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Considerações sobre a tradução da capoeira - ICHS - Ufop

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ANAIS DO X ENCONTRO NACIONAL DE TRADUTORES & IV ENCONTRO INTERNACIONAL DE<br />

TRADUTORES (ABRAPT-UFOP, Ouro Preto, de 7 a 10 de setembro de 2009)<br />

<strong>Considerações</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>tradução</strong> <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong><br />

Joanna de Paula Figueiras<br />

(Universi<strong>da</strong>de Federal de Santa Catarina)<br />

Célia Magalhães<br />

(Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais<br />

Maria Lúcia Vasconcellos<br />

(Universi<strong>da</strong>de Federal de Santa Catarina<br />

Resumo: Este artigo é resultado <strong>da</strong> dissertação intitula<strong>da</strong> Capoeira em<br />

<strong>tradução</strong>: representações discursivas em um corpus paralelo bilíngue,<br />

apresenta<strong>da</strong> ao Programa de Pós-Graduação em Estudos <strong>da</strong> Tradução<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Santa Catarina (PGET/UFSC). O objetivo <strong>da</strong><br />

pesquisa foi identificar as representações discursivas <strong>sobre</strong> a <strong>capoeira</strong> no<br />

corpus bilíngue composto pelos livros: Capoeira: pequeno manual do<br />

jogador (2002), de Nestor Capoeira, e sua retextualização The little<br />

<strong>capoeira</strong> book (2003), feita por Alex Ladd. A pesquisa foi realiza<strong>da</strong> a<br />

partir <strong>da</strong> análise do perfil <strong>da</strong> Prosódia Semântica dos itens lexicais<br />

capoeir*, malícia, mandinga e malandr*, considerados palavras-chave por<br />

serem vocábulos que expressam ideias e valores no contexto <strong>da</strong><br />

<strong>capoeira</strong> e também devido ao grau de centrali<strong>da</strong>de dessas palavras no<br />

corpus de estudo, seja pela ocorrência com frequência relativa muito alta<br />

ou muito baixa, quando comparado a um corpus de referência<br />

(ferramenta Keywords do software WordSmith Tools). A metodologia <strong>da</strong><br />

pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong>, a partir do auxílio de ferramentas<br />

computacionais, com enfoque no fenômeno colocacional, conforme a<br />

Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), e com exploração do conceito de<br />

Prosódia Semântica (PS). O resultado final aponta para as diferenças, na<br />

observação do fenômeno colocacional, que influenciam no perfil <strong>da</strong> PS<br />

dos itens lexicais analisados – na textualização (o texto de parti<strong>da</strong>) e na<br />

retextualização (o texto de chega<strong>da</strong>) – e mostra a importância de se<br />

relacionar os <strong>da</strong>dos obtidos eletronicamente aos contextos em que as<br />

obras analisa<strong>da</strong>s estão inseri<strong>da</strong>s.<br />

Palavras-chave: Corpus Bilíngue; Colocação; Prosódia Semântica;<br />

Capoeira em Tradução.<br />

A <strong>capoeira</strong> é uma prática cultural brasileira, que já foi proibi<strong>da</strong> por<br />

lei e hoje é considera<strong>da</strong> patrimônio nacional. Sua história está sempre<br />

oscilando entre o estar dentro ou fora <strong>da</strong> lei, e seus heróis geralmente<br />

são figuras populares que desafiam as autori<strong>da</strong>des em busca de justiça.<br />

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O imaginário que ilustra as histórias <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> sempre é narrado a<br />

partir <strong>da</strong>s brigas de valentes, brincadeira de vadios, pela perspectiva de<br />

um povo marginalizado (seja pela associação com a escravidão ou com<br />

a criminali<strong>da</strong>de) e, mesmo com a mu<strong>da</strong>nça na representação <strong>da</strong><br />

<strong>capoeira</strong> – de prática marginal à símbolo nacional –, ain<strong>da</strong> é possível<br />

identificar uma associação pejorativa em relação a essa prática devido a<br />

suas origens subalternas (Filgueiras, 2004).<br />

Tanto na cultura oral quanto no discurso intelectual <strong>sobre</strong> o tema<br />

(Rego, 1968; Capoeira, 1992, 2002, 2003; Sodré, 1992; entre outros), as<br />

definições para o termo <strong>capoeira</strong> conduzem a uma série de<br />

especulações <strong>sobre</strong> a sua origem (brasileira ou africana? baiana ou<br />

carioca? rural ou urbana? Angola ou Regional?) e sua natureza (luta,<br />

jogo ou <strong>da</strong>nça?). A polifonia proposta pelo termo <strong>capoeira</strong> aponta para<br />

uma conotação ambígua: negativa quando associa<strong>da</strong> à marginali<strong>da</strong>de e<br />

