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Mineração de agregados: a sustentabilidade é possível - CREA-RS

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áREA TÉCNICA - MATÉRIAS<br />

12<br />

CONSELHO em revista | nº 38<br />

www.crea-rs.org.br<br />

ADRiANO BECkER<br />

Fotos da Mineradora Incopel<br />

<strong>de</strong> Estância Velha<br />

<strong>Mineração</strong> <strong>de</strong> <strong>agregados</strong>:<br />

a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>possível</strong><br />

Extração e uso responsáveis <strong>de</strong> areia e brita po<strong>de</strong>m<br />

ser um concreto mecanismo <strong>de</strong> inclusão social<br />

Por Andrea Fioravanti Reisdörfer | Jornalista<br />

O <strong>de</strong>sempenho da construção civil <strong>é</strong> um<br />

dos indicativos mais fi<strong>é</strong>is para <strong>de</strong>monstrar<br />

como anda a economia e o <strong>de</strong>senvol vimento<br />

<strong>de</strong> um país. Quando falamos no assunto pensamos<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as gran<strong>de</strong>s construções, erguidas<br />

nos principais centros urbanos, ou mesmo<br />

naquelas <strong>de</strong> proporções menores em cida<strong>de</strong>s<br />

pequenas on<strong>de</strong> cada nova edificação <strong>é</strong> sinal<br />

<strong>de</strong> crescimento.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do tamanho da<br />

construção existem fatores que, invariavelmente,<br />

fazem parte do processo <strong>de</strong> qualquer<br />

obra <strong>de</strong> edifi ca ção. Entre eles estão os <strong>agregados</strong>,<br />

popular mente conhecidos como areia<br />

e brita. Utiliza dos em diversos segmentos<br />

<strong>é</strong> na construção civil que têm sua importância<br />

evi<strong>de</strong>nciada.<br />

“Agregado <strong>é</strong> todo e qualquer material granular<br />

encontrado na natureza ou proveniente<br />

<strong>de</strong> fragmentação mecânica promovida pelo<br />

homem. Po<strong>de</strong>m ser classifica dos quanto à<br />

origem do material, a massa unitária, o tipo<br />

<strong>de</strong> fragmentação e a granulometria. No<br />

entanto, a mais usa da <strong>é</strong> a que separa em duas<br />

classes: agregado graúdo que são pedra britada,<br />

casca lho natural, escórias britadas. E<br />

os <strong>agregados</strong> miúdos que são areia natural,<br />

areia <strong>de</strong> britagem, argila expandida, entre<br />

outros”, explica o presi<strong>de</strong>nte da As sociação<br />

Gaúcha dos Produtores <strong>de</strong> Brita, Areia e Saibro<br />

(Agabritas), Walter Riz zo.<br />

Os materiais mais consumidos na construção<br />

civil tamb<strong>é</strong>m são fundamentais em<br />

obras <strong>de</strong> infra-estrutura. “Os <strong>agregados</strong> são<br />

usados principalmente na composição <strong>de</strong><br />

concretos hidráulicos, concretos betuminosos,<br />

argamassas (para rejuntar tijolos ou pe -<br />

dras e no revestimento), lastros ferroviários<br />

e bases <strong>de</strong> rodovias, enrocamentos, drenos<br />

e em sistema <strong>de</strong> purificação <strong>de</strong> águas. Em<br />

concretos e nas argamassas, a função dos<br />

<strong>agregados</strong> <strong>é</strong> atuar como elemento inerte ou<br />

que não sofra transformação química”, <strong>de</strong>staca<br />

Rizzo. “Assim como outros minerais <strong>de</strong><br />

uso direto na construção civil, são tamb<strong>é</strong>m<br />

conhecidos por ‘bens minerais <strong>de</strong> uso social’,<br />

em função <strong>de</strong> sua importância para os setores<br />

<strong>de</strong> habitação, saneamento e transporte”,<br />

acrescenta o presi<strong>de</strong>nte da Agabritas.<br />

Para o secretário executivo da Associação<br />

Nacional <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Produtores <strong>de</strong><br />

