />

1984). Formando uma sociedade que se<br />

subdivide em separações por classes,<br />

raças, religiões; há no Brasil uma maneira<br />

díspar de se fazer as coisas, não nos<br />

cabendo valoração de certo ou errado no<br />

famoso “jeitinho brasileiro”, que se pode<br />

chocar também com o próprio brasileiro,<br />

visto que somos um povo advindo de<br />

diversas outras culturas, raças e etnias dos<br />

quatro cantos do globo (DAMATTA, 1984).<br />

Os estudos sociológicos e antropológicos,<br />

para descobrirem a identidade nacional<br />

fazem filtros e selecionam os dados<br />

importantes da sociedade estudada, como a<br />

religião, como se alimentam, se há ou não<br />

hierarquia, entre outras; para só então após<br />

a análise destes dados que se descobre a<br />

identidade daquela sociedade, a sua<br />

ideologia e filosofia de vida (DAMATTA,<br />

1984).


Para sermos o Brasil que somos, há a<br />

necessidade da identificação da identidade<br />

particular de cada pessoa, bem como a<br />

identidade nacional e como esta molda a<br />

personalidade e costume de cada brasileiro.<br />

Conforme DaMatta relata:<br />

“Sei o que sou, pelo que não sou;<br />

pois sou brasileiro, porque não<br />

nasci nos Estado Unidos, falo<br />

português e não inglês, gosto de<br />

futebol com os pés e não com as<br />

mãos, e acredito na família social e<br />

não no indivíduo solitário”<br />

(DAMATTA, 1984, p 14). Esta definição,<br />

portanto, de como se chega a definição da<br />

identidade brasileira só é possível através<br />

da disponibilidade que o indivíduo tem em<br />

exprimir e aceitar tais características do<br />

brasileiro, distinguindo-se assim de outros<br />

povos como o russo ou o inglês.<br />

Mas como saber se o brasileiro é realmente<br />

brasileiro? Para tanto, DaMatta nos fala de<br />

dois métodos: o primeiro, baseado no<br />

modelo quantitativo europeu ocidental, que<br />

consiste em, coletas de dados como o PBN,<br />

o PIB, a inflação, entre outro números que<br />

nos qualificam de forma prática sobre o que<br />

somos, onde estamos, e para qual lugar<br />

iremos com base nos prospectos coletados.<br />

O segundo, diferentemente de países como<br />

Alemanha, França, que se utiliza do<br />

primeiro modelo, trata-se de tentar<br />

compreender o Brasil através de sua<br />

complexidade dicotômica, pois o país<br />

tupiniquim ao mesmo tempo em que é<br />

moderno é tradicional; é capitalista, mas<br />

socialista em aspectos como a saúde, é


europeu, mas também africano; fazendo<br />

assim toda essa diversidade do que é o<br />

Brasil e a sua construção nacional em algo<br />

muito mais delicado de se explicar do que<br />

uma outra cultura menos miscigenada<br />

(DAMATTA, 1984).<br />

Ao caso da miscigenação, que permite esta<br />

grande e complexa identidade nacional no<br />

Brasil; faz-se notar as diferentes<br />

compreensões de cada autor de como<br />

entendia o negro, e sua importância na<br />

formação brasileira. Gilberto Freyre, a<br />

exemplo, em seu clássico Casa Grande e a<br />

Senzala, nos traz uma visão do negro como<br />

um eterno cativo, ordinário e subordinado á<br />

uma raça superior como a branca, porém,<br />

com uma grande riqueza cultura que detém<br />

A esta mistura entre diversas raças que<br />

continham características impares que se<br />

conjugavam e se entrelaçavam gerando<br />

novos frutos; nasce um Brasil com uma<br />

identidade que é afro-descendente,<br />

européia, católica, umbandista, falando<br />

português, mas dançando capoeira,<br />

bebendo champanhe e comendo rapadura,<br />

tornando toda esta complexidade, em uma<br />

identidade nacional que tem vários espíritos,<br />

que geram uma economia engessada no<br />

modelo europeu ocidental, mas que não<br />

caminha com a política “abrasileirada”; onde<br />

ao mesmo tempo em que se eleva uma raça<br />

por todo seu esforço oferecido em séculos<br />

de trabalho escravo, se exclui dos grandes<br />

seus próprios costumes, sua própria<br />

religião, culinária e idioma, aos quais devese<br />

preservar e também introduzir na<br />

sociedade branca européia (FREYRE,<br />

1933). Já outro teórico, a Emília Viotti nos<br />

explica como através da sociedade<br />

brasileira, foi sendo construída da<br />

sociedade brasileira uma identidade em<br />

cima de um mito, de que o Brasil não é<br />

racista, e, contrapondo Freyre que dizia que<br />

a distância de classes era um problema<br />

muito maior que a diferença de raças; Viotti<br />

era crítico ao dizer que o racismo era tão<br />

forte que se passou a “branquear” o negro,<br />

tentando assimilar o negro mais claro dentro<br />

raça branca, sendo punido toda forma de<br />

hostilidade com o negro (VIOTTI, 1998).<br />

centros como as universidades, as tribunas<br />

e as coloca novamente onde sempre as<br />

colocou, o cárcere. Formando assim um<br />

Brasil com B maiúsculo de Beleza,<br />

Balbúrdia, Bálsamo mas com jeito de Babel.

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