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SCMedia News | Revista | Março 2024

A revista dos profissionais de logística e supply chain.

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<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

Mensal · 4,60€<br />

50<br />

Escassez de Recursos Humanos<br />

LOGÍSTICOS<br />

PROCURAM-SE!<br />

ELA Awards<br />

Solução de<br />

Blockchain ganha<br />

prémio do ano<br />

Efficio<br />

Portugal<br />

Entrevista com<br />

Wolfgang Rueth<br />

Conferência<br />

Intralogística<br />

A tecnologia<br />

veio para ficar<br />

Frotcom e<br />

Interfreight<br />

Logistics<br />

Um caso de sucesso


Supply Chain Magazine 3<br />

EDITORIAL<br />

dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />

Dora Assis<br />

QUO VADIS JORNALISMO?<br />

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer<br />

que se publique. Tudo o resto é publicidade.”<br />

Autor desconhecido<br />

Já todos nos habituámos a notícias de despedimentos<br />

em órgãos de informação ou<br />

assistimos à morte de projetos editoriais. E<br />

todos nós, jornalistas, conhecemos alguém com<br />

quem trabalhámos, com quem já nos cruzámos<br />

ou que nos habituámos a ler, que de um momento<br />

para o outro ficou no desemprego. É que<br />

na generalidade têm sido os jornalistas a pagar<br />

a fatura de um negócio que está em acelerado<br />

processo de mudança há mais de 20 anos. São<br />

pessoas, pessoas como nós, que todos os meses<br />

levamos até si esta revista.<br />

Pessoas que escolheram como profissão<br />

informar os outros. Ajudar, através da informação,<br />

outras pessoas a tomar melhores decisões,<br />

decisões fundamentadas, esclarecidas. Na era das<br />

fake news, da desinformação, da contra informação,<br />

o jornalismo sério desempenha uma função<br />

primordial na sociedade.<br />

É um negócio que está em mudança há mais<br />

de 20 anos e em que fomos assobiando para o<br />

lado, como se não se passasse nada. E claro que<br />

as audiências, os leitores, as pessoas para quem<br />

produzimos informação, foram-se transferindo<br />

mais e mais e mais para sites, redes sociais, agregadores...<br />

e quando se começou a reconhecer<br />

que afinal passava-se alguma coisa, muitos foram<br />

acometidos pela demência do share, do click, do<br />

like, da visualização, que nos vão levando vertiginosamente,<br />

a cada dia, para um buraco negro.<br />

Rigor, isenção, transparência, objetividade, são<br />

fundamentais para levar a quem está desse lado<br />

aquilo que espera: a verdade. A matéria-prima<br />

que necessita para alimentar a sua sede de conhecimento<br />

e informação. Mas a verdade hoje é<br />

tão filtrada, manipulada, duplicada e repetida que<br />

é impossível olhar para os media sem ficarmos<br />

preocupados.<br />

14 de março de <strong>2024</strong> ficará para a história. Foi<br />

a segunda paralisação do setor em 40 anos. A<br />

última greve geral de jornalistas tinha sido em<br />

1982. Uma coisa ficou clara: é por tudo o que está<br />

mal no jornalismo que é crucial ajudar o bom<br />

jornalismo a sobreviver, vingar e progredir. Para<br />

bem de todos.<br />

Acreditamos que no caso dos nichos de mercado<br />

- pasme-se! – o papel ainda pode ter um<br />

futuro. Um futuro assente na qualidade e na elevada<br />

exigência dos nossos leitores, que querem<br />

profundidade e alternativas de informação que<br />

vão além do instantâneo digital.<br />

A nossa convicção? Apenas uma: a boa<br />

informação, o bom jornalismo, como as boas<br />

empresas, as boas marcas e os excelentes<br />

profissionais têm sempre lugar. É verdade que<br />

a imprensa tem que repensar modelos de negócio<br />

e encontrar formas mais criativas de criar<br />

valor. O caminho não passa pela desvalorização<br />

do digital, mas sim por uma estratégia integrada<br />

que faça sentido para quem lê e quer estar bem<br />

informado. E é aí que se situa o compromisso<br />

que assumimos.


4<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

ÍNDICE<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

INTRALOGÍSTICA<br />

06 Bacalhau representa 36% do<br />

total exportado da Noruega<br />

para Portugal<br />

LOGÍSTICA<br />

34<br />

34 “Somos mais do que um espaço<br />

de exposição”<br />

36 A tecnologia veio para ficar<br />

08<br />

08 <strong>2024</strong> é um ano pouco novo para a<br />

supply chain<br />

14 Inovação: da embalagem ao<br />

transporte<br />

16 Solução de Blockchain ganha<br />

prémio do ano<br />

PROCUREMENT<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

44 Papel e cartão entre os mais<br />

reciclados<br />

44<br />

TECNOLOGIAS<br />

20<br />

20 Missão: transformar a gestão de<br />

compras e o procurement<br />

28 Entrevista Efficio<br />

32 “3 perguntas a”: Fábio Pinheiro<br />

46 Aprender com os erros<br />

46


Supply Chain Magazine 5<br />

TRANSPORTES<br />

CARREIRA<br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

PONTO DE VISTA<br />

50<br />

50 Interfreight Logistics: um caso de<br />

sucesso<br />

54 Rumo a um futuro seguro: como a<br />

tecnologia protege os portos<br />

56 Brinde a um futuro sustentável<br />

58 Supply Chain no ADN: Pedro Paiva<br />

60 Logísticos procuram-se!<br />

76 A importância da integração<br />

estratégica dos sistemas<br />

de informação na cadeia de<br />

abastecimento<br />

78 Uma solução de gestão chamada<br />

“Interim Management”<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Sede editor, Administração e Redação<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68<br />

– São Francisco 2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

Direção Geral<br />

Filipe Barros<br />

Diretora<br />

Dora Assis<br />

Coordenadora Editorial<br />

Ana Paiva<br />

Redação<br />

Bruna Manguito, Fábio Santos<br />

Design Gráfico & Paginação<br />

PAR Design<br />

Sales manager<br />

Samantha Casas<br />

Marketing Digital<br />

Margarida de Vasconcelos<br />

Events Support<br />

Katline Costa<br />

Impressão<br />

VASP DPS<br />

MLP – Quinta do Grajal,<br />

Venda Seca<br />

2739-511 Agualva Cacém<br />

Tiragem<br />

3 mil exemplares<br />

Propriedade<br />

SC Media Unipessoal, Lda.<br />

Al. Júlio Dinis, n.º 68 – São Francisco<br />

2890-307 Alcochete<br />

T: 210 499 074<br />

NPC_ 514 707 143<br />

E: geral@supplychainmagazine.pt<br />

W: supplychainmagazine.pt<br />

Estatuto Editorial<br />

www.supplychainmagazine.pt/estatutoeditorial/<br />

Capital Social<br />

100,00€<br />

Participações sociais<br />

Susana Silva<br />

Administração<br />

Filipe Barros<br />

Registo na ERC n.º<br />

127322<br />

Depósito Legal n.º<br />

458604/19<br />

Os artigos assinados apenas veiculam<br />

a posição dos seus autores.<br />

Interdita a reprodução de textos e imagens<br />

sem autorização expressa.


6<br />

FACTOS & NÚMEROS<br />

Exportação<br />

BACALHAU REPRESENTA<br />

36% DO TOTAL EXPORTADO<br />

DA NORUEGA PARA PORTUGAL<br />

Em 2023, a Noruega exportou cerca<br />

de 124.000 toneladas do seu bacalhau<br />

para Portugal, o que equivale<br />

a 36% do total exportado, segundo os<br />

dados do Norwegian Seafood Council<br />

(NSC).<br />

No final do ano passado, o NSC indicou<br />

à Agência Lusa que as exportações de<br />

bacalhau (inteiro) salgado e seco da Noruega<br />

para Portugal atingiram as 17.915<br />

toneladas, uma quebra de 15% face a<br />

2022, mas o preço subiu 16%.<br />

Por sua vez, as exportações de bacalhau<br />

salgado chegaram às 17.836 toneladas,<br />

menos 4%, com o preço a crescer 24%. As<br />

exportações de bacalhau congelado fixaram-se<br />

nas 2.877 toneladas, um recuo de<br />

7%, sendo que o respetivo valor também<br />

subiu 24%.<br />

Já o bacalhau fresco/refrigerado da Noruega,<br />

veio em 922 toneladas para Portugal,<br />

o que se traduziu numa diminuição<br />

de 63%, mas o preço cresceu 30%.<br />

O NSC relembra que, no corrente ano, as<br />

quotas de pesca de bacalhau sofreram<br />

um corte de entre 20% e 25%, alcançando<br />

218.000 toneladas. “Isto representa<br />

um desafio para os compradores que<br />

terão de fazer face à grande competitividade<br />

dada a menor disponibilidade da<br />

espécie”, refere.<br />

De acordo com esta fonte, em <strong>2024</strong>, a<br />

tendência deverá recair, à semelhança<br />

do ano passado, sobre o consumo de<br />

bacalhau crescido, “dada a abundância<br />

desta categoria”.