Agregados para Construção Civil (Anepac),<br />

Fernando Valver<strong>de</strong>, <strong>é</strong> bastante viável a vincula<br />

ção da produção <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> com os <strong>de</strong> -<br />

mais itens consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>finidores da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida, como a alimentação (construção<br />

<strong>de</strong> silos e armaz<strong>é</strong>ns para os programas<br />

<strong>de</strong> abastecimen to), saú<strong>de</strong> (construção <strong>de</strong> sistemas<br />

<strong>de</strong> captação, adução, tratamento e distribuição<br />

<strong>de</strong> água), educação (edifícios e equipamentos<br />

escolares), transporte (rodovias,<br />

vias públicas, ferrovias, hidrovias, portos, ae -<br />

roportos, pátios e estações), sendo o seu consumo<br />

consi<strong>de</strong>rado um indicador do bemestar<br />

das populações, <strong>é</strong> bastante visível. “É<br />

impossí vel imaginar a nossa existência sem<br />

o confor to <strong>de</strong> uma casa para morar, <strong>de</strong> estradas<br />

pavimentadas, <strong>de</strong> escolas, hospitais, do<br />

lazer. E tudo isso <strong>é</strong> constituído em sua maioria<br />

<strong>de</strong> areia e brita. Os <strong>agregados</strong> são tamb<strong>é</strong>m,<br />

cada vez mais, importantes na proteção<br />

ambiental atrav<strong>é</strong>s da utilização no controle<br />

<strong>de</strong> erosões, purificação da água, substituição<br />

da ma <strong>de</strong>ira”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Valver<strong>de</strong>. Segundo<br />

estatísticas da União Europ<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> Produtores<br />

<strong>de</strong> Agregados, cada europeu requer du -<br />

Fernando Valver<strong>de</strong> apresenta alguns números da Fundação<br />

Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Econômicas da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (Fipe),<br />

em relação no Brasil à m<strong>é</strong>dia <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> no Brasil:<br />

• Na manutenção <strong>de</strong> vias municipais se consome menos <strong>de</strong> 100 t/km,<br />

enquanto as estradas <strong>de</strong>mandam cerca <strong>de</strong> 3.000 t/km.<br />

• Em uma obra-padrão <strong>de</strong> 1.120 m 2 para escolas <strong>é</strong> consumido cerca<br />

<strong>de</strong> 985 m 3 <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> ou 1.675 toneladas (FIBGE ).<br />

• Em pavimentação urbana, o consumo por metro quadrado varia <strong>de</strong> cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> para a <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>. A primeira<br />

consome 0,116 m 3 /m 2 , enquanto a segunda,<br />

0,326 m 3 /m 2 . Um quilômetro <strong>de</strong> uma via <strong>de</strong><br />

10 metros <strong>de</strong> largura consumiria, respectivamente,<br />

2.000 t e 3.250 t, aproximadamente.


Walter Rizzo, presi<strong>de</strong>nte da Agabritas<br />

ran te to da a vida, em m<strong>é</strong>dia, cerca <strong>de</strong> 511<br />

toneladas <strong>de</strong> <strong>agregados</strong>. Essa quantida<strong>de</strong><br />

<strong>é</strong> maior do que qualquer outro bem mineral.<br />

Nos Estados Unidos, a produção em<br />

2006 atingiu a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 3 bilhões <strong>de</strong> toneladas<br />

o que representa a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda<br />

a produção mineral norte-americana, ex -<br />

cluí dos os minerais energ<strong>é</strong>ticos.<br />

Consumo <strong>de</strong> <strong>agregados</strong><br />

De acordo com o presi<strong>de</strong>nte da Agabritas,<br />

o consumo per capita anual <strong>de</strong> <strong>agregados</strong><br />

<strong>é</strong> <strong>de</strong> 7,5 t/ano nos EUA e <strong>de</strong> 5 a 8<br />

t/habitante/ano nos países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

“Esses países industrializados, sa -<br />

bidamente, têm seus problemas <strong>de</strong> moradia<br />

e infra-estrutura resolvidos e mesmo<br />

assim continuam com elevados consumos<br />

per capita”, avalia. No Brasil o consu mo<br />

per capita anual <strong>é</strong> na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 2,3 toneladas<br />

