Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
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Ao se discutir risco de contrair o HIV e as demais infecções sexualmente transmissíveis,<br />
está-se falando de como o sujeito pensa e expressa a sua sexuali<strong>da</strong>de e sua inclusão<br />
como consumidor de álcool e drogas, como mostra a epidemiologia: esse consumo<br />
fragiliza os indivíduos no cotidiano, que acabam realizando práticas não seguras <strong>na</strong>s<br />
relações sexuais e também no momento do consumo de drogas injetáveis. O consumo<br />
de álcool e drogas, conjugado aos transtornos mentais, oferece a possibili<strong>da</strong>de de uma<br />
prática mais desinibi<strong>da</strong>, porque o sujeito pode se ver como mais forte do que tudo<br />
em torno dele. Há um egocentrismo construído <strong>na</strong> prática <strong>da</strong>s interações, que aparece<br />
também <strong>na</strong> diminuição <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong>de de avaliar corretamente as posturas e práticas<br />
do outro. Em primeira instância, para pessoas com agravos mentais e consumidores<br />
compulsivos de alcóol e drogas, o outro inexiste ou existe somente como um objeto de<br />
dor, de prazer, de julgamento ou cerceamento, entre outros.<br />
Vale ressaltar que as representações são aqui considera<strong>da</strong>s não somente, ou<br />
obrigatoriamente, como um processo de transformação do conhecimento científico para<br />
um grupo, coletivi<strong>da</strong>de ou sujeito, que dele se apropriam coerente ou incoerentemente,<br />
como propôs Moscovici (1961), mas um conjunto que inclui valores, cultura e práticas<br />
destes grupos, coletivi<strong>da</strong>des ou sujeitos (HERZLICH, 2005; JODELET, 1989, 1994, 1997),<br />
que não necessariamente passam primeiro por conhecimentos provenientes <strong>da</strong> ciência<br />
(GIAMI, 2004, 2007; GIAMI; VEIL, 1994).<br />
Em estudos anteriores, Giami & Veil (1994), Giami (2007) afirmam a existência<br />
de circulari<strong>da</strong>de e reciproci<strong>da</strong>de entre conhecimento científico e representações,<br />
exemplicando com o fato de que as primeiras teorias sobre a aids (que surgiram antes que<br />
se descobrisse o vírus e a síndrome) estavam carrega<strong>da</strong>s de pré-concepções/preconceitos<br />
sociais e psicológicos sobre a homossexuali<strong>da</strong>de e o uso de drogas, o que foi também<br />
a<strong>na</strong>lisado por Grmek (1989), Oppenheimer (1988) e Patton (1990). Fun<strong>da</strong>mentados em<br />
resultados de suas pesquisas, discutem o fato <strong>da</strong> quase simultanei<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s descobertas<br />
científicas e sua difusão <strong>na</strong> mídia, considerando-o como algo que afetou profun<strong>da</strong>mente<br />
o rumo de descobertas posteriores. Nesse sentido, Giami (2007) afirma que a ciência<br />
acaba sendo influencia<strong>da</strong> por estereótipos, citando o caso <strong>da</strong>s inovações científica e<br />
médica em sexologia comprometi<strong>da</strong>s pelos estereótipos de gênero, por exemplo. Podese,<br />
então, afirmar junto com o autor, a existência de “um processo de transformação de<br />
certas representações e concepções, científicas ou não, em teoria científica que poderá<br />
ser utiliza<strong>da</strong> posteriormente pelo senso comum” (GIAMI; VEIL, 1994).<br />
Além disso, faz-se necessário lembrar que a ocorrência de representações tem a<br />
função de fazer com que o sujeito se reconheça em um grupo ou de definir um grupo<br />
social em sua especifici<strong>da</strong>de, mas há também funções <strong>da</strong>s representações que são intra<br />
e interindividuais, além de intrapsíquicas, para ca<strong>da</strong> sujeito. De um lado, a apropriação<br />
de uma representação ‘social’ ocorre pelo filtro do sujeito e, de outro lado, este elabora<br />
representações que poderão ser mais ou menos compartilha<strong>da</strong>s socialmente.