à escravidão; e positiva quando associa<strong>da</strong> à luta pela liber<strong>da</strong>de e à<br />

cultura brasileira. Os termos malícia, malandro e mandinga – geralmente<br />

apresentados no universo capoeirístico como sinônimos de <strong>capoeira</strong> –<br />

também possuem uma conotação ambígua, positiva ou negativa<br />

conforme o contexto, e produzem significados que associam a <strong>capoeira</strong><br />

a uma identi<strong>da</strong>de brasileira.<br />

No exterior, a <strong>capoeira</strong> tem sido divulga<strong>da</strong> como uma prática<br />

exótica do país tropical, no qual o Brasil desempenha um papel central –<br />

enquanto fonte <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong>. Ou seja, o Brasil passa a ser o “centro”,<br />

enquanto os países de primeiro mundo passam a desempenhar o papel<br />

de “periferias”. Essa inversão fomenta uma idealização <strong>da</strong> “terra natal” –<br />

local sagrado que revitaliza e fortalece o conhecimento – e perpetua um<br />

estereótipo do que é ser brasileiro (carioca ou baiano, amante do<br />

samba, do carnaval, do futebol, <strong>da</strong> feijoa<strong>da</strong>, e praticante de <strong>capoeira</strong>),<br />

além de intensificar a produção de reinterpretações <strong>sobre</strong> o que significa<br />

a <strong>capoeira</strong> e como ela deve ser pratica<strong>da</strong>.<br />

Inseri<strong>da</strong> nesse contexto, que considera a <strong>capoeira</strong> uma questão<br />

social e cultural brasileira, esta pesquisa investiga a <strong>capoeira</strong> sob o viés<br />

<strong>da</strong> <strong>tradução</strong> e, deste modo, busca descrever as práticas tradutórias<br />

conforme observa<strong>da</strong>s na <strong>tradução</strong> de um manual na área <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong>:<br />

Capoeira: pequeno manual do jogador (2002) e The little <strong>capoeira</strong> book<br />

(2003), de Nestor Capoeira, com a <strong>tradução</strong> de Alex Ladd. A pesquisa<br />

parte <strong>da</strong> descrição <strong>da</strong> linguagem a partir <strong>da</strong> coleta de <strong>da</strong>dos,<br />

possibilita<strong>da</strong> por meio de metodologias e ferramentas de estudos<br />

baseados em corpus, com o objetivo de investigar representações<br />

discursivas <strong>sobre</strong> a “<strong>capoeira</strong>”. O foco <strong>da</strong> investigação foi a análise do<br />

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padrão colocacional e o perfil <strong>da</strong> Prosódia Semântica <strong>da</strong>s palavraschave<br />

no corpus bilíngue – constituído do texto-fonte e de sua <strong>tradução</strong>,<br />

aqui denominados textualização e retextualização (Costa, 1992),<br />

respectivamente.<br />

Portanto, o objetivo desta pesquisa foi investigar representações<br />

discursivas <strong>sobre</strong> a <strong>capoeira</strong>, com base no perfil <strong>da</strong> Prosódia Semântica<br />

dos itens lexicais capoeir*, malícia, mandinga e malandr*, em um corpus<br />

bilíngue. As palavras malícia, mandinga e malandr* são muito<br />

representativas do universo <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> e são sempre cita<strong>da</strong>s nas<br />

definições do termo. No entanto, a conotação dessas palavras é<br />

extremamente ambígua: apesar de geralmente possuírem uma<br />

conotação negativa, no contexto <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> quase sempre evocam um<br />

sentido positivo.<br />

Os itens lexicais investigados por esta pesquisa são considerados<br />

“chaves” em dois sentidos: (i) conforme Williams (1976), são palavras<br />

significativas em certas ativi<strong>da</strong>des, e suas respectivas interpretações,<br />

por indicarem certas formas de pensamento. Portanto, “palavras-chave”<br />

são palavras que envolvem ideias e valores e, por isso, são capazes de<br />

mostrar como alguns processos sociais e históricos ocorrem dentro <strong>da</strong><br />

linguagem, além de possuírem extrema ambigui<strong>da</strong>de – sempre<br />

apresentando várias conotações; e, (ii) de acordo com a ferramenta<br />

Keywords do WordSmith Tools (Scott, 1999), que computa a<br />

“chavissi<strong>da</strong>de” de determina<strong>da</strong> palavra em um corpus de estudo<br />

comparado a um corpus de referência – gera uma lista de palavras com<br />

alto grau de centrali<strong>da</strong>de no corpus analisado (quando ocorrem com<br />

frequência relativa muito alta ou muito baixa) que aju<strong>da</strong>m a caracterizar<br />

o gênero do corpus em estudo.<br />

O conceito de Colocação utilizado nesta pesquisa é desenvolvido<br />

a partir <strong>da</strong> convergência dos procedimentos analíticos de Halli<strong>da</strong>y e<br />

