a poluição atmosférica em cuiabá-mt - Departamento de Geografia ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO<br />
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS<br />
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA<br />
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA<br />
A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM CUIABÁ-MT: A<br />
ÁGUA DE CHUVA, DEPOSIÇÃO SECA E MATERIAL<br />
PARTICULADO INALÁVEL<br />
RODRIGO MARQUES<br />
ORIENTADORA: PROFª DRA. CLEUSA APARECIDA<br />
GONÇALVES PEREIRA ZAMPARONI<br />
CUIABÁ/MT<br />
DEZEMBRO/2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO<br />
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS<br />
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA<br />
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA<br />
A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA EM CUIABÁ-MT: A<br />
ÁGUA DE CHUVA, DEPOSIÇÃO SECA E MATERIAL<br />
PARTICULADO INALÁVEL<br />
RODRIGO MARQUES<br />
Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />
apresentada ao Programa <strong>de</strong> Pós<br />
Graduação <strong>em</strong> <strong>Geografia</strong>, Instituto<br />
<strong>de</strong> Ciências Humanas e Sociais,<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato<br />
Grosso, como parte dos<br />
requisitos para obtenção do título<br />
<strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong> <strong>Geografia</strong>.<br />
ORIENTADORA: PROFª DRA. CLEUSA APARECIDA<br />
GONÇALVES PEREIRA ZAMPARONI<br />
CUIABÁ/MT<br />
DEZEMBRO/2006
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
M357p Marques, Rodrigo<br />
A <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá-MT: a água<br />
<strong>de</strong> chuva, <strong>de</strong>posição seca e material particulado<br />
inalável / Rodrigo Marques. – 2006.<br />
x, 113p. : il. ; color.<br />
Dissertação (mestrado) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
<strong>de</strong> Mato Grosso, Instituto <strong>de</strong> Ciências Humanas e<br />
Sociais, Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Geografia</strong>, 2006.<br />
“Orientação: Profª Drª Cleusa Aparecida<br />
Gonçalves Pereira Zamparoni”.<br />
Índice para Catálogo Sist<strong>em</strong>ático<br />
1. Poluição <strong>atmosférica</strong> – Cuiabá (MT)<br />
2. Chuva ácida<br />
3. Material particulado inalável<br />
4. Água <strong>de</strong> chuva – Análise química<br />
CDU – 504.3.054(817.2)
“sonho que se sonha só, é<br />
só um sonho que se sonha<br />
só, mas sonho que se sonha<br />
junto é realida<strong>de</strong>”<br />
Raul Seixas
AGRADECIMENTOS<br />
À Deus pela força e corag<strong>em</strong> que me <strong>de</strong>u para alcançar este objetivo.<br />
À minha mãe (Sr.ª Neuza), meus irmãos (João Paulo e Vivianne), meu pai<br />
(Sr. João, “in m<strong>em</strong>orian”) e familiares pela paciência e apoio às minhas<br />
ativida<strong>de</strong>s.<br />
À Lisa, pela paciência e apoio durante o mestrado.<br />
À Prof.ª Dr.ª Cleusa, por ter aceitado ser minha orientadora, mesmo sabendo<br />
dos <strong>de</strong>safios que viriam pela frente, e pelo incentivo dado sobre a t<strong>em</strong>ática<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o 2° s<strong>em</strong>estre da graduação.<br />
Ao Prof. Dr. Edinaldo pelo apoio dado, além <strong>de</strong> ter cedido estrutura física<br />
para a parte analítica e apoio financeiro para os trabalhos <strong>em</strong> São Paulo para<br />
a execução dos trabalhos. S<strong>em</strong> este apoio, não seria possível chegar aos<br />
resultados alcançados.<br />
À Prof.ª Dr.ª Ana Brandão, por ter aceitado ser examinadora nesta banca e<br />
pelas colaborações para a melhora <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
À Prof.ª Dr.ª Adalgiza Fornaro (IAG/USP) por todo apoio dado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nos<br />
conhec<strong>em</strong>os durante a Acid Rain Conference 2005, e pela viabilização dos<br />
trabalhos <strong>em</strong> São Paulo, inclusive tendo me hospedado <strong>em</strong> sua casa,<br />
agra<strong>de</strong>cimento que estendo ao seu esposo Prof. Dr. Mauro A. La-Scalea.<br />
A Aparecida e a Sumaia, bolsistas do Laboratório <strong>de</strong> Metais Pesados (<strong>de</strong>pt.°<br />
<strong>de</strong> Química/UFMT) pela realização das análises e coleta dos dados quando<br />
precisei me ausentar.
Aos Técnicos da USP: Rosana (IAG), Ana Lúcia (IF) e Fabiano (IAG) pelo<br />
acompanhamento nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesag<strong>em</strong> no Laboratório <strong>de</strong> Balanças do<br />
Instituto <strong>de</strong> Física da USP.<br />
Aos funcionários da CETESB, principalmente ao Sr. Carlos Roberto Machi, a<br />
Sr.ª Maria Helena R. B. Martins, e Jesuíno Romano, pela acolhida e<br />
treinamento para operacionalizar o amostrador dicotômico.<br />
Ao colega MSc. Aléscio Afachim (INESUL/Londrina) pela troca <strong>de</strong><br />
informações, e também pelo auxílio na elaboração do coletor <strong>de</strong> chuva<br />
utilizado.<br />
Aos acadêmicos Waldinei, Lucimar e Wanessa pela realização da coleta da<br />
<strong>de</strong>posição seca.<br />
À PROVIVAS, e aos Srs. Carlos Augusto Abicalil e Ságuas Moraes <strong>de</strong><br />
Souza, pelo incentivo e <strong>em</strong>penho institucional que propiciou nossa<br />
participação na 7 th International Conference on Acid Deposition (Acid rain<br />
2005) <strong>em</strong> Praga (República Tcheca).<br />
Aos amigos Ângelo e Emerson, s<strong>em</strong>pre solidários e colaboradores nas<br />
dificulda<strong>de</strong>s encontradas durante o mestrado.<br />
Aos professores e servidores da pós-graduação, <strong>em</strong> especial: Peter, Gilda,<br />
Ivaniza e Regina. Aos colegas Hugo, Simone, Jully, Cleire, Suzethe e Gizelle.<br />
À CAPES pela bolsa <strong>de</strong> estudos durante o mestrado.<br />
A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a<br />
realização <strong>de</strong>ste trabalho, meus sinceros agra<strong>de</strong>cimentos.
RESUMO<br />
MARQUES, Rodrigo. A <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá – MT: água <strong>de</strong> chuva,<br />
<strong>de</strong>posição seca e material particulado inalável. Orientadora: Cleusa Aparecida<br />
Gonçalves Pereira Zamparoni. Cuiabá: UFMT/ICHS; CAPES, 2006. Dissertação<br />
(Mestrado <strong>em</strong> <strong>Geografia</strong>).<br />
Com o passar das décadas se acentuou a preocupação com as<br />
probl<strong>em</strong>áticas relacionadas à <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong>, sobretudo nas regiões mais<br />
industrializadas. O presente trabalho teve como objetivo analisar a <strong>poluição</strong><br />
<strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá-MT a partir da análise da composição da água <strong>de</strong> chuva,<br />
<strong>de</strong>posição seca e material particulado inalável. Foi instalado um coletor <strong>de</strong> chuva<br />
manual no Campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso, on<strong>de</strong> se realizou a<br />
coleta <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva entre 20/02/2006 a 02/07/2006, totalizando 38 amostras;<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca entre 12/08/2006 e 30/09/2006, totalizando 30 amostras.<br />
Também foi instalado um amostrador dicotômico on<strong>de</strong> foi realizada a amostrag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> material particulado inalável (MP10) entre 02/09/2006 e 02/11/20006, num total<br />
<strong>de</strong> 60 dias amostrados. Verificou-se nos resultados que mesmo ocorrendo chuvas<br />
com pH inferior a 5,6, o que caracteriza a chuva ácida, a concentração dos<br />
poluentes existentes nas chuvas não é suficiente para causar graves<br />
conseqüências para o ambiente, sendo assim consi<strong>de</strong>rada uma área ainda não<br />
impactada pelas chuvas ácidas. A análise da <strong>de</strong>posição seca ficou limitada <strong>em</strong><br />
função <strong>de</strong> não ter sido possível a análise química das amostras, mas os valores<br />
<strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> indicam que as substâncias predominantes sejam alcalinas,<br />
oriundas possivelmente das queimadas. Em relação às concentrações <strong>de</strong> material<br />
particulado inalável se constatou que há uma consi<strong>de</strong>rável diferença quando<br />
comparados os dados do final da estação chuvosa com os do início da estação<br />
chuvosa. Na estação seca houve o mesmo número <strong>de</strong> dias com a qualida<strong>de</strong> do ar<br />
regular e boa, enquanto que na estação chuvosa predominou a qualida<strong>de</strong> do ar<br />
boa. Um fator interessante foi como o ritmo <strong>de</strong> vida da cida<strong>de</strong> influenciou nos<br />
resultados, pois nos finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana foram encontradas as concentrações mais<br />
baixas. A falta <strong>de</strong> um monitoramento constante e uma série maior <strong>de</strong> dados<br />
dificulta uma melhor compreensão sobre como a <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> po<strong>de</strong><br />
interferir no cotidiano das pessoas. As três técnicas utilizadas neste trabalho<br />
pod<strong>em</strong> contribuir para a instalação <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> monitoramento da<br />
qualida<strong>de</strong> do ar e das chuvas nesta cida<strong>de</strong>, que passa atualmente por uma série<br />
<strong>de</strong> transformações econômicas e sociais.<br />
Palavras- chave: <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong>, chuva ácida, material particulado inalável<br />
i
ABSTRACT<br />
MARQUES, Rodrigo. A <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá – MT: água <strong>de</strong> chuva,<br />
<strong>de</strong>posição seca e material particulado inalável. Orientadora: Cleusa Aparecida<br />
Gonçalves Pereira Zamparoni. Cuiabá: UFMT/ICHS; CAPES, 2006. Dissertação<br />
(Mestrado <strong>em</strong> <strong>Geografia</strong>).<br />
After many <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s, preoccupation about atmospheric pollution probl<strong>em</strong>s<br />
has been accented, principally in the industrialized areas. This research intends to<br />
analyze the atmospheric pollution in Cuiabá City, by rainwater composition<br />
analysis, dry <strong>de</strong>position and particulate matter (PM10) in the 2006 year. A manual<br />
rainwater collector has been installed in the University Fe<strong>de</strong>ral of Mato Grosso<br />
area, where rainwater was collected between February 20 th to July 2 nd , totalizing<br />
38 rainwater samples; and dry <strong>de</strong>position between August 12 th to Sept<strong>em</strong>ber 30 th ,<br />
totalizing 30 dry <strong>de</strong>position samplers. Has been installed a dichotomous samplers<br />
in the University Fe<strong>de</strong>ral of Mato Grosso area, where was collected particulate<br />
matter (PM10) between Sept<strong>em</strong>ber 2 nd to Nov<strong>em</strong>ber 2 nd , a total of 60 samplers. In<br />
the results, has been i<strong>de</strong>ntified that same with rainwater pH lower than 5,6, what<br />
characterize acid rain, the pollutants concentration are not enough to provoke<br />
serious consequences for environmental, being consi<strong>de</strong>r an area that was not<br />
impacted by acid rain. Dry <strong>de</strong>position analyses has been limited because was not<br />
possible to analyze ch<strong>em</strong>istry composition, but analyzing pH and conductivity<br />
electric values is possible to believe that this <strong>de</strong>position has alkaline substances,<br />
probably from biomass burning. Consi<strong>de</strong>ring particulate matter <strong>de</strong>position was<br />
possible to i<strong>de</strong>ntify a significant difference between dry and wet season. During dry<br />
season the numbers day with regular air quality was the same that good air quality<br />
while that in the wet season it predominates good air quality. An interesting factor<br />
was to analyze how City Life’s Rhythm has been influenced in the results, because<br />
during weekends has been find lower concentrations. The lack of a bigger and<br />
constant data series about Cuiabá City atmospheric pollution makes difficult to<br />
un<strong>de</strong>rstand better about air pollution can influence life’s people. The Three<br />
techniques that have been used in this work can contribute for a monitoring<br />
program of the air end rainwater quality in this city, that passes for a series of<br />
economic and socials transformations.<br />
Key-words: atmospheric pollution, acid rain, inhalable particulate matter<br />
ii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />
IAP - Instituto Ambiental do Paraná<br />
EPA - U. S. Environmental Protection Agency<br />
CONAMA - Conselho Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />
CETESB -<br />
Companhia <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Saneamento Ambiental do<br />
Estado <strong>de</strong> São Paulo<br />
OMS - Organização Mundial da Saú<strong>de</strong><br />
CIOSP -<br />
Centro Integrado <strong>de</strong> Operações <strong>de</strong> Segurança Pública do<br />
Estado <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
DNPM - <strong>Departamento</strong> Nacional <strong>de</strong> Produção Mineral<br />
SEPLAN - Secretaria <strong>de</strong> Planejamento<br />
IBGE - Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Geografia</strong> e Estatística<br />
DETRAN/MT - <strong>Departamento</strong> Estadual <strong>de</strong> Transito <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
IPDU - Instituto <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento Urbano <strong>de</strong> Cuiabá<br />
PIN - Programa <strong>de</strong> Integração Nacional<br />
IF/USP - Instituto <strong>de</strong> Física da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />
IAG/USP -<br />
ICET/UFMT -<br />
Instituto <strong>de</strong> Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />
Instituto <strong>de</strong> Ciências Exatas e da Terra/ Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />
<strong>de</strong> Mato Grosso<br />
UFMT - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
INPE - Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas Espaciais<br />
ABNT - Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas<br />
iii
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1 – Processo <strong>de</strong> formação dos poluentes primários e secundários......6<br />
Figura 2 – Esqu<strong>em</strong>a da influência dos ventos na dispersão dos poluentes. .13<br />
Figura 3– Fontes naturais e antropogênicas dos óxidos <strong>de</strong> enxofre e ciclo do<br />
enxofre na natureza. ...............................................................................................16<br />
Figura 4– Fontes naturais e antropogênicas dos óxidos <strong>de</strong> nitrogênio no<br />
ciclo do nitrogênio na natureza...........................................................................17<br />
Figura 5 - Mapa geomorfológico <strong>de</strong> Mato Grosso..................................................41<br />
Figura 6 - Municípios com maior produção (toneladas) <strong>de</strong> calcário no ano <strong>de</strong><br />
2003. ............................................................................................................................43<br />
Figura 7 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> algodão no<br />
ano <strong>de</strong> 2004. ..............................................................................................................44<br />
Figura 8 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> milho no ano<br />
<strong>de</strong> 2004. ......................................................................................................................45<br />
Figura 9 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> soja no ano <strong>de</strong><br />
2004. ............................................................................................................................45<br />
Figura 10 – Mapa da Área <strong>de</strong> Estudo .........................................................................48<br />
Figura 11 – Visão externa e interna do coletor <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva.....................51<br />
Figura 12 – Curvas <strong>de</strong> calibração para os parâmetros analisados na<br />
composição da água da chuva. ...........................................................................53<br />
Figura 13 – Dados das curvas <strong>de</strong> calibração utilizadas nas análises dos<br />
parâmetros. ...............................................................................................................54<br />
Figura 14 – Curva <strong>de</strong> Calibração do Fluxo Total do Amostrador Dicotômico..<br />
......................................................................................................................................58<br />
Figura 15 – Curva <strong>de</strong> Calibração do Fluxo Grosso do Amostrador Dicotômico<br />
......................................................................................................................................58<br />
iv
Figura 16 – Amostrador Dicotômico durante amostrag<strong>em</strong> no Campus da<br />
UFMT (02/09 a 02/11 <strong>de</strong> 2006)...............................................................................60<br />
Figura 17 – Variação dos valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica para o<br />
período analisado entre 21/02/2006 a 02/07/2006. ..........................................63<br />
Figura 18 – Variação da CMV para os valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
(μS/cm) para os meses entre fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006................................64<br />
Figura 19 – Variação da concentração (ppb) dos íons fluoreto, cloreto, nitrito<br />
e fosfato nas 39 amostras coletadas entre 21/02/2006 a 02/07/2006.........65<br />
Figura 20 – Variação da CMV mensal <strong>em</strong> Cuiabá-MT para pH e para os íons<br />
cloreto e nitrito.........................................................................................................66<br />
Figura 21 – Variação da CMV mensal <strong>em</strong> Cuiabá-MT para condutivida<strong>de</strong><br />
elétrica (μS/cm) e concentração dos íons fluoreto, cloreto e nitrito, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 a 02/07/2006. ...................................................................67<br />
Figura 22 – Variação da concentração (ppb) <strong>de</strong> nitrato e sulfato nas amostras<br />
<strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
......................................................................................................................................68<br />
Figura 23 – Variação da CMV mensal <strong>de</strong> pH e da concentração (ppb) <strong>de</strong><br />
sulfato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
21/02/2006 e 02/07/2006..........................................................................................69<br />
Figura 24 – Variação da CMV mensal para condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) e<br />
concentração (ppb) <strong>de</strong> sulfato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong><br />
Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006. ......................................70<br />
Figura 25 – Variação da CMV mensal <strong>de</strong> pH e da concentração (ppb) <strong>de</strong><br />
sulfato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
21/02/2006 e 02/07/2006..........................................................................................71<br />
Figura 26 – Variação da CMV mensal para condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) e<br />
concentração (ppb) <strong>de</strong> nitrato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong><br />
Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006. ......................................71<br />
Figura 27 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e os valores obtidos <strong>de</strong> pH para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong><br />
Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006. ......................................73<br />
v
Figura 28 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e os valores obtidos <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) para as amostras<br />
<strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
......................................................................................................................................74<br />
Figura 29 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e a concentração <strong>de</strong> sulfato (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006....................75<br />
Figura 30 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e a concentração <strong>de</strong> cloreto (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006....................75<br />
Figura 31 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e a concentração <strong>de</strong> fluoreto (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006....................76<br />
Figura 32 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e a concentração <strong>de</strong> nitrato (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006....................77<br />
Figura 33 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento<br />
e a concentração <strong>de</strong> nitrito (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006....................78<br />
Figura 34 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica obtidos<br />
nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
14/08/2006 e 28/09/2006..........................................................................................85<br />
Figura 35 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica obtidos<br />
nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
14/08/2006 e 28/09/2006..........................................................................................86<br />
Figura 36 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH para cada dia da s<strong>em</strong>ana obtidos<br />
nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
14/08/2006 e 28/09/2006..........................................................................................87<br />
Figura 37 – Variação entre os dados <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica para cada dia<br />
da s<strong>em</strong>ana obtidos nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006. ...................................................................87<br />
Figura 38 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH conforme a direção <strong>de</strong> vento<br />
predominante no dia da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT,<br />
no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006. .............................................................88<br />
vi
Figura 39 – Variação entre os dados <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica conforme a<br />
direção <strong>de</strong> vento predominante no dia da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição<br />
seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006. .....................89<br />
Figura 40 – Variação da concentração diária <strong>de</strong> MP10 para todo o período<br />
amostrado, <strong>de</strong> 02/09/2006 a 02/11/2006. ............................................................90<br />
Figura 41 – Filtro amostrado no 23° dia na estação seca ...................................94<br />
Figura 42 - Filtro amostrado no 58° dia na estação chuvosa ..............................94<br />
Figura 43 - Vista parcial da atmosfera <strong>de</strong> Cuiabá (campus UFMT) <strong>em</strong><br />
Set<strong>em</strong>bro 2006 (estação seca) .............................................................................95<br />
Figura 44 - Vista parcial da atmosfera <strong>de</strong> Cuiabá (campus UFMT) <strong>em</strong> Outubro<br />
<strong>de</strong> 2006 (estação chuvosa). ..................................................................................95<br />
Figura 45 – Variação da concentração média <strong>de</strong> material particulado inalável<br />
(μg/m 3 ), e qual a contribuição do particulado fino e grosso na<br />
composição total para todo o período amostrado, para o final da estação<br />
seca e o início da estação chuvosa....................................................................96<br />
Figura 46 – Variação da concentração média <strong>de</strong> material particulado inalável<br />
(μg/m 3 ) para cada dia da s<strong>em</strong>ana, durante todo o período amostrado, o<br />
final da estação seca e o início da estação chuvosa. ...................................97<br />
Figura 47 – Probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição normal dos dados para o final da<br />
estação seca (02/09/2006 a 02/10/2006).............................................................99<br />
Figura 48 – Probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Distribuição normal dos dados para o início da<br />
estação chuvosa (02/10/2006 a 02/11/2006)....................................................100<br />
Figura 49 – Boxplots dos dados do final da estação seca e do início da<br />
estação chuvosa....................................................................................................101<br />
vii
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 – Principais fontes <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> e poluentes.............................................8<br />
Tabela 2 – Valores-limite nacionais <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão aplicáveis ao SO2, NOx, COV<br />
e NH3 a cumprir até 2010. ......................................................................................11<br />
Tabela 3 – Índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar <strong>em</strong> função do material particulado<br />
atmosférico utilizado pela CETESB, com o significado <strong>de</strong> cada situação.<br />
......................................................................................................................................33<br />
Tabela 4 – Matriz <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Pearson e seus respectivos p-valores<br />
entre as variáveis pH (<strong>em</strong> concentração <strong>de</strong> H + ), condutivida<strong>de</strong> elétrica,<br />
volume <strong>de</strong> precipitação, nitrato e sulfato para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva do período estudado..................................................................................72<br />
Tabela 5 – Dados das CMV para cada variável <strong>em</strong> função da direção do vento<br />
predominante no evento chuvoso. .....................................................................79<br />
Tabela 6 – Comparativo entre os dados obtidos neste estudo com os<br />
registrados <strong>em</strong> outros lugares do Brasil ..........................................................80<br />
Tabela 7 – Comparativo entre os dados obtidos neste estudo com os<br />
registrados <strong>em</strong> outros lugares do mundo ........................................................81<br />
Tabela 8 – Concentração média volumétrica mensal dos íons e a sua<br />
respectiva concentração estimada <strong>de</strong> bicarbonato .......................................82<br />
Tabela 9 – Dados da concentração <strong>de</strong> material particulado inalável, situação<br />
da qualida<strong>de</strong> do ar para o dia amostrado <strong>em</strong> função da concentração <strong>de</strong><br />
MP10, dia da s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> que ocorreu a amostrag<strong>em</strong>, ocorrência ou não<br />
<strong>de</strong> chuvas e registros <strong>de</strong> queimadas pelo satélite NOAA............................91<br />
Tabela 10 - Análise <strong>de</strong> variância entre os dados <strong>de</strong> material particulado<br />
amostrados no final da estação seca e início da estação chuvosa <strong>de</strong><br />
2006 <strong>em</strong> Cuiabá-MT...............................................................................................100<br />
viii
ÍNDICE<br />
RESUMO.................................................................................................................. i<br />
ABSTRACT............................................................................................................. ii<br />
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS................................................................ iii<br />
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. iv<br />
LISTA DE TABELAS.......................................................................................................viii<br />
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1<br />
2. REVISÃO CONCEITUAL............................................................................. 4<br />
2.1. Poluição <strong>atmosférica</strong>.................................................................................. 5<br />
2.2. Os ventos e a dispersão dos poluentes ................................................. 11<br />
2.3. Chuva ácida .............................................................................................. 14<br />
2.4. A acidificação das chuvas no mundo..................................................... 18<br />
2.5. A acidificação das chuvas no Brasil....................................................... 25<br />
2.6. Material particulado inalável.................................................................... 29<br />
2.7. Deposição seca ........................................................................................ 33<br />
2.8. Queimadas e saú<strong>de</strong> pública .................................................................... 35<br />
3. ÁREA DE ESTUDO.................................................................................... 39<br />
4. METODOLOGIA ........................................................................................ 49<br />
ix
4.1. Coleta <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva.......................................................................... 50<br />
4.1.1 Análise química da água da chuva ......................................................... 53<br />
4.1.2 Cálculos e estatísticas da água <strong>de</strong> chuva .............................................. 54<br />
