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_ Gorongosa Role Models brochure 2022

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© Jen Guyton @Jenguyton<br />

www.gorongosa.org<br />

Mulheres Modelo da <strong>Gorongosa</strong><br />

GORONGOSA ELEPHANT<br />

ECOLOGY PROJECT


“Aqueles de nós que tiveram o privilégio de receber educação,<br />

habilidades e experiências e até mesmo poder devem ser modelos para<br />

a próxima geração de liderança.”<br />

Wangari Maathai<br />

<strong>Gorongosa</strong><br />

© James Byrne<br />

2 3


Introdução<br />

Esta brochura chamada Mulheres Modelo do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> traz mulheres que trabalham no Parque Nacional da<br />

<strong>Gorongosa</strong> para os Clubes das Raparigas onde partilham suas histórias, inspiraram as raparigas e põem as raparigas em contato<br />

com as mulheres modelos com quem elas podem se conectar.<br />

Cada mulher modelo é uma mulher que trabalha nos diferentes sectores do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>: As modelos<br />

compartilham suas estórias, os desafios que enfrentaram e o seu trabalho para a conservação da biodiversidade. Conhecer essas<br />

mulheres inspira as raparigas dos clubes a verem pelo exemplo, os diferentes caminhos que podem seguir em seu futuro e, com<br />

sorte, se tornarem guardiãs dos ecossistemas que compartilham com o Parque e se envolverem em áreas relacionadas à ciência e<br />

ao meio ambiente.<br />

Para as raparigas dos Clubes das Raparigas do Parque, espero que um dos maiores impactos seja nos sonhos que cada rapariga<br />

realizará um dia - para as próprias raparigas, para suas comunidades, e para o meio ambiente. Para as mulheres modelos, essas<br />

mulheres corajosas e pioneiras espero que tenham seu perfil elevado nas comunidades donde muitas delas são, no Parque e em<br />

nosso país e dar-lhes-ão o reconhecimento e a força para continuar seu trabalho.<br />

Nas comunidades locais, o nosso trabalho já mudou muitas noções preconcebidas sobre o tipo de trabalho que as mulheres<br />

podem ou não fazer. Acreditamos que educar raparigas é uma das maiores forças para mudança positiva no mundo hoje.<br />

Conseguimos uma educação mesmo com muitas dificuldades e hoje contribuímos para a conservação e desenvolvimento humano<br />

graças à nossa educação.<br />

Dominique<br />

Contents<br />

Comunicação 8<br />

Janado - Jornalista 9<br />

Operações 10<br />

Ercila - Administrativa 11<br />

Desenvolvimento Humano 12<br />

Fatima - Administrativa 13<br />

Anastacia - Governanta 14<br />

Vilma / Sílvia / Olga - Programa Clube de Raparigas 15<br />

Conservação 16<br />

Mercia - Veterinária e Analista de Dados 17<br />

Antonia / Maria - Fiscal de Fauna Bravia 18<br />

Antonia - Apicultora (Programa de Coexistência Seres Humanos - Fauna Bravia) 21<br />

Desenvolvimento Sustentável 22<br />

Albertina - Gestora Ambiental 23<br />

Vaida - Produtora de caféo 24<br />

Dadiva - Guia de Turismo 25<br />

Gabriela - Guia de Turismo 27<br />

Isilda - Supervisorade programa piscicultura 28<br />

Winnie - Gestorade Empreendedorismo Social 29<br />

Florinda - Artesã 30<br />

Ciências 32<br />

Margarida - Técnica de Sistema de Informação Geográfica e Base de dados 33<br />

Norina - Cientista-Entomóloga 34<br />

Dominique - Ecologista 35<br />

Diolinda - Ecologista 37<br />

Como conseguir um emprego dos sonhos<br />

Parceiros<br />

38<br />

40<br />

4 5


© Elizabeth Shrier, Wild Elements


Janado Nazaré Lubrino Cher<br />

COMUNICAÇÃO<br />

Olá! Eu quero compartilhar a minha história com cada uma de vocês e espero que<br />

gostem e que possam contar para as vossas amigas lá no bairro onde vivem. Eu sou a<br />

Janado Nazaré Lubrino Cher, tenho 27 anos de idade e sou da cidade do Dondo.<br />

Trabalho no Parque Nacional de <strong>Gorongosa</strong> como Jornalista, desde 2018, falo de 4<br />

anos de experiência e mesmo assim, procuro sempre aprender com os meus colegas<br />

de trabalho, para poder melhorar a minha carreira profissional.<br />

Enquanto criança eu gostava de assistir diversos programas de televisão e naquela<br />

altura eu me inspirava nos jornalistas que apresentavam o telejornal, com destaque<br />

para a “Emília Machel”, que trabalhou para a Televisão de Moçambique.<br />

Nas minhas brincadeiras, juntava os meus amigos e fazíamos simulações de<br />

apresentação de telejornal e também de pequenas reportagens. Foi assim que<br />

comecei a sonhar em ser uma jornalista e felizmente consegui realizar o meu sonho.<br />

Enquanto frequentava o ensino secundário tive a oportunidade de participar em<br />

alguns programas de rádio e isso ajudou-me bastante, fui conhecendo muitos<br />

profissionais de comunicação, com eles aprendi a escrever os textos jornalísticos.<br />

Com ajuda dos diversos meios de comunicação<br />

social, divulgamos as actividades realizadas pelo<br />

Parque através dos diferentes sectores. O meu<br />

trabalho exige muita atenção, flexibilidade e sempre<br />

buscar notícias actuais.<br />

Eu quero dizer para vocês que, um trabalho feito<br />

com amor não é assim tão complicado, apenas é<br />

necessário compreender tudo o que gira em sua<br />

volta. Segue o teu sonho sem duvidar, olha para<br />

ti e perceberás que podes fazer diferença para o<br />

futuro e inspirar as futuras gerações.<br />

Fiz a minha licenciatura em jornalismo e depois disso tive a oportunidade de me juntar<br />

a equipa de trabalho do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>. Eu escrevo notícias,<br />

reportagens e histórias sobre o Parque e as pessoas que vivem nas comunidade em<br />

volta do Parque.<br />

© Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

JORNALISTA<br />

8 9


Ercila Neves dos Santos<br />

OPERAÇÕES<br />

Olá! Chamo-me Ercila Neves dos Santos, nasci na cidade da Beira, aos 27 de Março<br />

de 1993. Passei o momento da minha infância na Beira, fiz da 1ª à 4ª classe na Escola<br />

João XXIII e da 5ª à 7ª classe passei pela Escola Primária Completa Agostinho Neto e fui<br />

concluir da 8ª à 12ª classe na Escola Secundária Nossa Senhora de Fátima.<br />

Lembro-me que, enquanto estudava tive a oportunidade de ser formada, em matérias<br />

de HIV/Sida, promovida pela organização OASIS e fiz o curso de curta duração, em<br />

Gestão de Empresas pelo Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional<br />

