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PROSPECTIVA E PLANEAMENTO, Vol. 16−2009 “CENTROS COMERCIAIS A CÉU ABERTO”. POTENCIALIDADES DA GESTÃO INTEGRADA DE CENTROS URBANOS João Manuel Cebolas Batista Barreta 1 Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais 1. ENQUADRAMENTO Num tempo indubitavelmente marcado pelo fenómeno da globalização, a temática da competitividade territorial ganhou novo impulso, tratando-se de realidades indissociáveis que têm vindo a merecer atenção crescente como tema recorrente em múltiplas análises e reflexões multidisciplinares. Para o efeito do presente artigo interessa colocar o enfoque nos impactes (já) sentidos ao nível da competitividade dos territórios (no caso das cidades, e muito em particular do seu centro tradicional – núcleo central, centro urbano, centro histórico, centro de cidade, entre outras designações possíveis de utilizar). Para além de ter induzido as condições necessárias para a ascendência de (novos) territórios estratégicos – regiões e cidades, a globalização terá despertado igualmente consciências para a necessidade de auto-afirmação local baseando-se a mesma na preservação, consolidação, sustentabilidade e dinamização dos argumentos e características locais que poderão constituir-se como efectivas vantagens distintivas, 1 joaobarreta@dpp.pt “The street that you´re giving me Will not be yours or mine It will have to be shared It will be everyone’s street” In TOCEMA Workshop n.º 1 “Definition of Town Centre Management” (Sweden, 07-08 June, 2005) Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
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PROSPECTIVA E PLANEAMENTO, Vol. 16−2009<br />
“CENTROS COMERCIAIS A CÉU ABERTO”.<br />
POTENCIALIDADES DA GESTÃO INTEGRADA DE CENTROS URBANOS<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta 1<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
1. ENQUADRAMENTO<br />
Num tempo indubitavelmente marcado pelo fenómeno <strong>da</strong> globalização, a temática <strong>da</strong><br />
competitivi<strong>da</strong>de territorial ganhou novo impulso, tratando-se de reali<strong>da</strong>des indissociáveis<br />
que têm vindo a merecer atenção crescente como tema recorrente em múltiplas análises<br />
e reflexões multidisciplinares.<br />
Para o efeito do presente artigo interessa colocar o enfoque nos impactes (já) sentidos<br />
ao nível <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de dos territórios (no caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, e muito em particular do<br />
seu centro tradicional – núcleo central, centro urbano, centro histórico, centro de ci<strong>da</strong>de,<br />
entre outras designações possíveis de utilizar).<br />
Para além de ter induzido as condições necessárias para a ascendência de (novos)<br />
territórios estratégicos – regiões e ci<strong>da</strong>des, a globalização terá despertado igualmente<br />
consciências para a necessi<strong>da</strong>de de auto-afirmação local baseando-se a mesma na<br />
preservação, consoli<strong>da</strong>ção, sustentabili<strong>da</strong>de e dinamização dos argumentos e<br />
características locais que poderão constituir-se como efectivas vantagens distintivas,<br />
1 joaobarreta@dpp.pt<br />
“The street that you´re giving me<br />
Will not be yours or mine<br />
It will have to be shared<br />
It will be everyone’s street”<br />
In TOCEMA Workshop n.º 1 “Definition of Town Centre Management”<br />
(Sweden, 07-08 June, 2005)<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
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Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
num cenário de crescente competitivi<strong>da</strong>de entre territórios, mais ou menos próximos, e<br />
face a uma concorrência ca<strong>da</strong> vez mais “global”.<br />
De acordo com Porter (1995), ca<strong>da</strong> local, seja ele um país, uma região ou uma ci<strong>da</strong>de,<br />
tem um conjunto de características únicas que determinam a vantagem competitiva <strong>da</strong>s<br />
empresas ali estabeleci<strong>da</strong>s. Certos locais geograficamente definidos, onde a quali<strong>da</strong>de de<br />
vi<strong>da</strong>, está directamente liga<strong>da</strong> a eleva<strong>da</strong>s concentrações de trabalhadores criativos e<br />
clusters culturais, reforçam e suportam a diversi<strong>da</strong>de e a inovação, através <strong>da</strong><br />
valorização e preservação dos seus valores culturais, contribuindo para a estabili<strong>da</strong>de<br />
económica e atraindo o turismo. Ou seja, na economia global, a vantagem competitiva<br />
está no factor “local”, <strong>da</strong>í que o mesmo autor realce a importância <strong>da</strong> rivali<strong>da</strong>de<br />
“doméstica” e <strong>da</strong> competição como chave determinante para a vantagem competitiva<br />
global e como força impulsionadora <strong>da</strong> inovação.<br />
Para além <strong>da</strong> vertente – activi<strong>da</strong>de económica, basicamente comércio e serviços, a ideia<br />
de centro de ci<strong>da</strong>de resume vários conceitos, ou seja, centro político-administrativo,<br />
cultural, patrimonial, etc…, que são passíveis (e é crucial que assim seja) de ser<br />
transmitidos aos seus habitantes e visitantes. Existe também uma vertente lúdica<br />
importante nas diversas funções desempenha<strong>da</strong>s por esse centro. Neste sentido,<br />
assume-se como fun<strong>da</strong>mental reviver a tradição que lhe está associa<strong>da</strong>, fazendo emergir<br />
um novo conceito de espaço de vivência enquadrado também numa perspectiva de<br />
rejuvenescimento <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de económica <strong>da</strong> zona, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua evidente per<strong>da</strong> de<br />
protagonismo que outrora deteve.<br />
Em resultado <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças que o comércio (sector retalhista) tem sofrido com a<br />
introdução de novos formatos de lojas e a existência de políticas específicas para o<br />
comércio, o centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des está a transformar-se, aspecto a não descurar no<br />
planeamento e na <strong>gestão</strong> urbanística.<br />
No entanto, a problemática do comércio no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de não se restringe às<br />
diferentes dinâmicas do sector e às fórmulas mais ou menos inovadoras de lhes fazer<br />
frente, <strong>da</strong>do que o contexto em que as mesmas ocorrem, ou seja, a evolução <strong>da</strong> relação<br />
ci<strong>da</strong>de-comércio, é por si só um aspecto decisivo que importa analisar.<br />
Nos últimos anos, em algumas ci<strong>da</strong>des foi reconhecido o importante papel do comércio e<br />
dos serviços na revitalização de certas áreas em declínio, com destaque para os centros<br />
históricos e centros tradicionais de comércio, começando-se a <strong>da</strong>r uma maior<br />
importância ao papel do comércio no planeamento urbanístico, através, por exemplo, <strong>da</strong><br />
implantação de áreas pedonais em associação com operações de reabilitação e<br />
renovação urbana.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Podendo-se considerar que tais intervenções pecarão por tardias, surgiram como reacção<br />
à evidente per<strong>da</strong> de fulgor em favor de outros atractivos <strong>comerciais</strong> e lúdicos que<br />
afastaram as pessoas do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, pois em confronto estaria o velho e o novo<br />
comércio, a velha e a nova ci<strong>da</strong>de.<br />
O centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, apesar de muitas vezes, ser um espaço com valor histórico e com<br />
vasta e diversifica<strong>da</strong> oferta comercial, os seus edifícios degra<strong>da</strong>dos, as ruas estreitas e<br />
sinuosas e as dificul<strong>da</strong>des de acesso e estacionamento, não só afastam as pessoas, como<br />
também desincentivam o investimento.<br />
Este facto, aliado ao horário rígido do comércio e dos serviços, e ao declínio <strong>da</strong> função<br />
residencial, torna o centro deserto após o encerramento dos estabelecimentos e aos finsde-semana,<br />
causando um efeito repulsivo e falta de segurança.<br />
A “polari<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> área central pode reforçar-se através de intervenções do município que<br />
se traduzem em operações de renovação urbana – instalação de novos espaços<br />
<strong>comerciais</strong>, pedonalização de ruas e aumento <strong>da</strong> oferta de estacionamento.<br />
A coordenação destas intervenções, a definição de priori<strong>da</strong>des e a articulação com outras<br />
acções é fun<strong>da</strong>mental para o sucesso de uma necessária política pública de urbanismo<br />
comercial.<br />
Em Portugal a experiência resultante <strong>da</strong> Medi<strong>da</strong> dos “Projectos de Urbanismo Comercial”,<br />
tanto a nível do PROCOM 2 do QCA II, como do sucessor URBCOM 3 do QCA III, deixou<br />
indicações claras, não só sobre a reali<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong>, mas também <strong>da</strong>s lacunas evidencia<strong>da</strong>s<br />
pela(s) política(s) pública(s) direcciona<strong>da</strong>(s) para o sector do comércio a retalho em<br />
contexto urbano.<br />
A a<strong>da</strong>ptação de métodos e técnicas de <strong>gestão</strong>, adoptados, por exemplo, na <strong>gestão</strong> dos<br />
Centros Comerciais, a aglomerações <strong>comerciais</strong> de dimensão relevante em centros<br />
urbanos, encontra campo de aplicação prática na criação e implementação de modelos<br />
de <strong>gestão</strong> dos centros urbanos, como aliás é visível em muitos países, um pouco por<br />
todo o Mundo.<br />
2<br />
Com efeito, foi ao abrigo do II Quadro Comunitário de Apoio, com o PROCOM, na sua vertente dos<br />
Projectos Especiais de Urbanismo Comercial, prevista na alínea a), do n.º1, do art. 26º do DL 184/94,<br />
de 01/07, (Programa de Apoio à Modernização do Comércio) que se materializou a preocupação de<br />
apoiar projectos de dinamização <strong>da</strong>s estruturas <strong>comerciais</strong> associados à recuperação ou revitalização<br />
do tecido urbano.<br />
3<br />
No âmbito do III QCA é implementado o URBCOM (Projectos de Urbanismo Comercial),<br />
regulamentado através <strong>da</strong> Portaria n.º317-B/2000, de 31/05.<br />
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João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Ao assumir que o comércio como activi<strong>da</strong>de económica instala<strong>da</strong> e predominante no<br />
centro de ci<strong>da</strong>de deve funcionar como um catalisador <strong>da</strong> revitalização socioeconómica<br />
