Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
96<br />
em cima de mim... Eu sinto assim... abusa<strong>da</strong>. Eu sinto abusa<strong>da</strong>. Tô com a calça suja, a cama<br />
suja... É muito ridículo, muita rebaixeza.”(E17). Em contraposição, E6 relata sua experiência<br />
e reflete, como se fosse para justificar a falta de auto-estima <strong>da</strong>s demais: “ter prazer <strong>na</strong>s<br />
relações sexuais é um aprendizado a dois, o parceiro tem de ser cui<strong>da</strong>doso e ensi<strong>na</strong>r a<br />
gostar de sexo”, reafirmado por E31, que se diz feliz com o atual companheiro, por ele ser<br />
“muito ajuizado”.<br />
Nesse sentido, E9 diz que gostaria de ter um parceiro por quem se apaixo<strong>na</strong>sse,<br />
mas conta que nunca conseguiu atingir um orgasmo, “apesar de quase ter chegado lá”,<br />
porque “quando faço sexo é por dinheiro, porque de graça não; gosto de fazer, procuro,<br />
mas só por dinheiro. Quero ter prazer, com alguns eu quero, mas só que ninguém gosta<br />
<strong>da</strong> gente.” (S18). E14 conta também que os parceiros existem porque ela troca relação<br />
sexual por drogas e dinheiro, sendo que ela gostava e tinha prazer sexual com o primeiro<br />
companheiro que ficou com ela por mais tempo, “porque ele era bom, não me deixava<br />
sair de casa para comprar drogas”.<br />
Para a maioria <strong>da</strong>s mulheres há a representação de uma boa sexuali<strong>da</strong>de (paralela a<br />
relações amorososas) com uma vi<strong>da</strong> de casal - “uma vi<strong>da</strong> normal”, num imaginário social<br />
<strong>da</strong>s novelas televisas: “Eu sempre quis que fosse sério, que o homem gostasse de mim,<br />
para <strong>na</strong>morar, para casar...” (E6, E8, E11, E31), que “pedisse para casar de véu e gri<strong>na</strong>l<strong>da</strong>”<br />
(E17), que “ficasse perto e fosse companheiro” (E21, E28, E32, E14) e outra entrevista<strong>da</strong><br />
relata que já teve “até um rapaz no hospital querendo <strong>na</strong>morá-la”, mas ela pensou que<br />
não podia porque não é ‘normal’: “como que <strong>na</strong>mora louco com louco? Não dá certo<br />
não... porque se esses dois doidos começar a quebrar tudo dentro de casa? Ou se os dois<br />
ficar doido e trazer tudo pro Pinel os dois de uma vez? Fica difícil. Os doidos têm que<br />
<strong>na</strong>morar com normal. Porque tem o normal pra segurar, tem o normal pra proteger.” (E4).<br />
As representações entre transtorno mental e relações amorosas estão interrelacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s<br />
aqui: há a fragili<strong>da</strong>de uma pessoa que precisa ser protegi<strong>da</strong> por alguém “normal”.<br />
Tais representações não diferem do que é encontrado <strong>na</strong> população geral,<br />
havendo obviamente variantes e mulheres que não seguem e não querem esse padrão.<br />
Mulheres que desejam uma vi<strong>da</strong> a dois, com relações monogâmicas, querem também<br />
acreditar que não têm riscos, porém nenhuma <strong>da</strong>s entrevista<strong>da</strong>s viveu relacio<strong>na</strong>mentos<br />
desse tipo. Acreditam que não tiveram riscos de se infectar porque não existia a aids<br />
e as outras doenças não eram importantes (eram curáveis) ou porque não já não<br />
objetivam mais o risco que imagi<strong>na</strong>m ser uma história do passado. Hoje, a maioria<br />
diz que não corre mais riscos porque não tem mais relacio<strong>na</strong>mento sexual. To<strong>da</strong>s têm<br />
a informação <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se usar preservativo, mas nunca o fizeram e não se<br />
sentem constrangi<strong>da</strong>s por isso.<br />
As que têm parceiro fixo e relações sexuais atuais (quatro somente <strong>da</strong>s entrevista<strong>da</strong>s)<br />
também não se sentem em risco e não fazem uso de camisinha, mesmo sabendo <strong>da</strong> sua<br />
existência e importância. Nenhuma <strong>da</strong>s entrevista<strong>da</strong>s conhece o preservativo feminino,