Quando terminei a minha 12ª Classe, fui me formar em Contabilidade e Auditoria no<br />

Instituto Superior Alberto Chipande na Beira, na mesma altura em que frequentava os<br />

cursos de curta duração em Inglês, Atendimento ao Cliente e Informática.<br />

© Charlie Hamilton James<br />

Quando terminei o ensino superior, estagiei e trabalhei como assistente administrativa<br />

numa consultoria, depois de um tempo fui trabalhar num restaurante como Escrituráriaadministrativa<br />

e Chefe de armazém. Os dias iam passando, até que num belo dia<br />

apercebi-me de uma vaga na Visabeira uma empresa que prestava serviços hoteleiros<br />

no Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>. Naquela altura queriam uma recepcionista, fui<br />

apurada e comecei com as actividades.<br />

No decorrer do trabalho viajei para Maputo, para uma troca de experiência, onde<br />

fiquei cerca de 3 meses e no meu regresso a empresa fechou por causa da Covid-19,<br />

fiquei sem trabalho mas a minha sorte não tardou até que recebi uma proposta, para<br />

trabalhar com o Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> e em 2020 assinei o meu contrato.<br />

Tenho estado a atender e apoiar pessoas de diferentes departamentos e por vezes não<br />

tem sido fácil principalmente quando se trabalha com dinheiro. O meu trabalho<br />

é bom, mas exige muita dedicação, atenção, paciência e acima de tudo honestidade.<br />

Ser uma administrativa, é saber organizar o portfólio de trabalho, saber a<br />

correspondência dos documentos, dar suporte em todas as áreas como por<br />

ADMINISTRATIVA<br />

exemplo Gestão de fundo de maneio, Logística,<br />

Recursos Humanos, Transporte, Combustível e muito<br />

mais. Actualmente existem muitas mulheres nestas<br />

áreas e apenas é necessário ser dinâmica, comunicativa<br />

e saber gerir o tempo.<br />

As raparigas devem estudar para<br />

garantir um futuro melhor, aprender<br />

a superar os obstáculos e lutar para<br />

se tornarem líderes na tomada de<br />

decisão.<br />

Apesar de eu estar a trabalhar, faço aulas à distância<br />

em Administração, pois pretendo melhorar a minha<br />

carreira profissional e no futuro fazer crescer a minha<br />

família.<br />

10 11


Fátima Maria Guilherme Dionisio Chale<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

HUMANO<br />

Olá! Eu tive uma infância muito linda e tenho saudades dela, brinquei como muitas<br />

raparigas, jogava a Neca, Araule, Jogo 35, dançava a Chibotela e mais incrível fazíamos<br />

competições em bairros. Eu sou a Fátima Maria Guilherme Dionisio Chale, natural da<br />

Beira, província de Sofala, lembro-me enquanto criança, ajudava os meus pais nas<br />

actividades de casa, ia para a igreja, estudava e apenas viajava quando<br />

estivesse de férias.<br />

© Janado Nazare Cher<br />

Eu fiz da 1ª à 7ªclasse, o ensino geral e depois fui fazer o Ensino Técnico e Profissional<br />

na Escola Industrial e Comercial 25 de Junho na cidade da Beira, formei-me como<br />

contabilista e regressei outra vez para o ensino geral, a fim de completar a 12ª classe.<br />

Quando terminei tive muita motivação para fazer o ensino superior, pois eu queria<br />

tanto ajudar os meus pais.<br />

Infelizmente bem antes de realizar o meu sonho, perdi os meus pais e eles eram os<br />

únicos que poderiam apoiar os meus estudos, fiquei triste e por causa disso comecei a<br />

procurar trabalho. Naquela altura consegui trabalho numa papelaria e em 2010<br />

concorri outra vez para fazer o ensino superior e para a minha sorte consegui passar<br />

em 2 universidades e 1 instituto, falo da Universidade Eduardo Mondlane, Universidade<br />

Pedagógica e Instituto de Formação de Professores de Inhamizua.<br />

Eu tive que fazer uma escolha e decidi formar-me em Arqueologia e Gestão de<br />

Património Cultural pela Universidade Eduardo Mondlane em Maputo e quando lá<br />

cheguei, não me faltou a vontade de voltar para Beira, porque não tinha ninguém para<br />

me ajudar e não tinha condições para estudar, claro desistir não seria a solução, fui<br />

persistente e consegui fazer a minha licenciatura. Depois disso fiz a pós-graduação em<br />

Metodologia de Ensino na Universidade Pedagógica de Maputo.<br />

Hoje tenho 33 anos de idade e lembro-me que tive a minha primeira filha aos 27 anos<br />

de idade, depois que terminei de estudar. Enquanto procurava emprego fui fazendo<br />

estágios e num belo dia estava a ler um jornal e vi escrito um concurso de emprego<br />

do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, queriam uma técnica para o Clube da Rapariga e<br />

felizmente eu tive a sorte de ser apurada.<br />

Comecei a trabalhar em 2018, trabalho com raparigas das diferentes escolas<br />

localizadas nas Zonas de Desenvolvimento Sustentável do Parque, com idades que<br />

variam de 10 a 16 anos e também trabalho com as bolseiras que vêm dessas<br />

comunidades. As raparigas são o maior número de pessoas que desistem a escola<br />

para se casar.<br />

Para realizar a minha actividade, conto com o apoio dos promotores, que dão<br />

sessões para a melhoria das habilidades de leitura, escrita, numeracia e muito mais<br />

e também tenho apoio das madrinhas que sensibilizam os pais das raparigas a<br />

deixarem suas filhas estudarem.<br />

Eu digo que as dificuldades, não podem impedir com que um<br />

sonho seja realizado, se você tem um sonho é só acreditar<br />

que é possível realizar. Quando registamos os casos de união<br />

prematura são difíceis de gerir e em muitos casos<br />

acabamos não tendo sucesso.<br />

Quero continuar a estudar, fazer outra licenciatura e melhorar a minha carreira<br />

profissional, bem como continuar a apoiar as raparigas na concretização dos seus<br />

sonhos.<br />

SUPERVISORADISTRITAL DO PROGRAMA EDUCAÇÃO PARA A RAPARIGA<br />

12 13


Anastância Pita Cadeado<br />

Olá!<br />

Eu Chamo-me Anastância Pita<br />

Cadeado, trabalho como Governanta<br />

no Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, irei<br />

contar-vos a minha história, mas antes<br />

quero dizer a cada uma de vocês: É preciso<br />

ser persistente para conseguir alcançar os seus<br />

objectivos e é necessário valorizar cada<br />

oportunidade que a vida oferece.<br />

Eu nasci na Vila da <strong>Gorongosa</strong>, aos 10 de Maio de 1988 e cresci numa comunidade<br />

próxima do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, chamada Mucombezi, lá estudei da 1ª à 5ª<br />

classe, até que os meus pais mudaram-se para o distrito de Nhamatanda, onde continuei<br />

com os meus estudos. Depois de um tempo, viajei para o distrito de Dondo a fim de<br />

completar a 12ª classe.<br />

Passei por toda essa trajectória porque eu tinha um sonho para realizar. Enquanto<br />

estudava, tive a oportunidade de trabalhar e participar em varias formações,<br />

fuiformada pela Cruz Vermelha de Moçambique em primeiros socorros e trabalhei para<br />

a Organização Fundação Contra Fome.<br />

Num belo dia, decidi visitar o meu irmão que vivia na comunidade de Nhambita, ele<br />

falou-me que o Director do Centro de Educação Comunitária do Parque Nacional da<br />

