Departamento de Ciências Prenda ou Arte? - Repositório Aberto da ...
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Em Erasmo (1466 – 1536) encontramos a origem <strong>de</strong> um género literário que se<br />
form<strong>ou</strong> pela compilação <strong>de</strong> tradições orais 35 . As suas observações 36 foram sendo<br />
a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> época e perduraram no vasto mercado <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong>:<br />
“Convém portanto que um homem preste atenção à sua aparência, aos seus<br />
gestos e à sua maneira <strong>de</strong> vestir, tanto quanto à sua inteligência”; “há que<br />
consi<strong>de</strong>rar nobres, todos aqueles que cultivam o espírito graças à prática <strong>da</strong>s<br />
belas-letras”;“possuem uma nobreza maior e mais ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira aqueles que<br />
po<strong>de</strong>m ornar os seus escudos com tantos emblemas quantas as artes liberais<br />
que praticam” 37 .<br />
Tradicionalmente <strong>de</strong>dicados à Educação dos membros <strong>da</strong> aristocracia,<br />
<strong>de</strong>stinados ao governo dos homens, os guias convocam os mo<strong>de</strong>los <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, os<br />
i<strong>de</strong>ais <strong>da</strong> pai<strong>de</strong>ia e a organização <strong>da</strong>s <strong>Arte</strong>s Liberais (Trivium: gramática, retórica e<br />
dialéctica e Quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música).<br />
Teorizado por Castiglione (1478 – 1529) 38 , a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> corte do século XVIII<br />
consolid<strong>ou</strong> o conceito <strong>de</strong> “sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong>” associado a uma “arte <strong>de</strong> bem viver “ através<br />
<strong>da</strong> codificação <strong>de</strong> normas comportamentais, cuja evolução foi organizando uma<br />
taxonomia social assente no “saber estar” 39 .<br />
No século XIX a or<strong>de</strong>m burguesa retoma essa “gramática <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”<br />
aristocrática, assimilando e <strong>de</strong>senvolvendo dimensões comportamentais, procurando<br />
“imitar a sua poli<strong>de</strong>z e suas maneiras agradáveis” 40 , no que foi auxilia<strong>da</strong> por um<br />
mercado <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong> e pelos programas colegiais para os seus filhos.<br />
35 De civilitate morum puerilium <strong>de</strong> Erasmo [Didier Erasmo <strong>de</strong> Roterdão <strong>de</strong>dicado ao muito-nobre Henri<br />
<strong>de</strong> B<strong>ou</strong>rgogne, filho <strong>de</strong> Adolphe, Príncipe <strong>de</strong> Veere, criança <strong>de</strong> quem muito se espera, Salve!], foi<br />
publicado em 1530, tendo-se tornado um mo<strong>de</strong>lo incontestado no domínio <strong>da</strong> cortesia. Cortesia, vocábulo<br />
que invoca uma origem divina, era o conceito então difundido e abrangia simultaneamente “regras <strong>de</strong><br />
boas maneiras e uma moral comum: não mentir, não se endivi<strong>da</strong>r, falar com honesti<strong>da</strong><strong>de</strong>, e também:<br />
servir bem o seu senhor à mesa, na intimi<strong>da</strong><strong>de</strong>, no trabalho, na corte, na guerra e na caça, saber guar<strong>da</strong>r<br />
segredos”. – cf. ERASMO – A Civili<strong>da</strong><strong>de</strong> Pueril. [1530]. Lisboa: Editorial Estampa, 1978, pp. 11-13.<br />
36 “A arte <strong>de</strong> educar as crianças divi<strong>de</strong>-se em diversas partes, <strong>da</strong>s quais a primeira e a mais importante é<br />
que o espírito, ain<strong>da</strong> brando, recebe os germe <strong>da</strong> pie<strong>da</strong><strong>de</strong>; a segun<strong>da</strong>, que ele se entregue às belas-letras<br />
e nelas mergulha profun<strong>da</strong>mente; a terceira, que ele se inicie nos <strong>de</strong>veres <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>; a quarta, que ele se<br />
habitue, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, às regras <strong>da</strong> civili<strong>da</strong><strong>de</strong>”; – cf. ERASMO, ob. cit., p. 70.<br />
37 ERASMO, ob. cit., p. 70.<br />
38 Autor <strong>de</strong> O Cortesão (1528), dirigido ao homem do Renascimento, <strong>de</strong>dicado às letras e às armas,<br />
formado para a vi<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> corte. Castiglione foi retratado por Rafael. (Fig.66).<br />
39 CÂMARA, Maria Alexandra Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> Gago <strong>da</strong> – (…) Elementos <strong>de</strong> Civili<strong>da</strong><strong>de</strong> e Decência que se<br />
pratica entre gente <strong>de</strong> bem (…) Espaços, gestos e sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na Cultura Portuguesa <strong>de</strong> Setecentos.<br />
Separata. Revista <strong>de</strong> Genealogia & Heráldica. Porto: Centro <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Genealogia, Heráldica e<br />
História <strong>da</strong> Família <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna do Porto, n.º 9 / 10, 2003, p. 328.<br />
40 “A socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tem também a sua gramática, que é necessário estu<strong>da</strong>r, e os que <strong>de</strong>sprezam as suas<br />
regras, se não levam palmatoa<strong>da</strong>s, <strong>ou</strong> <strong>ou</strong>tro qualquer castigo, são olhados como homens sem educação,<br />
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