anos. Para Walter Rizzo, os reflexos<br />

<strong>de</strong>ssa significativa diferença são facilmente<br />

verificado nos altos índices <strong>de</strong> favelamento<br />

e na carência <strong>de</strong> hospitais, escolas,<br />

estradas e obras <strong>de</strong> saneamento.<br />

O engenheiro <strong>de</strong> minas e professor<br />

da Ufrgs Enrique Munaretti complementa<br />

a informação. Segundo ele, o brasileiro<br />

consome anualmente 1,11 tonelada <strong>de</strong><br />

areia e 0,8 t <strong>de</strong> brita. “Nota-se que países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos utilizam gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>agregados</strong> e que a infra-estrutura<br />

<strong>de</strong> um país está diretamente relacionada<br />

com a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Esse índice<br />

AGABRiTAS<br />

po<strong>de</strong>ria ser facilmente utilizado como<br />

indicador <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano,<br />

ou mostrar o d<strong>é</strong>ficit <strong>de</strong> infra-estrutura.<br />

O baixo uso <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> está espelhado<br />

no d<strong>é</strong>ficit <strong>de</strong> 8 milhões <strong>de</strong> moradias no<br />

Brasil, na falta <strong>de</strong> estradas, portos, ferrovias,<br />

aeroportos”, <strong>de</strong>staca o engenheiro<br />

Munaretti. Salienta ainda que 94% <strong>de</strong> pa -<br />

vimento asfáltico <strong>é</strong> constituído <strong>de</strong> <strong>agregados</strong><br />

e 80% do concreto <strong>é</strong> constituí do <strong>de</strong><br />

<strong>agregados</strong>. “Um quilômetro <strong>de</strong> via f<strong>é</strong>rrea<br />

usa aproximadamente 10 mil toneladas<br />

<strong>de</strong> brita. Agregados são utiliza dos em prati<br />

camente qualquer obra, em fundações,<br />

pontes, pr<strong>é</strong>dios, calçamento, vigas, lajes<br />

pr<strong>é</strong>-moldadas, saneamento, dutos, drenos,<br />

aterros, barragens, túneis”, completa.<br />

O doutor em engenharia civil Bernardo<br />

Tutikian avalia que os percentuais <strong>de</strong><br />

utilização dos <strong>agregados</strong> (entre 70 e 85%<br />

da massa total) influenciam as proprieda<strong>de</strong>s<br />

do concreto no estado fresco e no<br />

estado endurecido, fator, segundo ele,<br />

<strong>de</strong>cisivo na economia e na dosagem. “No<br />

início do <strong>de</strong>senvolvimento do concreto,<br />

se atribuía um papel secundário aos <strong>agregados</strong>,<br />

por estes serem abundantes, baratos<br />

e <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>. Mas, com o incremento<br />

no uso do concreto, sua aplicação<br />

em larga escala logo colocou em evidência<br />

o seu verda<strong>de</strong>iro papel e <strong>de</strong>u aos <strong>agregados</strong><br />

sua real importância t<strong>é</strong>cnica, econômica<br />

e social”, avalia o engenheiro.<br />

“Agregados <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, conferem<br />

resistência e durabilida<strong>de</strong> aos concretos.<br />

Em todos esses segmentos da construção<br />

civil, são praticamente indispensáveis, na<br />

medida que são consumidos em gran<strong>de</strong>s<br />

volumes e não há materiais substitutivos<br />

com valores economicamente viáveis”,<br />

complementa Walter Rizzo.<br />

Uso <strong>de</strong> material ina<strong>de</strong>quado<br />

A segurança e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

obra está intimamente ligada à qualida<strong>de</strong><br />

e as características t<strong>é</strong>cnicas do concreto<br />

utilizado. Agregados com baixas especificações<br />

físicas e químicas po<strong>de</strong>m reduzir<br />

a resistência do concreto e sua durabili-<br />

CONSELHO em revista | nº 38<br />

Planta <strong>de</strong> preparação <strong>de</strong> concreto da Starmix<br />

