Prevenção e atenção às IST/AIDS na saúde - BVS Ministério da ...
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pessoas e vai tendo as doenças to<strong>da</strong>s. Se uma pessoa está machuca<strong>da</strong> e passa, através de<br />
relação sexual, passa aids.” E1 não se vê em risco porque “não faz sexo assim”, só teve relação<br />
“umas cinco vezes” e diz que consegue “camisinha no centro de <strong>saúde</strong>” quando precisa.<br />
Quando perguntado se sabe usar o preservativo, diz que usa, mas não tem certeza se sabe<br />
e não foi sempre que o fez. E2 tem o mesmo argumento: foi bem informado pelo pai, mas,<br />
como não faz sexo sempre, não acha que tenha risco, além do que, algumas vezes, até<br />
lembrou-se do preservativo, mas não estava com ele no momento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de.<br />
Outros entrevistados acreditam que o melhor é ter uma parceira única para não<br />
ter risco e a maioria diz que, por causa do fato de não estarem tendo relações sexuais<br />
atualmente (ou há muito tempo), não corre nenhum risco. E o passado? Para eles, o que<br />
foi feito está feito e o fato de não terem se protegido não o fazem estar infectados, “senão<br />
já saberiam”.<br />
Somente um entrevistado tem clareza dos riscos incorridos (E5). Ele contou que já<br />
se infectou duas vezes por gonorréia e sifílis, e que, ao escolher um parceiro fixo, fez os<br />
testes anti-HIV e definiu com o parceiro ficarem livres “<strong>da</strong>quele artefato” (o preservativo),<br />
mas também com a decisão expressa de somente usá-lo caso tenham relações sexuais<br />
com outros parceiros.<br />
Também como as mulheres, com exceção desse entrevistado, os demais,<br />
geralmente, não fazem uma relação direta <strong>da</strong>s <strong>IST</strong> ou <strong>da</strong> aids com os agentes infecciosos,<br />
representando as doenças como algo um pouco misterioso, que é transmitido, mas que<br />
é invisível, o que parece ser um complicador para se adotar atitudes de prevenção. O<br />
preservativo é visto como uma forma de proteção, mas também como uma “barreira<br />
para o gozo”, uma “sensação de chupar bala com papel”, um “aperto” e uma “coisa que<br />
ninguém gosta”. Muitos dizem buscar o preservativo no serviço de <strong>saúde</strong> e trocar por<br />
cigarros, e também por leite, porque não “vou deixar para o Estado, vou?” (E22).<br />
Além disso, os homens <strong>na</strong>rram situações vivencia<strong>da</strong>s “quando eram caminhoneiros”,<br />
quando “acreditavam que a mulher <strong>da</strong> vez estava disponível só para ele”, quando<br />
“bebiam cachaça demais e nem sabiam o que estavam fazendo” (E29), quando “estavam<br />
casados e só tinham relações de vez em quando com outra” (E22), quando pensavam<br />
que “estavam amando e o parceiro só queria sexo” (E5) como situações que foram de<br />
risco, mas que já não são mais no momento atual. No entanto, nem isso define que se<br />
protegerão em novas relações.<br />
Andrade & Nóbrega-Therrien (2005), em pesquisa qualitativa sobre representações<br />
de homens heterossexuais acima de 18 anos que freqüentam o ambulatório de <strong>IST</strong> de<br />
um hospital público de Fortaleza-CE, a<strong>na</strong>lisaram a vulnerabili<strong>da</strong>de desses em relação<br />
à aids, apontando a existência de representações que são as mesmas encontra<strong>da</strong>s no<br />
presente estudo para os homens.<br />
Esses, bem como as mulheres, tiveram e têm práticas de risco, como <strong>na</strong>rraram em<br />
suas entrevistas, mas, ao se definirem como retraídos ou atirados, reconhecem-se com<br />
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