Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
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Assim, as representações estão presentes <strong>na</strong>s falas e <strong>na</strong>s práticas <strong>da</strong>s pessoas,<br />
servem de guia ou de defesa para suas condutas, têm um conteúdo de justificação ou<br />
de interpretação dos fatos, acontecimentos e sentimentos que as envolvem, além de se<br />
configurarem como um sistema do “pronto para pensar”, “pronto para sentir”, como o<br />
prêt-à-porter <strong>na</strong> mo<strong>da</strong> (GIAMI; VEIL, 1994). Para pessoas com transtornos mentais graves,<br />
os estereótipos, imagens e métaforas que explicitam as representações do mundo<br />
parecem ser mais rígidos, segundo Gilman (1985, 1988). O autor, ao estu<strong>da</strong>r doença<br />
mental e sexuali<strong>da</strong>de, diz que o estereótipo preexiste à experiência efetiva do mundo e<br />
do ambiente, sendo seu funcio<strong>na</strong>mento mais rígido para as perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des patológicas<br />
e mais leves para perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des não-patológicas:<br />
Os estereótipos podem coexistir – e o fazem sempre – em paralelo com a aptidão em criar<br />
categorias racio<strong>na</strong>is que transcendem à diferenciação radical presente no estereótipo. Nós temos<br />
a capaci<strong>da</strong>de de distinguir o “indivíduo” <strong>da</strong> categoria estereotipa<strong>da</strong> <strong>na</strong> qual o objeto pode ser<br />
assimilado automaticamente. A perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de patológica não desenvolve essa capaci<strong>da</strong>de e<br />
percebe o mundo inteiro numa linha que estabelece uma separação rígi<strong>da</strong> com a diferença. A<br />
representação do mundo construí<strong>da</strong> pela perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de patológica responde à necessi<strong>da</strong>de de<br />
traçar uma diferenciação estrita, enquanto que, para o sujeito não patológico, o uso do estereótipo<br />
aparece como um mecanismo de defesa que pode ser momentaneante utilizado e abando<strong>na</strong>do<br />
ao se ultrapassar a ansie<strong>da</strong>de. O primeiro desenvolve uma agressivi<strong>da</strong>de constante por pessoas<br />
reais e objetos que correspondem <strong>às</strong> suas representações estereotipa<strong>da</strong>s e o segundo é capaz de<br />
reprimir sua agressivi<strong>da</strong>de e entrar em relação com esses sujeitos que serão considerados pessoas<br />
(GILMAN, 1985, p. 18).<br />
Se se considerar, pois, que pessoas com agravos mentais estabelecem idéias mais<br />
rígi<strong>da</strong>s, falsas ou ver<strong>da</strong>deiras, sobre os outros, sobre os acontecimentos, eventos e<br />
informações, sobre os objetos enfim, pode-se pressupor que as representações acerca<br />
<strong>da</strong> aids e <strong>da</strong>s <strong>IST</strong> trazem estereótipos e representações correntes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de, embora<br />
tal não ocorra necessariamente. Pode-se pressupor, ain<strong>da</strong>, que as representações<br />
presentes fazem parte de um conjunto “sólido” de crenças e valores não somente sobre<br />
os referidos agravos, mas também sobre os transtornos mentais, sobre si mesmos e suas<br />
identi<strong>da</strong>des, ancora<strong>da</strong>s em seus próprios contextos sociais e psíquicos (PATIN, 2000).<br />
SUJEITOS E CENÁRIO<br />
Foram entrevista<strong>da</strong>s pessoas que estavam sendo acompanha<strong>da</strong>s em serviços<br />
públicos de <strong>saúde</strong> mental, hospitaliza<strong>da</strong>s ou em acompanhamento ambulatorial<br />
(CAPS), contacta<strong>da</strong>s pelo profissio<strong>na</strong>l responsável pelo projeto PESSOAS no serviço,<br />
defini<strong>da</strong>s como fora de crise e em condições de manter diálogo com o pesquisador,<br />
e que aceitaram participar, também, <strong>da</strong> parte qualitativa do estudo. Os sujeitos<br />
foram, então, informados pelos profissio<strong>na</strong>is de <strong>saúde</strong> que os acompanhavam nos<br />
tratamentos, avaliados por esses em relação à condição clínica para a possibili<strong>da</strong>de<br />
de realização de entrevistas, e, em segui<strong>da</strong>, agen<strong>da</strong>dos. As entrevistas foram realiza<strong>da</strong>s<br />
posteriormente em sala reserva<strong>da</strong>, para preservar a intimi<strong>da</strong>de dos sujeitos. Antes de<br />
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