Concretagem<br />

da<strong>de</strong>. Boa resistência física, forma <strong>de</strong> grãos<br />

e distribuição granulom<strong>é</strong>tricos a<strong>de</strong>quada,<br />

livres <strong>de</strong> impurezas, são algumas das<br />

características dos <strong>agregados</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

“O uso <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> com baixas<br />

especificações físicas po<strong>de</strong> provocar a<br />

<strong>de</strong>terioração do concreto <strong>de</strong> imediato ou<br />

em curto pra zo, al<strong>é</strong>m <strong>de</strong> influenciar no<br />

custo final da obra pois, utilizados em<br />

proporções ina<strong>de</strong>quadas, po<strong>de</strong>m aumentar<br />

o consumo <strong>de</strong> cimento”, adverte o<br />

presi<strong>de</strong>nte da Agabritas. A perda <strong>de</strong> resistência<br />

mecânica, a alta ductibilida<strong>de</strong><br />

(<strong>de</strong>forma at<strong>é</strong> romper), pouca resistência<br />

à fadiga (capacida <strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar inúmeros<br />

ciclos sem romper) e coeficiente <strong>de</strong><br />

dilatação do agrega do muito diferente<br />

do da matriz (trincas), são alguns dos fatores<br />

<strong>de</strong>stacados pelo eng. Enrique Munaretti<br />

quando o material utilizado não <strong>é</strong><br />

a<strong>de</strong>quado.<br />

No entanto, os crit<strong>é</strong>rios <strong>de</strong> aceitação<br />

po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> acordo com a utilização<br />

específica. “Uma dada proprieda<strong>de</strong> que<br />

seja relevante para o uso <strong>de</strong> um agregado<br />

como componente <strong>de</strong> um concreto po<strong>de</strong><br />

não ser relevante para aplicação como<br />

Nos dias 8 e 9 <strong>de</strong> novembro Porto Alegre sediará o I Fó rum Nacional<br />

da <strong>Mineração</strong> <strong>de</strong> Agregados e Sustentabilida<strong>de</strong>.<br />

O evento <strong>é</strong> li<strong>de</strong>rado pela Associação Gaúcha dos Produtores <strong>de</strong><br />

Brita, Areia e Saibro (Agabritas), tem o apoio do <strong>CREA</strong>-<strong>RS</strong>,<br />

e objetiva promover o <strong>de</strong>bate entre mineradores, órgãos<br />

públicos e socieda<strong>de</strong> em busca do aperfeiçoamento<br />

dos instrumentos <strong>de</strong> fomento, fiscalização<br />

e as t<strong>é</strong>cnicas <strong>de</strong> mineração com base no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável. Mais<br />

informações estão disponíveis no<br />

www.agabritas.com.br/<br />

forummineracao<br />

ADRiANO BECkER<br />

www.crea-rs.org.br<br />

ADRiANO BECkER<br />

áREA TÉCNICA - MATÉRIAS<br />

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CONSELHO em revista | nº 38<br />

ADRiANO BECkER<br />

www.crea-rs.org.br<br />

ba se rodoviária. Mas consi<strong>de</strong>rando a utili zação<br />

para concreto, as características mais importantes<br />

são: composição granulom<strong>é</strong>trica, forma e textura<br />

superficial, resistência mecânica, absorção<br />

e umida<strong>de</strong> superficial e isenção <strong>de</strong> substâncias<br />

nocivas”, corrobora o eng. Bernardo Tu tikian.<br />

Sa lienta ainda que a utilização ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong><br />

agrega dos provoca a perda <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

proprieda<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser verificadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pequenas alterações na resistência à compressão<br />

at<strong>é</strong> o comprometimento <strong>de</strong> obras inteiras, como<br />

ocorre ram em inúmeras barragens no mundo<br />

in tei ro.<br />

Quem controla a qualida<strong>de</strong><br />

Apesar da importância da qualida<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnica<br />