desses núcleos, emerge a necessi<strong>da</strong>de estratégica de encontrar soluções para a sua<br />
dinamização e revitalização enquanto uni<strong>da</strong>des económicas que se apresentam e se<br />
constituem como um Centro Comercial a Céu Aberto. A <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> do conjunto,<br />
para além de uma necessi<strong>da</strong>de, é uma lacuna desde há muito senti<strong>da</strong>, pelo que também<br />
se revela crucial para a deseja<strong>da</strong> viabilização económica dos centros <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des,<br />
apostando em modelos de <strong>gestão</strong> já adoptados e implementados com sucesso alémfronteiras.<br />
Em síntese, o ponto de parti<strong>da</strong> para a presente reflexão aponta para a ideia de que as<br />
formas de comércio que se têm vindo a instalar na periferia <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, serão, por<br />
enquanto, uma reali<strong>da</strong>de incontornável, pelo que a questão que se coloca é a de delinear<br />
estratégias e formas de acção que, apesar desse facto, viabilizem uma afirmação sóli<strong>da</strong> e<br />
sustentável do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, assente no tecido económico instalado ou a instalar.<br />
2. CIDADE ENQUANTO SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA (ECONOMIA<br />
URBANA)<br />
Na óptica <strong>da</strong> ciência económica ou, de uma forma mais simples, <strong>da</strong> Economia, a ênfase é<br />
coloca<strong>da</strong> no estudo <strong>da</strong> forma como as socie<strong>da</strong>des utilizam os recursos escassos para<br />
produzir bens com valor, e como os utilizam entre os seus diferentes membros<br />
(Samuelson, 1986).<br />
A Economia Urbana, apesar de algo recente como ramo <strong>da</strong> Economia, consiste na análise<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de enquanto sistema de organização económica. Trata-se, assim, de uma visão<br />
própria do fenómeno urbano que projecta o ponto de vista <strong>da</strong> ciência económica e visa a<br />
racionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s decisões que concorrem para ordenar de forma progressiva os bens<br />
raros e os serviços urbanos com vista a atingir as finali<strong>da</strong>des do homem na ci<strong>da</strong>de.<br />
Por sua vez G. Charbot (1954) refere que a Economia Urbana se ocupa dos fenómenos<br />
mais associados ao prodigioso crescimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des na época contemporânea.<br />
Vários autores prestaram contributo para o avanço do pensamento no domínio <strong>da</strong><br />
economia liga<strong>da</strong> às ci<strong>da</strong>des e ao seu desenvolvimento, podendo-se referir A. Smith<br />
(1870) numa perspectiva elabora<strong>da</strong> sobre as ci<strong>da</strong>des e as respectivas funções, e Von<br />
Thunen (1826), cuja abor<strong>da</strong>gem se focaliza mais na organização do espaço a partir do<br />
centro urbano, na forma como a distância condiciona o tipo de uso económico,<br />
prestando, assim um importante contributo de ordem metodológica, no que se refere à
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
racionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> organização espacial em anéis concêntricos, utiliza<strong>da</strong> mais tarde por<br />
muitos outros autores em vários contextos.<br />
Apesar <strong>da</strong> evolução regista<strong>da</strong> ao nível <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem, métodos e objecto <strong>da</strong> Economia<br />
Urbana, trata-se de um domínio particular <strong>da</strong> ciência económica que recebe muita <strong>da</strong> sua<br />
razão de ser pelo facto do solo constituir um input de importância relevante em qualquer<br />
activi<strong>da</strong>de económica. Daí que, em contraste com o que se passa noutros domínios <strong>da</strong><br />
Economia, em que esta componente “física” tem sido sistematicamente esqueci<strong>da</strong>, a<br />
Economia Urbana lhe dê particular relevo, bem como às tendências de concentração de<br />
pessoas e activi<strong>da</strong>des que nele ocorrem.<br />
As interacções económicas que contribuem para a identi<strong>da</strong>de de uma área urbana,<br />
ocorrem em mercados e as áreas urbanas podem ser perspectiva<strong>da</strong>s como um sistema<br />
económico, compreendendo um complexo de mercados, ca<strong>da</strong> qual com a sua extensão<br />
territorial: mercado de trabalho, de solo, de habitação, de capitais e mercado para a<br />
distribuição de inúmeros bens e serviços.<br />
O conjunto <strong>da</strong>s áreas urbanas, com uma articulação sistémica, tem evoluído como um<br />
mecanismo económico real, em resposta aos constantes estímulos de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong>des económicas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na produção, distribuição e consumo de bens e<br />
serviços. A eficiente ligação económica – área urbana/sistema urbano – é fun<strong>da</strong>mental<br />
para a racionali<strong>da</strong>de do crescimento económico.<br />
As funções económicas básicas desempenha<strong>da</strong>s pelas áreas urbanas dizem respeito à<br />
produção, distribuição e consumo de bens e serviços, em que recursos escassos, com<br />
usos alternativos, são destinados à satisfação <strong>da</strong>s múltiplas decisões <strong>da</strong> procura.<br />
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Figura I. As Áreas Funcionais <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de e do seu Centro, na Perspectiva dos<br />
seus Utilizadores<br />
Utilizadores<br />
(Procura)<br />
Ligações<br />
funcionais<br />
Utilizadores<br />
(Recursos)<br />
Residente Lazer Conferências Trabalho<br />
Monumentos<br />
históricos<br />
Museus, galerias<br />
Ci<strong>da</strong>de Histórica<br />
Cultural<br />
Fonte: “Turismo, Ci<strong>da</strong>de e Cultura – Planeamento e Gestão Sustentável” (Henriques, 2003).<br />
Teatros, salas de<br />
concertos<br />
A ci<strong>da</strong>de é, portanto, um lugar privilegiado de localização <strong>da</strong> produção e do consumo,<br />
suscitando condições que facilitam a especialização na produção e distribuição de bens e<br />
serviços. Se para os produtores as ci<strong>da</strong>des oferecem vantagens únicas de economias de<br />
escala, localização e urbanização, bem como vantagens de abastecimento e factores de<br />
produção, já para os consumidores existem oportuni<strong>da</strong>des de obter maiores rendimentos<br />
e ter uma maior oferta e varie<strong>da</strong>de de empregos e serviços.<br />
As vantagens económicas <strong>da</strong>í resultantes para um uso eficiente dos recursos, podem ser<br />
examina<strong>da</strong>s na perspectiva <strong>da</strong> especialização, <strong>da</strong> complementari<strong>da</strong>de entre activi<strong>da</strong>des,<br />
<strong>da</strong>s economias de urbanização, do abastecimento e <strong>da</strong>s vantagens de consumo, que este<br />
sistema proporciona.<br />
A interacção entre os diversos territórios com base nos custos associados à produção e<br />
ao consumo em ca<strong>da</strong> um deles, dá origem a problemas complexos de definição <strong>da</strong>s<br />
Clubes nocturnos,<br />
área de diversão<br />
Nocturna<br />
Cafés, restaurantes<br />
Lojas (Comércio)<br />
Ci<strong>da</strong>de de<br />
Compras<br />
Escritórios
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
localizações óptimas para desenvolver determinado tipo de activi<strong>da</strong>des económicas,<br />
sabendo-se que nesta tarefa, existe uma tensão entre a existência de localizações mais<br />
ou menos atractivas, por um lado, a par de outras mais desadequa<strong>da</strong>s ou repulsivas, por<br />
outro.<br />
Assim, num mundo em que a urbanização se processa a um ritmo acelerado, e em que a<br />
organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de está ca<strong>da</strong> vez mais dependente de um estilo de vi<strong>da</strong> urbano, é<br />
consensual afirmar-se que não é possível esquecer ou minimizar a importância <strong>da</strong>s<br />
considerações de natureza económica no seu funcionamento.<br />
No entanto, o grau de investigação teórica na determinação <strong>da</strong> localização urbana <strong>da</strong>s<br />
activi<strong>da</strong>des económicas não tem an<strong>da</strong>do a par com a importância que esta questão<br />
assume, tendo os economistas “urbanos” avançado mais noutras áreas de reflexão –<br />
abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> estrutura económica do mercado urbano de habitação e do transporte<br />
urbano, por exemplo.<br />
Em resumo, e partindo <strong>da</strong> perspectiva de ci<strong>da</strong>de como enti<strong>da</strong>de espacial autónoma para<br />
a qual confluem múltiplas activi<strong>da</strong>des, do protagonismo evidenciado devido não só à sua<br />
dimensão como aglomerado, mas também do seu papel económico, político, social,<br />
cultural, patrimonial, etc..., a abor<strong>da</strong>gem micro-económica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é essencialmente<br />
representa<strong>da</strong> pela Nova Economia Urbana (NEU). Nesse sentido a preocupação que lhe<br />
está inerente reside não apenas na investigação <strong>da</strong>s condições de equilíbrio urbano, mas<br />
também na configuração óptima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, o que remete para alguns dos autores<br />
citados no ponto seguinte, a propósito de conceitos como o de Central Business District<br />
(CBD).<br />
3. CIDADES E COMÉRCIO – BREVE QUADRO CONCEPTUAL<br />
A ci<strong>da</strong>de, como objecto de estudo, pode ser li<strong>da</strong> de várias formas. As teorias mais<br />
correntes e mais conheci<strong>da</strong>s (Mattoso, 1987) apontam para aspectos de ordem<br />
demográfica, económica ou topográfica, sendo que no segundo caso, o critério<br />
identificador <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de seria o tipo de activi<strong>da</strong>des que nela eram pratica<strong>da</strong>s, ou seja, às<br />
quais a maioria dos habitantes se dedicava. O facto de tal maioria ser constituí<strong>da</strong>, por<br />
hipótese, por artesãos ou operários e comerciantes, permitia a esse lugar exercer uma<br />
influência muito maior sobre a economia de uma determina<strong>da</strong> área.<br />
Ao referir-se às ci<strong>da</strong>des como “filhas do comércio”, H. Pirenne (1973), evidencia um<br />
conjunto de relações, marca<strong>da</strong>s por vínculos de dependência e interacções, sendo<br />
sintomática a percepção <strong>da</strong> importância atribuí<strong>da</strong> à função comercial e seu papel<br />