8<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

LOGISTICA<br />

Desafios na cadeia<br />

de abastecimento<br />

Texto: Dora Assis<br />

<strong>2024</strong> É UM ANO<br />

POUCO NOVO<br />

PARA A SUPPLY<br />

CHAIN<br />

Após anos sucessivos de perturbações<br />

sem precedentes na supply<br />

chain, <strong>2024</strong> continua a não dar<br />

tréguas aos gestores da cadeia<br />

de abastecimento e promete não<br />

lhes fazer a vida fácil. O alerta é de<br />

Carlos Cordon, professor do IMD,<br />

no artigo publicado na revista do<br />

Institute for Management Development,<br />

que chama a atenção para<br />

cinco aspetos a que quem gere a<br />

supply chain deve estar atento.<br />

Os líderes da cadeia de abastecimento<br />

nunca passaram por uma<br />

situação tão difícil. A COVID-19<br />

causou perturbações sem precedentes<br />

e foi seguida de perto pela invasão da<br />

Ucrânia pela Rússia, que teve um impacto<br />

direto no fornecimento de matérias-primas<br />

e provocou um aumento<br />

dos preços da energia, fazendo disparar<br />

globalmente a inflação.<br />

Segundo reflete o académico na publicação<br />

do IMD, com os desafios atuais e<br />

os novos que se perfilam no horizonte,<br />

quem esperava pela bonança já em <strong>2024</strong><br />

tem fortes probabilidades de ficar desapontado.<br />

Vamos ver porquê.<br />

Em primeiro lugar, continuam a fazer-<br />

-se sentir as consequências das perturbações<br />

na cadeia de abastecimento. Os


Supply Chain Magazine 9<br />

produtores e retalhistas de todo o mundo<br />

esperavam que, em <strong>2024</strong>, as cadeias<br />

de abastecimento regressassem finalmente<br />

às rotinas estáveis da era pré-CO-<br />

VID-19. Infelizmente, nessa ótica, o ano<br />

pouco trouxe de novo e tem-se vindo a<br />

assistir a uma espiral de custos logísticos<br />

devido aos confrontos militares no Mar<br />

Vermelho, importante rota de comércio<br />

global.<br />

Volatilidade e incerteza<br />

Os efeitos desta volatilidade continuarão<br />

a repercutir-se em toda a economia<br />

mundial, diz Carlos Cordon, e “embora<br />

exista um desejo generalizado de regressar<br />

a um sistema em que grossistas e<br />

retalhistas acordem preços por períodos<br />

prolongados, esta continuará a ser uma<br />

área da economia que coloca grandes<br />

desafios”. O académico dá o exemplo<br />

de França, onde a prática consiste em<br />

fixar anualmente os preços dos produtos<br />

alimentares através de um processo de<br />

negociação. E explica que o grupo Carrefour<br />

teve um conflito com o (agora antigo)<br />

fornecedor PepsiCo. Como resultado,<br />

o Carrefour recusa-se a armazenar os<br />

produtos da PepsiCo, descrevendo como<br />

“inaceitáveis” os aumentos de preços<br />

propostos por esta última para <strong>2024</strong>. No<br />

ano passado, uma disputa semelhante<br />

levou o retalhista britânico Tesco a retirar<br />

os produtos Heinz das suas prateleiras.<br />

Os grossistas argumentam que precisam<br />

de se proteger contra a volatilidade contínua<br />

nas suas cadeias de abastecimento.<br />

Os retalhistas insistem que estão a tentar


10<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

“Embora exista um<br />

desejo generalizado<br />

de regressar a um<br />

sistema em que grossistas<br />

e retalhistas<br />

acordem preços por<br />

períodos prolongados,<br />

esta continuará<br />

a ser uma área da<br />

economia que coloca<br />

grandes desafios”<br />

proteger os consumidores e que as suas<br />

próprias margens já sofreram um golpe<br />

substancial em consequência disso. A<br />

adoção de preços mais dinâmicos parece<br />

ser a única forma de ultrapassar esta situação,<br />

sendo que grossistas e retalhistas<br />

poderão ter de aceitar acordos de preços<br />

a mais curto prazo, mesmo que isso não<br />

favoreça nenhuma das partes.<br />

Não menos importante neste contexto<br />

é a crise desencadeada pelo aumento do<br />

custo de vida. O professor do IMD lembra<br />

na sua reflexão que embora a inflação<br />

tenha abrandado consideravelmente em<br />

grande parte da Europa, é provável que<br />

os consumidores (e, em particular, as<br />

famílias) sintam apenas um alívio parcial,<br />

na melhor das hipóteses. Milhões de<br />

europeus, cujos empréstimos hipotecários<br />

a taxa fixa terminam este ano, verão<br />

as suas despesas mensais aumentarem<br />

drasticamente quando forem obrigados<br />

a cumprir as suas obrigações com uma<br />

taxa de juro significativamente mais<br />

elevada.<br />

As empresas que lidam diretamente<br />

com o consumidor serão afetadas de<br />

muitas formas diferentes, mas a situação<br />

no segmento dos supermercados é de<br />

particular interesse. Neste segmento,<br />

muitas organizações estão a questionar<br />

a sensatez das máquinas de pagamento<br />

automático introduzidas. O lançamento<br />

destas máquinas reduziu certamente os<br />

custos de mão de obra e pode ter tido<br />

um efeito positivo no que diz respeito à<br />

comodidade do consumidor, mas os sistemas<br />

de auto-pagamento apresentam,<br />

de facto, maiores oportunidades de furto,<br />

como reflete o professor Carlos Cordon.<br />

“De facto, as taxas de perda nas lojas que<br />

utilizam caixas automáticas são mais<br />

de 20 vezes superiores às das lojas que<br />

utilizam exclusivamente caixas manuais.<br />

Numa altura em que tantos consumidores<br />

se debatem com dificuldades<br />

financeiras, a tentação de omitir discretamente<br />

a leitura de alguns artigos que<br />

vão para os sacos de compras, mesmo<br />

para aqueles que nunca considerariam<br />

a hipótese de furto em circunstâncias<br />

normais, pode ser demasiado forte para<br />

resistir. Os furtos acidentais, em que os<br />

compradores não conseguem, involuntariamente,<br />

digitalizar corretamente os artigos,<br />

também são comuns”, salienta. Em<br />

última análise, a tecnologia mais recente<br />

pode ser a solução, com algumas lojas<br />

a adotarem agora um sistema em que<br />

cestos e carrinhos inteiros podem ser<br />

lidos de uma só vez. Entretanto, alguns<br />

retalhistas estão a recuar na implementação<br />

de caixas automáticas.<br />

Sustentabilidade<br />

e sazonalidade<br />

Este poderá ser o ano em que os<br />

consumidores europeus se verão transportados<br />

de volta a um tempo em que<br />

os produtos fora de época não estavam<br />

disponíveis nas suas lojas locais. O<br />

abandono das cadeias de abastecimento


Supply Chain Magazine 11<br />

alargadas, em que qualquer uma de<br />

uma multiplicidade de peças em movimento<br />

pode dar aos retalhistas uma dor<br />

de cabeça em termos de preços, milita<br />

contra a disponibilidade durante todo<br />

o ano. Muitos retalhistas poderão já não<br />

estar preparados para se abastecerem<br />

junto de produtores geograficamente<br />

distantes.<br />

Do mesmo modo, o pêndulo da sustentabilidade<br />

continua a oscilar. Os defensores<br />

do ambiente continuam a atacar<br />

os retalhistas dispostos a continuar a<br />

deixar uma grande pegada de carbono<br />

ao acumularem quilómetros aos alimentos<br />

que comercializam: o transporte de<br />

alimentos pode agora ser responsável<br />

por um terço das emissões de gases com<br />

efeito de estufa do setor. As ONG continuam<br />

a preocupar-se com as práticas<br />

laborais dos fornecedores sediados nos<br />

países em desenvolvimento. Perante este<br />

cenário, alguns supermercados europeus<br />

estão cada vez mais receosos de oferecer<br />

produtos fora de época. Mesmo que os<br />

fornecedores de países como Espanha,<br />

que investiu muito na produção em<br />

estufa, consigam colmatar a lacuna, os<br />

retalhistas de outros mercados preocupam-se<br />

com a potencial reação negativa<br />

dos clientes que não ficam impressionados<br />

com produtos que duvidam terem<br />

sido produzidos localmente.<br />

A luta entre marcas<br />

Num ambiente económico difícil, as<br />

vendas dos produtos de marca própria<br />

dos retalhistas aumentam quase sempre<br />

à custa das marcas mais caras. A<br />

atual recessão não é exceção, com as<br />

marcas de distribuidor mais uma vez em<br />

ascendência – mas, desta vez, há uma<br />

nova dimensão na dinâmica. “Cada vez<br />

mais, os consumidores não consideram<br />

os produtos de marca de distribuidor<br />

como inferiores: 60% dos compradores<br />

europeus consideram-nos atualmente<br />

de qualidade semelhante à dos produtos<br />

de marca, de acordo com um estudo.<br />

Os consumidores que mudam para as


12<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

“Os consumidores<br />

que mudam para as<br />

marcas de distribuidor<br />

em busca de uma<br />

poupança de custos<br />

podem acabar por<br />

ficar com estes produtos<br />

se sentirem<br />

que há pouco ou nenhum<br />

compromisso<br />

em termos de qualidade,<br />

aumentando<br />

a pressão sobre as<br />

marcas que esperavam<br />

um regresso<br />

à norma assim que<br />

a pressão sobre os<br />

consumidores diminuísse”<br />

marcas de distribuidor em busca de uma<br />

poupança de custos podem acabar por<br />

ficar com estes produtos se sentirem<br />

que há pouco ou nenhum compromisso<br />

em termos de qualidade, aumentando a<br />

pressão sobre as marcas que esperavam<br />

um regresso à norma assim que a pressão<br />

sobre os consumidores diminuísse”,<br />

esclarece Carlos Cordon.<br />

O académico não exclui a possibilidade<br />

de, em <strong>2024</strong>, podermos começar a ver<br />

marcas mais pequenas desaparecerem<br />

definitivamente – ou, pelo menos, serem<br />

postas à venda – porque os fabricantes<br />

decidiram que as suas margens já não<br />

são sustentáveis e que os custos de marketing<br />

são demasiado elevados.<br />

O desafio europeu<br />

do nearshoring<br />

Os fabricantes de setores como o<br />

automóvel e as TI têm um problema no<br />

que diz respeito à Europa. Reconhecem<br />

o imperativo da produção nearshoring<br />

– a pandemia expôs as fragilidades das<br />

complexas cadeias de abastecimento globais<br />

e a excessiva dependência da China<br />

