manejo e fenação das forrageiras do gênero cynodon - Editora UFLA
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MANEJO E FENAÇÃO DAS FORRAGEIRAS<br />
DO GÊNERO CYNODON<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Antônio Ricar<strong>do</strong> Evangelista 1<br />
Adauton Vilela Rezende 2<br />
Adauto Ferreira Barcelos 3<br />
A conservação de forragens, seja na forma de feno ou silagem, é<br />
prática indispensável para manter níveis de produtividade animal similares<br />
durante to<strong>do</strong> o ano.<br />
A estacionalidade na produção de forragens determina a alternância<br />
de perío<strong>do</strong>s de abundância e escassez de forragem, e gera a necessidade de<br />
se conservar parte da produção, de forma a atender às necessidades de<br />
alimento volumoso <strong>do</strong> rebanho na época seca.<br />
A <strong>fenação</strong> constitui-se em uma <strong>das</strong> alternativas recomendáveis,<br />
especialmente pela possibilidade de estar associada ao programa de <strong>manejo</strong><br />
<strong>das</strong> pastagens, aproveitan<strong>do</strong> para fenar o excedente de pasto produzi<strong>do</strong> no<br />
perío<strong>do</strong> <strong>das</strong> águas.<br />
No Brasil, a <strong>fenação</strong> teve bom impulso com a criação de eqüinos,<br />
haja vista a dependência desses animais por esse tipo de alimento, passan<strong>do</strong><br />
______________________<br />
1<br />
Professor Titular <strong>do</strong> Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras-MG.<br />
(<strong>UFLA</strong>).<br />
2<br />
Doutor em Zootecnia Área Forragicultura e Pastagem , Bolsista Recém-Doutor CNPq.<br />
3<br />
Doutor em Zootecnia, Pesquisa<strong>do</strong>r da EPAMIG-CTSM-Lavras-MG.
6<br />
a ser considerada uma opção de atividade em agricultura. Assim, hoje,<br />
algumas propriedades direcionam sua atividade exclusivamente para<br />
produção e comercialização <strong>do</strong> feno, após deixarem de la<strong>do</strong> a criação<br />
animal, e um <strong>do</strong>s motivos, é que nenhuma cultura produz de 8 a 10 safras<br />
por ano, permitin<strong>do</strong> uma entrada constante de dinheiro, o que é muito<br />
importante para o produtor rural, seja qual for o porte da propriedade.<br />
Dentre as <strong>forrageiras</strong> mais bem adapta<strong>das</strong> à produção de feno, as <strong>do</strong><br />
<strong>gênero</strong> Cyno<strong>do</strong>n destacam-se porque apresentam eleva<strong>do</strong> potencial de<br />
produção de forragem de boa qualidade, poden<strong>do</strong> ser usa<strong>das</strong> tanto para<br />
pastejo, como para produção de feno e apresentam também morfologia<br />
adequada, principalmente haste fina e folhas bem aderi<strong>das</strong> ao colmo e alta<br />
relação folha/colmo.<br />
O <strong>gênero</strong> Cyno<strong>do</strong>n é uma gramínea perene, rasteira, com estolões<br />
abundantes, cujos nós enraizam com muita agressividade quan<strong>do</strong> em<br />
contato com o solo, forman<strong>do</strong> um relva<strong>do</strong> denso com forragem de bom<br />
valor nutricional e boa aceitabilidade pelos animais.<br />
2 CULTIVARES RECOMENDADAS PARA FENAÇÃO<br />
Fenos de gramíneas <strong>do</strong> <strong>gênero</strong> (Cyno<strong>do</strong>n) com bom valor nutricional<br />
são obti<strong>do</strong>s <strong>das</strong> cultivares que têm mais folhas <strong>do</strong> que colmos, como por<br />
exemplo: TIFTON-85, COASTCROSS nº 1, FLORAKIRK, FLORICO,<br />
FLORONA, TIFTON-68 e TIFTON 78.<br />
Qualquer que seja a cultivar a ser empregada, o sucesso no<br />
estabelecimento e na produtividade da forrageira está diretamente liga<strong>do</strong> às
condições climáticas <strong>do</strong> local e <strong>manejo</strong>, principalmente de fertilidade <strong>do</strong><br />
solo e número de corte realiza<strong>do</strong>.<br />
3 ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO<br />
A cultivar Tifton 85 foi desenvolvida na Universidade da Geórgia.<br />
Essa forrageira é um híbri<strong>do</strong> F1 entre a introdução Sul-Africana (P1290884)<br />
e Tifton 68, sen<strong>do</strong> considerada o melhor híbri<strong>do</strong> obti<strong>do</strong> no programa de<br />
melhoramento daquela Universidade. Foi selecionada para a produção de<br />
matéria seca e alta digestibilidade. Tifton 85 é uma gramínea de porte mais<br />
alto, apresenta colmos maiores, possui folhas mais largas e apresenta cor<br />
mais escura <strong>do</strong> que as outras bermu<strong>das</strong> híbri<strong>das</strong>. Tifton 85 possui rizomas,<br />
o que torna essa forrageira resistente ao frio e à seca.<br />
A cultivar Coastcross nº 1 é um híbri<strong>do</strong> estéril, obtida <strong>do</strong><br />
cruzamento da cultivar Coastal e é uma introdução de bermuda, de alta<br />
digestibilidade, pouco tolerante ao frio, proveniente <strong>do</strong> Quênia.<br />
Essa cultivar não cobre rapidamente o solo, mesmo ten<strong>do</strong> estolões<br />
vigorosos, o que a deixa susceptível à invasão por outras espécies ou mesmo<br />
por bermuda comum. Essa forrageira é muito indicada para a <strong>fenação</strong>, já<br />
que desidrata com facilidade por apresentar colmo fino, também para<br />
pastejo. As folhas são macias, apresentan<strong>do</strong> verde menos intenso <strong>do</strong> que<br />
aquela <strong>das</strong> gramas-estrela.<br />
Florakirk é a mais nova cultivar de bermuda, lançada pela<br />
Universidade da Flórida. Foi desenvolvida no Esta<strong>do</strong> da Geórgia, sen<strong>do</strong> um<br />
