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0000 - GNP Rolemodels Brochure DIGITAL

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MULHERES<br />

MODELO DA<br />

GORONGOSA


Aqueles de nós que tiveram<br />

o privilégio de receber educação,<br />

habilidades e experiências e até<br />

mesmo poder devem ser modelos<br />

para a próxima geração de líderes.<br />

- Wangari Maathai<br />

Em Memória<br />

Ricardo Guta<br />

Introdução<br />

Vilma Nhambi Mugwagwa<br />

Meios de Vida Sustentáveis<br />

Edna Catondo<br />

Janelisse Basilio<br />

Victoria Manejo<br />

Fatiança<br />

Amelia Bede<br />

Sónia Viagem<br />

Juleida<br />

Comunicação<br />

Larissa Sousa<br />

Ciência<br />

Arcénia Piedade<br />

Francisca Andicene<br />

Ivanilda Chiemo<br />

Recursos Humanos<br />

Salma Irene Tomás<br />

Administração e Finanças<br />

Celeste Juliasse<br />

Énia Figia<br />

Jocelyne Gonçalves<br />

Sharon Weng San<br />

Suzete Pacamisso<br />

Desenvolvimento Humano e Meios de Vida<br />

Laila Tajú<br />

Helena Fanheiro<br />

Tânia Manhique<br />

Conservação<br />

Maria Jasse<br />

Judite Daniel Zipe<br />

Operações e Logística<br />

Feli Msaya<br />

Asiya Manhice<br />

Teresa Zunguze<br />

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RICARDO GUTA<br />

EM MEMÓRIA<br />

Ricardo Guta<br />

Entomologista<br />

Em memória do nosso querido colega e amigo Ricardo Guta que tinha uma grande paixão por insectos<br />

e por ensinar as crianças. Ricardo era uma força na ciência e educação na Gorongosa e era um pai e<br />

esposo muito dedicado.<br />

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VILMA NHAMBI MUGWAGWA<br />

INTRODUÇÃO<br />

Se ela pode ver,<br />

ela pode ser!<br />

Introdução<br />

Caras Raparigas do Clube,<br />

É com grande alegria que vos apresentamos a segunda edição da iniciativa “Mulheres Modelo,” uma<br />

atividade especial promovida pelo Programa de Ecologia dos Elefantes (EEP) dedicada a apoiar as<br />

raparigas do Clube de Raparigas, do Parque Nacional da Gorongosa (PNG).<br />

Nesta brochura, encontrarão relatos inspiradores de mulheres notáveis que trabalham incansavelmente<br />

em diversos sectores do (PNG). Cada história partilhada visa proporcionar-vos uma visão única das<br />

experiências, desafios superados e triunfos alcançados por estas mulheres extraordinárias.<br />

Acreditamos que ao conhecerem as trajetórias destas mulheres, irão encontrar inspiração para<br />

perseguirem os vossos próprios sonhos e desafiar as expectativas. Cada uma destas mulheres<br />

representa um exemplo vivo de força, dedicação e compromisso com a conservação e igualdade de<br />

género.<br />

Esta iniciativa não se trata apenas de histórias, mas de uma viagem literária ás oportunidades do<br />

mundo. Ao ler estas páginas, convidamos-vos a refletirem sobre o impacto que podem ter nas vossas<br />

comunidades. Deixem-se encorajar e acreditar no vosso potencial e na capacidade de moldarem o<br />

futuro.<br />

Agradecemos à equipa do EEP por tornar esta iniciativa possível e a todas as mulheres inspiradoras que<br />

generosamente partilharam as suas experiências. Que esta brochura sirva como uma fonte constante<br />

de inspiração e motivação para cada uma de vós.<br />

Com entusiasmo,<br />

Vilma Nhambi Mugwagwa<br />

Gestora do Programa<br />

Clube de Raparigas<br />

Parque Nacional da Gorongosa<br />

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Meios de Vida<br />

Sustentáveis<br />

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EDNA CATONDO<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Edna Catondo<br />

Chamo-me Edna Catondo, tenho 28 anos de idade, sou formada pela universidade Zambeze de Chimoio<br />

em Engenharia Agrícola, o meu animal favorito é o peixe.<br />

Sou coordenadora de controlo de qualidade e rastreabilidade do café. Antes comecei a trabalhar<br />

no controlo de bases de dados de actividades de campo de café, onde fazia o registo de número de<br />

plantas de café e de plantas nativas, número de trabalhadores contratados e casuais, todo o processo<br />

de colheita do café e as suas respectivas toneladas e muito mais.<br />

Quando pela primeira vez vi uma planta de café, fiquei admirada pois cresci pensando que o café era<br />

apenas grão. Não sabia que o café é uma cereja. Me sinto honrada em fazer parte deste projecto e ver<br />

o café que vem da Serra e do grande trabalho feito pelas comunidades locais.<br />

O meu trabalho exige muita dedicação e concentração, pois é necessário garantir a qualidade do café<br />

partindo mesmo do campo e depois secagem, processamento, até à exportação do café verde. No<br />

sector de secagem é onde há mais trabalho, sempre precisamos de mão de obra para o revolvimento<br />

do café, actividade feita de hora em hora, o que garante que o café seque muito bem e se evite o<br />

apodrecimento.<br />

Trabalhar com os diferentes técnicos é tão bom, pois cada um deles mostra a sua determinação no<br />

alcance das metas e estão sempre dispostos a ensinar e aprender, tudo quanto fazem é com confiança<br />

garantindo bons resultados. No processo de produção do café temos dito “O café tem a mão das<br />

comunidades, se falho com elas falhei com tudo”. Nós precisamos delas para garantir que o café<br />

continue a ser produzido e a floresta da Serra continue viva.<br />

A minha mensagem é especialmente para as mulheres das comunidades da Serra, que elas continuem<br />

fortes e trabalhadoras, sabemos que não é fácil trabalhar em situações em que a voz do homem soa<br />

mais alto. Às raparigas, eu gostaria de dizer que passei por pressão da sociedade onde quase fui<br />

obrigada a casar cedo, vi minhas amigas a casarem cedo, mas eu digo a primeira coisa é estudar e se<br />

formar, nunca desistir dos seus sonhos.<br />

Mesmo com tanto trabalho, gosto de aproveitar o meu tempo livre para fazer os deveres de casa, me<br />

divertir assistindo a um bom filme e escutar música.<br />

Eu não conhecia a planta do café<br />

e juntar-me à equipa do Parque foi<br />

a melhor coisa, hoje conheço toda<br />

a cadeia de valores de produção do café.<br />

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JANELICE BASÍLIO<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Janelice Basílio<br />

O meu nome é Janelice Basílio, sou formada em Agronomia pela Universidade Zambeze, de Mocuba,<br />

nasci a 12 de Fevereiro de 1994, sou natural da província de Sofala. Passei a fazer parte da equipa do<br />

Projecto de Restauração da Gorongosa em 2018, como Técnica na Produção do Cajú. Trabalhava com<br />

os produtores incentivando-os para a prática do fomento do cajú, onde fazia a distribuição de mudas<br />

e também dava assistência técnica aos mesmos.<br />

Tempo depois passei para a Fábrica de Processamento de Café, no início tinha toda a responsabilidade<br />

da supervisão de torrefacção, secagem, venda, rastreamento e controlo de qualidade, e encomenda do<br />

café para a distribuição. E, todo o processo do café até à fase final é crucial, isto porque dependemos<br />

grandemente dos produtores, pois sem eles não teríamos café para processar e nem um projecto que<br />

ajuda a comunidade local na geração de renda para a sobrevivência.<br />

Os trabalhadores e a comunidade são bons colaboradores e estão a superar as nossas expectativas, hoje<br />

temos grandes campos de produção do café, onde conseguimos colher muitas toneladas. Eu acho que<br />

no início foi difícil para eles entender o objectivo do projecto, por falta de conhecimento, pois estavam<br />

acostumados a cultivar produtos de subsistência como milho, mapira, feijão...<br />

Esta progressão deixa-me muito feliz. Vir para Gorongosa e fazer o meu trabalho não foi assim difícil,<br />

comecei a viver longe da família muito cedo e como técnica eu tive que fazer a carta de condução de<br />

motorizadas para poder fazer o meu trabalho de campo.<br />

Estar a trabalhar com o Projecto de Produção do café é tão bom e interessante. Estamos a plantar o café e a<br />

reflorestar a Serra da Gorongosa e a adoptar pacotes biodegradáveis na linha da conservação para a venda.<br />

As raparigas e mulheres como eu devem investir na educação, o meu pai sempre dizia primeiro estudar,<br />

formar-se e trabalhar e se por acaso desviar do caminho, toda a vida fica comprometida. E, para o meu azar,<br />

eu engravidei na passagem da fase da minha adolescência para jovem e isso atrasou a carreira, naquela<br />

altura estava para fazer estágio profissional e não consegui concluir tive que adiar tudo, me senti triste<br />

porque não graduei com os meus colegas.<br />

Aprendi com esta lição, voltei outra vez a escola e felizmente consegui concluir. Digo para as meninas que é<br />

sempre bom fazer algo diferente e que os nossos pais não tiverem oportunidade de o fazer e tudo se resume<br />

em escola.<br />

Faço o meu trabalho com muito amor e dedicação e aproveito o meu tempo livre para passear, ir a shows,<br />

escutar uma boa música. Eu quero continuar a estudar para um futuro ainda melhor.<br />