Hasan (1976) e de teóricos <strong>da</strong> Linguística de Corpus (Sinclair, 1991;<br />

Stubbs, 1995; Partington, 1998; entre outros). Para Halli<strong>da</strong>y e Hasan<br />

(1976), colocação é um fenômeno que depende de fatores nem sempre<br />

presentes no próprio léxico, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de de se expandir a análise<br />

para o texto ao se investigar o fenômeno colocacional. Em<br />

contraparti<strong>da</strong>, para os teóricos <strong>da</strong> Linguística de Corpus a colocação é<br />

um fenômeno lexical e estatístico – razão pela qual é computável – e<br />

não precisa, necessariamente, <strong>da</strong> expansão para a categoria textual<br />

(nos moldes <strong>da</strong> LSF), embora admita certa expansão na investigação de<br />

fenômenos como a Prosódia Semântica. Apesar <strong>da</strong> distinção em seus<br />

procedimentos analíticos – necessi<strong>da</strong>de de expansão, ou não, para a<br />

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categoria textual –, essas duas perspectivas são convergentes (Do<br />

Carmo, 2005). Esta pesquisa é desenvolvi<strong>da</strong> a partir dessa<br />

convergência, pois admite a necessi<strong>da</strong>de de expansão para o texto para<br />

investigar o fenômeno colocacional e, paralelamente, utiliza o suporte<br />

metodológico de corpus para investigar a Prosódia Semântica.<br />

O conceito de Prosódia Semântica significa que um item lexical<br />

aparentemente inócuo pode ser imbuído de uma aura de significado em<br />

função de seus colocados (Louw, 1993). Ou seja, refere-se à coloração<br />

colocacional que transcende aos limites de uma determina<strong>da</strong> palavra<br />

(Partington, 1998), pois considera que ca<strong>da</strong> palavra possui um sentido<br />

avaliativo (positivo, neutro ou negativo) adquirido pela presença dos<br />

itens lexicais que co-ocorrem ao seu redor. Assim, a conotação de<br />

determinado item lexical está geralmente relaciona<strong>da</strong> ao seu contexto<br />

de uso, pois “geralmente uma conotação favorável ou não favorável não<br />

está conti<strong>da</strong> em um único item, sendo expressa por este item associado<br />

a outros – seus colocados” (Partington, 1998, p. 66).<br />

A metodologia utiliza<strong>da</strong> nesta pesquisa foi desenvolvi<strong>da</strong> em três<br />

etapas: (i) o corpus, que contextualiza o corpus analisado, fornecendo<br />

informações quantitativas e qualitativas <strong>sobre</strong> os textos e seus<br />

respectivos contextos; (ii) o software, que apresenta o processo de<br />

digitalização do corpus e o software utilizado; e (iii) as decisões<br />

metodológicas, que apresenta os procedimentos e critérios de obtenção<br />

de <strong>da</strong>dos quantitativos obtidos com auxílio do software.<br />

O corpus bilíngue utilizado é composto pelo par de línguas<br />

português brasileiro/inglês norte-americano. O título em português foi<br />

publicado pela primeira vez em 1981, e a retextualização foi publica<strong>da</strong><br />

em 1995, mas esta pesquisa analisa as edições de 2002 e 2003,<br />

respectivamente. O livro Capoeira: pequeno manual do jogador (2002)<br />

foi escrito por Nestor Capoeira e publicado pela editora Record, e do<br />

total de 224 páginas foram digitaliza<strong>da</strong>s 184. A retextualização de Alex<br />

Ladd, The little <strong>capoeira</strong> book (2003), foi publica<strong>da</strong> pela North Atlantics<br />

Books com um total de 227 páginas, <strong>da</strong>s quais 141 foram digitaliza<strong>da</strong>s.<br />