híbri<strong>do</strong> irmão <strong>do</strong> Tifton 78, com as duas gramíneas provenientes de<br />
7
8<br />
cruzamentos recíprocos. Ambas são híbri<strong>do</strong>s F1 da cultivar Callie. A<br />
diferença é que no caso <strong>do</strong> Tifton 78, a cultivar Callie foi linhagem materna<br />
e Tifton 44, linhagem paterna, ao passo que, no caso da Florakirk, esse<br />
parentesco foi inverso. A Florakirk possui rizomas e estolões; isso a<br />
caracteriza como a mais rústica e resistente ao frio <strong>do</strong> que a cultivar Callie.<br />
A cultivar Florico é perene, estolonífera, apresenta colmos eretos e<br />
não possui rizomas. Em solo fértil, essa cultivar se torna densa, com colmos<br />
medin<strong>do</strong> de 1,2 a 2,7 mm de diâmetro e atingin<strong>do</strong> a altura de 50 a 80 cm,<br />
com inflorescência avermelhada. É recomendada para <strong>fenação</strong> e pastejo,<br />
mas não resiste a pastejo contínuo.<br />
Flórida.<br />
A cultivar Florona é perene, adaptada a clima frio, como no sul da<br />
A sua produção de matéria seca é maior que a produção <strong>do</strong> cultivar<br />
Florico, mas a sua digestibilidade é menor. É resistente a baixas<br />
temperaturas e, na primavera, rebrota mais rapidamente que Florico.<br />
A cultivar Tifton 68 é outro híbri<strong>do</strong> entre as introduções PI255450 e<br />
PI293606. Apresenta grandes colmos, longos estolões e não possui rizomas.<br />
Essa forrageira é um Cyno<strong>do</strong>n nlenfuensis, mas é considerada como uma<br />
grama-bermuda.<br />
A cultivar Tifton 78 é outro híbri<strong>do</strong> entre o Tifton 44 e a cultivar<br />
Callie, foi lançada em 1978 pela Universidade da Geórgia. Permite rápida<br />
cobertura vegetal <strong>do</strong> solo, por causa da existência de estolões, e produz<br />
grande quantidade de matéria seca com boa digestibilidade.
4 CAMPO DE FENO<br />
Para produção de feno, deve ser escolhida uma área de solo fértil,<br />
plana ou levemente inclinada, drenada e livre de encharcamento, sem tocos,<br />
pedras, cupins ou formigueiros e quaisquer outros tipos de obstáculos.<br />
Em caso de não existir uma área específica para feno, pode-se<br />
uniformizar uma área de pastagens com roçadeira e vedá-la para esse fim.<br />
Pode-se também ter o duplo proveito <strong>das</strong> áreas de pasto, separan<strong>do</strong>-se<br />
algumas glebas para fenar quan<strong>do</strong> há sobra de forragem, o que ocorre em<br />
perío<strong>do</strong>s de crescimento acelera<strong>do</strong> de <strong>forrageiras</strong>, visto que alterações de<br />
carga animal são geralmente difíceis de serem realiza<strong>das</strong>.<br />
O solo deve ser bem prepara<strong>do</strong>, visan<strong>do</strong> a facilitar o pegamento <strong>das</strong><br />
plantas, o controle de plantas daninhas e a eficiência <strong>das</strong> máquinas na<br />
colheita.<br />
Em solos com grande infestação de plantas daninhas perenes,<br />
recomenda-se que seja feito o seu controle com a aplicação de herbici<strong>das</strong>,<br />
antes de se fazer a aração da área.<br />
Tradicionalmente, recomenda-se uma aração com 20 a 30 cm de<br />
produndidade, para incorporar o calcário e os restos culturais de plantas,<br />
segui<strong>do</strong> de uma ou mais gradagens, dependen<strong>do</strong> <strong>das</strong> condições físicas <strong>do</strong><br />
solo e <strong>do</strong> nível de infestação de ervas daninhas. Para um melhor controle de<br />
plantas daninhas, vale lembrar que essa gradagem deve ser feita<br />
preferencialmente com solo com menor teor de umidade e em dias<br />
ensolara<strong>do</strong>s.<br />
O tamanho da área a ser cultivada vai depender <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong><br />
rebanho a ser alimenta<strong>do</strong> e da disponibilidade de outras fontes de volumosos<br />
9
10<br />
disponíveis na propriedade, ou ainda <strong>do</strong> planejamento que se deseja<br />
executar, visan<strong>do</strong> a um atendimento de merca<strong>do</strong> de feno.<br />
5 CORREÇÃO DO SOLO<br />
A ocorrência de solos áci<strong>do</strong>s é generalizada nas regiões de clima<br />
tropical e sub tropical. Verifica-se, nessas condições, solos com baixos<br />
teores de cálcio e magnésio, bem como alta acidez de alumínio e manganês,<br />
prejudican<strong>do</strong> o desenvolvimento de <strong>forrageiras</strong> mais apropria<strong>das</strong> para feno.<br />
A correção de solo deve ser feita com o calcário <strong>do</strong>lomítico, para<br />
atender à demanda de magnésio, que é um nutriente importante no<br />
crescimento da forrageira.<br />
A quantidade de calcário a ser aplicada é baseada nos resulta<strong>do</strong>s da<br />
análise <strong>do</strong> solo, elevan<strong>do</strong>-se a saturação de bases ao nível de 70% (V =<br />
70%).<br />
A distribuição <strong>do</strong> calcário deverá ser a lanço (manualmente ou por<br />
máquinas apropria<strong>das</strong>) em toda a superfície <strong>do</strong> solo, antes da aração e<br />
incorpora<strong>do</strong> o mais profun<strong>do</strong> possível (20 a 30 cm), por meio de aração e<br />
gradagem.<br />
O perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre a calagem e o plantio deve ser<br />
considera<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong>-se em conta a presença de umidade suficiente no solo,<br />
para que exista as reações <strong>do</strong> solo com o calcário. Sem umidade no solo,<br />
não há como o calcário reagir; assim, essa operação deverá ser realizada<br />
pelo menos 30 dias antes <strong>do</strong> plantio.