4.2. Coleta <strong>de</strong> material seco <strong>de</strong>positado........................................................ 56<br />
4.3. Coleta <strong>de</strong> material particulado ................................................................ 57<br />
4.3.1. Cálculos e pesag<strong>em</strong> do material particulado inalável........................... 60<br />
5.1.1 Número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva e sua influência nos resultados ............... 72<br />
5.1.2 Comparação das concentrações dos parâmetros analisados e cálculos<br />
estimados para a concentração <strong>de</strong> bicarbonato (HNO3-)................................ 80<br />
5.2 Resultados analíticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca .............................................. 84<br />
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS .......................................... 102<br />
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 105<br />
x
1. INTRODUÇÃO<br />
No passado geológico da Terra, as erupções vulcânicas <strong>em</strong>anavam uma<br />
gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partículas e poluentes para a atmosfera, o que<br />
provavelmente provocava alguns efeitos posteriores. Com o surgimento do<br />
hom<strong>em</strong>, aparece também uma nova fonte <strong>em</strong>issora <strong>de</strong> poluentes para a<br />
atmosfera, po<strong>de</strong>ndo-se mencionar as fogueiras e queimadas realizadas pelas<br />
civilizações antigas, mas que teve o seu auge, sobretudo após o invento da<br />
máquina a vapor. Depois <strong>de</strong>ste feito, constatou-se que as <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> gases<br />
poluentes aumentaram muito, tanto que a partir <strong>de</strong>ste período, a <strong>poluição</strong><br />
<strong>atmosférica</strong> começou a ser tratada como questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. Neste<br />
momento verifica-se como o hom<strong>em</strong> é capaz <strong>de</strong> intervir no meio natural, alterando<br />
inclusive a composição <strong>atmosférica</strong> local. Os estudos sobre a aci<strong>de</strong>z das chuvas<br />
estão mais concentrados, principalmente, nas regiões com alto grau <strong>de</strong><br />
industrialização, on<strong>de</strong> se observa um efeito mais visível do resultado da<br />
interferência humana sobre o ambiente. Quando se trata dos estudos sobre<br />
material particulado inalável, verifica-se também que há uma preocupação maior<br />
nas regiões metropolitanas, on<strong>de</strong> se constata um elevado número <strong>de</strong> veículos<br />
automotores circulando, e conseqüent<strong>em</strong>ente queimando combustíveis fósseis,<br />
além <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> poluentes na forma <strong>de</strong> material particulado<br />
<strong>em</strong>itidas nos parques industriais.<br />
Ao discutir a relação do hom<strong>em</strong> com o ambiente, po<strong>de</strong>-se refletir sobre um<br />
processo <strong>de</strong> causa e efeito direto, ou seja, o hom<strong>em</strong> interfere na dinâmica da<br />
natureza, e esta alteração po<strong>de</strong> provocar algum <strong>de</strong>sequilíbrio e retornar sobre a<br />
própria socieda<strong>de</strong> com efeitos negativos (Mendonça, 2000). Foi constatado que a<br />
<strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>de</strong>spejou, sobre a superfície, chuvas ácidas que já <strong>de</strong>struiu<br />
florestas européias além <strong>de</strong> boa parte da vida lacustre na Suécia e Noruega na<br />
década <strong>de</strong> 70 (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003). Outro grave probl<strong>em</strong>a é que a<br />
1
população que respira um ar com substâncias tóxicas, po<strong>de</strong> apresentar sérios<br />
prejuízos à sua saú<strong>de</strong>, principalmente, dos idosos e crianças. Des<strong>de</strong> o início do<br />
século passado, as pesquisas na área da saú<strong>de</strong> se voltaram a analisar a relação<br />
entre <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> oriunda <strong>de</strong> automóveis e indústrias com o aumento nas<br />
taxas <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> nos habitantes dos países ricos, e por este<br />
motivo, pouco se estudou os efeitos da queima <strong>de</strong> biomassa na saú<strong>de</strong> humana.<br />
No entanto, a queima <strong>de</strong> biomassa é a principal fonte <strong>de</strong> energia doméstica nos<br />
países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Nas últimas décadas o aumento dos focos <strong>de</strong><br />
queimadas <strong>em</strong> vários pontos <strong>de</strong> florestas tropicais do mundo, como Bornéu,<br />
Tailândia, Indonésia e Brasil (Mato Grosso, Pará, Roraima), foram s<strong>em</strong>pre<br />
relacionados com o <strong>de</strong>smatamento, entretanto, poucos estudos se voltam sobre<br />
quais as conseqüências para a população que habita estas áreas (Arbex et. al.,<br />
2004). Em Cuiabá-MT há poucos estudos que relacion<strong>em</strong> a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes<br />
atmosféricos provenientes das queimadas, veículos automotores e indústrias com<br />
a composição das chuvas e com o material particulado inalável existente. O<br />
objetivo <strong>de</strong>ste trabalho foi à análise da <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá, a partir do<br />
monitoramento da composição da água da chuva, da <strong>de</strong>posição seca e da<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material particulado existentes <strong>em</strong> Cuiabá <strong>de</strong> modo a inferir os<br />
prováveis reflexos <strong>de</strong>sta interação hom<strong>em</strong>-ambiente na saú<strong>de</strong> da população, b<strong>em</strong><br />
como diagnosticar os fatores que pod<strong>em</strong> influenciar nos resultados obtidos e quais<br />
políticas públicas pod<strong>em</strong> ser adotadas.<br />
Desta maneira, no segundo capítulo <strong>de</strong>ste trabalho t<strong>em</strong>-se uma revisão<br />
bibliográfica sobre a questão da <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong>, circulação <strong>atmosférica</strong>,<br />
acidificação das chuvas, <strong>de</strong>posição seca, material particulado inalável, queimadas<br />
e saú<strong>de</strong> pública, para situar o leitor sobre as questões conceituais abordadas no<br />
trabalho. No terceiro capítulo, traz-se a caracterização da área <strong>de</strong> estudo,<br />
caracterizando o local <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sta pesquisa e abordando as<br />
características físicas e humanas mais relevantes para o t<strong>em</strong>a estudado. No<br />
quarto capítulo, t<strong>em</strong>-se a metodologia e as técnicas utilizadas <strong>em</strong> todas as etapas<br />
2
da execução do trabalho. No quinto capítulo, se discute os resultados encontrados<br />
para cada técnica utilizada, indicando <strong>de</strong>ntro do possível os fatores que<br />
influenciaram nos resultados obtidos. Por fim, se encontram as consi<strong>de</strong>rações<br />
finais do trabalho e as propostas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>stas conclusões.<br />
3
2. REVISÃO CONCEITUAL<br />
Atualmente, a tendência é que cada vez mais a população se concentre nas<br />
cida<strong>de</strong>s. Assim, são nas cida<strong>de</strong>s, que Monteiro (2003, p.10) afirma ser “o local da<br />
mais efetiva interação entre o Hom<strong>em</strong> e a Natureza”. A consolidação das<br />
edificações, <strong>de</strong> parques industriais, do uso <strong>de</strong> veículos automotores e queima <strong>de</strong><br />
combustíveis fósseis, cria uma situação peculiar na atmosfera da cida<strong>de</strong>. Os<br />
efeitos pod<strong>em</strong> ser sentidos rapidamente, seja pela formação <strong>de</strong> ilhas <strong>de</strong> calor, <strong>em</strong><br />
função da retirada da vegetação para ce<strong>de</strong>r lugar a prédios, pavimentos asfálticos<br />
e <strong>de</strong> concreto; seja pelo efeito estufa <strong>em</strong> d<strong>em</strong>asia, com o aquecimento acima do<br />
normal da superfície terrestre; seja pelas enchentes urbanas, pois as chuvas<br />
torrenciais encontram uma superfície impermeável, e as águas não po<strong>de</strong>ndo<br />
infiltrar-se no solo, acabam por inundar gran<strong>de</strong>s áreas urbanas, sobretudo as mais<br />
baixas (on<strong>de</strong> geralmente se encontram as populações mais carentes). Castanho<br />
(1999) <strong>de</strong>screve que um centro urbano possui <strong>em</strong> sua atmosfera um sist<strong>em</strong>a<br />
complexo formado por gases e partículas poluentes com concentrações maiores<br />
que as existentes naturalmente na atmosfera, oriundas <strong>de</strong> <strong>em</strong>issores fixos ou<br />
móveis, ou formados por meio <strong>de</strong> reações químicas na própria atmosfera.<br />
As conseqüências dos poluentes na atmosfera, são causadas também pela<br />
<strong>em</strong>issão dos automóveis, indústrias, além das queimadas urbanas. Para Matias<br />
(1999), não se po<strong>de</strong> negar a favorável contribuição dos automóveis para a<br />
socieda<strong>de</strong>, entretanto, é muito claro que eles não trouxeram apenas benefícios.<br />
Todas estas ações humanas pod<strong>em</strong> retornar para a própria socieda<strong>de</strong> e<br />
provocar vários danos à saú<strong>de</strong>, afinal o hom<strong>em</strong> acaba por respirar um ar com<br />
concentrações <strong>de</strong> gases não a<strong>de</strong>quadas. Também po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong> danos<br />
ambientais, como é o caso das chuvas ácidas, quando gases poluentes<br />
(sobretudo os óxidos <strong>de</strong> nitrogênio e <strong>de</strong> enxofre) se combinam com o vapor d’água<br />
4
da atmosfera e se precipita, o que po<strong>de</strong> afetar os corpos d’água, a vegetação, o<br />
solo e também as edificações metálicas (que pod<strong>em</strong> sofrer com corrosão). A<br />
preocupação com a situação do clima urbano se faz necessária, pois o hom<strong>em</strong><br />
aumenta a cada ano sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interferência na interação da superfícieatmosfera,<br />
e assim, t<strong>em</strong>-se constatado uma relação <strong>de</strong> causa-efeito, on<strong>de</strong> as<br />
mudanças provocadas pelo hom<strong>em</strong> têm retornado sobre a própria socieda<strong>de</strong> com<br />
conseqüências negativas (Mendonça, 2000).<br />
2.1. Poluição <strong>atmosférica</strong><br />
A <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> começou a ser tratada como um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
pública após a revolução industrial quando se iniciou o atual sist<strong>em</strong>a urbano. Este<br />
processo teve início com a invenção da máquina a vapor <strong>em</strong> 1769, quando o<br />
hom<strong>em</strong> conseguiu obter energia mecânica para mover peças e máquinas s<strong>em</strong> o<br />
auxílio da força animal, e propiciou o <strong>de</strong>senvolvimento da técnica industrial<br />
inicialmente na Inglaterra (século XVIII), e na seqüência <strong>em</strong> outros países<br />
europeus (já no século XIX). Assim durante o capitalismo industrial, o uso<br />
indiscriminado <strong>de</strong>ssa nova técnica através da queima <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
carvão, lenha e óleo combustível <strong>de</strong>senvolveram uma atmosfera altamente<br />
carregada <strong>de</strong> fulig<strong>em</strong> e compostos <strong>de</strong> enxofre nos centros industriais. As <strong>em</strong>issões<br />
<strong>de</strong> poluentes para a atmosfera pod<strong>em</strong> ser <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> antropogênica, como são os<br />
casos das indústrias, veículos automotores, termelétricas, queimadas; ou naturais,<br />
como as <strong>em</strong>issões vulcânicas e os processos microbiológicos (Lora, 2002). O<br />
contato com esta atmosfera carregada <strong>de</strong> fuligens e compostos <strong>de</strong> enxofre era<br />
altamente nocivo ao sist<strong>em</strong>a respiratório das pessoas, b<strong>em</strong> como à saú<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />
geral daquelas pessoas que estavam expostas a estes poluentes.<br />
5
Conforme sua orig<strong>em</strong>, os poluentes são classificados <strong>em</strong> primários ou<br />
secundários (Lora, 2002; Matias, 1999):<br />
Primários – oriundos diretamente da fonte <strong>em</strong>issora, ou que são lançados<br />
diretamente na atmosfera, sendo geralmente produtos <strong>de</strong> processos industriais,<br />
gases resultantes <strong>de</strong> combustão interna <strong>de</strong> motores. Os óxidos <strong>de</strong> enxofre (SOx),<br />
<strong>de</strong> nitrogênio (NOx) e os particulados são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> poluentes primários.<br />
Secundários – se formam a partir <strong>de</strong> reações fotoquímicas entre os poluentes<br />
primários na atmosfera, ou a partir da reação <strong>de</strong>stes com as substâncias que<br />
exist<strong>em</strong> naturalmente na atmosfera. O ozônio é um ex<strong>em</strong>plo; o perioxiacetil nitrato<br />
(PAN), que se forma na reação dos óxidos <strong>de</strong> nitrogênio com os hidrocarbonetos<br />
na atmosfera; b<strong>em</strong> como o ácido sulfúrico e nítrico, que se formam a partir da<br />
reação dos óxidos <strong>de</strong> enxofre e nitrogênio com a água na atmosfera. A figura 1<br />
esqu<strong>em</strong>atiza a formação dos poluentes.<br />
Figura 1 – Processo <strong>de</strong> formação dos poluentes primários e secundários. Fonte: Lora (2002,<br />
p. 212).<br />
6
Atualmente, para se quantificar o nível <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> do ar, leva-se <strong>em</strong> conta<br />
os perigos que estes poluentes pod<strong>em</strong> oferecer para as plantas, corpos d’água, e<br />
também a fauna, e não somente os malefícios oferecidos à saú<strong>de</strong> humana, pois<br />
<strong>em</strong> alguns casos, <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> vegetal po<strong>de</strong> ser mais vulnerável a certas<br />
quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> poluentes do que próprio hom<strong>em</strong> (Tresmondi, 2003; Matias, 1999).<br />
Os principais poluentes do ar são (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003; Lora, 2002) os<br />
óxidos <strong>de</strong> enxofre (SOx), principalmente o dióxido <strong>de</strong> enxofre (SO2); os óxidos <strong>de</strong><br />
nitrogênio(NOx), principalmente o monóxido <strong>de</strong> nitrogênio (NO) e o dióxido <strong>de</strong><br />
nitrogênio (NO2); monóxido <strong>de</strong> carbono (CO) e dióxido <strong>de</strong> carbono (CO2); matéria<br />
particulada suspensa (MP) – incluindo o chumbo (Pb); o ozônio e os<br />
hidrocarbonetos (HC) –; que pod<strong>em</strong> causar vários probl<strong>em</strong>as para a saú<strong>de</strong><br />
humana como irritação e infecção respiratória, falta <strong>de</strong> ar, alteração da <strong>de</strong>fesa<br />
imunológica, náusea, dores <strong>de</strong> cabeça, doenças nos rins e prejuízos neurológicos<br />
(chumbo), câncer, além <strong>de</strong> danos ao pulmão, coração e cérebro.<br />
As maiores fontes antropogênicas <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes para a<br />
atmosfera são as indústrias, as queimadas a céu aberto e os automóveis (IAP,<br />
2001). As maiores fontes <strong>em</strong>issoras <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre estão nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />
produção <strong>de</strong> energia (82% do total <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão), principalmente os que utilizam<br />
óleos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo ou carvão mineral <strong>de</strong>vido conter<strong>em</strong> elevados teores<br />
<strong>de</strong> enxofre na sua composição. Os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> energia também são<br />
os principais responsáveis pela <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (76% do total<br />
<strong>em</strong>itido), compostos orgânicos não metânicos (56% da <strong>em</strong>issão total) e por uma<br />
quantia significativa do monóxido <strong>de</strong> carbono <strong>em</strong>itido (46% do total). Atualmente<br />
verifica-se que a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes nos países <strong>de</strong>senvolvidos diminuiu um<br />
pouco – exceto a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> óxidos <strong>de</strong> nitrogênio – e aumentou <strong>de</strong> forma<br />
significativa a <strong>em</strong>issão nos países <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva<br />
2003). Para Lora (2002), exist<strong>em</strong> quatro mecanismos que colaboram <strong>de</strong> maneira<br />
eficaz para o controle da <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong>, são eles: limites <strong>de</strong> <strong>em</strong>issões;<br />
7
padrões <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar; impostos ou taxas por <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes; e uma<br />
análise <strong>de</strong> custo/benefício.<br />
Lora (2002) analisou os principais tipos <strong>de</strong> poluentes com maiores impactos<br />
ambientais, e que são <strong>em</strong>itidos para a atmosfera pelos mais variados tipos <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong> econômica e ramos <strong>de</strong> indústrias (conforme tabela1). Ressalta que as<br />
usinas termelétricas e os incineradores <strong>de</strong> resíduos produz<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> poluentes. As usinas termelétricas <strong>em</strong>it<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral, apenas óxidos <strong>de</strong><br />
nitrogênio, <strong>de</strong> enxofre e material particulado, os incineradores pod<strong>em</strong> ainda <strong>em</strong>itir<br />
substâncias altamente tóxicas, como dioxinas, furanos, vapores <strong>de</strong> mercúrio e<br />
outros compostos ácidos.<br />
Tabela 1 – Principais fontes <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> e poluentes<br />
Fonte Particulados Emissões Gasosas<br />
Cal<strong>de</strong>iras e fornos industriais Cinzas e fulig<strong>em</strong><br />
Motores <strong>de</strong> combustão interna Fulig<strong>em</strong><br />
Indústria <strong>de</strong> refino <strong>de</strong> petróleo Pó, fulig<strong>em</strong><br />
Indústria química Pó e fulig<strong>em</strong><br />
Metalurgia e química do coque<br />
Industria extrativa mineral Pó<br />
Industria alimentícia Pó<br />
Industria <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong><br />
construção<br />
Fonte: Lora (2002, p. 213).<br />
Pó, óxidos <strong>de</strong><br />
ferro<br />
NOx, SO2, CO, al<strong>de</strong>ídos, ácidos orgânicos,<br />
3,4-benzopireno<br />
CO, NOx, al<strong>de</strong>ídos, hidrocarbonetos, 3,4benzopireno<br />
SO2, H2S, NH3, NOx, CO, hidrocarbonetos,<br />
mercaptanas, ácidos, al<strong>de</strong>ídos, cetonas,<br />
substâncias orgânicas carcinogênicas<br />
Depen<strong>de</strong>nte do processo (H2S, CS2, CO,<br />
NH3, substâncias orgânicas, solventes,<br />
orgânicos voláteis – COV, sulfetos, etc.)<br />
SO2, CO, NH3, NOx, compostos <strong>de</strong> flúor,<br />
substâncias orgânicas<br />
Em <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do processo (CO, compostos<br />
<strong>de</strong> flúor, substâncias orgânicas)<br />
NH3, H2S (misturas multicomponentes <strong>de</strong><br />
compostos orgânicos)<br />
Pó CO, compostos orgânicos<br />
Para Menz e Seip (2004), dois episódios marcaram o início dos esforços<br />
atuais para que a <strong>poluição</strong> do ar fosse tratada como um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
8
pública. O primeiro ocorreu <strong>em</strong> Donora, na Pensilvânia – EUA, quando uma<br />
nuv<strong>em</strong> <strong>de</strong> fumaça tomou a cida<strong>de</strong>, causando a morte <strong>de</strong> 20 pessoas, e<br />
provocando doenças e hospitalizações <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7 mil pessoas (sendo que a<br />
população da cida<strong>de</strong> somava cerca <strong>de</strong> 14 mil habitantes). O episódio <strong>de</strong> Donora<br />
resultou na primeira lei significativa tanto fe<strong>de</strong>ral como estadual para o controle da<br />
<strong>poluição</strong> do ar nos EUA. O outro evento ocorreu quando uma imensa nuv<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
fumaça (oriunda das chaminés resi<strong>de</strong>nciais e da frota <strong>de</strong> automóveis a diesel)<br />
tomou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londres <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1952 (início do inverno), o que<br />
causou a morte <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 4 mil pessoas na s<strong>em</strong>ana seguinte ao acontecido,<br />
on<strong>de</strong> se registrou uma concentração <strong>de</strong> SO2 <strong>de</strong> 3.510 μg/m 3 , quando o limite atual<br />
da EPA é <strong>de</strong> uma média diária <strong>de</strong> 365 μg/m 3 , e média anual <strong>de</strong> 80 μg/m 3 (Lora,<br />
2002).<br />
Des<strong>de</strong> o ano 852, se registram <strong>em</strong> Londres, probl<strong>em</strong>as respiratórios<br />
causados pela queima não eficiente do carvão para o aquecimento, além <strong>de</strong> que<br />
no final do século XIX, se registraram mortes <strong>em</strong> excesso nesta mesma cida<strong>de</strong><br />
associadas a períodos <strong>de</strong> intenso smog e situações <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> extr<strong>em</strong>a. Além<br />
<strong>de</strong>stes eventos, um vazamento <strong>de</strong> metil-isocianato <strong>em</strong> uma fábrica <strong>de</strong> pesticidas<br />
na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bophal – Índia, <strong>em</strong> 1984, provocou a morte <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2.500<br />
pessoas. Um outro fator sério são os probl<strong>em</strong>as ambientais no Leste Europeu e<br />
Rússia (principalmente <strong>em</strong> função <strong>de</strong> indústrias com tecnologia <strong>de</strong>fasada). Estimase<br />
que mais <strong>de</strong> 100 milhões <strong>de</strong> russos habit<strong>em</strong> áreas on<strong>de</strong> o nível dos poluentes<br />
atmosféricos seja <strong>de</strong> 5 a 10 vezes maiores que os permitidos pela legislação local.<br />
Valores entre 400 e 800 μg/m 3 foram registrados <strong>em</strong> algumas cida<strong>de</strong>s da<br />
República Tcheca, no ano <strong>de</strong> 1993 (Lora 2002).<br />
Para as <strong>em</strong>issões globais <strong>de</strong> enxofre, Stern (2005) verifica que <strong>de</strong> maneira<br />
geral está havendo um rápido <strong>de</strong>clínio nas <strong>em</strong>issões, sobretudo <strong>de</strong>vido ao avanço<br />
tecnológico que propiciou um melhor aproveitamento dos recursos minerais (o<br />
carvão mineral, por ex<strong>em</strong>plo) s<strong>em</strong> <strong>em</strong>itir os poluentes pré-existentes. Entretanto,<br />
9
atualmente o leste e o sul da Ásia têm chamado à atenção, pois <strong>de</strong>vido ao rápido<br />
crescimento econômico, e frágeis leis ambientais, t<strong>em</strong> registrado um aumento na<br />
<strong>em</strong>issão dos gases <strong>de</strong> enxofre para a atmosfera.<br />
As graves conseqüências que a <strong>poluição</strong> do ar po<strong>de</strong> trazer para a<br />
humanida<strong>de</strong> levaram vários chefes <strong>de</strong> estado a assinar<strong>em</strong> o Protocolo <strong>de</strong> Kyoto<br />
<strong>em</strong> 1997, com o compromisso <strong>de</strong> reduzir gradualmente a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes<br />
para a atmosfera até 2012, e com o objetivo <strong>de</strong> amenizar os efeitos da interação<br />
clima-ambiente-saú<strong>de</strong> humana. Entretanto, <strong>em</strong>bora se observ<strong>em</strong> os padrões<br />
sugeridos para o controle da <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> (Lora, 2002), a condução do<br />
Protocolo através dos créditos <strong>de</strong> carbono e a sua não a<strong>de</strong>são pelos países mais<br />
poluentes (como os Estados Unidos), indica que ele v<strong>em</strong> sendo utilizado como<br />
instrumento para justificar a <strong>poluição</strong> do h<strong>em</strong>isfério norte, afinal estes países<br />
pod<strong>em</strong> pagar aos países mais pobres para que adot<strong>em</strong> mecanismos <strong>de</strong> produção<br />
<strong>de</strong> energia limpa. Em contrapartida, os países ricos pod<strong>em</strong> continuar <strong>em</strong>itindo<br />
poluentes para atmosfera na mesma taxa às quais <strong>em</strong>itiam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que pagu<strong>em</strong> os<br />
“créditos <strong>de</strong> carbono” para um país que não exce<strong>de</strong>u sua cota.<br />
Os países da União Européia assinaram <strong>em</strong> 1999 o Protocolo <strong>de</strong><br />
Got<strong>em</strong>burgo, que entrou <strong>em</strong> vigor no ano <strong>de</strong> 2005. Este protocolo estabelece cota<br />
para <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> poluentes dos países-m<strong>em</strong>bros, propondo uma política regional<br />
para a redução da acidificação, da eutrofização e do ozônio troposférico. Os<br />
países europeus foram os que mais sofreram conseqüências da <strong>poluição</strong><br />
<strong>atmosférica</strong>, <strong>em</strong> função dos poluentes <strong>em</strong>itidos por alguns países causar<strong>em</strong><br />
conseqüências a locais distantes da fonte <strong>em</strong>issora. A principal conseqüência foi à<br />
ocorrência <strong>de</strong> chuvas ácidas que castigaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os lagos escandinavos, até as<br />
florestas t<strong>em</strong>peradas, trazendo graves probl<strong>em</strong>as ambientais para países como a<br />
Al<strong>em</strong>anha, Polônia, Noruega, Suécia, República Tcheca, entre outros. A tabela 2<br />
mostra os valores limites estabelecidos pelo Protocolo <strong>de</strong> Got<strong>em</strong>burgo para<br />
<strong>em</strong>issão <strong>de</strong> cada país m<strong>em</strong>bro da Comunida<strong>de</strong> Européia. Os valores-limite <strong>de</strong><br />
10
<strong>em</strong>issão nacionais foram <strong>de</strong>finidos com o objetivo <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> maneira geral aos<br />
objetivos ambientais constantes no artigo 5° do Protocolo <strong>de</strong> Got<strong>em</strong>burgo. Assim,<br />
se espera uma redução da eutrofização do solo, <strong>de</strong> modo que a superfície<br />
comunitária com nutrientes azotadas superiores às cargas críticas, reduza 30%<br />
<strong>em</strong> relação à situação do ano <strong>de</strong> 1990.<br />
Tabela 2 – Valores-limite nacionais <strong>de</strong> <strong>em</strong>issão aplicáveis ao SO2, NOx, COV e NH3 a cumprir<br />
até 2010.<br />
País<br />
SO2<br />
Quilotoneladas<br />
NOx<br />
Quilotoneladas<br />
COV<br />
Quilotoneladas<br />
11<br />
NH3<br />
Quilotoneladas<br />
Áustria 39 103 159 66<br />
Bélgica 99 176 139 74<br />
Dinamarca 55 127 85 69<br />
Finlândia 110 170 130 31<br />
França 375 810 1050 780<br />
Al<strong>em</strong>anha 520 1051 995 550<br />
Grécia 523 344 261 73<br />
Irlanda 42 65 55 116<br />
Itália 475 990 1159 419<br />
Lux<strong>em</strong>burgo 4 11 9 7<br />
Países Baixos 50 260 185 128<br />
Portugal 160 250 180 90<br />
Espanha 746 847 662 353<br />
Suécia 67 148 241 57<br />
Reino Unido 585 1167 1200 297<br />
Total <strong>de</strong> Emissão 3850 6519 6510 3110<br />
Fonte: Diretiva 2001/81/CE do Parlamento Europeu e do Conselho da União Européia <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong><br />
outubro <strong>de</strong> 2001, Jornal Oficial das Comunida<strong>de</strong>s Européias <strong>de</strong> 27/11/2001.<br />
2.2. Os ventos e a dispersão dos poluentes<br />
A vida no planeta só é possível <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sequilíbrio na radiação líquida<br />
e umida<strong>de</strong> entre as áreas do globo (Ayoa<strong>de</strong>, 1998). Quando lançados na
atmosfera, os poluentes são afetados pelas condições específicas da atmosfera,<br />
sendo que o transporte <strong>de</strong> poluentes só acontece <strong>de</strong>vido a constante<br />
movimentação que existe na atmosfera, que é <strong>de</strong>rivada da soma principalmente<br />
<strong>de</strong> dois el<strong>em</strong>entos, o movimento <strong>em</strong> relação à superfície terrestre (vento) e o<br />
movimento vertical. O movimento vertical da atmosfera provoca uma mistura das<br />
substâncias ali presentes, pois se pod<strong>em</strong> imaginar as imensas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ar<br />
<strong>em</strong> movimentos ascen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Lora (2002, p. 245) observa que “a<br />
relação entre a t<strong>em</strong>peratura do ar circundante e a t<strong>em</strong>peratura da parcela <strong>de</strong> ar<br />
<strong>de</strong>termina se esta continua caindo, subindo ou se <strong>de</strong>tém”. Assim sendo, a variável<br />
que <strong>de</strong>termina a maior ou menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mistura entre as parcelas <strong>de</strong> ar<br />
<strong>em</strong> constante movimento com os poluentes é o gradiente adiabático <strong>de</strong><br />
t<strong>em</strong>peratura.<br />
A dispersão dos poluentes sofre gran<strong>de</strong> influência da velocida<strong>de</strong> e da<br />
turbulência do vento na atmosfera (figura 2). A circulação geral (global)<br />
<strong>atmosférica</strong> po<strong>de</strong> ser explicada basicamente <strong>em</strong> função da diferença <strong>de</strong> radiação<br />
líquida e umida<strong>de</strong> <strong>em</strong> diferentes partes da superfície terrestre e <strong>de</strong>vido à força <strong>de</strong><br />
Coriólis (Ayoa<strong>de</strong>, 1998; Lora, 2002). Em uma escala regional ou local, outros<br />
fatores pod<strong>em</strong> influenciar na circulação <strong>atmosférica</strong>, como a topografia, presença<br />
<strong>de</strong> continentes ou oceanos, o uso e ocupação do solo também influenciam nesta<br />
circulação que po<strong>de</strong> ser primária ou <strong>de</strong> macro escala (zonas climáticas, zonas <strong>de</strong><br />