A escolha por essa seleção de partes do corpus é justifica<strong>da</strong> pelas<br />

diferenças encontra<strong>da</strong>s de uma edição para a outra; assim, os trechos<br />

selecionados estão presentes em ambas as edições e os trechos<br />

descartados estão presentes apenas em uma delas (por exemplo: o<br />

ABC <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong>, ilustrações com texto estilo literatura de cordel, só<br />

existe na edição do português; enquanto o glossário de termos básicos<br />

está presente apenas na edição americana). Entre as diferenças <strong>da</strong><br />

edição brasileira e norte-americana está a classificação do gênero dos<br />

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livros analisados – enquanto a editora brasileira preferiu chamar de luta,<br />

a americana chamou de <strong>da</strong>nça.<br />

O software utilizado foi o WordSmith Tools (versão 3.0),<br />

considerado um “canivete suíço” devido à acessibili<strong>da</strong>de e versatili<strong>da</strong>de<br />

de seus programas. Para a utilização desse software, é preciso que o<br />

corpus esteja digitalizado, sendo que, no caso deste trabalho, foi preciso<br />

construí-lo, ou seja, “escanear” os livros, gravar no Word, formatar e<br />

corrigir eventuais erros de leitura do scanner, gravar o texto corrigido em<br />

formato .txt, para então submetê-lo à análise pelo software WordSmith<br />

Tools. O software é composto por três ferramentas (Concord, Wordlist,<br />

Keyword) e quatro utilitários (Utilities – composto pelo File Manager,<br />

Text Converter, Splitter, Viewer and Aligner) que possibilitam várias<br />

aplicações. Esta pesquisa não utilizou os utilitários, mas apenas alguns<br />

dos recursos oferecidos pelo software, listados a seguir: (a) Wordlist,<br />

ferramenta utiliza<strong>da</strong> para produzir listas de palavras úteis para<br />

(i) conhecer a ocorrência dos itens investigados no corpus de estudo e<br />

(ii) para permitir a utilização <strong>da</strong> ferramenta Keywords, defini<strong>da</strong> seguir;<br />

(b) Keywords, ferramenta que forneceu a lista de palavras com alto grau<br />

de centrali<strong>da</strong>de no corpus (a lista é obti<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> comparação <strong>da</strong><br />

lista de palavras do corpus de estudo com lista de palavras de um<br />

corpus de referência; os itens lexicais capoeir* tiveram frequência<br />

relativa alta no corpus investigado, e os demais itens lexicais – malícia,<br />

mandinga, malandr* – tiveram frequência relativa baixa); (c) Concord,<br />

ferramenta utiliza<strong>da</strong> para obter (i) as linhas de concordância<br />

(concor<strong>da</strong>nce), que permitem analisar as ocorrências em seu contexto<br />

de uso; (ii) as lista de agrupamento de palavras (cluster), que permitem<br />

identificar padrões de repetições de frases nas linhas de concordância<br />

(sendo um recurso útil para identificar conceitos socialmente<br />

importantes no corpus investigado); e (iii) colocados (collocates), que<br />

oferece listas de colocados do corpus de estudo.<br />

Os procedimentos de seleção/exclusão dos trechos que seriam<br />

submetidos ao software e, principalmente, os <strong>da</strong>dos obtidos pelas<br />

ferramentas utiliza<strong>da</strong>s do WordSmith Tools delinearam as decisões<br />

metodológicas para a análise <strong>da</strong>s colocações e Prosódia Semântica dos<br />

itens lexicais investigados. Assim, os itens lexicais analisados<br />

receberam dois tipos de tratamento: a partir dos padrões colocacionais<br />

(para a análise do item lexical <strong>capoeira</strong>, que apresentou maior<br />

ocorrência no corpus de estudo); e a partir <strong>da</strong>s linhas de concordância<br />

(para a análise dos itens lexicais com pouca ocorrência no texto, pois<br />

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não apresentaram um padrão colocacional – no span de cinco palavras<br />

para a direita e cinco para a esquer<strong>da</strong>).<br />

A análise dos <strong>da</strong>dos, portanto, partiu <strong>da</strong>s listas de palavras<br />

gera<strong>da</strong>s pelo software: o Wordlist ofereceu, entre outros <strong>da</strong>dos, o<br />

número de ocorrência <strong>da</strong>s palavras-chave no corpus, e o Keywords<br />

confirmou o alto grau de centrali<strong>da</strong>de dos itens lexicais investigados no<br />

corpus em português (único que foi submetido a esta ferramenta, devido<br />

a ausência de um corpus de referência em inglês; o corpus de<br />

referência utilizado foi o Lácio-Ref). Para analisar as relações lexicais<br />

forma<strong>da</strong>s a partir do fenômeno colocacional com a palavra-chave<br />

capoeir* e identificar o perfil <strong>da</strong> Prosódia Semântica nesses itens<br />

lexicais, partiu-se <strong>da</strong>s listas de colocados e clusters gera<strong>da</strong>s pelo<br />

