29.01.2013 Views

Anais do IHC'2001 - Departamento de Informática e Estatística - UFSC

Anais do IHC'2001 - Departamento de Informática e Estatística - UFSC

Anais do IHC'2001 - Departamento de Informática e Estatística - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

130<br />

<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> IHC’2001 - IV Workshop sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais<br />

Obviamente o material discursivo gera<strong>do</strong> por esse tipo <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logia não se presta<br />

a quantificações. Sua análise é conduzida a partir <strong>de</strong> várias leituras das transcrições, ou<br />

logs, das entrevistas em busca das categorias que emergem <strong>do</strong>s discursos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s<br />

(a esse respeito, ver, por exemplo, Nicolaci-da-Costa, 1994). Essas categorias são<br />

<strong>de</strong>tectadas a partir <strong>de</strong> sua recorrência nesses discursos. Também são analisadas as<br />

contradições e inconsistências presentes nesses discursos, contradições e inconsistências<br />

essas que são extremamente revela<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> aspectos invisíveis <strong>do</strong> funcionamento humano<br />

como, por exemplo, motivações e <strong>de</strong>sejos. Um exemplo <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> análise po<strong>de</strong> ser<br />

encontra<strong>do</strong> no livro Na malha da Re<strong>de</strong>: Os impactos íntimos da Internet (Nicolaci-da-<br />

Costa, 1998), que foi integralmente escrito a partir das categorias que emergiram <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> usuários da Internet nos primeiros tempos da difusão <strong>de</strong>sta no Brasil.<br />

Da<strong>do</strong> que a meto<strong>do</strong>logia que vimos apresentan<strong>do</strong> é pouco orto<strong>do</strong>xa para quem está<br />

acostuma<strong>do</strong> a procedimentos objetivos e exatos, sabemos que po<strong>de</strong>m existir dúvidas a<br />

respeito da confiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s por ela gera<strong>do</strong>s. Acreditamos, no entanto, que a<br />

confiabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um resulta<strong>do</strong> não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente <strong>do</strong> que dizem os<br />

procedimentos estatísticos.<br />

Claro está que os resulta<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s por esse tipo <strong>de</strong> meto<strong>do</strong>logia não po<strong>de</strong>m ser<br />

generaliza<strong>do</strong>s para populações que tenham um perfil <strong>de</strong> “alta <strong>de</strong>finição” diferente <strong>do</strong><br />

original. (Na realida<strong>de</strong>, nenhum resulta<strong>do</strong> – mesmo quantitativo – po<strong>de</strong> ser generaliza<strong>do</strong><br />

para populações diferentes daquela na qual se originou.) Se o perfil investiga<strong>do</strong> numa<br />

pesquisa qualitativa como a que estamos propon<strong>do</strong> foi o <strong>de</strong> homens <strong>de</strong> classe média,<br />

solteiros, profissionais liberais, com ida<strong>de</strong>s entre 30 e 35 anos, por exemplo, os resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s não po<strong>de</strong>rão ser generaliza<strong>do</strong>s para, digamos, homens com ida<strong>de</strong>s entre 60 e 65<br />

anos, mesmo que estes apresentem todas as outras características <strong>do</strong> perfil investiga<strong>do</strong>.<br />

A experiência <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong>ssa meto<strong>do</strong>logia para diferentes finalida<strong>de</strong>s ao longo<br />

<strong>de</strong> anos revela, no entanto, que esses resulta<strong>do</strong>s permitem generalizações bastante<br />

confiáveis para a população cujo perfil <strong>de</strong> “alta <strong>de</strong>finição” foi investiga<strong>do</strong>. Isso porque,<br />

quan<strong>do</strong> se busca analisar porquês, como’s, contradições e inconsistências gera-se um<br />

conhecimento profun<strong>do</strong> das raízes sociais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada configuração psicológica. E<br />

raízes sociais são comuns a homens, mulheres e crianças que têm um mesmo perfil.<br />

4. Concluin<strong>do</strong>: breve nota sobre a implementação da meto<strong>do</strong>logia proposta<br />

Tornar visíveis processos e esta<strong>do</strong>s internos não é tarefa fácil. Por isso mesmo, os méto<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> coleta e análise <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s em uma pesquisa qualitativa que tenha essa finalida<strong>de</strong><br />

são trabalhosos e requerem um tipo <strong>de</strong> treinamento bastante distante <strong>do</strong> cotidiano das áreas<br />

tecnológicas. Essa constatação po<strong>de</strong> gerar uma dúvida a respeito <strong>de</strong> sua utilida<strong>de</strong> para os<br />

profissionais da informática: como po<strong>de</strong>rão estes implementá-los?<br />

Essa dúvida, no entanto, ocorrerá única e exclusivamente como resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />

raciocínio disciplinar. Uma visão interdisciplinar da produção <strong>do</strong> conhecimento certamente<br />

dirá que essa é uma meto<strong>do</strong>logia que requer a contribuição <strong>de</strong> profissionais com diferentes<br />

tipos <strong>de</strong> formação e treinamento. Diferentes competências po<strong>de</strong>m – e, a nosso ver, <strong>de</strong>vem –<br />

se complementar em torno <strong>de</strong> um objetivo comum. Esta foi a visão que norteou a<br />

apresentação <strong>de</strong>ste trabalho.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!