alta e baixa pressão, ventos alíseos), secundária ou <strong>de</strong> meso escala (massas <strong>de</strong><br />
ar e frentes) e terciária ou <strong>de</strong> micro escala (brisas, ventos anabáticos e<br />
catabáticos), segundo Ayoa<strong>de</strong> (1998).<br />
12
Figura 2 – Esqu<strong>em</strong>a da influência dos ventos na dispersão dos poluentes. Fonte: Lora (2002,<br />
p. 239).<br />
Consi<strong>de</strong>rando a movimentação do ar, Lora (2002) divi<strong>de</strong> a atmosfera <strong>em</strong><br />
duas camadas:<br />
Camada limite planetária: compreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a superfície do solo até cerca <strong>de</strong><br />
500 metros <strong>de</strong> altura, on<strong>de</strong> a velocida<strong>de</strong> e a direção do vento são <strong>de</strong>terminadas<br />
pelo gradiente <strong>de</strong> pressão horizontal, a força <strong>de</strong> cisalhamento, e a força <strong>de</strong><br />
Coriólis.<br />
Camada geostrófica: acima dos 500 metros <strong>de</strong> altura, on<strong>de</strong> os fatores que<br />
<strong>de</strong>terminam a velocida<strong>de</strong> e direção do vento são apenas o gradiente <strong>de</strong> pressão<br />
horizontal e a força <strong>de</strong> Coriólis, não recebendo influência do efeito da superfície.<br />
Uma atmosfera instável, ou seja, aquela on<strong>de</strong> a t<strong>em</strong>peratura do ar diminui<br />
<strong>de</strong> maneira mais rápida com a altura do que a parcela do ar favorece a dispersão<br />
dos poluentes. Enquanto que uma atmosfera estável, ou seja, quando a<br />
t<strong>em</strong>peratura do ar aumenta com a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira mais rápida que a parcela<br />
<strong>de</strong> ar, dificulta a dispersão <strong>de</strong> poluentes (Lora, 2002). Um ex<strong>em</strong>plo típico <strong>de</strong> uma<br />
13
atmosfera estável é o fenômeno <strong>de</strong>nominado inversão térmica, que por sinal, é um<br />
fenômeno b<strong>em</strong> propício para episódios <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> grave, como foram os casos<br />
<strong>de</strong> Donora e Londres. Assim, o trajeto tomado por um gás oriundo <strong>de</strong> uma<br />
chaminé (pluma) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da estabilida<strong>de</strong> <strong>atmosférica</strong>, po<strong>de</strong>ndo ser disperso e<br />
diluído pela atmosfera (quando se tratar <strong>de</strong> uma atmosfera instável) ou ficar retido<br />
nas camadas mais baixas, s<strong>em</strong> se dispersar, aumentando a concentração <strong>de</strong><br />
certos gases e substâncias na atmosfera (no caso da atmosfera estável).<br />
2.3. Chuva ácida<br />
Ocorre chuva ácida quando as concentrações <strong>de</strong> alguns gases presentes<br />
nas precipitações estão muito superiores àquelas encontradas naturalmente, o<br />
que causa uma diminuição do pH para níveis fora do normal para chuvas. A<br />
formação <strong>de</strong> chuvas ácidas é uma conseqüência grave que a <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong><br />
provoca no ambiente, e po<strong>de</strong> ser produzida tanto <strong>de</strong> fontes naturais (<strong>em</strong>issão <strong>de</strong><br />
fumaça vulcânica, por ex<strong>em</strong>plo) ou artificiais (<strong>em</strong>issões provenientes <strong>de</strong> indústrias<br />
ou automóveis, por ex<strong>em</strong>plo). Os primeiros estudos sobre os efeitos da chuva<br />
ácida foram elaborados pelo químico inglês Robert Angus Smith, quando <strong>em</strong> 1872<br />
se impressionou ao observar como as peças metálicas que ficavam expostas ao<br />
ar livre se oxidavam e <strong>de</strong>terioravam com muita rapi<strong>de</strong>z. Publicou como resultado<br />
<strong>de</strong> suas pesquisas o livro “Ar e chuva: fundamentos <strong>de</strong> uma climatologia química”,<br />
uma obra que foi <strong>de</strong>sprezada na época, e permaneceu esquecida<br />
aproximadamente por um século (Branco e Murgel, 2002).<br />
Naturalmente existe na atmosfera o ácido carbônico (H2CO3) que é fraco, e<br />
a chuva t<strong>em</strong> seu pH natural <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 5,6 (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003;<br />
Menz e Seip, 2004), entretanto estudos recentes d<strong>em</strong>onstraram que não se <strong>de</strong>ve<br />
generalizar este valor, pois já foram encontradas <strong>em</strong> áreas r<strong>em</strong>otas chuvas com<br />
14
valores ácidos, indicando que naturalmente po<strong>de</strong> haver fatores que diminu<strong>em</strong> o<br />
pH das chuvas (Galloway et al.,1982).<br />
Os poluentes que agravam a <strong>poluição</strong> da chuva tornando-a ainda mais<br />
ácida são os óxidos <strong>de</strong> enxofre (SO2 – dióxido <strong>de</strong> enxofre ou anidrido <strong>de</strong> enxofre,<br />
e SO3 – trióxido <strong>de</strong> enxofre) e os óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (N2O – óxido <strong>de</strong> dinitrogênio,<br />
NO – monóxido <strong>de</strong> nitrogênio, e NO2 – dióxido <strong>de</strong> nitrogênio). O SO2 po<strong>de</strong> ter<br />
orig<strong>em</strong> natural ou artificial. O <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> natural provém <strong>de</strong> erupções vulcânicas e<br />
também da <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> animais e vegetais quando o H2S (gás sulfídrico)<br />
liberado se transforma <strong>em</strong> SO2. O dióxido <strong>de</strong> enxofre artificial é obtido na queima<br />
do carvão mineral e dos <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo. Quando se queima o carvão ou<br />
quando os <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> petróleo – combustíveis – são queimados (<strong>em</strong> motores <strong>de</strong><br />
automóveis, caminhões, aviões, etc.) o enxofre se oxida formando o SO2,<br />
conforme a figura 3. As metalúrgicas que realizam ustulações <strong>de</strong> sulfetos<br />
metálicos também <strong>em</strong>it<strong>em</strong> SO2. Estima-se que as fontes artificiais liber<strong>em</strong> cerca<br />
que 100 vezes mais anidridos <strong>de</strong> enxofre do que as fontes naturais (Drew, 2002).<br />
Quando ocorre a reação <strong>de</strong>ste gás (SO2) com a água da chuva, forma-se o ácido<br />
sulfuroso (H2SO3), que é um ácido fraco. Entretanto se este gás se transformar<br />
primeiramente <strong>em</strong> SO3 (resultado da reação com o oxigênio) e <strong>de</strong>pois reagir com<br />
a água, resultará <strong>em</strong> ácido sulfúrico (H2SO4), importante causador da aci<strong>de</strong>z da<br />
chuva.<br />
15
Figura 3– Fontes naturais e antropogênicas dos óxidos <strong>de</strong> enxofre e ciclo do enxofre na<br />
natureza. Fonte: Lora (2002, p. 212).<br />
Reações s<strong>em</strong>elhantes ocorr<strong>em</strong> com os óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (NOx),<br />
produzidos a partir da <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> animais e vegetais pelas bactérias<br />
existente no solo. Também são produzidos pela ação dos raios durante<br />
t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>s (figura 4). Na atmosfera o monóxido <strong>de</strong> nitrogênio (NO) se oxida<br />
facilmente para NO2 (Uno et al, 1996), afinal apenas 10% do volume total <strong>de</strong> NOx<br />
<strong>em</strong>itido para atmosfera é composto por NO2. Quando esses óxidos <strong>de</strong> nitrogênio<br />
reag<strong>em</strong> com a água (H2O), forma o ácido nitroso (HNO2), que é um ácido fraco, e<br />
o ácido nítrico (HNO3), um ácido forte.<br />
16
Figura 4– Fontes naturais e antropogênicas dos óxidos <strong>de</strong> nitrogênio no ciclo do nitrogênio<br />
na natureza. Fonte: Sloss et al. (1992, apud Lora 2002, p. 212).<br />
Em regiões industrializadas e com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> automóveis, o ar se<br />
carrega com gases <strong>de</strong> ácido sulfúrico e nítrico, que são <strong>de</strong>spejados no solo pela<br />
chuva, originando o fenômeno <strong>de</strong> chuva ácida, que tecnicamente se trata <strong>de</strong><br />
qualquer chuva com pH menor <strong>de</strong> 5,6 (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003; Leal et al.,<br />
2004; Menz e Seip, 2004; Han e Liu, 2006). Em regiões como os Estados Unidos<br />
e a Suécia, o pH das chuvas se encontra com valores entre 4 e 5 (Gold<strong>em</strong>berg e<br />
Villanueva, 2003). Um dos ex<strong>em</strong>plos mais graves sobre chuva ácida já<br />
evi<strong>de</strong>nciada foi o ocorrido <strong>em</strong> Pitlochry (Escócia) durante uma t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> <strong>em</strong> 10<br />
<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1974, on<strong>de</strong> apresentou um pH no início da precipitação <strong>de</strong> 2,4 (Drew,<br />
2002), uma aci<strong>de</strong>z igual à do vinagre. Meta<strong>de</strong> das florestas al<strong>em</strong>ãs foi <strong>de</strong>struída<br />
pela ação das chuvas ácidas e a acidificação dos lagos da Suécia (Gold<strong>em</strong>berg e<br />
Villanueva, 2003) e Noruega (Drew, 2002) – que <strong>de</strong>struiu boa parte da vida<br />
aquática lacustre – foram provocadas pela alta aci<strong>de</strong>z das águas pluviais.<br />
17
2.4. A acidificação das chuvas no mundo<br />
Vários estudos têm sido realizados <strong>em</strong> diferentes pontos do mundo, e <strong>em</strong><br />
todos os continentes, entretanto o que se verifica é que eles se concentram <strong>em</strong><br />
áreas que já sofreram gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong> industrialização, ou <strong>em</strong> áreas que<br />
atualmente apresentam gran<strong>de</strong> crescimento industrial. Assim, há trabalhos<br />
realizados na China (Xie et al., 2004; Tang et al., 2005; e Han e Liu, 2006), na<br />
Índia (Kulshrestha et al., 2005; Rastogi e Sarin, 2005), na Rússia (Chudaeva et al.,<br />
2006), no Japão (Okuda et al., 2005; Oseki et al., 2006), na Europa (Sienkiewicz et<br />
al., 2006; Menz e Seip, 2004), nos EUA (Chestnut e Mills, 2005; Menz e Seip,<br />
2004), no México (Báez et al., 2006), e na Jordânia (Al-Khashman, 2005), além <strong>de</strong><br />
outros lugares.<br />
Tang et al. (2005), realizou seus estudos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pequim – China,<br />
on<strong>de</strong> coletou 53 amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva durante o ano <strong>de</strong> 2003. Seus<br />
resultados <strong>de</strong> pH variam entre valores mínimos próximos a 4,5 e máximos <strong>de</strong> 7,5,<br />
indicando que apenas 9% das amostras eram ácidas (pH < 5,6). Entretanto, os<br />
valores médios encontrados foram menores que o encontrado <strong>em</strong> 1981 (6,48 <strong>em</strong><br />
2003 contra 6,68 <strong>em</strong> 1981), o que segundo os autores, indica como a ação<br />
humana t<strong>em</strong> interferido na composição <strong>atmosférica</strong>, l<strong>em</strong>brando o intenso processo<br />
<strong>de</strong> industrialização este país t<strong>em</strong> passado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1980. Ao comparar<br />
com dados <strong>de</strong> Xangai (importante pólo industrial chinês), o estudo verifica que<br />
esta cida<strong>de</strong> apresenta maiores concentrações dos aerossóis e valores mais ácidos<br />
no pH das chuvas do que Pequim. Os principais responsáveis pela neutralização<br />
da aci<strong>de</strong>z da chuva na capital chinesa foram o amônio (NH4 + ) e o cálcio (Ca +2 ),<br />
enquanto que os poucos eventos ácidos ocorridos se <strong>de</strong>veu as concentrações <strong>de</strong><br />
sulfato (SO4 -2 ), o nitrato (NO3 - ) e o material particulado inalável (MP10).<br />
18
Han e Liu (2006) realizaram sua pesquisa na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guyang (capital da<br />
Província <strong>de</strong> Guizhou, no sudoeste da China), situada <strong>em</strong> uma região que t<strong>em</strong><br />
experimentado um forte crescimento econômico nas duas últimas décadas,<br />
inclusive com aumento consi<strong>de</strong>rável no consumo <strong>de</strong> energia elétrica (produzido<br />
por usinas termelétricas a carvão), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da década <strong>de</strong> 1970 apresentava<br />
propensão à ocorrência <strong>de</strong> chuvas ácidas. Neste estudo, foram coletadas 22<br />
amostras entre janeiro <strong>de</strong> 1999 e outubro <strong>de</strong> 2001. Os valores <strong>de</strong> pH variam entre<br />
3,55 e 6,83, entretanto 19 das 22 amostras apresentaram valores menores <strong>de</strong> 5,6,<br />
com média <strong>de</strong> 4,53. A maioria das amostras com valores <strong>de</strong> pH abaixo que 5,6<br />
apresentaram a presença <strong>de</strong> ácido sulfúrico (H2SO4) natural, ácidos orgânicos<br />
fracos, ou <strong>em</strong>issões antropogênicas <strong>de</strong> ácido sulfúrico (H2SO4) ou ácido nítrico<br />
(HNO3). Xie et al. (2004) simulou a ação das chuvas ácidas sobre o cimento da<br />
construção civil. Para os testes submeteu os corpos <strong>de</strong> prova (feitos com cimento)<br />
a soluções ácidas (ajustadas com HNO3) com pH <strong>de</strong> 5,6 e 3,5 (que representavam<br />
a aci<strong>de</strong>z média das chuvas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Guiyang entre 1982 e 1988) para um<br />
período <strong>de</strong> 90 dias, e com pH <strong>de</strong> 1,0 para um período <strong>de</strong> 66 dias. Em seus<br />
resultados, consi<strong>de</strong>rando o dano causado pelas soluções acidificadas ao concreto,<br />
verificou ser mais apropriada a construção <strong>de</strong> edifícios utilizando materiais nãometálicos<br />
e cimento com escória nas áreas da China on<strong>de</strong> há exposição à chuva<br />
ácida severa.<br />
Kulshrestha et al. (2005) realizou uma revisão dos dados disponíveis sobre<br />
a composição das chuvas na Índia, consi<strong>de</strong>rando as áreas rurais, suburbanas,<br />
urbanas e industriais, além <strong>de</strong> propor uma espacialização das concentrações <strong>de</strong><br />
nitrato (NO3 - ), amônio (NH4 + ) e sulfato (SO4 -2 ). De maneira geral os valores médios<br />
do pH das chuvas foram acima <strong>de</strong> 6,0 <strong>em</strong> todas as áreas (rurais, suburbanas,<br />
urbanas e industriais), tendo apenas sido verificados valores mais ácidos <strong>em</strong><br />
áreas vicinais a usinas termelétricas a carvão (pH <strong>de</strong> 4,8). Verificou-se que a<br />
poeira do solo funciona como agente neutralizador da aci<strong>de</strong>z, uma vez que<br />
corroborava para o aumento dos valores do pH e cálcio (Ca +2 ) no sentido NW. A<br />
19
concentração <strong>de</strong> sulfato (SO4 -2 ) aumentou das áreas rurais e suburbanas para as<br />
urbanas e industriais, enquanto que a concentração do amônio é menor na zona<br />
rural do que <strong>em</strong> qualquer outra área. Entretanto, os autores alertam que poucos<br />
trabalhos foram <strong>de</strong>senvolvidos nas áreas mais sensíveis à acidificação das<br />
chuvas.<br />
Na região s<strong>em</strong>i-árida <strong>de</strong> Ahmedabad (noroeste da Índia), Rastogi e Sarin<br />
(2005) realizaram um estudo <strong>de</strong> três anos (2000-2002) na composição das<br />
chuvas. Foi constatado que a água das chuvas apresenta uma característica mais<br />
alcalina na natureza, pois apresentaram uma variação no pH <strong>de</strong> 5,2 a 8,2, com<br />
média <strong>de</strong> 6,7. A aci<strong>de</strong>z da água da chuva é neutralizada <strong>em</strong> sua maior parte pelo<br />
cálcio (Ca +2 ) visto que o amônio (NH4 + ) neutraliza menos e o magnésio (Mg +2 )<br />
neutraliza <strong>de</strong> maneira insignificante. Para a variação da composição iônica das<br />
chuvas, po<strong>de</strong>-se verificar que a poeira do solo contribui com aproximadamente<br />
50%, as ativida<strong>de</strong>s antropogênicas e os sais marinhos contribu<strong>em</strong> com cerca <strong>de</strong><br />
25% cada.<br />
No extr<strong>em</strong>o su<strong>de</strong>ste da Rússia, a composição química da água <strong>de</strong> chuva é<br />
controlada pelos sais marinhos, material terrestre, e <strong>em</strong>issões vulcânicas (área<br />
vulcânica das ilhas Kurilas) e antropogênicas. Chudaeva et al. (2006) realizou um<br />
estudo nesta área, on<strong>de</strong> coletou amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Primorye (porção<br />
sul do litoral leste da Rússia) e áreas próximas a Vladivostok; na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Uhzno-<br />
Sakhalinsk, ao sul das Ilhas Sakalinas, on<strong>de</strong> a influência do oceano é forte; e nas<br />
ilhas Kurilas (Kunashir, Iturup e Paramusir) on<strong>de</strong> não há interferência<br />
antropogênica, mas as erupções vulcânicas e os oceanos contribu<strong>em</strong> para as<br />
<strong>em</strong>issões <strong>atmosférica</strong>s. As amostras coletadas apresentaram baixo teor <strong>de</strong><br />
minerais e o pH geralmente não era maior que 6. Em Primorye e nas Ilhas<br />
Sakalinas, as <strong>em</strong>issões antropogênicas <strong>de</strong> gás carbônico (CO2) e dióxido <strong>de</strong><br />
enxofre (SO2) juntamente com as partículas <strong>de</strong> poeiras continentais parec<strong>em</strong> ser<br />
as responsáveis pelo cloreto (Cl - ) não ser o ânion majoritário na maioria das<br />
20
amostras. Ao contrário das Ilhas Kurilas, on<strong>de</strong> este ânion é o predominante (<strong>em</strong><br />
função <strong>de</strong> não haver interferências antropogênicas). Nas ilhas Kurilas, a<br />
concentração encontrada <strong>de</strong> alguns el<strong>em</strong>entos traços (que exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> pequenas<br />
quantida<strong>de</strong>s) foram b<strong>em</strong> elevadas, o que d<strong>em</strong>onstra a intensa ativida<strong>de</strong> vulcânica<br />
da região. Também foi constatado que entre 80 e 90% do sulfato (SO4 -2 ) existente<br />
na água <strong>de</strong> chuva das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Vladivostok e Uhzno-Sakhalinsk é <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />
antropogênica e vulcânica, enquanto que nas ilhas Kurilas, 74% do sulfato (SO4 -2 )<br />
existente é <strong>de</strong> contribuição vulcânica.<br />
No Japão, Oseki et al. (2006) realizou um trabalho que envolveu uma re<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> coleta <strong>em</strong> nove pontos da costa oeste da Ilha do Japão (<strong>de</strong> norte a sul). Neste<br />
estudo, se po<strong>de</strong> verificar como se dá o transporte <strong>de</strong> longa distância dos poluentes<br />
ácidos que acabam por atravessar todo o mar do Japão. A amostrag<strong>em</strong><br />
compreen<strong>de</strong>u o período <strong>de</strong> Julho/2000 a Junho/2001. Os valores <strong>de</strong> pH<br />
encontrados variaram <strong>de</strong> 4,30 a 6,40. Constatou-se que as contribuições dos<br />
ventos e Jet streams noroestes foram muito importantes para o transporte dos<br />
grupos <strong>de</strong> poluentes ácidos (ácido sulfúrico e sulfato <strong>de</strong> amônia) e alcalinos (íons<br />
<strong>de</strong> cálcio e amônio). Okuda et al. (2005) estudou os efeitos dos gases vulcânicos<br />
originários da ilha <strong>de</strong> Miyake, na composição da chuva na região metropolitana <strong>de</strong><br />
Tóquio (situado à cerca <strong>de</strong> 150 km ao norte da ilha). Foi comparada a composição<br />
das chuvas sob efeitos dos gases vulcânicos entre Set<strong>em</strong>bro/2000 a Agosto/2001,<br />
com a composição durante um período normal entre Set<strong>em</strong>bro/1990 a<br />
Agosto/2000. Quando comparado à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre (SO2) <strong>de</strong><br />
orig<strong>em</strong> antropogênica <strong>em</strong>itido na região metropolitana <strong>de</strong> Tóquio por ano, durante<br />
o período normal (09/1990 a 08/2000), verificou-se que essa quantida<strong>de</strong><br />
significava apenas 0,15% das <strong>em</strong>issões vulcânicas <strong>de</strong> SO2 registradas na ilha<br />
Miyake no período estudado (09/2000 a 08/2001). O pico máximo da concentração<br />
<strong>de</strong> SO2 atmosférico foi registrado após a primeira gran<strong>de</strong> erupção <strong>em</strong> Miyake, que<br />
ocorreu <strong>em</strong> 18 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2000. O pH das chuvas variou entre 3,9 e 4,4 durante<br />
21
o dia <strong>de</strong> maior concentração <strong>de</strong> SO2 registrado (17/09/2000), e entre 4,3 a 4,6<br />
durante um dia com concentração normal <strong>de</strong> SO2 (23/10/200).<br />
Para Sienkiewicz et al. (2006) os lagos existentes nos Su<strong>de</strong>tos (área na<br />
fronteira entre a Polônia, República Tcheca e Al<strong>em</strong>anha) sofreram mudanças nos<br />
seus ecossist<strong>em</strong>as <strong>em</strong> função da aci<strong>de</strong>z da água das chuvas. Esta região,<br />
também conhecida como “Triângulo Negro”, a <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> é uma questão<br />
importante <strong>em</strong> função do <strong>de</strong>senvolvimento industrial, sobretudo por causa do uso<br />
da queima do carvão mineral para a produção <strong>de</strong> energia elétrica durante as<br />
últimas décadas. Como resultado da queima indiscriminada, Migala et al. (1993,<br />
apud Sienkiewicz et al., 2006) constatou a ocorrência <strong>de</strong> chuvas com pH entre<br />
2,75 e 3,70 na região das Karkonosze (ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> montanhas localizada nos<br />
Su<strong>de</strong>tos). O fenômeno da chuva ácida afeta a região <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as décadas <strong>de</strong> 1970 e<br />
1980, sobretudo <strong>de</strong>vido ao aumento na concentração <strong>de</strong> enxofre e nitrato<br />
atmosférico. Entretanto, mesmo com novas técnicas que reduziram a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong><br />
poluentes para a atmosfera na última década, ainda não foi constatada uma<br />
tendência <strong>de</strong> recuperação na diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong>stes lagos (Sienkiewicz et<br />
al., 2006).<br />
Menz e Seip (2004) discut<strong>em</strong> a evolução da ciência e das políticas públicas<br />
para controlar a chuva ácida na Europa e nos Estados Unidos durante as últimas<br />
décadas. As chuvas ácidas tomaram maior inserção no meio científico no final da<br />
década <strong>de</strong> 1960, <strong>de</strong>vido aos efeitos causados à integrida<strong>de</strong> dos ecossist<strong>em</strong>as.<br />
Tanto nos EUA e na Europa, o fator que motivou a regulação do controle <strong>de</strong> SO2<br />
foi o interesse pela saú<strong>de</strong> pública local, pois os danos provocados aos<br />
ecossist<strong>em</strong>as naturais receberam menores ou nenhuma atenção pelas<br />
autorida<strong>de</strong>s governamentais. As primeiras medidas para o controle da aci<strong>de</strong>z das<br />
chuvas e <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> SO2 foram superadas pelo aumento das fontes <strong>em</strong>issoras <strong>de</strong><br />
poluentes, inclusive foi constatado com o passar do t<strong>em</strong>po que o SO2 era<br />
transportado por longas distâncias. Assim, os autores apontam que houve mais<br />
22
<strong>de</strong>posição ácida <strong>em</strong> regiões localizadas no <strong>de</strong>stino dos ventos originários das<br />
fontes <strong>em</strong>issoras <strong>de</strong> <strong>poluição</strong>. Nos EUA, as <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> SO2 diminuíram 40%<br />
entre 1980 e 1999, e na Europa a redução foi <strong>de</strong> 65%. As <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> óxidos <strong>de</strong><br />
nitrogênio (NOx) reduziram cerca <strong>de</strong> 30% na Europa entre 1990 e 2001, enquanto<br />
que nos EUA elas permaneceram estáveis. Os episódios <strong>de</strong> Donora e Londres<br />
foram fundamentais para o início das atuais políticas para redução das <strong>em</strong>issões.<br />
O trabalho <strong>de</strong>senvolvido por Chestnut e Mills (2005) procurou mostrar os<br />
benefícios e custos do Programa <strong>de</strong> Chuva Ácida dos EUA (US acid rain<br />
program), principalmente no que se refere a influência das usinas termelétricas<br />
nas <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre (SO2) e óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (NOx). Foram<br />
estimados os benefícios para a saú<strong>de</strong> humana e para o meio ambiente através <strong>de</strong><br />
recentes projeções <strong>de</strong> <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> SO2 e NOx. Para estes autores, o programa<br />
com Título IV do 1990 Clean Air Act Amendments, também conhecido como<br />
Programa <strong>de</strong> chuva ácida dos EUA (ou US acid rain program) conseguiu reduzir<br />
as <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre e dos óxidos <strong>de</strong> nitrogênio, consi<strong>de</strong>rados os<br />
componentes que mais contribu<strong>em</strong> para a formação <strong>de</strong> chuvas ácidas, pois <strong>em</strong><br />
reação na atmosfera e com a água pod<strong>em</strong> formar os ácidos sulfúrico e nítrico,<br />
principais acidificadores das precipitações.<br />
Segundo Chestnut e Mills (2005), como efeito <strong>de</strong>ste programa, a previsão<br />
para a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> SO2 para a atmosfera pela queima <strong>de</strong> combustível fóssil nas<br />
usinas termelétricas <strong>em</strong> 2010 será <strong>de</strong> 9,3 milhões <strong>de</strong> toneladas, 8 milhões <strong>de</strong><br />
toneladas a menos do que o <strong>em</strong>itido <strong>em</strong> 1980, que foi <strong>de</strong> 17,3 milhões. Caso as<br />
medidas para redução na <strong>em</strong>issão não foss<strong>em</strong> adotadas, a perspectiva <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>issão seria <strong>de</strong> 17,3 milhões, ou seja, a mesma quantida<strong>de</strong> <strong>em</strong>itida 30 anos<br />
antes. Em relação à <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> óxidos <strong>de</strong> nitrogênio (NOx), <strong>em</strong> 1990 eram<br />
<strong>em</strong>itidos cerca <strong>de</strong> 6,7 milhões <strong>de</strong> toneladas, e <strong>em</strong> 2010, as projeções indicam<br />
<strong>em</strong>issões <strong>de</strong> 5 milhões <strong>de</strong> toneladas. Esta mudança se <strong>de</strong>veu basicamente à<br />
mudança do carvão utilizado para a queima, passando a utilizar um carvão <strong>de</strong><br />
23
aixa concentração <strong>de</strong> enxofre, além <strong>de</strong> instalar<strong>em</strong> controles para redução <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>issões durante a queima do carvão nas usinas. É importante ressaltar que a<br />
troca pelo carvão com baixo teor <strong>de</strong> enxofre não se <strong>de</strong>veu somente a<br />
preocupações ambientais, mas principalmente <strong>de</strong>vido à situação das rodovias que<br />
propiciaram um transporte mais barato <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> carvão da Bacia do Rio Pó<br />
(situada entre os estados <strong>de</strong> Dakota do Sul, Dakota do Norte, Montana, Nebraska<br />
e Wyoming) principalmente para as usina localizadas no meio oeste dos Estados<br />
Unidos.<br />
Al-Khashman (2005) estudou a composição das águas das chuvas na<br />
região <strong>de</strong> Petra (sul da Jordânia), quando coletou amostras entre Outubro/2002 a<br />
Maio/2004. Foi constatado que o pH das amostras variou <strong>de</strong> 5,71 a 8,15, sendo a<br />
água pluvial <strong>de</strong>ste local caracterizada como sendo <strong>de</strong> baixa salinida<strong>de</strong> e<br />
neutralizada. Os valores elevados <strong>de</strong> pH se <strong>de</strong>veram sobretudo à existência <strong>de</strong><br />
poeira do solo na atmosfera, sendo que as partículas <strong>de</strong> poeira possuíam uma<br />
gran<strong>de</strong> fração <strong>de</strong> sua composição constituída <strong>de</strong> calcita (carbonato <strong>de</strong> cálcio –<br />
CaCO3). Os fatores que mais influenciaram na composição das chuvas foram a<br />
poeira do solo, spray marinho (região próxima ao Mar Morto e Mediterrâneo),<br />
ativida<strong>de</strong>s agrícolas e combustão <strong>de</strong> produtos.<br />
No México, Báez et al. (2006) monitorou a composição da água da chuva<br />
na Cida<strong>de</strong> do México (entre 1994 e 2000) e <strong>em</strong> Rancho Viejo (entre 1994 a 1999)<br />
que fica a cerca <strong>de</strong> 80 Km a sudoeste da capital mexicana. Os resultados<br />
encontrados mostraram que a concentração <strong>de</strong> nitrato e sulfato foi menor <strong>em</strong><br />
Rancho Viejo do que na Cida<strong>de</strong> do México, que também registrou os valores <strong>de</strong><br />
pH mais ácidos, entre 4,71 e 5,43. O fato da água da chuva apresentar valores<br />
mais alcalinos <strong>em</strong> Rancho Viejo se <strong>de</strong>ve a existência <strong>de</strong> uma extensa floresta <strong>de</strong><br />
pinheiros e a partículas alcalinas do solo, que são transportadas pelos ventos. Foi<br />
constatado um <strong>de</strong>clínio na concentração <strong>de</strong> sulfato (SO4 -2 ) na água das chuvas da<br />
Cida<strong>de</strong> do México, <strong>de</strong>vido à diminuição das <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong> enxofre (SO2)<br />
24
<strong>de</strong> seu parque industrial, b<strong>em</strong> como pela redução do enxofre existente no óleo<br />
diesel. Os controles estratégicos realizados <strong>em</strong> 1986, 1989, 1991 e 1993,<br />
implicaram na substituição do combustível com 2% <strong>de</strong> enxofre, por um óleo diesel<br />
industrial com 1% <strong>de</strong> enxofre <strong>em</strong> 1997. O resultado do monitoramento do dióxido<br />
<strong>de</strong> enxofre (SO2) atmosférico nos últimos 6 anos mostra que sua concentração<br />
está abaixo do estabelecido pelos padrões da qualida<strong>de</strong> do ar, que são <strong>de</strong> 0,13<br />
ppm (parte por milhão) por hora, e <strong>de</strong> 0,03 ppm anualmente.<br />
Başak e Alagha (2004) estudaram a composição da água da chuva sobre o<br />
lago Büyükçekmece, no subúrbio (aproximadamente a 30 Km) <strong>de</strong> Istambul, capital<br />