<strong>Gorongosa</strong> precisava de alguém, para ajudar nas tarefas de casa, daí que ele sugeriu o<br />

meu nome... e porque eu havia terminado o meu ensino médio aceitei e assim comecei<br />

a trabalhar.<br />

Tempo depois, o Parque lançou um concurso de emprego para governantas, concorri e<br />

fui apurada. Em 2011 assinei o meu contrato, comecei a trabalhar. Eu organizo<br />

alojamentos para os nossos visitantes e trabalho em conexão com os colegas da<br />

lavandaria, escritórios, casas de trabalhadores e juntos cuidamos da limpeza, para<br />

tornar o nosso centro limpo e saudável de forma a garantir o bem estar dos nossos<br />

visitantes.<br />

Todas as semanas, recebemos pessoas que vem dos diferentes pontos dos distritos que<br />

fazem limite com o Parque, falo por exemplo de membros das comunidades, professores<br />

e alunos, estagiários e muito mais. Para mim, é um grande privilégio receber as pessoas<br />

e ajudar a conhecer o nosso trabalho e como também aprendemos com elas.<br />

Sílvia<br />

Vilma<br />

Vilma<br />

Vilma Mugwagwa<br />

Sílvia Dywili<br />

Olga Bolseira<br />

Sylvya<br />

Olga<br />

Pretendo continuar a trabalhar e quem sabe um dia continuar com os meus estudos<br />

fora do país, espero ser um espelho para as raparigas e que elas consigam realizar os<br />

seus sonhos e que no futuro saibam tomar as suas próprias decisões. Espero que uma<br />

de vocês,<br />

GOVERNANTA<br />

possa formar-se em serviços de hotelaria e ser como eu.<br />

SUPERVISORA E<br />

GESTORA DO CLUBE DE<br />

RAPARIGAS<br />

14 15


Mércia Ângela<br />

Olá! Eu sou Mércia Ângela, sou natural de Maputo e fui formada como veterinária<br />

pela Universidade Eduardo Mondlane.<br />

CONSERVAÇÃO<br />

Para mim ser mulher veterinária é um privilegio, é uma profissão muito especial e com<br />

grandes desafios, principalmente quando se está a trabalhar numa área de<br />

conservação. Em Moçambique a maior parte das pessoas, abraçam áreas da veterinária<br />

relacionadas com animais domésticos e muitas das vezes são as pessoas que nos<br />

procuram para cuidar dos seus animais.<br />

© Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

Aqui no Parque é diferente nós é que procuramos pelos animais e cuidamos deles<br />

quando estão doentes ou feridos pelas armadilhas. Sinto-me feliz em fazer parte da<br />

equipa dos veterinários da <strong>Gorongosa</strong> e por ser uma das primeiras mulheres a trabalhar<br />

como veterinária de fauna bravia aqui no país.<br />

Eu comecei a exercer as minhas actividades em 2018 como estagiária, no Departamento<br />

de Conservação do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> e pouco tempo depois assinei um<br />

contrato. Hoje posso falar de 3 anos de trabalho de muita dedicação e durante esse<br />

tempo aprendi muito sobre a fauna bravia da <strong>Gorongosa</strong> e como ajudar os animais<br />

quando são feridos pelas armadilhas, colocadas pelos furtivos.<br />

Algo maravilhoso me aconteceu, de tanto conhecer os animais, passei a ter uma paixão<br />

pelos pangolins, isto porque eles são vítimas da caça furtiva e estão na lista de animais<br />

em via de extinção e para não perdermos esse tesouro eu e os meus colegas fiscais,<br />

temos estado a resgatar vários pangolins das mãos dos furtivos, cuidamos deles na<br />

nossa sala de reabilitação e depois devolvemos ao seu habitat natural.<br />

Sei que é difícil lidar com animais selvagens, poder cuidar de um leão por exemplo,<br />

mas eu faço esse trabalho com muito amor, colocar neles as coleiras e assim<br />

protegê-los também, evitando que eles fiquem sem as suas patinhas.<br />

A caça furtiva tem sido sempre um dos grandes desafios, pois é triste conservar e os<br />

VETERINÁRIA<br />

E ANALISTA DE DADOS<br />

outros matarem. Espero que no futuro possamos ter<br />

muitos conservacionistas, principalmente jovens<br />

engajados na conservação e a formarem-se como<br />

veterinários. Gostaria também de aplicar o meu<br />

conhecimento com as futuras gerações, receber<br />

estagiários no meu sector, com destaque para as<br />

raparigas e que elas perdessem o medo de<br />

trabalhar numa área selvagem, pois ela nos<br />

reserva grandes e boas surpresas.<br />

“Espero que cada rapariga<br />

de Moçambique, siga os<br />

seus sonhos com muita<br />

dedicação nos estudos<br />

e que consiga tomar<br />

suas próprias decisões.”<br />

16 17


Maria<br />

Antonia Albano Fiscal<br />

Maria Faife<br />

Antonia<br />

Olá! Ser uma mulher fiscal não é fácil, mas não é impossível. Passei por muitas<br />

fases durante o treinamento. Fizemos muitos treinos de força física e resistência como<br />

flexões, fortalecimento abdominal, saltos, corridas, carregar cargas pesadas e muitos<br />

outros. Tive o prazer de estar no grupo de treinamento e orgulho de estar lá porque<br />

queria me tornar uma fiscal.<br />

Uma mulher que quer trabalhar no mato deve ser corajosa. Enquanto fiscais,<br />

patrulhamos durante 21 dias no campo e temos que enfrentar muitos desafios.<br />