software WordSmith Tools (num span de cinco palavras para a direita e<br />

cinco para a esquer<strong>da</strong>), estendendo-se a análise para as linhas de<br />

concordância.<br />

O Quadro 1 a seguir mostra os <strong>da</strong>dos obtidos a partir <strong>da</strong>s listas de<br />

colocados gera<strong>da</strong>s pelo software WordSmith Tools e permite visualizar a<br />

diferença no padrão colocacional do item lexical investigado (e suas<br />

flexões) no corpus bilíngue. Os itens lexicais foram classificados de<br />

acordo com a semelhança ou diferença no campo semântico que<br />

evocam (classificação feita a partir de intervenção <strong>da</strong> pesquisadora).<br />

Os números entre parênteses computam o numero de ocorrências de<br />

ca<strong>da</strong> palavra (<strong>da</strong>do fornecido pelo software).<br />

A partir do Quadro 1, é possível perceber que os colocados na<br />

textualização (T) e retextualização (RT), quando evocam o mesmo<br />

campo semântico, remetem à contextualização histórica <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong><br />

(Salvador, tradicional, época, passado, Brasil etc. / traditional, century,<br />

Bahia, Rio, Brazil etc.) e também a uma situação de ensino (aula,<br />

professores etc. / learning, school etc.). Quando os campos semânticos<br />

são distintos, as representação também o são: na textualização, os<br />

colocados fazem alusão ao período <strong>da</strong> marginali<strong>da</strong>de e escravidão<br />

(maltas, senzala etc.) e ressaltam a característica <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> enquanto<br />

luta (lutas, golpes etc.); por outro lado, na retextualização, os colocados<br />

parecem privilegiar o lado cultural (culture, music) e filosófico <strong>da</strong><br />

<strong>capoeira</strong> (philosophy, roots). Na retextualização, o software WS Tools<br />

não computou colocados que façam alusão direta à afro-descendência<br />

<strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> – esta relação está implícita no item lexical Angola (que é<br />

referente ao estilo de jogo) – mas, tanto na T quanto na RT, a <strong>capoeira</strong><br />

está associa<strong>da</strong> ao Brasil.<br />

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Quadro 1: colocados <strong>da</strong> Textualização e Retextualização<br />

COLOCADOS TEXTUALIZAÇÃO RETEXTUALIZAÇÃO<br />

Campo<br />

semântico<br />

semelhante<br />

Campo<br />

semântico<br />

diferente<br />

<strong>capoeira</strong> (332), capoeiristas<br />

(45), capoeirista (31), <strong>capoeira</strong>s<br />

(23), angola (22), regional (19),<br />

<strong>capoeira</strong>gem (17), Salvador<br />

(16), jogo (13), Bimba (11),<br />

tradicional (11), época (10), Rio<br />

(10), passado (8), mundo (8),<br />

aula (7), Brasil (7), ro<strong>da</strong> (7),<br />

bem (6), déca<strong>da</strong> (6),<br />

professores (6), século (6), vi<strong>da</strong><br />

(6), fun<strong>da</strong>mentos (5), história (5)<br />

mestre (18), grande (7), bons<br />

(6), galo (6), livro (6), malícia<br />

(6), mestres (6), Nestor (5),<br />

cabeça (5), canto (5), cantou<br />

(5), chão (5), forma (5), golpes<br />

(5), lutas (5), maltas (5),<br />

mandinga (5), senzala (5)<br />

<strong>capoeira</strong> (289), capoeirista (40),<br />

angola (20), game (20), regional<br />

(18), capoeiristas (15), ro<strong>da</strong><br />

(13), style (11), traditional (10),<br />

play (8), time (8), Bahia (7),<br />

learning (7), well (7), century<br />

(6), history (6), life (6), world (6),<br />

Brazil (5), school (5), Bimba (5),<br />

past (5), Rio (5), roots (5)<br />

basic (7), ginga (7), movement<br />

(7), origins (7), mentioned (7),<br />

typical (7), new (7), players (7),<br />

practiced (7), movements (6),<br />

philosophy (6), understand (6),<br />

culture (6), music (5), practice<br />

(5), way (5)<br />

Os agrupamentos de palavras (clusters) possuem uma relação<br />

mais próxima que a dos colocados e, por isso, também dão pistas <strong>sobre</strong><br />

a(s) conotação(ões) <strong>da</strong>s palavras-chave investiga<strong>da</strong>s no corpus de<br />