da Turquia. O lago é uma importante fonte <strong>de</strong> água potável para o abastecimento<br />
<strong>de</strong> Istambul, que conta com cerca <strong>de</strong> 10 milhões <strong>de</strong> habitantes. Foram instalados<br />
dois pontos <strong>de</strong> coleta próximos ao lago, que coletaram amostras entre<br />
Outubro/2001 e Julho/2002, totalizando 79 amostras nas duas estações. O pH das<br />
amostras variou entre 3,30 e 7,76, com média volumétrica <strong>de</strong> 4,81, abaixo <strong>de</strong> 5,6<br />
(consi<strong>de</strong>rado neutro para água <strong>de</strong> chuva). Isto se <strong>de</strong>ve a região <strong>de</strong> Büyükçekmece<br />
utilizar carvão e óleo combustível para o aquecimento, entretanto durante este<br />
estudo, estava <strong>em</strong> curso um projeto para o uso <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gás natural nesta<br />
área, o que po<strong>de</strong>ria diminuir as <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> óxidos <strong>de</strong> enxofre e nitrogênio. Outro<br />
fator importante é que as concentrações <strong>de</strong> potenciais agentes neutralizantes<br />
(como Ca +2 e NH4 + ) são baixas quando comparadas com outras áreas do<br />
Mediterrâneo.<br />
2.5. A acidificação das chuvas no Brasil<br />
No Brasil encontramos estudos <strong>em</strong> áreas metropolitanas <strong>de</strong> São Paulo<br />
(Leal et. al., 2004), Rio <strong>de</strong> Janeiro (De Mello, 2001), Salvador (Campos et. al.,<br />
1998), Rio Gran<strong>de</strong> – RS (Mirlean et al., 2000), on<strong>de</strong> se constata a predominância<br />
25
<strong>de</strong> valores médios ácidos nas chuvas <strong>de</strong>stes locais. Em áreas <strong>de</strong> florestas, os<br />
estudos na região do Lago Calado – Amazonas (Willians et al., 1997), e no Parque<br />
Nacional do Itatiaia (De Mello e Almeida, 2004) constatou-se valores médios<br />
lev<strong>em</strong>ente ácidos, o que indica a influência do vento como agente transportador<br />
<strong>de</strong> poluentes. Flues et. al (2003) mostra a influência <strong>de</strong> usinas termelétricas a<br />
carvão <strong>em</strong> Figueira – PR. Na região Centro Oeste, encontra-se o trabalho <strong>de</strong><br />
Moreira-Nord<strong>em</strong>ann et. al. (1997) na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> – MS, e <strong>de</strong><br />
Marques et. al (2006) na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuiabá – MT.<br />
O estudo <strong>de</strong> Leal et. al. (2004) se baseou no monitoramento da composição<br />
das chuvas na região central da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (região mais industrializada<br />
do Brasil) durante o período <strong>de</strong> março/2002 a fevereiro/2003. Além do pH e da<br />
condutivida<strong>de</strong>, também foram analisados os ânions e cátions majoritários. Os<br />
resultados obtidos indicaram que 55% das amostras eram ácidas (pH < 5,6),<br />
sendo uma amostra com valor <strong>de</strong> pH inferior a 4,0. Outro dado importante foi à<br />
ação da NH4 + (amônia) como agente neutralizador da aci<strong>de</strong>z da chuva, <strong>em</strong> função<br />
da sua concentração elevada constatada. As <strong>em</strong>issões dos veículos automotores<br />
continuam sendo um grave probl<strong>em</strong>a ambiental, <strong>em</strong> função da constatação dos<br />
ácidos carboxílicos, mas também pelos teores elevados <strong>de</strong> NO3 - (nitrato).<br />
De Mello (2001) realizou um estudo sobre a composição da água da chuva<br />
na Região Metropolitana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e encontrou valores <strong>de</strong> pH que<br />
variaram <strong>de</strong> 3,50 a 6,85. Seu trabalho também apontou a presença <strong>de</strong> sais nos<br />
aerossóis dominantes, como os cloretos (Cl - ), sódio (Na + ), sobretudo <strong>de</strong>vido a<br />
influência do oceano. Também encontrou significativas correlações (r > 0,75, P <<br />
0,01) entre os teores <strong>de</strong> nitrato (NO3 - ) e a concentração <strong>de</strong> íons <strong>de</strong> hidrogênio<br />
(H + ). Também constatou que cerca <strong>de</strong> 85% do nitrogênio inorgânico (amônia –<br />
NH4 + , e nitrato – NO3 - ) é <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> antropogênica. Além disto, observou-se que as<br />
maiores concentrações dos poluentes (exceto H + ) foram encontradas na estação<br />
26
seca, o que indica como o volume <strong>de</strong> precipitação auxilia na diluição dos<br />
poluentes atmosféricos.<br />
Em Salvador, Campos et al. (1998) comparou a composição da água da<br />
chuva utilizando um coletor somente para <strong>de</strong>posição úmida (era aberto somente<br />
no momento da precipitação) com o da <strong>de</strong>posição total (o coletor permanecia<br />
s<strong>em</strong>pre aberto, coletando além da precipitação, os sedimentos que se<br />
<strong>de</strong>positavam sobre ele). Por se tratar <strong>de</strong> um local litorâneo, observou-se a elevada<br />
concentração <strong>de</strong> cloretos (Cl - ) e sódio (Na + ). Verificou-se também que o spray<br />
marinho serve para neutralizar a aci<strong>de</strong>z das chuvas, uma vez que os valores <strong>de</strong><br />
pH nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição total eram superiores aos da <strong>de</strong>posição úmida. A<br />
média pon<strong>de</strong>rada do pH foi <strong>de</strong> 5,51 e da condutivida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong> 30,7 μS/cm na<br />
<strong>de</strong>posição total e <strong>de</strong> 22,3 μS/cm na <strong>de</strong>posição apenas úmida.<br />
Na região Sul do Brasil, Mirlean et. al. (2000) estudou a orig<strong>em</strong> da<br />
acidificação das chuvas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> – RS, uma região urbana e<br />
industrial. Neste trabalho, foi feito o parcelamento da amostra <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> 4<br />
partes, <strong>de</strong>sta maneira foi possível diferenciar as características físico-químicas<br />
durante o mesmo evento chuvoso. O pH apresentou valores que variaram entre<br />
3,6 e 7,8, sendo que as primeiras parcelas da chuva foram as que geralmente<br />
apresentaram os valores mais ácidos (mais baixos). A condutivida<strong>de</strong> variou entre<br />
4 μS/cm a 39 μS/cm, mas foram encontrados valores <strong>de</strong> 394 μS/cm. Conforme o<br />
valor do pH das parcelas posteriores aumentava, se verificou que havia uma<br />
diminuição da condutivida<strong>de</strong> elétrica da parcela. Outro dado importante é que<br />
quando associado pH com a direção do vento, constatou-se que quando os ventos<br />
eram oriundos das áreas próximas ao parque industrial da cida<strong>de</strong>, o pH era mais<br />
ácido, indicando que a <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong>itida pelas indústrias t<strong>em</strong> influência<br />
na composição das chuvas <strong>em</strong> Rio Gran<strong>de</strong>.<br />
27
Em regiões <strong>de</strong> florestas, Willians et. al. (1997) verificou que no Lago<br />
Calado, situado a 80 Km sentido oeste <strong>de</strong> Manaus – AM, a média volumétrica do<br />
pH foi <strong>de</strong> 4,8, e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> queima <strong>de</strong> biomassa não apresentou influência<br />
significativa na composição da atmosfera, tendo <strong>em</strong> vista que a própria atmosfera<br />
que cobre a Amazônia Central possui uma boa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diluir os efeitos<br />
provocados pelos <strong>de</strong>smatamentos. Assim sendo, a aci<strong>de</strong>z da água da chuva é<br />
atribuída primeiramente à presença dos ácidos orgânicos <strong>de</strong>rivados das fontes<br />
oceânicas e biogênicas que parec<strong>em</strong> ser as <strong>de</strong>terminantes mais fortes da<br />
composição solúvel das chuvas na Amazônia Central.<br />
No Parque Nacional do Itatiaia, situado na divisa dos estados <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais e Rio <strong>de</strong> Janeiro, De Mello e Almeida (2004) realizam coletas durante o<br />
período <strong>de</strong> 12 meses (Janeiro/1999 a Janeiro/2000) <strong>em</strong> dois pontos distintos do<br />
parque, sendo um a 820 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (se<strong>de</strong> do Parque) e outro no platô do<br />
Maciço do Itatiaia, a 2240 metros. Os valores <strong>de</strong> pH encontrados variaram <strong>de</strong> 4,22<br />
a 6,14, e a ocorrência abundante <strong>de</strong> sulfato, nitrato e amônia <strong>em</strong> áreas<br />
consi<strong>de</strong>radas r<strong>em</strong>otas (como é o caso do Parque Nacional do Itatiaia), sugere que<br />
estes poluentes sejam oriundos <strong>de</strong> <strong>em</strong>issões antropogênicas, que acabam sendo<br />
transportadas pelos ventos e afetam a composição da água da chuva.<br />
Flues et. al. (2003) ao estudar a influência <strong>de</strong> uma usina termelétrica na<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Figueira – PR, encontrou valores <strong>de</strong> pH na água da chuva que variaram<br />
entre 3,9 e 6,4, com média volumétrica <strong>de</strong> 4,9, on<strong>de</strong> o sulfato (SO4 -2 ) é o principal<br />
responsável pela acidificação das chuvas. Isto ocorre <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do carvão<br />
utilizado para queima possuir elevado teor <strong>de</strong> enxofre, que é liberado durante a<br />
queima para a atmosfera, on<strong>de</strong> reage com a água formando o ácido sulfúrico<br />
(H2SO4). O grau <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>z não foi maior <strong>de</strong>vido a neutralização feita pelo amônio<br />
(NH4 + ) e cálcio (Ca +2 ). Quando verificado a suscetibilida<strong>de</strong> do solo e da vegetação<br />
à <strong>de</strong>posição ácida, constatou-se que o solo e a vegetação <strong>de</strong> Figueira – PR<br />
apresenta sensibilida<strong>de</strong>, e que caso haja uma ação prolongada da água <strong>de</strong> chuva<br />
28
ácida, isto po<strong>de</strong> acarretar danos ao solo, causando queda <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> e<br />
fertilida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r prejudicar o <strong>de</strong>senvolvimento normal da vegetação.<br />
Em Campo Gran<strong>de</strong>, Moreira-Nord<strong>em</strong>ann et. al. (1997) constatou que os<br />
teores mais elevados na água das chuvas são os <strong>de</strong> nitrato, sulfato, cloreto e<br />
amônio. E diferent<strong>em</strong>ente do que observado por Willians et. al. (1997), neste caso<br />
as queimadas parec<strong>em</strong> ser as gran<strong>de</strong>s responsáveis pelos valores <strong>de</strong> nitrato,<br />
sulfato e amônio, enquanto que as carvoarias influenciaram nos resultados <strong>de</strong><br />
cloreto. O valor mais baixo <strong>de</strong> pH encontrado foi <strong>de</strong> 4,81, e possivelmente as altas<br />
<strong>em</strong>issões <strong>de</strong> amônio colaboram na neutralização da aci<strong>de</strong>z. Entretanto, é possível<br />
que os ácidos orgânicos regul<strong>em</strong> a acidificação das chuvas, pois o balanço iônico<br />
dos íons estudados não explica o valor encontrado para o pH.<br />
Marques et. al. (2006) avaliou o índice <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>z das chuvas <strong>em</strong> Cuiabá –<br />
MT, on<strong>de</strong> foram coletadas 43 amostras entre 21/09/2004 a 20/01/2005. Os valores<br />
<strong>de</strong> pH variaram entre 4,25 e 6,45, sendo que 29% eram menor que 5,0, 37,5%<br />
entre 5,0 e 5,59, 21% entre 5,60 e 6,00, e 12,5% acima <strong>de</strong> 6,01. A análise <strong>de</strong><br />
correlação indicou uma correlação negativa <strong>de</strong> 0,97 entre os valores <strong>de</strong> pH e a<br />
concentração <strong>de</strong> nitrato. Quando comparado o valor do pH com o número <strong>de</strong> dias<br />
anteriores s<strong>em</strong> precipitação, verificou-se que a maioria das chuvas com valores<br />
ácidos ocorreu quando choveu no mesmo dia ou na véspera. Isto indica que os<br />
poluentes dispersos na atmosfera pod<strong>em</strong> concorrer para neutralizar a aci<strong>de</strong>z<br />
existente, entretanto, <strong>de</strong>vido aos equipamentos disponíveis, foi possível apenas<br />
i<strong>de</strong>ntificar e quantificar o íon nitrato (NO3 - ).<br />
2.6. Material particulado inalável<br />
Atualmente, há muito interesse <strong>em</strong> se compreen<strong>de</strong>r qual o verda<strong>de</strong>iro efeito<br />
que o material particulado inalável existente na atmosfera po<strong>de</strong> causar ao ser<br />
29
humano. Compreen<strong>de</strong>-se por material particulado inalável partículas com tamanho<br />
inferior a 10 μm que ficam suspensas na atmosfera (Rebellato, 2006; Tresmondi,<br />
2003; Castanho, 1999), sendo subdivididas <strong>em</strong> partículas finas (com tamanho <strong>de</strong><br />
até 2,5 μm) e grossas (maior que 2,5 até 10 μm), e constituídas principalmente <strong>de</strong><br />
sulfato, nitrato e amônio, por ex<strong>em</strong>plo. O material particulado inalável é <strong>em</strong>itido<br />
basicamente pela ação humana (queimadas, queima <strong>de</strong> combustíveis fósseis e<br />
ativida<strong>de</strong>s industriais, por ex<strong>em</strong>plo), e po<strong>de</strong> provocar vários prejuízos à saú<strong>de</strong><br />
como probl<strong>em</strong>as respiratórios, baixa <strong>de</strong>fesa imunológica, probl<strong>em</strong>as cardíacos,<br />
renais, neurológicos (Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003) além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r provocar<br />
alterações nos cromossomos (Wei e Meng, 2006). Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong>,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, Kozerski e Hess (2006) estimaram que um único ônibus do<br />
transporte coletivo urbano (havia durante o estudo um total <strong>de</strong> 467 ônibus <strong>de</strong><br />
transporte coletivo urbano municipal), po<strong>de</strong> <strong>em</strong>itir mensalmente entre 0,12 e 2,7<br />
toneladas <strong>de</strong> material particulado, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> combustível utilizado.<br />
Nos EUA, os aerossóis ácidos (também existentes no material particulado<br />
inalável) foram suspeitos <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> um dos componentes tóxicos dos poluentes do<br />
ar que foram elencados como sendo responsáveis por elevar as taxas <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> nos EUA e Canadá, entretanto esta evidência foi consi<strong>de</strong>ra inconclusa<br />
(Chestnut e Mills, 2005). Também foi levantado o risco sobre o potencial que as<br />
<strong>de</strong>posições ácidas possu<strong>em</strong> para movimentar as substâncias nocivas do solo, e<br />
respectivamente na ca<strong>de</strong>ia alimentar humana.<br />
Castanho (1999) realizou campanhas <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> material<br />
particulado inalável (além <strong>de</strong> outros poluentes) na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, durante o<br />
inverno <strong>de</strong> 1997 e o verão <strong>de</strong> 1998, tendo por objetivo compreen<strong>de</strong>r melhor o<br />
funcionamento <strong>de</strong> uma atmosfera complexa como a existente <strong>em</strong> São Paulo.<br />
Verificou-se que nos períodos <strong>de</strong> maior estabilida<strong>de</strong> <strong>atmosférica</strong>, as<br />
concentrações foram mais elevadas, tendo inclusive ultrapassado o limite<br />
30
estabelecido pelo padrão nacional <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar, tendo atingido valores<br />
superiores a 150 μg/m 3 .<br />
No trabalho <strong>de</strong> Tresmondi (2003) pod<strong>em</strong>-se observar níveis <strong>de</strong> material<br />
particulado inaláveis <strong>em</strong> Paulínia (importante pólo petroquímico), Campinas e<br />
Cosmópolis (no estado <strong>de</strong> São Paulo), amostrados entre Março/2000 a<br />
Julho/2002. Entretanto os valores medidos não ultrapassaram os níveis<br />
estabelecidos pela legislação vigente, mesmo sendo esta região um forte pólo<br />
petroquímico. Mas ressalta que cida<strong>de</strong>s como Cubatão já exce<strong>de</strong>u o limite<br />
estabelecido (50 μg/m 3 – microgramas por metro cúbico) registrando 94 μg/m 3 <strong>em</strong><br />
2001, indicando a importância <strong>de</strong> uma política pública voltada para a questão.<br />
Entretanto, a autora ressalta que os teores <strong>de</strong> material particulado inalável (MP10)<br />
na região Central <strong>de</strong> Paulínia <strong>de</strong>veriam ser observados com mais cuidado, uma<br />
vez que é a área que apresenta maior potencial para ultrapassar o limite <strong>de</strong><br />
concentração anual estabelecido, afinal foi registrada no ano <strong>de</strong> 2001 uma média<br />
<strong>de</strong> 44,1 μg/m 3 . Um outro fator importante levantado é como o MP10 influencia a<br />
atmosfera, pois <strong>em</strong> altas concentrações po<strong>de</strong> interferir no albedo (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
reflexão, espalhamento ou absorção da radiação solar pela atmosfera, ajudando<br />
no aquecimento ou resfriamento do planeta).<br />
Torres e Martins (2005) constataram que os veículos automotores são os<br />
gran<strong>de</strong>s responsáveis pelas altas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> MP10 encontrado <strong>em</strong> Juiz <strong>de</strong><br />
Fora – Minas Gerais, pois os picos <strong>de</strong> concentração foram encontrados<br />
justamente nos horários on<strong>de</strong> há maior circulação <strong>de</strong> automóveis, sobretudo por<br />
volta das 18:00 horas. Os resultados mostram médias diárias que variaram entre<br />
15 e 130 μg/m 3 , sendo que mais da meta<strong>de</strong> dos 89 dias amostrados apresentaram<br />
médias superiores a 50 μg/m 3 . A velocida<strong>de</strong> do vento também colabora para<br />
aumentar a concentração <strong>de</strong> maneira inversa, ou seja, quanto menor a velocida<strong>de</strong>,<br />
maior a concentração. Isto também se explica por se tratar <strong>de</strong> uma área localizada<br />
<strong>em</strong> fundo <strong>de</strong> vale, o que po<strong>de</strong> também dificultar a dispersão com fracas rajadas <strong>de</strong><br />
31
ventos. Como Juiz <strong>de</strong> Fora recebe também um pesado fluxo <strong>de</strong> caminhões (que<br />
utilizam óleo diesel como combustível), a Via São Pedro teria a função <strong>de</strong> tirar do<br />
centro da cida<strong>de</strong> os veículos oriundos da MG-353 e <strong>em</strong> direção à BR-040, o que<br />
po<strong>de</strong>ria reduzir a <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> local.<br />
Em Cuiabá, Rebellato (2006) estudou a variação <strong>de</strong> MP10 entre<br />
Dez<strong>em</strong>bro/1992 a Março/1995. Neste período verificou que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
particulado fino é 4,5 vezes maior que o particulado grosso na estação seca<br />
(meses <strong>de</strong> maio a set<strong>em</strong>bro), e neste período também se concentra o maior<br />
número <strong>de</strong> atendimento hospitalar <strong>de</strong> crianças e idosos por probl<strong>em</strong>as<br />
respiratórios. Também se constatou que os principais componentes do material<br />
particulado fino na estação seca e chuvosa são o enxofre, o potássio e o ferro,<br />
enquanto que no material particulado grosso predominam o potássio, o cálcio e o<br />
ferro para ambas as estações.<br />
Para a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material particulado inalável o CONAMA estabeleceu<br />
valores que indicam a situação da qualida<strong>de</strong> do ar <strong>em</strong> função da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
particulado na atmosfera. O padrão internacional dos parâmetros que avaliam a<br />
qualida<strong>de</strong> do ar, no que se refere à quantida<strong>de</strong> que material particulado<br />
atmosférico é seguido por diversos órgãos ambientais no Brasil, <strong>de</strong>stacando-se o<br />
trabalho realizado pela CETESB (2005). A tabela 3 mostra estes índices <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> do ar, juntamente com o significado da situação i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> função<br />
da concentração do particulado existente. A Resolução do CONAMA n° 03 <strong>de</strong><br />
28/06/90 estabelece as concentrações máximas (<strong>em</strong> μg/m 3 ) <strong>de</strong> MP10 <strong>em</strong> 24 horas<br />
para que ocorram avisos à população, sendo: 250 para atenção, 420 para alerta e<br />
500 para <strong>em</strong>ergência.<br />
32
Tabela 3 – Índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar <strong>em</strong> função do material particulado atmosférico<br />
utilizado pela CETESB, com o significado <strong>de</strong> cada situação.<br />
Qualida<strong>de</strong><br />
MP10 (μg/m 3 ) –<br />
24h<br />
SIGNIFICADO<br />
BOA 0 – 50 Praticamente não há riscos à saú<strong>de</strong>.<br />
REGULAR 50 – 150<br />
INADEQUADA 151 – 250<br />
MÁ 251 – 420<br />
PÉSSIMA 421 - 500<br />
CRÍTICA > 500<br />
Fonte: Adaptado <strong>de</strong> CETESB (2005).<br />
2.7. Deposição seca<br />
33<br />
Pessoas <strong>de</strong> grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas<br />
com doenças respiratórias e cardíacas), pod<strong>em</strong><br />
apresentar sintomas como tosse seca e cansaço. A<br />
população, <strong>em</strong> geral, não é afetada.<br />
Toda a população po<strong>de</strong> apresentar sintomas como tosse<br />
seca, cansaço, ardor nos olhos, nariz e garganta. Pessoas<br />
<strong>de</strong> grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas com<br />
doenças respiratórias e cardíacas), pod<strong>em</strong> apresentar<br />
efeitos mais sérios na saú<strong>de</strong>.<br />
Toda a população po<strong>de</strong> apresentar agravamento dos<br />
sintomas como tosse seca, cansaço, ardor nos olhos,<br />
nariz e garganta e ainda apresentar falta <strong>de</strong> ar e<br />
respiração ofegante. Efeitos ainda mais graves à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
grupos sensíveis (crianças, idosos e pessoas com<br />
doenças respiratórias e cardíacas).<br />
Toda a população po<strong>de</strong> apresentar sérios riscos <strong>de</strong><br />
manifestações <strong>de</strong> doenças respiratórias e<br />
cardiovasculares.<br />
Aumento <strong>de</strong> mortes pr<strong>em</strong>aturas <strong>em</strong> pessoas <strong>de</strong> grupos<br />
sensíveis. Pessoas saudáveis pod<strong>em</strong> apresentar sintomas<br />
que afetam sua ativida<strong>de</strong> normal,<br />
A <strong>de</strong>posição seca é o material que existe suspenso na atmosfera, que<br />
acaba por se <strong>de</strong>positar na superfície. Para De Souza et al. (2006), a <strong>de</strong>posição<br />
<strong>atmosférica</strong> é um dos mais importantes mecanismos naturais para a ciclag<strong>em</strong> e<br />
dispersão <strong>de</strong> nutrientes e outras substâncias pela superfície, po<strong>de</strong>ndo influenciar<br />
nos processos biogeoquímicos continentais e costeiros. A <strong>de</strong>posição seca po<strong>de</strong><br />
ser ácida ou alcalina <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da sua orig<strong>em</strong>. Assim, as conseqüências para o<br />
ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão <strong>de</strong> suas características e pelo fato <strong>de</strong> que se comportam <strong>de</strong>
maneira diferente sobre superfície secas e aquosas (De Souza et al., 2006;<br />
Tasd<strong>em</strong>ir e Günnes, 2006). Portanto, é comum que seus estudos estejam<br />
associados com a <strong>de</strong>posição úmida ou com a <strong>de</strong>posição total, on<strong>de</strong> se estuda a<br />
<strong>de</strong>posição seca misturada com a <strong>de</strong>posição úmida (Campos et al., 1998; Souza et<br />
al., 2006).<br />
Campos et al. (1998) verificou que na <strong>de</strong>posição total, as concentrações<br />
dos íons eram maiores do que quando analisada somente a <strong>de</strong>posição úmida.<br />
Outro ponto analisado foi que as médias volumétricas <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong><br />
também eram maiores na <strong>de</strong>posição total, indicando que neste caso, a <strong>de</strong>posição<br />
seca ajuda a neutralizar um pouco da aci<strong>de</strong>z existente. Como se trata da cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Salvador (uma área litorânea), o spray marinho (sobretudo contendo o íon<br />
sódio – Na + ) po<strong>de</strong> concorrer para amenizar a aci<strong>de</strong>z existente. De Souza et al.<br />
(2006) estudou o comportamento da <strong>de</strong>posição seca, úmida e total <strong>em</strong> Ilha<br />
Gran<strong>de</strong> (litoral do Rio <strong>de</strong> Janeiro). Constatou que a <strong>de</strong>posição seca t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />
relação com a condutivida<strong>de</strong> elétrica, b<strong>em</strong> como com a concentração dos íons<br />
Na + , Ca +2 , Mg +2 e Cl - , mostrando a influência do spray marinho na composição da<br />
<strong>de</strong>posição seca.<br />
Tasd<strong>em</strong>ir e Günnes (2006) estudaram a <strong>de</strong>posição seca <strong>de</strong> dióxido <strong>de</strong><br />
enxofre (SO2) <strong>em</strong> Bursa – Turquia, verificando a diferença <strong>em</strong> dois pontos, sendo<br />
um na cida<strong>de</strong> e outro <strong>em</strong> área suburbana (afastada a cerca <strong>de</strong> 20 Km do centro).<br />
Os resultados mostraram que o teor <strong>de</strong> SO2 encontrado na cida<strong>de</strong> é muito maior<br />
do que no seu entorno e que sua orig<strong>em</strong> está relaciona às técnicas para<br />
aquecimento, ativida<strong>de</strong>s industriais e também à queima <strong>de</strong> combustível fóssil que<br />
libera óxidos <strong>de</strong> enxofre (SOx) para a atmosfera, e que contribui <strong>de</strong> maneira mais<br />
eficiente para a formação do material particulado grosso.<br />
34
2.8. Queimadas e saú<strong>de</strong> pública<br />
Há um interesse muito gran<strong>de</strong> <strong>em</strong> associar <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> somente<br />
com <strong>em</strong>issões industriais ou <strong>em</strong>issões veiculares, sobretudo nos gran<strong>de</strong>s centros<br />
urbanos (Arbex et. al., 2004), poucas pesquisas consi<strong>de</strong>ram a influência das<br />
queimadas (queima <strong>de</strong> biomassa) sobre a <strong>poluição</strong> urbana, e seus impactos na<br />
saú<strong>de</strong> humana. Um fato que chama a atenção é o <strong>de</strong>stino dado à ma<strong>de</strong>ira nos<br />
países <strong>de</strong>senvolvidos, on<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 82% é utilizado para fins industriais, e nos<br />
países menos <strong>de</strong>senvolvidos, on<strong>de</strong> 80% da ma<strong>de</strong>ira é utilizada como lenha<br />
(Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva, 2003). Assim, também é preciso levar <strong>em</strong> conta que<br />
para muitos países asiáticos, latino-americanos e africanos <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a<br />
queima da ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong> outros combustíveis <strong>de</strong> biomassa são responsáveis por<br />
aproximadamente 40 ou 60% do total dos recursos energéticos disponíveis para<br />
estes países. Na África subsaariana, por ex<strong>em</strong>plo, alguns países chegam a utilizar<br />
quase 80% <strong>de</strong> sua energia total na cozinha doméstica, ou seja, através da queima<br />
<strong>de</strong> biomassa (seja a lenha ou outros tipos <strong>de</strong> combustíveis, como esterco ou<br />
carvão vegetal).<br />
Gold<strong>em</strong>berg e Villanueva (2003) apontam que estudos da OMS<br />
(Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>) ressaltam que as pessoas submetidas a esta<br />
atmosfera insalubre (resultado da queima <strong>de</strong> biomassa, sobretudo nos países<br />
mais pobres) têm sofrido com probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> infecção respiratória aguda,<br />
especialmente a pneumonia. Além disto, estima-se que a infecção respiratória<br />
aguda, seja responsável por cerca <strong>de</strong> 4,3 milhões <strong>de</strong> mortes anualmente <strong>em</strong> todo<br />
mundo, atingindo principalmente as mulheres (responsáveis <strong>em</strong> geral por cerca <strong>de</strong><br />
90% das ativida<strong>de</strong>s domésticas) e as crianças.<br />
No Brasil, o avanço agrícola e pecuário sobre a Amazônia t<strong>em</strong> provocado<br />
um aumento crescente no <strong>de</strong>smatamento, on<strong>de</strong> se utilizam as queimadas como<br />
35
agente <strong>de</strong> <strong>de</strong>smate (Drew, 2002), inclusive <strong>de</strong>vido aos baixos custos que elas<br />
d<strong>em</strong>andam. Para as pequenas proprieda<strong>de</strong>s, as queimadas serv<strong>em</strong> para preparar<br />
o solo para o plantio, pois além <strong>de</strong> limpar a área, propicia a fertilização do solo<br />
pelas cinzas (Cavalcante, 2001). No Mato Grosso, on<strong>de</strong> o avanço da fronteira<br />
agrícola t<strong>em</strong> se intensificado nas últimas décadas, faz com que o estado registre<br />
ano a ano, um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> focos <strong>de</strong> queimadas, sejam eles aci<strong>de</strong>ntais ou<br />
propositais. Em Cuiabá, um costume antigo, faz com que se queime vegetação e<br />
lixo urbano, principalmente na estação seca (Botelho et al., 2003). Mesmo com os<br />
números, poucas pesquisas procuram relacionar os efeitos das queimadas sobre<br />
a saú<strong>de</strong> da população local e qual a sua influência na composição da atmosfera.<br />
Um estudo realizado no estado do Amazonas por Williams et. al. (1997) não<br />
verificou uma influência significativa das queimadas na composição <strong>atmosférica</strong>,<br />
entretanto não foi objetivo <strong>de</strong>ste trabalho, relacionar as queimadas com a saú<strong>de</strong><br />
humana.<br />
Arbex et al. (2004) aponta que as queimadas colaboram na formação do<br />
material particulado inalável, po<strong>de</strong>ndo ser transportado pelos ventos através <strong>de</strong><br />
