Governo Electrónico - Universidade do Minho

96 Capítulo 3: Fundamentação e Descrição do Estudo
Perspectivando a implementação da interoperabilidade como um processo de mudança, e à
luz das ideias e princípios defendidos e propostos por Kurt Lewin 67 para a gestão do processo de
mudança, considera-se, neste trabalho, que o fenómeno de criação de interoperabilidade pode ser
visto como estando sujeito à acção de um ―campo de forças‖, no qual vários factos actuam e
interagem, influenciando e condicionando a sua concretização.
Segundo Lewin [1946, p. 338], um passo fundamental quando se pretende empreender e
concretizar uma mudança, passa pelo entendimento e compreensão do ―campo de forças‖, ou seja,
do conjunto de factos coexistentes e interdependentes, que num determinado momento actuam
sobre a pessoa, grupo, organização ou fenómeno que está envolvido e que é alvo do processo de
mudança.
De acordo com o autor, o conjunto destas forças é complexo e intrincado, envolvendo,
simultaneamente, forças facilitadoras ou promotoras da mudança — driving forces — e forças
limitadoras ou de bloqueio dessa mudança — restraining forces [Lewin 1946; 1947]. As primeiras
podem ser vistas como oportunidades e pontos fortes que tendem a ―empurrar‖ para a mudança;
as segundas podem ser vistas como riscos, fraquezas ou ameaças que constituem obstáculos
físicos ou sociais que tendem a opor-se à ocorrência da mudança. Neste sentido, Lewin vê a
mudança como algo que resulta da ―luta‖ entre um conjunto de forças facilitadoras, que actuam
sobre o fenómeno procurando desequilibrar e alterar o seu statu quo, e um conjunto de forças
limitadoras, que actuam sobre o fenómeno tentando manter o seu statu quo [Pojasek 2001].
Na perspectiva de Lewin, se se conseguisse identificar e estabelecer a relevância de cada
uma das forças existentes no campo, seria possível compreender quer o conjunto de elementos que
tendia a manter o estado actual, quer o conjunto de elementos que tendia a modificar esse estado,
tornando-se, assim, mais fácil determinar qual a forma mais conveniente de actuar e de intervir com
vista à concretização de uma mudança [Burnes 2004].
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Kurt Lewin é considerado na literatura como o pai intelectual das teorias contemporâneas da ciência de comportamento aplicado, da
action research e da mudança planeada [Schein 1982].
Com base num conjunto de trabalhos e experiências conduzidos na altura da II Guerra Mundial, com o intuito de investigar e
compreender os hábitos e os comportamentos de grupos de consumidores, com especial ênfase para a forma como esses hábitos e
comportamentos poderiam ser modificados, Lewin desenvolveu e propôs um conjunto de teorias, modelos e instrumentos, nomeadamente a
Teoria de Campo (Field Theory ) , o modelo de mudança em 3 passos (3-Step model ) e a action research, que no seu conjunto descrevem e
corporizam uma abordagem planeada à mudança [Burnes 2004]. Esta abordagem dominou durante várias décadas a área da teoria e
prática da gestão de mudança [Burnes 2004].
Embora muitas das experiências do autor tenham sido desenvolvidas com o intuito de perceber o processo de mudança de
comportamentos de indivíduos e grupos, os seus princípios são dirigidos para o estudo generalizado de qualquer fenómeno de mudança.
A importância das contribuições de Kurt Lewin tem sido reconhecida em diversas áreas científicas, nomeadamente no campo da ciência
social, da psicologia, da psicologia social, do desenvolvimento organizacional, da gestão de processos e da gestão da mudança, sendo
notória a sua influência e presença nos trabalhos de autores como, por exemplo, Argyris [1990], Krüger [1996] e Schein [1996].