dos <strong>agregados</strong> seja para construção civil, seja<br />

obras <strong>de</strong> infra-estrutura, não existe nenhum órgão<br />

es pe cífico responsável por este controle. “A maioria<br />

das empresas <strong>de</strong> mixagem <strong>de</strong> concreto rígido<br />

tem controle interno como forma <strong>de</strong> garantir a<br />

qualida<strong>de</strong> ofertada. Em obras governamentais<br />

normalmente os próprios órgãos são responsáveis<br />

pelo controle das obras”, <strong>de</strong>staca o presi<strong>de</strong>nte<br />

da Agabritas.<br />

O engenheiro civil Bernardo Tutikian ressalta<br />

que mesmo que seja rígido o controle por parte<br />

do fornecedor <strong>é</strong> fundamental a realização <strong>de</strong><br />

en saios corriqueiros com o objetivo <strong>de</strong> verificar<br />

se as condições iniciais estão sendo mantidas.<br />

“A escolha do fornecedor <strong>de</strong>ve levar em conta,<br />

al<strong>é</strong>m do aspecto financeiro, que o agregado atenda<br />

aos requisitos mínimos da NBR 7211/04. Deve-se<br />

lembrar que esta norma <strong>é</strong> flexível, tolerando <strong>agregados</strong><br />

que, embora eventualmente não atendam<br />

a certos requisitos específicos, tenham <strong>de</strong>monstrado<br />

viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso em ensaios <strong>de</strong> laboratório<br />

criteriosos e confiáveis, com a participação<br />

<strong>de</strong> profissional especializado em tecnologia <strong>de</strong><br />

concreto. Os ensaios mais importantes que <strong>de</strong>vem<br />

ser realizados constantemente são os <strong>de</strong> módulo<br />

<strong>de</strong> finura, análise granulom<strong>é</strong>trica e material pulverulento<br />

presente”, avalia.<br />

As características para produção, uso e extração<br />

são regulamentadas por diversas normas da<br />

ABNT. “No que tange a extração, o principal conjunto<br />

<strong>de</strong> normas seguidas <strong>é</strong> o Código <strong>de</strong> <strong>Mineração</strong><br />

e le gislação correlata. Quanto aos usos<br />

existem cen tenas <strong>de</strong> normas editadas pelas principais<br />

en ti da <strong>de</strong>s normalizadoras internacionais.<br />

Somente a ABNT possui mais <strong>de</strong> 70 normas relacionadas<br />

aos <strong>agregados</strong> e que versam sobre procedimentos,<br />

proprieda<strong>de</strong>s geológicas, físicas,<br />

mecânicas e químicas, entre outras questões”,<br />

informa Walter Rizzo. A dimensão máxima característica<br />

e o módulo <strong>de</strong> fina, a limitação <strong>de</strong> substâncias<br />

nocivas, a resistência à compressão, a<br />

abrasão, enfim são inúmeras as características<br />

t<strong>é</strong>cnicas que <strong>de</strong>vem se enquadrar a areia e a brita<br />

utilizadas para di versos fins.<br />

Alternativa <strong>de</strong> <strong>agregados</strong><br />

Na preparação do concreto e da argamassa<br />

os <strong>agregados</strong> naturais (areia e brita) po<strong>de</strong>m ser<br />

substituídos por resíduos industriais como escórias,<br />

reciclagem <strong>de</strong> materiais da construção civil,<br />

etc. “Em geral com aumento <strong>de</strong> preços e redução<br />

da qualida<strong>de</strong>, sem contar na ausência <strong>de</strong><br />

Professor e eng. <strong>de</strong> minas Enrique Munaretti<br />

volumes suficientes para suprir a <strong>de</strong>manda”,<br />

avalia o presi<strong>de</strong>nte da Agabritas.<br />

Para Bernardo Tutikian os materiais que<br />

po<strong>de</strong>m substituir a areia e a brita na construção<br />

civil são os <strong>agregados</strong> artificiais, como a argila<br />

expandida ou a vermiculita e os reciclados. “O<br />

agregado reciclado vem apresentando um uso<br />

crescente nos últimos anos, resultando em economias<br />

<strong>de</strong> material e <strong>de</strong> energia. Nor malmente<br />

se utiliza um entulho resultante <strong>de</strong> <strong>de</strong>molição.<br />

