roda de capoeira: rito espetacular - Biblioteca Digital de Teses e ...
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Há jogos <strong>de</strong> <strong>capoeira</strong> em que os jogadores encenam ou simulam situações. Acontece, por<br />
exemplo, <strong>de</strong> um capoeirista fingir que se machucou com um golpe <strong>de</strong> seu parceiro ou adversário 7 .<br />
Assim, o jogador que supostamente feriu o outro se aproxima para ajudá-lo, quando, então, é<br />
pego <strong>de</strong> surpresa pelo que simula o ferimento e este, <strong>de</strong>ssa maneira, consegue colocar o jogo a<br />
seu favor. Há casos em que os jogadores simulam portar navalhas para cortar seu parceiro. Breda<br />
chama essa simulação <strong>de</strong> teatralida<strong>de</strong>:<br />
A tradicional Capoeira Angola apresenta inúmeros elementos <strong>de</strong> teatralização.<br />
Expressões faciais fingindo medo, raiva, prazer, alegria ou surpresa, gestos <strong>de</strong> mãos ou<br />
pés distraindo a atenção do adversário ou tentando induzi-lo ao erro, mimetismos <strong>de</strong><br />
movimentos <strong>de</strong> animais, imitações, canções gestualizadas, manifestações <strong>de</strong><br />
religiosida<strong>de</strong> e até transes mediúnicos (verda<strong>de</strong>iros ou simulados) são elementos<br />
constitutivos do fascinante universo da Angola. (1999, p. 13).<br />
Esse aspecto lúdico da <strong>capoeira</strong> também é observado por Mata (2001):<br />
Entrar numa <strong>roda</strong> é incorporar um personagem, improvisar diante <strong>de</strong> uma platéia atenta à<br />
picardia do espetáculo. O corpo relaxado balança <strong>de</strong> um lado para o outro, meio bêbado<br />
e molenga, mas todos os sentidos estão atentos aos elementos que compõem a<br />
apresentação. De repente, os músculos se retesam para um movimento mais brusco e<br />
rápido, e o relaxamento dá lugar a uma atitu<strong>de</strong> mais agressiva. Muda-se<br />
instantaneamente <strong>de</strong> presa fácil a predador, sempre com um sorriso e ludicida<strong>de</strong>. (2001,<br />
p.88).<br />
Além <strong>de</strong>sse significado lúdico e <strong>espetacular</strong>, Cascudo (1962) diz que mandinga significa<br />
feitiço, <strong>de</strong>spacho, mau-olhado. A mandinga na <strong>capoeira</strong> também toma uma conotação mais ligada<br />
à malícia. Nestor Capoeira (1985) explica que a malícia ―é o que faz um capoeirista prever o que<br />
o outro vai fazer e, por outro lado, enganá-lo fingindo que se vai fazer algo quando na verda<strong>de</strong><br />
está se armando uma arapuca.‖ (1985, p. 90).<br />
Quando o capoeirista começa a jogar em um estado maior <strong>de</strong> alerta, sem <strong>de</strong>monstrar<br />
preocupação, com o corpo leve, está começando a saber usar essa mandinga. O jogo é analisado<br />
pelo jogador, toda a sua movimentação passa a ter um porquê. Não há <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>snecessário. Ao<br />
notar o jogo <strong>de</strong> um mestre com um aluno iniciante, percebemos que o mestre domina a situação<br />
sem ao menos ter que se movimentar muito, enquanto o aluno ainda não se encontrou <strong>de</strong>ntro do<br />
jogo. Nestor Capoeira (1985) diz que este conhecimento vem para todos os capoeiristas, em<br />
7 Usamos indistintamente os dois termos para <strong>de</strong>signar o jogador que joga com o outro jogador.<br />
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