Eu quero continuar a estudar<br />

para um futuro ainda melhor.<br />

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VICTÓRIA MANEJO<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Victória Manejo<br />

Chamo-me Victória Manejo, sou nativa da Serra da Gorongosa, que dista a 24km da vila sede do distrito<br />

da Gorongosa. Há 6 anos iniciava-se uma nova etapa na minha vida, comecei a trabalhar para o Parque<br />

Nacional da Gorongosa, no Projecto de Produção do Café na comunidade de Canda.<br />

Eu cresci com a ideia de que a “mulher é apenas aquela que cuida do lar”. E, para começar a trabalhar<br />

fiquei com receio de pedir ao meu marido, mas depois de um tempo ganhei coragem e felizmente<br />

recebi uma resposta positiva. Hoje vejo a minha vida transformada graças ao projecto que veio também<br />

mudar este conceito e transformar a vida de muitas mulheres na minha comunidade, muitas de nós<br />

estão a trabalhar e a produzir café nas suas machambas.<br />

As minhas actividades diárias variam de época para época, tem vezes que faço trabalhos no sector da<br />

sementeira, rega dos viveiros, plantio e também colheita.<br />

Há muitos anos a floresta da Serra era muito densa, mas nesses últimos anos as pessoas cortavam<br />

árvores e por causa disso começamos a passar dificuldades, as chuvas já não caem com frequência,<br />

registávamos também queimadas descontroladas. Diante de todos esses desafios, com o plantio do<br />

café e das árvores nativas estamos a fazer o reflorestamento a Serra, hoje consigo sentir a brisa do ar,<br />

o barulho das águas que descem sobre as cascatas de Murombozi e o som dos pássaros que há muito<br />

tempo não se ouvia.<br />

Com a minha machamba estou a produzir muito café, vendo os seus grãos do café para o Parque e<br />

com esse dinheiro consigo comprar cadernos para as minhas crianças, ajudar nas despesas de casa e<br />

também apoiar o meu marido na construção de uma casa melhorada para os nossos filhos.<br />

O meu sonho de um dia poder trabalhar, se tornou em realidade e vejo muitas mulheres a terem<br />

oportunidades de trabalho em diferentes projectos e por isso tenho estado a incentivar as outras<br />

mulheres a juntar-se ao Projecto de Produção do Café do Parque Nacional da Gorongosa.<br />

O meu sonho de um dia poder trabalhar,<br />

se tornou em realidade e vejo muitas<br />

mulheres a terem oportunidades de<br />

trabalho em diferentes projectos.<br />

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FATIANÇA PAULINO<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Fatiança Paulino<br />

Chamo-me Fatiança Paulino, sou mãe e trabalhadora no Projecto de Produção do Café desde 2014.<br />

Comecei a trabalhar como voluntária, depois de um tempo fomos levados para visitar o Parque, onde<br />

nos disseram sobre o início do Projecto de Produção de Café.<br />

Éramos apenas 3 mulheres e alguns homens e depois de ouvir como o projecto ia funcionar,<br />

regressámos a casa na esperança de viver uma nova história para a nossa comunidade. Felizmente<br />

hoje conto com muito orgulho, a produção do café na serra da Gorongosa é uma realidade, está a<br />

transformar as nossas vidas e a desenvolver a nossa comunidade.<br />

Para além de trabalhar para o projecto do café, tenho também a minha machamba, já faço a colheita<br />

do café e vendo para o Parque. Com o dinheiro das vendas tenho estado a apoiar o meu marido nas<br />

despesas de casa, consegui comprar chapas para cobrir a minha casa, comprei cabritos para criar e<br />

consigo comprar material escolar para as crianças.<br />

Com o projecto do café estou a ver mudanças aqui na minha comunidade, agora temos água, as chuvas<br />

caem com frequência, estamos a plantar o café e plantas nativas e a floresta está a voltar, hoje as<br />

pessoas fazem as suas machambas e conseguem tirar alimentos e, tudo é isso graças à ajuda que o<br />

Parque tem estado a dar, treinando os agricultores em boas práticas agrícolas.<br />

O trabalho de produção do café para mim como mulher é fácil, o maior desafio é apenas na abertura<br />

dos campos e depois disso é só controlar o crescimento e todo o processo de colheita. Sinto-me<br />

orgulhosa em poder partilhar a minha história e espero que inspire muitas mulheres a serem fortes e<br />

trabalhadoras.<br />

Sinto-me orgulhosa em poder<br />

partilhar a minha história e espero que<br />

inspire muitas mulheres a serem<br />

fortes e trabalhadoras.<br />

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AMÉLIA JOÃO BEDE<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Amélia João Bede<br />

Meu nome é Amélia João Bede, sou natural de Mafambisse, distrito de Dondo, província de Sofala.<br />

Quero lembrar-vos um pouco sobre a minha infância... Como qualquer rapariga eu gostava de brincar<br />

de bonecas feitos de barro ou de pano, usávamos os recursos que tínhamos por perto e que eram<br />

fáceis de encontrar. Apesar dos momentos alegres na minha infância, senti muito a falta dos meus<br />

pais, eles perderam a vida muito cedo, eu fui obrigada a ser forte enquanto pequena, a me dedicar nos<br />

estudos e assim garantir um futuro melhor para mim.<br />

A medida em que os anos foram passando, tive a oportunidade de abraçar pequenos projectos, nos quais<br />

trabalhei como vendedora de telemóveis na loja da Movitel, trabalhei na Fábrica de Açúcar Orgânico<br />

na Empresa Eco Farma e fui activista na organização Fundo de Desenvolvimento Comunitário (FDC).<br />

Toda essa trajetória não foi fácil para mim, mas com muita força e determinação consegui chegar longe<br />

e adquirir muita experiência. Anos depois em 2021 passei a fazer parte do Projecto de Restauração da<br />

Gorongosa, numa primeira fase como estagiária no Sector de Apicultura e depois passei para o sector<br />

de Produtos da Gorongosa, como Técnica de Processamento de Mel.<br />

Trabalhar para um projecto que tem a ver com<br />

a conservação da biodiversidade é muito bom<br />

principalmente para nós jovens. Eu aprendi a gostar e<br />

a cuidar do meu ambiente e isso me fez ter tanta paixão<br />

pelos Elefantes por serem sociais e por terem uma memória<br />

incrível. Essa paixão não me faz deixar de gostar das abelhas<br />

que também são muito importantes para a natureza e que<br />

produzem mel para o nosso alimento, amo as abelhas e vejo-as<br />

todos os dias no exercício das minhas actividades.<br />

O meu trabalho exige muito cuidado para que a qualidade do mel seja<br />

perfeito e os nossos clientes fiquem satisfeitos e fico feliz ao saber que<br />

as pessoas gostam de saborear o mel da Gorongosa.<br />

Mesmo com tanto trabalho e desafios, aproveito o meu tempo livre<br />

para conversar, buscar outras experiências e conselhos para a vida.<br />

E, quero muito que cada rapariga seja forte, batalhadora e capaz de<br />

realizar os seus sonhos.<br />

Quero muito que cada rapariga<br />

seja forte, batalhadora e capaz<br />

de realizar os seus sonhos.<br />

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SÓNIA JOSÉ COSTA VIAGEM<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Sónia Viagem<br />

O meu nome é Sónia José Costa Viagem, nasci na cidade de Chimoio, onde também passei parte da<br />

minha infância, sou formada em Extensão Rural e Fomento Agrário pelo Instituto Agrário de Chimoio<br />

e actualmente estou a fazer o meu ensino superior em Gestão Ambiental na Universidade Católica de<br />

Moçambique.<br />

Antes de eu trabalhar para o Parque, fui estagiária numa empresa e depois em 2020 fui contratada<br />

pelo Parque para trabalhar como técnica de apicultura. Eu dou assistência técnica aos apicultores,<br />

faço o treinamento em boas práticas de produção do mel, monitoria das colmeias e sensibilização<br />

comunitária para aderirem ao projecto.<br />

Actualmente trabalho muito com a questão da rastreabilidade do mel, faço a monitória de todo o<br />

processo desde a saída do mel do campo até a fábrica do processamento. Para mim a actividade<br />

de apicultura pode ser feita tanto por homens e assim como por mulheres, por isso no acto da<br />

sensibilização temos como foco as mulheres.<br />

As raparigas podem também aprender essa actividade e no futuro abraçar esta área, o mel dá-nos<br />

alimento e quando vendermos conseguimos dinheiro para o nosso sustento. O medo pelas abelhas<br />

passa e tudo o que se precisa é seguir com os procedimentos corretos sobre as boas práticas de<br />

produção do mel e usar equipamentos próprios para o manuseio das colmeias.<br />

Eu quero dizer que não importa como tudo começa o importante é traçar os objectivos a alcançar e<br />

fazer o percurso da melhor forma. Para além de trabalhar e estudar também aproveito o tempo livre<br />

para estar com a minha família.<br />

Os Elefantes são os meus animais favoritos.<br />

O importante é traçar os<br />

objectivos a alcançar e fazer<br />

o percurso da melhor forma.<br />

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JULEIDA<br />

MEIOS DE VIDA SUSTENTÁVEIS<br />

Juleida<br />

Chamo-me Juleida, sou natural de Maxixe, província de Inhambane, tenho 25 anos de idade e sou<br />