longas distâncias, e afetar inclusive áreas que não produz<strong>em</strong> queimadas. Um<br />
outro ponto levantado para explicar o motivo pelos quais as queimadas a céu<br />
aberto ainda são constantes, está no fato <strong>de</strong> que mesmo nos dias atuais, não se<br />
conseguiu <strong>de</strong>scobrir <strong>em</strong> quase 50% dos casos <strong>de</strong> queima <strong>de</strong> vegetação, qual a<br />
orig<strong>em</strong> do incêndio. E, como as pessoas mais pobres são as mais atingidas, os<br />
serviços precários (quando há) <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, ou a falta <strong>de</strong> acesso, agrava<br />
ainda mais a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas pessoas.<br />
Em Cuiabá, por ex<strong>em</strong>plo, segundo o relatório <strong>de</strong> ocorrências do CIOSP<br />
(2005), entre set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2004 e janeiro <strong>de</strong> 2005 foram registradas 1970<br />
ocorrências (a ocorrência se trata da <strong>de</strong>núncia feita pelo munícipe através do<br />
telefone 190) <strong>de</strong> queimadas nos municípios <strong>de</strong> Cuiabá e Várzea Gran<strong>de</strong><br />
(município vizinho a Cuiabá), sendo no mês <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro registrado 709<br />
36
ocorrências. A tendência é que com o início da estação chuvosa as ocorrências<br />
diminuam.<br />
Botelho et al. (2003) estudou as hospitalizações e internações provocadas<br />
por infecção respiratória aguda <strong>em</strong> crianças com menos <strong>de</strong> 5 anos no Pronto<br />
Socorro Municipal <strong>de</strong> Cuiabá, on<strong>de</strong> associou a influência das variáveis <strong>de</strong><br />
t<strong>em</strong>peratura, umida<strong>de</strong> relativa do ar e número <strong>de</strong> queimadas aos registros. O<br />
resultado encontrado mostrou que a maior parte dos atendimentos resultantes <strong>de</strong><br />
infecção respiratória aguda ocorreu durante o período chuvoso, e não durante a<br />
estação seca, como se pensava. É importante ressaltar que <strong>em</strong>bora a maior<br />
incidência seja no período chuvoso, os níveis <strong>de</strong> infecção são menores do que os<br />
registrados na estação seca, on<strong>de</strong> se registraram os quadros mais graves. Assim,<br />
a atmosfera poluída pelas <strong>em</strong>issões das queimadas, <strong>em</strong> conjunto com a baixa<br />
umida<strong>de</strong> relativa e t<strong>em</strong>peraturas mais elevadas, geram um ar <strong>de</strong> má qualida<strong>de</strong>, e<br />
quando respirado pelas crianças, tend<strong>em</strong> a aumentar o grau da infecção<br />
respiratória aguda.<br />
Assim sendo, o estudo da composição das chuvas, da <strong>de</strong>posição seca e o<br />
material particulado inalável constitu<strong>em</strong> importantes ferramentas para a análise da<br />
<strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong>. Isto porque são fatores que provocam uma conseqüência<br />
perceptível ao hom<strong>em</strong>, po<strong>de</strong>ndo ser os danos causados por estes eventos à<br />
fauna, flora, corpos hídricos, solos, construções, e principalmente para a saú<strong>de</strong><br />
humana. Monteiro (2003) estabelece <strong>de</strong>ntro do Sist<strong>em</strong>a Clima Urbano que estes<br />
eventos pertenc<strong>em</strong> ao canal <strong>de</strong> percepção da qualida<strong>de</strong> do ar, situado <strong>de</strong>ntro do<br />
subsist<strong>em</strong>a físico-químico. É importante reconhecer que atualmente já exist<strong>em</strong><br />
tecnologias que pod<strong>em</strong> amenizar os efeitos da <strong>poluição</strong> do ar para o ambiente, e<br />
não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que ela é uma resultante inevitável do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Os países <strong>de</strong>senvolvidos, foram os primeiros a sofrer<strong>em</strong> com este tipo <strong>de</strong><br />
probl<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> função sobretudo do <strong>de</strong>senvolvimento e aperfeiçoamento industrial,<br />
e por isso procuram agora formular mecanismos que possibilit<strong>em</strong> um<br />
37
<strong>de</strong>senvolvimento contínuo, s<strong>em</strong> frear a economia, e que cause conseqüências<br />
mínimas para o ambiente. Entretanto os acordos e protocolos criados e assinados<br />
se mostram tímidos no eficiente combate da <strong>poluição</strong>, principalmente no que se<br />
refere ao continente asiático, e também aos EUA, que se negam a cumprir o<br />
protocolo <strong>de</strong> Kyoto, alegando que será prejudicial à sua economia.<br />
O mundo vive então um gran<strong>de</strong> dil<strong>em</strong>a, pois <strong>de</strong> um lado está o avanço<br />
tecnológico e <strong>de</strong> consumo, vital para o capitalismo, e <strong>de</strong> outro está à vigilância<br />
ambiental, pois a percepção mais profunda que se po<strong>de</strong> extrair é a <strong>de</strong> que a vida<br />
humana é condicionada a um mínimo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ambiente (ar, água, solos,<br />
etc.). Ou seja, caso não haja uma mudança no modo <strong>de</strong> ação, sobretudo dos<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> capital, a socieda<strong>de</strong> será penalizada pela falta <strong>de</strong> recursos<br />
hídricos e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r respirar um ar <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> os maiores prejudicados<br />
serão aqueles mais pobres, que carec<strong>em</strong> <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> moradia e<br />
saneamento básico, b<strong>em</strong> como não têm acesso a um serviço público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong>. Baseado no exposto acima, este trabalho t<strong>em</strong> como objetivo avaliar a<br />
<strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> <strong>em</strong> Cuiabá, a partir da análise da composição da água das<br />
chuvas, da <strong>de</strong>posição seca, e da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material particulado inalável<br />
quantificado <strong>em</strong> um mês da estação seca e outro da estação chuvosa. Como não<br />
existe ainda uma longa série <strong>de</strong> dados sobre estes assuntos, não foi formulada<br />
uma hipótese para confirmação ou não da mesma, e assim as conclusões seriam<br />
indicadas pelos próprios resultados que vieram a ser encontrados.<br />
38
3. ÁREA DE ESTUDO<br />
Cuiabá – capital do Estado <strong>de</strong> Mato Grosso – é uma cida<strong>de</strong> com clima<br />
tropical s<strong>em</strong>i-úmido (tipo Aw pela classificação <strong>de</strong> Koppen), cuja se<strong>de</strong> municipal<br />
que também é o centro geodésico da América do Sul se encontra nas<br />
coor<strong>de</strong>nadas 15°36’49’’ LS e 56°04’06’’ LW. Possui duas estações b<strong>em</strong> distintas,<br />
sendo uma úmida e uma seca - alternadamente. A estação seca dura <strong>de</strong> 4 a 5<br />
meses, <strong>de</strong> maio a set<strong>em</strong>bro (Maitelli, 1994). A intensida<strong>de</strong> da seca neste período<br />
provoca vários danos na cobertura vegetal, e <strong>de</strong>vido à localização da cida<strong>de</strong> na<br />
região tropical, próxima a linha do Equador, possui apenas alguns dias frios no<br />
inverno, <strong>de</strong>vido à chegada <strong>de</strong> frentes frias oriundas da região polar. O restante da<br />
estação é quente e seca, e possui pluviosida<strong>de</strong> média anual próxima a 1.500 mm.<br />
Por se localizar na porção centro-sul do estado <strong>de</strong> Mato Grosso a atuação<br />
predominante durante a estação seca é do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> circulação estável do<br />
Anticiclone do Atlântico Sul e também pelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> correntes perturbadas <strong>de</strong><br />
Sul e Sudoeste do Anticiclone Polar, responsável pelo fenômeno <strong>de</strong> “friag<strong>em</strong>” na<br />
região (Maitelli, 1994). Enquanto que na estação chuvosa atuam o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
correntes perturbadas <strong>de</strong> Oeste e Noroeste (linhas <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>s das Frentes<br />
Intertropicais) causando chuvas e t<strong>em</strong>peraturas elevadas. Outro fator importante é<br />
a influência da continentalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Cuiabá, que causa elevadas amplitu<strong>de</strong>s<br />
térmicas mensais (diferença entre a t<strong>em</strong>peratura máxima e mínima registrada),<br />
sobretudo nos meses <strong>de</strong> seca, sendo registradas amplitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> até 15°C nos<br />
meses <strong>de</strong> julho e agosto entre os anos <strong>de</strong> 1970 a 1992 (Maitelli, 1994).<br />
Quanto ao relevo, Cuiabá está localizada na <strong>de</strong>pressão Cuiabana, sendo<br />
esta <strong>de</strong>pressão circundada pela Província Serrana das Serras residuais do Alto<br />
Paraguai, pelo Planalto dos Guimarães e Planalto dos Alcantilados.<br />
39
Na <strong>de</strong>pressão Cuiabana, predominam as rochas do Grupo Cuiabá, on<strong>de</strong> os<br />
metamorfitos ocupam quase que a totalida<strong>de</strong> da área, e mo<strong>de</strong>lam um relevo<br />
aplainado, pois já foram muito <strong>de</strong>sgastadas pelos processos erosivos <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> sua formação datar do pré-cambriano. Nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cuiabá<br />
encontram-se os solos concrecionários, com elevadas concreções ferruginonas, o<br />
que dificulta a caracterização dos horizontes e constituir o forte impedimento para<br />
a mecanização e para o <strong>de</strong>senvolvimento das raízes. Assim, a baixa fertilida<strong>de</strong><br />
natural do solo e a ocorrência <strong>de</strong> vários casos <strong>de</strong> alta toxi<strong>de</strong>z <strong>em</strong> função da<br />
saturação por alumínio trocável, torna esta área <strong>de</strong>saconselhável para fins<br />
agrícolas. A vegetação original que recobria a área é Cerrado do tipo savana<br />
arbustiva, possuindo um extrato graminoso muito utilizado como pastag<strong>em</strong> natural<br />
(RADAM, 1982).<br />
Ao norte da <strong>de</strong>pressão encontra-se a Província Serrana, on<strong>de</strong> predominam<br />
as rochas do Grupo Alto Paraguai. Estas rochas são formadas principalmente por<br />
rochas calcárias, formando ca<strong>de</strong>ias paralelas <strong>de</strong> morros. Destaca-se a Formação<br />
Araras, formada por calcários calcíticos (Rosário Oeste e Marzagão) e<br />
dolomíticos. No Planalto dos Guimarães têm-se as rochas da bacia do Paraná,<br />
constituídas sobretudo por areias quartzozas <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> topografia mais suave<br />
com solos concrecionários o que dificulta o uso para fins agrícolas. No Planalto<br />
dos Alcantilados, o relevo plano facilita a mecanização, entretanto o solo arenoso<br />
necessita <strong>de</strong> correções para o uso agrícola, e t<strong>em</strong>-se na área a produção <strong>de</strong><br />
gêneros agrícolas como a soja e o algodão.<br />
40
Figura 5 - Mapa geomorfológico <strong>de</strong> Mato Grosso. Fonte: Miranda e Amorim (2001).<br />
Ao analisar o sist<strong>em</strong>a atmosférico <strong>de</strong> Cuiabá com a sua localização<br />
geográfica, verifica-se que o sítio urbano está assentado sobre uma topografia<br />
suave, com a ocorrência <strong>de</strong> extensos chapadões à sua borda, caracterizando-a<br />
como uma <strong>de</strong>pressão relativa. Estes fatores contribu<strong>em</strong> para que haja na cida<strong>de</strong><br />
uma fraca ventilação (Maitelli, 1994), com a velocida<strong>de</strong> média mensal registrada<br />
entre 1970 e 1992 <strong>de</strong> 1,8 m/s, e variação entre 1,2 (as 20:00 horas) a 2,4 m/s (às<br />
14:00 horas). A fraca ventilação dificulta a dispersão dos poluentes, o que po<strong>de</strong><br />
causar uma maior concentração dos mesmos sobre a cida<strong>de</strong>. Além disto, durante<br />
a estação seca, Maitelli (1994) verificou que há com maior periodicida<strong>de</strong> situações<br />
<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>atmosférica</strong>, céu limpo e baixa velocida<strong>de</strong> do vento. Sendo assim,<br />
é necessário ressaltar que sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> atmosfera estável dificultam ainda mais a<br />
dispersão dos poluentes.<br />
41
O uso do solo e as ativida<strong>de</strong>s econômicas dos Planaltos dos Guimarães,<br />
dos Alcantilados e da Província Serrana são muito importantes para se<br />
compreen<strong>de</strong>r as influências que pod<strong>em</strong> ocorrer na Depressão Cuiabana. Em<br />
função das jazidas calcárias existentes na Província Serrana, encontram-se<br />
sobretudo no município <strong>de</strong> Nobres (cerca <strong>de</strong> 120 Km ao norte <strong>de</strong> Cuiabá,<br />
seguindo a BR-364/163), indústrias mineradoras que produz<strong>em</strong> calcário para fins<br />
agrícolas além <strong>de</strong> uma fábrica produtora <strong>de</strong> cimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte. Estas<br />
ativida<strong>de</strong>s pod<strong>em</strong> contribuir na <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> partículas <strong>de</strong> calcário (ricos <strong>em</strong><br />
carbonatos) para a atmosfera, e assim pod<strong>em</strong> posteriormente ser transportadas<br />
pelos ventos. No ano <strong>de</strong> 2004 foram produzidas no estado <strong>de</strong> Mato Grosso cerca<br />
<strong>de</strong> 5,8 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> calcário beneficiado (DNPM, 2005), enquanto que<br />
no ano <strong>de</strong> 2003 foram cerca <strong>de</strong> 6,1 milhões <strong>de</strong> toneladas (DNPM, 2004), conforme<br />
a figura 6. Desta quantida<strong>de</strong>, quase 100% t<strong>em</strong> como <strong>de</strong>stino o próprio estado,<br />
entretanto apenas cerca <strong>de</strong> 5% teve o uso agrícola <strong>de</strong>clarado como seu fim,<br />
entretanto, mais <strong>de</strong> 70% <strong>de</strong>sta quantida<strong>de</strong> não teve seu <strong>de</strong>stino final indicado, e<br />
assim, é possível que uma maior quantida<strong>de</strong> tenha sido utilizada.<br />
42
Figura 6 - Municípios com maior produção (toneladas) <strong>de</strong> calcário no ano <strong>de</strong> 2003.<br />
Organização: Rodrigo Marques (2006).<br />
Nos planaltos, cobertos pelos cerrados, os solos são consi<strong>de</strong>rados ácidos,<br />
<strong>em</strong> função <strong>de</strong> suas características químicas, físicas e mineralógicas, o que torna<br />
necessário uma reconstrução da fertilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes solos, feita através da calag<strong>em</strong><br />
e da adubação fosfatada corretiva (Lopes, 1983). Para o entorno da Depressão<br />
Cuiabana, o processo <strong>de</strong> calag<strong>em</strong> é muito importante. Esta técnica se baseia na<br />
adição <strong>de</strong> calcário no solo, e colabora <strong>em</strong> dois processos importantes, pois<br />
melhora as condições <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> natural do solo, além <strong>de</strong> auxiliar na diminuição<br />
da toxi<strong>de</strong>z provocada pelo alumínio, ferro e manganês (Lopes, 1983). Outro fator<br />
importante levantado por Lopes (1983) é que a calag<strong>em</strong> prévia faz aumentar a<br />
eficiência dos fertilizantes fosfatados solúveis <strong>em</strong> água. Assim, durante do<br />
processo <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> calcário no solo, po<strong>de</strong> haver dispersão <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ste<br />
43
calcário para a atmosfera e o transporte pelos ventos po<strong>de</strong> convergir para a<br />
Depressão Cuiabana, mais baixa que o entorno, facilitando o acúmulo nesta área<br />
<strong>em</strong> função da fraca ventilação. As figuras 7, 8 e 9 mostram os maiores produtores<br />
<strong>de</strong> algodão, milho e soja <strong>em</strong> Mato Grosso, on<strong>de</strong> se verifica como os planaltos<br />
mato-grossenses vêm sendo utilizados para a produção agrícola.<br />
Figura 7 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> algodão no ano <strong>de</strong> 2004.<br />
Fonte: SEPLAN/MT (2005).<br />
44
Figura 8 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> milho no ano <strong>de</strong> 2004. Fonte:<br />
SEPLAN/MT (2005).<br />
Figura 9 - Municípios <strong>de</strong> Mato Grosso com maior produção <strong>de</strong> soja no ano <strong>de</strong> 2004. Fonte:<br />
SEPLAN/MT (2005).<br />
45
O processo <strong>de</strong> expansão urbana resultou na conurbação <strong>de</strong> Cuiabá com a<br />
cida<strong>de</strong> vizinha <strong>de</strong> Várzea Gran<strong>de</strong>, formando o Aglomerado Urbano Cuiabá–Várzea<br />
Gran<strong>de</strong>, que conta atualmente com uma população estimada <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 800 mil<br />
habitantes (IBGE, 2005), porém <strong>em</strong> 2000 sua população era <strong>de</strong> 698.644<br />
habitantes. Um dos principais responsáveis pela <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes é a frota <strong>de</strong><br />
veículos existente, que consi<strong>de</strong>rando o Aglomerado Urbano Cuiabá – Várzea<br />
Gran<strong>de</strong> são aproximadamente 216 mil veículos automotores (Detran-MT, 2005).<br />
Também há um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> focos <strong>de</strong> queimadas urbanas, principalmente<br />
durante a seca, o que po<strong>de</strong> aumentar a concentração <strong>de</strong> gases e material sólido<br />
suspenso no ar, e conseqüent<strong>em</strong>ente afetar a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua população.<br />
Apresentou uma variação populacional <strong>de</strong> 20% entre 1991 e 2000 e uma taxa <strong>de</strong><br />
crescimento <strong>de</strong> 2,04% ao ano, mas entre 1960 e 1991 sofreu uma variação<br />
populacional <strong>de</strong> 596%, passando <strong>de</strong> 50.860 para 402.813 habitantes (IPDU,<br />
2004).<br />
A estrutura urbana <strong>de</strong> Cuiabá sofreu gran<strong>de</strong>s mudanças após a década <strong>de</strong><br />
1970, <strong>em</strong> função do Programa <strong>de</strong> Integração Nacional (PIN) criado neste ano<br />
(Romancini, 2001). Assim, este projeto se preocupou na criação <strong>de</strong> estradas<br />
indispensáveis para a região, b<strong>em</strong> como promover uma política <strong>de</strong> estímulos para<br />
a formação <strong>de</strong> pólos agrícolas e industriais <strong>em</strong> Mato Grosso (criando-se projetos<br />
como o PROTERRA, PRODOESTE, PROBOR, POLOCENTRO e o<br />
POLAMAZÔNIA). Assim, na capital mato-grossense se instalaram representações<br />
<strong>de</strong> <strong>em</strong>presas colonizadoras, <strong>de</strong> planejamento e também <strong>de</strong> assessoria a projetos<br />
agropecuários. A aptidão para ativida<strong>de</strong>s agro-florestais do estado também<br />
promoveu a vinda <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> maquinarias e equipamentos agrícolas e<br />
ma<strong>de</strong>ireiras (Romancini, 2001). Entretanto a rápida expansão urbana trouxe<br />
conseqüências negativas para a cida<strong>de</strong>, como as ocupações irregulares, expondo<br />
a população (sobretudo a mais pobre) a viver <strong>em</strong> áreas insalubres, s<strong>em</strong><br />
assistência <strong>de</strong> serviços públicos como saneamento e saú<strong>de</strong>. Quanto ao setor<br />
industrial, Cuiabá apresenta seu forte na construção civil, na transformação <strong>de</strong><br />
46
minerais, na produção <strong>de</strong> produtos alimentares. Embora apresente indústrias<br />
ligadas à metalurgia, química e refino <strong>de</strong> petróleo (IPDU, 2004; SEPLAN, 2004),<br />
estas são na sua maioria <strong>de</strong> pequeno porte, o que faz com que Cuiabá não se<br />
caracterize como um gran<strong>de</strong> pólo industrial, com gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>issões <strong>de</strong> poluentes<br />
atmosféricos <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> industrial.<br />
O presente trabalho foi realizado no Campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Mato Grosso, (15°36’40’’ LS e 56°01’33’’ LW) – região leste <strong>de</strong> Cuiabá, conforme<br />
figura 10. A área fica entre as avenidas Fernando Correa da Costa e Arquime<strong>de</strong>s<br />
Pereira Lima (conhecida como estrada do moinho), avenidas com gran<strong>de</strong> tráfego<br />
<strong>de</strong> automóveis, pois ligam o centro da cida<strong>de</strong> à região do Coxipó (Av. Fernando<br />
Correa da Costa), e a região norte e leste (Av. Arquime<strong>de</strong>s Pereira Lima) também<br />
à região do Coxipó, on<strong>de</strong> estão localizados diversos bairros resi<strong>de</strong>nciais e também<br />
ao distrito industriário <strong>de</strong> Cuiabá.<br />
47
Figura 10 – Mapa da Área <strong>de</strong> Estudo<br />
48
4. METODOLOGIA<br />
Ao se propor um estudo geográfico sobre questões <strong>atmosférica</strong>s, sobretudo<br />
relativas a <strong>poluição</strong> do ar, como este trabalho, não se po<strong>de</strong> abordar o assunto s<strong>em</strong><br />
levar <strong>em</strong> conta a Teoria do Sist<strong>em</strong>a Clima Urbano, proposta pelo Professor Carlos<br />
Augusto <strong>de</strong> Figueiredo Monteiro <strong>em</strong> 1976 (Monteiro, 2003) <strong>em</strong> que sist<strong>em</strong>atiza o<br />
Clima Urbano como uma articulação <strong>de</strong> diversos fatores (geoecológicos e<br />
geourbanos), subdividindo-o <strong>em</strong> três subsist<strong>em</strong>as - o termodinâmico, o físicoquímico<br />
e o hidrometeórico. Entretanto esta subdivisão não objetiva o trabalho<br />
isolado, até porque segundo o próprio autor, o Clima Urbano é formado pela<br />
articulação <strong>de</strong>stes três subsist<strong>em</strong>as, através <strong>de</strong> seus respectivos canais <strong>de</strong><br />
percepção, ou seja, como se dá a percepção humana sobre o fenômeno<br />
estudado.<br />
Portanto, o <strong>em</strong>basamento teórico-conceitual e a metodologia <strong>de</strong>le resultante<br />
apóiam-se na obra <strong>de</strong>sse autor, com os ajustes metodológicos necessários para<br />
aten<strong>de</strong>r a realida<strong>de</strong> do estudo <strong>em</strong> questão e dar conta dos objetivos <strong>de</strong> análise do<br />
subsist<strong>em</strong>a físico-químico, através do canal <strong>de</strong> percepção da qualida<strong>de</strong> do ar,<br />
integrando-a aos aspectos termo-dinâmicos <strong>em</strong> análises t<strong>em</strong>porais.<br />
Sabendo-se que a gênese <strong>de</strong>sse subsist<strong>em</strong>a parte da produção humana na<br />
cida<strong>de</strong>, se fez necessário levantar as fontes <strong>em</strong>issoras <strong>de</strong> <strong>poluição</strong> que, partindo<br />
<strong>de</strong> certos pontos da cida<strong>de</strong>, difun<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la e ten<strong>de</strong> a ser exportada para o<br />
ambiente circundante (Monteiro, 1976, p. 133/134). Por isto a avaliação criteriosa<br />
da frota <strong>de</strong> veículos automotores <strong>em</strong> Cuiabá, ativida<strong>de</strong>s industriais aqui existentes<br />
(<strong>em</strong>bora pequenas), <strong>de</strong> maneira a i<strong>de</strong>ntificar quais os poluentes mais <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong><br />
nossa atmosfera local. Como visto, as ativida<strong>de</strong>s urbanas são fontes importantes<br />
<strong>de</strong> <strong>poluição</strong>, principalmente, quando se t<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma cida<strong>de</strong> como Cuiabá, e <strong>em</strong><br />
um estado como Mato Grosso, um número elevado <strong>de</strong> queimadas, sobretudo,<br />
49
durante a estação seca. Outro fator importante investigado nesta pesquisa<br />
(Monteiro, 2003) foi <strong>de</strong> verificar a influência da localização geográfica <strong>de</strong> Cuiabá<br />
na difusão dos poluentes, pois está situada na Depressão Cuiabana, e isso po<strong>de</strong><br />
ser um fator que favorece ao acúmulo dos poluentes. Outra indagação foi a <strong>de</strong><br />
verificar se o uso <strong>de</strong> corretivos agrícolas nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas bordas<br />
dos planaltos que circundam a Depressão Cuiabana (Planaltos dos Alcantilados e<br />
<strong>de</strong> Chapada dos Guimarães), estão sendo transportados, pelos ventos, para<br />
Cuiabá, contribuindo para a contaminação da atmosfera.<br />
Desta maneira, toda esta <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> poluentes na atmosfera po<strong>de</strong><br />
provocar efeitos diretos no ambiente, cujas conseqüências dos níveis <strong>de</strong> <strong>poluição</strong><br />
da atmosfera para a vida animal, vegetal e ao próprio hom<strong>em</strong> pod<strong>em</strong> ser<br />
mensuradas através da análise da água <strong>de</strong> chuva, da <strong>de</strong>posição seca e da<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material particulado inalável existente. Isto possibilita uma melhor<br />
compreensão dos possíveis causadores <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> humana,<br />
sobretudo aqueles relacionados a doenças respiratórias. Possibilita também<br />
enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> maneira mais clara os motivos que levam a acidificação dos solos,<br />
corpos d’água e impactos <strong>em</strong> áreas vegetadas, que <strong>em</strong>bora ainda não tenha sido<br />
verificado no estado, já foi estudado <strong>em</strong> outros lugares do país e do mundo.<br />
4.1. Coleta <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva<br />
Após a revisão bibliográfica acerca do assunto, foi instalado um coletor <strong>de</strong><br />
amostras no Campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso (LW 56º 01’ 33” e<br />
LS 15º 36’ 40”) <strong>em</strong> área aberta, a 1,70 metros <strong>de</strong> altura livre <strong>de</strong> obstáculos que<br />
pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> vir a contaminar as amostras coletadas. O coletor permanecia s<strong>em</strong>pre<br />
aberto, e para evitar interferência por <strong>de</strong>posição seca, e as coletas foram<br />
realizadas com intervalo <strong>de</strong> 12 horas, ou após um evento chuvoso. Em cada<br />
50
amostrag<strong>em</strong>, o coletor era lavado e limpo com água <strong>de</strong>ionisada ultra-pura (tratada<br />
pelo sist<strong>em</strong>a Milipore) por três vezes, para evitar que ficass<strong>em</strong> resquícios <strong>de</strong><br />
contaminação. As amostras foram coletadas entre o dia 21/02/2006 até o dia<br />
02/07/2006, totalizando 39 amostras.<br />
A abertura era constituída <strong>de</strong> um funil <strong>de</strong> polipropileno com diâmetro <strong>de</strong> 27<br />
cm, conectado por um funil menor <strong>de</strong> polipropileno a um recipiente fechado com<br />
capacida<strong>de</strong> para armazenar até 12 litros (também constituído <strong>de</strong> polipropileno).<br />
Desta maneira não houve probl<strong>em</strong>as para amostras <strong>de</strong> chuvas com gran<strong>de</strong><br />
pluviosida<strong>de</strong> (superiores a 100 mm <strong>de</strong> chuva). O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte era<br />
constituído <strong>de</strong> aço inox, on<strong>de</strong> o funil <strong>de</strong> polipropileno é encaixado, e sua parte<br />
interna, on<strong>de</strong> se localiza o recipiente <strong>de</strong> coleta, foi revestida com uma camada <strong>de</strong><br />
isolante térmico (isopor) <strong>de</strong> 2 centímetros, <strong>de</strong> forma a garantir uma t<strong>em</strong>peratura<br />
interna mais constante. A figura 11 mostra a visão externa e interna do coletor <strong>de</strong><br />
chuva utilizado. O sist<strong>em</strong>a era lavado com água <strong>de</strong>ionizada ultra-pura após cada<br />
amostrag<strong>em</strong>, ou no intervalo máximo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 12 horas (caso não houvesse<br />
amostras) com o objetivo <strong>de</strong> evitar contaminação por <strong>de</strong>posição seca.<br />
Figura 11 – Visão externa e interna do coletor <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva.<br />
51
Nos horários estabelecidos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>ntro dos intervalos <strong>de</strong> 12 horas<br />
(manhã e tar<strong>de</strong>), foi realizada a amostrag<strong>em</strong> e/ou limpeza do coletor <strong>de</strong> chuva.<br />
Quando havia amostra, era realizada a medição imediata do pH e da<br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica da amostra, pois estudos realizados por Karlssom, Laurém<br />
e Peltoni<strong>em</strong>i (2000) na Finlândia indicam que as coletas realizadas com intervalos<br />
<strong>de</strong> 24 horas garant<strong>em</strong> a estabilida<strong>de</strong> dos íons. Assim, como as coletas foram<br />
realizadas a cada 12 horas, não havendo perda na concentração dos poluentes na<br />
amostra, e as medições realizadas imediatamente após a coleta, representaram<br />
os dados reais <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> da amostra.<br />
Para a mensuração do pH da amostra foi utilizado um pH-metro portátil<br />
marca Quimis (mo<strong>de</strong>lo Q-405), calibrado anteriormente a cada medição (com<br />
solução tampão pH 4,00 e 7,00). Após a calibração foi feita a leitura <strong>de</strong> uma<br />
solução <strong>de</strong> ácido clorídrico (HCl) a uma concentração <strong>de</strong> 2x10 -4 M (molar), o que<br />
melhora a resposta do equipamento nas leituras <strong>de</strong> amostras com baixa força<br />
iônica, caso da água da chuva. Estudos realizados por Harris (2001) nos EUA<br />
mostraram que a leitura <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> solução antes da leitura da amostra<br />
minimiza possíveis erros na obtenção <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> pH para água <strong>de</strong> chuva. A<br />