fun<strong>da</strong>dor e estruturante de uma dimensão superior constituí<strong>da</strong> por outros pilares tão ou<br />
mais importantes do que a função económica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
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Nessa mesma linha, Weber (1987) referia-se às ci<strong>da</strong>des como “lugar de mercado”,<br />
expressando a estreita ligação entre espaço urbano e activi<strong>da</strong>des económicas,<br />
reconhecendo-lhe importância e protagonismo.<br />
M. Proudfoot (1937), numa abor<strong>da</strong>gem distinta, procedeu à classificação dos elementos<br />
que definem a estrutura comercial intra-urbana, distinguindo cinco tipos de<br />
concentrações <strong>comerciais</strong> – área central de negócios (CBD), centros de negócios<br />
periféricos, grandes artérias <strong>comerciais</strong>, rua comercial de bairro e pequenos aglomerados<br />
de lojas. Estes tipos destrinçavam-se pela forma como se dispunham as activi<strong>da</strong>des<br />
económicas e o alcance do agrupamento.<br />
Outra referência incontornável é a Teoria dos Lugares Centrais (W. Christaller, 1933), a<br />
partir <strong>da</strong> qual B. Berry (1967), sugere que a estrutura comercial de uma ci<strong>da</strong>de pode<br />
dividir-se em três tipos de concentrações <strong>comerciais</strong> – centros, faixas e áreas<br />
especializa<strong>da</strong>s. Tendo presente que ca<strong>da</strong> uma delas se poderá decompor em<br />
subcategorias (consoante a sua dimensão e a complexi<strong>da</strong>de socio-económica), o que as<br />
distingue são as características morfo-funcionais. O autor identificou quatro níveis de<br />
centros abaixo do CBD – centros regionais, centros de comuni<strong>da</strong>de ou sub-regionais,<br />
centros de bairro e centros de esquina.<br />
B. Mérenne-Schoumaker (1987), considera que a organização espacial do comércio, no<br />
contexto <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, se pode dividir em quatro tipos de áreas – eixos <strong>comerciais</strong><br />
regionais (ruas e praças do hiper centro comercial), ruas tradicionalmente <strong>comerciais</strong><br />
fora dos grandes eixos de circulação, áreas especializa<strong>da</strong>s no lazer e na diversão e<br />
bairros antigos em mutação.<br />
A importância atribuí<strong>da</strong> ao comércio, no que concerne à vi<strong>da</strong> e dinâmica do meio urbano,<br />
seja pela atracção exerci<strong>da</strong> sobre as pessoas, pelo emprego gerado, pelos<br />
capitais/mercadorias que movimenta, confere-lhe um papel de relevo, a nível <strong>da</strong><br />
performance <strong>da</strong> economia urbana, revelando-se “um instrumento do desenvolvimento<br />
local” (Salgueiro, 1998).<br />
Ain<strong>da</strong> de acordo com Salgueiro (1996), “Seguir o percurso do comércio na ci<strong>da</strong>de tendo<br />
em atenção o espaço e o tempo é ver crescer os lugares de ven<strong>da</strong> autónomos dos de<br />
produção, acompanhar a diversificação dos estabelecimentos e dos artigos<br />
comercializados, reconhecer o aumento do número de pontos de ven<strong>da</strong> e vê-los cobrir<br />
todo o tecido edificado, encontrar o comércio a fazer ruas, praças e centros, vê-lo fazer<br />
ci<strong>da</strong>de pública e depois negá-la, quando se refugia em espaços fechados”.<br />
O Livro Verde sobre o Comércio (1997) levanta um conjunto de questões pertinentes,<br />
que partem do reconhecimento crescente do papel crucial desempenhado pelo comércio<br />
na manutenção de uma vi<strong>da</strong> comunitária equilibra<strong>da</strong> realçando, ain<strong>da</strong>, que “um centro<br />
comercial local animado torna-se frequentemente também no centro cultural de uma
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
comuni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo ao comércio uma importante função de coesão social. As lojas sejam<br />
grandes ou pequenas, dão vi<strong>da</strong> (…)”.<br />
No mesmo documento, alerta-se, ain<strong>da</strong>, para a necessi<strong>da</strong>de premente de uma política<br />
integra<strong>da</strong> a favor <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, tratando-se de conseguir um equilíbrio que leve em<br />
consideração os interesses e necessi<strong>da</strong>des de todos os habitantes que vivem em áreas<br />
urbanas. “Na ver<strong>da</strong>de, em muitos países, o planeamento (…) <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e o equilíbrio<br />
comercial em áreas urbanas são uma grande questão política”.<br />
4. AS NECESSIDADES DAS CIDADES E DO(S) SEU(S) CENTRO(S) – PROPOSTA<br />
DE HIPOTÉTICA “TRANSPOSIÇÃO” DA TEORIA DE MASLOW<br />
Muitas <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, que hoje conhecemos, nasceram <strong>da</strong> realização periódica de feiras e<br />
mercados, expoentes máximos do comércio de então, que pela sua importância,<br />
regulari<strong>da</strong>de e populari<strong>da</strong>de viriam a ter influência no sentido de que o comércio se<br />
viesse a fixar, abandonando progressivamente a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de “mais itinerante”.<br />
A ci<strong>da</strong>de e o seu centro são indissociáveis <strong>da</strong>s evoluções verifica<strong>da</strong>s ao longo dos tempos<br />
no que se refere às distintas tipologias de activi<strong>da</strong>de comercial instala<strong>da</strong>s, constituindose<br />
como uma <strong>da</strong>s razões do seu aparecimento, desenvolvimento e afirmação.<br />
Por conseguinte, para além <strong>da</strong>s razões invoca<strong>da</strong>s e dos factos históricos, também não é<br />
de descurar a relação atrás cita<strong>da</strong>, entre a atracção e a satisfação exerci<strong>da</strong> pela ci<strong>da</strong>de,<br />
pelo seu centro e pelas suas múltiplas “ofertas”.<br />
Apesar de to<strong>da</strong>s as suas <strong>potenciali<strong>da</strong>des</strong> e de manterem ain<strong>da</strong>, alguns dos atractivos que<br />
lhes conferem a tradicional “imagem de marca”, os centros urbanos têm vindo a perder<br />
força e protagonismo, no que se refere, de um modo geral, aos factores críticos acima<br />
mencionados.<br />
Tal situação é motiva<strong>da</strong>, em boa parte, pela crise do tecido comercial que tem revelado<br />
falta de capaci<strong>da</strong>de para ultrapassar as debili<strong>da</strong>des estruturais, agrava<strong>da</strong>s pela<br />
concorrência de novas polari<strong>da</strong>des que, sobretudo nas últimas duas/três déca<strong>da</strong>s, se têm<br />
multiplicado, quer no interior <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, quer nas zonas periféricas, proporcionando<br />
grande diversi<strong>da</strong>de de alternativas de compra.<br />
Deserção de clientela, quebra do volume de negócios e encerramento de lojas associados<br />
a uma proliferação de espaços devolutos, são algumas <strong>da</strong>s principais expressões <strong>da</strong><br />
crise, seja do comércio, seja dos centros urbanos.<br />
Esse declínio decorre, também, de outros factores – desqualificação em termos<br />
urbanísticos, com destaque para a degra<strong>da</strong>ção do património e do parque imobiliário,<br />
diminuição <strong>da</strong> função habitacional com a consequente desertificação nocturna a que<br />
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João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
acrescem problemas nos domínios <strong>da</strong> segurança, higiene, acessibili<strong>da</strong>de,<br />
estacionamento, etc.<br />
Porém, e num plano mais abrangente, sejam as lacunas ao nível de uma abor<strong>da</strong>gem<br />
integra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s questões aponta<strong>da</strong>s, seja a reduzi<strong>da</strong> tradição de investimento privado na<br />
ci<strong>da</strong>de existente, colocam-se sérios entraves a que se consiga <strong>da</strong>r resposta cabal às<br />
novas e legítimas exigências colectivas – por uma maior quali<strong>da</strong>de do ambiente urbano,<br />
as novas lógicas de organização e localização do terciário, a renovação e integração de<br />
áreas degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s, as necessi<strong>da</strong>des de uma socie<strong>da</strong>de com novos padrões culturais, a<br />
revitalização de áreas centrais ou em processo de marginalização e a competitivi<strong>da</strong>de<br />
acresci<strong>da</strong> entre centros urbanos.<br />
Figura II. Componentes para o Sucesso do Centro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de<br />
Marketing<br />
Gestão<br />
Ambiente /<br />
Envolvente<br />
Física<br />
CENTRO<br />
DE CIDADE DE<br />
SUCESSO<br />
Fonte: Tradução livre a partir de “Town Centre Management: Opportunities and Challenges”<br />
(Final Report, June 2006).<br />
Em jeito de referência-síntese, Ascher (1998), numa óptica de abastecimento, refere-se<br />
ao facto de que enquanto o centro se periferiza, a periferia adquire ca<strong>da</strong> vez mais<br />
atributos de centrali<strong>da</strong>de.<br />
A questão que se coloca, no sentido de inverter a tendência de declínio do(s) centro(s) <strong>da</strong>(s)<br />
ci<strong>da</strong>de(s), reside na preservação <strong>da</strong> memória e do património material, <strong>da</strong> recuperação<br />
<strong>da</strong> importância perdi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> luta contra a “desertificação” humana dos locais e <strong>da</strong> retoma<br />
de novos pólos de atracção, numa nova concepção urbana que integre, de forma<br />
conjunta, a habitação, o comércio e os serviços, o encontro, o lazer e o espaço lúdico.<br />
Desenvolviment<br />
o de Negócios<br />
Comuni<strong>da</strong>de<br />
Local<br />
Cultura
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
4.1. Proposta de Hipotética “Transposição” <strong>da</strong> Teoria de Maslow<br />
As ci<strong>da</strong>des e os centros urbanos, à semelhança dos organismos vivos e do(s) produto(s),<br />
numa pura óptica económica e de marketing, nascem, crescem e morrem.<br />
Sendo certo que muitas ci<strong>da</strong>des viram o seu nascimento associado a um conjunto de<br />
activi<strong>da</strong>des (económicas, administrativas, culturais, etc…) que se concentram num<br />
determinado território, o inevitável e consequente crescimento, que nem sempre é<br />
sinónimo de desenvolvimento, gera necessi<strong>da</strong>des de diversa ordem – segurança, infraestruturas<br />
básicas, equipamentos de apoio, etc…, sendo que a satisfação <strong>da</strong>s mesmas<br />
supõe uma lógica de organização espacial de urbanismo, mas acima de tudo de<br />
planeamento.<br />
Maslow desenvolveu um modelo teórico em que hierarquizava as necessi<strong>da</strong>des do<br />