formada em Agro-Pecuária com especialidades em Extensão e Fomento Agrário, pelo instituto Agrário<br />

de Chimoio.<br />

Enquanto estudava, eu tinha de mostrar o meu desempenho, as nossas aulas na sua maioria eram de<br />

muitas práticas e eu tinha que garantir a minha capacidade para as actividades de campo. Na minha<br />

turma tinham mais homens que mulheres, mas nós estudamos bastante e conseguimos mostrar que<br />

as mulheres também podem fazer muito bem o trabalho de agricultura. Hoje fico feliz em saber que<br />

muitas mulheres estão a aderir ao curso.<br />

Depois da minha formação em 2020 comecei a trabalhar no Parque Nacional da Gorongosa, primeiro<br />

como estagiária e depois para dar apoio técnico aos produtores de café, na comunidade de Tambarara<br />

na Serra da Gorongosa. Eu faço a monitoria na rastreabilidade das plantas de café bem como de<br />

plantas nativas, limpeza dos campos, plantio, adubagem até à colheita.<br />

O meu trabalho não é assim tão difícil, apenas exige muito conhecimento e garantir que o café cresça<br />

com qualidade. No início tive um pouco de dificuldades para me comunicar com os produtores por<br />

causa da língua, eu sempre precisava de alguém para traduzir, mas a medida em que o tempo foi<br />

passando aprendi a falar e hoje me comunico com eles facilmente.<br />

As mulheres e principalmente as raparigas devem acreditar em si mesmas, independentemente das<br />

circunstâncias e fazer de tudo para alcançar o seus sonhos. Sou apaixonada pelos esquilos, eles são<br />

os meus animais favoritos, lindos e espertos e eu acho que é o melhor animal que Deus colocou aqui<br />

na terra.<br />

No meu tempo livre gosto de ir à igreja, escutar música, sair com os amigos e estudar, por isso, decidi<br />

continuar com os estudos estou a formar-me em Gestão Ambiental, gosto também de estar em zonas<br />

montanhosas e o meu trabalho veio a calhar e lá de cima consigo ver o quão o distrito de Gorongosa<br />

é rico em biodiversidade.<br />

As mulheres e principalmente<br />

as raparigas devem acreditar em<br />

si mesmas, independentemente<br />

das circunstâncias e fazer de tudo<br />

para alcançar o seus sonhos.<br />

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Comunicação<br />

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LARISSA SOUSA<br />

COMUNICAÇÃO<br />

Larissa Sousa<br />

Olá Raparigas, para mim é um prazer contar a minha humilde história de vida que ainda está em<br />

processo de mudanças, o que me faz feliz e sempre pronta a aprender novas coisas.<br />

Chamo-me Larissa Sousa, tenho 33 anos de idade, nasci em Maputo, mas aos 6 meses de vida os meus<br />

pais mudaram-se para Chimoio, onde cresci e fiz a minha escola primária e secundária. Estudei muito<br />

para ter bons resultados, o que me ajudou a ingressar na Universidade na Finlândia (Europa) onde me<br />

formei em Administração de Empresas. Depois de 4 anos a viver fora do país decidi voltar para casa.<br />

Trabalhei em várias empresas, sendo uma delas a Escola Njerenje, onde pude ganhar experiência na<br />

área de Educação, antes de me juntar à equipa do Parque Nacional da Gorongosa em 2017.<br />

Já a trabalhar, decidi então continuar com os meus estudos e fui fazer o meu mestrado no Zimbabué<br />

na Africa University. E, foi durante o processo da minha dissertação (trabalho final do mestrado) que<br />

entrei para o Parque, um projecto de conservação do meio ambiente e desenvolvimento humano.<br />

Eu aceitei o desafio para trabalhar como Gestora do Programa Educação da Rapariga (ERA da<br />

Rapariga como chamávamos) para ajudar a mudar a vida de muitas mulheres e raparigas na Zona de<br />

Desenvolvimento Sustentável do Parque e também consciencializar sobre a conservação do meio ambiente.<br />

Naquela altura, eu, a tia Glória e o tio Barreto, desenhámos e implementámos as diferentes actividades<br />

do Programa com o objectivo de manter raparigas como vocês nas escolas, evitando uniões prematuras<br />

e melhorando as suas habilidades de vida para garantir que tenham as ferramentas de que precisam<br />

para enfrentar o mundo. Alguns anos depois fui depois promovida a Directora Associada do Sector<br />

da Educação no Departamento de Desenvolvimento Humano onde trabalhava não só com os clubes<br />

das raparigas, mas com todos os outros programas de educação como os clubes de jovens, clubes<br />

ambientais e clubes de professores.<br />

Os anos passaram-se e juntei-me à equipa do Departamento de Comunicação e estou muito feliz por<br />

poder continuar a contribuir para o empoderamento das mulheres, desta forma dando-lhes mais voz e<br />

visibilidade. Gosto muito do trabalho que faço tanto na educação quanto na comunicação, eu trabalho<br />

na recolha de informação de todas as actividades feitas nos diferentes departamentos, tiro fotos e faço<br />

vídeos para poder contar as histórias e poder inspirar a raparigas como vocês.<br />

Sou mãe de um pequeno rapaz de nome Ayodele, que me mantém sempre ocupada com as muitas<br />

perguntas que ele faz sobre a vida e me inspira todos os dias a ser uma melhor pessoa. Acredito que<br />

somos todos abençoados com tudo o que o mundo tem para nos oferecer, mas nem todos têm as<br />

mesmas oportunidades e é onde cada um de nós pode desempenhar um papel e ajudar um ao outro.<br />

“Usem desta oportunidade para abrirem as asas e poderem voar pelos vossos sonhos, aprendendo tudo<br />

o que precisam para os concretizar. Agora, mais do que nunca, temos de trabalhar juntas para fazer<br />

estes sonhos uma realidade. Espero que a minha estória vos inspire a serem raparigas sonhadoras,<br />

estudiosas e batalhadoras para serem aquilo que sonham e lembrem-se que têm sempre o nosso apoio.<br />

Pronta para conservar o meio ambiente, e reter a rapariga na escola!<br />

Pronta para conservar<br />

o meio ambiente, e reter<br />

a rapariga na escola!<br />

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Ciência<br />

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ARCÉNIA DA PIEDADE ZEFANIAS CHIVALE<br />

CIÊNCIA<br />

Arcénia Piedade<br />

Chamo-me Arcénia da Piedade Zefanias Chivale, tenho 24 anos de idade, natural da Província de<br />

Inhambane, sou formada em Biologia Marinha, pela Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras.<br />

Actualmente trabalho como Técnica de Laboratório de Zoologia no Parque Nacional da Gorongosa, e<br />

nas minhas actividades diárias, faço a colecta de espécies no campo quer de insectos quer de peixes,<br />

efectuo registos fotográficos e cuido da colecção zoológica.<br />

Voltando no tempo, quando eu era criança cresci vendo o meu pai com duas esposas e aquela situação<br />

me deixava desconfortável, principalmente quando comecei a entender sobre os sentidos da vida na<br />

minha adolescência. Tudo isso me afectou tanto, passei a ser uma menina muito fechada, difícil de se<br />

socializar e até hoje por vezes penso em não me casar.<br />

Ir para universidade transformou o meu ser, passei a ter muita interação com os meus colegas da<br />

turma e da escola. Nunca tinha saído da província de Inhambane, ou seja, ficar longe da minha família<br />

e eu tive que ser forte naquela altura, pois poderia me desviar para os vícios e deixar de estudar,<br />

mas percebi que qualquer decisão afectaria a minha vida de todas as formas. Encontrar bons amigos<br />

durante a minha caminhada foi a melhor coisa que aconteceu e eles me ajudaram muito a superar os<br />

desafios.<br />

A minha mãe tirava tempo para me dar conselhos e ela sempre dizia nunca pensar em namorar e muito<br />

menos se envolver com homens casados, não precisa ter pressa, primeiro estuda. A escola sempre<br />

agrega valores e você percebe que não existe limite para quem sonha em brilhar no futuro.<br />

Pela primeira vez que vim ao Parque, foi para participar em workshop de Mulheres na Conservação,<br />

onde cada uma contava a sua história e trajetória de vida o que foi muito interessante, todas tínhamos<br />

um percurso totalmente diferente mais no final tudo se resumia em estudos.<br />

Eu tinha medo de concorrer para workshops, mas participar num destes abriu a minha mente, assim<br />

fui participando em vários, incluindo um “fellowship” de 2 meses sobre exploração de biodiversidade<br />

com foco nos peixes. No fim tive a sorte de ser aprovada e convidada para fazer parte da equipa do<br />

Sector de Ciências.<br />

É um grande prazer estar em contacto com o que Deus criou, o meu animal favorito é o Tubarão. A<br />

praia é onde gosto de estar nos meus tempos livres.<br />

A escola sempre agrega valores<br />

e você percebe que não existe<br />

limite para quem sonha em<br />

brilhar no futuro.<br />

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FRANCISCA DE SALMA ANDISSENE<br />

CIÊNCIA<br />

Francisca Andicene<br />

Chamo-me Francisca de Salma Andissene, tenho 26 anos de idade, sou natural de Manica, cidade de<br />

Chimoio. Sou formada em Ciências Biológicas pela Universidade Lúrio de Pemba.<br />

