roda de capoeira: rito espetacular - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Figura 7 - Desenho e texto <strong>de</strong> Caribé (CARYBÉ, 1955, p.4)<br />
Outro elemento musical que compõe a <strong>roda</strong> é a cantiga, cantada por um ―cantador‖ e<br />
respondida pelo coro. Todos os participantes da <strong>roda</strong> compõem o coro. Existe a tradição <strong>de</strong> a<br />
primeira música da <strong>roda</strong> ser cantada pelo Mestre, ou por quem está tocando o Gunga, ou por um<br />
capoeirista que está se preparando para jogar. Tanto na abertura da <strong>roda</strong> como no seu<br />
encerramento, o cantador grita Iê!, a expressão que invoca energia para a <strong>roda</strong>. A música <strong>de</strong><br />
abertura <strong>de</strong> uma <strong>roda</strong> <strong>de</strong> <strong>capoeira</strong> é uma ladainha. Na <strong>capoeira</strong>, a ladainha é uma música que<br />
conta uma história, ou uma lenda, e po<strong>de</strong> também ser um canto usado como uma prece, com<br />
caráter <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção a algum santo ou invocar sua proteção. Existem outros tipos <strong>de</strong> músicas<br />
cantadas durante uma <strong>roda</strong>, como chulas, quadras e corridos. Tais músicas não serão analisadas<br />
em profundida<strong>de</strong> nesta pesquisa. Mas vale lembrar que as letras cantadas na <strong>roda</strong> fazem menção a<br />
personagens importantes, ou a fatos marcantes que fazem parte da história da <strong>capoeira</strong>. As<br />
cantigas também po<strong>de</strong>m ser cantadas para dar um recado a um jogador, comentar alguma coisa<br />
que esteja acontecendo no jogo, para saudar alguém, como <strong>de</strong>spedida <strong>de</strong> algum jogador que<br />
esteja <strong>de</strong> mudança etc. A música é um importante instrumento condutor <strong>de</strong> energia, ela é<br />
mantenedora do ―fluxo‖ da <strong>roda</strong>, da pulsação do ritual.<br />
Durante o canto da ladainha não há jogo. Dois jogadores se posicionam agachados junto<br />
ao ―pé‖ do Gunga, preparando-se para jogar e ouvindo o canto. Nesse momento, o atabaque ainda<br />
não está sendo tocado, apenas os outros instrumentos. Todos prestam atenção à música. A<br />
ladainha termina e logo o cantador puxa uma chula. O coro começa a respon<strong>de</strong>r ao cantar do<br />
cantador e o atabaque inicia sua marcação. Após a chula, canta-se um corrido e então os<br />
jogadores po<strong>de</strong>m jogar. Quem está tocando o berimbau Gunga inclina um pouco o instrumento<br />
para baixo, em direção ao centro da <strong>roda</strong>, num gesto que simboliza permissão para os dois<br />
jogadores começarem a jogar. Geralmente, o primeiro movimento dos capoeiristas em jogo é<br />
carregado <strong>de</strong> significados ocultos, uma saudação, um pedido <strong>de</strong> proteção, momento <strong>de</strong><br />
concentração. Os jogadores levam suas cabeças e mãos ao chão, em baixo do Gunga, e levantam<br />
suas pernas, realizando um movimento que exige força e equilíbrio. A fotografia a seguir registra<br />
Mestre Toninho Vargas (BH) e Mestre Jaime <strong>de</strong> Mar Gran<strong>de</strong> (BA) realizando uma saudação ao<br />
―pé do berimbau‖.<br />
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