estudo. De acordo com Scott (1997), os clusters podem oferecer uma<br />

representação de conceitos socialmente importantes.<br />

O Quadro 2 a seguir mostra a lista dos clusters na T e RT e<br />

evidencia a semelhança/diferença dos campos semânticos evocados<br />

por esses agrupamentos lexicais, numa classificação semelhante à do<br />

Quadro anterior. Em termos quantitativos, a textualização apresentou<br />

uma lista com 49 tipos diferentes de agrupamentos lexicais em que a<br />

palavra-chave <strong>capoeira</strong> e suas variações apareceram, enquanto na<br />

retextualização foram 35 tipos de agrupamentos. Cabe acrescentar que<br />

o Quadro 2 não incluiu os clusters formados por preposição e conectivos<br />

(por exemplo: já que a; no rio de; one of the etc.), pois seu conteúdo<br />

semântico pouco acrescenta ao léxico e, por isso, não trazem<br />

contribuição relacional.<br />

De modo geral, a partir dos clusters apresentados no Quadro 2, é<br />

possível perceber que existe a predominância de uma conotação neutra<br />

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nas relações lexicais com as palavras-chave capoeir*, pois muitas vezes<br />

suas associações lexicais não possuem significado valorativo – a não<br />

ser quando lhes é atribuído (<strong>sobre</strong> a terminologia, cf. DoCarmo, 2005).<br />

Em ambos os casos (T e RT), os agrupamentos lexicais reforçam a<br />

importância de contextualizar historicamente a <strong>capoeira</strong> e dão<br />

preferência em caracterizar a <strong>capoeira</strong> enquanto jogo (em detrimento de<br />

outras formas como esporte, luta ou <strong>da</strong>nça – <strong>da</strong> mesma maneira que os<br />

colocados).<br />

Quadro 2: clusters <strong>da</strong> Textualização e Retextualização<br />

CLUSTERS TEXTUALIZAÇÃO FREQ. RETEXTUALIZAÇÃO FREQ.<br />

Campo<br />

semântico<br />

semelhante<br />

Campo<br />

semântico<br />

diferente<br />

<strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> angola 11 game of <strong>capoeira</strong> 08<br />

<strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> regional 08 of <strong>capoeira</strong> angola 05<br />

jogo de <strong>capoeira</strong> 03 the traditional <strong>capoeira</strong> 05<br />

história <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> 03 a <strong>capoeira</strong> ro<strong>da</strong> 04<br />

mundo <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> 03 traditional <strong>capoeira</strong> angola 04<br />

ro<strong>da</strong> de <strong>capoeira</strong> 03 history of <strong>capoeira</strong> 03<br />

<strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> tradicional<br />

03<br />

of <strong>capoeira</strong> regional 03<br />

the <strong>capoeira</strong> world 3<br />

aula de <strong>capoeira</strong> 05 known as <strong>capoeira</strong> 05<br />

déca<strong>da</strong> de # 05 typical of <strong>capoeira</strong> 05<br />

galo já cantou 05 practice of <strong>capoeira</strong> 04<br />

capoeiristas do passado 04 roots of <strong>capoeira</strong> 04<br />

livro do autor 04 associated with <strong>capoeira</strong> 04<br />

mandinga de escravo 04 has enriched my 03<br />

professores de <strong>capoeira</strong> 04 ritual of <strong>capoeira</strong> 03<br />

rio de janeiro 04 origins of <strong>capoeira</strong> 03<br />

fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> malícia 03 the new <strong>capoeira</strong> 03<br />

canto de <strong>capoeira</strong> 03<br />

descrita por rugen<strong>da</strong>s 03<br />

do século passado 03<br />

federações de <strong>capoeira</strong> 03<br />

segundo livro do 03<br />

todo o brasil 03<br />

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To<strong>da</strong>via, os clusters também apresentam diferenças no campo<br />

semântico. Na T, fazem referência: à escravidão (mandinga de escravo;<br />

descrita por rugen<strong>da</strong>s); ao esporte (federações de <strong>capoeira</strong>); e aos livros<br />

do autor Nestor Capoeira (galo já cantou; livro do autor; fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

malícia; segundo livro do). Já os agrupamentos lexicais <strong>da</strong> RT focalizam<br />

a história/ origem, sem fazer alusão ao período <strong>da</strong> escravidão e<br />

marginali<strong>da</strong>de, preferindo privilegiar questões <strong>da</strong> tradição e ritual.<br />

Os itens lexicais malícia, mandinga e malandr* foram analisados a<br />

partir <strong>da</strong>s associações lexicais identifica<strong>da</strong> nas linhas de concordância.<br />