– mas a sua concretização apresenta-lhes<br />

dificuldades práticas.<br />

Na América do Norte, o México oferece<br />

uma base óbvia de baixos custos na proximidade<br />

do importantíssimo mercado dos<br />

Estados Unidos. Na Europa, pelo contrário,<br />

a escolha do local certo para uma nova<br />

fábrica é menos clara. Os elevados custos<br />

laborais nos mercados mais desenvolvidos<br />

são para Carlos Cordon um fator<br />

dissuasor, tal como as incertezas geopolíticas<br />

nos locais periféricos. Na Europa<br />

de Leste, a sombra da crise ucraniana e o<br />

fantasma da guerra é grande e tem peso.<br />

Na Turquia, o risco político continua a aumentar<br />

e a inflação está fora de controlo.<br />

Os mercados do Norte de África também<br />

estão repletos de dificuldades.<br />

O professor do IMD considera que a<br />

Polónia e Portugal possam estar entre<br />

os vencedores, com ambos os países a<br />

lutarem arduamente para atrair os fabricantes<br />

que contemplam uma estratégia<br />

de nearshoring. Mas a concorrência será<br />

dura, o que levará os governos a intervir<br />

com incentivos e até com apoio financeiro<br />

direto. Em <strong>2024</strong>, os fabricantes terão,<br />

portanto, algumas decisões a tomar e<br />

nem sempre o que parece ser a solução<br />

óbvia o é, de facto, já que as regras neste<br />

gigante tabuleiro mudam a uma velocidade<br />

estonteante.<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


14<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

Herdade Vale da Rosa<br />

Texto: Fábio Santos<br />

INOVAÇÃO:<br />

DA EMBALAGEM<br />

AO TRANSPORTE<br />

A Herdade Vale da Rosa, produtor<br />

nacional de uva de mesa, atingiu<br />

um volume de vendas de 4.500<br />

toneladas em 2023, devido a um<br />

aumento significativo da procura<br />

no mercado externo. Hoje, a exportação<br />

já representa 30% do volume<br />

de negócios da empresa de Ferreira<br />

do Alentejo.<br />

No último ano, a Herdade da Rosa<br />

apresentou uma faturação de 19<br />

milhões de euros, considerando que<br />

este resultado teve “um balanço extremamente<br />

positivo, representando mais um<br />

passo na consolidação do negócio e na afirmação<br />

da marca Vale da Rosa, não só junto<br />

do consumidor português, mas também<br />

na conquista de uma fatia cada vez mais<br />

alargada de consumidores internacionais”.<br />

A exportação de uvas Vale da Rosa<br />

tem vindo a ganhar maior destaque na<br />

faturação da empresa, e atualmente é<br />

feita para sete mercados: Reino Unido<br />

(principal mercado), Polónia, França,<br />

Hungria, Países Baixos, Malásia e Hong<br />

Kong, sendo este último o mais recente,<br />

numa operação iniciada no ano passado<br />

e que teve como destaque uma solução<br />

pioneira de transporte.<br />

“Um momento significativo para a Vale<br />

da Rosa foi a abertura de caminhos para<br />

as exportações via aérea. As uvas ganharam<br />

o mercado da Ásia pelas alturas”,<br />

revela António Silvestre Ferreira, adminis-


Supply Chain Magazine 15<br />

trador da Vale da Rosa, “foi por essa via<br />

que Hong Kong recebeu a sua primeira<br />

encomenda de uvas sem grainha produzidas<br />

em solos alentejanos”.<br />

Enviadas por avião, as uvas conseguem<br />

chegar aos mercados mais distantes em<br />

ótimas condições, cumprindo todas as<br />

exigências de qualidade e mantendo o<br />

seu sabor.<br />

De forma a dar continuidade ao<br />

sucesso alcançado, expandiram as<br />

suas operações na Europa e iniciaram<br />

contactos com países árabes, de forma<br />

a chegarem exportações aéreas para a<br />

Arábia Saudita em <strong>2024</strong>.<br />

A Herdade Vale da Rosa também deu<br />

passos importantes para a diversificação<br />

do negócio, apostando na área<br />

da agroindústria. “O foco da linha de<br />

produção é atender especialmente ao<br />

segmento seletivo e exigente dos apreciadores<br />

de produtos gourmet, e a Vale<br />

da Rosa dedica-se a esse propósito com<br />

a filosofia de criar uma linha de produção<br />

de sabor elevado e diferenciado,<br />

exigindo técnicas refinadas e operações<br />

precisas, contando com colaboradores<br />

capacitados”, aponta António Silvestre<br />

Ferreira. “Em 2023 tivemos avanços<br />

significativos, melhorámos a produção<br />

de passas e expandimos a produção de<br />

vinagre balsâmico, que tem como base<br />

uva passa e é envelhecido em tonéis<br />

de carvalho provenientes do vinho do<br />

Porto”.<br />

A sustentabilidade é também um<br />

dos focos da Vale da Rosa, sendo que<br />

terminaram 2023 com a introdução da<br />

embalagem Zero Plástico, uma nova<br />

solução de packaging livre de plástico,<br />

onde investiram cerca de meio milhão<br />

de euros. A solução apresentada consiste<br />

numa película transparente biodegradável,<br />

que apesar da semelhança<br />

com a embalagem convencional,<br />

representa uma alternativa ecologicamente<br />

responsável, reduzindo o consumo<br />

de plástico em aproximadamente<br />

80 toneladas. “Um investimento que<br />

reafirma a consciência Vale da Rosa em<br />

relação à sustentabilidade do planeta<br />

e o seu compromisso de inovação com<br />

máximo respeito e em parceria com<br />

a natureza, 365 dias do ano”, afirma a<br />

empresa.


16<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

LOGÍSTICA<br />

ELA e CargoX<br />

Texto: Ana Paiva<br />

SOLUÇÃO DE BLOCKCHAIN<br />

GANHA PRÉMIO DO ANO<br />

A European Logistics Association (ELA) atribuiu o prémio do ano à CargoX,<br />

pois é através da sua plataforma que a solução de janela única<br />

NAFEZA, que se dedica à digitalização de importações egípcias, que<br />

pode efetuar a transferência de documentos em blockchain, permitindo<br />

transparência através de um processo neutro, descentralizado e seguro.<br />

A ELA e a CargoX explicaram à <strong>SCMedia</strong> <strong>News</strong> em que consiste o projeto<br />

e qual a importância desta distinção.


Supply Chain Magazine 17<br />

AELA é uma organização que<br />

agrega associações nacionais<br />

de logística a nível internacional,<br />

a maior parte dentro da Europa<br />

e algumas nos outros continentes,<br />

e tem contacto com mais de 50.000<br />

profissionais que atuam no setor da<br />

logística. Todos os anos, a ELA atribuí<br />

o “prémio do ano” a projetos de<br />

empresas cujos critérios são avaliados<br />

com base em aspetos substanciais,<br />

excelência da solução e aspetos formais.<br />

“Este prémio representa o ápice<br />

da conquista para todas as empresas<br />

e profissionais envolvidos em logística<br />

e cadeias de abastecimento europeias”,<br />

afirma Mirek Rumler, vice-presidente<br />

da ELA e líder de projeto da<br />

ELA Awards. “Este prémio, que, na<br />

prática, tornará o campeão da Europa<br />

em logística e supply chain em cada<br />

ano, é muito valorizado tanto por indivíduos<br />

como por empresas”, acrescenta.<br />

Além disso, esta distinção oferece<br />

ainda uma “oportunidade única” para<br />

as empresas apresentarem as suas<br />

conquistas e mostrarem a clientes,<br />

concorrentes e colegas que são os<br />

melhores na Europa.<br />

Cada associação só tem direito a<br />

uma inscrição, que é o vencedor da<br />

competição a nível nacional. Assim, as<br />

conquistas logísticas implementadas<br />

na Europa irão competir pelo prémio<br />

enquanto são submetidas a uma avaliação<br />

de um júri internacional composto<br />

por especialistas de logística<br />

nas áreas de comércio, indústria, consultoria,<br />

ciência e serviços de logística.<br />

Na edição deste ano do ELA Awards,<br />

a CargoX foi a grande vencedora.<br />

A plataforma da CargoX permitiu à<br />

NAFEZA, um projeto desenvolvido<br />

pela MTS dedicado à digitalização<br />

das importações egípcias, transferir<br />

documentos em blockchain, verificando<br />

a sua identidade através de um<br />

“ambiente completamente neutro,<br />

descentralizado e seguro”, explica Igor<br />

Jakomin, deputy CEO da CargoX. Este<br />

projeto arrecadou o reconhecimento<br />

de “prémio do ano” pela Associação<br />

de Logística Eslovena, tendo, assim,<br />

qualificado para o “prémio do ano” da<br />

ELA. “A solução da plataforma CargoX<br />

Blockchain Data Transfer (BDT) é utilizada<br />

para processar e transferir documentos<br />

comerciais eletrónicos de<br />

importadores para o Egito, enquanto<br />

fornece verificações de empresas”,<br />

explica o responsável. No Egito, o sistema<br />

para importações é obrigatório<br />

e é utilizado diariamente por cerca<br />

de 120.000 empresas de todo o mundo.<br />

Durante os cerca de três anos de<br />

operação, processou seis milhões de<br />

documentos comerciais eletrónicos e<br />

trouxe “inúmeros benefícios” para importadores,<br />

exportadores e também<br />

para o governo do Egito.<br />

Quanto às melhorias, a janela única<br />

NAFEZA integrou as operações de 29<br />

órgãos estaduais relacionados com<br />

alfândega, tráfego de carga e tributação,<br />

e está a ser utilizado em 30 portos,<br />

aeroportos, portos secos e zonas de livre<br />

comércio aduaneiro no Egito. O tempo<br />

médio de liberação de carga nos portos<br />

foi reduzido de 16 a 29 dias para apenas<br />

3 a 6. Já os custos de conformidade<br />

administrativa para importadores foram<br />

diminuídos de mais de 600 dólares para<br />

cerca de 165, enquanto o governo observou<br />

um aumento de 13% na receita fiscal<br />

apenas no primeiro ano de operação.<br />

De acordo com Igor Jakomin, a plataforma<br />

BDT da CargoX está, atualmente,<br />

a ser utilizada no Egito e está<br />

em processo de implementação no<br />

Uganda e em Abu Dhabi. No Uganda,<br />

a CargoX está a colaborar com a Technology<br />

Associates num consórcio para


18<br />

estabelecer uma plataforma nacional<br />

de facilitação de comércio chamada<br />

TradeXchange. Já a alfândega de Abu<br />

Dhabi lançou recentemente a sua<br />

plataforma digital Trade Chain, que<br />

introduziu tecnologia blockchain nos<br />

seus processos, e está a colaborar com<br />

a CargoX para estabelecer um sistema<br />

de informações antecipadas de carga<br />

com a plataforma BDT.