6 PLANTIO<br />
A propagação <strong>das</strong> gramíneas <strong>do</strong> <strong>gênero</strong> Cyno<strong>do</strong>n é feita com mu<strong>das</strong>,<br />
e deve ser realizada no perío<strong>do</strong> chuvoso e com o solo úmi<strong>do</strong>, para garantir o<br />
pegamento <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, que são caules finos, com pouca reserva,<br />
desidratan<strong>do</strong>-se com grande facilidade. Por essa razão, o plantio deve ser<br />
feito de preferência logo após o corte <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, efetuan<strong>do</strong> sua cobertura<br />
imediatamente. As melhores mu<strong>das</strong> são os estolões, porque são mais<br />
tolerantes a déficit hídrico. O plantio pode ser realiza<strong>do</strong> manualmente ou<br />
semimecaniza<strong>do</strong>.<br />
Manual:<br />
Pode-se fazer cova ou sulco com enxadão, em espaçamento de 50<br />
cm e com profundidade de 15 cm, distribuin<strong>do</strong> de 3-4 mu<strong>das</strong> nas covas ou<br />
os estolões nos sulcos, cobrin<strong>do</strong> com terra e deixan<strong>do</strong> ¼ da muda para fora.<br />
Semimecaniza<strong>do</strong>:<br />
• Com sulca<strong>do</strong>r - Abre-se o sulco raso com uso de trator e sulca<strong>do</strong>r com<br />
profundidade de 15 cm, e a partir desse ponto, obedece a mesma seqüência<br />
<strong>do</strong> plantio manual.<br />
• Com grade nivela<strong>do</strong>ra: Distribuem-se as mu<strong>das</strong> na superfície <strong>do</strong> solo por<br />
processo manual e, em seguida, passa-se a grade nivela<strong>do</strong>ra, semifechada.<br />
11
12<br />
Esse sistema tem a vantagem de ser o mais rápi<strong>do</strong> e econômico; no entanto,<br />
exige maior quantidade de mu<strong>das</strong> que nos sistemas anteriores, com um<br />
gasto aproxima<strong>do</strong> de quatro tonela<strong>das</strong> e meia de mu<strong>das</strong> por hectare, com<br />
menor porcentagem de pegamento <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, principalmente em dias<br />
quentes e se o solo não estiver úmi<strong>do</strong> ou se não ocorrer chuva logo após o<br />
plantio<br />
• Com plantadeira: Neste sistema de plantio, utiliza-se plantadeira, que<br />
sulca, cobre as mu<strong>das</strong> e faz a compactação com um rendimento de três a<br />
quatro hectares por dia, ocupan<strong>do</strong> três homens para o abastecimento da<br />
plantadeira para a distribuição <strong>das</strong> mu<strong>das</strong> no sulco. Nesse caso, esse tipo<br />
de plantadeira não faz a adubação, que terá que ser feita em área total, antes<br />
<strong>do</strong> plantio.<br />
Obtenção de Mu<strong>das</strong> para o Plantio<br />
O padrão <strong>das</strong> mu<strong>das</strong> é muito importante; cada muda deve ter acima<br />
de dez gemas viáveis, estar isenta de ervas daninhas, fungos e insetos, ser<br />
vigorosa, madura e fresca e ser de boa procedência.<br />
As melhores mu<strong>das</strong> são inteiras com raiz, com gemas nos rizomas ou<br />
estolões. A colheita deverá ser com o solo úmi<strong>do</strong>, facilitan<strong>do</strong> o arranquio,<br />
feito por enxada ou trator equipa<strong>do</strong> com ara<strong>do</strong>.<br />
Um outro tipo de mu<strong>das</strong> é sem raiz, com hastes maduras, com<br />
comprimento acima de 80 cm, o que proporciona maior número de gemas.<br />
A colheita pode ser feita por enxada ou por segadeira acionada por trator.<br />
A durabilidade <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, após a colheita, depende principalmente<br />
da: temperatura ambiente, idade da planta, condições de colheita, formas de
acondicionamento <strong>das</strong> mu<strong>das</strong> para transporte (ensaca<strong>das</strong> em sacos plásticos<br />
ou em far<strong>do</strong>s).<br />
As mu<strong>das</strong> podem resistir até a dez dias após sua colheita.<br />
Entretanto, vale lembrar que, quanto mais rápi<strong>do</strong> for o plantio após a<br />
colheita <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, maior será a porcentagem de pegamento.<br />
A quantidade de mu<strong>das</strong> vai depender de sua qualidade e <strong>do</strong> méto<strong>do</strong><br />
de plantio. Para se plantar 1,0 hectare, gastam-se, em média, 4,5 T de<br />
mu<strong>das</strong> no plantio superficial, 3,0 T/ha no plantio em covas e 2,5 T/ha no<br />
plantio em sulco.<br />
7 ADUBAÇÃO DE PLANTIO<br />
As <strong>do</strong>ses de adubo são também defini<strong>das</strong> com base na análise de<br />
solo. Deve-se ter especial atenção para a adubação fosfatada, cujas <strong>do</strong>ses<br />
são recomenda<strong>das</strong> em função da disponibilidade de fósforo. Recomenda-se,<br />
para um solo de fertilidade mediana, aplicar 100 kg de P2O5/ha ou (500 kg<br />
de superfosfato simples).<br />
A utilização de fontes solúveis deve ser feita para maior eficiência, e<br />
a aplicação deverá ser localizada próxima à muda, sugerin<strong>do</strong>-se, portanto,<br />
para melhor aproveitamento <strong>do</strong> adubo, o plantio em sulco ou em cova. No<br />
