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Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...

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1989). A doença seria uma punição (JODELET, 1989), achado que se confirmou em<br />

inúmeros estudos posteriores (BRASILEIRO; FREITAS, 2006; FREITAS; MOREIRA, 2007;<br />

SOUZA; FREITAS, 2002; HERZLICH, 2002; OLIVEIRA et al., 2006; VIANNA; FREITAS, 2007), em<br />

diferentes grupos sociais.<br />

As representações sobre a infecção pelo HIV, diferentemente <strong>da</strong> aids como doença,<br />

não são introjeta<strong>da</strong>s facilmente <strong>na</strong> população geral, nem em grupos específicos: são as<br />

informações sobre a síndrome veicula<strong>da</strong>s pela mídia e pelas relações pessoais, falando de<br />

si<strong>na</strong>is e sintomas, dos ‘estragos’ fisícos, <strong>da</strong> morte rápi<strong>da</strong> após o diagnóstico e <strong>da</strong>s formas<br />

de contami<strong>na</strong>ção que justificam os denomi<strong>na</strong>dos ‘grupos de risco’ (nos quais os simples<br />

mortais não se sentiam inseridos) que se estabelecem como mitos fun<strong>da</strong>dores. Algum<br />

tempo depois, começa a se desvelar, com os <strong>da</strong>dos epidemiológicos e as descobertas<br />

clínicas, que pode haver um tempo longo entre a infecção e o surgimento <strong>da</strong> síndrome<br />

e que os infectados também transmitem o vírus. Só assim as representações sobre a<br />

infecção comecem a se objetivar, tomar corpo <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de, mas sem se ancorarem<br />

fortemente <strong>na</strong> idéia de que qualquer um poder ter risco de se infectar. A idéia de que<br />

a aids é doença do outro persiste e desresponsabiliza o sujeito <strong>da</strong> prevenção. Tais<br />

representações estão presentes também entre as pessoas com transtornos mentais<br />

graves entrevista<strong>da</strong>s <strong>na</strong> pesquisa.<br />

Os homens falam <strong>na</strong> aids, considerando primeiramente que é uma doença<br />

transmissível. Para todos é uma doença incurável, exceção a um só entrevistado que<br />

insistiu sobre o fato de saber que é curável (E26). A expressão estutural do conjunto é:<br />

Aids é uma “doença que não tem cura” (explicitamente em E12, E15, E20, E27), que<br />

“só Deus pode <strong>da</strong>r um jeito” (E19), que “é perigosa porque não acharam a cura e não vão<br />

achar” (E35), que “deixa a pessoa magra e feia” (E14) que “é o fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (E36) porque<br />

“quem pega aids acabou” (E22): “O que você pensa <strong>da</strong> aids? Morte” (E15) e “Você pensa o<br />

quê disso? Ih! Todo mundo sofrendo, todo mundo sofrendo...” (E15). Porém, para alguns<br />

“tem tratamento” (E20), mesmo sendo “um sacrifícío para quem tem” (E29).<br />

A grande maioria dos homens não tem representações sobre o HIV ou sequer uma<br />

idéia de um vírus como causador <strong>da</strong> infecção. Somente E5 descreveu formas de contágio<br />

e o vírus de forma clara e um dos entrevistados se referiu à aids como proveniente de<br />

“um micróbio que come a pessoa”, relatando que já ouviu falar que “vem pelo sexo e<br />

sangue” (E19), sendo esta a representação de todos sobre a transmissibli<strong>da</strong>de. Além<br />

disso, alguns lembram que é doença que “pega só de se sentar” (E37), que “pega no<br />

beijo” (E25) e “no abraço” (E38), é “doença que veio do macaco” (E16) ou é que “veio,<br />

apareceu, foram mexer aonde não deviam lá <strong>na</strong> África... [além de] ter também aquela<br />

matéria que abafaram logo de que a aids era produto de laboratório porque o homem<br />

é capaz de fazer isso para ganhar dinheiro” (E29), “meu pai falou que pega, mas não sei<br />

como é, sei que tenho de ter cui<strong>da</strong>do” (E2).<br />

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