indivíduo, sustentando que, à medi<strong>da</strong> que iam estando satisfeitas as de nível mais<br />
básico, se progredia gradualmente para patamares superiores de uma possível pirâmide.<br />
Segundo o autor, as necessi<strong>da</strong>des humanas hierarquizam-se de acordo com a seguinte<br />
escala (ver fig. abaixo) – Fisiológicas, Segurança, Sociais, Auto-Confiança e Auto-<br />
Realização. Ou seja, na base <strong>da</strong> pirâmide encontram-se as necessi<strong>da</strong>des considera<strong>da</strong>s<br />
mais básicas, ao nível fisiológico, por exemplo, e progredindo na dita pirâmide, o seu<br />
topo será o pleno desenvolvimento do potencial do indivíduo.<br />
Nível <strong>da</strong>s Necessi<strong>da</strong>des<br />
Figura III. A Hierarquia <strong>da</strong>s Necessi<strong>da</strong>des Humanas<br />
Auto-realização (pleno<br />
desenvolvimento do<br />
potencial, etc…)<br />
Auto-confiança: respeito, etc…<br />
Social: amizades, afecto, amor, etc…<br />
Segurança: protecção contra ameaças, etc…<br />
Fisiológicas: fome, sede, sono, etc…<br />
Fonte: Hierarquia <strong>da</strong>s Necessi<strong>da</strong>des Humanas (ilustração <strong>da</strong> Teoria de Maslow).<br />
113<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
114<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Transpondo este modelo para o caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, e porque será consensual considerar<br />
que a satisfação <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas depende em larga medi<strong>da</strong> do<br />
meio/ambiente em que o indivíduo vive e/ou trabalha, ou seja, a ci<strong>da</strong>de, para o caso em<br />
apreço, parte-se <strong>da</strong> ideia de que uma ci<strong>da</strong>de que esteja dota<strong>da</strong> <strong>da</strong>s infra-estruturas<br />
básicas (saneamento e electrici<strong>da</strong>de, por exemplo) e de equipamentos sociais<br />
indispensáveis (saúde, educação, etc…), quererá cativar as pessoas (residentes,<br />
visitantes, etc...) através de outros argumentos e mais-valias, como sejam, por<br />
exemplo, o Comércio e os Serviços de que possa dispor.<br />
Atingidos estes primeiros patamares é fun<strong>da</strong>mental que possam emergir ambições, por<br />
exemplo, a nível ambiental (seleccionando o que interessa manter, reter ou atrair para o<br />
centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e aquilo que se poderá remeter para as periferias) e ao nível cultural<br />
(dispor de programas específicos para os diferentes públicos alvo, atraindo as pessoas<br />
para viver e participar de forma mais activa na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua ci<strong>da</strong>de).<br />
Progredindo de forma satisfatória por estas fases, apontar-se-á para a conquista de uma<br />
imagem de marca que diferencie a ci<strong>da</strong>de (e/ou o seu centro) <strong>da</strong>s restantes, cujas<br />
ambições poderão ser muito semelhantes e, igualmente, legítimas.<br />
Nível <strong>da</strong>s Necessi<strong>da</strong>des<br />
Figura IV. As Necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong>des<br />
(A<strong>da</strong>ptação / Transposição <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong>s Necessi<strong>da</strong>des de Maslow)<br />
Fonte: Elaboração própria.<br />
Marca “distintiva”<br />
Ambiente, Cultura, etc…<br />
Activi<strong>da</strong>des Económicas: Comércio, Serviços, etc…<br />
Equipamentos Sociais: Saúde, Educação, etc…<br />
Infra-estruturas básicas: Habitação, Saneamento, Electrici<strong>da</strong>de, etc…<br />
To<strong>da</strong>via, esta “transposição” do modelo teórico, é discutível e susceptível de maior<br />
aprofun<strong>da</strong>mento e fun<strong>da</strong>mentação mais consistente, pelo que será de questionar, por
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
exemplo, a hierarquização <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de acordo com a reali<strong>da</strong>de patentea<strong>da</strong> por<br />
esta ou aquela ci<strong>da</strong>de (centro urbano).<br />
Porventura, para além do desenvolvimento do estudo inerente a esta temática, será<br />
certamente uma questão do foro do planeamento estratégico <strong>da</strong>s próprias ci<strong>da</strong>des.<br />
Os factores críticos de sucesso de uma ci<strong>da</strong>de, em geral, e de um centro urbano, em<br />
particular, podem-se resumir de forma sistematiza<strong>da</strong>, em quatro grandes eixos, que vão<br />
ao encontro <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s em termos <strong>da</strong> hipotética aplicação <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />
teoria para ao caso <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e/ou dos centros urbanos.<br />
A habitabili<strong>da</strong>de (serem capazes de se assumir como um bom lugar para se viver), a<br />
competitivi<strong>da</strong>de (serem capazes de reunir competências e vantagens distintivas que as<br />
tornem competitivas face a outras locali<strong>da</strong>des), a atractivi<strong>da</strong>de (serem atraentes no<br />
maior número possível de aspectos e de exercer sobre os seus públicos<br />
internos/externos algum fascínio) e a visibili<strong>da</strong>de (serem conheci<strong>da</strong>s, fala<strong>da</strong>s e visíveis,<br />
cultivando uma imagem forte).<br />
Traçando o hipotético paralelismo entre as ci<strong>da</strong>des e o elemento humano, constata-se<br />
que ambos nascem e crescem de acordo com a veia empreendedora e criativa revela<strong>da</strong><br />
pelo factor humano. Daí que uma <strong>da</strong>s vias possíveis de encarar a questão <strong>da</strong><br />
sobrevivência e desenvolvimento dos centros urbanos consiste na abor<strong>da</strong>gem do<br />
problema numa perspectiva mercadológica, isto é, adoptar uma lógica de mercado que<br />
promova a ci<strong>da</strong>de e os seus produtos junto dos públicos-alvo.<br />
5. URBANISMO COMERCIAL EM PORTUGAL – UMA PRIMEIRA APROXIMAÇÃO À<br />
CRIAÇÃO (E GESTÃO) DE CENTROS COMERCIAIS A CÉU ABERTO<br />
Se no caso de autores estrangeiros, espanhóis 4 por exemplo, o tema do Urbanismo<br />
Comercial surge quase sempre associado à questão dos centros <strong>comerciais</strong> a <strong>céu</strong> aberto,<br />
como uma “boa prática” conducente à revitalização dos centros urbanos, no caso dos<br />
autores nacionais a temática do Comércio, sendo abor<strong>da</strong><strong>da</strong>, é-o de um modo mais<br />
generalista, não se encontrando muitas referências de relevo sobre a constituição de<br />
ver<strong>da</strong>deiros centros <strong>comerciais</strong> a <strong>céu</strong> aberto em Portugal.<br />
4 Castresana (1999) – “Nuevas concepciones del urbanismo comercial: los centros comerciales<br />
abiertos”; Molinillo (2001) – “Experiencias internacionales en revitalización de centros urbanos”;<br />
Elizagárate (2004) – “El comercio urbano como factor estratégico para la competitivi<strong>da</strong>d entre<br />
ciu<strong>da</strong>des”; Rojas (1998) – “Potenciación de los centros urbanos como espacios comerciales abiertos”;<br />
Del Rio (1999) – “Centros comerciales abiertos: una estrategia de mejora del atractivo urbano y del<br />
nivel de competitivi<strong>da</strong>d de la activi<strong>da</strong>d terciaria e las ciu<strong>da</strong>des”; Tarragó (1992) – “Urbanismo<br />
comercial. respuesta de futuro para el binomio comercio / ciu<strong>da</strong>d”.<br />
115<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
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Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
De acordo com Molinillo, o modelo de centro comercial a <strong>céu</strong> aberto é uma fórmula de<br />
organização comercial, com uma imagem e estratégia que conta com o envolvimento dos<br />
agentes de uma área delimita<strong>da</strong> de uma ci<strong>da</strong>de, de acordo com uma concepção global de<br />
oferta comercial, serviços, cultura e ócio.<br />
Para alguns dos autores nacionais 5 , o tema dos centros <strong>comerciais</strong> a <strong>céu</strong> aberto, merece<br />
uma abor<strong>da</strong>gem centra<strong>da</strong> na importância <strong>da</strong> <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> dos centros urbanos, como<br />
um meio para dinamizar o comércio aí instalado e assim contribuir para a sua<br />
revitalização.<br />
Para Balsas (1999), por exemplo, a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> dos centros<br />
urbanos, é encara<strong>da</strong> como crucial para o futuro sustentável <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des portuguesas,<br />
ressalvando que a experiência internacional tem demonstrado que a obtenção de um<br />
novo modelo económico, baseado em recursos financeiros sustentáveis constitui-se como<br />
o principal factor de sucesso para a revitalização do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des.<br />
O urbanismo comercial “refere-se à integração do comércio com o ordenamento do<br />
território no planeamento do crescimento e transformação urbana, na dupla vertente <strong>da</strong>s<br />
orientações sobre o desenvolvimento <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de comercial, por um lado, e uso do<br />
comércio como instrumento de acção urbanística, por outro” (Salgueiro, 1996).<br />
A experiência, em Portugal, no que se refere à criação de centros <strong>comerciais</strong> a <strong>céu</strong><br />
aberto 6 , apesar dos esforços evidenciados no sentido de sensibilizar e mobilizar as partes<br />
potencialmente envolvi<strong>da</strong>s, é ain<strong>da</strong> algo incipiente.<br />
Apesar de ser um tema que sempre esteve subjacente aos Projectos Especiais de<br />
Urbanismo Comercial (PEUC) (seja na fase de arranque, seja durante a sua<br />
implementação), o que é facto é que tal necessi<strong>da</strong>de, ou seja, a <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> do<br />
Projecto, e dos seus resultados, nunca terá sido percepciona<strong>da</strong> <strong>da</strong> forma mais correcta<br />
pelos promotores dos Projectos (Câmaras Municipais e Associações Comerciais), numa<br />
clara falta de visão global e estratégica <strong>da</strong> problemática do comércio a retalho em<br />
contexto urbano.<br />
5<br />
Balsas (1999) – “Urbanismo Comercial em Portugal e a Revitalização do Centro <strong>da</strong>s Ci<strong>da</strong>des”;<br />
Cortez (1999) – “Gestor de centro urbano: reflexões com base na experiência dos projectos de<br />
urbanismo comercial”; Marques (1999) – “Gestor de projecto ou gabinete de <strong>gestão</strong>?”; Carvalho<br />
(1998) – “Que comerciantes apoiar, eis a questão?”; Barreta (1999) – “Comércio e Ci<strong>da</strong>de – Uma<br />
nova <strong>gestão</strong> para uma velha relação!”<br />