plantio a lanço <strong>das</strong> mu<strong>das</strong>, a aplicação da adubação fosfatada deve ser<br />
superficial, em área total, com leve incorporação. Com relação à adubação<br />
potássica para a fase de estabelecimento, é recomendável considerar a classe<br />
de disponibilidade de potássio no solo, poden<strong>do</strong> variar de 30 a 60 kg/ha de<br />
k2O, corresponden<strong>do</strong> a 50 e 100 kg/ha de cloreto de potássio. Entretanto,<br />
13
14<br />
para os solos de textura média a arenosos, é recomendável que a fertilização<br />
potássica seja realizada em cobertura, quan<strong>do</strong> a forrageira cobrir 60 a 70%<br />
<strong>do</strong> solo, possibilitan<strong>do</strong>-lhe maior absorção e, conseqüentemente, menores<br />
per<strong>das</strong> por lixiviação. Aplicam-se a lanço de 40 a 60 kg de K2O/ha.<br />
Embora as gramíneas tropicais respondam intensamente às <strong>do</strong>ses de<br />
nitrogênio, a adubação nitrogenada deve ser restrita na implantação <strong>das</strong><br />
<strong>forrageiras</strong>, a exemplo da adubação potássica a nitrogenada também deve<br />
ser aplicada em cobertura, com 60 a 100 kg de nitrogênio/ha, quan<strong>do</strong> a<br />
forrageira cobrir de 60 a 70% <strong>do</strong> solo, visan<strong>do</strong> ao maior aproveitamento <strong>do</strong><br />
fertilizante. Aplicações anteriores a esse perío<strong>do</strong> só é recomendável se a<br />
forrageira apresentar deficiência (amarelecimento <strong>das</strong> folhas mais velhas);<br />
nesses casos, deve-se aplicar, no máximo, 50 kg/ha de N.<br />
Com relação aos micronutrientes, especialmente zinco, cobre e boro,<br />
recomenda-se a aplicação de 2 kg/ha de Zn, equivalente a 10 kg/ha de<br />
sulfato de zinco, 2 kg/ha de B, (20 kg de bórax) e 3 kg/ha de cobre (15<br />
sulfato de cobre). A aplicação de 50 a 60 kg de FTE/ha na formulação BR-<br />
16 (conten<strong>do</strong> B, Cu, Mo e Zn) supre as deficiências <strong>do</strong>s principais<br />
micronutrientes.<br />
Além <strong>do</strong>s nutrientes menciona<strong>do</strong>s, merece destaque o enxofre que<br />
deve ser aplica<strong>do</strong> de 20 a 40 kg/ha. Entretanto, à medida que se usam outros<br />
nutrientes que contêm enxofre, como é o caso <strong>do</strong> sulfato de amônio,<br />
supersimples, dispensável é suprir as exigências da forragem com esse<br />
elemento.
8 ADUBAÇÃO DE MANUTENÇÃO<br />
O campo de feno sofre cortes drásticos (rente ao solo) várias vezes<br />
ao ano, pois to<strong>do</strong> o material é retira<strong>do</strong> da área, sem que haja uma reposição<br />
<strong>do</strong>s nutrientes, ocasionan<strong>do</strong> um rápi<strong>do</strong> esgotamento <strong>do</strong> solo. Recomenda-se,<br />
no entanto, efetuar análise <strong>do</strong> solo periodicamente, no mínimo, uma vez por<br />
ano.<br />
Com relação à adubação nitrogenada de manutenção, recomenda-se<br />
a aplicação de 100 a 200 kg/ha de N, parcela<strong>das</strong> de mo<strong>do</strong> que não se<br />
ultrapassem 50 kg/ha/aplicação, sen<strong>do</strong> a primeira aplicada logo após as<br />
primeiras chuvas e as demais a intervalos, de forma que a última ocorra<br />
antes <strong>do</strong> final da estação chuvosa.<br />
Na escolha <strong>do</strong> adubo nitrogena<strong>do</strong>, o sulfato de amônio é o mais<br />
recomenda<strong>do</strong> para aplicações a lanço em cobertura. O emprego da uréia é<br />
possível quan<strong>do</strong> o solo apresentar-se com adequada umidade e dias não<br />
muito quentes.<br />
Quanto às adubações fosfata<strong>das</strong> e potássicas de manutenção, a<br />
recomendação anual é de 30 a 50 kg/ha de P2O5 e 100 a 200 kg/ha de K2O,<br />
parcela<strong>do</strong>s em pelo menos três aplicações: no início, meio e fim <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />
chuvoso.<br />
15
16<br />
9 CUIDADOS NO ESTABELECIMENTO<br />
O perío<strong>do</strong> de estabelecimento da forrageira é compreendi<strong>do</strong> entre o<br />
plantio até os 80 dias para o uso definitivo da forragem. Nesse perío<strong>do</strong>, é<br />
recomenda<strong>do</strong>, o controle de plantas daninhas, com a enxada ou com<br />
aplicação localizada de herbicida à base de glyphosate.<br />
O corte de estabelecimento após os 80 dias <strong>do</strong> plantio contribuirá<br />
para controlar as ervas daninhas anuais, melhoran<strong>do</strong> a uniformização <strong>do</strong><br />
stand, oferecen<strong>do</strong> melhores condições para perfilhamento e também<br />
facilitan<strong>do</strong> a aplicação de fertilizantes em cobertura.<br />
10 PRODUÇÃO DE FENO<br />
A produção <strong>do</strong> feno consiste basicamente no corte e na desidratação<br />
da forragem verde com 65-85% de umidade para 10 a 20%, em que se<br />
procura manter o valor nutritivo original da forrageira. A rapidez com que o<br />
ponto de feno é obti<strong>do</strong> concorre para menores per<strong>das</strong> <strong>do</strong> seu valor nutritivo,<br />
uma vez que a atividade respiratória <strong>das</strong> plantas, bem como a <strong>do</strong>s<br />
microorganismos, são paralisa<strong>das</strong> quan<strong>do</strong> atinge-se o ponto de feno.
