A Universidade no Século XXI - Boaventura de Sousa Santos
A Universidade no Século XXI - Boaventura de Sousa Santos
A Universidade no Século XXI - Boaventura de Sousa Santos
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A indução da crise institucional por via da crise financeira, acentuada <strong>no</strong>s<br />
últimos vinte a<strong>no</strong>s, é um fenóme<strong>no</strong> estrutural <strong>de</strong>corrente da perda <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong><br />
da universida<strong>de</strong> pública entre os bens públicos produzidos pelo Estado. 4 O facto<br />
<strong>de</strong> a crise institucional ter tido como motivo próximo a crise financeira não<br />
significa que as suas causas se reduzam a esta. Pelo contrário, há que<br />
perguntar pelas causas da própria crise financeira. A análise <strong>de</strong>stas revelará que<br />
a prevalência da crise institucional foi o resultado <strong>de</strong> nela se terem con<strong>de</strong>nsado<br />
o agravamento das duas outras crises, a <strong>de</strong> hegemonia e a <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong>. E<br />
neste domínio houve, <strong>no</strong>s últimos <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>no</strong>vos em relação<br />
ao quadro que <strong>de</strong>screvi <strong>no</strong> início da década <strong>de</strong> 1990. Passo a indicá-los.<br />
A perda <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> na universida<strong>de</strong> pública nas políticas públicas do<br />
Estado foi, antes <strong>de</strong> mais, o resultado da perda geral <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> das políticas<br />
sociais (educação, saú<strong>de</strong>, previdência) induzida pelo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento económico conhecido por neoliberalismo ou globalização<br />
neoliberal que, a partir da década <strong>de</strong> 1980, se impôs internacionalmente. Na<br />
universida<strong>de</strong> pública ele significou que as <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s institucionais i<strong>de</strong>ntificadas<br />
– e não eram poucas –, em vez <strong>de</strong> servirem <strong>de</strong> justificação a uma vasto<br />
programa político-pedagógico <strong>de</strong> reforma da universida<strong>de</strong> pública, foram<br />
<strong>de</strong>claradas insuperáveis e utilizadas para justificar a abertura generalizada do<br />
bem público universitário à exploração comercial. Apesar das <strong>de</strong>clarações<br />
4 Como voltarei a acentuar adiante, não quero com isto ser entendido como estando a<br />
subscrever uma teoria conspiratória do Estado contra a universida<strong>de</strong> pública. Verificada a perda<br />
<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> – o que basta para o argumento que estou a <strong>de</strong>senvolver – há que averiguar os<br />
factores que levaram a universida<strong>de</strong> a per<strong>de</strong>r a corrida na luta pelos fundos do Estado num<br />
contexto <strong>de</strong> maior competição, provocado pela redução global <strong>no</strong>s fundos e pelo aumento das<br />
<strong>de</strong>mandas sociais.<br />
18