O perfil <strong>da</strong> PS foi considera<strong>da</strong> positiva, neutra ou negativa, conforme os<br />

exemplos do Quadro 3.<br />

Quadro 3: exemplos de Prosódia Semântica nas linhas de concordância<br />

Prosódia Semântica POSITIVA<br />

Ex.1: Cantado nos sambas, principalmente entre 1900 e 1930,19 o MALANDRO é um<br />

mito que vive na imaginação - no imaginário - carioca, e influiu na maneira de ser do brasileiro.<br />

Ex.2: Mas não uma <strong>capoeira</strong> nos moldes tradicionais de<br />

MALANDRAGEM/ritual/brincadeira/arte, e sim como esporte/luta “sério”, com método de<br />

ensino semelhante aos <strong>da</strong>s escolas brancas, uma graduação semelhante à hierarquia do<br />

exército e uma mentali<strong>da</strong>de de acordo com os objetivos <strong>da</strong> “nova” socie<strong>da</strong>de: competição,<br />

objetivi<strong>da</strong>de, técnica e burocracia.<br />

Ex.3: Nonetheless, Bimba espoused the MALANDRO philosophy of “brain over brawn.”<br />

Ex.4: A MALÍCIA, tão comenta<strong>da</strong> pelos capoeiristas, é uma <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des do bom<br />

jogador.<br />

Ex.5: The Angoleiro is almost always more flexible, has more MALÍCIA, and improvises<br />

more.<br />

Ex.6: A lot of MALÍCIA and a deep knowledge of the basics of the game are needed in<br />

order to be able to respond appropriately to whatever situation may arise,<br />

Ex.7: O que tem produzido uma novíssima geração de angoleiros que falam muito em<br />

“improvisação, MANDINGA e criativi<strong>da</strong>de”, mas, na ver<strong>da</strong>de, jogam – todos – igualzinho ao<br />

seu professor.<br />

Prosódia Semântica NEUTRA<br />

Ex.8: MOURA, J. Capoeiragem, arte e MALANDRAGEM, “Cadernos de Cultura”, n° 2.<br />

Salvador, Pref. Mun. De Salvador, 1980.<br />

Ex.9: A MALÍCIA é usa<strong>da</strong> no Jogo, e na vi<strong>da</strong> real.<br />

Ex.10: PASSOS NETO, N. S. Ritual ro<strong>da</strong>: MANDINGA x tele-real. Rio de Janeiro,<br />

dissertação de Mestrado, Escola de Comunicação <strong>da</strong> UFRJ, 1995.<br />

Prosódia Semântica NEGATIVA<br />

Ex.11: Junto com prostitutas, vagabundos, estivadores, MALANDROS, aristocratas,<br />

boêmios e policiais, faziam parte <strong>da</strong> buliçosa fauna <strong>da</strong>s ruas.<br />

Ex.12: We now arrive at the year 1900. In Rio, the capoeirista was a MALANDRO (a<br />

rogue) and a criminal-whether he be white, mulatto or black-expert in the use of kicks (golpes),<br />

sweeps (rasteiras) and head-butts (cabeça<strong>da</strong>s), as well as in the use of blade weapons.<br />

Ex.13: “Fingir é certamente uma parte essencial <strong>da</strong> MALÍCIA, e isto gira em torno de<br />

regras sociais. O <strong>capoeira</strong> toma vantagem <strong>da</strong> vítima que segue as regras do como ‘se deve’<br />

agir”.<br />

Ex.14: The origins of MALÍCIA: the slave and the bandit.<br />

Ex.15: Another aspect of MALÍCIA consists of deceiving or faking the opponent into<br />

thinking that you are going to execute a certain move when in fact you are going to do<br />

something completely different and unexpected.<br />

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TRADUTORES (ABRAPT-UFOP, Ouro Preto, de 7 a 10 de setembro de 2009)<br />

De acordo com o Quadro 3, verificamos que os itens lexicais<br />

investigados foram considerados com uma Prosódia Semântica positiva<br />

quando estavam associados às seguintes palavras: brincar,<br />

entendimento, mestres, técnica sofistica<strong>da</strong>, saber, talento, maestria,<br />

criativi<strong>da</strong>de, cultura afro-brasileira, ludici<strong>da</strong>de, improvisação, fortalecer,<br />

samba, maneira de ser do brasileiro, vadiação, knowledge, ritual,<br />

flexible, improvises, indispensable, essencial, brain over brawn etc.<br />

Foram considerados com uma Prosódia Semântica neutra quando<br />

estavam associados a título de livros ou quando não foi possível<br />

identificar um significado valorativo, a não ser quando lhes é atribuído.<br />

Foram considerados com uma Prosódia Semântica negativa quando<br />

associados às seguintes palavras: perseguição policial, navalhas,<br />

prostitutas, bandidos, vagabundos, buliçosa fauna, putas, fingir, criminal,<br />

slave, bandit, deceiving, faking, opponent, rogue etc.<br />

De modo geral, é possível afirmar que as associações lexicais<br />

presentes na textualização (T) fazem relação entre o mito de origem <strong>da</strong><br />