Corte da forragem:<br />
O perío<strong>do</strong> mais indica<strong>do</strong> para a prática de fenar, em grande parte <strong>do</strong><br />
território brasileiro, é de outubro a março, quan<strong>do</strong> ocorre maior produção de<br />
matéria seca, aliada ao alto valor nutritivo <strong>das</strong> <strong>forrageiras</strong>; entretanto, nesse<br />
perío<strong>do</strong>, ocorre a maior incidência de chuva na maioria <strong>das</strong> regiões<br />
brasileiras, o que dificulta, mas não impede a elaboração <strong>do</strong> feno; ten<strong>do</strong>,<br />
portanto, que aproveitar os dias de céu aberto e quentes que ocorrem nessa<br />
época, geralmente em número de <strong>do</strong>is ou mais, suficientes para a prática de<br />
<strong>fenação</strong> de forrageira <strong>do</strong> <strong>gênero</strong> Cyno<strong>do</strong>n, que leva, em média, de 24 a 72<br />
horas de sol.<br />
É importante que se tenha conhecimento <strong>das</strong> previsões da<strong>das</strong> pelos<br />
serviços de meteorologia na região em que se pretende elaborar o corte da<br />
forrageira para fenar. No dia <strong>do</strong> corte, iniciar as operações após o orvalho<br />
ter seca<strong>do</strong>.<br />
O corte pode ser manual, empregan<strong>do</strong>-se alfange, foice e segadeira<br />
de motor costal, ou corte mecânico, utilizan<strong>do</strong> ceifadeiras ou segadeiras<br />
aciona<strong>das</strong> por trator, acopla<strong>das</strong> ao hidráulico, com rendimento médio de 2 a<br />
4T/hora, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> modelo da máquina.<br />
As roçadeiras também podem ser emprega<strong>das</strong> no corte <strong>do</strong> material,<br />
com desvantagens de dificultar o revolvimento, enleiramento e<br />
enfardamento, poden<strong>do</strong> aumentar as per<strong>das</strong> de material no campo.<br />
17
18<br />
Desidratação da forragem:<br />
A desidratação ou perda de umidade é mais acentuada logo após o<br />
corte, ocorren<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> os estômatos estão abertos; no entanto, à medida<br />
que a forragem atinge valores abaixo de 65% de umidade, aumenta a<br />
resistência à desidratação. Aproximadamente uma hora após corte, ou<br />
quan<strong>do</strong> as plantas possuírem de 65 a 70% de umidade, 20 a 30% <strong>do</strong> total de<br />
água é perdi<strong>do</strong> nessa primeira fase de secagem.<br />
A perda de água na segunda fase pode ainda ser rápida, submeten<strong>do</strong><br />
a forragem a tratamento para reduzir a compactação com viragens e<br />
revolvimento, o que permite a entrada de ar e raios solares, poden<strong>do</strong> ser<br />
feita manualmente ou com o uso de ancinhos de tração mecânica de vários<br />
tipos que, dependen<strong>do</strong> da regulagem, podem realizar também as práticas de<br />
enleiramento e esparramação.<br />
Na fase final de secagem, quan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> de umidade da planta<br />
atinge cerca de 45% de umidade, a desidratação é rápida, sofren<strong>do</strong> pouca<br />
influência <strong>do</strong> <strong>manejo</strong>, mas responden<strong>do</strong> consideravelmente às condições<br />
climáticas.<br />
11 PONTO DE FENO<br />
No momento <strong>do</strong> corte, a forragem tem aproximadamente 85% de<br />
umidade, principalmente se o corte ocorre no perío<strong>do</strong> que antecede a<br />
floração ou mesmo durante essa, mas com a sucessiva movimentação da
forragem cortada, ela vai se desidratan<strong>do</strong> até atingir o ponto de feno ao<br />
re<strong>do</strong>r de 10 a 20% de umidade.<br />
Algumas maneiras práticas para verificação <strong>do</strong> ponto de feno são: -<br />
quan<strong>do</strong> os nós apresentam consistência de farinha e sem umidade; e ao<br />
torcer um feixe de forragem, não deve surgir umidade, e ao soltar, o material<br />
volta lentamente à posição inicial. Com a prática, a pessoa identifica o<br />
ponto <strong>do</strong> feno pelo tato e cor. A determinação <strong>do</strong> ponto de feno pode ser<br />
feita também utilizan<strong>do</strong> estufas e microon<strong>das</strong>. Nesse caso, o material é<br />
pesa<strong>do</strong> antes e após a sua retirada <strong>do</strong> equipamento, e por diferença de peso,<br />
determina a umidade.<br />
A secagem artificial leva à obtenção de feno de qualidade superior e<br />
com per<strong>das</strong> bastante baixas, poden<strong>do</strong> ser feita por ventilação forçada ou<br />
utilizan<strong>do</strong> ar quente em seca<strong>do</strong>res especiais; porém, esse processo somente é<br />
viável nos casos de produção de feno em grande escala ou quan<strong>do</strong> os<br />
seca<strong>do</strong>res forem utiliza<strong>do</strong>s na secagem de outros produtos na propriedade,<br />
evitan<strong>do</strong>-se, assim, a ociosidade <strong>do</strong>s mesmos.<br />
A umidade ao final da desidratação é responsável pelo êxito ou<br />
