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Corpo Místico de Cristo há mais de 500 anos - sendo, por esse facto,<br />

constitucionalmente incapaz de evitar a sua Adaptação total ao Estalinismo.<br />

A Adaptação Ortodoxa começou oficialmente quando o Metropolita Sergio, da Igreja<br />

Ortodoxa Russa, publicou um “Apelo” no Izvestia de 19 de Agosto de 1927. O Apelo de<br />

Sergius, como veio a ser conhecido, esboçou uma nova base para a actividade da Igreja<br />

Ortodoxa Russa - que o leigo russo Boris Talantov descreveu como «uma Adaptação à<br />

realidade ateia da U.R.S.S.». Por outras palavras e como se depreende da argumentação,<br />

a Igreja tinha que encontrar uma maneira de viver com a “realidade ateia” da Rússia<br />

estalinista. Logo, Sergius propusera o que ficou conhecido, abreviadamente, como a<br />

Adaptação.<br />

A Adaptação constou, antes de mais, de uma separação errónea entre as chamadas<br />

necessidades espirituais do Homem - necessidades puramente religiosas -, e as suas<br />

necessidades sócio-políticas. Isto é, uma separação entre a Igreja e o Estado: a Igreja<br />

servia para satisfazer as necessidades puramente religiosas dos cidadãos da União<br />

Soviética, mas sem tocar na estrutura sócio-política que tinha sido edificada pelo<br />

Partido Comunista.<br />

A Adaptação exigiu uma nova administração da Igreja na Rússia, segundo linhas de<br />

orientação esboçadas logo depois de ter sido publicado o apelo de Sergius. Na prática,<br />

isso traduzia-se num acordo de não criticar a ideologia oficial da União Soviética sob o<br />

regime de Stálin, o que se iria reflectir em todas as actividades da Igreja: toda e<br />

qualquer oposição da Igreja Ortodoxa Russa ao regime soviético seria, daí em diante,<br />

considerada um desvio da sua actividade puramente religiosa, e uma forma de contrarevolução<br />

que nunca mais seria permitida nem tolerada.<br />

Efectivamente, devido ao seu silêncio, a Igreja Ortodoxa tornou-se um “braço longo”<br />

do Estado Soviético. Com efeito, Sergius continuaria a defender esta traição e,<br />

inclusivamente, a apelar à condenação dos seus próprios colegas ortodoxos,<br />

sentenciados a campos de concentração por alegadas actividades contra-revolucionárias.<br />

Talantov, que condenara totalmente a Adaptação, descreveu-a deste modo: «Na<br />

realidade, toda a actividade religiosa foi reduzida a ritos externos. A pregação que<br />

faziam, nas igrejas, aqueles Clerigos que seguiam estritamente a Adaptação era<br />

totalmente afastada da vida real e, portanto, não tinha influência alguma nos ouvintes.<br />

Como resultado, tanto a vida familiar, social e intelectual dos crentes como a educação<br />

da geração mais nova permaneceram fora da influência da Igreja. Ora, não se pode<br />

louvar a Cristo e ao mesmo tempo, na vida familiar e social, mentir, fazer o que é<br />

injusto, usar de violência e sonhar com um paraíso na terra» 1 .<br />

E era isto o que a Adaptação envolvia: a Igreja calar-se-ia sobre os males do regime<br />

estalinista, tornar-se-ia uma comunidade puramente “espiritual”, “em sentido abstracto”,<br />

já não exprimiria oposição ao regime, já não condenaria os erros e mentiras do<br />

Comunismo, tornando-se deste modo uma Igreja do Silêncio - como era frequentemente<br />

chamado o Cristanismo para lá da Cortina de Ferro.<br />

O Apelo de Sergius provocou um cisma na Igreja Ortodoxa Russa. Os verdadeiros<br />

crentes que rejeitaram a Adaptação, que denunciaram o Apelo e que permaneceram<br />

ligados ao Metropolita Joseph - e não a Sergius - foram presos e enviados para campos<br />

de concentração. O próprio Boris Talantov teria eventualmente morrido na prisão como<br />

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