Supply Chain Magazine 19<br />

“Prova de sucesso”<br />

Xavier Derycke, presidente do júri do ELA<br />

Awards, indicou à <strong>SCMedia</strong> <strong>News</strong> que a<br />

CargoX mereceu o prémio porque “é a<br />

prova de sucesso da aplicação de um processo<br />

de blockchain numa situação muito<br />

delicada, que é o desembarque aduaneiro<br />

dos clientes”. Sobre os fatores que influenciaram<br />

a escolha do júri, o responsável explica<br />

que “o sucesso operacional em larga<br />

escala foi reconhecido pelo júri como um<br />

prémio justo sobre uma parte da supply<br />

chain que é subestimada em muitas ocasiões,<br />

e aqui temos uma excelente visão<br />

sobre um uso real que melhora os serviços<br />

aos clientes numa larga escala”.<br />

A CargoX sente-se “extremamente”<br />

honrada por ter recebido o prémio, e<br />

demonstram a sua gratidão à Associação<br />

de Logística Eslovena por reconhecer as<br />

valências da NAFEZA com a integração da<br />

plataforma. “O nosso sistema foi comprovado<br />

e testado em operações do mundo<br />

real, e este reconhecimento significa que<br />

a tecnologia blockchain segura e neutra<br />

que utilizamos, juntamente com a nossa<br />

abordagem holística para facilitar o comércio<br />

internacional e estabelecer confiança<br />

digital, são o caminho para um futuro mais<br />

interconectado”, refere Igor Jakomin.<br />

A CargoX, em conjunto com a empresa<br />

espanhola de soluções logísticas baseadas<br />

em blockchain, Usyncro, irá levar um<br />

novo projeto ao Congresso de Logística<br />

<strong>2024</strong>, em Portoroz, na Eslovénia, através<br />

do qual irão demonstrar a interoperabilidade<br />

entre as suas plataformas, “traçando<br />

o caminho da interoperabilidade para<br />

toda a indústria”, termina Igor Jakomin.<br />

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20<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

PROCUREMENT<br />

Procurement Conferência<br />

Texto: Fábio Santos<br />

MISSÃO: TRANSFORMAR<br />

A GESTÃO DE COMPRAS<br />

E O PROCUREMENT<br />

O auditório APDL, em Leça da Palmeira (Porto), reuniu no passado dia 22<br />

de fevereiro mais de uma centena de profissionais de compras e procurement,<br />

com um simples propósito: transformar a gestão de compras<br />

e o procurement. A missão foi cumprida por um painel composto por<br />

12 oradores, profissionais do setor, e a quem foi incumbido o desafio de<br />

revolucionar esta área.