fracasso da <strong>fenação</strong> e <strong>do</strong> armazenamento <strong>do</strong> feno. Em alguns casos, quan<strong>do</strong><br />
a umidade estiver em excesso, pode ocorrer grande elevação de temperatura,<br />
levan<strong>do</strong> até a combustão da forragem ou far<strong>do</strong> no armazém.<br />
12 ARMAZENAMENTO DE FENO<br />
Para o armazenamento de feno, podem ser aproveita<strong>das</strong> as<br />
construções já existentes na propriedade, ou construir galpões rústicos,<br />
19
20<br />
levan<strong>do</strong>-se em consideração que devem ser locais ventila<strong>do</strong>s e livres de<br />
umidade.<br />
O feno pode ser acondiciona<strong>do</strong> em far<strong>do</strong>s, solto e em mé<strong>das</strong>.<br />
Armazenamento solto na forma de méda<br />
"Mé<strong>das</strong>" são montes feno organiza<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r de um mastro ou<br />
tutor, normalmente no próprio campo de produção. Essa é a forma de<br />
armazenamento mais indicada para criações extensivas ou semi-extensivas.<br />
Para construção da méda, deve-se escolher um local nivela<strong>do</strong>, com<br />
um tutor de madeira de 3 a 6 metros de altura e marcar uma circunferência<br />
com o diâmetro de 2/3 da altura ao re<strong>do</strong>r desse tutor. Iniciar a colocação de<br />
feno em cama<strong>das</strong> bem compacta<strong>das</strong>, voltan<strong>do</strong> a fechar a partir daí até ao<br />
topo da méda, forman<strong>do</strong> um cone. Para arrematar, fazer chapéu de sapé,<br />
lona plástica ou similares, para evitar a penetração de água <strong>das</strong> chuvas.<br />
Para melhor proteção da meda, é necessário que se construam cercas<br />
para impedir o acesso <strong>do</strong>s animais, e uma pequena canaleta ao seu re<strong>do</strong>r,<br />
para proteção contra as enxurra<strong>das</strong>.<br />
A principal vantagem nesse sistema é o menor custo no<br />
armazenamento, pois não necessita de abrigos, não tem despesas com o<br />
transporte e tem fácil acesso para o ga<strong>do</strong>. Entretanto, as desvantagens são<br />
as per<strong>das</strong> por lavagem em conseqüência da água da chuva e a fermentação,<br />
o que contribui para reduzir o valor nutritivo <strong>do</strong> feno, além <strong>do</strong> desperdício,<br />
no momento da utilização pelos animais.<br />
Para fins de cálculos, considera-se que 1 m 3 de méda comporta de 50<br />
a 60 kg de feno.
Armazenamento solto - Neste caso, há necessidade de galpões<br />
reserva<strong>do</strong>s para esse fim; porém, neste méto<strong>do</strong> de armazenamento, o feno<br />
ocupa mais espaço <strong>do</strong> que no sistema de far<strong>do</strong>, dificultan<strong>do</strong> o manuseio no<br />
transporte, o controle da quantidade ou estoque de feno existente na<br />
propriedade.<br />
Armazenamento em far<strong>do</strong>s, apresenta algumas vantagens em<br />
relação ao armazenamento de feno solto; o material enfarda<strong>do</strong> ocupa menor<br />
espaço, tem melhor conservação, facilita o transporte, melhora o controle<br />
sobre incidência de fungos e possibilita o controle da quantidade ou <strong>do</strong><br />
estoque de feno existente na propriedade.<br />
Para o processamento <strong>do</strong>s far<strong>do</strong>s, pode-se usar enfardadeira manual<br />
ou mecânica para o amarrio <strong>do</strong> far<strong>do</strong> com arame ou cordão apropria<strong>do</strong>; no<br />
entanto, esse méto<strong>do</strong> é mais caro e trabalhoso <strong>do</strong> que o armazenamento <strong>do</strong><br />
feno solto.<br />
As dimensões <strong>do</strong>s far<strong>do</strong>s podem ser variáveis; geralmente são 0,40<br />
m de largura por 1,00 m de comprimento e altura de 0,30 m. No uso de<br />
enfardadeiras mecânicas automáticas, essas captam a forragem enleirada,<br />
fazem a prensagem <strong>do</strong>s far<strong>do</strong>s, que são deixa<strong>do</strong>s no campo, para,<br />
posteriormente, serem recolhi<strong>do</strong>s. O rendimento é variável, dependen<strong>do</strong> da<br />
enfardadeira, poden<strong>do</strong> chegar a 12 T por hora.<br />
Em 1 m 3 de feno corretamente enfarda<strong>do</strong>, armazenam-se<br />
aproximadamente 90-100 kg de material.<br />
Em regiões com baixa possibilidade de chuvas, pode-se usar<br />
enfardadeiras que confeccionam rolos de feno prensa<strong>do</strong>, com peso superior<br />
a 500 kg, que são armazena<strong>do</strong>s a campo, poden<strong>do</strong> os animais terem acesso<br />
direto. Esse tipo de equipamento só é justificável para grandes produções.<br />
21
22<br />
13 PERDAS DURANTE A FENAÇÃO<br />
O valor nutritivo <strong>do</strong> feno, é dependente <strong>do</strong> processamento da<br />
forragem durante a secagem a campo, por causa da redução na qualidade,<br />
nessa fase.<br />
As per<strong>das</strong> mecânicas, durante o processamento a campo, podem<br />