Antes de eu trabalhar, participei num Workshop de levantamento de biodiversidade das plantas,<br />

insectos, anfíbios e reptéis em 2019 e em 2021 regresso pela segunda vez para participar de um<br />

“fellowship” sobre Taxonomia e Botânica, onde passei mais tempo a estagiar e na mesma altura eu e o<br />

meu colega fomos selecionados para fazer parte da equipa do Departamento de Ciências.<br />

Comecei a fazer parte do Departamento de Ciências no Parque Nacional da Gorongosa no ano de 2021<br />

e o meu trabalho basicamente é fazer a coleta, identificação e organização de parte das plantas para<br />

a nossa sala de coleção sinóptica.<br />

Para mim o Parque é um lugar bom de se estar, é como se fosse uma escola, todos dias temos sempre<br />

algo para se aprender, tenho estado em contacto com diferentes pesquisadores e essa conexão torna<br />

o trabalho ainda mais fácil. E, enquanto trabalho tenho a oportunidade de ver e conhecer muitos<br />

animais e entender o seu comportamento, de tantos que já vi, os meus favoritos são os inhacosos, eu<br />

acho-os muito lindos e elegantes.<br />

A minha infância passei sem dificuldades, os meus pais trabalhavam e ajudavam em todas as despesas<br />

da escola, bem cedo comecei a viver longe da minha família por causa de estudos, foi para mim uma<br />

sensação de liberdade e ao mesmo tempo de grande responsabilidade.<br />

Para me manter firme, eu sempre me lembrava dos ensinamentos dos meus pais, estar ciente de que<br />

nada de decepção e fazer de tudo para apresentar bons resultados. Lembro-me que a minha mãe<br />

sempre falava “Vais crescer e aprender a ser independente, não cresças a depender de alguém para<br />

te sustentar”. Eu tinha que perceber o objectivo que me levou a ficar longe da família e hoje tenho<br />

orgulho dos passos que tomei.<br />

As raparigas, elas precisam de superar as lógicas sociais, que para além de formar família, primeiro<br />

deve garantir a sua formação e só depois seguir com outros passos para o futuro. Tudo o que precisam<br />

entender é que o seu lugar é onde deseja estar e não onde a sociedade quer que estejam.<br />

No meu tempo livre, gosto de ensinar as pessoas sobre diferentes coisas que eu sei fazer, principalmente<br />

a saber ler e escreve e também gosto de ver um bom filme na companhia da minha família.<br />

Vais crescer e aprender<br />

a ser independente,<br />

não cresças a depender<br />

de alguém para te sustentar.<br />

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IVANILDA CHIEMO<br />

CIÊNCIA<br />

Ivanilda Chiemo<br />

Chamo-me Ivanilda Chiemo e sou natural de Chimoio, província de Manica. Ali passei toda a fase da<br />

minha infância, que foi bem tranquila, cresci numa zona rodeada de muitas crianças, fazíamos muitas<br />

brincadeiras incluindo jogos. Os meus pais trabalhavam naquela altura e tive a oportunidade de<br />

enquanto cedo ir para a escolinha, eles davam-me todo o apoio necessário, mas também controlavamme<br />

bastante, isso porque decepcionei-os ao reprovar numa das classes.<br />

Concluí o ensino médio e logo comecei a minha formação superior em Sociologia, na província de<br />

Maputo e nesse tempo vivia com os meus irmãos e depois decidi morar sozinha, decisão que complicou<br />

mais a minha vida, o valor que eu recebia para cobrir com as despesas não era suficiente, e vi-me<br />

forçada a procurar trabalho.<br />

Comecei a trabalhar numa loja de vendas de produtos electrónicos e os horários não ajudavam,<br />

chegava sempre atrasada na escola, desisti e procurei por outro trabalho dessa vez como Secretária<br />

Administrativa numa empresa de segurança, onde depois fui promovida para Técnica de Recursos<br />

Humanos, graças a Deus os meus chefes entendiam a minha rotina e davam-me muito apoio.<br />

Quando terminei a minha licenciatura em 2017, regressei para a cidade de Chimoio e no ano seguinte,<br />

consegui um trabalho em Balama na província de Cabo Delgado e por causa do Covid 19 a empresa<br />

teve que reduzir o número de trabalhadores e eu fui despedida. Foi duro, um ano sem trabalho e<br />

naquela altura nenhuma empresa estava a contratar.<br />

O tempo foi passando e foi quando concorri para a vaga de Bio-Educação do Departamento de Ciências,<br />

no Parque Nacional da Gorongosa, fui aprovada e foi pela primeira vez que comecei a<br />

trabalhar numa área de conservação, deram-me todo o acompanhamento necessário.<br />

Eu trabalho com os estudantes de Mestrado em Biologia de Conservação, estagiários e dou apoio a<br />

vários investigadores que vêm à Gorongosa para desenvolver os seus estudos. Ajudo todos eles na<br />

monitoria de suas actividades diárias de campo e faço de tudo para garantir que todo o material que<br />

eles precisam esteja disponível.<br />

Quanto aos estagiários, dou aconselhamentos e faço-os entender que os próximos passos serão<br />

sempre longe da família e que eles devem dedicar-se nos estudos para poderem ser admitidos na<br />

universidade. Eu e os meus colegas também apoiamos na divulgação dos diversos workshops, onde<br />

pessoas de diferentes pontos do país vêm aprender e partilhar as suas experiências profissionais.<br />

Ao trabalhar na Gorongosa, encontrei o meu animal favorito que é o leão, já tive a oportunidade de<br />

avistar muitos nos safaris e nas actividades de campo, eles são lindos, bravos e corajosos. Com a minha<br />

história espero que as raparigas, busquem inspiração e estudem muito para conseguir ultrapassar os<br />

vários obstáculos da vida.<br />

Com a minha história espero que<br />

as raparigas, busquem inspiração<br />

e estudem muito para conseguir<br />

ultrapassar os vários obstáculos da vida.<br />

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Recursos<br />

Humanos<br />

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SALMA IRENE TOMÁS<br />

RECURSOS HUMANOS<br />

Salma Irene Tomás<br />

Chamo-me Salma Irene Tomás, tenho 28 anos de idade, nasci na cidade da Beira, província de Sofala,<br />

Moçambique, sou formada em Gestão de Recursos Humanos com Habilidades em Higiene e Segurança<br />

no Trabalho, pela Universidade Pedagógica.<br />

Em 2022 passei a fazer parte da equipa de trabalhadores do Parque Nacional da Gorongosa, como<br />

administrativa no Sector dos Recursos Humanos. Trabalhar para o Parque é um grande desafio<br />

principalmente como mulher. No total, o maior número de trabalhadores é composto por homens e no<br />

meu sector somos apenas 3 mulheres.<br />

No exercício das minhas actividades, eu sou responsável pela base de dados de todos os trabalhadores,<br />

faço o registo de dados quer eletrónicos assim como físicos, dou assistência aos trabalhadores e faço<br />

a tramitação dos documentos legais. No início do meu trabalho tive que fazer uma actividade de raiz<br />

para garantir que todos os documentos estivessem digitalizados e os manuais estivessem organizados<br />

em ordem alfabética e com números para fácil identificação.<br />

É pela primeira vez que trabalho numa área de conservação e o meu coração se encheu de alegria<br />

quando pela primeira vez vi um leão, não há melhor coisa que conviver com a vida selvagem no meio<br />

de tanta biodiversidade. Estar aqui também me ajuda a conviver com muita gente formada em biologia<br />

e que melhor entendem os temas e apesar de estar com pessoas de diferentes pontos do país, aqui<br />

também nos tornamos uma família. Passei a olhar para as questões de conservação de forma diferente<br />

e hoje eu entendo o quê e porque estamos a conservar.<br />

Voltando no passado, quando eu era criança os meus pais separaram-se e não tive tantos privilégios.<br />

Cresci apenas com o meu pai e não foi uma experiencia agradável, a minha irmã mais velha teve que<br />

tomar o papel de mãe... E, em cada primeiro de Junho, Dia Internacional da Criança, o meu pai é quem<br />

preparava a minha tigela com comida para levar para a escola.<br />

Faltavam-me condições, para mim o plástico servia para carregar livros e cadernos, mas apesar das<br />

circunstâncias, o meu pai sempre se sacrificou para o nosso bem-estar.<br />

Naquela altura, eu tive amigas que se casaram cedo por falta de condições e diziam que os homens<br />

as poderiam sustentar e que na verdade mergulharam num sofrimento e outras até hoje não mais<br />

voltaram a estudar. Em algum momento apareceu-me a ideia de casar-se, sem me importar com a<br />

idade, mas porque eu vivia com a minha madrasta. O que me fez desistir foi pelo facto de ver as minhas<br />

amigas a sofrerem no lar e me lembrei de que os meus irmãos mais novos precisavam do meu apoio.<br />

Raparigas, não se deixem levar pelo que falam, pelo que ouvem dizer ou pelo que vêem, vocês devem<br />

construir sonhos próprios e torná-los em realidade, força é tudo que vocês precisam para seguir em<br />

frente e alcançar os vossos objectivos.<br />

Vocês devem construir sonhos próprios<br />

e torná-los em realidade, força é tudo<br />

que vocês precisam para seguir em<br />

frente e alcançar os vossos objectivos.<br />

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RICARDO GUTA<br />

Administração<br />

e Finanças<br />

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CELESTE BAPTISTA JULIASSE<br />