Podemos enfrentar caçadores furtivos, o que pode ser perigoso, procuramos e<br />

recolhemos armadilhas, registamos avistamentos de animais selvagens. Patrulhar<br />

exige bravura. As mulheres tendem a ficar com medo quando ouvem falar dessas<br />

actividades quando comparadas com ser polícia ou enfermeira. Nós, fiscais, não<br />

ligamos a isso, somos corajosas e amamos o que fazemos. Acreditamos que podemos<br />

fazer todos os trabalhos necessários para ser fiscais e podemos fazer todos os trabalhos<br />

que os homens fazem. A comunidade respeita o que fazemos e admira-nos. Eles<br />

respeitam o uniforme e a disciplina que mostramos quando vamos trabalhar e muitos<br />

gostariam de se juntar a nós como fiscais.<br />

Antonia<br />

FAUNA BRAVIA<br />

Murrombodzi girls club visiting the Park.<br />

© Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

FISCALDE<br />

18<br />

19


Antonia Mussa<br />

Olá! Apicultura é a arte de trabalhar com colônias dum dos animais mais<br />

importantes para o bem estar do ambiente, as abelhas. As abelhas produzem o mel<br />

que é muito importante para a alimentação, saúde e geração de renda. As abelhas<br />

também ajudam a polinizar as culturas e também a manter os elefantes longe das<br />

machambas. Os elefantes têm medo de abelhas então as cercas de colmeias são<br />

colocadas para impedir que os elefantes entrem nas machambas e se mudem para<br />

as comunidades vizinhas.<br />

Tradicionalmente a apicultura era considerada uma atividade masculina, contudo hoje<br />

em dia a apicultura e as cercas de colmeias são cuidadas pelas mulheres e homens das<br />

comunidades.<br />

A apicultura com colmeias de cascas e toras, é uma tradição local, mas resulta em<br />

desmatamento. Contudo a apicultura feita pela Antónia e colegas é feita de maneira<br />

moderna e sustentável. Com o uso de práticas modernas de apicultura, das colmeias<br />

modernas e prestação de assistência técnica, as comunidades tem uma produção<br />

sustentável de mel, aumentam a renda e melhoraram a resiliência dos meios de<br />

subsistência.<br />

O desejo de proteger as machambas e também de ter uma renda extra através das<br />

cercas das colméias atraí mulheres e raparigas para juntar-se ao programa do mel e<br />

de coexistência nas comunidades e iniciar a produção de mel e também aumentar a<br />

resiliência da comunidade, especialmente em famílias chefiadas por mulheres.<br />

© Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

Trabalhar com apicultura dá-nos uma experiência diferente com a natureza,<br />

mantêm nossas machambas seguras e dá-nos um doce rendimento em dinheiro e<br />

mel. É apenas um dos exemplos de como a cooperação entre nós e com a natureza<br />

funciona para mitigar um dos nossos maiores desafios, a coexistência entre as pessoas<br />

e a fauna bravia. Antonia é a líder do grupo de apicultoras de coexistência homem<br />

-elefante na comunidade de Bebedo e faz parte da equipa que ajuda a criar e manter a<br />

coexistência com os elefantes, ajuda raparigas e mulheres a aprenderem algo novo<br />

e serem l´íderes nas comunidades e ao mesmo tempo contribuí para melhorar a<br />

conservação da biodiversidade na Grande Paisagem da <strong>Gorongosa</strong>.<br />

APICULTORA<br />

(PROGRAMA DE COEXISTÊNCIA SERES HUMANOS - FAUNA BRAVIA)<br />

21


Albertina Lai Mandala<br />

DESENVOLVIMENTO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

Olá! Eu chamo-me Albertina Lai Mandala, trabalho no Parque Nacional da<br />

<strong>Gorongosa</strong> como Gestora Ambiental, nasci e cresci no distrito de Dondo e é lá onde<br />

estudei da 1ª à 12ª classe. Enquanto estudava, tive a oportunidade de participar em<br />

várias formações como por exemplo, formações em matéria de Alfabetização e HIV/<br />

Sida promovida pela Geração Biz.<br />

Eu gostava de jogos infantis, cantava e dançava assim como vocês fazem nos clubes.<br />

Quando terminei a minha 12ªclasse, ingressei no Instituto Agrário de Chimoio, na<br />

província de Manica, onde me formei em Silvicultura e Maneio Florestal e depois da<br />

minha formação, em 2016 comecei a trabalhar para o Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>,<br />

como Supervisora Técnica de Campo no Sector de Agricultura.<br />

Ao longo do meu trabalho, tive a oportunidade de participar numa capacitação<br />

promovida pela Formal Business School, fui treinada em matéria de produção de<br />

caju, na mesma altura estava a fazer a minha licenciatura em Gestão Ambiental pela<br />

Universidade Católica.<br />

No exercício das minhas actividades, deparei-me com vários desafios, falo da questão<br />

do Conflito Homem-Fauna Bravia, nos campos de produção agrícola. Os agricultores<br />

sempre reclamavam sobre a devastação das suas machambas.<br />

Eu tenho estado a trabalhar com diferentes produtores nas áreas de Bebedo, Vinho,<br />

Madangua e Mitcheu no distrito de Nhamatanda, faço a disseminação das técnicas<br />

de produção de caju, cereais e outras culturas de rendimento familiar. Essas áreas<br />

estão muito próximas ao Parque e é por isso que sempre registamos casos de conflito.<br />

Aqui no Parque, somos apenas duas mulheres a<br />

trabalhar nesta área, estamos no meio de muitos<br />

homens, as mulheres devem abraçar a escola e<br />

não dar prioridade ao casamento.<br />

Espero compartilhar o meu conhecimento com<br />

as raparigas, de forma que se tornem futuras<br />

Gestoras Ambientais e que juntas possamos<br />

fazer diferença no país e no mundo.<br />

© Augusta Bila<br />

Eu apoio os agricultores a entenderem que os animais são importantes para o<br />

ecossistema e que precisamos protegê-los sempre. Para mim é um grande desafio ter<br />

que convencer a comunidade a aderir à Agricultura de Conservação, pois eles já<br />

estavam habituados a praticar a agricultura itinerante, que consiste em derrubar a<br />

vegetação existente, para dar início ao cultivo tradicional, o que traz a perda de<br />

fertilidade do solo, erosão e consequentemente a baixa produtividade.<br />

GESTORA AMBIENTAL<br />

22 23


Vaida Fulanguene<br />

Dádiva David Salomão<br />

“Desde que começamos a<br />

cultivar café a convite do<br />

Administrador Muagura, até<br />

hoje tudo vai bem... Nós não<br />

tínhamos ideia do que era café,<br />

nunca tínhamos visto antes”.<br />

Olá! Chamo-me Vaida Fulanguene João, mulher nativa da Serra da <strong>Gorongosa</strong>, sou<br />

agricultora e trabalho nos campos de produção de café do Parque Nacional da<br />

<strong>Gorongosa</strong>, desde 2012, no princípio fazia actividades com o Administrador Muagura,<br />

durante 3 anos, como voluntária e sempre caminhávamos cantando, enquanto<br />

escalávamos a Serra.<br />

Eu vivo com a minha família e somos felizes, tenho no total 4 filhos e todos eles estão<br />

a estudar, dois estão no ensino secundário e vivem na Vila de <strong>Gorongosa</strong> e outros dois<br />

estão a estudar na Escola de Nhanguco. Desde que comecei a trabalhar com o Projecto<br />

de Produção de Café, consegui construir a minha casa e também consegui colocar os<br />

meus filhos na escola. Hoje tenho a minha machamba de café.<br />

Antes de cultivar o café, dedicava-me no cultivo de Milho, Mapira, Feijão, Bananas,<br />

entre outras culturas. Quando ouvimos falar sobre o café, nós admirámos, pensávamos<br />

que era capim ou uma árvore qualquer. Depois de um tempo e com os ensinamentos<br />

passamos a saber que o café tem grandes benefícios, que para além de devolver a<br />

nossa floresta, podemos saborear os frutos e tomar o café.<br />

Sofremos muito com o conflito, tudo era difícil, por vezes íamos aos campos de café<br />

as 00h da noite, para verificar o crescimento das plantas e regar, quando dessem 3h<br />

de madrugada regressávamos a casa. Para fazer quebra-fogos e evitarmos queimadas<br />

nos campos de café também íamos de noite na companhia dos meus colegas Fatiança,<br />