Supply Chain Magazine 21<br />

Ao longo de meio dia, os profissionais<br />

olharam para o setor, a evolução<br />

que tem tido, as tendências e…<br />

A humanização da profissão. Foi precisamente<br />

por aí que Isabel Paiva de Sousa,<br />

consultora em gestão de pessoas, iniciou<br />

a tarde de conferências, com o tema<br />

“Competências estratégicas do Negociador:<br />

porquê e para quê? Da preparação à<br />

criação de valor”. Olhando para a própria<br />

natureza humana, defende que “desde<br />

que nascemos que negociamos”, desde<br />

o simples choro de criança com a intenção<br />

de obter algo.<br />

Na própria negociação, Isabel Paiva de<br />

Sousa destaca existirem diversas formas<br />

e níveis de negociação. Negociamos com<br />

empresas, parceiros, equipas, fornecedores<br />

ou clientes, mas também com recursos<br />

humanos, com a board ou com o<br />

marketing. Existem negociações internas<br />

e externas, e com intenções diferentes.<br />

“Sempre que queremos implementar<br />

um novo processo, outra campanha, etc.,<br />

estamos a negociar”.<br />

Por outro lado, desmistifica a ideia de<br />

que a colaboração não faz parte da nossa<br />

essência, o que é visível nos comportamentos<br />

naturais das crianças. É uma<br />

característica que desenvolvemos com o<br />

tempo e com a vida em sociedade. “Nós<br />

somos competitivos, e aprendemos a ser<br />

colaborativos”, afirma.<br />

Seguidamente, Wolfgang Rueth, Head<br />

of Efficio Hub Portugal, e Pedro Barroso,<br />

diretor da Efficio, olharam para as tendências<br />

atuais em diferentes áreas. Com<br />

o tema “Inovar em Procurement com a<br />

Efficio: Tendências atuais nas categorias<br />

de Food, Logística e Metais”, a intervenção<br />

da Efficio analisou a evolução do<br />

mercado e como será o futuro.<br />

Se a pandemia já tinha sido um momento<br />

de renovação da profissão, questões<br />

como as tensões geopolíticas entre<br />

a Rússia e a Ucrânia, baixa demanda<br />

global devido a fatores adversos macroeconómicos<br />

ou mudanças climáticas<br />

adversas extremas, foram alguns dos<br />

temas destacados pelos profissionais.<br />

Assim, deixaram alguns pensamentos<br />

no ar: o que irá voltar ao que era? O que<br />

irá permanecer? E do que aprendemos,<br />

o que será replicável para o futuro e que<br />

práticas deixarão de existir?<br />

“A questão que eu acho que nós temos<br />

de colocar como profissionais de procurement<br />

é se naquilo que aprendemos,<br />

e naquilo que foi diferente nestes dois<br />

anos, se há aqui algumas questões que


22<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

nós podemos adquirir e que podemos<br />

manter, para aquilo que é o futuro de<br />

procurement”, afirmou Pedro Barroso.<br />

Sandra Tavares Magalhães, Lawyer da<br />

Miranda & Associados, deu um enquadramento<br />

legal da contratação pública<br />

sustentável e da sua finalidade através<br />

do tema “Compras públicas sustentáveis:<br />

como envolver o mercado?”.<br />

Ao nível do envolvimento do mercado, o<br />

processo que tem lugar antes da aquisição,<br />

destacou algumas práticas que podem<br />

e devem ser feitas antes da abertura<br />

de um contrato público, como é o caso<br />

de uma consulta preliminar ao mercado.<br />

“O envolvimento do mercado trata-se de<br />

um processo que tem lugar antes de um<br />

procedimento de contratação pública ser<br />

lançado, antes da aquisição ser concretizada<br />

que, em bom rigor, também ocorre<br />

durante e após o processo”, nota a responsável.<br />

“O objetivo é, desde logo, permitir<br />

à entidade pública, o mercado, o que é<br />

que pretende, qual é que é o seu objetivo,<br />

quais são as suas necessidades. Por outro<br />

lado, também lhe permite identificar logo<br />

potenciais fornecedores, em certos produtos,<br />

soluções que eventualmente lhes<br />

possam interessar”.<br />

Sandra Tavares Magalhães destaca, no<br />

entanto, que a consulta preliminar não<br />

pode ter por efeito distorcer a concorrência<br />

ou resultar em qualquer violação<br />

dos princípios da não discriminação e<br />

da transparência, “ou seja, a consulta<br />

preliminar não pode ser utilizada para<br />

distorcer ou desvirtuar a concorrência, os<br />

resultados da consulta não podem servir<br />

para conferir uma vantagem desleal a<br />

nenhum dos operadores económicos<br />

que nela tenham participado e devem<br />

ser tomadas medidas que garantam a<br />

integridade, por exemplo, que a mesma<br />

informação seja facultada a todos os operadores<br />

económicos que nela participem”.<br />

A responsável apontou algumas formas<br />

de preparação para o envolvimento do<br />

mercado, métodos para o envolver e<br />

abordou ainda a temática de gestão de<br />

risco.<br />

De seguida, Fernando Belém, Chefe da<br />

Divisão de Aprovisionamento, Lipor, apresentou<br />

o tema “Central de compras da<br />

Lipor – um caso de sucesso”, onde não só


Supply Chain Magazine 23<br />

deu a conhecer como funciona a central<br />

de compras já conta com mais de 40 anos<br />

de existência e é composta por 8 municípios<br />

da região do Grande Porto, sendo que<br />

também aderiram algumas entidades,<br />

totalizando 16 membros.<br />

Ao consolidarem numa única negociação<br />

os diferentes processos, a Lipor consegue<br />

obter vantagens ao nível da economia de<br />

escala, diminuição de custos administrativos<br />

e permite a troca de ideias entre os<br />

elementos da central de compras.<br />

A central de compras conta com<br />

contratos de fornecimento de energia<br />

100% renovável, combustíveis rodoviários<br />

(compensação carbónica), gás natural e<br />

comprimido, subscrição de apólices de<br />

seguro, prestação de serviços de segurança,<br />

higiene e saúde no trabalho e,<br />

mais recentemente, também prestação<br />

de serviços de manutenção de espaços<br />

verdes, de iluminação interior e exterior<br />

com análise do custo de ciclo de vida, e<br />

de serviços de viagem e estadias. Estão<br />

ainda a avançar com um processo de<br />

Aquisição de Fardamento / Vestuário<br />

Têxtil, no qual entrou em maior detalhe<br />

durante a sua apresentação.<br />

André Vaz Silva, Head of sales da WTW,<br />

foi o próximo interveniente a pisar o<br />

palco, olhando para os “Desafios do<br />

procurement na negociação de seguros”,<br />

e para um dos temas constantes dos<br />

profissionais de procurement: o risco.<br />

O responsável explicou como funciona<br />

a contratação de seguros, os diversos<br />

tipos de contratação de seguros, e a sua<br />

volatilidade face às adversidades, mas<br />

também a importância de manter uma<br />

apólice que garante uma maior segurança<br />

no caso de ocorrer alguma eventualidade,<br />

o que tem sido cada vez mais<br />

comum no setor da logística.<br />

“As seguradoras transferem o risco para<br />

os grandes resseguradores e se o preço<br />

que as seguradoras pagam aos resseguradores<br />

está mais alto, isso vai-se refletir<br />

nos vossos prémios. Por outro lado,<br />

questões de regularização de sinistros, se<br />

há uns anos reparar um pequeno sinistro<br />

numa habitação era uma coisa relativamente<br />

simples, hoje custa o dobro. Tudo<br />

isto tem impacto no resultado das apólices,<br />

e consecutivamente nos prémios”,


24<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

explica.<br />

O responsável da WTW destacou ainda<br />

os diferentes tipos de seguros e de contratação,<br />

e as suas vantagens e desvantagens<br />

para fazer face aos momentos de<br />

“hard market”.<br />

Quase a terminar, Vítor Ribeiro Gomes,<br />

CEO da Pendular, Ana Moirinho Barbosa,<br />

Head of Procurement da High Gate,<br />

Luís Vasconcelos, Diretor de Compras<br />

da Comp-RAR – Central de Compras,<br />

e Ricardo Filipe Teixeira, Procurement<br />

Director da Anteros Empreitadas, integraram<br />

uma mesa-redonda moderada<br />

por Miguel Silva, CEO / Senior Partner<br />

da ADMICAMI. O desafio deste painel foi<br />

abordar o tema da conferência: “Missão:<br />

Transformar a gestão de compras e o<br />

procurement”.<br />

Ana Moirinho Barbosa começou por<br />

destacar a diferença existente dentro do<br />

setor entre diferentes áreas de negócio.<br />

Após 15 anos enquanto responsável de<br />

compras da Sonae, a responsável mudou<br />

para a área da hotelaria, onde percebeu<br />

que a função era muito mais transparente,<br />

e onde a troca de experiências e<br />

know-how era algo natural mesmo entre<br />

empresas concorrentes, o que não ocorre<br />

no retalho.<br />

Nesse sentido, Vítor Ribeiro Gomes nota<br />

que muita gente tem apontado que o<br />

Procurement tem uma função absolutamente<br />

estratégica, mas acrescenta<br />

que também é uma função de gestão, e<br />

que é necessário estar enquadrado com<br />

os processos das empresas. “Falta-nos<br />

curiosidade e falta-nos envolver mais<br />

as pessoas e envolver-nos mais com as<br />

pessoas”, nota.<br />

Miguel Silva concorda que deve haver<br />

uma interligação entre a logística e o<br />

procurement, mas que ainda acontece<br />

uma centralização das funções, e considera<br />

que “há empresas que não descobriram<br />

que logística e Procurement<br />

deveriam estar separados”.<br />

Luís Vasconcelos acrescenta ainda a<br />

necessidade de envolver os stakeholders,<br />

e que “cabe a nós trazermos os stakeholders<br />

para a nossa atividade, e se nós<br />

tivermos a inteligência aqui de o fazer,<br />

também será mais fácil compreender as<br />

necessidades deles”.<br />

Ricardo Filipe Teixeira nota alguns desafios<br />

na sua função, como é o caso da falta<br />

de planeamento. “Eu preciso constantemente<br />

de pedir coisas para ontem, e se


Supply Chain Magazine 25<br />

há alguma coisa que já era difícil antes<br />

do COVID e da guerra na Ucrânia, agora<br />

é impossível”, afirma o responsável. O<br />

procurement director conta que no dia<br />

seguinte a ganharem um concurso já<br />

estão a iniciá-la, pois o cliente já quer ter<br />

uma data de abertura de uma infraestrutura<br />

mesmo antes de iniciar a obra.<br />

Ao nível tecnológico, Vítor Ribeiro Gomes<br />

admite ter um fascínio pelos benefícios<br />

que traz ao nível das ciências de saúde,<br />

ciências de vida ou que melhor o ambiente,<br />

mas não de todas as que aceleram<br />

desesperadamente os processos, “porque<br />

essas são justamente aquelas que vão<br />

começar a pegar a redundância”, e acrescenta<br />

que, segundo o Fundo de Data<br />

Internacional, estima-se que 300 milhões<br />

de pessoas são afetadas de forma próxima<br />

à redundância pela Inteligência Artificial<br />

nos próximos cinco anos.<br />

No caso de Ana Moirinho Barbosa, a High<br />

Gate mudou recentemente o seu sistema<br />

informático para SAP, o que envolveu<br />

levantar todas as necessidades, todos os<br />

processos de requisição interna, como iria<br />

funcionar dentro dos vários departamentos,<br />

compreender a envolvência do procurement<br />

nos processos, onde era necessário<br />

fazer contratos, etc.<br />

Uma das preocupações que tiveram de<br />

ter foram as compras centralizadas, em<br />

que os 18 hotéis a nível nacional fazem as<br />

suas requisições a um único local. “No dia<br />

da implementação tínhamos 80 mil SKU,<br />

e há três dias já eram 208 mil”, revela a<br />

head of procurement, destacando que isso<br />

irá garantir que “a requisição dos produtos<br />

vai ser clara para quem está a comprar”.<br />

Luís Vasconcelos destacou ainda a<br />

proximidade que tem de haver entre o<br />

procurement e os parceiros, de modo a<br />

compreenderem as suas necessidades e<br />

dificuldades, e juntos caminharem para<br />

uma solução conjunta. “Eu diria que a<br />

relação com os fornecedores é como um<br />

casamento que é construído, espera-se<br />

que dure para a vida toda, mas só funciona<br />

se nos conhecemos bem e se soubermos<br />

também fazer cedências, e acho<br />

que nós, como responsáveis de compras,<br />

temos muito trabalho a fazer dentro<br />

de portas, que é forçar internamente a<br />

que sejam feitas as cedências de forma<br />

a conseguirmos que a relação com os<br />

fornecedores seja suave”.<br />

Ricardo Filipe Teixeira acrescenta ainda<br />

a importância de “nos colocarmos no<br />

lugar do outro e perceber quais são as<br />

suas dores. Eu tenho de conseguir perceber<br />

se aquilo realmente é uma urgência<br />

ou se é uma falta de planeamento, e se<br />

aquilo tem um impacto muito grande<br />

nas obras ou se é simplesmente alguém<br />

que decidiu no momento que quer aquilo<br />

para o hotel”, destaca.<br />

Vítor Ribeiro Gomes considera que “a<br />

falta de planeamento sai sempre na fa-


26<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

tura, mas sai arrumadinho no fim”, e que<br />

por vezes esta desorganização ajuda a<br />

compreender algumas razões de ser no<br />

negócio, pois “é difícil encontrar o propósito<br />

do negócio”, e por vezes no final de<br />