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS<br />

Celeste Juliasse<br />

Chamo-me Celeste Baptista Juliasse, tenho 31 anos de idade, sou natural da Beira, província de<br />

Sofala. Estou muito feliz em partilhar a minha história com cada uma de vocês e eu sei que cada uma<br />

de vocês tem histórias para contar para mim também.<br />

Eu comecei a trabalhar para o Parque Nacional da Gorongosa em 2021, numa primeira fase como<br />

auxiliar de limpeza e depois fui promovida para assistente administrativa, onde sou a responsável<br />

pela verificação de todos os expedientes, aquisição de material para o escritório, compra de recargas,<br />

produtos de limpeza e muito mais, de forma a garantir que os meus colegas tenham tudo organizado<br />

para avançarem com as suas actividades.<br />

Para além de trabalhar, também estou a formar-me em Economia e este é o meu segundo ano. E para<br />

conseguir conciliar o trabalho e os estudos estou a fazer o ensino pós-laboral, uma rotina difícil, pois<br />

saio muito cedo para de casa para ir trabalhar e só regresso de noite depois de voltar da escola.<br />

Como mulher, estudar de noite é muito arriscado, isto porque existem muitos casos de violência contra<br />

a mulher pelo caminho de regresso para casa, as ruas por vezes não têm iluminação.<br />

Tive uma infância igual a de cada uma de vocês, gostava muito de brincar com bonecas, jogava neca,<br />

saltava corda, cozinhava o que nós chamávamos de “Piquenique” e gostava muito de correr.<br />

À medida em que fui crescendo comecei a fazer os meus negócios, para poder ter dinheiro e cobrir as<br />

despesas de escolas e outras necessidades, fazia bolinhos, bajias, chamussas e também fazia entrega<br />

dos produtos em encomenda.<br />

Para mim não existe limite para quando precisamos alcançar os nossos sonhos, enquanto o tempo<br />

passa devemos enxergar longe, ver o futuro e decidir como quer que seja e nunca se esquecer de todos<br />

aqueles que estão à nossa volta, prontos para apoiar.<br />

Ver o futuro e decidir como quer que<br />

seja e nunca se esquecer de todos<br />

aqueles que estão à nossa volta,<br />

prontos para apoiar.<br />

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ÉNIA FÍGIA<br />

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS<br />

Énia Fígia<br />

O meu nome é Énia Fígia, nasci a 17 de Janeiro de 1998 na Província de Maputo, na zona do Zimpeto.<br />

Sou casada e mãe de uma filha. Desde fevereiro de 2023, trabalho como controladora de finanças no<br />

Parque Nacional de Gorongosa.<br />

Sou formada em Contabilidade e Auditoria, pelo Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de<br />

Maputo. Comecei a minha carreira como assistente administrativa e, ao longo do tempo, evoluí para<br />

assistente de contabilidade, gestora de cobranças de créditos, até alcançar a posição atual como<br />

controladora de finanças.<br />

Sou responsável pelo registo de contabilidade das operações do sector de Turismo e Produtos da<br />

Gorongosa, apuramento de impostos e reconciliações, entre outras tarefas.<br />

Na infância, gostava de ficar à volta da fogueira escutando histórias da minha querida avó, saltar a<br />

corda com as minhas amigas e também gostava de ir à escola. Perdi o meu pai logo no início da minha<br />

formação e a vida tornou-se cada vez mais difícil, tive de ser forte e buscar por uma independência<br />

financeira e sucesso profissional. Naquela altura, a minha mãe passou a tomar conta de mim e dos<br />

meus estudos, tive de procurar trabalho aos meus 18 anos de idade para poder sustentar os meus<br />

estudos e ajudar a minha mãe, onde comecei a estudar de noite e trabalhar durante o dia.<br />

Como mulher, eu quero dizer a cada uma de vocês, acreditem na força dos vossos sonhos, na capacidade<br />

de se reinventarem e na importância de persistir. Cada desafio que enfrentarem é uma oportunidade<br />

de crescimento, e cada conquista é uma prova da vossa resiliência.<br />

Não permitam que as circunstâncias definam o vosso destino; vocês têm o poder de moldar as vossas<br />

próprias histórias e a minha destaca a importância da resiliência e do equilíbrio entre trabalho e<br />

estudo. Mesmo diante de desafios, é possível alcançar posições significativas e principalmente<br />

alcançar os sonhos.<br />

Eu amo as borboletas, elas para mim são um símbolo de transformação e de beleza e é assim que<br />

as raparigas devem ser. Enquanto estou fora do trabalho gosto ir às praias, apreciar o pôr do<br />

sol e também me dedico à leitura de bons livros, bem como passar momentos em família.<br />

Cada desafio que enfrentarem<br />

é uma oportunidade de crescimento,<br />

e cada conquista é uma prova<br />

da vossa resiliência.<br />

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JOCELYNE GONÇALVES<br />

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS<br />

Jocelyne Gonçalves<br />

Chamo-me Jocelyne Gonçalves, nasci e cresci na Cidade da Beira, província de Sofala, sou formada<br />

em Contabilidade e Auditoria pela Universidade Católica de Moçambique-Faculdade de Economia e<br />

Gestão, trabalho no Parque Nacional da Gorongosa no Departamento de Finanças e estou feliz por<br />

partilhar a minha história com vocês.<br />

Aos meus 18 anos eu tive que estudar e trabalhar em simultâneo, ou seja, eu trabalhava durante o<br />

dia e estudava no período pós-laboral e fazia isso para ajudar os meus pais em algumas despesas da<br />

faculdade como transporte, cópias, propinas entre outras necessidades. Eu sou a mais nova de duas<br />

irmãs, passámos por muitas dificuldades, os meus pais não tinham condições para pagar um transporte<br />

escolar ou até mesmo público, percorríamos a pé para escola, uma distância aproximadamente de 4<br />

km e fazíamos isso todos os dias. Ganhei uma bolsa na escola por um certo período, o que me ajudou<br />

bastante. Naquela altura apenas a minha mãe trabalhava, o meu pai havia sofrido um acidente e teve<br />

de deixar de trabalhar.<br />

O que mais marcou a minha fase de adolescência com certeza foram as dificuldades que passamos<br />

em família embora as tenhamos superado. Mas a morte do meu pai foi algo que também foi muito<br />

significativo para a minha família. Eu tinha 17 anos de idade e tive de tomar decisões importantes<br />

sobre meu futuro. E cada passo que dou minha vida, me lembro dos ensinamentos dele.<br />

Actualmente, ser uma mulher profissional também tem seus desafios, acredito que cada uma de<br />

nós enfrenta preconceitos de género, precisamos de provar o nosso valor e as nossas capacidades.<br />

Claramente que além de profissionais somos mulheres, mães, filhas e esposas, corajosas e com<br />

possibilidades infinitas de termos um futuro melhor.<br />

É muito importante conseguirmos motivar outras mulheres especialmente as meninas da Zona de<br />

Desenvolvimento Sustentável do Parque Nacional da Gorongosa, que estão em fase de desenvolvimento,<br />

porque mesmo para nós chegarmos aqui hoje tivemos uma motivação.<br />

A minha mensagem é para elas, todas nós passamos por dificuldades, por isso, “lembrem-se de serem<br />

fortes e guerreiras, o medo jamais deve ser a razão da vossa desistência e quando uma mulher se levantar,<br />

todas devemos fazer o mesmo, não sintam medo de lutar por vocês, porque o melhor ainda está por vir”.<br />

Gosto de animais e o meu favorito é o cão, desde pequena tive essa conexão. A minha mãe sempre<br />

diz que comecei a dar os primeiros passos ao lado do nosso cão que se chamava Bobi, porque estava<br />

sempre ao meu lado. Hoje tenho dois cães que se chamam Maktub e Nala. Passo o meu tempo livre<br />

com eles e na companhia da família, também gosto de ler, escrever e cuidar da minha horta.<br />

Não sintam medo de lutar por vocês,<br />

porque o melhor ainda está por vir.<br />

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SHARON WENG SAN<br />

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS<br />

Sharon Weng San<br />

Olá, chamo-me Sharon Weng San, tenho 24 anos de idade, nascida e criada na cidade da Beira. Tenho<br />

4 anos de experiência no mercado de trabalho, sou contabilista de profissão e sou uma pessoa que<br />

gosta muito de explorar o mundo e conhecer novos lugares e novas culturas. Actualmente trabalho no<br />

Parque Nacional da Gorongosa como Assistente de Contabilidade, faço actividades relacionadas com<br />

