Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
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e aquelas de múltiplos parceiros sabem dos riscos, mas não os introjetam como tal.<br />
Além disso, E17, por exemplo, afirmou que o “único risco que tem para pegar as doenças<br />
é an<strong>da</strong>r com os pés descalços”.<br />
A fun<strong>da</strong>mentação está mais em outras representações e a objetivação não serve<br />
para definir limites para essas pessoas. Para essas mulheres, por não se sentirem normais,<br />
existe o fato de que o desejo do homem representa um favor e, por isso, não devem<br />
pedir ou exigir <strong>na</strong><strong>da</strong>. Também não conseguem, muitas vezes, manter uma postura crítica<br />
que lhes proteja, e se submetem a qualquer situação, inclusive as de violência pelo<br />
parceiro, como descrito anteriormente. O fato de serem pobres, de não verem saí<strong>da</strong> (o<br />
que representa, <strong>na</strong> prática, uma capaci<strong>da</strong>de crítica) para o contexto socioeconômico<br />
de suas vi<strong>da</strong>s não seria um agravante? Em risco to<strong>da</strong>s estão, mas reconhecerem-se em<br />
risco é outra questão.<br />
Pode-se afirmar que, quando há dificul<strong>da</strong>des cognitivas severas, tudo fica mais<br />
difícil para se abor<strong>da</strong>r, pensar e fazer prevenção, porém, nem to<strong>da</strong>s têm esses problemas<br />
– a falta maior parece vir <strong>da</strong> não-interlocução, <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de dos parceiros ou do<br />
abandono em que vivem. De fato, as representações múltiplas e confusas sobre as<br />
doenças, sobretudo, aquelas sobre si mesmas, sobre os agravos mentais, sobre ser<br />
mulher, parecem ser determi<strong>na</strong>ntes <strong>na</strong> maneira de se cui<strong>da</strong>rem ou se descui<strong>da</strong>rem,<br />
paralelamente ao contexto objetivo de suas vi<strong>da</strong>s.<br />
A análise <strong>da</strong>s entrevistas dos homens, por outro lado, aponta que há também<br />
fragili<strong>da</strong>des vivencia<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s interações com outros, e sofrimento <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s<br />
violências (nove sofreram violência física e cinco violência sexual). A maioria dos homens<br />
<strong>na</strong>rra violências cometi<strong>da</strong>s a pessoas <strong>da</strong> família ou a conheci<strong>da</strong>s, com tentativas de<br />
assassi<strong>na</strong>to e, até mesmo, assassi<strong>na</strong>tos, o que não é o caso para a maioria <strong>da</strong>s mulheres.<br />
Dos homens que já tiveram relações sexuais (20), somente quatro tinham relações mais<br />
ou menos constantes com parceiras à época <strong>da</strong>s entrevistas, três afirmaram ter relações<br />
com outros homens por dinheiro e dois outros afirmaram só ter relações homossexuais,<br />
sendo que a maioria dos homens que tem/teve vi<strong>da</strong> sexual ativa frequenta/ou<br />
profissio<strong>na</strong>is do sexo. Além disso, três homens afirmaram trocar sexo por drogas ou<br />
dinheiro, e um dos que disseram nunca ter tido relações sexuais porque “é pecado antes<br />
do casamento” tem relatos de assédio e de ter sido obrigado, dentro do hospital, a ter sexo<br />
oral com outro homem hospitalizado. Os homens que se drogam afirmaram que as “drogas<br />
tiram o desejo” (E2, E12, E29) ou que “não gostam de misturar sexo com droga” (E5), ou<br />
que fazem “coisas que não deveriam e nem ficam sabendo direito o que aconteceu<br />
depois” (E12, E29).<br />
Para a maioria dos homens entrevistados, as únicas relações sexuais possíveis para<br />
eles “que têm problemas” são com “prostitutas, “mulheres <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, “mulheres de vi<strong>da</strong> fácil”,<br />
porque eles pagam e “depois não tem mais <strong>na</strong><strong>da</strong>”. E2 lembra que “isto não é amor. Essas<br />
mulheres só ficam com a gente por dinheiro, não têm amizade, não têm amor, não têm<br />
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