ocorrer em virtude <strong>do</strong> dilaceramento de folhas e caules, no momento <strong>do</strong><br />
corte, consideran<strong>do</strong>-se que essas frações fragmenta<strong>das</strong> não serão recolhi<strong>das</strong><br />
pela enfardadeira.<br />
As per<strong>das</strong> de nutriente no preparo <strong>do</strong> feno iniciam-se imediatamente<br />
após o corte, ocasiona<strong>das</strong> pela ação de enzimas no material a ser desidrata<strong>do</strong><br />
e pelas reações de oxidação e respiração, que são inevitáveis durante a<br />
secagem.<br />
A principal perda ocorre na fração carboidratos solúveis, como<br />
conseqüência da respiração aeróbica. Alterações em virtude da ação<br />
enzimática podem ocorrer com relação à proteína, ocasionan<strong>do</strong> perda de<br />
nitrogênio, bem como redução na digestibilidade aparente da proteína bruta.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a secagem promove diminuição na concentração de<br />
compostos tóxicos, como glicosídeos cianogênicos, proteínas solúveis<br />
causa<strong>do</strong>ras de timpanismo.<br />
A ocorrência de chuvas durante a secagem a campo pode ocasionar<br />
per<strong>das</strong> de até 100% da matéria seca. As chuvas, na fase final da secagem,<br />
causam maiores per<strong>das</strong> <strong>do</strong> que aquelas que ocorrem no início da <strong>fenação</strong>.<br />
Há de se considerar que a ocorrência de chuvas pode causar per<strong>das</strong><br />
indiretas, uma vez que prolonga o tempo de secagem, aumentan<strong>do</strong> as<br />
atividades de respiração e fermentação. Além disso, a forragem que foi
submetida à chuva, para complementar a secagem, deverá sofrer<br />
processamento intenso no campo, o que pode resultar em um aumento nas<br />
per<strong>das</strong> de folhas e elevação de custos.<br />
14 PERDAS DO VALOR NUTRITIVO DO FENO<br />
DURANTE O ARMAZENAMENTO<br />
As principais causas de per<strong>das</strong> de matéria seca no armazenamento de<br />
fenos com alta umidade estão relaciona<strong>das</strong> à continuação da respiração<br />
celular e ao desenvolvimento de bactérias, fungos e leveduras.<br />
As condições de alta umidade e temperaturas acima de 55ºC são<br />
favoráveis à ocorrência de reações não-enzimáticas entre os carboidratos<br />
solúveis, resultan<strong>do</strong> em compostos denomina<strong>do</strong>s produtos de reação de<br />
"Maillard", causan<strong>do</strong> uma coloração marrom no feno, e per<strong>das</strong> de até 70%<br />
<strong>do</strong> valor nutricional.<br />
A secagem bem feita da forragem na hora da <strong>fenação</strong> pode diminuir<br />
a população de fungos típicos de campo, como Cla<strong>do</strong>sporium e fusarium.<br />
Os fungos de maior ocorrência durante o armazenamento são: Penicillum,<br />
spp. Fusarium spp. e Aspergillus spp. Vale lembrar que, além <strong>das</strong><br />
alterações na composição química, o desenvolvimento de fungos pode ser<br />
prejudicial à saúde <strong>do</strong>s animais e <strong>das</strong> pessoas que manuseiam esses fenos,<br />
por causa da produção de toxinas, principalmente aquelas relaciona<strong>das</strong> aos<br />
fungos patogênicos, como Aspergillus glaucus e Aspergillus fumigatus.<br />
23
24<br />
Uso de aditivo:<br />
Uma alternativa na conservação de fenos enfarda<strong>do</strong>s com alta<br />
umidade (20 a 30%) pode ser o uso de aditivos que controlam o<br />
desenvolvimento desses fungos. Esses aditivos devem apresentar algumas<br />
características essenciais, como: a) baixa toxicidade para os mamíferos; b)<br />
efeito fungistático; c) manuseio fácil e seguro; d) ser solúvel em água.<br />
Dentre os aditivos mais usa<strong>do</strong>s para a conservação de fenos com alta<br />
umidade, destaca-se a amonização, pela amônia-anidra, ou pelo uso da uréia<br />
como fonte de amônia.<br />
A amônia, além da ação fungistática, atua sobre a fração fibrosa da<br />
forragem, solubilizan<strong>do</strong> a hemicelulose, aumentan<strong>do</strong> o nitrogênio não-<br />
protéico na forragem, melhoran<strong>do</strong> a digestibilidade e consumo de matéria<br />
seca. A aplicação de 1 a 2% de amônia-anidra na matéria seca inibe o<br />
desenvolvimento de fungos <strong>do</strong>s <strong>gênero</strong>s Aspergillus e Penicillium, durante o<br />
armazenamento <strong>do</strong> feno. Da mesma forma, o uso de uréia (2,0% da MS)<br />
diminuía a indicidência de fungos Aspergillus, mas com baixa eficiência<br />
sobre os fungos Penicillium.<br />
Embora o uso de aditivos seja uma alternativa adequada para a<br />
conservação de fenos armazena<strong>do</strong>s com alta umidade, a a<strong>do</strong>ção de<br />
tecnologia que possa onerar o custo de produção deve ser analisada<br />
criteriosamente pelos produtores.<br />
Um bom feno deve possuir coloração esverdeada, cheiro agradável,<br />
boa porcentagem de folha, ser macio, livre de impurezas, como terra, ervas<br />
daninhas e elementos tóxicos como, fungos "MOFOS", e ter bom consumo<br />
e digestibilidade.