“contas a pagar” e tenho muitas responsabilidades.<br />

Quando comecei a trabalhar, o meu nível de confiança era muito baixo, eu não conseguia ser firme,<br />

mas se tem uma coisa que eu aprendi com a minha experiência de trabalho no passado, foi que não<br />

devemos nos deixar intimidar, por vezes nós mesmas criamos energias negativas e nos achamos<br />

pequenas e no entanto, tal como as abelhas, apesar de tão pequenas que são elas fazem um grande<br />

trabalho na natureza e assim que devemos ser e pensar.<br />

Com o passar do tempo, veio a confiança e mudança na forma de ser e estar e hoje eu posso dizer que<br />

sou respeitada pelo meu trabalho.<br />

Bem antes, trabalhei como assistente administrativa numa empresa e eu era a única mulher, fazia<br />

pagamentos e supervisionava homens adultos, eu tinha apenas 19 anos de idade e todos as pessoas<br />

olhavam para mim e se questionavam, alguns até tentavam me intimidar. Eu chorava, mas depois<br />

levantei a cabeça, eu descobri que existe uma força dentro de mim e que poderia usá-la para me<br />

manter firme. E, foi assim que percebi que nunca devemos deixar que a visão das pessoas afectem o<br />

nosso trabalho, mas sim trabalhar muito e aprender todos os dias para que ninguém possa duvidar das<br />

nossas capacidades.<br />

Os momentos da minha infância e da adolescência foram marcadas por boas amizades, enquanto<br />

criança, eu gostava de brincar com os meus primos, fazer jogos como a “mata mata, flecha, cheia, neca”<br />

e ficar com o meu avó. A medida em que fui crescendo tive que fazer escolhas, a fase da adolescência<br />

é um momento de descoberta e é onde queremos experimentar tudo e pequeno deslize pode custar<br />

um futuro melhor. Eu sou grata por encontrar pessoas que me ajudaram a percorrer um bom caminho.<br />

Para as raparigas, eu digo muita gente vai ter opiniões sobre a vossa visão do futuro, mas só vocês<br />

podem moldar isso. Se for para sonhar, sonhem alto, como mulheres irão sempre questionar-vos<br />

sobre as vossas escolhas e irão fazer perguntas como por exemplo porque pretendes continuar com os<br />

estudos? Idade está a passar e o casamento? Nestes casos bloqueiem o mundo exterior e foquem-se<br />

nos vossos objectivos.<br />

Para as raparigas, eu digo muita<br />

gente vai ter opiniões sobre<br />

a vossa visão do futuro, mas só<br />

vocês podem moldar isso.<br />

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SUZETE BERNARDO ANTÓNIO PACAMISSO<br />

ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS<br />

Suzete Pacamisso<br />

Eu sou a Suzete Bernardo António Pacamisso e sou formada em Economia. Trabalho no Parque<br />

Nacional da Gorongosa desde 2021 onde sou Assistente de Tesouraria e trabalho com o sistema<br />

Primavera no lançamento de dados e comprovativos de pagamentos, gestão de justificativos e<br />

interação com fornecedores dos produtos para a empresa.<br />

Como mulher eu percebo que podemos desempenhar várias funções ainda que sejam difíceis, nós<br />

podemos fazer diferença em qualquer área que nos for indicada para trabalhar, somos capazes e<br />

podemos chegar muito longe com zelo e dedicação.<br />

Durante o meu percurso académico, fiz alguns cursos profissionalizantes como Administração,<br />

Inquéritos, Empreendedorismo e Saúde Sexual Reprodutiva e enquanto adolescente, gostava de<br />

praticar o desporto e participar em grupos de estudos na escola e grupos de jovens na igreja.<br />

Eu também amo a natureza, os meus animais favoritos são os gatos, gosto deles porque não<br />

crescem muito e são limpos. Nas horas livres gosto de passar o tempo a descansar ou estar<br />

com meus irmãos da igreja, fazendo actividades recreativas e aprender diferentes temas<br />

sobre a vida.<br />

Todos os dias eu procuro encontrar equilíbrio naquilo que faço e pretendo no futuro<br />

continuar a estudar e ensinar as outras pessoas.<br />

Todos os dias eu procuro encontrar<br />

equilíbrio naquilo que faço e pretendo<br />

no futuro continuar a estudar<br />

e ensinar as outras pessoas.<br />

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Desenvolvimento<br />

Humano e<br />

Meios de Vida<br />

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LAILA MUSSA OMAR TAJÚ<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO E MEIOS DE VIDA<br />

Laila Tajú<br />

Chamo-me Laila Mussa Omar Tajú, sou natural de Xai-Xai, província de Gaza, terra que me viu crescer<br />

e onde fiz a minha formação em Saúde Pública.<br />

Desde 2022, Trabalho como supervisora de Programa de Alimentação Escolar, no Parque Nacional<br />

da Gorongosa, tenho muitos desafios e um deles é de consciencializar os alunos, primeiramente os<br />

adolescentes sobre a autodependência, benefício da escola e um futuro melhor.<br />

A ideia de alimentação escolar, vem mesmo para reter os alunos na escola, evitar a desistência. Muitas<br />

crianças nas comunidades passam por dificuldades de alimentação e ir para escola de estômago vazio<br />

faz com que eles desistam antes da hora, como se tem dito, “saco vazio não fica em pé”. Precisamos<br />

garantir a boa saúde nutricional dos alunos, através da papas enriquecidos, feitas com base em<br />

ingredientes encontrados localmente incluindo as folhas da Moringa.<br />

Para mim é um grande prazer fazer parte da equipa do Parque, trabalho com uma comunidade<br />

específica e são bons colaboradores, não só, o Parque é o lugar onde tive a oportunidade de aprender<br />

muito sobre a conservação da biodiversidade, algo que só líamos nos livros. Hoje estou em contacto<br />

com a natureza e sei por que devemos conservar o meio ambiente.<br />

O meu trabalho torna-se simples, porque como mulher aprendi desde pequena a cuidar da casa e dos<br />

meus irmãos mais novos, hoje sou mãe e tomo conta dos meus filhos.... Trabalhar com crianças é isso,<br />

é a réplica daquilo que fazemos nas nossas casas e garantir a saúde e o bem-estar.<br />

Ao longo da minha experiência de trabalho, vivenciei um caso em que os pais de uma rapariga<br />

entregaram a sua filha para casar e tive que intervir, fui junto com a direção da escola procurar pelos<br />

líderes comunitários para resolverem o caso, porque aquele não era o sonho da menina, ela foi forçada<br />

a dizer sim...E, graças a intervenção de todos a menina voltou para casa e continuou a estudar.<br />

Para mim foi muito triste porque a rapariga tinha apenas 13 anos de idade e nem tinha o poder de<br />

decisão. Encorajo as raparigas a denunciarem casos de casamentos prematuros e transformar o<br />

futuro, no final tudo se resume em caneta e papel.<br />

Os gatos são os meus animais favoritos, eles transmitem muita paz e o bem-estar social. No meu<br />

tempo livre gosto de jogar basquetebol e ir ao ginásio e a praia é o meu lugar preferido.<br />

Não escolhemos onde nascer,<br />

mas podemos escolher o que<br />

queremos ser no futuro.<br />

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HELENA FANHEIRO CHICAVA<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO E MEIOS DE VIDA<br />

Helena Fanheiro<br />

O meu nome é Helena Fanheiro Chicava, nasci na Cidade da Beira, no ano de 1984, sou Oficial de<br />

Género no Parque Nacional da Gorongosa.<br />

Durante a sua infância, a minha prioridade era ir para escola, ajudar a minha mãe a fazer o jantar,<br />

brincar com os meus irmãos e minhas amigas no bairro, fazendo piqueniques, jogando à bola e<br />

também ir à praia. Durante 3 anos frequentei as aulas de “ballet”, o que lhe ajudou a interagir com<br />

outras crianças que vinham de diferentes pontos da cidade e assim aprendi a conviver com elas.<br />

Em 2004, quando ingressei no ensino superior, para fazer o ensino de Psicologia Escolar, na<br />

Universidade Pedagógica, na mesma altura decidi aderir a equipa de voleibol dentro da Universidade,<br />

actividade que fiz durante todos os 4 anos da minha formação.<br />

Depois da minha formação comecei a trabalhar em diferentes organizações, onde adquiri muita<br />

experiência de trabalho e de vida também. Em 2021 assinei o meu contrato de trabalho com o Parque e<br />

passei a fazer parte da equipa do Departamento de Desenvolvimento Humano e Meios de Subsistência.<br />

Como oficial de género, trabalho na promoção e integração de mulheres nos processos de<br />

desenvolvimento sustentável da comunidade, implementação de acções que visam consciencializar a<br />

comunidade para a denúncia de casos de violência baseada no género.<br />

Para a efectivação dessa actividade, trabalho com os Comités de Desenvolvimento de Mulheres, o<br />

que tem permitido a partilha de conhecimentos sobre diferentes temas e a abertura de espaço para a<br />

autorreflexão sobre o seu papel no desenvolvimento de suas comunidades.<br />

Eu tenho orgulho do trabalho que faço, porque também sou mulher, eu vejo e sinto o que elas sentem,<br />

eu aprendo com elas e partilho as minhas ideias.<br />

O meu sonho, é ver um dia Moçambique<br />

livre da violência baseada no género,<br />

com homens e mulheres transformados.<br />

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TÂNIA MANHIQUE<br />

DESENVOLVIMENTO HUMANO E MEIOS DE VIDA<br />

Tânia Manhique<br />

Eu sou a Tânia Manhique, Gestora do Programa de Saúde Comunitária, trabalho com os Agentes<br />

Polivalentes e Elementares de Saúde e Brigadas Móveis no Parque Nacional da Gorongosa.<br />