um contrato, que não era negociado há<br />

alguns anos, existe um incremento significativo<br />

no valor, e é aí que são revistas as<br />

necessidades e o porquê de optarem por<br />

determinado serviço ou material e não<br />

por outros que lhes podem gerar mais<br />

poupanças, mas destaca ser necessária<br />

essa maior envolvência e a compreensão<br />

das necessidades.<br />

Outra questão importante que Ricardo<br />

Filipe Teixeira aborda é a responsabilidade<br />

que têm dentro das parcerias, e<br />

conta que quando lhe dizem “eu vou<br />

fazer esta obra, mas vou perder dinheiro”,<br />

imediatamente recusa a proposta,<br />

e afirma que “eu não quero fazer esse<br />

contrato. Ninguém vai para um negócio<br />

para perder dinheiro”. Assim, o responsável<br />

toma uma de duas decisões: ou<br />

escolhe outro fornecedor, ou transfere a<br />

preocupação internamente de modo a<br />

que consigam ajustar os valores, e essa<br />

“é a negociação mais difícil: explicar<br />

ao administrador, que não vamos para<br />

esta opção e sim para a outra devido a<br />

estes fatores, ou não vamos para este<br />

fornecedor e sim para aquele por estes<br />

motivos”.<br />

Ana Moirinho Barbosa concorda com<br />

esta abordagem, e afirma que “a negociação<br />

tem de ser uma questão de win-<br />

-win”, e que se o fornecedor estiver a ter<br />

prejuízo ambos os negociadores ficam<br />

a perder, pois esse fornecedor não se irá<br />

conseguir manter, e poderá abrir falência,<br />

e o cliente de um momento para o<br />

outro depara-se com um fornecedor a<br />

menos. “isto parece tudo cor-de-rosa, um<br />

mundo em que ninguém quer trabalhar<br />

quando o outro está a perder, mas<br />

a verdade é que no médio e longo prazo<br />

aquele fornecedor vai acabar, pois não se<br />

vai conseguir sustentavelmente manter<br />

durante muito tempo e, portanto, eu vou<br />

ganhar agora, mas vou perdê-lo mais à<br />

frente, e é esta visão 360 que é necessário<br />

ter na negociação. É mais do que<br />

custo”.<br />

“Se nós tivermos cada vez mais sensibilidade<br />

ao que está do outro lado e<br />

darmos resposta às nossas necessidades<br />

e às necessidades do outro a negociação<br />

torna-se fértil e todos ganharemos ao<br />

final do dia”, afirma ainda Ana Moirinho<br />

Barbosa.<br />

A concluir a mesa-redonda, Luís Vasconcelos<br />

recorda um tema abordado por<br />

Isabel Paiva de Sousa no início da conferência:<br />

curiosidade. “A curiosidade é algo<br />

que nós temos de transmitir às nossas<br />

equipas, enquanto responsáveis de equipas<br />

de compras. Eu acho que a curiosidade<br />

é essencial porque nós estamos a<br />

dar formação numa área, e à velocidade<br />

em que isto muda, amanhã a formação<br />

já está desatualizada. Nós temos de ter é<br />

a curiosidade de estar sempre à procura<br />

de nova informação e das últimas soluções<br />

que há no mercado, e investirmos<br />

na formação das nossas pessoas”.<br />

A terminar o dia, Luís Santos, senior manager<br />

da KPMG, apresentou as principais<br />

conclusões do estudo “Otimizar o procurement”,<br />

e onde analisou as tendências e<br />

a forma como está a evoluir a profissão,<br />

sendo que muitas das conclusões do estudo<br />

foram ao encontro do que foi falado<br />

ao longo do dia.<br />

Algumas das dificuldades apontadas<br />

com maior destaque nos processos de<br />

Consulta & Negociação, Seleção e Adjudicação<br />

e Gestão de entregas foram:<br />

· Morosidade dos processos de compra;<br />

· Incorreto planeamento de necessidades,<br />

potenciando o cariz reativo das<br />

Compras;<br />

· Excessiva orientação para o preço,


Supply Chain Magazine 27<br />

e não consideração do Custo Total de<br />

Posse;<br />

· Avaliação e Qualificação de fornecedores<br />

com um cariz predominantemente<br />

burocrático;<br />

· Ausência de estratégias de sourcing<br />

e mecanismos de gestão do risco da<br />

Supply Chain;<br />

· Insuficientes mecanismos de incentivo/<br />

penalizações face a fornecedores/<br />

parceiros.<br />

“A otimização estrutural da função<br />

compras é o caminho crítico para assegurar<br />

a sustentabilidade dos benefícios<br />

alcançados, garantindo o não retorno à<br />

situação de partida e a melhoria contínua”,<br />

afirma o responsável.<br />

Luís Santos aponta ainda que para<br />

efetuar uma transformação estrutural<br />

na função de compras, existem dois<br />

vetores a ter em conta e que devem ser<br />

trabalhados em paralelo: a estratégia e a<br />

operação. Neste sentido, confirma a ideia<br />

abordada anteriormente, de que as compras<br />

devem trabalhar “de braços dados”<br />

com as operações, para conseguirem<br />

em conjunto encontrar soluções para as<br />

necessidades reais e operacionais, e a importância<br />

de questionar o porquê de os<br />

processos serem feitos de determinada<br />

maneira e com determinadas características,<br />

e encontrando assim soluções<br />

alternativas em conjunto.<br />

“Nós só vamos conseguir ter destaque,<br />

ter posição no board, ter respeito<br />

e ombrear com as áreas mais típicas da<br />

organização quando conseguimos ser<br />

um enabler de performance, e quando<br />

conseguimos ser parte da solução e não<br />

parte do problema”.<br />

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28<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

Wolfgang Rueth,<br />

Responsável pelo escritório de Lisboa da Efficio


Supply Chain Magazine 29<br />

PROCUREMENT<br />

Texto: Ana Paiva<br />

Efficio Portugal<br />

“O NOSSO COMPROMISSO<br />

RESIDE EM ENCONTRAR<br />

SOLUÇÕES E ESTRATÉGIAS<br />

ADAPTADAS A CADA DESAFIO”<br />

A Efficio é uma empresa especializada em consultoria nas áreas de procurement<br />

e supply chain. Tem 14 escritórios localizados em vários pontos<br />

da Europa, América do Norte e Médio Oriente. No início de 2023 abriu o<br />

primeiro escritório em Lisboa e, passado um ano, procuramos conhecer<br />

a sua estratégia, como se posicionam para ajudar as empresas a enfrentar<br />

desafios e gerir o risco, e quais as principais diferenças dos mercados<br />

onde atuam.<br />

Duplicar de tamanho a cada três<br />

a quatro anos”, este foi o objetivo<br />

dado por Jens Pedersen, CEP<br />

e co-fundador da Efficio, a propósito<br />

da abertura do primeiro escritório em<br />

Portugal. Por sua vez, Wolfgang Rueth,<br />

que está responsável pelo escritório em<br />

Lisboa, referia na altura que “pretendemos<br />

construir uma forte equipa portuguesa<br />

para apoiar os projetos dos nossos<br />

clientes globalmente”.<br />

O responsável explica que a estratégia<br />

que adotaram inicialmente passava por<br />

“criar uma equipa multidisciplinar” que<br />

pudesse ser uma extensão da sede da<br />

empresa, localizada no Reino Unido, e<br />

dos restantes escritórios a nível internacional.<br />

A equipa de Lisboa deveria ser<br />

composta por especialistas em Procurement<br />

e Supply Chain, que fossem capazes<br />

de integrar projetos internacionais<br />

a partir da cidade portuguesa, viajando<br />

quando necessário, mas também por<br />

data scientists e programadores. O objetivo<br />

passava por “tornar Lisboa o polo<br />

central de desenvolvimento de soluções<br />

e ferramentas digitais da Efficio, servindo<br />

globalmente”, refere Wolfgang Rueth.<br />

Um ano depois, a estratégia não se<br />

alterou, mas agora “estamos mais preparados<br />

para entrar no mercado ibérico<br />

caso existam oportunidades onde a<br />

metodologia da Efficio possa trazer valor<br />

aos clientes”, explica. A equipa continua<br />

a crescer, e tem a intenção de “continuar<br />

a investir em novo talento” com a contratação<br />

de mais profissionais. “Atualmente<br />

já somos 30, e ambicionamos duplicar<br />

este número até ao final do ano”, afirma<br />

o responsável. Acredita que já detêm


30<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

uma presença sólida no mercado português,<br />

uma vez que consultores de outras<br />

empresas já conhecem e reconhecem<br />

a Efficio através do que fazem, como se<br />

diferenciam e da sua especialização em<br />

Procurement e Supply Chain. Daqui para<br />

a frente, pretendem continuar a crescer<br />

e potenciar a relevância do escritório de<br />

Lisboa dentro da empresa, “bem como<br />

impulsionar o nosso envolvimento no<br />

mercado português como especialistas<br />

“tornar Lisboa o polo<br />

central de desenvolvimento<br />

de soluções<br />

e ferramentas digitais<br />

da Efficio, servindo<br />

globalmente”<br />

em Supply Chain e Procurement”, sem<br />

não descartar a certeza de que “vão sempre<br />

surgir desafios”.<br />

Desafios: prevenção<br />

e solução<br />

As disrupções causadas pela COVID-19,<br />

a escassez de contentores e matérias-primas,<br />

a guerra entre a Ucrânia e a Rússia<br />

e agora os constrangimentos que se<br />

vivem no Canal do Suez, têm impactado<br />

as cadeias de abastecimento globais.<br />

Parece que assim que termina um momento<br />

mais desafiante para os gestores<br />

de supply chain e procurement, outro<br />

já está no caminho. Por vezes não é fácil<br />

gerir o risco, e é aqui que entra o negócio<br />

da Efficio. “A verdade é que estas adversidades<br />

geram uma procura significativa<br />

e interesse no nosso negócio”, assume<br />

Wolfgang Rueth, acrescentando que “o<br />

cerne da nossa atividade reside na otimização<br />

de supply chains, e é precisamente


Supply Chain Magazine 31<br />

nestes contextos desafiantes que podemos<br />

ser particularmente úteis aos nossos<br />

clientes”. A abordagem da empresa<br />

para “prevenir ou solucionar” falhas nas<br />

cadeias de abastecimento dos clientes<br />

passa por duas metodologias. A primeira<br />

foca-se no De-risking, que consiste em<br />

tentar minimizar o risco diversificando<br />

fornecedores e optando por estratégias<br />

nearshoring, ou seja, trazer as cadeias de<br />

abastecimento para mais perto de “casa”,<br />

a nível regional. A segunda consiste no<br />

Sales and Operation Planning (S&OP),<br />

que tem como o objetivo criar uma<br />

gestão mais eficaz da procura, produção<br />

e distribuição. Esta abordagem permite<br />

uma resposta “mais ágil” a flutuações<br />

no mercado, e ainda ajuda a prevenir ou<br />

minimizar potencias falhas na cadeia de<br />

abastecimento. “No fundo, o nosso compromisso<br />

reside em encontrar soluções<br />

personalizadas e estratégias adaptadas a<br />

cada desafio específico dos nossos clientes,<br />

contribuindo para tornar as operações<br />

mais resilientes e eficientes”, indica<br />

o responsável.<br />

A Efficio detém vários escritórios espalhados<br />

pelo mundo, nomeadamente<br />

na Europa, Médio-Oriente e América do<br />

Norte, apresentando assim as suas soluções<br />

de logística e procurement nestas<br />

geografias. No entanto, estes mercados<br />

têm especificidades e necessidades diferentes,<br />

podendo também apresentar-se<br />

como um desafio. No caso do Médio<br />

Oriente, Wolfgang Rueth explica que há<br />

um grande foco em políticas nacionais<br />

de local content, como é o caso da Arábia<br />

Saudita. “Isto impõe às empresas que<br />

operam na região, a aquisição de uma<br />

parte significativa e crescente das quotas<br />

de mercado local, impulsionando o<br />

desenvolvimento da supply chain local”.<br />

Desta forma, sublinha que a adptação<br />

das empresas a estas políticas é “crucial”.<br />

No que diz respeito à América do Sul,<br />

“estamos mais preparados<br />

para entrar<br />

no mercado ibérico<br />

caso existam oportunidades<br />

onde a<br />

metodologia da Efficio<br />

possa trazer<br />

valor aos clientes”<br />

“deparamo-nos com um continente<br />

ainda repleto de desafios, tornando-se<br />

um mercado bastante fechado para o<br />

negócio internacional”, assume. Muitos<br />

países desta geografia enfrentam<br />

barreiras alfandegárias, enquanto outros<br />

têm alguns problemas relacionados<br />

com a inflação elevada, como é o caso<br />

da Argentina, complicando a interação<br />

com o mercado exterior. No entanto, um<br />

dos problemas transversais é mesmo a<br />

falta de infraestruturas, como estadas ou<br />

comboios de carga, originando desafios<br />

ao nível logístico, com custos muito superiores<br />

em comparação com a Europa.<br />

“É, portanto, um continente mais orientado<br />

para o mercado local, com poucas<br />

importações, embora ainda que forte em<br />

exportações de matérias-primas”, acrescenta.<br />

Já a Europa, Wolfgang Rueth caracteriza<br />

como um mercado “bastante desenvolvido”,<br />

ainda que “bastante fragmentado”,<br />

devido às diversas línguas e políticas que,<br />

na sua ótica, podem criar tanto barreiras<br />

como oportunidades. “A diversidade de<br />

opções e soluções disponíveis oferece um<br />

terreno fértil para otimização de compras<br />

e logística”, indica o responsável, terminando<br />

com o real desafio, que reside em<br />

“encontrar as opções certas”.