15 FATORES QUE INFLUENCIAM NA QUALIDADE DO<br />
FENO<br />
- Fatores liga<strong>do</strong>s à forrageira<br />
Vários fatores relaciona<strong>do</strong>s à estrutura <strong>das</strong> plantas influenciam a taxa<br />
de perda de água, destacan<strong>do</strong>-se relação folha/caule e comprimento <strong>do</strong> caule<br />
e largura da folha.<br />
À medida que a planta se desenvolve, observa-se diminuição na<br />
relação folha/caule e conseqüentemente, uma queda nas porcentagens de<br />
proteína, fósforo, consumo e digestibilidade. Do ponto de vista de<br />
desidratação, o avanço no estádio de desenvolvimento resulta em vantagens<br />
para o processo de perda de água, mas é prejudicial para a qualidade da<br />
forragem, ocorren<strong>do</strong> alterações que resultam na elevação <strong>do</strong>s teores de<br />
compostos estruturais, tais como a celulose, a hemicelulose e liguinina e<br />
paralelamente, a diminuição <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> celular. De maneira geral, na<br />
prática, a fim de assegurar nível de umidade adequa<strong>do</strong> para o<br />
armazenamento, o corte <strong>das</strong> plantas deve ser realiza<strong>do</strong> mais tardiamente.<br />
Isso ocorre geralmente quan<strong>do</strong> a gramínea atinge a altura de 50 cm, o que<br />
corresponde a 30 a 40 dias de rebrota no verão e 42 a 56 dias de rebrota, no<br />
inverno.<br />
25
26<br />
- Fatores liga<strong>do</strong>s à fertilidade <strong>do</strong> solo<br />
A fertilidade <strong>do</strong> solo influencia a composição química <strong>do</strong> feno,<br />
principalmente nos teores de proteína, fósforo e potássio, e<br />
conseqüentemente, a digestibilidade <strong>das</strong> <strong>forrageiras</strong>.<br />
No campo de feno, são realiza<strong>do</strong>s de três a cinco colheitas ao ano,<br />
com a remoção total da forragem, poden<strong>do</strong>, assim, ocasionar o esgotamento<br />
<strong>do</strong> solo. Dessa forma, é fundamental a manutenção da fertilidade dessa área<br />
com adubações químicas periódicas, principalmente adubação potássica, de<br />
acor<strong>do</strong> com análises de solo e exigências da cultura.<br />
- Fatores climáticos na desidratação<br />
A radiação solar tem si<strong>do</strong> o principal fator ambiental que influencia a<br />
desidratação de <strong>forrageiras</strong>. Além disso, deve-se considerar a influência<br />
acentuada da umidade relativa <strong>do</strong> ar, temperatura, ventos e umidade de solo.<br />
Vale lembrar que, a umidade relativa <strong>do</strong> ar, que tem grande<br />
influência na qualidade <strong>do</strong> feno, em regiões que naturalmente apresentam<br />
umidade relativa <strong>do</strong> ar acima de 60-70%, fica impossibilitada de elaborar de<br />
bons fenos.
16 USO DO FENO<br />
A quantidade de feno a ser fornecida dependerá da dieta proposta<br />
para cada categoria animal, sempre visan<strong>do</strong> a cobrir as necessidades<br />
nutritivas <strong>do</strong>s mesmos. Como alimento exclusivo, o feno deverá ser<br />
forneci<strong>do</strong> à base de 2% <strong>do</strong> peso vivo <strong>do</strong>s animais.<br />
Para as vacas em lactação - a quantidade dependerá da<br />
disponibilidade de outros alimentos. Caso o proprietário também possua<br />
silagem, o volumoso poderá ser composto de 2/3 dessa e 1/3 de feno.<br />
Ressalta-se que, para vacas confina<strong>das</strong>, à medida que cresce o tempo de<br />
estabulação <strong>das</strong> vacas, crescem também as necessidades <strong>do</strong> fornecimento de<br />
feno, uma vez que a fisiologia digestiva <strong>do</strong>s ruminantes exige determina<strong>das</strong><br />
quantidades de fibra bruta disponível nos fenos.<br />
Bovinos jovens - principalmente nos primeiros meses de vida, são os<br />
animais que têm apresenta<strong>do</strong> as melhores respostas ao fornecimento de<br />
feno. Resulta<strong>do</strong>s altamente positivos vêm sen<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>s com a introdução<br />
de fenos de boa qualidade, à vontade na dieta de bezerras em sistema de<br />
desmama precoce, a partir <strong>do</strong> quarto dia de vida. A adição simultânea de<br />
feno à ração concentrada na dieta de bezerras jovens proporciona a<br />
formação de uma flora ruminal característica, que se chama mista, muito<br />
semelhante à flora encontrada nos adultos. Isso significa que com o uso de<br />
feno, esses bovinos jovens já se tornaram ruminantes, logo no início de suas<br />
vi<strong>das</strong>, proporcionan<strong>do</strong>, além de melhor desenvolvimento ponderal, grande<br />
economia na alimentação. Promove, ainda, elevação <strong>do</strong> pH e aumento <strong>do</strong><br />
volume e musculatura <strong>do</strong> rúmen. Forneci<strong>do</strong> à vontade, juntamente com o<br />
concentra<strong>do</strong>, o feno atua como "escova de dente" no rúmen, removen<strong>do</strong> os<br />
27
28<br />
resíduos <strong>do</strong> concentra<strong>do</strong> que se aglutinam entre as papilas, forman<strong>do</strong> placas<br />
enrijeci<strong>das</strong> que dificultam a digestão e causam a chamada paraqueratose.<br />
Planejamento de consumo - para determinar o gasto total de feno<br />
em uma propriedade, é preciso saber o tempo que o mesmo vai ser utiliza<strong>do</strong>,<br />
a população <strong>do</strong> rebanho e suas categorias e se há disponibilidade de outros<br />
volumosos, tais como silagem, capim, cana e outros.<br />
Fornecimento <strong>do</strong> feno – a distribuição <strong>do</strong> feno pode ser no próprio<br />
campo; porém, as per<strong>das</strong> diminuem à medida que esse é coloca<strong>do</strong> em<br />
manje<strong>do</strong>uras ou cachos, evitan<strong>do</strong>-se que os animais pisem ou defequem<br />
sobre ele.<br />
Quan<strong>do</strong> o feno é armazena<strong>do</strong> em méda, basta retirar as cercas ao<br />
re<strong>do</strong>r dessa e deixar que os animais tenham acesso direto à forragem fenada;<br />
porém, pode ocorrer per<strong>das</strong> acentua<strong>das</strong> por pisoteio.<br />
Animais que não estão adapta<strong>do</strong>s ao consumo de feno, podem ter<br />
distúrbios gástricos. Dessa forma, recomenda-se iniciar o fornecimento com<br />
pequenas quantidades e ir aumentan<strong>do</strong> gradativamente.<br />
Em caso de animais jovens, o fornecimento <strong>do</strong> feno pica<strong>do</strong> pode ter<br />
a aceitabilidade e o consumo aumenta<strong>do</strong>. Dessa mesma forma, recomenda-<br />
se para feno de qualidade inferior a adição de melaço, cana-de-açúcar ou até<br />
mesmo sal, quan<strong>do</strong> forneci<strong>do</strong> pica<strong>do</strong>.
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