Lopes, Mercina e mais outros que também dedicavam parte do seu tempo na<br />

produção do café.<br />

Hoje estamos felizes, as pessoas regressaram e temos boa estrada que nos leva até<br />

às cascatas de Murombozi e recebemos visitas com frequência, que vem para ver o<br />

trabalho que fazemos e desfrutar da nossa paisagem. Eu vejo que é importante<br />

conservar o meio ambiente, temos plantas e sombra, água para irrigar os nossos<br />

campos, biodiversidade e pessoas em volta.<br />

Olá! Eu chamo-me Dádiva David Salomão. Nasci no distrito de Nhamatanda, província<br />

de Sofala. Sou apaixonada pela natureza e é uma alegria poder levar os visitantes a<br />

conhecerem o Parque e os seus animais. Eu tive uma infância igual à de outras raparigas,<br />

eu dedicava-me aos estudos e também ajudava os meus pais nas tarefas de casa. Hoje<br />

sou trabalhadora, mas enquanto estudava tive a oportunidade de participar em vários<br />

programas educacionais, estou a referir-me a capacitações em matérias de HIV/SIDA e<br />

facilitação de género e também matérias de alfabetização para ensinar os idosos a ler e<br />

a escrever.<br />

Algo marcante aconteceu...Enquanto eu fazia a minha 11ª classe, tive o privilegio de<br />

visitar pela primeira vez o Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, naquela altura fui escolhida<br />

pela minha escola, para participar de um seminário sobre a Biologia de Conservação,<br />

promovido pelo Departamento Científico do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>. No<br />

seminário aprendi muito sobre a importância da fauna bravia para o ecossistema e<br />

como devemos preservá-la para as futuras gerações.<br />

Terminei a minha 12ª classe em 2018 e não tinha a possibilidade de frequentar a<br />

universidade, naquela altura uma nova porta de esperança se abriu. Concorri para ser<br />

guia de turismo no Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> e fui apurada, formei-me em cerca<br />

de um ano, foi um grande desafio para mim pois todas as matérias eram leccionadas<br />

em Inglês e com ajuda dos meus colegas consegui ultrapassar as barreiras.<br />

No decorrer da minha formação, estive em constante contacto com a natureza e isso<br />

ajudou-me bastante a entender sobre plantas e animais e como cada uma delas ajuda<br />

no equilíbrio do ecossistema. E porque estava a formar-me para ser Guia de Turismo,<br />

aprendi a levar os nossos visitantes aos safaris e dar-lhes a conhecer a nossa <strong>Gorongosa</strong>.<br />

Em 2019 comecei a exercer as minhas funções como guia e foi aí que percebi que ser<br />

mulher guia é um privilégio, principalmente em Moçambique onde são poucas<br />

mulheres que seguem esta área, mas também é desafiador quando se trata de ser<br />

guia numa área de conservação.<br />

Como guia tenho a missão de levar os visitantes em segurança e dar-lhes uma<br />

grande satisfação. Sinto-me orgulhosa em fazer parte do Projecto de Restauração do<br />

Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> e sinto-me preparada para fazer o meu trabalho<br />

e mostrar o potencial que as mulheres têm.<br />

No futuro gostaria de continuar a estudar e ensinar outras mulheres e principalmente<br />

as raparigas para serem como eu. Espero receber mais mulheres no meu<br />

sector de trabalho e juntas levarmos os<br />

visitantes a fazerem passeios pelo nosso<br />

belo Parque.<br />

“Como Guia e mulher, quero dizer<br />

que as raparigas devem se dedicar<br />

na escola e lutarem pelos seus<br />

sonhos porque só assim irão<br />

arantir o seu futuro”.<br />

PRODUCTORA DE CAFÉ<br />

GUIA DE TURISMO<br />

24 25


Gabriela Curtis<br />

© Charlie Hamilton James<br />

26<br />

GUIA DE TURISMO<br />

27<br />

© Charlie Hamilton James


Isilda Simão Mabasse<br />

Winnie Makande<br />

Olá! Eu sou uma pessoa que gosta de trabalhar com a piscicultura e<br />

principalmente com a comunidade. Chamo-me Isilda Simão Mabasse, Supervisora de<br />

Programa Piscicultura, tenho 24 anos de idade, sou natural de Maputo e é onde passei<br />

maior parte da minha infância.<br />

Fui formada pela Universidade Eduardo Mondlane em Produção Pesqueira e sou<br />

especializada em Agricultura, faço parte do primeiro grupo de graduados em<br />

piscicultura. Ainda no ultimo ano da minha formação concorri para o programa<br />

Girl Move Academy, onde tive a oportunidade de compartilhar o meu<br />

conhecimento e a minha história com várias raparigas.<br />

No intervalo de 2019 para 2020 apercebi-me de uma vaga de emprego do Parque<br />

Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, concorri e fui apurada. Dedico os meus dias a fazer trabalhos<br />

de campo e de escritório, apoio as pessoas que vivem nas zonas próximas do Parque<br />

no controlo de campo de produção de peixe e ensino-as a saberem identificar áreas<br />

para a construção de tanques, limpeza, bem como a dieta dos peixes.<br />

A minha actividade não tem sido difícil, apesar de percorrer longas distâncias, é<br />

desafiadora pois passo a maior parte de tempo passo distante da minha família, espero<br />

superar cada desafio e dar o meu melhor para o futuro.<br />

Gostaria de fazer o meu mestrado em Desenvolvimento Rural, estabilizar a minha vida,<br />

casar e formar a minha família. Sinto-me feliz em trabalhar para o Parque, porque<br />

oferece-nos espaço para interações, formações e aprendemos a romper as barreiras da<br />

vida.<br />

Espero que essa mensagem chegue a muitas raparigas e que cada uma delas deixe de<br />

se sentir inferior.<br />

A partir do momento que elas tomarem as decisões, devem<br />

ter a certeza de que tudo é possível.<br />

SUPERVISORADE PROGRAMA PISCICULTURA<br />

Olá! É um desafio novo para mim, pois nunca antes tive a oportunidade de gerir<br />

um programa. Eu consigo trabalhar com muita gente, partilho as minhas ideias,<br />

sugestões e aprendo a crescer profissionalmente com elas, tenho tanta certeza de que<br />

mulheres fazem a diferença.<br />

Eu sou Winnie Makande, tenho 35 anos de idade, natural de Maputo, sou mãe e tenho<br />