Após a separação <strong>de</strong> elementos que não interessam<br />

na composição do agregado, como gesso,<br />

ma<strong>de</strong>ira, material orgânico, aço, entre outros, se<br />

tritura nas granulometrias <strong>de</strong>sejadas e se reutiliza.<br />

Depen<strong>de</strong>ndo da qualida<strong>de</strong> do entulho,<br />

po<strong>de</strong>m ser necessárias a lavagem do agregado<br />

reciclado e, at<strong>é</strong> mesmo, a remoção <strong>de</strong> ma terial<br />

pulverulento. Este tipo <strong>de</strong> material tem sido<br />

usado, com vantagens, em subbases, concretos<br />

magros, solo-cimento, pavimentação e em concretos<br />

novos, com substituição parcial ou at<strong>é</strong> total<br />

dos <strong>agregados</strong> usuais”, pon<strong>de</strong>ra Tutikian.<br />

Extração X sustentabilida<strong>de</strong><br />

O engenheiro Enrique Munaretti explica que<br />

os locais <strong>de</strong> extração são <strong>de</strong>finidos por um engenheiro<br />

<strong>de</strong> minas ou geólogo por meio <strong>de</strong> estudos<br />

específicos chamados <strong>de</strong> “Pesquisa Mineral”.<br />

“O agregado <strong>de</strong>ve apresentar as características<br />

a<strong>de</strong>quadas, ter volume suficiente para suprir<br />

a região por pelo menos 20 anos, licenciamento<br />

ambiental e proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> centro urbano. Cabe<br />

ressaltar que, caso não exista Plano Diretor no<br />

mu nicípio, a cida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> “engolir” a jazida ao<br />

longo dos anos, <strong>de</strong>vendo a municipalida<strong>de</strong> planejar<br />

estrategicamente on<strong>de</strong> estará situada a re -<br />

gião <strong>de</strong> exploração e fornecimento <strong>de</strong> ma terial<br />

para o crescimento da cida<strong>de</strong> sem que isso interfira<br />

no bem-estar da popula ção. Esse aspecto<br />

sempre foi esquecido e hoje temos problemas<br />

graves <strong>de</strong> imagem negativa do setor”, explica<br />

Enrique.<br />

Em m<strong>é</strong>dia, os <strong>agregados</strong> respon<strong>de</strong>m por 85% do volume<br />

do concreto<br />

ADRiANO BECkER<br />

ADRiANO BECkER


Para o presi<strong>de</strong>nte da Agabritas, a areia<br />

e a brita , como a maioria dos bens minerais,<br />

apresentam carência <strong>de</strong> alternativas<br />

<strong>de</strong> locais para implantação <strong>de</strong> projetos,<br />

ten do em vista a <strong>de</strong>nominada rigi<strong>de</strong>z lo -<br />

cacional, que obriga o exercício da ativida<strong>de</strong><br />

somente nos locais on<strong>de</strong> a natureza<br />

dis ponibiliza jazidas. “Nos últimos anos<br />

as restrições ambientais aumentaram <strong>de</strong><br />

for ma vertiginosa a rigi<strong>de</strong>z locacional das<br />

ja zidas.” Ele informa ainda que no <strong>RS</strong> as<br />

jazidas responsáveis pela produção <strong>de</strong><br />

brita estão situadas próximas nos próprios<br />

municípios consumidores. “O abastecimento<br />

da região metropolitana <strong>é</strong> feito<br />

por minas (pedreiras) <strong>de</strong> Porto Alegre,<br />

Gravataí, Eldorado, Montenegro, Portão,<br />

Estância Velha, entre ou tras.” Já as minas<br />

<strong>de</strong> areia (areieiras), responsáveis pela <strong>de</strong> -<br />

manda da região metropolitana <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre e Serra, estão si tuados nos leitos<br />

dos rios Jacuí, Caí e Si nos.<br />

A adoção <strong>de</strong> conceitos mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong><br />

preservação ambiental e responsabilida<strong>de</strong><br />

social <strong>é</strong> apontada pelo geólogo Ivam Luís<br />

Zanette como uma eficiente ferramenta<br />

para mudar a imagem das mineradoras,<br />

vista, na maioria das vezes, como ativida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto ambiental.<br />

