Departamento de Ciências Prenda ou Arte? - Repositório Aberto da ...
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1.3 – A Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto e a mo<strong>de</strong>lação do sexo feminino<br />
Estabelecemos a nossa investigação num lugar, a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto, e num<br />
tempo, o cronológico, imposto pelas fontes, mas o nosso objecto insere-se no lento<br />
processo <strong>de</strong> metamorfose <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m social e cultural sob a i<strong>de</strong>ologia liberal.<br />
Pela sua preocupação com a vi<strong>da</strong> futura <strong>da</strong>s suas órfãs e <strong>de</strong>sampara<strong>da</strong>s, os<br />
Recolhimentos, através dos Estatutos / Regulamentos Internos, são dos primeiros a<br />
organizar programas dirigidos à educação <strong>da</strong>s mulheres. Volume II [Tabela 2]<br />
Em 1725, os Estatutos do Recolhimento <strong>de</strong> Órfãs <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong><br />
Esperança, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia do Porto 94 , estabelece a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
entra<strong>da</strong> dos 7 até aos 14 anos (órfãs <strong>ou</strong> porcionistas), e permanência até aos 25 anos, e<br />
uma rotina diária <strong>de</strong> ler, escrever, lavores e as orações, “e o que mais pertence a uma<br />
mulher que se educa para viver no século, sem certeza do seu futuro estado” 95 . Os<br />
qualificativos sobre “O silêncio, modéstia e total retiro em que vivem estas meninas,<br />
isentas <strong>da</strong> comunicação do século, as pren<strong>da</strong>s <strong>de</strong> que são dota<strong>da</strong>s, e <strong>ou</strong>tras belas<br />
quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que as enobrecem, faz com que muitas famílias confiem a educação <strong>de</strong> suas<br />
filhas” 96 , conduzem-nos ao mo<strong>de</strong>lo vigente. Um idêntico e apelativo recato, junto <strong>da</strong>s<br />
noviças e <strong>da</strong>s irmãs professas, levaram <strong>ou</strong>tras educan<strong>da</strong>s aos conventos femininos do<br />
Porto: o Convento <strong>de</strong> Santa Clara <strong>ou</strong> o Convento <strong>de</strong> São Bento <strong>da</strong> Ave-Maria 97 .<br />
Uma vez que o ensino <strong>da</strong>s Mestras oficiais e <strong>da</strong>s Escolas Régias seguem os<br />
mesmos mol<strong>de</strong>s, a educação <strong>da</strong>s meninas do Porto no final do século XVIII compreen<strong>de</strong><br />
apenas – ler, escrever, D<strong>ou</strong>trina Cristã e lavores (fiar, coser, bor<strong>da</strong>r e corte). (Fig.2)<br />
No século XIX, apesar do compromisso constitucional <strong>da</strong> Nação para com os<br />
seus ci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong> “ambos os sexos”e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias reformas <strong>da</strong> Instrução Pública, em<br />
1870 ain<strong>da</strong> a instrução <strong>da</strong> mulher estava “num imenso atraso”. Procuremos então as<br />
soluções encontra<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto para a educação <strong>da</strong>s meninas.<br />
94<br />
Pelo Provedor <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia, o Reverendo Jerónimo <strong>de</strong> Távora e Noronha, fi<strong>da</strong>lgo <strong>da</strong><br />
Casa Real e Deão <strong>da</strong> Sé do Porto, e respectiva Mesa. Estabelecidos em 24 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1725 e aprovação<br />
régia em 26 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1831. – cf. FERREIRA, J. A. Pinto – Recolhimento <strong>de</strong> Órfãs <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora <strong>da</strong> Esperança (fun<strong>da</strong>do na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto no séc. XVIII). Porto: Câmara Municipal do Porto.<br />
Gabinete <strong>de</strong> História <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Documentos e Memórias para a História do Porto – XLII, [19--], pp.<br />
125-173.<br />
95<br />
Estatutos do Recolhimento <strong>de</strong> Órfãs <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>da</strong> Esperança, 1725. – cf. I<strong>de</strong>m, pp. 151-154.<br />
96<br />
COSTA, Agostinho Rebelo <strong>da</strong> – Descrição topográfica <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Porto. 3.ª Edição. Lisboa:<br />
Frenesi, 2001, p. 113.<br />
97<br />
COSTA, Agostinho Rebelo <strong>da</strong>, ob. cit., p. 109.<br />
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