2 filhos, frequentei o ensino Primário e Secundário em Maputo. Enquanto estudava,<br />

eu tinha um sonho, queria fazer medicina e ser médica, infelizmente não foi possível,<br />

porque fiz a área de letras com Matemática e por causa da disciplina extra curricular<br />

decidi formar-me em Economia na Universidade Eduardo Mondlane: Faculdade de<br />

Economia e ao longo do ano troquei para fazer Gestão.<br />

Continuei a estudar e decidi que deveria estagiar, assim aconteceu, eu fazia um pouco<br />

de todo trabalho que existia na empresa pela qual estagiava. De 2007 a 2009 trabalhei<br />

para as empresas Kulunga e Entre-Campos. Numa primeira fase trabalhei em gestão<br />

de projectos, depois disso fui trabalhar para o Banco Comercial de Investimento (BCI),<br />

comecei pela área de Análises Económicas e depois passei para a Direção de Marketing<br />

ligada aos pequenos produtores.<br />

Depois de toda essa trajectória, em 2021 comecei a trabalhar para o Parque Nacional<br />

da <strong>Gorongosa</strong> no Programa de Inclusão Financeira. Trabalho com os beneficiários das<br />

Zonas de Desenvolvimento Sustentável, na criação de grupos de poupança, educação<br />

financeira e também criação de parcerias com as instituições credenciadas nestas<br />

áreas.<br />

Existe um grande desafio pois a maior parte das zonas foram afectadas pelo ciclone<br />

e pela guerra e as pessoas tem receio em abrir-se mais e colocarem as suas ideias. Em<br />

Canda e Tambarara por exemplo percebi que enquanto tiver homens e mulheres no<br />

mesmo espaço, elas não tem voz e fazem sempre divisão de grupos.<br />

GESTORADE EMPREENDEDORISMO SOCIAL<br />

Tenho estado a incentivar outras mulheres, a participarem<br />

de forma activa nas actividades e a fazerem diferença,<br />

espero que no futuro muitas delas possam estar<br />

engajadas e livres de tomarem suas decisões. Espero<br />

ainda que possamos ter maior número de pessoas e<br />

principalmente mulheres a aderirem a poupança.<br />

Eu quero que as raparigas tirem o medo<br />

de enfrentar a realidade da vida e que elas<br />

nunca parem de estudar, com força e<br />

vontade se chega longe, nem a cultura<br />

ou localização geográfica as podem<br />

impedir de realizar os seus<br />

sonhos.<br />

28 29


Florinda Maria Gomes Neto<br />

Eu sendo a mais nova de casa, tudo sobrava para mim, eu ajudava os meus pais nas<br />

tarefas de casa e cresci numa altura em que todo o adulto era educador.<br />

Lembro-me que com as habilidades que eu tinha, aos 13 anos de idade fiz o meu<br />

primeiro vestido e o tempo foi passando continuei ainda a investigar os meus talentos.<br />

Eu sou artesã, fui formada na Itália em Corte e Costura<br />

e depois comecei a trabalhar com uma organização em Vilanculos na província de<br />

Inhambane, foi o meu primeiro emprego e fui fazendo essa actividade de 2003 até<br />

2012.<br />

Olá!<br />

Eu vou contar-vos a minha história....<br />

Depois comecei a fazer trabalhos por conta própria e em Janeiro de 2021, assinei o<br />

contrato com o Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong> e porque eu já fornecia produtos para a<br />

loja do Parque, tudo ficou fácil.<br />

As vezes agente para e olha para o contexto em que<br />

estamos e para aquilo que pretendemos fazer para mudar<br />

o sonho de certas pessoas, mas quando a gente quer tudo é<br />

possível.<br />

Eu Sou a Florinda Maria Gomes Neto, trabalho no programa de artesanato do Parque<br />

Nacional da <strong>Gorongosa</strong>, Nasci no distrito de Nhamatanda e aos meus 7 anos de<br />

idade os meus pais mudaram-se para viver na cidade da Beira, tenho 5 irmãos e<br />

sou a mais nova da casa, nasci em Setembro de 1969, altura em que o nosso país<br />

Moçambique, estava prestes a alcançar a independência.<br />

Enquanto criança eu gostava de participar em diferentes jogos infantis como por<br />

exemplo salto de cordas, produzíamos pauzinhos para aprender a contar, jogávamos<br />

a bola e parte do material que usávamos para os jogos produzíamos sozinhos pois<br />

naquela altura não havia lojas.<br />

Em algum momento temos tido concepções erradas. As pessoas das comunidades<br />

com quem a gente trabalha tem muito conhecimento e o que lhes falta é apenas<br />

algumas técnicas de fazer as coisas e quando estou com cada uma delas procuro saber<br />

se existem pessoas que fazem artesanato e se caso existirem, incentivo-as a seguir com<br />

o trabalho. E foi através desse conhecimento que descobrimos que é possível fazer<br />

cestos usando fibras da bananeira.<br />

Ser mulher artesã é uma profissão muito bonita, é ser alguém actualizado, inovador,<br />

criativo e estar sempre em contacto com as pessoas. Com as mulheres nas<br />

comunidades levamos o barro para fazer panelas e vasos, com a palha fazemos cestos<br />

e chapéus e com a capulana fazemos mochilas, carteiras, colares e outras coisas. Espero<br />

em breve poder trabalhar com as raparigas, porque tudo que elas puderem aprender<br />

hoje pode determinar o futuro de amanhã.<br />

É preciso ter foco e determinação naquilo que se pretende fazer. Eu amo a capulana e<br />

porque não usarmos para a nossa arte?<br />

30<br />

ARTESÃ<br />

31<br />

© Charlie Hamilton James


Margarida Victor<br />

CIÊNCIAS<br />

Olá! Eu sou a Margarida Victor, trabalho e vivo no Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>.<br />

Sou técnica de Sistema de Informação Geográfica e Base de dados. Tenho 25 anos,<br />

nasci e cresci na cidade de Nampula, no Norte de Moçambique.<br />

Cresci numa família humilde, num bairro nos arredores da cidade de Nampula. Tive<br />

uma infância tranquila e muito feliz, pois gostava muito de brincar com os meus<br />

amigos e sempre gostei de estudar. Para mim, a educação era tudo que eu tinha e<br />

acredito que é até hoje, pois é estudando que podemos tornar-nos em líderes que<br />

farão a diferença no amanhã.<br />

Escolhi ser cientista desde a minha juventude. Quando eu estava na 10ª classe, gostava<br />

muito da Biologia, Química e Matemática, pois estas disciplinas ajudam-nos a pensar e<br />

a procurar responder a questões que acontecem no nosso dia-a-dia.<br />

Ser mulher e cientista é um desafio e ao mesmo tempo é uma experiência muito boa,<br />

pois sinto que estou a contribuir de forma positiva para o desenvolvimento do nosso<br />

país, na proteção e conservação dos ecossistemas.<br />

É preciso lutar para realizar os nossos sonhos e<br />

nunca desistir. Um homem sábio um dia disse, a<br />

educação é a nossa arma para um futuro melhor,<br />

é nessa frase que penso todos os dias.<br />

© Charlie Hamilton James<br />

Comecei a trabalhar no Parque em Novembro de 2018. Já tenho 3 anos de experiência<br />

de trabalho. Para o meu futuro, espero aumentar o meu conhecimento na área de<br />