leitura do pH da amostra foi realizada após a leitura da solução <strong>de</strong> ácido clorídrico.<br />
Também foi realizada a medição imediata da condutivida<strong>de</strong> elétrica utilizando um<br />
condutivímetro marca Tecnopon (mo<strong>de</strong>lo mCA – 150), também calibrado antes<br />
das medições (com solução padrão <strong>de</strong> 146,7 μS/cm. Ao término das medições,<br />
uma alíquota (entre 30 e 50 ml) da amostra foi <strong>de</strong>vidamente acondicionada <strong>em</strong> um<br />
frasco <strong>de</strong> polietileno com etiqueta i<strong>de</strong>ntificando a amostra e congelada <strong>em</strong> um<br />
refrigerador para posterior análise química.<br />
Os dados <strong>de</strong> direção do vento foram obtidos <strong>de</strong> uma estação climatológica<br />
automática marca Wheater Link instalada no Campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Mato Grosso (b<strong>em</strong> próxima ao sist<strong>em</strong>a coletor <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva). Foi possível<br />
analisar o ritmo da variação dos dados e discuti-los associando variáveis que<br />
52
pu<strong>de</strong>ram influenciar os resultados. Assim, t<strong>em</strong>os a direção do vento no evento<br />
chuvoso, além <strong>de</strong> outras ações na própria Baixada Cuiabana, como a ocorrência<br />
das queimadas, e número <strong>de</strong> dias anteriores ao evento s<strong>em</strong> chuva.<br />
4.1.1 Análise química da água da chuva<br />
As amostras foram submetidas à análise química qualitativa (indica o tipo<br />
<strong>de</strong> substância está presente na amostra) e quantitativa (indica a concentração da<br />
substância existente na amostra) no Laboratório <strong>de</strong> Metais Pesados do<br />
<strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> Química da UFMT, on<strong>de</strong> foram i<strong>de</strong>ntificados e quantificados os<br />
teores <strong>de</strong> nitrato, sulfato, cloreto, nitrito, fluoreto e fosfato. Para as análises foi<br />
utilizado um cromatógrafo iônico (marca Dionex, mo<strong>de</strong>lo ICS 90), calibrado<br />
previamente (figuras 12 e 13), tendo <strong>em</strong> vista sua confiabilida<strong>de</strong> na análise <strong>de</strong><br />
parâmetros com concentrações baixas (po<strong>de</strong>ndo medir <strong>em</strong> parte por bilhão – ppb,<br />
ou μg/L – micrograma por litro), como é o caso da água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá.<br />
Figura 12 - Curvas <strong>de</strong> calibração para os parâmetros analisados na composição da água da<br />
chuva.<br />
53
Figura 13 - Dados das curvas <strong>de</strong> calibração utilizadas nas análises dos parâmetros.<br />
4.1.2 Cálculos e estatísticas da água <strong>de</strong> chuva<br />
Foram obtidas médias mensais para todos os parâmetros <strong>de</strong>terminados<br />
(pH, condutivida<strong>de</strong> elétrica e ânions) para a água <strong>de</strong> chuva. Para a obtenção das<br />
médias, foi utilizado o cálculo da concentração média volumétrica (ou CMV, assim<br />
<strong>de</strong>nominada por Tresmondi, 2003) comumente conhecida como média pon<strong>de</strong>rada<br />
volumétrica (MPV, conforme os trabalhos <strong>de</strong> Leal, et. al., 2004; De Mello, 2001).<br />
Quando se trata <strong>de</strong> estabelecer médias <strong>de</strong> concentração <strong>em</strong> água <strong>de</strong> chuva, se<br />
faz necessário calcular a CMV ou MPV (Tresmondi, 2003; De Mello, 2001), pois<br />
nestes casos o volume <strong>de</strong> precipitação é importante, e segue uma lógica<br />
inversamente proporcional <strong>de</strong>vido à diluição <strong>atmosférica</strong>, ou seja, quanto maior o<br />
volume da chuva mais os compostos se dilu<strong>em</strong>, e quanto menor o volume da<br />
precipitação mais concentrada a substância estará.<br />
A não utilização dos cálculos da concentração média volumétrica acarreta<br />
erros na obtenção das médias das concentrações <strong>de</strong> íons (nitrato, sulfato, ou<br />
54
qualquer outro composto analisado), pH ou condutivida<strong>de</strong> elétrica. Para se<br />
<strong>de</strong>terminar estas médias se utiliza a seguinte fórmula:<br />
on<strong>de</strong>,<br />
CMV<br />
n<br />
∑<br />
i=<br />
1<br />
= n<br />
∑<br />
i=<br />
i<br />
C v<br />
CMV= concentração média volumétrica ou média pon<strong>de</strong>rada volumétrica (MPV) <strong>de</strong><br />
um <strong>de</strong>terminado parâmetro no período;<br />
Ci= concentração do parâmetro <strong>de</strong>terminada no evento;<br />
vi= volume <strong>de</strong> precipitação (mm) no evento.<br />
No caso do cálculo do pH, primeiro converte-se o valor do pH para seu valor<br />
<strong>em</strong> concentração <strong>de</strong> H + (íons <strong>de</strong> hidrogênio), pon<strong>de</strong>ra-se a média volumétrica <strong>em</strong><br />
H + , e o resultado final da concentração média volumétrica <strong>de</strong> H + é novamente<br />
convertido para o valor <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pH. Por ser o pH um valor logarítmico,<br />
caso não ocorra esta conversão, os resultados das médias apresentarão erros <strong>em</strong><br />
função da aproximação dos valores. Na análise estatística <strong>de</strong>stes dados, foi<br />
utilizada a análise <strong>de</strong> correlação no software Minitab 13, pois esta técnica permite<br />
mostrar o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência entre as variáveis estudadas. Para este trabalho<br />
será utilizado o termo CMV no que se refere às médias volumétricas.<br />
i<br />
v<br />
i<br />
i<br />
55
4.2. Coleta <strong>de</strong> material seco <strong>de</strong>positado<br />
Enten<strong>de</strong>-se por <strong>de</strong>posição seca, os materiais suspensos na atmosfera que<br />
se <strong>de</strong>positaram sobre o coletor <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva. As coletas <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca<br />
foram realizadas entre 12/08/2006 a 30/09/2006 no mesmo local on<strong>de</strong> se coletou<br />
água <strong>de</strong> chuva, <strong>de</strong> segunda a sexta (<strong>de</strong>vido à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta nos finais<br />
<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana), totalizando 30 amostras. A coleta era realizada a cada 24 horas, no<br />
horário <strong>de</strong> 18 horas, e consistia <strong>em</strong> lavar a parte interna do coletor (funil <strong>de</strong><br />
amostrag<strong>em</strong>) com jatos <strong>de</strong> água <strong>de</strong>ionizada ultra-pura até um volume aproximado<br />
<strong>de</strong> 50 ml. Este volume se acumulava no recipiente coletor, que era vigorosamente<br />
agitado para promover uma r<strong>em</strong>oção mais eficiente das partículas <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição<br />
seca e <strong>de</strong>pois acondicionado <strong>em</strong> um frasco <strong>de</strong> polietileno estéril, lavado<br />
previamente com água <strong>de</strong>ionizada ultra-pura.<br />
Em seguida, foi realizada a medição imediata do pH e da condutivida<strong>de</strong><br />
elétrica da amostra utilizando os mesmos procedimentos para água <strong>de</strong> chuva.<br />
Após as medições a amostra foi <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificada com etiqueta e<br />
congelada <strong>em</strong> um refrigerador para posterior análise química qualitativa e<br />
quantitativa. Os dados <strong>de</strong> direção do vento foram obtidos <strong>de</strong> uma estação<br />
climatológica automática marca Wheater Link instalada no Campus da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso (b<strong>em</strong> próxima ao sist<strong>em</strong>a coletor <strong>de</strong> água<br />
<strong>de</strong> chuva).<br />
Os dados <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição foram analisados levando <strong>em</strong> conta as ativida<strong>de</strong>s<br />
ocorridas durante o período amostrado, sobretudo no que diz respeito às<br />
queimadas urbanas provocadas pela população. A análise dos ânions e dos<br />
cátions possibilitaria encontrar quais ativida<strong>de</strong>s mais influenciam na composição<br />
da <strong>de</strong>posição seca encontrada no Campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato<br />
Grosso, entretanto ainda não foi possível realizar esta análise <strong>em</strong> função da<br />
56
quebra <strong>de</strong> uma peça do cromatógrafo <strong>de</strong> íons (equipamento que realizaria estas<br />
análises).<br />
4.3. Coleta <strong>de</strong> material particulado<br />
Foi instalado um coletor <strong>de</strong> material particulado do tipo amostrador dicotômico<br />
(marca An<strong>de</strong>rsen Graseby) no campus da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso<br />
(próximo a entrada do Jardim Zoológico, à cerca <strong>de</strong> 4 metros <strong>de</strong> altura, <strong>em</strong> local<br />
seguro e <strong>de</strong> fácil acesso para as trocas dos filtros e eventuais ajustes que se<br />
fizess<strong>em</strong> necessários. Aos arredores encontram-se áreas com vegetação, mas<br />
também está próximo <strong>de</strong> uma avenida com alto fluxo <strong>de</strong> automóveis. Em função<br />
da dificulda<strong>de</strong> encontrada na operação do amostrador dicotômico, foi viabilizada<br />
uma visita técnica a CETESB <strong>em</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> o técnico Carlos Roberto Sachi,<br />
propiciou um rápido treinamento, mas o suficiente para iniciar a operação do<br />
amostrador com a segurança <strong>de</strong> uma correta amostrag<strong>em</strong>. Os filtros <strong>de</strong> teflon<br />
foram pesados antes e posterior a amostrag<strong>em</strong> no Laboratório <strong>de</strong> Balanças do<br />
Instituto <strong>de</strong> Física (IF) da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, tendo o auxílio das técnicas<br />
Ana Lúcia (IF) e Rosana (IAG). Foram realizadas <strong>em</strong> uma balança ultra-analítica,<br />
marca Mettler (mo<strong>de</strong>lo M 3), <strong>de</strong> precisão <strong>de</strong> 0,001 mg. A pesag<strong>em</strong> possibilitou<br />
realizar medições diárias do material particulado inalável, b<strong>em</strong> a quantificação<br />
separada do particulado fino (até 2,5 μm) e grosso ( >2,5 até 10 μm). Os trabalhos<br />
realizados <strong>em</strong> São Paulo foram obtidos através do <strong>em</strong>prenho e auxílio da Prof.ª<br />
Dr.ª Adalgiza Fornaro (IAG/USP) e do Prof. Dr. Edinaldo <strong>de</strong> Castro e Silva<br />
(ICET/UFMT).<br />
O equipamento foi calibrado com os medidores <strong>de</strong> fluxo Top Track (Sierra),<br />
<strong>de</strong> modo a garantir a correta aquisição dos dados e cálculos das concentrações <strong>de</strong><br />
material particulado. A calibração foi realizada levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as CNTP<br />
57
(Condições Normais <strong>de</strong> T<strong>em</strong>peratura e Pressão) para as <strong>de</strong>vidas correções,<br />
gerando duas curvas <strong>de</strong> calibração (uma para o fluxo total e outra para o fluxo<br />
grosso, figuras 14 e 15) com R 2 superior a 0,995.<br />
IC<br />
20,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
5,00<br />
0,00<br />
y = 0,6642x + 0,4793<br />
R 2 = 0,9996<br />
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00<br />
TQa<br />
Figura 14 - Curva <strong>de</strong> Calibração do Fluxo Total do Amostrador Dicotômico.<br />
IC<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
0,00<br />
y = 0,6342x + 0,0695<br />
R 2 = 0,9984<br />
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50<br />
CQa<br />
Figura 15 - Curva <strong>de</strong> Calibração do Fluxo Grosso do Amostrador Dicotômico.<br />
58
As amostragens se iniciaram no dia 01/09/2006, e foram realizadas durante<br />
60 dias ininterruptos, com a troca dos filtros efetuada a cada 24 horas. A<br />
amostrag<strong>em</strong> foi realizada entre 02/09/2006 a 02/11/2006, ou seja, durante o ultimo<br />
mês <strong>de</strong> estação seca e o primeiro mês <strong>de</strong> estação chuvosa <strong>de</strong> 2006, <strong>de</strong> maneira a<br />
garantir uma melhor representativida<strong>de</strong> das duas estações, levando <strong>em</strong> conta as<br />
ações humanas principalmente através das queimadas que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> Cuiabá<br />
durante a seca. Este equipamento é constituído basicamente <strong>em</strong> três partes<br />
(indicadas na figura 16):<br />
1 – a cabeça <strong>de</strong> entrada, por on<strong>de</strong> entra o fluxo <strong>de</strong> ar;<br />
2 – o corpo, que consiste <strong>em</strong> um tripé que sustenta uma haste on<strong>de</strong> se situam os<br />
filtros na parte inferior e o impactador virtual (realiza a separação das partículas<br />
finas e grossas, através da gravida<strong>de</strong> e do peso das partículas) na parte superior<br />
(se acoplando a cabeça <strong>de</strong> entrada);<br />
3 – e o módulo <strong>de</strong> controle, on<strong>de</strong> se situam os rotâmetros controladores <strong>de</strong> fluxo, o<br />
horímetro (que registra o t<strong>em</strong>po amostrado) e o compressor que garante a entrada<br />
do fluxo no amostrador.<br />
Desta maneira, permite a separação do material particulado inalável, <strong>de</strong>vido<br />
à aerodinâmica interna do impactador virtual, sendo eles retidos <strong>em</strong> dois filtros,<br />
localizados na parte inferior do corpo do equipamento.<br />
59
Figura 16 – Amostrador Dicotômico durante amostrag<strong>em</strong> no Campus da UFMT (02/09 a 02/11<br />
<strong>de</strong> 2006).<br />
4.3.1. Cálculos e pesag<strong>em</strong> do material particulado inalável<br />
Para a obtenção da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material particulado diário, será utilizada<br />
a técnica <strong>de</strong> gravimetria. Esta técnica consiste <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
material particulado inalável pela diferença <strong>de</strong> peso entre o filtro utilizado para<br />
cada amostra. Isto porque cada filtro utilizado é pesado antes e após a<br />
amostrag<strong>em</strong>, sendo que a diferença <strong>de</strong> peso obtida a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material<br />
particulado para a amostra (que se trata <strong>de</strong> um período amostrado <strong>de</strong> 24 horas).<br />
A balança utilizada para a pesag<strong>em</strong> dos filtros foi uma balança ultraanalítica,<br />
marca Mettler, com precisão <strong>de</strong> microgramas (μg), ou seja, precisão <strong>de</strong><br />
ou 0,001mg. É importante ressaltar que durante a pesag<strong>em</strong> dos filtros, os mesmo<br />
60
precisaram permanecer <strong>em</strong> repouso <strong>de</strong> 24 horas, recebendo radiação <strong>de</strong> polônio<br />
radioativo (Po 210 ) para diminuir a carga eletrostática que po<strong>de</strong> acarretar <strong>em</strong> erros<br />
durante a pesag<strong>em</strong>. A sala <strong>de</strong> pesag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> sua t<strong>em</strong>peratura (20° C) e umida<strong>de</strong><br />
(< 40%) controlada, afim <strong>de</strong> que não houvesse umida<strong>de</strong> suficiente para causar<br />
diferenças na pesag<strong>em</strong>. Como os rotâmetros <strong>de</strong> fluxo controlam a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fluxo <strong>de</strong> ar amostrado, e há os dados <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po amostrado e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
particulado amostrado, é possível quantificar a concentração do material<br />
particulado para aquele dia (24 horas) amostrado, através da seguinte fórmula:<br />
on<strong>de</strong>:<br />
3 [ ( Mp)<br />
⋅(<br />
10 ) ] Vp<br />
PM 10 =<br />
÷<br />
PM10: concentração <strong>de</strong> material particulado <strong>de</strong> 10μg (microgramas) nos filtros<br />
amostrados <strong>em</strong> μg/m 3 (microgramas por metro cúbico);<br />
Mp: diferença <strong>de</strong> peso do filtro amostrado (para calcular o PM10 <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se somar<br />
aqui os valores obtidos do particulado fino e grosso);<br />
10 3 : conversão <strong>de</strong> miligramas para microgramas (mg para μg);<br />
Vp: volume padrão amostrado <strong>em</strong> m 3 (o produto da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fluxo registrada<br />
pelo t<strong>em</strong>po amostrado <strong>em</strong> minutos).<br />
61
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
5.1 Resultados analíticos da água <strong>de</strong> chuva<br />
A amostrag<strong>em</strong> da água das chuvas po<strong>de</strong> ser dividida <strong>em</strong> momentos distintos.<br />
Um primeiro período consistiu <strong>em</strong> dados entre os dias 21/02/2006 a 02/07/2006,<br />
totalizando 38 amostras. Para estas 38 amostras coletadas, os resultados <strong>de</strong> pH<br />
que variaram entre 4,50 e 6,79, on<strong>de</strong> 36,8% eram menor que 5,6, 36,8% entre<br />
5,60 e 6,0, e 26,4% acima <strong>de</strong> 6,01, enquanto os valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
variaram <strong>de</strong> 1,90 a 27 μS/cm (figura 17).<br />
O volume <strong>de</strong> chuva acumulado pelas amostras coletadas foi <strong>de</strong> 472,2 mm.<br />
Para o cálculo das médias, levou-se <strong>em</strong> conta o volume <strong>de</strong> precipitação,<br />
calculando-se assim a concentração média volumétrica (CMV), <strong>de</strong>vido ao efeito <strong>de</strong><br />
diluição <strong>atmosférica</strong> provocado pelo volume <strong>de</strong> cada evento chuvoso. A CMV<br />
mensal encontrada para pH foi <strong>de</strong> 4,80 no final <strong>de</strong> fevereiro, 5,13 para março, 5,72<br />
para abril, 6,3 <strong>em</strong> maio, e 6,24 <strong>em</strong> julho (não houve registro <strong>de</strong> precipitação <strong>em</strong><br />
junho). Para a condutivida<strong>de</strong> elétrica, a CMV encontrada foi <strong>de</strong> 9,14 μS/cm para o<br />
final <strong>de</strong> fevereiro, 7,12 μS/cm para março, 4,35 μS/cm para o mês <strong>de</strong> abril, 10,22<br />
μS/cm <strong>em</strong> maio e 9,47 μS/cm <strong>em</strong> julho (figura 18).<br />
Os resultados indicam uma tendência <strong>de</strong> elevação nos valores médios<br />
volumétricos <strong>de</strong> pH e <strong>de</strong> diminuição nos valores médios volumétricos <strong>de</strong><br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica no final da estação chuvosa (mês <strong>de</strong> abril) <strong>em</strong> Cuiabá. Entre<br />
os meses <strong>de</strong> maio a julho, foram coletados apenas dois eventos, sendo um <strong>em</strong><br />
maio (20/05/2006) e outro <strong>em</strong> julho (02/07/2006), que apresentaram pH <strong>de</strong> 6,30 e<br />
6,24 e condutivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 10,22 e 9,47 μS/cm respectivamente. A CMV calculada<br />
62
para todo o período foi <strong>de</strong> 5,18 para o pH, e <strong>de</strong> 6,93 μS/cm para a condutivida<strong>de</strong><br />
elétrica.<br />
pH<br />
7,00<br />
6,50<br />
6,00<br />
5,50<br />
5,00<br />
4,50<br />
4,00<br />
1 3 5 7 9 1113151719212325272931333537<br />
pH Cond.<br />
30,00<br />
25,00<br />
20,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
5,00<br />
0,00<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
(μS/cm)<br />
Figura 17 – Variação dos valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica para o período analisado<br />
entre 21/02/2006 a 02/07/2006.<br />
Na figura 18, se observam dois comportamentos distintos para as médias<br />
volumétricas <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica dos meses <strong>de</strong> fevereiro, março e abril,<br />
se verifica que a relação é inversa, ou seja, conforme o pH aumenta, t<strong>em</strong>os<br />
menores valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong>. Estes resultados mostram que os sais<br />
dissolvidos neste primeiro período apresentam uma característica mais ácida, pois<br />
ao se diminuir a concentração <strong>de</strong>stes sais, o pH se eleva.<br />
Nos eventos <strong>de</strong> maio e julho (meses <strong>de</strong> estação seca), se observa que os<br />
valores do pH são maiores que dos meses anteriores, assim como os valores da<br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica. Isto po<strong>de</strong> indicar que os sais que estão dissolvidos na água<br />
apresentam características alcalinas, neutralizando a aci<strong>de</strong>z existente na água da<br />
chuva. No período da seca <strong>em</strong> Cuiabá, são registrados os maiores índices <strong>de</strong><br />
queimadas urbanas, e nas cinzas provocadas pelas queimadas, pod<strong>em</strong>-se<br />
encontrar substâncias alcalinas (como cálcio, potássio e magnésio), que não<br />
63
foram quantificadas neste trabalho, mas que pod<strong>em</strong> colaborar para neutralizar a<br />
aci<strong>de</strong>z.<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
(μS/cm)<br />
11<br />
10<br />
9<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
9,14<br />
4,8<br />
7,12<br />
5,13<br />
5,72<br />
4,35<br />
7<br />
10,22<br />
6,3<br />
9,47<br />
6,24<br />
6,5<br />
6<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
CMV cond CMV pH<br />
Figura 18 – Variação da CMV para os valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) para os<br />
meses entre fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />
Foram realizadas as análises químicas <strong>em</strong> todas as 38 amostras, através<br />
<strong>de</strong> um cromatógrafo <strong>de</strong> íons, marca Dionex (mo<strong>de</strong>lo ICS-90), realizada no<br />
Laboratório <strong>de</strong> Metais Pesados da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso. Os<br />
ânions analisados foram: fluoreto (F - ), cloreto (Cl - ), nitrito (NO2 - ), nitrato (NO3 - ),<br />
fosfato (PO4 -2 ) e sulfato (SO4 -2 ). Entretanto foram i<strong>de</strong>ntificados e quantificados <strong>em</strong><br />
ppb (parte por bilhão) os íons fluoreto <strong>em</strong> 26 amostras, cloreto <strong>em</strong> 34, nitrito <strong>em</strong><br />
24, fosfato <strong>em</strong> apenas 2, e os íons nitrato e sulfato nas 38 amostras.<br />
Os resultados mostraram que a concentração <strong>de</strong> fluoreto variou entre 14 e<br />
27 ppb, <strong>de</strong> cloreto variou entre 15 e 309 ppb, nitrito entre 3 e 54 ppb, nitrato entre<br />
5 e 877 ppb, sulfato entre 41 e 1653 ppb, e para fosfato registrou-se apenas os<br />
valores <strong>de</strong> 16 e 5 ppb. Na figura 19, se observa a variação <strong>de</strong> quatro íons, sendo<br />
eles o fluoreto, o cloreto, o nitrito e o fosfato. É possível visualizar falhas na linha<br />
<strong>de</strong> cada espécie iônica, resultado <strong>de</strong> não ter sido encontrado estes poluentes <strong>em</strong><br />
5,5<br />
5<br />
4,5<br />
pH<br />
64
todas as amostras analisadas. A CMV calculada para todo o período (<strong>em</strong> ppb) foi<br />
<strong>de</strong> 17 para fluoreto, 58 para cloreto, 18 para nitrito, 243 para nitrato e 114 para<br />
sulfato, não sendo calculada para fosfato <strong>em</strong> função <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectada <strong>em</strong> apenas<br />
dois eventos.<br />
Concentração (ppb)<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37<br />
Fluoreto Cloreto Nitrito Fosfato<br />
Figura 19 – Variação da concentração (ppb) dos íons fluoreto, cloreto, nitrito e fosfato nas<br />
39 amostras coletadas entre 21/02/2006 a 02/07/2006.<br />
Na figura 20, t<strong>em</strong>-se a CMV do nitrito e cloreto, comparando-as com a CMV<br />
do pH. O que se po<strong>de</strong> verificar, é que nos primeiros meses analisados (fevereiro,<br />
março e abril, que correspond<strong>em</strong> ao final da estação chuvosa) conforme há uma<br />
diminuição da concentração <strong>de</strong>stes poluentes, t<strong>em</strong>os uma elevação na média<br />
mensal do pH. Entretanto, nos dois últimos meses <strong>de</strong>ste período, v<strong>em</strong>os que há<br />
uma elevação tanto das concentrações <strong>de</strong> cloreto <strong>de</strong> nitrito como <strong>de</strong> pH, o que<br />
sugere a existência que substâncias capazes <strong>de</strong> neutralizar a aci<strong>de</strong>z provocada<br />
por estes íons.<br />
Como os meses <strong>de</strong> maio e julho compreend<strong>em</strong> parte da estação seca, on<strong>de</strong><br />
chuvas são escassas (haja vista que se amostrou apenas um evento chuvoso <strong>em</strong><br />
maio e outro <strong>em</strong> julho, não sendo registrado chuvas <strong>em</strong> junho) e por isso há uma<br />
65
maior concentração <strong>de</strong> poluentes na atmosfera, Cuiabá ainda sofre com as<br />
queimadas urbanas, que pod<strong>em</strong> <strong>em</strong>itir para a atmosfera, poluentes com<br />
características alcalinas. Um ex<strong>em</strong>plo para esta afirmação po<strong>de</strong> ser constatado no<br />
trabalho <strong>de</strong> Rebellato (2006) que encontrou no material particulado suspenso na<br />
atmosfera <strong>de</strong> Cuiabá teores elevados <strong>de</strong> cálcio e potássio, substâncias alcalinas<br />
(capazes <strong>de</strong> neutralizar a aci<strong>de</strong>z existente).<br />
Concentração <strong>de</strong> cloreto e nitrito<br />
(ppb)<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
Cloreto Nitrito pH<br />
Figura 20 – Variação da CMV mensal <strong>em</strong> Cuiabá-MT para pH e para os íons cloreto e nitrito.<br />
Quando comparadas às variações da CMV mensal <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> com<br />
as <strong>de</strong> fluoreto, cloreto e nitrito são nítidas as relações existentes entre estas<br />
variáveis, conforme a figura 21. Verifica-se que <strong>de</strong> fevereiro a abril há uma<br />
diminuição gradativa da condutivida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como diminu<strong>em</strong> as concentrações <strong>de</strong><br />
fluoreto, cloreto e nitrito. No mês <strong>de</strong> maio, o aumento da condutivida<strong>de</strong> se dá<br />
juntamente com a elevação da concentração dos íons. E no mês <strong>de</strong> julho, a<br />
pequena queda no valor da condutivida<strong>de</strong> é acompanha também por menores<br />
valores dos íons. Macêdo (2004) afirma que “a condutivida<strong>de</strong> elétrica da água é<br />
<strong>de</strong>terminada pela presença <strong>de</strong> substâncias dissolvidas que se dissociam <strong>em</strong><br />
ânions e cátions”.<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
5<br />
4,5<br />
pH<br />
66
Assim, quanto maior a concentração dos ânions na água, maior será a<br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica e vice-versa. Outro dado importante, é que as amostras dos<br />
meses <strong>de</strong> maio e julho se refer<strong>em</strong> à estação seca, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido às poucas chuvas,<br />
possibilita um acúmulo <strong>de</strong> poluentes atmosféricos, que acabam por se precipitar<br />
posteriormente. O contrário ocorre na estação chuvosa, on<strong>de</strong> o ritmo constante<br />
das chuvas dificulta o acúmulo dos poluentes, pois há uma constante limpeza<br />
<strong>atmosférica</strong>.<br />
Condutivida<strong>de</strong> (μS/cm) e<br />
concentração <strong>de</strong> fluoreto (ppb)<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
Cond Fluoreto Cloreto Nitrito<br />
Figura 21 – Variação da CMV mensal <strong>em</strong> Cuiabá-MT para condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) e<br />
concentração dos íons fluoreto, cloreto e nitrito, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 a 02/07/2006.<br />
Os dois ânions que foram i<strong>de</strong>ntificados e quantificados <strong>em</strong> todas as<br />
amostras foram o nitrato e o sulfato, e sua variação po<strong>de</strong> ser vista na figura 22. As<br />
<strong>em</strong>issões <strong>de</strong>stes poluentes estão vinculadas principalmente às ativida<strong>de</strong>s<br />
industriais e às <strong>em</strong>issões veiculares. Como Cuiabá não possui um gran<strong>de</strong> parque<br />
industrial, os automóveis são provavelmente os principais <strong>em</strong>issores <strong>de</strong> <strong>poluição</strong><br />
na capital mato-grossense.<br />
120<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
Concentração <strong>de</strong> cloreto e nitrito<br />
(ppb)<br />
67
Nitrato (ppb)<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37<br />
Nitrato Sulfato<br />
Figura 22 – Variação da concentração (ppb) <strong>de</strong> nitrato e sulfato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Quando comparada as CMV mensais <strong>de</strong> pH com as das concentrações <strong>de</strong><br />
sulfato (figura 23), se observa que não há uma relação inversa entre os dados,<br />
pois teoricamente, teores mais elevados <strong>de</strong> sulfatos tend<strong>em</strong> a revelar valores mais<br />
baixos <strong>de</strong> pH. Constatou-se um aumento gradativo nas médias mensais <strong>de</strong> pH,<br />
b<strong>em</strong> como também houve um aumento nas concentrações <strong>de</strong> sulfato. Somente no<br />
mês <strong>de</strong> março é que a concentração se manteve um pouco menor <strong>em</strong> relação ao<br />
mês anterior. Principalmente nos meses <strong>de</strong> maio e julho, os teores elevados se<br />
justificam <strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> chuvas, o que colabora para o aumento da<br />
concentração <strong>de</strong>ste poluente. O valor mais alto <strong>de</strong> pH po<strong>de</strong> ser creditado às<br />
possíveis concentrações <strong>de</strong> substâncias capazes <strong>de</strong> neutralizar a aci<strong>de</strong>z<br />
provocada por este ânion.<br />
1800<br />
1600<br />
1400<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
Sulfato (ppb)<br />
68
pH<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
5<br />
4,5<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
pH Sulfato<br />
Figura 23 – Variação da CMV mensal <strong>de</strong> pH e da concentração (ppb) <strong>de</strong> sulfato nas amostras<br />
<strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Ao comparar a variação da CMV mensal <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica com as<br />
médias mensais <strong>de</strong> sulfato, se constata que nos meses <strong>de</strong> fevereiro, março e abril,<br />