A minha infância, foi como da maioria das crianças, brincava, corria, saltava a corda. O que mais gostava<br />

eram os jogos de grupos, onde podia interagir com outras crianças. Frequentei o ensino primário até à 4ª<br />

classe, a morar perto da escola, com a minha mãe e irmão mais velho. Com 10 anos fui morar com a minha<br />

avó e aí já era longe da escola, fazia 1h e 30 minutos para chegar à escola. Isso nunca me fez pensar em<br />

desistir. Já para o ensino secundário, a escola ficava a 30 minutos de casa.<br />

Foi um desafio enorme, estar a morar com a minha avó e não com os meus pais, passei muitas restrições e<br />

que me faziam sentir inferior e diferente das outras meninas da minha idade. As pessoas riam-se de mim<br />

por causa da forma como me vestia, por não ter tempo para brincar, eu tinha muitas tarefas de casa para<br />

fazer. Tudo isso fez surgir em mim, uma vontade de um dia ser alguém que as pessoas respeitassem.<br />

Aos 11 anos de idade perdi a minha mãe, ficou um vazio grande no peito, e ao mesmo tempo mais força<br />

para continuar e lutar pelo meu futuro. Terminei o ensino médio e, no ano seguinte não consegui entrar<br />

para a faculdade, mas a irmã de uma amiga minha, indicou-me o Instituto de Ciências de Saúde e disse-me<br />

que dali sairia com emprego e assim fiz. Concorri e passei, 2 anos e meio se passaram, eu tive de viajar para<br />

um distrito e estagiar por 6 meses e pela primeira vez saí da cidade de Maputo para morar em outro ponto<br />

onde não conhecia as pessoas. Naquela altura enfrentei muitos desafios, felizmente consegui terminar o<br />

curso e comecei a trabalhar, aos 22 anos de idade e outra vez longe de casa e da família. Com dificuldades<br />

de comunicação, pois a comunidade onde eu estava a trabalhar apenas falava a língua local “changana”.<br />

Precisei me reinventar, aprendi a falar “changana”, e fui trabalhando e ganhando gosto pelo trabalho<br />

comunitário. Mais tarde, abriram uma universidade naquele distrito, pedi ao meu director para estudar a<br />

tarde e trabalhar de manhã, ele aceitou, mas eu muitas vezes não conseguia ir para faculdade, por vezes<br />

ficava até 1 mês sem ir às aulas, mas consegui alcançar o meu objetivo, contei com a ajuda dos meus<br />

colegas que ao fim de semana sentavam comigo e me ajudavam a recuperar a matéria.<br />

Sempre a trabalhar com as comunidades, sensibilizando-as para a mudança de comportamento e<br />

adoptarem hábitos de vida saudáveis. Já em Setembro de 2020, surge a oportunidade para trabalhar no<br />

Parque Nacional da Gorongosa, tive que deixar as minhas filhas em Maputo e aceitar que a Gorongosa<br />

seria o meu novo lar. Elas eram pequenas e precisam-me por perto, mas, com os desafios da vida por vezes<br />

é preciso ir atrás de melhores condições de vida para o futuro delas.<br />

Todas as semanas faço escala de trabalho para as comunidades e é o que mais gosto, eu ensino e também<br />

aprendo com elas, assim garantimos a saúde e o bem-estar de todos.<br />

Não permitam que as dificuldades<br />

vos façam desistir naquilo que acreditam<br />

e não desistam enquanto não<br />

estiverem onde sonhavam chegar.<br />

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59


Conservação<br />

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MARIA JASSE<br />

CONSERVAÇÃO<br />

Maria Jasse<br />

Chamo-me Maria Jasse, Fiscal de Floresta e Fauna Bravia, natural do distrito de Caia, província de<br />

Sofala, tenho 23 anos de idade e sou a fiscal mais nova do Departamento de Conservação do Parque<br />

Nacional da Gorongosa.<br />

Em 2021 fui formada para ser fiscal e, no fim da prova apenas 4 mulheres, incluindo eu, fomos<br />

selecionadas, graduamos e foi para mim um momento marcante da minha vida. Estou feliz pelo meu<br />

trabalho que faço em prol da conservação do meio ambiente e decidi continuar com os meus estudos,<br />

estou a formar-me em Gestão Ambiental.<br />

Na minha infância eu gostava de jogar à bola e fazia parte de uma das equipas distritais de desporto,<br />

sempre fui uma boa atleta e isso ajudou-me tanto para o sucesso da minha formação de fiscal, os<br />

treinos se tornaram mais simples para mim.<br />

Quando eu estava a fazer a 10ª classe, chumbei por causa de brincadeiras, chorei muito porque as<br />

minhas amigas já estavam a avançar, os meus pais aconselharam-me a pensar seriamente no meu<br />

futuro e nos estudos, eles diziam que se eu continuasse a brincar, o meu futuro estaria comprometido.<br />

Apesar disso, incomodava-me ver meninas da mesma idade que eu grávidas, andando de um lado para<br />

outro pela vila, sem ir para escola e eu me questionava como é que “uma criança cuidaria de outra<br />

criança”, é necessário ter a capacidade própria de sustento e isso só será possível com caneta e papel.<br />

“Nos dias actuais, os homens tendem a preferir mulheres que ainda não tenham crianças, para juntos<br />

começarem a sua história e tendem a rejeitar a paternidade, e em muitos casos destes as mulheres<br />

continuam em casa dos seus pais enquanto crescidas, sem rumo”, disse Maria.<br />

Durante as minhas actividades de patrulha, gosto de ver aves e o meu maior sonho é ver zebras, elas<br />

ficam em zonas muito distantes e espero avistá-las num destes dias.<br />

Eu não desejaria que nenhuma<br />

rapariga se casasse cedo.<br />

Depois da formação haverá<br />

tempo para formar família.<br />

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JUDITE JIPE<br />

CONSERVAÇÃO<br />

Judite Zipe<br />

Chamo-me Judite Daniel Zipe, sou Fiscal de Floresta e Fauna Bravia, no Departamento de Conservação<br />

do Parque Nacional da Gorongosa, tenho 28 anos de idade e 6 anos de experiência. Como fiscal fui<br />

premiada por duas vezes na categoria “Melhor Fiscal”, o primeiro prémio recebi em 2019 e o segundo<br />

em 2023. Fiquei muito feliz, pois foi um reconhecimento que veio de tanto trabalho e dedicação em<br />

prol da conservação da biodiversidade.<br />

Hoje quero contar-vos sobre os meus desafios futuros e a minha experiência de trabalho como fiscal<br />

primeiro dizer que gosto da selva e é por isso que não me canso de estar no meu posto de trabalho,<br />

eu entendo os benefícios da conservação e gostaria que as outras raparigas também entendessem.<br />

Enquanto rapariga, vi minhas amigas a casarem muito cedo e me davam ideias de poder fazer o mesmo,<br />

mas eu não as escutei e fui a única na minha zona a concluir com os estudos e a formar-me. E apesar<br />

de tudo correr bem não quer dizer que não passei por dificuldades. Depois de eu terminar a 12ª classe<br />

decidi fazer o curso de contabilidade, naquela altura a minha mãe andava triste porque já tinha 3<br />

filhos formados sem nenhum emprego e por causa disso ela queria que ficássemos a fazer machamba.<br />

Não desisti de estudar e foi quando acompanhei que no Parque estavam a recrutar para o sector da<br />

fiscalização eu e os meus irmãos nos inscrevemos, tive que anular a matrícula e me focar no curso de<br />

fiscalização. Durante a formação, eu levei os pesos com apenas um braço pois o outro sentia dores e<br />

quando voltei para casa tinha ferimentos, os meus pés estavam inflamados e outra vez minha mãe queria<br />

que eu desistisse e eu percebi que não mais adiantava voltar para trás, e se alguma coisa acontecesse<br />

meus irmãos estariam ali para me ajudar e felizmente juntos conseguimos concluir com a formação.<br />

Desistir era a minha última opção, claro que meus irmãos choravam a me ver sofrer, ao mesmo tempo<br />

davam-me forças para poder seguir em frente. O meu percurso me fez ser hoje Chefe-adjunta de<br />

Operações, eu e os meus colegas fazemos a monitoria das equipas, planificamos as actividades de<br />

campo e também fazemos patrulhas.<br />

O meu animal favorito é o Elefante, gosto deles por serem tão sociais e fortes. Hoje estou a continuar<br />

com os estudos, fazendo o ensino superior em Administração Pública e com estes prémios me sinto<br />

cada vez mais motivada e inspirada para continuar a trabalhar. Olho para um futuro com muitas<br />

realizações e espero ver o Parque Nacional de Gorongosa com muitas mulheres envolvidas e a<br />

trabalhar no sector da fiscalização.<br />

Apesar de uma rotina exigente, gosto também de aproveitar os meus dias de descanso para conversar<br />

com os meus amigos, escutar música, ler a Bíblia e também fazer outras tarefas de casa. As raparigas<br />

devem estudar muito, respeitar o ensinamento dos seus pais, porque todo o processo de ensino<br />

começa em casa e uma pequena falha pode quebrar o futuro.<br />

As raparigas devem estudar muito,<br />

respeitar o ensinamento dos seus pais, porque<br />

todo o processo de ensino começa em casa e<br />

uma pequena falha pode quebrar o futuro.<br />

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Operações<br />

e Logística<br />

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FELI MSAYA<br />

OPERAÇÕES E LOGÍSTICA<br />

Feli Msaya<br />

Chamo-me Feli Msaya, natural de Zimbabwe, província de Mutare, tenho 38 anos de idade e sou<br />