Sistema de Informação Geográfica e Base de Dados e tornar-me uma especialista da<br />

área. Em dois anos, gostaria de fazer o meu Mestrado em Sistema de Informação<br />

Geográfica, aplicado para áreas de conservação porque acredito que, com mais<br />

conhecimentos poderei aplicá-los nas nossas áreas de conservação tornando o sistema<br />

de proteção mais eficaz.<br />

Eu quero dizer a cada uma de vocês,<br />

“não importa onde nascemos e onde crescemos, o importante<br />

é para onde vamos, pois onde nós queremos estar depende de<br />

nós e da nossa força de vontade”<br />

TÉCNICADE SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA E BASE DE DADOS<br />

32<br />

33


Norina Vicente<br />

Dominique Gonçalves<br />

Olá! Eu sou natural de Moatize, província de Tete, sou uma Cientista-<br />

Entomóloga e trabalho no laboratório de biodiversidade Edward O. Wilson no<br />

Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>. Eu sou apaixonada pelos insectos e principalmente<br />

as formigas.<br />

Eu tive a sorte de ser nascida a primeira, tenho dois irmãos mais<br />

novos e sou filha de professores. Enquanto criança passei por muitas<br />

dificuldades, os meus pais não tinham dinheiro, eu tinha um par<br />

de sapatos e 1 caderno para todo o ano lectivo e no fim do dia<br />

tinha que partilhar o mesmo material escolar com os meus<br />

irmãos.<br />

Enquanto nós como filhos estudávamos<br />

os nossos pais faziam o mesmo. Foi difícil<br />

para mim, eu sendo a filha mais velha, eu<br />

acordava às 4 horas da manhã para ajudar<br />

a minha mãe nas tarefas de casa e depois ir<br />

para a escola.<br />

Assim fui buscando a inspiração para a realização dos meus sonhos e para minha<br />

surpresa o meu pai disse-me que seria possível fazer um curso ligado ao meio<br />

ambiente no Instituto Politécnico de Manica. Participei do concurso e fui apurada<br />

para fazer Ecoturismo e Fauna Bravia e em 2014 comecei a estudar.<br />

Quando já estava no 3˚ ano do curso, vi muitos vídeos da <strong>Gorongosa</strong> ligados à minha<br />

área de formação, falo por exemplo do filme Guardiãs dos Leões da <strong>Gorongosa</strong> e do<br />

filme que falava sobre o Professor Edward O. Wilson. Eu tinha conhecimento que parte<br />

dos nossos estágios eram feitos na <strong>Gorongosa</strong>, rezei tanto e isso veio a acontecer.<br />

Em 2016 comecei a estagiar na <strong>Gorongosa</strong> e em 2018 terminei a minha Licenciatura<br />

em Ecoturismo e Fauna Bravia. Quando recebi a proposta de fazer parte da família<br />

da <strong>Gorongosa</strong>, foi uma grande felicidade para a mim e para a minha família pois um<br />

sonho se tornava numa realidade. O meu trabalho é flexível, eu trabalho com todos os<br />

grupos de insectos do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>. As minhas actividades de<br />

campo são muito divertidas, eu descubro coisas novas na natureza e como elas são<br />

importantes para o ecossistema e percebo também que é necessário respeitar a<br />

natureza.<br />

Espero no futuro poder contribuir significativamente para a ciência e dar valor a estas<br />

espécies. Pretendo ainda expandir o meu conhecimento para as futuras gerações e<br />

principalmente para as raparigas poderem ser como eu, continuar a estudar para que<br />

no futuro consigam tomar as suas próprias decisões. Vejo-me como alguém que vai<br />

ajudar a inspirar para a conservação da biodiversidade, porque ser mulher cientista é<br />

saber inspirar outras mulheres a sonharem alto, desde que se trabalhe duro e quando<br />

tal sonho se realiza as novas gerações encontram o seu espaço na ciência.<br />

“Que as raparigas valorizem a escola e que façam dos seus<br />

cadernos e canetas a ponte para o futuro”<br />

Eu nasci, cresci e terminei o ensino médio na Beira, cidade próxima ao parque. Sou<br />

ecologista focada na conservação de elefantes no Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>.<br />

Estudo a relação de organismos entre si e com a natureza. É também ao redor do<br />

Parque onde visitei um clube de raparigas uma vez e partilhei pela primeira vez a<br />

minha história pessoal com essas raparigas e vi o impacto da minha história nos seus<br />

olhos. Vi que as raparigas do clube e eu tínhamos muito em comum.<br />

Atualmente, lidero o Programa de Ecologia de Elefantes da <strong>Gorongosa</strong>, investigando<br />

o movimento de elefantes e a expansão da área de distribuição em relação ao uso do<br />

habitat e conflito humano-elefante e medidas de mitigação, incluindo cercas de<br />

colmeias, para limitar os movimentos de elefantes e impedir que os elefantes entrem<br />

nas machambas das comunidades. Trabalhando com as comunidades e colegas, tento<br />

construir a coexistência entre as comunidades e a vida selvagem em toda a zona<br />

tampão do Parque Nacional da <strong>Gorongosa</strong>.<br />

Ao mesmo tempo, uso os elefantes como uma espécie emblemática e meu trabalho<br />

relacionado a elefantes para ajudar a inspirar e melhorar a experiência escolar de<br />

raparigas em programas de educação, como os clubes das raparigas do Parque.<br />