<strong>capoeira</strong> e o seu processo de institucionalização, reproduzindo o<br />

discurso de dominantes x dominados. Isso é percebido a partir <strong>da</strong><br />

observação do padrão colocacional dos itens lexicais capoeir*: de um<br />

lado, na importância atribuí<strong>da</strong> à contextualização histórica; de outro<br />

lado, na associação com uma situação de ensino. Os agrupamentos<br />

lexicais <strong>da</strong> textualização também apontam para essa direção, uma vez<br />

que suas associações lexicais também deixam em evidencia o conflito<br />

de estar na lei, ou não, estando a <strong>capoeira</strong> associa<strong>da</strong> à identi<strong>da</strong>de<br />

brasileira ou a uma prática marginal. As várias alusões aos livros<br />

(do autor e de outros pesquisadores) reforçam a interação entre<br />

discurso oral e intelectual, que juntos constroem o que é dito <strong>sobre</strong> a<br />

<strong>capoeira</strong>.<br />

Na retextualização (RT), a padronização lexical também dá pistas<br />

de conceitos socialmente importantes. Apesar de seus colocados<br />

também fazerem alusão à contextualização histórica <strong>da</strong> <strong>capoeira</strong> e ao<br />

ambiente escolar, as suas associações lexicais (culture, music, tradition,<br />

ritual, philosophy) apresentam a <strong>capoeira</strong> mais como uma prática<br />

cultural exótica do que como um discurso do oprimido.<br />

Os resultados obtidos relacionam a análise quantitativa e a<br />

análise qualitativa a partir <strong>da</strong> identificação do perfil <strong>da</strong> Prosódia<br />

Semântica (positiva, neutra, negativa). A conotação de determinado item<br />

lexical pode ser identifica<strong>da</strong> pela observação de seus colocados e<br />

associações lexicais. A análise do corpus bilíngue permite observar<br />

como questões culturais são converti<strong>da</strong>s em padrões de vocabulário e<br />

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TRADUTORES (ABRAPT-UFOP, Ouro Preto, de 7 a 10 de setembro de 2009)<br />

gramática – identificados a partir de ferramentas computacionais<br />

(colocados/keywords) – e, por isso, pode ser utiliza<strong>da</strong> para o estudo <strong>da</strong><br />

conotação <strong>da</strong>s palavras. O perfil <strong>da</strong> Prosódia Semântica dos itens<br />

lexicais investigados é, de modo geral, positiva. Os colocados <strong>da</strong><br />

textualização (T) e <strong>da</strong> retextualização (RT) apontam para<br />

representações semelhantes, mas muitas vezes houve casos em que<br />

acionaram campos semânticos distintos. As associações entre as<br />

relações lexicais <strong>da</strong>s palavras-chave investiga<strong>da</strong>s permitiram evidenciar<br />

questões ideológicas relativas à identi<strong>da</strong>de brasileira e à representação<br />

dessa identi<strong>da</strong>de nos Estados Unidos. Dessa forma, a T privilegiou<br />

resgatar o discurso dos “oprimidos” – no qual a <strong>capoeira</strong> tem uma<br />

conotação positiva ao desempenhar o papel de heroína –, enquanto a<br />

RT apresentou a <strong>capoeira</strong> como prática cultural brasileira, exótica.<br />

Deste modo, a pesquisa mostrou a possibili<strong>da</strong>de de se analisar<br />

representações discursivas com o auxílio de ferramentas<br />

computacionais e de um referencial teórico adequado. As ferramentas<br />

computacionais foram essenciais para a investigação <strong>da</strong> padronização<br />

<strong>da</strong>s palavras-chave estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s e, portanto, para a identificação do perfil<br />

<strong>da</strong> Prosódia Semântica. A ferramenta Keywords foi utiliza<strong>da</strong> nesta<br />

pesquisa mais como um suporte analítico e não foi explora<strong>da</strong> em to<strong>da</strong><br />

sua potenciali<strong>da</strong>de. Essa ferramenta, além de confirmar a frequência<br />

relativa incomum dos itens lexicais analisados, mostrou quais as<br />

palavras que caracterizam o texto – evidenciando a presença do<br />

manual, que não foi percebi<strong>da</strong> pela lista de colocados ofereci<strong>da</strong> pelo<br />

software.<br />

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