Gestora de Frotas no Parque Nacional da Gorongosa, Moçambique.<br />

Em 2004 terminei o meu ensino médio e ingressei no Instituto para fazer o curso de contabilidade, mesmo<br />

depois de concluir não parei, continuei a estudar e tempo depois, consegui um trabalho numa empresa no<br />

sector do turismo, depois passei para a recepção onde fazia reservas e dava acompanhamento a todos os<br />

hóspedes que vinham visitar-nos. E, por apresentar bom desempenho e dedicação, fui promovida para ser<br />

assistente do Gestor do Turismo.<br />

Ganhei muita experiência de trabalho e em 2018, passei a fazer parte da equipa do Parque Nacional da<br />

Gorongosa, fui contratada para o cargo de Gestora de Administração, tive muitos desafios naquela época,<br />

alguns homens não acreditavam que eu pudesse fazer o trabalho e fui uma das primeiras mulheres a estar<br />

em posições altas de trabalho. Os Gestores dos diferentes sectores eram apenas homens.<br />

Como Gestora de Administração, eu cuidava de todos os expedientes desde a organização e envio<br />

de documentos para o escritório da Beira, registo de pedidos de dinheiro o que chamamos de “Petty<br />

Cash”, e mais...Já em 2022 passei para a Gestão de Frotas, onde faço o registo de cada viatura que sai<br />

para o campo e dou assistência aos motoristas.<br />

Sair de Zimbabwe para Moçambique, foi para mim uma experiência boa, tenho estado a conhecer o<br />

país e as suas culturas e também a aprender a língua oficial Portuguesa. No princípio senti saudades de<br />

casa, eu tinha dificuldades de me comunicar com os colegas, mas a língua local falada em Zimbabwe<br />

que também tem semelhança com as línguas faladas na Zona Centro de Moçambique, facilitou o meu<br />

processo de interação.<br />

Sou mãe de 3 crianças e estar aqui a trabalhar e principalmente sendo numa área de conservação é<br />

desafiador, mas o que conforta é que temos uma clínica e médicos para nos cuidar quando ficamos doentes.<br />

Na minha infância gostava de brincar no rio, com os meus amigos, foi lá onde aprendi a nadar e também<br />

estudei numa escola onde tinha uma piscina e eu praticava a natação e o que posso dizer o céu é o limite.<br />

Eu preciso crescer em idade e também preciso de crescer na minha carreira profissional, por isso estou a<br />

continuar a estudar e a preparar o meu futuro.<br />

O meu animal favorito é o Hipopótamo...<br />

Gosto do meio ambiente e de toda a vida selvagem...<br />

Nos tempos livre gosto de ler e cuidar da minha família...<br />

Eu preciso crescer em idade e também<br />

preciso de crescer na minha carreira<br />

profissional, por isso estou a continuar<br />

a estudar e a preparar o meu futuro.<br />

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ASIYA CYNTHIA PASCOAL MANHICE<br />

OPERAÇÕES E LOGÍSTICA<br />

Asiya Manhice<br />

Chamo-me Asiya Cynthia Pascoal Manhice, Moçambicana de 26 anos de Idade, Natural da Beira<br />

província de Sofala, sou mãe e tenho 3 filhos. Sou formada em Ciência Política e Relações<br />

Internacionais pela Universidade Católica de Moçambique e hoje conto com 8 anos de experiência<br />

de trabalho na área da logística e aquisição.<br />

Para melhorar o meu desempenho tecnológico fiz um curso básico de informática e reparação<br />

de computadores no Centro de Formação Padre Cirilo. A minha trajetória na área de logística<br />

e aquisição começa em 2019, quando fiz os meus primeiros trabalhos numa Organização Não<br />

Governamental e com o fim do projecto, procurei outras oportunidades onde andei por diferentes<br />

projectos. Depois desse longo percurso, já em 2020 juntei-me à equipa do Parque Nacional da<br />

Gorongosa.<br />

Ganhei a maturidade muito cedo, eu era uma adolescente, tive os meus filhos no momento<br />

inesperado e com isso veio muita responsabilidade, o que me fez ver a vida de uma outra forma,<br />

quase tive um futuro interrompido e graças ao meu esforço isso não aconteceu, passei a dedicarme<br />

aos estudos ao mesmo tempo em que procurava trabalha para conseguir dar alimento aos<br />

meus filhos.<br />

Gosto muito de animais e isso aumenta a minha paixão de poder trabalhar para o Parque, gosto<br />

das águias porque para além de serem lindas e corajosas são batalhadoras. Quando dizem que<br />

as águias não sentem medo, isso me torna cada vez mais forte. Elas enfrentam tempestades ou<br />

uma presa maior que elas, constroem os seus ninhos em árvores gigantes, não só com o propósito<br />

de proteger as suas crias de predadores, mas também de as preparar para o que lhe espera pela<br />

frente.<br />

Nós mulheres e raparigas devemos ser fortes como a águia, enfrentar cada desafio com sucesso<br />

ainda que seja difícil.<br />

No meu tempo livre gosto de ver filmes e passar tempo com a família, cresci assistindo filmes,<br />

no tempo passado o meu pai tinha um cinema do sistema analógico no quintal e passava filmes<br />

e todo este amor pelo cinema passou a me chamar de Cynthia, que é o nome de uma atriz de um<br />

filme de acção.<br />

Nós mulheres e raparigas devemos<br />

ser fortes como a águia, enfrentar<br />

cada desafio com sucesso ainda<br />

que seja difícil.<br />

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TERESA ZUNGUZE<br />

OPERAÇÕES E LOGÍSTICA<br />

Teresa Zunguze<br />

Chamo-me Teresa Julião Zunguza, natural de Inhambane, tenho 28 anos de idade. Comecei a trabalhar<br />

para o Parque Nacional da Gorongosa em 2018, quando abriram um concurso para estagiários no<br />

Sector dos Serviços Alimentares, onde estagiei por 3 meses.<br />

Antes de vir ao Parque já havia passado por uma formação de 6 meses em culinária e também foi<br />

formada como professora pela ADPP de Lamego, mas nunca quis dar aulas. Também trabalhei como<br />

padeira e depois como pessoal de Publicidade e Marketing na Instituição de Formação Profissional<br />

Young Africa, incentivando os jovens a aderirem às pequenas formações.<br />

Para mim trabalhar no meio de muitos homens sendo a única mulher, não é maçador, mas o que torna<br />

difícil é o número de trabalhadores a quem temos que servir alimentos diariamente. Nestes casos, a<br />

qualidade da alimentação vem em primeiro lugar, eu posso dizer que é uma grande responsabilidade,<br />

até já pensei em desistir porque o trabalho de cozinha é muito forte, mas ao mesmo tempo olhei<br />

para a minha paixão e as minhas habilidades, a cozinha faz parte da minha vida diária. Pensamentos<br />

de desistência aparecem sempre que sentimos saudades da família, mas ao mesmo tempo nos<br />

lembramos que temos de crescer. Eu fui responsável por cuidar dos meus irmãos mais novos e tenho<br />

de me esforçar e ser um exemplo para eles. Hoje estou a formar a minha família.<br />

Estar a trabalhar para o Parque despertou o meu interesse pela conservação e pelos animais que aqui<br />

vivem, entender a diversidade de espécies e sua importância para a natureza está a ser algo muito<br />

interessante, eu sou apaixonada por formigas e sempre acreditei que são animais da sorte e aprendi<br />

estando aqui que elas fazem um grande trabalho no ecossistema.<br />

Eu sei que na vida passamos por muitos obstáculos, mas eu quero dizer para as mulheres e<br />

principalmente às raparigas que enquanto crescermos, iremos ficar distante da família, mas o que<br />

importa é procurar tempo para ligar, saudar e diminuir a saudade. Quando vou de folgas, já em casa<br />

gosto de escutar música enquanto faço as minhas tarefas de casa, por vezes ler um bom livro de<br />

histórias e passear pela cidade com a minha família.<br />

Tive primas que casaram cedo, deixaram de estudar por influência familiar, as minhas tias vinham<br />

para casa e falavam sempre de casamento e nem queriam saber de escola e eu sempre cresci longe<br />

da minha família, talvez isso me tenha ajudado bastante. Pretendo continuar com estudos, construir<br />

a minha casa e preparar o meu caminho e espero que as raparigas saibam apoiar-se umas às outras e<br />

que cada uma delas seja um espelho para o futuro.<br />

Eu sei que na vida passamos por<br />

muitos obstáculos, mas o que importa<br />

é procurar tempo para ligar e saudar.<br />

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EU SOU UM MODELO<br />

COMPLETE A FORMA<br />

Eu chamo-me<br />

Eu tenho<br />

anos.<br />

Quando crescer eu quero ser<br />

O melhor de viver na minha comunidade é<br />

QUAL É O SEU CONSELHO?<br />

Meu animal favorito é<br />

Minha planta favorita é<br />

Minha cor favorita é<br />

Minha brincadeira preferida é<br />

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MULHERES MODELO DA GORONGOSA<br />

SEGUNDA EDIÇÃO<br />

Agradecimentos:<br />

Brett Kuxhausen, Gilbertas Grunewald, James Byrne, Janado Cher, Miguel Lajas, Nuno Cardoso,<br />

Piotr Naskrecki, Vasco Galante and Wild Elements Foundation.

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