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Departamento de Ciências Prenda ou Arte? - Repositório Aberto da ...

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masculino instruído. Para a mulher, a quem o <strong>de</strong>ver biológico e natural <strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stinava a reserva doméstica para a educação infantil dos seus filhos (os futuros<br />

Ci<strong>da</strong>dãos), a ênfase era <strong>da</strong><strong>da</strong> à formação Moral. Entre o mo<strong>de</strong>lo teorizado para a<br />

educação <strong>da</strong>s mulheres <strong>de</strong> digni<strong>da</strong><strong>de</strong> régia, futuras rainhas no governo <strong>da</strong> Nação, e os<br />

costumes mantidos pela tradição e perpetuados em ca<strong>da</strong> estrato social, a nova or<strong>de</strong>m<br />

apelaria, uma vez mais, aos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> R<strong>ou</strong>sseau para <strong>de</strong>finir a educação para o sexo<br />

feminino (dito o “<strong>ou</strong>tro sexo” <strong>ou</strong> a “segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>”) (Fig.1)<br />

Deste modo, o “po<strong>de</strong>r regenerador do amor maternal” e a “educação do homem<br />

pela mulher” colocaram a educação feminina na política <strong>da</strong> Instrução Pública, como um<br />

sinal <strong>de</strong> Progresso e <strong>de</strong> Civilização <strong>da</strong> Nação: “Trabalhar na sua educação é pois<br />

trabalhar na nossa; e, pela sua parte, ellas não nos tornarão melhores sem serem mais<br />

felizes” 45 .<br />

Sobre estas questões se pronunci<strong>ou</strong> Almei<strong>da</strong> Garrett (1799 – 1854), um dos<br />

protagonistas do regime liberal, dos anos 30 a 50, e autor <strong>de</strong> um guia Da Educação.<br />

Nele discorre sobre a educação e o género, a partir do mo<strong>de</strong>lo aristocrático 46 , e do qual<br />

encontramos reflexo na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuense, a partir dos meados dos anos 50. Retoma a<br />

noção triparti<strong>da</strong>: a educação do corpo <strong>ou</strong> física, a educação moral, <strong>ou</strong> do coração<br />

(guiado pela Justiça) e a educação intelectual, <strong>ou</strong> do espírito, na qual faz por marcar “as<br />

diferenças do sexo, e <strong>da</strong> posição social e futuros <strong>de</strong>stinos do educando” 47 .<br />

O seu pensamento pe<strong>da</strong>gógico não se encontra, no entanto, em sintonia com a<br />

corrente mais vanguardista dos tempos mo<strong>de</strong>rnos, pelo que, reprova os “exageros” que<br />

as novas i<strong>de</strong>ias produzem em França e Inglaterra. “A educação feminina mo<strong>de</strong>rna<br />

geralmente se esmera <strong>de</strong>maziado em pren<strong>da</strong>s e estudos, no nosso século philosophico<br />

exager<strong>ou</strong>-se n´este ponto bem como em <strong>ou</strong>tros. Com effeito a mulher não foi crea<strong>da</strong><br />

para fazer meia e arrumar bahus, como se dizia no tempo <strong>de</strong> nossas bisavós, mas<br />

também não nasceu para frequentar a palestra, o foro <strong>ou</strong> a tribuna” 48 .<br />

45 MARTIN, ob. cit., Tomo I, p. 73.<br />

46 Obra dirigi<strong>da</strong> à educação <strong>de</strong> D. Maria II, que tinha como aia D. Leonor <strong>da</strong> Câmara, inspira<strong>da</strong> em<br />

Ma<strong>da</strong>me Campan (mestra <strong>da</strong>s filhas <strong>de</strong> Luís XV e autora <strong>de</strong> Traité <strong>de</strong> l´Éducation <strong>de</strong>s femmes), em<br />

Ma<strong>da</strong>me <strong>de</strong> Genlis (aia <strong>de</strong> Luís Filipe e autora <strong>de</strong> A<strong>de</strong>la e Teodora <strong>ou</strong> Cartas sobre a Educação, 1782), e<br />

em tratados <strong>de</strong> Aristóteles, Plutarco, Fénelon, R<strong>ou</strong>sseau, etc. – cf. DEUSDADO, Manuel António Ferreira<br />

– Educadores Portugueses: esboço histórico <strong>da</strong> filosofia em Portugal no século XIX. Porto: Lello &<br />

Irmão, Editores, 1995, p. 362.<br />

47 ALMEIDA-GARRETT, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> – Da Educação. Cartas dirigi<strong>da</strong>s a uma Senhora illustre<br />

encarrega<strong>da</strong> <strong>da</strong> instituição <strong>de</strong> uma joven princeza. [1829]. 3ª Edição. Porto: Ernesto Chardron, Editor,<br />

1883, p. XXII.<br />

48 ALMEIDA-GARRETT, Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> – Da Educação, ob. cit., pp. 219-220<br />

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