6<br />
Agrupamento espacial de estabelecimentos <strong>comerciais</strong> em espaço urbano delimitado, em geral nos<br />
denominados centros históricos <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, que apresentam uma imagem uniforme em termos de<br />
oferta global <strong>da</strong> área mediante: prestação comum de serviços, cumprimento de um mesmo horário,<br />
uso de um logótipo, implantação de mobiliário urbano que a identifique e distinga, prestação conjunta<br />
e integra<strong>da</strong> de activi<strong>da</strong>des de ócio/lazer e animação cultural, etc…
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Grosso modo, os PEUC visavam a modernização <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des económicas do comércio<br />
e de alguns serviços, a qualificação do espaço público envolvente e a promoção do<br />
respectivo projecto global, inseri<strong>da</strong>s em áreas limita<strong>da</strong>s dos centros urbanos com<br />
características de eleva<strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de comercial, multifuncionali<strong>da</strong>des e desenvolvimento<br />
económico, patrimonial e social.<br />
Por conseguinte, uma abor<strong>da</strong>gem do tema do urbanismo comercial (em Portugal),<br />
focaliza<strong>da</strong> na definição de políticas/medi<strong>da</strong>s (que preten<strong>da</strong>m articular o ordenamento do<br />
espaço urbano e a sua a<strong>da</strong>ptação para um adequado desenvolvimento <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des<br />
<strong>comerciais</strong>, do ócio / lazer, e que contemplem, por exemplo, para além <strong>da</strong> modernização<br />
do comércio, a pedonização, a sinalética e o mobiliário urbano), resumir-se-á ao trabalho<br />
iniciado e desenvolvido no âmbito do PROCOM, e mais tarde do URBCOM.<br />
Por traduzir o reconhecimento <strong>da</strong> importância estratégica que as activi<strong>da</strong>des <strong>comerciais</strong><br />
desempenham no contexto urbano, deu-se um primeiro, e meritório, passo por parte <strong>da</strong><br />
Administração Central (tutela <strong>da</strong> Economia), no sentido <strong>da</strong> criação <strong>da</strong>s bases para um<br />
planeamento urbano que pudesse vir a ter em linha de conta as activi<strong>da</strong>des económicas<br />
(o comércio a retalho, no caso em concreto).<br />
A sua natureza e descrição deixavam antever uma preocupação em conciliar as duas<br />
vertentes, ou seja, a requalificação e dinamização <strong>da</strong>s estruturas <strong>comerciais</strong> e a<br />
revitalização do respectivo espaço urbano.<br />
A forma como a metodologia inerente aos PEUC se arquitectava já revelava a<br />
necessi<strong>da</strong>de de desenvolvimento de parcerias.<br />
Com campos de actuação e competências defini<strong>da</strong>s, a deseja<strong>da</strong> articulação <strong>da</strong>s<br />
diferentes vertentes envolvi<strong>da</strong>s constituía-se como um dos pilares essenciais, uma vez<br />
que concorrendo para objectivos comuns, os investimentos a concretizar assumiam um<br />
evidente carácter de complementari<strong>da</strong>de – nos espaços <strong>comerciais</strong> (estabelecimentos),<br />
no espaço público (área de intervenção, normalmente o “centro histórico” e/ou a “baixa”)<br />
e na dinamização/animação/promoção, sendo que, posteriormente, a aposta teria de<br />
passar forçosamente pela <strong>gestão</strong> comum do “novo” espaço comercial, resultante <strong>da</strong><br />
implementação/execução do Projecto.<br />
Aliás, prova dessa intenção, ficou patente na disponibilização de apoios específicos para<br />
as UAC 7 , contemplados no URBCOM, – que mais não seriam, por definição, do que um<br />
embrião <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de <strong>gestão</strong> de centro urbano.<br />
7 A Portaria n.º 188/2004, de 26/02, aprovou o Regulamento de Execução do Sistema de Incentivos<br />
a Projectos de Urbanismo Comercial (URBCOM), o qual prevê na sua alínea d), do n.º1, do art. 3º, as<br />
Uni<strong>da</strong>des de Acompanhamento e Coordenação (UAC). As UAC destinam-se a ser promovi<strong>da</strong>s por<br />
iniciativa <strong>da</strong>s estruturas associativas, e terão como objectivo essencial o acompanhamento e <strong>gestão</strong><br />
do projecto de urbanismo comercial <strong>da</strong> área de intervenção.<br />
117<br />
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Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
A transição do PROCOM para o URBCOM, resultou dos próprios impactes do primeiro,<br />
indo ao encontro <strong>da</strong>s grandes linhas de orientação defini<strong>da</strong>s pelo Programa Operacional<br />
de Economia (POE). Isto é, os resultados positivos de uma intervenção tiveram como<br />
consequência um interesse crescente em prosseguir o mesmo caminho por via do<br />
sucesso alcançado e demonstrado, de forma efectiva, por práticas que se revelaram<br />
“boas práticas” susceptíveis de promover o efeito de “alavancagem” na <strong>gestão</strong> dos<br />
centros urbanos.<br />
Do ponto de vista <strong>da</strong> intervenção global, ambos os programas apresentam um grande<br />
potencial, que lhes advém de três factores principais – “conjugação integra<strong>da</strong>” (reflectese<br />
numa intervenção, tanto na estrutura edifica<strong>da</strong> como no sistema de espaços<br />
públicos), “cumplici<strong>da</strong>de sectorial” (revela-se necessária uma grande sintonia e interdependência<br />
entre o sector privado, o associativo e o público) e a “convergência urbana”<br />
(o seu bom desenvolvimento realiza-se pela intervenção nas estruturas físicas (edifícios<br />
e espaços públicos) e nas estruturas empresariais (<strong>gestão</strong> dos estabelecimentos,<br />
formação dos comerciantes e funcionários), proporcionando-se assim uma intervenção<br />
que abarca as noções de “urbano” e “urbani<strong>da</strong>de” (Balula e Carvalho, 2001).<br />
Do próprio conteúdo <strong>da</strong>s inovações, tanto na fase de arranque, como nas posteriores,<br />
ficou bem espelhado o efeito multiplicador <strong>da</strong>s intervenções leva<strong>da</strong>s a efeito ao abrigo do<br />
PROCOM e do URBCOM.<br />
Não obstante os níveis de adesão alcançados, tanto a nível do PROCOM (com cerca de<br />
130 centros urbanos intervencionados), como do URBCOM (com mais de meia centena),<br />
citando Cachinho (2002) – “(…) apesar do sucesso do programa (PROCOM) ao nível do<br />
número de projectos aprovados, muitas dúvi<strong>da</strong>s se levantam quanto à sua capaci<strong>da</strong>de de<br />
solucionar problemas.”, ou seja, a solução preconiza<strong>da</strong> pela medi<strong>da</strong> que, na sua<br />
implementação ideal culminaria com a adopção de um modelo de <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> para<br />
o centro urbano não terá sequer sido percepciona<strong>da</strong> pelos promotores dos projectos.<br />
À semelhança de outros programas e medi<strong>da</strong>s, os promotores dos projectos, por vezes,<br />
parecem confundir os meios e os fins, sendo que no caso em concreto, a importância e a<br />
necessi<strong>da</strong>de de definição / adopção de modelo de <strong>gestão</strong> comum para o centro urbano,<br />
terá de ser senti<strong>da</strong>, como tal, pelos actores, e nunca poderia resultar de uma qualquer<br />
forma de imposição por parte <strong>da</strong> Administração Central (ou, até mesmo, Local).<br />
Muitos serão os que consideram que o facto de o programa prever a disponibili<strong>da</strong>de de<br />
meios financeiros para o efeito, acaba por introduzir um motivo de “distracção” em<br />
relação aos objectivos traçados para a medi<strong>da</strong> de política.<br />
Apesar de tudo, destacaria alguns dos impactes positivos, como seja o relançamento dos<br />
centros (urbanos) de comércio face a uma maior visibili<strong>da</strong>de que os projectos lhes
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
conferiram, a requalificação dos respectivos espaços públicos, a beneficiação <strong>da</strong> imagem<br />
comercial, o interesse crescente <strong>da</strong>s novas formas de comércio pelo centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des<br />
envolvi<strong>da</strong>s, maior receptivi<strong>da</strong>de (por parte <strong>da</strong>s estruturas associativas e lojistas) para o<br />
alargamento dos horários de funcionamento, entre outros.<br />
Em suma, tratando-se de intervenções <strong>da</strong> esfera de política pública, intencionalmente<br />
integra<strong>da</strong>s, visando, nesse contexto, envolver e contemplar, em termos de apoios<br />
financeiros, actores privados, associativos e públicos, porventura a questão <strong>da</strong><br />
definição/adopção de modelos de <strong>gestão</strong> de centro urbano com vista a assegurar a<br />
sustentabili<strong>da</strong>de dos centros intervencionados (e não só) nunca foi devi<strong>da</strong>mente<br />
assimila<strong>da</strong> por todos os intervenientes (sem excepção) nos processos.<br />
6. MODELOS DE GESTÃO DE CENTROS URBANOS<br />
Apesar <strong>da</strong> reconheci<strong>da</strong> importância do caso norte-americano e britânico, como se<br />
explanará, convém referir que a importância do tema e <strong>da</strong>s experiências desenvolvi<strong>da</strong>s<br />
encontra tradução em numerosos centros urbanos de ci<strong>da</strong>des de muitos outros países,<br />
facto bem revelador não só do interesse suscitado pela questão <strong>da</strong> <strong>gestão</strong> dos centros<br />
urbanos, mas também dos resultados já alcançados com as práticas implementa<strong>da</strong>s.<br />
Podem-se enumerar alguns casos, a título exemplificativo, embora apresentem<br />
características particulares de acordo com o enquadramento legal e reali<strong>da</strong>des vivi<strong>da</strong>s<br />
nos respectivos países:<br />
◆ Estados Unidos (estima-se que existem mais de 2000 Business Improvement<br />
Districts activos, criados na sua grande maioria nos anos 90 (por exo., Califórnia,<br />
Nova Iorque, Los Angeles, New Jersey, Carolina do Norte, Wisconsin, Filadélfia,<br />
Washington, Manhattan, …);<br />
◆ Inglaterra (por exo., Manchester, Liverpool, Birmingham, Bradford, Shipley,<br />
Bingley, Keighley, Bristol, Coventry, Gravesend, Nottingham, Reading, …);<br />
◆ Espanha (por exo., Madrid, Barcelona, Bilbao, Vigo, Valência, Gandía, Jerez de La<br />
Frontera, Antequera, …);<br />
◆ Bélgica (por exo., Charleroi, Wallonne, Liége, Mons, Verviers, …);<br />
◆ França (por exo., Bordéus, Marselha, Lille, Roubaix, Tourcoing, Le Havre,<br />
Neuville, …);<br />
◆ Alemanha (mais de 250 em Hamburgo – Bochum, Chemnitz, Halle, Dortmund,<br />
Duisburg);<br />