32<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

PROCUREMENT<br />

3 perguntas a… Fábio Pinheiro,<br />

Purchasing and Procurement<br />

Texto: Fábio Santos<br />

DESCOBERTA<br />

DE NOVAS REALIDADES<br />

Foi em 2021 que Fábio Pinheiro integrou a equipa de procurement da<br />

Artevasi, inicialmente enquanto Purchasing and Procurement manager,<br />

e atualmente como Purchasing and Procurement director. Ao longo do<br />

seu percurso profissional já acumulou alguns anos de experiência nesta<br />

área, mas sente que há sempre algo a descobrir.<br />

manager da Artevasi<br />

SCM - O que o levou a escolher esta<br />

profissão?<br />

Fábio Pinheiro - A meu ver, a área de<br />

procurement requer interesse, busca e<br />

interação constantes, premissas essas<br />

que se enquadram no meu perfil e facilitam<br />

bastante o meu trabalho. A descoberta<br />

de novas realidades é algo que me<br />

atrai diariamente, assim como a comunicação,<br />

o diálogo e a negociação em prol<br />

de novas soluções para a organização. É<br />

uma área do setor das compras onde, na<br />

minha opinião, estas soft skils passam<br />

do espectro pessoal para o profissional e,<br />

não havendo dois dias de trabalho iguais,<br />

torna a profissão fascinante, até porque<br />

requer pensar fora da caixa muitas das<br />

vezes, o que me obriga, não só a ser melhor<br />

profissional, como melhor pessoa.<br />

Qual o maior desafio para uma equipa<br />

de procurement dentro da organização?<br />

Precisamente a procura de novas<br />

soluções. O enquadramento da equipa<br />

de procurement é feito de uma forma<br />

transversal, sendo um alicerce para a<br />

organização. Dentro desta ideia, somos<br />

constantemente desafiados na busca<br />

de novas soluções que permitam ir ao<br />

encontro daquilo que são as necessidades<br />

da estrutura organizativa, tendo<br />

em conta a nossa realidade financeira,<br />

a conjuntura socioeconómica, o impacto<br />

ambiental e tantas outras questões<br />

que temos de atentar na hora de fazer<br />

negócio.<br />

Quais as três competências-chave<br />

que mais valoriza, ou considera<br />

fundamentais num profissional de<br />

compras e procurement?<br />

Na área de compras e procurement é<br />

fundamental ter algumas competências,<br />

mas na minha opinião, existem<br />

três que são fundamentais: resiliência,<br />

flexibilidade e curiosidade. Um profissional<br />

que consiga agregar tudo isto, com<br />

humildade e vontade de crescer, certamente<br />

será excelente no seu trabalho.


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34<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Empack e Logistics<br />

& Automation<br />

Texto: Fábio Santos<br />

“SOMOS MAIS<br />

DO QUE UM<br />

ESPAÇO DE<br />

EXPOSIÇÃO”<br />

Nos dias 17 e 18 de abril decorre a<br />

8.ª edição da Empack e Logistics &<br />

Automation Porto, o maior evento<br />

de embalagem e logística do país,<br />

realizado na Exponor. Ao longo de<br />

dois dias será possível encontrar<br />

soluções, produtos e serviços inovadores<br />

num espaço com mais de<br />

70 expositores, e onde a Easyfairs,<br />

entidade organizadora, antecipa<br />

mais de 9.000 interações comerciais<br />

e mais de 3.000 visitantes.<br />

Inicialmente lançada para servir um<br />

mercado que não estava coberto, ao<br />

longo destes nove anos de existência a<br />

Empack e Logistics & Automation tem-se<br />

posicionado como uma feira de referência<br />

para os setores da logística e da<br />

supply chain. “Todos os anos os nossos<br />

visitantes e expositores aguardam ansiosamente<br />

pela data, por isso continuamos<br />

a apostar ano após ano nesta feira, para


Supply Chain Magazine 35<br />

que continue a crescer no panorama<br />

nacional”, avança a organização.<br />

A área de exposição irá contar com<br />

algumas empresas que participam pela<br />

primeira vez, com novas soluções, produtos<br />

e serviços para o setor, e não só<br />

nacionais, mas também internacionais.<br />

Algumas das mais recentes empresas<br />

que se juntam ao evento são a holandesa<br />

Qimarox, as espanholas FDI, Ats-Tanner<br />

e Mim Group, e as portuguesas Coelho &<br />

Cortesão, Engels e Provost.<br />

A Easyfairs avança que “nos últimos meses<br />

temos vindo a trabalhar em acordos<br />

estratégicos com parceiros e organizações<br />

de referência e, juntamente com<br />

eles, estamos a trabalhar para oferecer<br />

novos conteúdos e novos formatos que<br />

permitam aos visitantes desfrutar de uma<br />

experiência enriquecedora e dinâmica”.<br />

Para a Empack e Logistics & Automation<br />

Porto <strong>2024</strong>, a empresa também<br />

concebeu vários Innovation Tours, que<br />

já implementaram com sucesso noutras<br />

edições e feiras do grupo, e que “serão<br />

percursos por diferentes produtos e<br />

pontos estratégicos da feira, previamente<br />

selecionados para um grupo exclusivo de<br />

visitantes, onde os expositores mostrarão<br />

ao vivo as suas últimas tecnologias,<br />

resolverão dúvidas e interagirão com os<br />

assistentes”.<br />

Esta edição terá como foco ser uma<br />

solução para os problemas das empresas<br />

atualmente, cujas necessidades passam<br />

pela otimização das cadeias de abastecimento,<br />

digitalização e sustentabilidade:<br />

“é essencialmente uma nova oportunidade<br />

para os profissionais da embalagem,<br />

logística e transporte em Portugal, que<br />

terão acesso a uma vasta e variada gama<br />

de produtos e serviços relacionados com<br />

estes setores sem terem de se deslocar<br />

para longe”.<br />

“Somos mais do que um espaço de<br />

exposição. O evento oferece também<br />

uma sala de conferências, visitas guiadas<br />

e networking. Por isso, encorajo todos,<br />

especialmente as empresas do Norte de<br />

Portugal, a reservar algumas horas para<br />

visitar o evento, porque temos a certeza<br />

de que regressarão com novas ideias,<br />

novos contactos e com a sensação de terem<br />

feito em poucas horas um trabalho<br />

de campo que, de outra forma, levaria<br />

muito mais tempo”, conclui.


36<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

INTRALOGÍSTICA<br />

Conferência SCM<br />

Texto: Ana Paiva<br />

A TECNOLOGIA VEIO PARA FICAR<br />

No dia 30 de janeiro, o Hotel Meliã, em Braga, recebeu a segunda edição<br />

da conferência Intralogística, organizada pela Supply Chain Magazine.<br />

O evento, cujo mote foi “Transformar a Intralogística: Inovação e Eficiência<br />