há uma relação inversa, on<strong>de</strong> se vê uma diminuição da condutivida<strong>de</strong> e um ligeiro<br />
aumento no teor <strong>de</strong> sulfato nas chuvas (figura 24). Isto po<strong>de</strong> ser explicado <strong>de</strong>vido<br />
a este período correspon<strong>de</strong>r ao final da estação chuvosa, e <strong>em</strong>bora houvesse um<br />
pequeno aumento no teor <strong>de</strong> sulfato, se constatou a diminuição dos teores <strong>de</strong><br />
nitrito, fluoreto e cloreto, conforme já visto na figura 21. Nos meses <strong>de</strong> maio a<br />
julho, a estação seca favorece o aumento dos poluentes atmosféricos, fazendo<br />
com que as poucas chuvas que se precipitam, venham carregadas <strong>de</strong> poluentes<br />
acumulados durante a ausência das chuvas.<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Sulfato<br />
69
Concutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
Cond Sulfato<br />
Figura 24 – Variação da CMV mensal para condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) e concentração<br />
(ppb) <strong>de</strong> sulfato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e<br />
02/07/2006.<br />
Na figura 25, se t<strong>em</strong> a variação da CMV mensal <strong>de</strong> pH e <strong>de</strong> nitrato.<br />
Observa-se que nos meses <strong>de</strong> fevereiro e março, ocorre um aumento nos valores<br />
<strong>de</strong> pH e nitrato, entretanto, no mês <strong>de</strong> abril (último mês da estação chuvosa),<br />
verifica-se um novo aumento no valor do pH, mas, no entanto, a concentração<br />
média <strong>de</strong> nitrato é cerca <strong>de</strong> três vezes menor do que a registrada no mês anterior.<br />
Nos meses seguintes (estação seca), tanto o pH como os teores <strong>de</strong> nitrato<br />
registram valores mais elevados.<br />
Quando comparada à variação da CMV mensal <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
com a concentração <strong>de</strong> nitrato (figura 26), constata-se que nos meses <strong>de</strong> fevereiro<br />
a abril, há uma queda no valor da condutivida<strong>de</strong> elétrica (<strong>em</strong> função das<br />
constantes chuvas que realizam a limpeza <strong>atmosférica</strong>) b<strong>em</strong> como na<br />
concentração <strong>de</strong> nitrato (<strong>em</strong>bora no mês <strong>de</strong> março tenha sido registrada uma<br />
média superior ao mês anterior). Em relação aos meses <strong>de</strong> maio e julho, ocorre<br />
uma característica s<strong>em</strong>elhante a ocorrida com os outros ânions (fluoreto, cloreto,<br />
nitrito e sulfato), ou seja, há um aumento <strong>em</strong> ambas as variáveis. Estes dados<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Sulfato<br />
70
esultam do período <strong>de</strong> estação seca, que provoca o acúmulo dos poluentes na<br />
atmosfera, que acabam sendo <strong>de</strong>spejados na superfície pelas chuvas frontais que<br />
ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> Cuiabá durante o período <strong>de</strong> seca.<br />
pH<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
5<br />
4,5<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
pH Nitrato<br />
Figura 25 – Variação da CMV mensal <strong>de</strong> pH e da concentração (ppb) <strong>de</strong> sulfato nas amostras<br />
<strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
fev/06 mar/06 abr/06 mai/06 jul/06<br />
Cond Nitrato<br />
Figura 26 – Variação da CMV mensal para condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) e concentração<br />
(ppb) <strong>de</strong> nitrato nas amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e<br />
02/07/2006.<br />
450<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
450<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Nitrato<br />
Nitrato<br />
71
Ao fazer a análise <strong>de</strong> correlação entre os dados <strong>de</strong> pH (<strong>em</strong> concentração <strong>de</strong><br />
H + ), condutivida<strong>de</strong> elétrica, volume <strong>de</strong> precipitação, e concentração <strong>de</strong> nitrato e<br />
sulfato, obteve-se a matriz da tabela 4, encontrando-se correlação <strong>de</strong> Pearson<br />
significativa <strong>de</strong> 0,724 (p-valor = 0,000) entre a condutivida<strong>de</strong> e a concentração <strong>de</strong><br />
nitrato. Também existe uma correlação significativa entre as concentrações <strong>de</strong><br />
fluoreto e nitrito <strong>de</strong> 0,700 (p-valor = 0,004). O coeficiente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong><br />
Pearson mostra o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência entre as variáveis, variando <strong>de</strong> -1 a +1,<br />
sendo que quanto mais próximo dos valores extr<strong>em</strong>os, maior é a <strong>de</strong>pendência<br />
entre as variáveis, po<strong>de</strong>ndo ser uma <strong>de</strong>pendência positiva ou negativa.<br />
Tabela 4 – Matriz <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Pearson e seus respectivos p-valores entre as variáveis<br />
pH (<strong>em</strong> concentração <strong>de</strong> H + ), condutivida<strong>de</strong> elétrica, volume <strong>de</strong> precipitação, nitrato e sulfato<br />
para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva do período estudado.<br />
Variáveis H + Condutivida<strong>de</strong> elétrica Volume Nitrato<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
Volume<br />
Nitrato<br />
Sulfato<br />
-0,068<br />
0,684<br />
0,408<br />
0,011<br />
-0,220<br />
0,184<br />
-0,198<br />
0,233<br />
Conteúdo das células: Correlação <strong>de</strong> Pearson<br />
p-Valor<br />
-0,093<br />
0,580<br />
0,724<br />
0,000<br />
0,454<br />
0,004<br />
-0,107<br />
0,521<br />
-0,250<br />
0,129<br />
5.1.1 Número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva e sua influência nos resultados<br />
0,201<br />
0,227<br />
Ao analisar a influência do número <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva, nota-se<br />
que quando se comparam estes dados com os dados <strong>de</strong> pH (figura 27), verifica-se<br />
que a maioria dos eventos com pH menor que 5,6 ocorreram quando choveu no<br />
mesmo dia ou no dia anterior (neste caso consi<strong>de</strong>ra-se que o número <strong>de</strong> dias<br />
72
anteriores s<strong>em</strong> chuva foi zero), e três eventos entre um e três dias anteriores s<strong>em</strong><br />
chuva. Os quatro maiores valores <strong>de</strong> pH foram encontrados quando o número <strong>de</strong><br />
dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento foi entre três e vinte e sete.<br />
pH<br />
7,00<br />
6,50<br />
6,00<br />
5,50<br />
5,00<br />
4,50<br />
4,00<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 27 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e os valores<br />
obtidos <strong>de</strong> pH para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006<br />
e 02/07/2006.<br />
Os valores mais baixos <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica foram obtidos quando<br />
choveu no mesmo dia, ou no dia anterior (figura 28), mostrando a capacida<strong>de</strong> que<br />
as chuvas possu<strong>em</strong> <strong>de</strong> promover a r<strong>em</strong>oção dos poluentes existentes na<br />
atmosfera. Entretanto, é importante ressaltar que o maior valor registrado (64,6<br />
μS/cm, no dia 30/04/2006) foi quando houve um evento no dia anterior. Entretanto<br />
o volume precipitado nestes dois eventos foi <strong>de</strong> 0,6 mm no dia 30, e 3 mm no dia<br />
anterior (divididos <strong>em</strong> dois eventos, sendo um <strong>de</strong> 2,4 mm e o outro <strong>de</strong> 0,6mm).<br />
Este volume <strong>de</strong> apenas 0,6 mm po<strong>de</strong> ter provocado uma concentração dos sais<br />
dissolvidos, aumentando <strong>de</strong>sta maneira o valor da condutivida<strong>de</strong>, pois quanto<br />
maior o volume da precipitação, maior será a diluição dos poluentes atmosféricos.<br />
Percebe-se que neste evento, a concentração <strong>de</strong> sulfato foi quase o dobro do que<br />
a registrada no dia anterior, o que po<strong>de</strong> ter colaborado para este resultado.<br />
73
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
30,00<br />
25,00<br />
20,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
5,00<br />
0,00<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 28 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e os valores<br />
obtidos <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica (μS/cm) para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-<br />
MT, no período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Para as concentrações <strong>de</strong> sulfato, cloreto e fluoreto verifica-se que <strong>em</strong>bora<br />
a maioria dos menores valores tenha sido obtida quando o número <strong>de</strong> dias<br />
anteriores s<strong>em</strong> chuva oscilou entre zero e três dias, também se encontraram<br />
concentrações elevadas nesta faixa <strong>de</strong> dias, conforme mostram as figura 29, 30 e<br />
31.<br />
74
Concentração <strong>de</strong> sulfato (ppb)<br />
1800<br />
1600<br />
1400<br />
1200<br />
1000<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 29 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e a<br />
concentração <strong>de</strong> sulfato (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Concentração <strong>de</strong> cloreto (ppb)<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 30 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e a<br />
concentração <strong>de</strong> cloreto (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
75
Concentração <strong>de</strong> fluoreto (ppb)<br />
27<br />
25<br />
23<br />
21<br />
19<br />
17<br />
15<br />
13<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 31 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e a<br />
concentração <strong>de</strong> fluoreto (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
A concentração <strong>de</strong> nitrato apresenta 34 amostras com valores <strong>de</strong> até 550<br />
ppb na faixa entre zero e três dias anteriores s<strong>em</strong> chuva. As duas maiores<br />
concentrações (uma próxima a 800 ppb e a outra próxima a 900 ppb) foram<br />
encontradas com três e dois dias s<strong>em</strong> chuva, respectivamente (conforme a figura<br />
32), além <strong>de</strong> que os eventos com número <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva possuíam<br />
concentrações próximas a 400 ppb.<br />
76
Concetração <strong>de</strong> nitrato (ppb)<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuva<br />
Figura 32 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e a<br />
concentração <strong>de</strong> nitrato (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Ao se verificar a relação do teor <strong>de</strong> nitrito, com o número <strong>de</strong> dias anteriores<br />
s<strong>em</strong> chuva, se verifica que há uma tendência <strong>de</strong> se aumentar à concentração<br />
conforme se aumenta o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento (figura<br />
33). Foi calculado o coeficiente <strong>de</strong> correlação <strong>de</strong> Pearson entre o número <strong>de</strong> dias<br />
s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e as outras variáveis discutidas neste tópico<br />
(fluoreto, cloreto, nitrato e sulfato), entretanto, os resultados obtidos indicam que<br />
não há uma correlação significativa entre os dados, exceto para nitrito on<strong>de</strong> se<br />
obteve uma correlação <strong>de</strong> 0,611 (P-Value = 0,002). Isto também se explica pelo<br />
fato <strong>de</strong> que o nitrito é um poluente secundário, ou seja, que é formado através da<br />
<strong>de</strong>composição da amônia e nitrato atmosférico por reações químicas.<br />
77
Concentração <strong>de</strong> nitrito (ppb)<br />
55<br />
50<br />
45<br />
40<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27<br />
n° <strong>de</strong> dias anteriores s<strong>em</strong> chuvas<br />
Figura 33 – Relação entre o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento e a<br />
concentração <strong>de</strong> nitrito (ppb) obtida para as amostras <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no<br />
período <strong>de</strong> 21/02/2006 e 02/07/2006.<br />
Também se levou <strong>em</strong> conta a influência da direção do vento nos resultados<br />
obtidos para a água da chuva. Analisando esta variável constatou-se que a<br />
direção do vento predominante nos eventos chuvosos foi do quadrante N,<br />
predominante <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 39% dos eventos, seguido pela direção do quadrante<br />
W, que predominou <strong>em</strong> 21% dos eventos. A predominância do quadrante N<br />
mostra a influência da Massa Equatorial Continental, que atua na região durante o<br />
final da estação chuvosa (fevereiro a abril). Consi<strong>de</strong>rando as médias volumétricas,<br />
o valor mais ácido para pH foi quando o vento predominante era ENE (5,02),<br />
seguido por N (5,08). Para condutivida<strong>de</strong> elétrica a média volumétrica foi <strong>de</strong> 15,29<br />
μS/cm na direção SW e 13,34 μS/cm quando predominou a direção ESE. Dentre<br />
os ânions estudados, a direção do vento ESE apresentou a maior média <strong>de</strong> nitrato<br />
(636 ppb) enquanto que a direção do quadrante SW obteve o maior valor para<br />
sulfato (1653 ppb).<br />
Entretanto, <strong>de</strong>ve ser ressaltado que ocorreram apenas 2 eventos <strong>de</strong> chuva<br />
para a direção ESE, que acumularam apenas 4 mm <strong>de</strong> precipitação, enquanto que<br />
78
para a direção SW houve apenas um evento <strong>de</strong> 0,6 mm <strong>de</strong> volume. O baixo<br />
volume dos eventos contribuiu para que houvesse um aumento na concentração<br />
dos poluentes, pois não possibilita uma maior diluição. E também, como os<br />
menores volumes se refer<strong>em</strong> na sua maioria a garoas prolongadas, po<strong>de</strong>-se<br />
atribuir às garoas uma maior eficiência na r<strong>em</strong>oção dos poluentes atmosféricos. A<br />
tabela 5 mostra os resultados das concentrações médias volumétricas das<br />
variáveis para cada quadrante da direção do vento.<br />
Tabela 5 – Dados das CMV para cada variável <strong>em</strong> função da direção do vento predominante<br />
no evento chuvoso.<br />
Direção do<br />
vento<br />
pH (*)<br />
Cond. Elétrica<br />
(μS/cm)<br />
Fluoreto<br />
(ppb)<br />
Cloreto<br />
(ppb)<br />
Nitrito<br />
(ppb)<br />
Nitrato<br />
(ppb)<br />
79<br />
Sulfato<br />
(ppb)<br />
N 5,08 8,07 7 59 20 203 92<br />
NNE -- -- -- -- -- -- --<br />
NE 5,98 4,21 17 -- 32 138 217<br />
ENE 5,02 5,87 27 60 -- 266 113<br />
E 5,67 10,6 -- 136 34 407 369<br />
ESE 5,82 13,34 18 75 24 636 203<br />
SE 5,16 4,80 15 39 7 247 88<br />
SSE 5,32 3,62 14 25 -- 120 49<br />
S -- -- -- -- -- -- --<br />
SSW -- -- -- -- -- -- --<br />
SW 5,70 15,29 21 18 240 1653<br />
WSW -- -- -- -- -- -- --<br />
W 5,12 7,60 22 55 30 229 156<br />
WNW -- -- -- -- -- -- --<br />
NW 5,93 6,21 17 54 17 283 137<br />
NNW 6,03 2,64 -- 43 -- 15 71<br />
(*): a média volumétrica para pH foi feita através da média volumétrica da concentração <strong>de</strong> H + .<br />
--: não houve evento com esta direção <strong>de</strong> vento/ ou o parâmetro não foi i<strong>de</strong>ntificado.
5.1.2 Comparação das concentrações dos parâmetros analisados e cálculos<br />
estimados para a concentração <strong>de</strong> bicarbonato (HNO3-)<br />
Quando os resultados obtidos <strong>de</strong> Cuiabá por este trabalho são comparados<br />
com estudos realizados <strong>em</strong> outras partes do Brasil e do mundo, se percebe como<br />
as chuvas <strong>em</strong> Cuiabá se tratam <strong>em</strong> maneira geral, <strong>de</strong> precipitações limpas, com<br />
baixas concentrações <strong>de</strong> íons. Em relação a outras regiões brasileiras, os teores<br />
encontrados neste trabalho <strong>de</strong> sulfato, nitrato e cloreto, além da condutivida<strong>de</strong><br />
elétrica são b<strong>em</strong> menores, como mostra a tabela 6. Ao comparar com áreas<br />
asiáticas, euro-asiáticas e da América do Norte, as diferenças são ainda maiores,<br />
principalmente por se tratar<strong>em</strong> <strong>de</strong> áreas que possu<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> industriais<br />
e energéticas (uso <strong>de</strong> combustíveis fósseis), conforme a tabela 7.<br />
Tabela 6 – Comparativo entre os dados obtidos neste estudo com os registrados <strong>em</strong> outros<br />
lugares do Brasil<br />
Local pH Condutivida<strong>de</strong><br />
(μS/cm)<br />
Cloreto<br />
(ppb)<br />
Nitrito<br />
(ppb)<br />
Nitrato<br />
(ppb)<br />
Sulfato<br />
(ppb)<br />
São Paulo (SP) 5,19 13 303 21 1314 1190<br />
Figueira (PR) 4,9 - 568 - 806 3360<br />
Salvador (BA) 5,51 23,2 5396 - 379 2170<br />
Campo Gran<strong>de</strong><br />
(MS)<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
(RJ)<br />
Lago Calado<br />
(AM)<br />
4,98 - 18 - 37 36<br />
Autores<br />
Leal et al.<br />
(2004)<br />
Flues et al.<br />
(2003)<br />
80<br />
Campos et al.<br />
(1998)<br />
Moreira-<br />
Nord<strong>em</strong>ann et<br />
al. (1997)<br />
4,77 - 2364 - 980 4022 De Mello (2001)<br />
4,7 - 163 - 260 192<br />
Williams et al<br />
(1997)<br />
Cuiabá (MT) 5,18 6,93 58 17 243 114 Este trabalho
Tabela 7 – Comparativo entre os dados obtidos neste estudo com os registrados <strong>em</strong> outros<br />
lugares do mundo<br />
Local pH<br />
Condutivida<strong>de</strong><br />
(μS/cm)<br />
Cloreto<br />
(ppb)<br />
Nitrato<br />
(ppb)<br />
Sulfato<br />
(ppb)<br />
Autores<br />
Japão - - 1416 1916 6586 Okuda et al. (2005)<br />
China 4,53 - 752 2991 9024 Han e Liu (2006)<br />
Índia 6,7 21 1775 806 3552<br />
Turquia 5,1 - 4019 2500 18785<br />
Rastogi e Sarin<br />
(2005)<br />
Basak e Alagha<br />
(2005)<br />
México 4,95 - 330 2657 7360 Báez et al. (2006)<br />
Cuiabá (MT) 5,18 6,93 58 243 114 Este trabalho<br />
Várias substâncias colaboram na neutralização da aci<strong>de</strong>z, como as<br />
hidroxilas (OH - ), os carbonatos (CO3 -2 ) e os bicarbonatos (HCO3 - ). Mesmo s<strong>em</strong> ter<br />
sido quantificado <strong>de</strong> maneira direta, a concentração <strong>de</strong> bicarbonato existente pô<strong>de</strong><br />
ser calculada através da seguinte expressão (Parashar et al., 1996, apud<br />
Kulshrestha et al., 2003):<br />
− −11,<br />
2+<br />
pH<br />
[ HCO ] =<br />
3 10<br />
Desta maneira pod<strong>em</strong>os perceber a influência do bicarbonato como agente<br />
neutralizador da aci<strong>de</strong>z <strong>em</strong> cada mês analisado, comparando-o com as<br />
concentrações dos outros ânions estudados, conforme a tabela 8.<br />
81
Tabela 8 – Concentração média volumétrica mensal dos íons e a sua respectiva<br />
concentração estimada <strong>de</strong> bicarbonato<br />
Meses pH H+* Fluoreto* Cloreto* Nitrito* Nitrato* Sulfato* Bicarbonato*<br />
fev. 4,80 1,58 10 -5 1,05 10 -6 2,19 10 -6 0,55 10 -6 3,61 10 -6 1,01 10 -6 0,4 10 -6<br />
mar. 5,13 7,3 10 -6 0,92 10 -6 1,53 10 -6 0,28 10 -6 4,9 10 -6 0,86 10 -6 0,85 10 -6<br />
abr. 5,75 1,77 10 -6 0,08 10 -6 1,15 10 -6 0,30 10 -6 1,52 10 -6 1,31 10 -6 3,55 10 -6<br />
maio 6,30 5,01 10 -7 1,25 10 -6 3,13 10 -6 1,18 10 -6 5,90 10 -6 3,61 10 -6 12,5 10 -6<br />
jul. 6,24 5,75 10 -7 0,93 10 -6 2,12 10 -6 0,35 10 -6 6,60 10 -6 3,77 10 -6 11 10 -6<br />
[*] Valores <strong>em</strong> μmol/L, <strong>de</strong>vido se tratar da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa para cada íon envolvida na reação.<br />
O bicarbonato resulta <strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> reações que se iniciam<br />
<strong>de</strong>vido a existência <strong>de</strong> gás carbônico na atmosfera, que produz o ácido carbônico:<br />
CO + H O ↔ H CO (ácido carbônico)<br />
( . )<br />
2 2<br />
2 3 aq<br />
2<br />
+ −<br />
3 ↔ H + HCO3<br />
H CO<br />
(bicarbonato)<br />
Segundo a Lei <strong>de</strong> Henry (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dissolução <strong>de</strong> um gás <strong>em</strong> um<br />
líquido), o ácido carbônico t<strong>em</strong> sua melhor dissociação na água da chuva para<br />
formar o bicarbonato quando o pH está próximo a 6,5, e diminui quanto mais ácido<br />
for o meio. Ou seja, nas chuvas com pH próximo a 6,5, existe mais bicarbonato<br />
oriundo do gás carbônico atmosférico. Assim, ao observarmos a tabela 8, verificase<br />
que a menor concentração <strong>de</strong> bicarbonato foi estimada quando a média <strong>de</strong> pH<br />
foi 4,8 (fevereiro), e a maior quando o pH atingiu o valor <strong>de</strong> 6,30 (maio).<br />
Calculando-se o pH teórico do mês <strong>de</strong> fevereiro através das concentrações dos<br />
ânions (se consi<strong>de</strong>ráss<strong>em</strong>os que houvesse apenas as concentrações <strong>de</strong> cloreto,<br />
nitrito, nitrato, fluoreto e sulfato influindo no valor final <strong>de</strong> pH), obtêm-se um pH <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> 5,02, b<strong>em</strong> próximo ao do valor medido, que foi <strong>de</strong> 4,8. Entretanto, ao<br />
82
fazer o mesmo cálculo para o mês <strong>de</strong> maio, obteve-se um valor <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 4,72,<br />
para um valor medido <strong>de</strong> 6,3.<br />
Assim, a concentração encontrada <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> cloreto, fluoreto, nitrito,<br />
nitrato e sulfato foram maiores do que <strong>em</strong> fevereiro, o que teoricamente indicaria<br />
que o pH <strong>de</strong> maio <strong>de</strong>veria ter sido menor, pois há maior concentração <strong>de</strong><br />
substâncias que acidificam o meio (liberam H + ). Os resultados estimados <strong>de</strong><br />
bicarbonato possibilitam enten<strong>de</strong>r o que houve, pois durante os meses <strong>de</strong> pH mais<br />
elevados (acima <strong>de</strong> 5,6, que é o ponto <strong>de</strong> equilíbrio do gás carbônico na<br />
atmosfera), a concentração estimada foi superior à dos outros ânions, justificando<br />
os valores encontrados, e a falta <strong>de</strong> correlação entre os dados.<br />
Um fator que po<strong>de</strong> ter interferido também nestes resultados está na<br />
formação geológica e litológica da área, pois tanto a Depressão Cuiabana como o<br />
Planalto dos Guimarães apresentam solos ácidos, impróprios para fins agrícolas, e<br />
no Planalto dos Alcantilados, encontram-se solos ácidos mas que com as <strong>de</strong>vidas<br />
correções têm sido aproveitados para uso agrícola, <strong>de</strong>stacando-se entre as<br />
correções utilizadas, a calag<strong>em</strong>. Durante o processo da calag<strong>em</strong>, o calcário<br />
lançado no solo po<strong>de</strong> ser disperso atingindo a atmosfera. Além disto, a exploração<br />
das jazidas calcárias na Província Serrana (realizada a céu aberto) também<br />
contribui para a <strong>em</strong>issão <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> partículas para a atmosfera.<br />
A resolução do CONAMA n° 357/2005 estabelece critérios para a<br />
classificação das águas no Brasil. Desta forma verificamos que caso<br />
consi<strong>de</strong>ráss<strong>em</strong>os apenas os parâmetros estudados e i<strong>de</strong>ntificados na água <strong>de</strong><br />
chuva <strong>em</strong> Cuiabá, esta água po<strong>de</strong>ria ser classificada como água doce, classe I,<br />
apresentando valores <strong>de</strong> cloreto, nitrito, nitrato e sulfato b<strong>em</strong> abaixo dos limites<br />
estabelecidos que são <strong>de</strong>: 250 mg/L para cloreto, 10 mg/L para nitrato, 1 mg/L<br />
para nitrito e 250 mg/L para sulfato. A água doce classe I, po<strong>de</strong> ser utilizada para<br />
consumo humano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que feito tratamento simplificado, além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser<br />
83
<strong>de</strong>stinada “à irrigação <strong>de</strong> hortaliças que serão consumidas cruas e <strong>de</strong> frutas que<br />
se <strong>de</strong>senvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong><br />
película” (Art. 4°, inciso II, it<strong>em</strong> d). Des<strong>de</strong> antes <strong>de</strong> Cristo já se têm registros<br />
sobre como a água <strong>de</strong> chuva v<strong>em</strong> sendo utilizada para fins potáveis e não<br />
potáveis, e a cada dia aumentam os cuidados para sua conservação. Com a<br />
sinalização <strong>de</strong> que a água é um recurso finito, <strong>em</strong>bora sejam renovadas pelo ciclo<br />
hidrológico, medidas vêm sendo adotadas sobretudo na Europa, América do Norte<br />
e Japão, para se evitar o <strong>de</strong>sperdício, e a captação e o aproveitamento da água<br />
<strong>de</strong> chuva t<strong>em</strong> sido uma alternativa altamente viável (Tomaz, 2003), pois ajuda a<br />
conservar os corpos d’água superficiais e subterrâneos. Assim, a água das chuvas<br />
<strong>em</strong> Cuiabá apresenta inicialmente características que possibilitam seu<br />
aproveitamento, além <strong>de</strong> que novos estudos com uma análise completa <strong>de</strong> suas<br />
características físico-químicas colaborarão para <strong>de</strong>finir com maior segurança<br />
todos os seus possíveis usos.<br />
5.2 Resultados analíticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca<br />
Foram coletadas 30 amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca entre os dias 14/08/2006<br />
a 28/09/2006. Os valores <strong>de</strong> pH variaram entre 5,94 e 9,41, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rar que o material suspenso na atmosfera e que se <strong>de</strong>positou sobre o<br />
amostrar possuíam características alcalinas. Os valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica,<br />
variaram entre 6,94 e 81,5 μS/cm, o que correspon<strong>de</strong> a uma variação na<br />
concentração <strong>de</strong> sais totais dissolvidos <strong>de</strong> 4,44 e 52,16 mg/L. Como as coletas<br />
foram realizadas somente <strong>de</strong> segunda a sexta, pois no sábado e domingo não foi<br />
possível realizar as coletas, verificou-se que <strong>em</strong> geral, a amostra da segunda-feira<br />
apresentou os maiores valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica, provavelmente <strong>em</strong><br />
função do acúmulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca durante os finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana, fator que<br />
<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado nas nossas análises. A figura 34 mostra a variação dos<br />
84
valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica, e a figura 35, mostra a variação do pH e<br />
dos valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica convertida para sais totais dissolvidos (TSD<br />
<strong>em</strong> mg/L). Para realizar a conversão basta seguir a equação (Mâcedo, 2004):<br />
on<strong>de</strong>:<br />
TSD (mg/L): sais totais dissolvidos<br />
TSD ( mg / L)<br />
= Cond.<br />
× 0,<br />
64<br />
Cond. : valor medido <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica <strong>em</strong> μS/cm<br />
0,64: fator <strong>de</strong> conversão<br />
pH<br />
9,5<br />
9<br />
8,5<br />
8<br />
7,5<br />
7<br />
6,5<br />
6<br />
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29<br />
pH Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
Figura 34 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica obtidos nas amostras <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006.<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
85
pH<br />
9,5<br />
9<br />
8,5<br />
8<br />
7,5<br />
7<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29<br />
pH TSD (mg/L)<br />
Figura 35 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica obtidos nas amostras <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006.<br />
Ao se analisar a <strong>de</strong>posição seca levando <strong>em</strong> conta o dia da s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> que<br />
o mesmo foi coletado, percebeu-se que os valores máximos <strong>de</strong> pH para o mesmo<br />
dia ten<strong>de</strong>ram a diminuir no <strong>de</strong>correr da s<strong>em</strong>ana (figura 36), com exceção <strong>de</strong> terça,<br />
on<strong>de</strong> se encontrou o menor valor máximo. Assim, t<strong>em</strong>os os valores máximos<br />
registrados <strong>em</strong> cada dia na seguinte ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>crescente<br />
segunda>quarta>quinta>sexta>terça. Na figura 37, pod<strong>em</strong>os observar que a<br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica apresentou uma performance s<strong>em</strong>elhante à do pH, sendo<br />
que os valores máximos para cada dia diminuíram também no <strong>de</strong>correr na<br />
s<strong>em</strong>ana, exceto na terça. Apresentou a seguinte ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>crescente para<br />
condutivida<strong>de</strong> elétrica segunda>quarta>quinta>sexta>terça. Um dos motivos para<br />
o ocorrido na terça, é que foram registradas 2 precipitações nos dias 28 <strong>de</strong> agosto<br />
(segunda, pH 5,16 e 4,21, e condutivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 68,9 e 35,7), e uma no dia 11 <strong>de</strong><br />
set<strong>em</strong>bro (segunda, pH 5,4, condutivida<strong>de</strong> 8,96), o que provocou uma diminuição<br />
nos valores tanto <strong>de</strong> pH como condutivida<strong>de</strong> elétrica, pois a maior parte do<br />
material suspenso na atmosfera acabou se precipitando sobre a superfície.<br />
Também se observa que os menores valores <strong>de</strong> pH registrados <strong>em</strong> cada dia,<br />
55,00<br />
50,00<br />
45,00<br />
40,00<br />
35,00<br />
30,00<br />
25,00<br />
20,00<br />
15,00<br />
10,00<br />
5,00<br />
0,00<br />
TSD<br />
86
tend<strong>em</strong> a aumentar <strong>de</strong> terça a sexta, enquanto que os <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> tend<strong>em</strong> a<br />
diminuir no <strong>de</strong>correr da s<strong>em</strong>ana. No que se refere à condutivida<strong>de</strong> elétrica <strong>de</strong><br />
segunda feira, é importante ressaltar que o valor se refere ao acumulado do final<br />
<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana.<br />
pH<br />
9,5<br />
9<br />
8,5<br />
8<br />
7,5<br />
7<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Dias da s<strong>em</strong>ana<br />