◆ Canadá (mais de 200 em Ontario, cerca de 60 em Toronto, mais de 20 em<br />
Vancouver, mais de 80 municípios e bairros do Quebec, …);<br />
119<br />
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120<br />
◆ África do Sul (mais de 20, a maioria em Joanesburgo);<br />
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João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
◆ Áustria (Salzburgo, e mais de 60, em especial em ci<strong>da</strong>des de menor dimensão);<br />
◆ Austrália, Japão, Nova Zelândia, Suíça, Suécia, Itália, Polónia, Escócia,<br />
País de Gales, Irlan<strong>da</strong> do Norte (…).<br />
O trabalho desenvolvido e os resultados alcançados, devem-se à experiência norteamericana,<br />
que iniciou, na déca<strong>da</strong> de 60, um processo de revitalização urbana, quando<br />
parte <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des começaram a sofrer os efeitos de processos de suburbanização e o<br />
comércio se deslocou para as periferias de modo a seguir a habitação, os empregos e,<br />
mais tarde, o lazer.<br />
Ao nível europeu, detendo também o conhecimento do já ocorrido nos Estados Unidos e<br />
<strong>da</strong>s suas consequências, surgiu igual preocupação e a consciência <strong>da</strong> importância <strong>da</strong><br />
revitalização urbana associa<strong>da</strong> a programas de regeneração urbana que incluem não só a<br />
área comercial, bem como, a promoção e constituição de parcerias para a sua<br />
revitalização urbano-comercial.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Figura V. Gestão do Centro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de – Modelo possível de Organização<br />
Fonte: Association du Management de Centre-Ville (AMCV).<br />
Em termos gerais, a questão <strong>da</strong>s parcerias surge como resultado de uma cooperação,<br />
mais ou menos formal, em função de um objectivo comum, em que do envolvimento <strong>da</strong>s<br />
partes resulta um valor acrescentado para o todo, implicando, também, os privados nas<br />
políticas e nos investimentos públicos. As novas organizações e parcerias para a<br />
revitalização do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des devem estar ca<strong>da</strong> vez mais próximas do modelo<br />
121<br />
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João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
encontrado para o sucesso dos centros <strong>comerciais</strong> privados, onde termos como eficiência<br />
e eficácia dão corpo à <strong>gestão</strong> estratégica na aplicação e coordenação dos recursos.<br />
Figura VI. Modelo adoptado (o caso Belga de Charleroi) – Parceria público-privado<br />
Fonte: Charleroi centre ville – Pour un coeur de ville dynamique.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
No que diz reseito às organizações e/ou modelos de <strong>gestão</strong> do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, o seu<br />
aparecimento fica a dever-se às mu<strong>da</strong>nças que muitos centros de ci<strong>da</strong>de estão a registar<br />
como resultado <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de diversificar as economias locais para além <strong>da</strong>s<br />
tradicionais activi<strong>da</strong>des residenciais, de comércio a retalho e de serviços, e passarem a<br />
incluir também activi<strong>da</strong>des de recreio, lazer e cultura.<br />
É assim estimulado o surgimento <strong>da</strong>s denomina<strong>da</strong>s organizações “empreendedoras”, e<br />
na sua forma ideal auto-sustentáveis, com o objectivo de, em parceria público-privado,<br />
poder responder às múltiplas, e por vezes complexas, necessi<strong>da</strong>des que urge colmatar,<br />
de modo a tornar o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de num local atractivo, dinâmico, competitivo e viável<br />
do ponto de vista económico.<br />
6.1. A Experiência nos Estados Unidos<br />
No final dos anos setenta, a situação de degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s áreas tradicionais de comércio,<br />
em muito afecta<strong>da</strong>s pela expansão comercial para a periferia, deu origem aos “Special<br />
Assessment Districts” (SAD), uma espécie de primeira versão dos denominados<br />
“Business Improvement Districts” (BID).<br />
Os BID, cuja tradução para português, aponta para “Áreas de Desenvolvimento<br />
Económico” e os “Main Street Program” (MSP), cuja expressão resulta em “Programa de<br />
Rua Central”, são os dois exemplos a merecer referência, pela relevância prática que têm<br />
assumido, ao nível de modelos de <strong>gestão</strong> de centros urbanos nos Estados Unidos.<br />
Quanto aos primeiros, trata-se de organizações semi-priva<strong>da</strong>s, sem fins lucrativos,<br />
devi<strong>da</strong>mente legitima<strong>da</strong>s para definir e cobrar uma taxa aos proprietários de imóveis<br />
<strong>comerciais</strong>, de uma determina<strong>da</strong> área, com o propósito de prestar, em contraparti<strong>da</strong>, um<br />
conjunto de serviços adicionais àqueles que já são assegurados pela Administração<br />
Pública (local). Importa realçar que são um importante meio para a revitalização dos<br />
centros urbanos, actuando como um instrumento financeiro que, permitindo o<br />
fornecimento de um conjunto de serviços complementares à activi<strong>da</strong>de empresarial,<br />
resulta <strong>da</strong> cobrança de um imposto ou taxa sobre os proprietários <strong>comerciais</strong>.<br />
123<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
124<br />
Figura VII. Business Improvement District – Definition<br />
WHAT IS A BUSINESS IMPROVEMENT DISTRICT<br />
(IN MASSACHUSETTS) ?<br />
Fonte: “A Guide to Establishing a Business Improvement District”.<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
A Business Improvement District (BID) is a method used to finance and manage commercial area<br />
improvements in designated districts in order to restore or promote business activity. The BID is a<br />
specifically designed geographic district established to provide additional and supplemental services such<br />
as business retention and recruitment, professional management, marketing, improved maintenance,<br />
enhanced safety and security, and physical improvements to the streetscapes of the district.<br />
The BID is financed by property owners within the district who agree to an additional assessment to their<br />
real estate property taxes, which is then exclusively dedicated for improvements that will benefit the entire<br />
district.<br />
The municipality collects the assessed funds and provides them to the BID, which directs them to enhanced<br />
or additional services which are not traditionally offered by the municipality.<br />
The funds from a BID are used only to supplement municipal services and are not permitted to replace<br />
those existing services.<br />
There are three primary advantages of a BID. The first is the ability to provide additional and enhanced<br />
services that improve the business environment. The second advantage is the capability of professional<br />
management of retail and commercial services, much like those offered in a mall, than enhance the district<br />
and strengthen a municipality’s economic capacity. The third primary advantage is the predictable and<br />
reliable source of funding that a BID offers.<br />
In short, BID´s allow for the organized and professional implementation of competitive business practices<br />
and services developed and maintained cooperatively at the local level.<br />
In Massachusetts, a BID can be formed in any geographical area in which at least 75% of the land is zoned<br />
or used for commercial, retail, industrial or mixed uses. The BID concept of private assessment for common<br />
improvements is not unlike a betterment district where property owners pay for specific utility benefits. It has<br />
also been compared to the common charges assessed to all shopping mall tenants which are used for<br />
maintenance, security, and promotions. A BID can provide all of these services to compete more equitably<br />
with shopping malls.<br />
De um modo geral, podem-se identificar como elementos mais relevantes dos BID, o<br />
facto de os comerciantes poderem usufruir de serviços públicos suplementares e outros<br />
serviços complementares à sua activi<strong>da</strong>de, participarem na defesa dos interesses do<br />
centro urbano, obterem economias de escala resultantes <strong>da</strong> cooperação, terem acesso a<br />
financiamento conjunto e a partilha de informação, investigação e planeamento.<br />
A lógica do raciocínio subjacente aos BID, prende-se com o facto de estes serem um<br />
instrumento de angariação de escala de acção e financeira, em que os resultados para<br />
além do dinamismo comercial, também se poderão reflectir sobre o valor <strong>da</strong>s<br />
proprie<strong>da</strong>des.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Figura VIII. Causas Possíveis para a Formação dos BID<br />
Fonte: “Revitalization of Urban Areas through BID´s – Trends and expectations for<br />
shrinking cities” (Friresecke, F.).<br />
Os fundos obtidos através dos BID são canalizados para melhorar serviços básicos ao<br />
público que utiliza o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e aumentar os níveis de confiança (tanto <strong>da</strong> oferta<br />
como <strong>da</strong> procura) para que se torne viável atrair investimento adicional por parte do<br />
sector privado.<br />
125<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
126<br />
Figura IX. Processo Inerente à Criação dos BID<br />
Phase 1: PLANNING<br />
THE BID PROCESS<br />
1. Contact the department of small business services (SBS);<br />
2. Determine whether or not to form a BID;<br />
3. Form a steering committee;<br />
4. Hold an initial steering committee meeting;<br />
5. Develop a <strong>da</strong>tabase of property owners and commercial tenants;<br />
6. Conduct needs assessment survey;<br />
7. Draft the district plan;<br />
Phase 2: OUTREACH<br />
8. Send out first informational mailing;<br />
9. Hold first public meeting;<br />
Phase 3: LEGISLATIVE AUTHORIZATION<br />
10. Hold second public meeting.<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Fonte: “Starting a Business Improvement District (a step-by-step guide)”.<br />
Com tal intuito, é usual a aplicação dos fundos em determina<strong>da</strong>s vertentes, que vão<br />
desde o mobiliário urbano, a iluminação pública, os espaços verdes, a limpeza <strong>da</strong>s ruas e<br />
<strong>da</strong>s facha<strong>da</strong>s, a segurança e o estacionamento, até outros parâmetros “mais<br />
estratégicos” para o negócio, como incentivos ao desenvolvimento económico ou<br />
utilização de técnicas comuns de marketing (campanhas publicitárias conjuntas, por<br />
exemplo).