A falta <strong>de</strong> uma orientação especializada<br />

<strong>é</strong> apontada como um dos fatores<br />

que contribuem para esta situação. “Existe<br />

um problema principalmente para o<br />

Os <strong>agregados</strong> são largamente utilizados na<br />

construção civil<br />

pequeno empreen<strong>de</strong>dor do setor <strong>de</strong> areia<br />

que está <strong>de</strong>sassistido e tem dificulda<strong>de</strong><br />

em cumprir a legislação ambiental. Al<strong>é</strong>m<br />

disso, poucos profissionais estão dispostos<br />

a assumirem a responsabilida<strong>de</strong> t<strong>é</strong>cnica<br />

perante <strong>CREA</strong>-<strong>RS</strong>. O Departamento<br />

Nacional <strong>de</strong> Produção Mineral (DNPM)<br />

e a Fepam não falam a mesma língua dos<br />

empreen<strong>de</strong>dores. Tamb<strong>é</strong>m não existem<br />

crit<strong>é</strong>rios claros <strong>de</strong> fiscalização ambiental<br />

no trato entre gran<strong>de</strong> e pequeno produtores.<br />

Obviamente que os gran<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />

contratar t<strong>é</strong>cnicos, já o pequeno produtor<br />

<strong>de</strong> areia, por exemplo, vê o setor como<br />

burocrático e, por falta absoluta <strong>de</strong> infor-<br />

ADRiANO BECkER<br />

CONSELHO em revista | nº 38<br />

mação e <strong>de</strong> auxílio qualificado, acaba permanecendo<br />

na clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>”, argumenta<br />

Enrique Munaretti.<br />

“Minas planejadas com projetos <strong>de</strong><br />

controle ambiental propiciam a adoção<br />

<strong>de</strong> medidas ambientais contínuas e possibilitam<br />

que a recuperação do ambiente<br />

<strong>de</strong>gradado aconteça em todas as etapas.<br />

Des<strong>de</strong> a pesquisa at<strong>é</strong> o encerramento da<br />

cava”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o geólogo Ivam Zanette.<br />

Segundo ele, o próprio segmento empresarial<br />

já não admite mais cavas abandonadas<br />

sem medidas <strong>de</strong> recuperação. “A<br />

mineração <strong>de</strong> <strong>agregados</strong> <strong>é</strong> uma ativida<strong>de</strong><br />

que fornece insumos imprescindíveis e<br />

insubstituíveis. Nenhuma socieda<strong>de</strong> mo -<br />

<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>senvolvida conseguiu a fórmula<br />

<strong>de</strong> sobreviver sem <strong>agregados</strong>. A existência<br />

<strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> <strong>é</strong> imperativa e cabe<br />

aos planejadores estabelecer os locais e<br />

as formas que elas se <strong>de</strong>senvolvem com<br />

maior sustentabilida<strong>de</strong>”, pon<strong>de</strong>ra Zanette.<br />

O geólogo complementa ainda que as<br />

obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>spoluição <strong>de</strong> recursos hídricos,<br />

por exemplo, só são possíveis com<br />

lar ga utilização <strong>de</strong> <strong>agregados</strong>. “Exemplo<br />

disto <strong>é</strong> o projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>spoluição do Guaíba,<br />

que <strong>de</strong>mandará enormes quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>agregados</strong> para construção <strong>de</strong> sistemas<br />

<strong>de</strong> separação, condução e purificação<br />

<strong>de</strong> esgotos cloacais, hoje, sem dúvida<br />

alguma, os principais poluentes <strong>de</strong> nossas<br />

águas superficiais”, finaliza.<br />

www.crea-rs.org.br<br />

áREA TÉCNICA - MATÉRIAS<br />

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