Departamento de Ciências Prenda ou Arte? - Repositório Aberto da ...
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A partir <strong>de</strong> 1820 começaram a fazer-se sentir as primeiras ameaças à “ro<strong>da</strong><br />
elegante” <strong>da</strong>s antigas linhagens do Porto 98 : “Certos hábitos que no século XVIII, e<br />
mesmo até 1820, eram no Porto exclusivamente os <strong>de</strong> meia dúzia <strong>de</strong> casas nobres e <strong>de</strong><br />
um pequeno número <strong>de</strong> famílias não nobres mas abasta<strong>da</strong>s, passaram a ser imitados<br />
por to<strong>da</strong> a burguesia” 99 . A ruptura estrutural com essa or<strong>de</strong>m, ain<strong>da</strong> do antigo regime<br />
absolutista, viria a ocorrer pelos <strong>de</strong>cretos 100 <strong>de</strong> D. Pedro e do “ministério <strong>de</strong> velhos<br />
vintistas a quem a i<strong>da</strong><strong>de</strong> e a <strong>de</strong>rrota tinham trazido um saudável respeito” 101 .<br />
Mas, após a morte <strong>de</strong> D. Pedro (m. 1834), as acomo<strong>da</strong>ções políticas<br />
reconduziriam à matriz preexistente. “Conservar e solidificar o que restava <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m<br />
antiga e <strong>de</strong>volver-lhe o seu prestígio tradicional. Sem os pequenos fi<strong>da</strong>lgos, sem os<br />
padres, sem o grosso dos magistrados do absolutismo, o caos continuaria. Todos eles<br />
tinham se ser benvindos no novo regime, e caso quisessem, ocupar nele posições<br />
condignas” 102 .<br />
Nem o Setembrismo <strong>de</strong> 1836, e a Constituição <strong>de</strong> 1838, travaram a diluição <strong>da</strong><br />
facção mais i<strong>de</strong>ológica e radical do liberalismo, pelo que, e segundo Magalhães<br />
Godinho, “a vitória do liberalismo represent<strong>ou</strong> o advento <strong>de</strong> nova gente às posições<br />
dominantes, e um domínio social sob novas formas jurídicas mas mantendo muito <strong>da</strong><br />
estrutura subjacente” 103 .<br />
A miscigenação ocorreu pela classe nobilita<strong>da</strong> pelo mérito dos feitos militares,<br />
pela ascensão na carreira política 104 , pelo <strong>de</strong>vorismo 105 , pela acumulação <strong>de</strong> capital, e<br />
98<br />
“Os Portocarreiro, <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Ban<strong>de</strong>irinha <strong>ou</strong> <strong>da</strong>s Sereias; os Cirnes do Poço <strong>da</strong>s Patas, senhores <strong>de</strong><br />
Gominhães; os Brandões, Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Terena, senhores <strong>de</strong> Farelães, no palacete <strong>da</strong> Torre <strong>da</strong> Marca; os<br />
Girões, senhores <strong>de</strong> Ferreira, na Casa do Carregal; os Pamplona, na quinta do Campo <strong>de</strong> Santo Ovidio;<br />
os Leite Pereira, em São João Novo; os Wanzelleres, na Reboleira; os Correia <strong>de</strong> Melo e <strong>de</strong>pois Gue<strong>de</strong>s<br />
<strong>da</strong> Silva, no palacete <strong>da</strong> Praça <strong>da</strong> Batalha; os Vieira <strong>de</strong> Melo, em Santo António do Penedo; o ramo<br />
Pacheco Pereira, em Belmonte; os Pinto <strong>de</strong> S<strong>ou</strong>sa, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Balsemão, na Feira <strong>da</strong>s Caixas; os<br />
Morais e Castro, Barões <strong>de</strong> Nevogil<strong>de</strong>, Palácio <strong>da</strong>s Carrancas, com a indústria <strong>de</strong> galões ” . – cf. BASTO,<br />
Artur <strong>de</strong> Magalhães – O Porto do Romantismo. Coimbra: Imprensa <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, 1832, pp. 14-15.<br />
99<br />
BASTO, Artur <strong>de</strong> Magalhães – O Porto do Romantismo, ob. cit., p. 12.<br />
100<br />
Anos 30. Os bens <strong>da</strong> Coroa, <strong>da</strong> igreja Regular e <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Coimbra foram <strong>de</strong>clarados bens<br />
nacionais e postos à ven<strong>da</strong> [Carta <strong>de</strong> Lei <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1835], os forais públicos foram suprimidos<br />
[reforma administrativa do território], a dízima foi aboli<strong>da</strong>, a administração foi separa<strong>da</strong> <strong>da</strong> justiça, a sisa<br />
sobre bens móveis <strong>de</strong>sapareceu, a sisa sobre imóveis baix<strong>ou</strong>, acabaram as Or<strong>de</strong>nanças e as Milícias, foi<br />
reposta a Carta Constitucional, efectua<strong>da</strong>s algumas eleições municipais e a eleição <strong>da</strong> primeira Câmara <strong>de</strong><br />
Deputados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1826. – cf. VALENTE, Vasco Pulido – Os Devoristas. A Revolução Liberal (1834 –<br />
1836). 2ª Edição. Lisboa: Quetzal Editores, 1993, p. 14.<br />
101<br />
VALENTE, Vasco Pulido, ob. cit., p. 14.<br />
102<br />
VALENTE, Vasco Pulido, ob. cit., p. 33.<br />
103<br />
GODINHO, Vitorino Magalhães – Estrutura <strong>da</strong> antiga socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa. 4.ª Edição. Lisboa:<br />
Editora Arcádia, 1980, p. 153.<br />
104<br />
“Enfarinhados na carreira política, madrugavam nas secretarias aon<strong>de</strong> os chamavam os ministros, e<br />
viviam muito mais tempo nas repartições públicas do que em suas próprias casas” PIMENTEL, Alberto –<br />
Do portal à clarabóia. 2.ª Edição revista pelo autor. Lisboa: Guimarães & Cª. Editores, 1913, p. 10.<br />
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