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
▪ SERVIÇOS PÚBLICOS<br />
ADICIONAIS<br />
▪ OUTROS SERVIÇOS<br />
▪ DEFESA DOS<br />
INTERESSES DO CENTRO<br />
▪ COOPERAÇÃO<br />
▪ FINANCIAMENTO<br />
▪ INVESTIGAÇÃO E<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
Figura X. Principais Benefícios dos BID<br />
Recrutamento de pessoal de segurança;<br />
Limpeza e manutenção de parques e outros espaços públicos.<br />
Limpeza de passeios;<br />
Remoção de neve;<br />
Publici<strong>da</strong>de, promoções e anúncios;<br />
Retenção e recrutamento de investimentos.<br />
Toma<strong>da</strong> de posições colectivas;<br />
Desenvolvimento e promoção de posições de consenso;<br />
Monitorização/acompanhamento dos serviços públicos.<br />
Publici<strong>da</strong>de conjunta;<br />
Financiamento de serviços;<br />
Apoio a necessi<strong>da</strong>des específicas.<br />
Possibili<strong>da</strong>de de contrair empréstimos para financiar<br />
melhoramentos no espaço público.<br />
Recolha e análise de <strong>da</strong>dos demográficos e económicos;<br />
Monitorização de progresso;<br />
Estabelecer e rever objectivos;<br />
Conceber programas de desenvolvimento plurianuais.<br />
Fonte: Elaboração própria (“Comércio, Ci<strong>da</strong>de e Projectos de Urbanismo Comercial” (Barreta,<br />
2007)), a partir de “Urbanismo Comercial e Parcerias Público-privado” (Balsas, 2002).<br />
Os MSP são outro tipo de modelo de <strong>gestão</strong>, que se baseia numa visão mais próxima do<br />
conceito de desenvolvimento integrado, em que a comuni<strong>da</strong>de pode implementar a sua<br />
própria estratégia de revitalização comercial, desde que esta seja basea<strong>da</strong> nas quatro<br />
áreas principais do Programa – a reestruturação económica, a organização, a promoção<br />
e o design.<br />
O objectivo primordial consiste em criar um espaço agradável e atractivo que estimule os<br />
visitantes a voltar ao centro, recorrendo a diversas formas e meios de fomentar a<br />
compra, o lazer e a permanência, usufruindo do espaço e <strong>da</strong>s condições que o mesmo<br />
tem para oferecer.<br />
De acordo com Balsas (2000: 56) – “Começou (…) com três projectos-piloto e<br />
actualmente conta já com mais de 1500 comuni<strong>da</strong>des aderentes em 40 Estados.<br />
Actualmente há cerca de 900 iniciativas em curso (…)”.<br />
Assentando em moldes distintos dos BID, os MSP têm uma estrutura jurídicoorganizacional<br />
adequa<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, contemplando um conselho de administração<br />
127<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
128<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
com representantes locais, um conselho executivo, um gestor de programa e quatro<br />
grupos de trabalho (vocacionados para as áreas identifica<strong>da</strong>s no parágrafo anterior).<br />
Compete à estrutura cria<strong>da</strong> definir a estratégia de intervenção, angariar financiamentos<br />
e coordenar a participação de voluntários.<br />
6.2. A Experiência na Europa (O Caso Britânico)<br />
No caso europeu, os “Town Centre Management” (TCM), cuja tradução aponta para<br />
“Gestão do Centro de Ci<strong>da</strong>de”, revelam a experiência do caso britânico, que pelas suas<br />
características pode ilustrar bem um modelo de acção, cuja eventual a<strong>da</strong>ptação às<br />
especifici<strong>da</strong>des de Portugal deixa adivinhar alguns obstáculos que se podem revelar<br />
intransponíveis.<br />
Em traços gerais, os TCM baseiam-se na filosofia <strong>da</strong> <strong>gestão</strong> comercial centraliza<strong>da</strong> e a<br />
sua aplicação tem-se focalizado em estratégias de coordenação de recursos para se<br />
atingir um objectivo comum.<br />
Figura XI. A Primeira Definição Europeia de Town Centre Management (TCM)<br />
Fonte: TOCEMA (Europe teamwork).<br />
European Definition of TCM<br />
� TCM acts on the vitality and viability of the city centre.<br />
� TCM is a means of economic, social and cultural development of the city centre in keeping with<br />
the overall framework of urban development.<br />
� TCM is a formal or informal public-private partnership that focuses on vision, strategic<br />
development and promotes the active involvement of different stakeholders in the management,<br />
marketing, resourcing and development of the town centre.<br />
� TCM brings together stakeholders from different sectors and facilitates exchanges,<br />
�<br />
understanding and actions.<br />
TCM ensures the setting up of a shared and inclusive vision and strategy that combines in a<br />
multidisciplinary approach long and short term objectives in order to initiate actions in diverse<br />
fields such as retail, environment (cleanliness, security, etc), tourism, culture, accessibility,<br />
housing and urban development, answering the expectations of the stakeholders, users and<br />
citizens.<br />
� TCM is financially supported by the public and /or private sectors.<br />
� TCM is pro active and innovative and a<strong>da</strong>pts itself to new challenges in the city, the evolution of<br />
the environment, and the way of life and behaviors of its users through research and the<br />
development of new working methods.<br />
Têm sido criados e definidos como resposta integra<strong>da</strong> a pressões competitivas que<br />
envolvem o desenvolvimento, a <strong>gestão</strong> e a promoção de áreas públicas e priva<strong>da</strong>s nos<br />
centros <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, com benefícios para todos os intervenientes.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
De um modo quase informal, assume a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de parceria público-privado, sendo<br />
que de início fica incumbi<strong>da</strong> do desempenho de pequenas tarefas no âmbito do<br />
melhoramento geral do centro urbano, do marketing local e/ou organização de<br />
campanhas de promoção.<br />
Tirando partido <strong>da</strong>s múltiplas sinergias gera<strong>da</strong>s pelos actores envolvidos e a envolver em<br />
todo o trabalho que vise o centro de ci<strong>da</strong>de, as linhas gerais de actuação são delinea<strong>da</strong>s<br />
no sentido de complementar os serviços <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des/autori<strong>da</strong>des locais, regenerar e<br />
reabilitar o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e aumentar a sua vitali<strong>da</strong>de comercial.<br />
Autori<strong>da</strong>des<br />
Locais<br />
Figura XII. Possibili<strong>da</strong>de de Estrutura de Gestão (TCM)<br />
Agências /<br />
Socie<strong>da</strong>des<br />
(Reabilitação<br />
Urbana)<br />
Outros<br />
Stakeholders<br />
(Câmaras e<br />
Associações de<br />
Comércio)<br />
Stakeholders do<br />
Sector do Comércio<br />
e Serviços<br />
(Associações locais)<br />
Representantes do Sector Público Representantes do Sector Privado<br />
Gestor Executivo / Operacional<br />
Outsourcing (Agências –<br />
Comercial / Marketing)<br />
Direcção<br />
Sub-Grupos de Trabalho<br />
(por área de actuação)<br />
Fonte: Small Retail and Town Centre Management – Scheme: Theory and reality from UK and<br />
USA (Hallsworth, A.; Parker, C.; Stefaniak, A.C.).<br />
Em concreto, a acção centra-se em torno <strong>da</strong> <strong>gestão</strong>, assumindo três tarefas essenciais –<br />
a coordenação, a facilitação do diálogo e comunicação (de modo a manter a parceria<br />
activa) e a definição de priori<strong>da</strong>des base num plano de actuação.<br />
129<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
130<br />
� ESTRATÉGIA<br />
� AMBIENTE<br />
� ACESSO<br />
� SEGURANÇA<br />
� COMÉRCIO<br />
� PROMOÇÃO<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Figura XIII. Principais Vertentes contempla<strong>da</strong>s pelos TCM<br />
Definir o problema e formular um plano de acção;<br />
Melhorar o ambiente <strong>da</strong>s ruas e a facha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s lojas;<br />
Boa sinalização, bons estacionamentos e bons transportes públicos;<br />
Policiamento e integração de habitação em áreas <strong>comerciais</strong>;<br />
Promoção do comércio e satisfação do consumidor;<br />
Marketing de ci<strong>da</strong>de.<br />
Fonte: Elaboração própria (“Comércio, Ci<strong>da</strong>de e Projectos de Urbanismo Comercial” (Barreta,<br />
2007)), a partir de “Urbanismo Comercial e Parcerias Público-privado” (Balsas, 2002).<br />
No caso específico do Reino Unido, a questão <strong>da</strong> revitalização do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des,<br />
merece ain<strong>da</strong> uma abor<strong>da</strong>gem adicional, por parte do Department of the Environment<br />
(DoE, 1994). Tal metodologia, baseia-se numa Matriz (denomina<strong>da</strong> Matriz dos 4 A´s),<br />
que define quatro áreas, identifica<strong>da</strong>s como críticas, por se constituírem como dimensões<br />
cruciais para o sucesso de um processo de revitalização comercial do centro <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des:<br />
Acessibili<strong>da</strong>de, Atracção, Animação e Acção.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Figura XIV. Factores que influenciam os 4 A´s <strong>da</strong> Matriz<br />
ACESSIBILIDADE<br />
ATRACÇÃO<br />
ANIMAÇÃO<br />
ACÇÃO<br />
� Uso por parte de Peões e Ciclistas;<br />
� Utilizadores com necessi<strong>da</strong>des “especiais”;<br />
� Circulação Automóvel e Estacionamento;<br />
� Transportes Públicos;<br />
� Cargas / Descargas.<br />
� Comércio a Retalho;<br />
� Espaços de Negócios;<br />
� Serviços;<br />
� Arte, Cultura e Lazer;<br />
� Habitação.<br />
� Ambiente Urbano;<br />
� Espaço Público;<br />
� Espaço Privado;<br />
� Imagem <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de.<br />
� Capaci<strong>da</strong>de Organizativa;<br />
� Gestão;<br />
� Recursos;<br />
� Promoção.<br />
Fonte: Elaboração própria (“Comércio, Ci<strong>da</strong>de e Projectos de Urbanismo Comercial”,<br />
Barreta, 2007), baseado em DoE (1994).<br />
Por se tratar de uma metodologia susceptível de mais fácil aplicação ao caso dos<br />
processos levados a cabo no nosso país (ao abrigo do PROCOM e do URBCOM), e de<br />
acordo com Balsas (1999:63), “(…) os padrões e o estado actual do desenvolvimento<br />
urbano português são mais comparáveis a um modelo europeu do que a um modelo<br />
americano”, a figura anterior visa sintetizar alguns dos factores considerados<br />
importantes e que mais influenciam ca<strong>da</strong> um dos A´s <strong>da</strong> Matriz referi<strong>da</strong>.<br />
Apesar <strong>da</strong>s muitas e varia<strong>da</strong>s experiências em curso, um pouco por todo o Mundo, com<br />
nuances próprias de acordo com a reali<strong>da</strong>de político-legal, económica e até cultural, dos<br />
diferentes países, importa sistematizar as principais vantagens e desvantagens de ca<strong>da</strong><br />
um dos modelos.<br />
131<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
132<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
O modelo BID caracteriza-se por um planeamento, ao nível <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des e do<br />
respectivo financiamento, bem mais facilitado, em virtude <strong>da</strong> garantia (e <strong>da</strong> consequente<br />
solidez) em termos de fluxos de entra<strong>da</strong> de capital, vantagem esta que de certa forma se<br />
dissipa pela forte necessi<strong>da</strong>de de um elevado investimento inicial que se torna<br />
necessário, bem como pela obrigatorie<strong>da</strong>de do pagamento de taxas / impostos por parte<br />
dos empresários / comerciantes instalados na zona de intervenção.<br />
Por sua vez, no que se refere ao modelo TCM, a estreita ligação e “controlo” <strong>da</strong> vertente<br />
de planeamento urbanístico, depara-se, muitas vezes, com a carência de fluxos de<br />
financiamento sustentáveis e com a impossibili<strong>da</strong>de de solicitar contributos financeiros,<br />
com algum carácter de obrigatorie<strong>da</strong>de, aos empresários / comerciantes locais.<br />
A experiência evidencia<strong>da</strong> por outros países Europeus, caracteriza-se por<br />
particulari<strong>da</strong>des resultantes <strong>da</strong>s suas reali<strong>da</strong>des, seja em termos do respectivo<br />
enquadramento legal do problema, seja também ao nível <strong>da</strong>s políticas adopta<strong>da</strong>s em<br />
termos de planeamento e ordenamento urbano e <strong>da</strong> importância atribuí<strong>da</strong> à vertente <strong>da</strong><br />
activi<strong>da</strong>de económica num contexto de revitalização dos respectivos centros urbanos.<br />
Figura XV. Town Centre Management – A Visão Geral do Problema na Europa<br />
The UK government takes TCM very seriously and it is guided by two key words: vitality (life in the<br />
street) and viability (longtime growth and investments).<br />
Spain talks a lot about retail management and the retail perspective. For the Portuguese people, the<br />
liveability in a town is of great importance, and they view the use of retailing as an instrument of urban<br />
planning. The Italians often speak about “feeling”, and for them TCM is a way of improving the<br />
economic, social and cultural aspects of the city. Belgium emphasises that a balanced strategy in the<br />
present and the future needs a business plan. The Belgians underline dialogue and co-operation, and<br />
point out that the economic and social factors are important (is much more than shopping centres). In<br />
Germany, city marketing and tourism are important, whereas the Norwegians emphasize<br />
competitiveness and a mixture of public and private initiatives. France focuses on dialogues between<br />
actors, and the role of the Town Centre Manager is to act. It is a wider holistic approach, delivering<br />
TCM on the ground with a more informal and private approach.<br />
(…)<br />
Italy, France and Spain have rather young TCM schemes compared o the UK, which is more of founder<br />
of TCM. There also differences in the approaches. Italy and France have more private and informal<br />
approaches, whereas the UK approach is more public and formal.<br />
Fonte: “Town Center Management – A European Overview”. Workshop Tocema (7-8<br />
June/2005), by Quin, S. and Stefaniak, A.
