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Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...

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houve nenhuma que citasse ou explicitasse a representação de um vírus ou falasse do<br />

HIV, nem de uma generalização do tipo “micróbio”, como alguns homens o fizeram.<br />

Além <strong>da</strong> aids, a maioria ouviu falar <strong>da</strong>s <strong>IST</strong>, e algumas contam que já se infectaram<br />

e fizeram tratamento. Citam “gonorréia” (ou “guinorréia”), “gonorréia vermelha”, “sífilis”,<br />

“caroço de sífilis”, “cancro”, “candidíase”, “doenças venéreas”, “doença que fere a pessoa<br />

tudo por baixo assim, fere, fere, fica aqueles pe<strong>da</strong>ços assim, parecendo que tá<br />

apodrecendo a pele”, “condiloma”, mas uma delas (E16) disse que tem “lupus” (e no seu<br />

prontuário consta esse diagnóstico), que foi transmitido “pelo marido”, e outra citou<br />

“câncer” e “gripe”, mas depois disse que a gripe “pegava pelo vento”. Várias afirmaram<br />

que as <strong>IST</strong> podem vir <strong>na</strong> água, ou que “pegam sentando no vaso, sentando em cadeira<br />

ou banco que a pessoa doente tenha se assentado”, porque tem “umas [doenças] que<br />

a pessoa nem sabe que tem, [sendo] a feri<strong>da</strong> invisível”, e “pega pelas roupas”, além de<br />

outras que se lembram <strong>da</strong> transmissão pelo “sexo sem cui<strong>da</strong>do”, com “homem semvergonha”<br />

e “marido que an<strong>da</strong> por aí sem a gente saber, trazendo para casa o que<br />

não devia”. As representações <strong>da</strong>s <strong>IST</strong> como algo sobre o qual não têm controle, que é<br />

secreto e perigoso, é, portanto, central para as mulheres, mantendo-as submeti<strong>da</strong>s a<br />

uma situação ou ao homem que tem poder sobre elas.<br />

Ressalta-se, então, que os homens e mulheres têm representações muito próximas<br />

sobre a aids, sobretudo sobre morte e sexo. Os homens consideram a aids e as <strong>IST</strong> em<br />

geral coisa de “prostituta” com quem têm mais relações sexuais e, para as mulheres,<br />

é coisa mais difusa, podendo ser pelo sexo, que elas representam como penetrativo,<br />

mas também por outros meios reconhecidos de outras representações <strong>da</strong>s doenças<br />

parasitárias e infecciosas de modo geral, achados já discutidos também por Pinto et al.<br />

(2007). Os autores afirmaram que as representações que encontraram de pessoas com<br />

transtornos mentais não diferem <strong>da</strong>quelas encontra<strong>da</strong>s <strong>na</strong> população geral.<br />

O contágio por material contami<strong>na</strong>do é lembrado, mas todos afirmam que não<br />

têm riscos porque não se drogam ou porque não fazem uso de droga injetável. Muitas<br />

<strong>da</strong>s representações não seguem necessariamente uma informação científica, mas, ao<br />

contrário, ligam-se ao senso comum <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s fontes.<br />

Os homens referem-se ao fato de terem de fazer tratamentos de suas infecções<br />

sexuais em segredo, enquanto que as mulheres não tocam nesse assunto. A vergonha,<br />

a culpa mile<strong>na</strong>r de uns e a vitimização de outros podem explicar a estruturação <strong>da</strong>s<br />

<strong>na</strong>rrativas. Os entrevistados contam, também, histórias de pessoas conheci<strong>da</strong>s sobre<br />

as quais ficaram sabendo que ‘estavam com aids’, afirmando a necessi<strong>da</strong>de de manter<br />

segredo <strong>da</strong> situação, pois os outros pensam mal e têm medo. Essa representação sobre<br />

o silenciamento em torno <strong>da</strong> aids, que é sustenta<strong>da</strong> em outra mais forte e inflexível<br />

relativa ao preconceito <strong>da</strong> pessoa infecta<strong>da</strong> ou doente, é, portanto, estendi<strong>da</strong> a todos,<br />

como se viu em outros estudos, tais como Brasileiro & Freitas (2006), Freitas & Moreira<br />

(2007), Giami & Veil (1994), Grmek (1989), Herzlich (2002), Herzlich & Pierret (1991),<br />

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