Governo Electrónico - Universidade do Minho

Capítulo 3: Fundamentação e Descrição do Estudo 89
Embora seja inegável a importância assumida pela componente tecnológica (sendo os
sistemas que se pretendem pôr a interoperar suportados por tecnologias, a componente tecnológica
é completamente incontornável), julga-se, em sintonia com o pensamento de Oliver Ryan, 66 segundo
o qual ―em última análise, a interoperabilidade resulta do estabelecimento de acordos entre
pessoas. Estabelecido e assumido um acordo para ser interoperável, a tecnologia pode ajudar a
implementar esse acordo, mas nenhuma quantidade de tecnologia permite alcançar verdadeira
interoperabilidade se não existirem acordos entre as pessoas‖, que a componente humana e social
deste fenómeno não deva ser ignorada. Esta opinião é também partilhada por Dodd et al. [2003,
p. 12], que consideram que a interoperabilidade começa, em primeiro lugar, com as pessoas. Para
os autores, ―por vezes, o simples acto de conseguir reunir as pessoas certas numa mesma sala faz
maravilhas para a interoperabilidade, para a confiança e para a partilha de dados‖.
Pressuposto 2 – Administração Pública: um contexto sui generis
O segundo pressuposto, que orientou e influenciou o trabalho realizado neste projecto de
investigação, está relacionado com a forma como é perspectivado o contexto da Administração
Pública. A este respeito, a convicção partilhada pela autora é que a Administração Pública constitui
um domínio de actuação sui generis, que exibe um conjunto de especificidades que podem afectar
e influenciar a forma como se desenrolam e manifestam determinados fenómenos no seu seio.
Apesar das opiniões e argumentos avançados por autores como, por exemplo, Murray
[1975], para quem as actividades de gestão das organizações no contexto público e no contexto
privado enfrentam desafios e restrições similares, são frequentes os trabalhos que apontam a
existência de múltiplas diferenças entre estes contextos e que reclamam a importância de
contemplar essas diferenças no estudo e prática das actividades realizadas em cada um deles
[Adams et al. 2003; Bozeman e Bretschneider 1986; Bretschneider 1990; Rainey et al. 1976; Scott
et al. 2004]. Refira-se, contudo, que muitos dos autores que partilham a opinião de que existem
diferenças entre estes contextos não rejeitam a possibilidade de utilizar no contexto da
Administração Pública teorias, modelos e práticas que tenham sido desenvolvidos e utilizados no
contexto privado; o que sublinham é a necessidade de que tal seja feito não através de um processo
66 Oliver Ryan foi, até Abril de 2008, director da Reach — agência governamental irlandesa responsável pela modernização administrativa,
particularmente pelo estabelecimento e promoção de uma estratégia de integração de serviços públicos e pelo desenvolvimento e
implementação do governo electrónico na Irlanda. A partir dessa data, as funções da Reach foram formalmente assumidas pelo
Departamento de Finanças Irlandês, sendo responsabilidade específica da Technology Policy Divison.