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A apresentação do estado <strong>da</strong> arte de um tema cuja actuali<strong>da</strong>de não será decerto posta<br />
em causa, e que vem justificando um amplo debate entre as partes, provenientes de<br />
vários quadrantes (universi<strong>da</strong>des, administração central, administração local, estruturas<br />
associativas do comércio, empresários, etc.) não ficaria completa sem uma breve<br />
referência aos principais eixos estratégicos a privilegiar.<br />
Face à evidência que o comércio de proximi<strong>da</strong>de integrado no centro urbano representa<br />
um subsector económico de importância relevante para a economia local, as profun<strong>da</strong>s<br />
mu<strong>da</strong>nças verifica<strong>da</strong>s no sector afectam sobremaneira, não só a oferta comercial, como<br />
também a sua distribuição territorial. Por conseguinte, a <strong>gestão</strong> integra<strong>da</strong> do centro<br />
urbano, assente, entre outros pilares, no comércio nele instalado, constitui-se, para além<br />
de um desafio, como uma necessi<strong>da</strong>de crucial para o futuro sustentável <strong>da</strong> própria<br />
ci<strong>da</strong>de, pelo que se trata de uma matéria que impõe a adopção de parcerias públicopriva<strong>da</strong>s,<br />
como peça-chave para o processo de revitalização urbana e comercial no seu<br />
todo.<br />
Ou seja, estando identificados – e existindo alguma unanimi<strong>da</strong>de ao seu redor – os<br />
pontos que devem garantir a sustentabili<strong>da</strong>de do centro de ci<strong>da</strong>de (atracção de<br />
investimentos, modernização comercial e dinamização do espaço urbano), bem como os<br />
princípios aos quais deverão estar subordinados, importa <strong>da</strong>r o “passo seguinte”.<br />
Conscientes de que o problema é complexo, há que ponderar e garantir um<br />
envolvimento activo <strong>da</strong>s várias partes, em questões tão decisivas como:<br />
◆ Conjugar urbanismo e planeamento urbano com uma política de urbanismo<br />
comercial;<br />
◆ Adoptar para os centros de ci<strong>da</strong>de a filosofia de ”centro comercial a <strong>céu</strong> <strong>aberto”</strong>;<br />
◆ Afirmar o centro de ci<strong>da</strong>de a partir de factores específicos e de diferenciação<br />
competitiva;<br />
◆ Apostar na polivalência e na satisfação de procuras diversifica<strong>da</strong>s;<br />
◆ Assegurar uma mobilização acresci<strong>da</strong> dos diversos agentes e protagonistas<br />
envolvidos;<br />
◆ Desenvolver acções concerta<strong>da</strong>s direcciona<strong>da</strong>s à promoção do centro de ci<strong>da</strong>de<br />
que possam gerar uma maior atractivi<strong>da</strong>de do mesmo.<br />
133<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
134<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Considerando que existe um vazio ao nível <strong>da</strong> política pública em termos de urbanismo<br />
comercial, seja ao nível <strong>da</strong> dinamização do trabalho realizado, ou até de uma possível<br />
redefinição e reorientação <strong>da</strong> mesma, ao abrigo do actual Quadro de Referência<br />
Estratégico Nacional (QREN), é essencial criar estruturas que promovam e coordenem<br />
essas acções, exercendo um papel supletivo, por um lado, e integrador, por outro, face à<br />
actuação <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des com competência legal nestes domínios.<br />
Tendo presente a diversi<strong>da</strong>de de modelos possíveis e as experiências concretas<br />
existentes, há, então, que convergir para a necessi<strong>da</strong>de de criar a “<strong>gestão</strong> de centro de<br />
ci<strong>da</strong>de” (uni<strong>da</strong>des de <strong>gestão</strong>, por hipótese) que actue num território delimitado e seja<br />
dota<strong>da</strong> de identi<strong>da</strong>de própria, devendo ter como missão impulsionar políticas, pondo em<br />
prática acções de urbanismo comercial, podendo (e devendo) o seu âmbito ser alargado<br />
a outros domínios, face às diversas componentes e stakeholders envolvidos em tudo<br />
aquilo que diz respeito à vi<strong>da</strong> do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
Figura XVI. As várias Valências / Componentes e os diversos Stakeholders<br />
do Centro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de<br />
“… onde todos os aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana<br />
se fundem e, potencialmente, colidem …”<br />
Centro de Emprego<br />
Centro de<br />
Transportes<br />
Centro de<br />
Serviços<br />
Públicos<br />
Centro Outros<br />
Serviços (Saúde,<br />
Lazer e Recreio)<br />
Centro de Negócios<br />
(Comércio/Serviços)<br />
Centro<br />
Residencial<br />
Centro Cultural<br />
e <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />
Comunitária<br />
"...os vários stakeholders e seus distintos<br />
objectivos, tantas vezes, conflituantes ..."<br />
Departamentos<br />
(Administração<br />
Local)<br />
Comuni<strong>da</strong>de<br />
Residencial<br />
Operadores de<br />
Infra-estruturas<br />
Grupos<br />
Comunitários<br />
e outros<br />
Actores<br />
Locais<br />
Departamentos<br />
(Administração<br />
Central)<br />
Comuni<strong>da</strong>de<br />
de Negócios<br />
Operadores de<br />
Transportes<br />
Comuni<strong>da</strong>de<br />
Financeira,<br />
Investimento e<br />
Desenvolvimento<br />
Fonte: Tradução livre a partir de “Town Centre Management: Opportunities and Challenges”<br />
(Final Report, June 2006).
”Centros Comerciais a Céu Aberto”. Potenciali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> de Centros Urbanos<br />
Afigura-se pertinente uma consideração adicional, que poderá servir de alerta e reflexão<br />
prévia, para o caso de Portugal, e que tem vindo a ser suscita<strong>da</strong>, não só por parte<br />
significativa <strong>da</strong>s práticas em curso (aponta<strong>da</strong>s no ponto anterior), mas também pela<br />
ampla discussão que tem gerado nos meios e fóruns de discussão desta temática. Poderá<br />
estar em causa, de forma consciente e assumi<strong>da</strong>, a adopção de uma <strong>gestão</strong> priva<strong>da</strong> para<br />
espaços públicos, sendo mais do que expectáveis possíveis controvérsias gera<strong>da</strong>s em<br />
torno de questões como a criação de formas híbri<strong>da</strong>s de governo local (encarado quase<br />
sempre como potencial de conflito com a administração local) e riscos de segregação<br />
sócio-espacial e ameaças para a coesão social, na medi<strong>da</strong> em que os interesses<br />
<strong>comerciais</strong> se poderão sobrepor aos interesses públicos (no que se refere, por exemplo,<br />
ao usufruto do espaço público)?<br />
Interessa, pois, aferir até que ponto é que a via correcta aponta para uma colagem e<br />
adopção <strong>da</strong>s práticas de <strong>gestão</strong> dos centros <strong>comerciais</strong>, não se pretendendo que o centro<br />
comercial a <strong>céu</strong> aberto / centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se transforme, em caso algum, em algo<br />
“privado”.<br />
Importa deixar a interrogação – será que o caminho traçado nos conduz a ter espaços<br />
públicos ca<strong>da</strong> vez mais privados, como forma de se conseguir fazer face às dificul<strong>da</strong>des,<br />
<strong>da</strong> administração central / local, não só ao nível do financiamento, como do próprio<br />
funcionamento / <strong>gestão</strong> de espaços públicos delimitados pelas suas especifici<strong>da</strong>des e<br />
valências?<br />
Face aos desafios actuais que se vêm colocando, também, às administrações locais, no<br />
que à questão <strong>da</strong> <strong>gestão</strong> do seu território diz respeito, e às tendências de resposta já<br />
evidencia<strong>da</strong>s, de forma mais ou menos assumi<strong>da</strong>s, no sentido <strong>da</strong> descentralização e <strong>da</strong><br />
privatização de alguns serviços públicos até agora <strong>da</strong> sua competência quase exclusiva,<br />
por exemplo, convém não deixar equívocos que possam levar a conclusões precipita<strong>da</strong>s<br />
de que a adopção de possíveis modelos de <strong>gestão</strong> se constituirá como a solução<br />
espera<strong>da</strong> de um problema (declínio dos centros urbanos e <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de económica<br />
instala<strong>da</strong>).<br />
Como se poderá inferir de todo o exposto, o problema é bem mais vasto do que uma<br />
mera questão de competitivi<strong>da</strong>de territorial, esgrimindo-se vantagens distintivas e/ou<br />
um confronto entre formatos <strong>comerciais</strong> e a forma como as mesmas são (ou deverão)<br />
ser geri<strong>da</strong>s.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
Balsas, C. (1999), Urbanismo comercial em Portugal e a revitalização do centro <strong>da</strong>s<br />
ci<strong>da</strong>des. Lisboa, GEPE (Gabinete de Estudos e Prospectiva Económica do Ministério <strong>da</strong><br />
Economia).<br />
135<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais
136<br />
Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />
João Manuel Cebolas Batista Barreta<br />
Barreta, J. (2002), “Dos projectos especiais de urbanismo comercial aos centros<br />
<strong>comerciais</strong> a <strong>céu</strong> <strong>aberto”</strong>, Comunicação apresenta<strong>da</strong> no I Seminário <strong>da</strong> Redunicre para<br />
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www.tocema-europe.com<br />
www.ukbids.org<br />
www.i<strong>da</strong>-downtown.org<br />
www.mainstreet.org<br />
www.agecu.es<br />
www.amcv.be