Figura 36 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH para cada dia da s<strong>em</strong>ana obtidos nas amostras<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006. On<strong>de</strong>: 1 –<br />
segunda; 2 – terça; 3 – quarta; 4 – quinta; 5 sexta.<br />
Condutivida<strong>de</strong> elétrica<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 1 2 3 4 5 6<br />
Dias da s<strong>em</strong>ana<br />
Figura 37 – Variação entre os dados <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica para cada dia da s<strong>em</strong>ana<br />
obtido nas amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e<br />
28/09/2006. On<strong>de</strong>: 1 – segunda; 2 – terça; 3 – quarta; 4 – quinta; 5 sexta.<br />
87
A direção do vento predominante para a maioria das amostras foi a direção<br />
NNW, que predominou <strong>em</strong> 8 amostras, seguida pela NW e SE <strong>em</strong> 7 amostras, e<br />
SW predominante <strong>em</strong> 6 amostras. O maior valor <strong>de</strong> pH encontrado, que foi <strong>de</strong><br />
9,41, teve SE como direção do vento, sendo também encontrados valores maiores<br />
que 8,0 nas direções SW e NNW. A figura 38 mostra a distribuição do pH <strong>de</strong><br />
acordo com a direção <strong>de</strong> vento predominante.<br />
WNW<br />
W<br />
WSW<br />
NW<br />
SW<br />
NNW<br />
SSW<br />
9,5<br />
9<br />
8,5<br />
8<br />
7,5<br />
7<br />
6,5<br />
6<br />
5,5<br />
N<br />
Figura 38 – Variação entre os dados <strong>de</strong> pH conforme a direção <strong>de</strong> vento predominante no dia<br />
da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong> 14/08/2006 e 28/09/2006.<br />
Nos valores <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> (figura 39), observou-se que os maiores<br />
valores foram encontrados quando o vento predominante no dia da amostrag<strong>em</strong><br />
foi NNW (81,5 μS/cm), seguido por SE (50,8, 47,3 e 33,5 μS/cm). Embora os<br />
maiores valores <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> tenham sido encontrados na mesma<br />
direção do vento, correspon<strong>de</strong> a amostras diferentes, além <strong>de</strong> não haver<br />
correlação estatística significativa entre os dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> (r =<br />
0,311, p-valor = 0,094).<br />
S<br />
NNE<br />
SSE<br />
NE<br />
SE<br />
ENE<br />
E<br />
ESE<br />
88
WNW<br />
W<br />
WSW<br />
NW<br />
SW<br />
NNW<br />
N<br />
90<br />
75<br />
60<br />
45<br />
30<br />
15<br />
0<br />
SSW<br />
SSE<br />
S<br />
Figura 39 – Variação entre os dados <strong>de</strong> condutivida<strong>de</strong> elétrica conforme a direção <strong>de</strong> vento<br />
predominante no dia da amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca <strong>em</strong> Cuiabá-MT, no período <strong>de</strong><br />
14/08/2006 e 28/09/2006.<br />
Não foi possível até a finalização <strong>de</strong>ste trabalho a análise química das<br />
amostras <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca, o que colaboraria na compreensão mais clara dos<br />
resultados e na elaboração <strong>de</strong> propostas para amenizar seus efeitos.<br />
5.3 Resultados da quantificação <strong>de</strong> material particulado inalável<br />
A amostrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> material particulado inalável ocorreu entre 02/09/2006 a<br />
02/11/2006, ou seja, por 60 dias, abrangendo o final da estação seca e o início da<br />
estação chuvosa <strong>em</strong> Cuiabá. A coleta foi realizada no Campus da UFMT, com um<br />
amostrador dicotômico An<strong>de</strong>rsen/Graseby (mo<strong>de</strong>lo 241), sendo que as trocas dos<br />
filtros eram realizadas a cada 24 horas (s<strong>em</strong>pre as 13:00 horas). Por motivos <strong>de</strong><br />
queda <strong>de</strong> energia não foram consi<strong>de</strong>radas as amostragens realizadas no dia 06/10<br />
(compreen<strong>de</strong>ndo o período das 13 horas <strong>de</strong> 05/10 às 13 horas <strong>de</strong> 06/10) e 09/10<br />
(compreen<strong>de</strong>ndo o período das 13 horas <strong>de</strong> 08/10 às 13 horas <strong>de</strong> 09/10). Estes<br />
NNE<br />
NE<br />
SE<br />
ENE<br />
E<br />
ESE<br />
89
dias não foram consi<strong>de</strong>rados, pois o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong> foi inferior a 22,5<br />
horas. Devido à interrupção <strong>de</strong> energia no Campus da UFMT para melhorias nas<br />
instalações, não foi amostrado o dia 22/09 (compreen<strong>de</strong>ndo o período das 13<br />
horas <strong>de</strong> 21/09 às 13 horas <strong>de</strong> 22/09). Para o período amostrado, dados do INPE<br />
mostram que o satélite NOAA registrou 11.649 focos <strong>de</strong> queimadas <strong>em</strong> Mato<br />
Grosso, entretanto foram registrados apenas 10 <strong>em</strong> Cuiabá.<br />
A concentração diária <strong>de</strong> material particulado inalável (com diâmetro <strong>de</strong> até<br />
10μm) variou entre 15 (encontrado no 40° e 58° dia) a 143 μg/m 3 (encontrada no<br />
13° dia), apresentando uma média diária <strong>de</strong> 46 μg/m 3 para todo o período<br />
amostrado. A figura 40 mostra a variação da concentração <strong>de</strong> material particulado<br />
inalável para todo período amostrado. A tabela 09 mostra as concentrações<br />
diárias <strong>de</strong> material particulado inalável, inclusive indicando a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
particulado fino (até 2,5 μm) e grosso (entre 2,5 e 10 μm), a qualida<strong>de</strong> do ar <strong>em</strong><br />
função da concentração <strong>de</strong> material particulado, o dia da s<strong>em</strong>ana, a ocorrência ou<br />
não <strong>de</strong> chuvas e o número <strong>de</strong> queimadas pelo satélite NOAA. Do total <strong>de</strong> dias<br />
amostrados, 17 apresentaram qualida<strong>de</strong> regular na concentração <strong>de</strong> particulado<br />
enquanto que 41 foram tiveram sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finida como boa.<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
1 3 5 7 9 11131517192123252729313335373941434547495153555759<br />
Figura 40 – Variação da concentração diária <strong>de</strong> MP10 para todo o período amostrado, <strong>de</strong><br />
02/09/2006 a 02/11/2006.<br />
90
Tabela 9 – Dados da concentração <strong>de</strong> material particulado inalável, situação da qualida<strong>de</strong> do<br />
ar para o dia amostrado <strong>em</strong> função da concentração <strong>de</strong> MP10, dia da s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> que ocorreu<br />
a amostrag<strong>em</strong>, ocorrência ou não <strong>de</strong> chuvas e registros <strong>de</strong> queimadas pelo satélite NOAA.<br />
Amostra MP 10 Fino Grosso Qualida<strong>de</strong><br />
Dia da<br />
S<strong>em</strong>ana<br />
Chuvas Queimadas<br />
1 43 26 17 Boa Dom N -<br />
2 69 61 8 Regular Seg N -<br />
3 46 9 37 Boa Ter N -<br />
4 36 18 18 Boa Qua N 3<br />
5 109 39 70 Regular Qui N 4<br />
6 114 52 62 Regular Sex N 1<br />
7 58 20 38 Regular Sab S -<br />
8 20 10 10 Boa Dom S -<br />
9 34 16 18 Boa Seg N -<br />
10 74 31 43 Regular Ter N -<br />
11 84 32 52 Regular Qua N -<br />
12 110 48 62 Regular Qui N -<br />
13 143 93 50 Regular Sex N -<br />
14 121 79 42 Regular Sab N -<br />
15 51 35 16 Regular Dom N -<br />
16 61 39 22 Regular Seg N -<br />
17 116 61 55 Regular Ter N 1<br />
18 130 85 45 Regular Qua N 1<br />
19 90 62 28 Regular Qui N -<br />
20 47 21 26 Boa Sab N -<br />
21 42 26 16 Boa Dom N -<br />
22 26 13 13 Boa Seg N -<br />
23 63 25 38 Regular Ter N -<br />
24 44 14 30 Boa Qua N -<br />
25 42 14 28 Boa Qui N -<br />
26 20 8 12 Boa Sex S -<br />
27 21 9 12 Boa Sab S -<br />
28 21 11 10 Boa Dom S -<br />
29 38 22 16 Boa Seg N -<br />
30 32 17 15 Boa Ter N -<br />
31 51 27 24 Regular Qua N -<br />
32 54 31 23 Regular Qui N -<br />
91
Continuação da Tabela 9<br />
33 * * * * Sex S -<br />
34 29 14 15 Boa Sab N -<br />
35 28 15 13 Boa Dom N -<br />
36 * * * * Seg N -<br />
37 32 10 22 Boa Ter N -<br />
38 28 14 14 Boa Qua S -<br />
39 37 16 21 Boa Qui N -<br />
40 15 7 8 Boa Sex S -<br />
41 21 8 13 Boa Sab S -<br />
42 23 11 12 Boa Dom S -<br />
43 23 10 13 Boa Seg N -<br />
44 18 9 9 Boa Ter N -<br />
45 20 6 14 Boa Qua N -<br />
46 28 9 19 Boa Qui N -<br />
47 20 7 13 Boa Sex S -<br />
48 32 12 20 Boa Sab N -<br />
49 25 7 18 Boa Dom N -<br />
50 19 6 13 Boa Seg N -<br />
51 38 8 30 Boa Ter S -<br />
52 27 10 17 Boa Qua N -<br />
53 19 7 12 Boa Qui S -<br />
54 28 10 18 Boa Sex N -<br />
55 46 15 31 Boa Sab N -<br />
56 27 10 17 Boa Dom N -<br />
57 31 10 21 Boa Seg N -<br />
58 15 5 10 Boa Ter S -<br />
59 27 9 18 Boa Qua N -<br />
60 26 8 18 Boa Qui N -<br />
(*) – dia que não houve amostrag<strong>em</strong> <strong>em</strong> função da falta <strong>de</strong> energia<br />
S: houve chuva; N: não houve chuva<br />
Ao se comparar os primeiros 30 dias <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong> (final da estação<br />
seca), 15 dias foram caracterizados como regular e 15 como qualida<strong>de</strong> boa. Vale<br />
ressaltar que o mês <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro apresentou um volume <strong>de</strong> precipitação incomum,<br />
92
cerca <strong>de</strong> 140mm <strong>de</strong> chuva (<strong>em</strong>bora um único evento registrou 118 mm), o que<br />
po<strong>de</strong> ter colaborado para a limpeza <strong>de</strong> material particulado atmosférico, e indica<br />
que <strong>em</strong> um ano on<strong>de</strong> não ocorram precipitações <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro, po<strong>de</strong> haver um<br />
agravamento nos índices <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, uma vez que foi registrado uma<br />
concentração <strong>de</strong> 143 μg/m 3 (qualida<strong>de</strong> regular), sendo que uma concentração <strong>de</strong><br />
151 μg/m 3 já classifica a qualida<strong>de</strong> do ar como ina<strong>de</strong>quada <strong>em</strong> função <strong>de</strong>ste<br />
parâmetro.<br />
As figuras 41 e 42 mostram a diferença entre os filtros amostrados na<br />
estação seca e na estação chuvosa, on<strong>de</strong> se percebe que durante a estação seca,<br />
os filtros se mostraram com coloração mais forte do que na estação chuvosa, e<br />
conseqüent<strong>em</strong>ente apresentou com freqüência uma maior concentração <strong>de</strong><br />
material particulado. Nas figuras 43 e 44 se percebe como durante a estação seca<br />
Cuiabá apresenta menor visibilida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> função do material suspenso na<br />
atmosfera, proveniente sobretudo das queimadas, muito comum na região durante<br />
este período. Após o início das chuvas, ocorre a limpeza da atmosfera,<br />
melhorando a visibilida<strong>de</strong>.<br />
93
Figura 41 – Filtro amostrado no 23° dia na estação seca (particulado fino à esquerda e o<br />
grosso à direita). Fonte: Rodrigo Marques (2006)<br />
Figura 42 - Filtro amostrado no 58° dia na estação chuvosa (particulado fino à esquerda e<br />
particulado grosso à direita). Fonte: Rodrigo Marques (2006)<br />
94
Figura 43 - Vista parcial da atmosfera <strong>de</strong> Cuiabá (campus UFMT) <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro 2006 (estação<br />
seca). Fonte: Rodrigo Marques (2006)<br />
Figura 44 - Vista parcial da atmosfera <strong>de</strong> Cuiabá (campus UFMT) <strong>em</strong> Outubro <strong>de</strong> 2006<br />
(estação chuvosa). Fonte: Rodrigo Marques (2006).<br />
Consi<strong>de</strong>rando-se os valores médios da concentração <strong>de</strong> material<br />
particulado, constatou-se que elas foram maiores na estação seca do que na<br />
estação chuvosa, A figura 45 mostra a concentração média <strong>de</strong> material particulado<br />
inalável, além <strong>de</strong> indicar a contribuição do particulado fino e grosso para a<br />
95
concentração <strong>de</strong> particulado total, seja para todo o período amostrado, como<br />
também para o final da estação seca e o início da estação chuvosa analisados<br />
separadamente. A concentração média para todo o período foi <strong>de</strong> 46,4 μg/m 3 ,<br />
on<strong>de</strong> praticamente a meta<strong>de</strong> era <strong>de</strong> particulado fino e <strong>de</strong> particulado grosso, e na<br />
média sua qualida<strong>de</strong> foi consi<strong>de</strong>rada boa. Ao se consi<strong>de</strong>rar somente o final da<br />
estação seca (os primeiros 30 dias amostrados), obteve-se uma média <strong>de</strong> 63<br />
μg/m 3 , sendo que 33 μg/m 3 eram oriundos do particulado fino enquanto que o<br />
particulado grosso contribuiu com 30 μg/m 3 . É importante ressaltar que foram<br />
registrados apenas 5 dias com ocorrência <strong>de</strong> chuvas, além <strong>de</strong> 10 registros <strong>de</strong><br />
queimadas captadas pelo satélite NOAA (INPE, 2006) no município <strong>de</strong> Cuiabá.<br />
Durante o início da estação chuvosa (últimos 30 dias amostrados), obteve-se uma<br />
queda na concentração <strong>de</strong> MP10 para pouco menos da meta<strong>de</strong> da encontrada no<br />
final da estação seca, com uma média <strong>de</strong> 28 μg/m 3 , sendo 11 μg/m 3 <strong>de</strong> particulado<br />
fino e 17 μg/m 3 <strong>de</strong> particulado grosso. Não se registraram focos <strong>de</strong> queimadas<br />
neste período, além <strong>de</strong> ter ocorrido chuvas <strong>em</strong> nove dias.<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
46,4<br />
22,5<br />
23,9<br />
63<br />
33<br />
Total Estação Seca Estação Chuvosa<br />
30<br />
MP10 Fino Grosso<br />
Figura 45 – Variação da concentração média <strong>de</strong> material particulado inalável (μg/m 3 ), e qual<br />
a contribuição do particulado fino e grosso na composição total para todo o período<br />
amostrado, para o final da estação seca e o início da estação chuvosa.<br />
28<br />
11<br />
17<br />
96
Também foi comparado como o ritmo da cida<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> influenciar na<br />
concentração do material particulado inalável. Para isto compararam-se as<br />
concentrações médias obtidas para cada dia da s<strong>em</strong>ana, <strong>de</strong> maneira a verificar<br />
como o fluxo principalmente <strong>de</strong> automóveis po<strong>de</strong>ria acarretar conseqüências nos<br />
resultados. Ao analisar a figura 46, constata-se que as menores médias foram<br />
obtidas nas amostras coletadas no domingo e na segunda. Como as coletas eram<br />
realizadas com intervalo <strong>de</strong> 24 horas, compreendia um período que ia <strong>de</strong> 13:00<br />
horas do dia anterior até as 13:00 horas do dia <strong>em</strong> que era feita a troca dos filtros.<br />
Assim, a média do domingo correspon<strong>de</strong> ao período que vai das 13:00 horas <strong>de</strong><br />
sábado até às 13:00 horas <strong>de</strong> domingo, e no que se refere à segunda, o período<br />
correspon<strong>de</strong> das 13:00 horas <strong>de</strong> domingo até às 13:00 horas da segunda. Nestes<br />
dois períodos é quando se registram os menores fluxos <strong>de</strong> automóveis <strong>em</strong> Cuiabá,<br />
on<strong>de</strong> as ruas ficam quase <strong>de</strong>sertas, e também há um menor número <strong>de</strong> ônibus do<br />
transporte coletivo <strong>em</strong> circulação.<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
46<br />
35<br />
31<br />
26<br />
37<br />
24<br />
48<br />
75 73<br />
27<br />
50<br />
31<br />
88<br />
57 57<br />
Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab<br />
Média Total Estação Seca Estação Chuvosa<br />
Figura 46 – Variação da concentração média <strong>de</strong> material particulado inalável (μg/m 3 ) para<br />
cada dia da s<strong>em</strong>ana, durante todo o período amostrado, o final da estação seca e o início da<br />
estação chuvosa.<br />
33<br />
73<br />
24<br />
47<br />
62<br />
32<br />
97
Durante todo o período amostrado, há uma variação <strong>de</strong> 31 (domingo) a 57<br />
μg/m 3 (quinta e sexta), on<strong>de</strong> somente nestes dois dias atinge-se a concentração<br />
que indica uma qualida<strong>de</strong> regular para material particulado. Também foi realizada<br />
uma comparação para o final da estação seca e o início da estação chuvosa o que<br />
mostrou valores muito diferentes entre os dois períodos. No final da estação seca,<br />
somente no domingo e na segunda os valores não ultrapassaram o limite <strong>de</strong> 50<br />
μg/m 3 , estabelecido para uma qualida<strong>de</strong> boa <strong>de</strong> particulado, atingindo 88 μg/m 3 na<br />
quinta feira. Ao se verificar os dados do início da estação chuvosa, verificou-se<br />
que as médias para todos os dias da s<strong>em</strong>ana ficaram abaixo do limite <strong>de</strong> 50<br />
μg/m 3 , sendo o máximo obtido na quinta com 33 μg/m 3 , e os valores mais baixos<br />
na segunda, domingo e sexta com 24 μg/m 3 .<br />
Duas avaliações são possíveis nestes dados. Primeiro, é evi<strong>de</strong>nte que a<br />
circulação dos veículos e conseqüent<strong>em</strong>ente das pessoas provoca uma resuspensão<br />
do material particulado existente na atmosfera que acabou precipitado<br />
na superfície pela falta <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> alguns agentes como o vento, e também o<br />
atrito causado pela movimentação dos veículos. Durante os finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana, com<br />
a diminuição da circulação dos automóveis, as partículas suspensas na atmosfera<br />
tend<strong>em</strong> a se <strong>de</strong>positar na superfície, e no <strong>de</strong>correr da s<strong>em</strong>ana com o aumento da<br />
circulação dos automóveis, o atrito causado po<strong>de</strong> re-suspen<strong>de</strong>r na atmosfera o<br />
material particulado inalável que foi <strong>de</strong>positado, além <strong>de</strong> partículas do próprio solo.<br />
Um outro ponto é que a combustão dos motores dos ônibus po<strong>de</strong> <strong>em</strong>itir até 2,7<br />
toneladas/mês <strong>de</strong> material particulado para a atmosfera, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />
combustível utilizado, conforme os estudos <strong>de</strong> Kozerski e Hess (2006), na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> – MS. Assim, com menos ônibus circulando, menos material<br />
particulado é <strong>em</strong>itido. Um outro fator importante são as ativida<strong>de</strong>s humanas,<br />
sobretudo a ocorrências das queimadas no perímetro urbano <strong>de</strong> Cuiabá, e que<br />
acabam por lançar na atmosfera boas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> material particulado <strong>em</strong><br />
função das fuligens, que também pod<strong>em</strong> contribuir para o aumento das<br />
concentrações <strong>de</strong> particulado, principalmente quando associadas à ausência <strong>de</strong><br />
98
chuvas que caracterizam o final da estação seca. Desta maneira, a variação dos<br />
dados mostra que a concentração do material particulado é afetada pelo ritmo da<br />
cida<strong>de</strong>.<br />
Para as análises estatísticas dos dados, primeiro foi observado se as<br />
amostras do final da estação seca e as do início da estação chuvosa possuíam<br />
uma distribuição normal dos dados, conforme o confirmado nas figuras 47 e 48.<br />
Probability<br />
,999<br />
,99<br />
,95<br />
,80<br />
,50<br />
,20<br />
,05<br />
,01<br />
,001<br />
Av erage: 63,5<br />
StDev: 36,8686<br />
N: 30<br />
Normal Probability Plot<br />
40 90 140<br />
Final da Estação Seca<br />
W-test for Normality<br />
R: 0,9580<br />
P-Value (approx): 0,0342<br />
Figura 47 – Probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição normal dos dados para o final da estação seca<br />
(02/09/2006 a 02/10/2006).<br />
99
Probability<br />
,999<br />
,99<br />
,95<br />
,80<br />
,50<br />
,20<br />
,05<br />
,01<br />
,001<br />
15<br />
Av erage: 28,1071<br />
StDev : 9,80302<br />
N: 28<br />
Normal Probability Plot<br />
25<br />
35<br />
45<br />
55<br />
Início da Estação Chuvosa<br />
W-test f or Normality<br />
R: 0,9500<br />
P-Value (approx): 0,0202<br />
Figura 48 – Probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Distribuição normal dos dados para o início da estação<br />
chuvosa (02/10/2006 a 02/11/2006).<br />
Após ter sido confirmado a normalida<strong>de</strong> dos dados com intervalo <strong>de</strong><br />
confiança <strong>de</strong> 95%, eles foram submetidos à análise <strong>de</strong> variância, para verificar se<br />
havia ou não uma diferença significativa entre eles. A análise <strong>de</strong> variância (tabela<br />
10) mostrou que há uma diferença significativa entre os dados obtidos no final da<br />
estação seca e no início da estação chuvosa (p = 0,000). A figura 49 mostra os<br />
boxplots para os dados analisados.<br />
Tabela 10 - Análise <strong>de</strong> variância entre os dados <strong>de</strong> material particulado amostrados no final<br />
da estação seca e início da estação chuvosa <strong>de</strong> 2006 <strong>em</strong> Cuiabá-MT.<br />
Analysis of Variance<br />
Source DF SS MS F P<br />
Factor 1 18142 18142 24,18 0,000<br />
Error 56 42014 750<br />
Total 57 60156<br />
Individual 95% CIs For Mean<br />
Based on Pooled StDev<br />
Level N Mean StDev ---------+---------+---------+-------<br />
Est. Sec 30 63,50 36,87 (------*-----)<br />
Est. Chu 28 28,11 9,80 (------*-----)<br />
---------+---------+---------+-------<br />
Pooled StDev = 27,39 32 48 64<br />
100
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Boxplots of Est. Seca - Est. Chuvosa<br />
(médias são indicadas pelos círculos sólidos)<br />
Seca<br />
Est.<br />
Figura 49 – Boxplots dos dados do final da estação seca e do início da estação chuvosa.<br />
On<strong>de</strong> as caixas indicam os valores <strong>de</strong> 50% da amostra, a linha <strong>de</strong>ntro das caixas indica o<br />
valor da mediana, os círculos indicam a média, a linhas verticais superiores representam os<br />
25% dos maiores valores, e a inferior representa os 25% dos valores mais baixos.<br />
Chuvosa<br />
Est.<br />
101
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTAS<br />
Mesmo com a constatação <strong>de</strong> que 36,8% das chuvas <strong>em</strong> Cuiabá para o<br />
período amostrado foram ácidas (pH menor que 5,6), ao se observar à<br />
composição das chuvas, verificou-se que Cuiabá apresenta baixas concentrações<br />
<strong>de</strong> poluentes, e po<strong>de</strong>-se afirmar que <strong>em</strong> geral, as chuvas são limpas. Assim, tratase<br />
<strong>de</strong> uma área continental que ainda não foi impactada pelo fenômeno das<br />
chuvas ácidas, afinal mesmo os eventos on<strong>de</strong> o pH foi ácido (menor que 5,6), a<br />
concentração dos poluentes não são suficientes para causar<strong>em</strong> danos à<br />
população, construções, vegetação e corpos d’água. Entretanto, o estudo se<br />
refere às coletas realizadas no Campus da UFMT, o que torna necessárias<br />
campanhas <strong>de</strong> coletas na área central <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, e também no distrito<br />
industrial, para evi<strong>de</strong>nciar se há diferenças significativas nos valores mensurados<br />
<strong>em</strong> áreas com ativida<strong>de</strong>s diferenciadas. Pelas concentrações encontradas e pelos<br />
critérios estabelecidos pela resolução 357/2005 do CONAMA para a classificação<br />
<strong>de</strong> águas no Brasil, é possível o aproveitamento da água <strong>de</strong> chuva <strong>em</strong> Cuiabá no<br />
uso e consumo para fins não-potáveis, e uma análise mais completa po<strong>de</strong> verificar<br />
a viabilida<strong>de</strong> do seu uso e consumo para fins potáveis. Tomaz (2003) l<strong>em</strong>bra que<br />
já existe um projeto <strong>de</strong> norma ABNT para a padronização da captação e<br />
aproveitamento <strong>de</strong> água <strong>de</strong> chuva. Como o volume <strong>de</strong> precipitação <strong>em</strong> Cuiabá que<br />
nos últimos trinta anos apresentou uma média <strong>de</strong> 1470 mm, os po<strong>de</strong>res públicos<br />
municipais e estaduais <strong>de</strong>veriam atentar para a viabilida<strong>de</strong> da captação e o<br />
aproveitamento das chuvas <strong>em</strong> Cuiabá, <strong>de</strong> maneira a conservar a água existente<br />
no lençol freático que abastece a cida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como racionalizar ainda mais a<br />
captação existente no rio Cuiabá.<br />
Também se encontraram boas correlações positivas entre os valores <strong>de</strong><br />
nitrato e condutivida<strong>de</strong> elétrica (r = 0,724, p = 0,000), fluoreto e nitrito (r = 0,700, p<br />
102
= 0,004), além <strong>de</strong> nitrito e o número <strong>de</strong> dias s<strong>em</strong> chuva anteriores ao evento (r =<br />
0,611, p = 0,002). As direções <strong>de</strong> vento predominante foram a norte (39%) e oeste<br />
(21%), confirmando a predominância da atuação dos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> correntes<br />
perturbadas <strong>de</strong> Oeste e Noroeste (linhas <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong>s das Frentes Tropicais)<br />
durante o período <strong>de</strong> amostrag<strong>em</strong>. A neutralização da aci<strong>de</strong>z da chuva indica que<br />
é oriunda sobretudo das ações antropogênicas na região, pois a existência <strong>de</strong><br />
solos ácidos faz com que seja utilizada a técnica da calag<strong>em</strong> para melhorar a<br />
fertilida<strong>de</strong> do solo. A calag<strong>em</strong> ten<strong>de</strong> a se concentrar <strong>de</strong> maio a julho, pois o<br />
período é propício para que haja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calcário, veículos <strong>de</strong><br />
transporte, além <strong>de</strong> máquinas disponíveis nas proprieda<strong>de</strong>s agrícolas para aplicar<br />
o corretivo no solo (fator difícil <strong>de</strong> ocorrer <strong>em</strong> período <strong>de</strong> colheita, quando os<br />
maquinários estão ocupados). E, além disto, as rochas on<strong>de</strong> predominam os<br />
carbonatos na Província Serrana formam gran<strong>de</strong>s jazidas calcárias, exploradas a<br />
céu aberto para aten<strong>de</strong>r a d<strong>em</strong>anda (sobretudo agrícola) da região. Como<br />
resultados <strong>de</strong>stas ações, do solo pod<strong>em</strong> originar partículas com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
neutralizar a aci<strong>de</strong>z <strong>atmosférica</strong>, compreen<strong>de</strong>ndo os resultados alcançados.<br />
Através dos dados <strong>de</strong> pH e condutivida<strong>de</strong> elétrica <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição seca<br />
coletada durante o período <strong>de</strong> estiag<strong>em</strong>, mesmo s<strong>em</strong> a análise química <strong>de</strong> sua<br />
composição, indica que possui substâncias alcalinas, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter orig<strong>em</strong> nas<br />
queimadas que ocorr<strong>em</strong> no perímetro urbano, durante a estação seca. Esta<br />
<strong>de</strong>dução também se <strong>de</strong>ve ao trabalho <strong>de</strong> Rebelatto (2006), que encontrou no<br />
material suspenso na atmosfera, elevadas concentrações <strong>de</strong> potássio e cálcio<br />
(substâncias alcalinas). Somente após as análises químicas das amostras <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>posição seca, será possível i<strong>de</strong>ntificar a orig<strong>em</strong> da <strong>poluição</strong> que nelas possam<br />
existir.<br />
As concentrações <strong>de</strong> material particulado inalável, <strong>em</strong>bora realizadas<br />
durante apenas 60 dias, t<strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> importância no que se refere à<br />
representativida<strong>de</strong>, pois se tratou da amostrag<strong>em</strong> do final da estação seca e do<br />
103
início da estação chuvosa, e indicou que no final da estação seca as<br />
concentrações <strong>de</strong> particulado inalável são muito superiores do que as encontradas<br />
no início da estação chuvosa. Além disto, durante meta<strong>de</strong> dos dias amostrados no<br />
período seco, se constatou como REGULAR a qualida<strong>de</strong> do ar <strong>em</strong> função da<br />
concentração <strong>de</strong> particulado, enquanto que durante o período chuvoso, cerca <strong>de</strong><br />
10% apenas dos dias apresentaram tal nível, tendo apresentado nos d<strong>em</strong>ais dias<br />
nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do ar BOA. Outro fator importante constatado foi à influência do<br />
ritmo da cida<strong>de</strong> nestas concentrações, pois se verificou que durante os dias <strong>em</strong><br />
que há maior circulação <strong>de</strong> automóveis e pessoas, <strong>de</strong>vido sobretudo às ativida<strong>de</strong>s<br />
profissionais e escolares, as concentrações foram mais elevadas do que as<br />
encontradas nos finais <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana. A posterior análise química dos filtros <strong>de</strong><br />
material particulado indicará os principais atores que contribu<strong>em</strong> para a sua<br />
formação. Os dados levantados <strong>em</strong>bora se refiram a um período curto (<strong>de</strong> 2<br />
meses), possui a representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> indicar resultados presentes no final da<br />
estação seca e no início da estação chuvosa, e indicam que os po<strong>de</strong>res públicos<br />
municipais e estaduais já <strong>de</strong>v<strong>em</strong> se preocupar e iniciar estudos para realizar<br />
ações visando um controle anual da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> particulado atmosférico, b<strong>em</strong><br />
como procurar a diminuição da sua concentração.<br />
As técnicas utilizadas para a análise da <strong>poluição</strong> <strong>atmosférica</strong> se mostraram<br />
eficazes, e com os <strong>de</strong>vidos aperfeiçoamentos e a<strong>de</strong>quações, pod<strong>em</strong> se tornar<br />
importantes ferramentas no monitoramento ambiental, além <strong>de</strong> auxiliar os órgãos<br />
e entida<strong>de</strong>s ambientais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na proposição <strong>de</strong> políticas públicas que vis<strong>em</strong><br />
proporcionar à socieda<strong>de</strong> um melhor aproveitamento dos recursos naturais<br />
disponíveis s<strong>em</strong> afetar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população.<br />
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