Acredito que meu trabalho com elefantes é um artefato do esforço da educação de<br />

raparigas e quero ajudar a aumentar o impacto. Sou uma defensora apaixonada da<br />

educação das meninas para evitar o casamento precoce e ajudá-las a ter uma vida<br />

cheia de oportunidades.<br />

As mulheres que trabalham com grandes animais selvagens, como elefantes, passam<br />

por dúvidas e pressões para provar seu valor. Eu abordo essa questão falando sobre<br />

preconceitos baseados em gênero no local de trabalho, comunidades e alunos com<br />

quem trabalho. Participei de treinamentos de liderança feminina para aumentar minha<br />

confiança em minhas opiniões e voz como mulher, para participar de processos de<br />

tomada de decisão e ter um papel de liderança na conservação da natureza.<br />

Meu concelho para raparigas, jovens e mulheres é: se você vir uma oportunidade,<br />

aproveite. Mas mesmo que não haja oportunidade - crie uma.<br />

CIENTISTA-ENTOMÓLOGA<br />

ECOLOGISTA<br />

34 35


Celina Dias<br />

Domingas Manuel Aleixo<br />

Diolinda Mundoza<br />

Celina<br />

Domingas<br />

© <strong>Gorongosa</strong> Media<br />

BIÓLOGAS<br />

ORNITOLOGISTA<br />

© Jen Guyton @Jenguyton<br />

36<br />

37


Aponte as prioridades -<br />

Veja como fazer:<br />

Onde quer que decida que gostaria de trabalhar, talvez num<br />

hospital, num banco, no turismo, numa grande empresa ou<br />

mesmo no parque da gorongosa, precisa de decidir<br />

exactamente qual o trabalho que gostaria de fazer. Lembre-se<br />

que isso pode colocá-la em um percurso numa carreira,<br />

conseguindo empregos mais avançados ao longo do tempo.<br />

Peça ajuda para fazer uma lista dos pequenos passos que<br />

precisa dar para alcançar o emprego dos seus sonhos. O<br />

primeiro passo pode ser terminar o ensino primario, o<br />

segundo se tornar boa em redacção, ou ciências ou<br />

matemática e terminar o ensino secundario sabendo no que<br />

você é boa. A seguir pode decidir entre uma formaçao<br />

especial ou uma faculdade ou universidade técnica.<br />

38<br />

Como conseguir um emprego dos sonhos<br />

Aqui algumas dicas para ajudar a começar no caminho para o teu emprego dos sonhos<br />

1 2<br />

As coisas mais importantes<br />

Para conseguir o emprego que deseja, é precisa fazer um plano. Decida exatamente o que deseja alcançar e, em seguida, faça<br />

uma lista das etapas que precisa seguir para alcançar o emprego dos seus sonhos.<br />

Descubra no que você precisa se esforçar para alcançar cada<br />

passo ao longo do caminho para seu objetivo. Você pode dizer<br />

“até o final deste ano eu vou me tornar boa em matemática”.<br />

Verifique seu progresso e se não estiver indo tão bem quanto<br />

esperava, peça ajuda para que possa melhorar.<br />

C ertifique-se de que o que você quer alcançar é possível.<br />

Por exemplo, se o teu emprego dos sonhos exige um diploma<br />

universitário ou ensino técnico especializado, esse tipo de<br />

qualificação esta disponível na sua provincia? Caso não, e<br />

possível conseguir apoio para ir a outro lugar, mas seria mais<br />

seguro no início focar no que está disponível na sua região.<br />

“Veja em quem você pode se inspirar<br />

para que um dia outra rapariga se inspire você!”<br />

Escolha um(a) modelo<br />

Ter um (a) modelo a seguir a ajudará a permanecer no<br />

caminho certo e a encorajará. Afinal, se outra pessoa<br />

conseguiu o que você quer, por que você não deveria? A(o)<br />

s modelos também podem ser úteis em momentos em que<br />

você não tem certeza do que fazer em seguida, pois estes<br />

podem usar o caminho que seguiram para guiá-la<br />

Ao escolher um(a) modelo, escolha alguém que tenha:<br />

■■<br />

Conseguido o que deseja fazer teve um ponto de<br />

partida semelhante<br />

■■<br />

Tente aprender o máximo que puder sobre:<br />

■■<br />

As escolhas educacionais que fizeram<br />

■■<br />

As mudanças que eles fizeram para alcançar<br />

seus objetivos<br />

■■<br />

Suas atitudes em relação ao fracasso, sucesso e<br />

realização<br />

■■<br />

Como lidaram com as dificuldades<br />

Estas são as coisas que você pode aprender para ajudar a<br />

mantê-la no caminho para alcançar seus próprios objetivos.<br />

Aprenda uma língua diferente<br />

3 4<br />

Aprender uma língua nova dará uma vantagem em muitos<br />

empregos e em muitas oportunidades de educação adicionais.<br />

A língua mais útil para aprender é o inglês porque é falado em<br />

todo o mundo. Muitas instituições de ensino superior<br />

ensinam em inglês, bem como em sua língua oficial,<br />

e muitos materiais escritos em várias disciplinas são<br />

escritos em inglês. Pode aperfeiçoar os seu português e<br />

aprender inglês no seu clube. Se você falar bem<br />

português e um bocado de inglês, mais oportunidades<br />

de educação e trabalho estarão disponíveis para ti. Por<br />

exemplo, os guias turísticos da gorongosa precisariam<br />

de falar inglês para poderem mostrar o parque a pessoas<br />

que falam inglês (da Africa do Sul, Zimbabwe, América e<br />

da Europa).<br />

Dedique tempo para o seu sonho<br />

Você precisa dedicar-se e trabalhar em direção ao seu<br />

objectivo. Isso pode significar que, depois da escola, você<br />

precisa encontrar tempo para fazer trabalhos escolares extras<br />

para se tornar boa nas disciplinas necessárias para atingir<br />

seu objetivo.<br />

5<br />

Converse com outras pessoas com<br />

objectivos semelhante<br />

Faça amizade com pessoas que têm objectivos de carreira<br />

semelhantes aos seus ou que já atingiram o objectivo que<br />

você almeja. Elas podem ajudá-la e incentivá-la a continuar<br />

avançando em direção ao seu objectivo. Elas podem dar idéias<br />

e sugerir maneiras que você não pensou para alcançar o<br />

emprego dos seus sonhos.<br />

Deixe-se inspirar por estas mulheres modelo!<br />

A <strong>Gorongosa</strong> está muito orgulhosa do que elas conseguiram<br />

“Se ela pode ver, ela pode ser!”<br />

6<br />

Nunca desista<br />

Lembre-se de que as coisas nem sempre irão de acordo<br />

com o seu plano, portanto não desmoralize e não perca<br />

a coragem quando as coisas não derem certo. Observe<br />

atentamente os erros cometidos encontre a melhor<br />

forma de os corrigir.<br />

39<br />

© Brett Kuxhausen / <strong>Gorongosa</strong> Media


PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA<br />

PARCEIROS<br />

Domingas Manuel Aleixo<br />

Biologist<br />

xxxxxxx<br />

CLUBES DE RAPARIGAS<br />

e somos apoiados por muitos mais - OBRIGADO!<br />

Charlie Hamilton James<br />

Brett Kuxhausen<br />

Jen Guyton<br />

James Byrne<br />

Augusto Billa<br />

Janado Nazare Cher<br />

Contactos<br />

Projecto de Ecologia de Elefantes<br />

Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

Meghan Hemstra<br />

Gráinne Keegan<br />

Paola Bouley<br />

Severino Ngole<br />

dominiqueg@gorongosa.net<br />

© Elizabeth Shrier, Wild Elements<br />

www.gorongosa.org<br />

Mulheres Modelo da <strong>Gorongosa</strong><br />

GORONGOSA ELEPHANT<br />

ECOLOGY PROJECT

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