para o Futuro”, reuniu cerca de 180 pessoas que passaram este dia a<br />

explorar as últimas tendências e tecnologias que estão a revolucionar o<br />

campo da intralogística.<br />

A<br />

primeira intervenção do evento<br />

esteve a cargo de Maria do Sameiro<br />

Carvalho, da Universidade<br />

do Minho e associate director da ALGO-<br />

RITMI Research Centre, que abordou a<br />

importância de transformar os dados em<br />

conhecimento para ser possível tomar<br />

boas decisões, sendo este um fator que<br />

preocupa cada vez mais as empresas.<br />

Para isso, é preciso ter conhecimento da<br />

realidade onde a empresa está inserida,<br />

as contingências e possíveis impactos.<br />

Os dados sãoa a base de uma boa decisão,<br />

e as empresas ainda se encontram<br />

numa fase rudimentar no que diz respeito<br />

a capacidade analítica. Apresentou os<br />

benefícios, como maior visibilidade sobre<br />

os processos, melhor gestão de materiais


Supply Chain Magazine 37<br />

(inventários), redução de risco, ou conhecimento<br />

dos padrões de procura, mas<br />

também os desafios, pois a qualidade dos<br />

dados é algo complexo de garantir, bem<br />

como a sua integração e disponibilidade.<br />

De seguida, o foco incidiu sobre os<br />

projetos desenvolvidos por António Galrão<br />

Ramos do INESC Tec e Elsa Silva do<br />

ALGORITMI Research Centre/LASI, Universidade<br />

do Minho, na área da intralogística<br />

através de digital twins, nomeadamente<br />

nas áreas do armazém, receção, picking<br />

ou expedição. “Temos vindo a observar<br />

uma evolução fantástica no âmbito da<br />

intralogística, nomeadamente na automação<br />

de armazéns e nas alterações na<br />

cadeia de abastecimento”, começou por<br />

dizer António Galrão Ramos. Apresentaram<br />

o projeto de descontentorização<br />

automática, na qual efetuaram a simulação<br />

do ambiente desde a chegada<br />

dos contentores ao armazém e, na fase<br />

seguinte, a paletização dos produtos. Foi<br />

desenvolvido um gerador automático de<br />

paletização em que, através da informação<br />

dos produtos, é possível indicar ao<br />

robô a posição de cada artigo na palete.<br />

Durante a primeira parte da manhã foi<br />

ainda possível conhecer o Lean Excellence<br />

Centre, apresentado por Nuno Silva,<br />

managing director, nomeadamente a sua<br />

visão em fomentar o conhecimento lean,<br />

e unir esforços entre empresas para criar<br />

ou adaptar produtos à realidade lean.<br />

“Como a robótica pode impactar na<br />

logística interna”, foi o mote que trouxe<br />

Luís de Matos, chairman e CEO da Follow<br />

Inspiration ao Intralogística. A premissa<br />

da empresa, que é especializada na<br />

criação de produtos nas áreas da robótica<br />

avançada, reconhecimento e imagem<br />

e Inteligência Artificial, é de que “são os<br />

nossos equipamentos que têm de se<br />

adaptar aos espaços, e não os espaços


38<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

que têm de se adaptar aos equipamentos”.<br />

O responsável explicou que desenvolvem<br />

uma tecnologia em que conseguem<br />

tornar um robô 100% autónomo, e que os<br />

seus produtos estão ligados à plataforma<br />

de gestão de frota. A Sonae, Yazaki, Delta<br />

e Cork Supply são alguns dos seus parceiros.<br />

A Jungheinrich também marcou<br />

presença no evento, contando com David<br />

Cayuela Molinero, head of mobile robots<br />

na Península Ibérica, a identificar alguns<br />

casos de sucesso de robôs móveis. A empresa<br />

tem diversos equipamentos para<br />

soluções específicas, como aplicações<br />

high-stack (ERCa/EKSa), aplicações de<br />

baixo nível (EREa, EAEa), reboque de carga<br />

interior (EZSA), transporte de subcargas,<br />

manuseamento de tote (SOTO), e armazenamento<br />

VNA automatizado. O caso<br />

de sucesso que trouxe foi o de implementação<br />

de um AutoVNA num armazém em<br />

Tarraco. O principal objetivo era o cliente<br />

mudar-se para um armazém maior, no<br />

qual incluiriam uma área automatizada<br />

e outra manual, e aumentar a produção.<br />

Para isso, implementaram o 7xEKXa com<br />

Busbar, um sistema transportador de paletes,<br />

um JH estantes de paletes e um JH<br />

software WCS. Os benefícios do projeto<br />

permitiram uma operação automática<br />

eficiente para alturas limitadas do armazém,<br />

a possibilidade de uma automação<br />

gradual, a possibilidade de operação em<br />

“A robotização<br />

da logística<br />

é irreversível<br />

e inevitável”<br />

Pedro Gordo,<br />

supply chain business<br />

manager da Generix Portugal


Supply Chain Magazine 39<br />

mais linhas de rack com apenas um AGV<br />

VNA, menos desgaste em comparação<br />

com operação manual, e uma maior e<br />

mais fácil escalabilidade.<br />

A manhã prosseguiu com a intervenção<br />

de António Guedes, business consultant<br />

da CodeOne, na qual foi referida a importância<br />

que tecnologias como RFID e<br />

Machine Learning terão no ano de <strong>2024</strong>.<br />

Referiu que as empresas devem preparar-<br />

-se para esta realidade recolhendo dados.<br />

Estas implementações serão necessárias<br />

para melhorar a qualidade de vida<br />

dos operadores nos locais de trabalho. A<br />

mesa redonda da manhã contou com<br />

o moderador Hernâni Andrés, business<br />

advisor, Hugo Duarte Fonseca, managing<br />

partner da Devlop, Ana Leandro, logistics<br />

& supply chain director da Auchan Retail,<br />

António Fernandes, diretor de inovação<br />

e processos da Luís Simões, Francisco<br />

Alberto, diretor de logística da Adalberto<br />

Textile Solutions, e Marlos Silva, area<br />

leader digital & innovation da Sonae MC.<br />

Foram apresentados os desafios que as<br />

empresas dos oradores enfrentam atualmente,<br />

bem como quais as necessidades<br />

que enfrentarão no futuro em termos de<br />

tecnologia. Debateu-se ainda a relevância<br />

da transformação digital, e como esta já é<br />

uma realidade, e como é que se pode interligar<br />

com o problema da falta de mão<br />

de obra nesta área. Concluiu-se que o<br />

digital é considerado crítico nas organizações,<br />

mas também é necessário trabalhar<br />

em equipas mistas (robôs e humanos),<br />

estar o mais atualizado possível, e ter um<br />

bom planeamento e análise.<br />

Casos práticos de sucesso<br />

A tarde do dia 30 foi dedicada a casos<br />

práticos. Pedro Gordo, supply chain<br />

business manager da Generix Portugal,<br />

começou por afirmar que “a robotização<br />

da logística é irreversível e inevitável”, mas<br />

quando as empresas implementam au-


40<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

tomatização, devem considerar, à partida,<br />

que o automatismo por si só não resolve<br />

todos os problemas se não estiver articulado<br />

com as necessidades do armazém.<br />

Ainda assim, alguns dos seus fatores-chave<br />

são a ergonomia, a interação com os<br />

operadores, a flexibilidade e escalabilidade.<br />

De seguida apresentou o caso de sucesso<br />

com a Lusavouga, cujos objetivos passariam<br />

por industrializar a execução logística,<br />

aumentar a produtividade e reduzir o lead<br />

time, reduzir a dependência de recursos<br />

humanos, assegurar a capacidade de<br />

fullfilment numa realidade de crescimento<br />

de negócio, e inovação e sustentabilidade.<br />

Através da implementação do WMS<br />

Generix, foi possível orquestrar todos os<br />

recursos, planear o inbound e outbound,<br />

otimizar o armazenamento e arrumação, e<br />

integrar alguns automatismos, como três<br />

miniloads, um box minimizer Storopack<br />

(embalamento), um transportador aéreo,<br />

um conveyor, um quickscan (dados logísticos)<br />

e AGV’s.<br />

Luís Claro Dias, diretor de software da<br />

Tecnibite e Rui Oliveira, gestor de produto<br />

da X-Log, apresentaram as os benefícios<br />

de utilizar o XLOG WMS, um sistema de


41<br />

gestão de armazéns, que gere a mercadoria<br />

desde o momento que entra até sair<br />

do armazém. Algumas das suas características<br />

são o controlo de localizações, a<br />

seleção automática de localizações em<br />

receção e picking, ou o reaprovisionamento<br />

e picking por voz. A Cegid e o seu<br />

parceiro Devlop trouxeram à conferência<br />

mais um caso prático. Na mesa redonda “A<br />

Digitalização dos processos na Logística –<br />

Caso Orey/Grupo Horizon” fornecedores e<br />

cliente tiveram oportunidade de partilhar<br />

ideias e know-how no campo da gestão<br />

logística, além de explorarem as vantagens<br />

da solução Eye Peak da Cegid Primavera,<br />

mergulhando num caso real, com a ajuda<br />

de Daniel Baptista, business developer<br />

da CEGID, Hugo Duarte da Fonseca, da<br />

Devlop, e Hugo Martins. Caso Orey/Grupo<br />

Horizon. A encerrar a primeira parte da<br />

tarde, António José Correia, diretor comercial<br />

da Cleanbots, apresentou os robôs da<br />

marca que surgem para inovar o processo<br />

de limpeza dentro dos armazéns.<br />

“A intralogística como fator diferenciador”<br />

foi o tema que trouxe Luiz Rodrigues, consultor<br />

em gestão e engenharia industrial<br />

do INEGI ao evento. A importância que a


42<br />

“Temos vindo a<br />

observar uma evolução<br />

fantástica no<br />

âmbito da intralogística,<br />

nomeadamente<br />

na automação de<br />

armazéns e nas alterações<br />

na cadeia de<br />

abastecimento”<br />

António Galrão Ramos,<br />

INESC Tec<br />

intralogística está a ter nas empresas, foi<br />

um dos highlights, bem como a tecnologia<br />

que lhe está inerente. Até 2026, 75%<br />

das empresas irão adotar robôs inteligentes<br />

nas suas operações de intralogística, e<br />

mais de 80% das empresas utilizarão aplicações<br />

baseadas em Inteligência Artificial<br />

em ambientes de produção, em comparação<br />

com os atuais 5%. Identificou a metodologia<br />

adotada pelo INEGI para melhorar<br />

as operações intralogísticas das empresas<br />

do setor industrial, nomeadamente através<br />

da identificação da situação atual (identificar<br />

oportunidades de melhoria), organizar<br />

e normalizar (reduzir ineficiências),<br />

automatizar (associar pessoas a tarefas<br />

de maior valor acrescentado), e otimizar<br />

(reduzir ou até eliminar tempos de deslocação<br />

e movimentações em vazio). De seguida<br />

apresentou casos de sucesso em<br />

empresas como Amorim Cork Composites,<br />

cujos objetivos passavam pela melhoria<br />

dos processos de logística interna<br />

para reduzir o número de movimentos e<br />

o esforço de movimentação associados,<br />

bem como aumentar sinergias entre<br />

unidades industriais; com o Grupo Nabeiro,<br />

que passou pelo estudo da rede<br />

logística com o intuito de mapear as<br />

infraestruturas de armazenagem e custear<br />

a operação; com a Creative Works,<br />

em que se desenhou o layout da produção<br />

e armazém das novas instalações<br />

para suportar o crescimento do negócio;<br />

e com a AM2R, tendo revisto o “estado<br />

da arte” da digitalização e automação<br />

da atividade de armazenagem e fluxos<br />

logísticos, bem como a identificação das<br />

melhores soluções tecnológicas para<br />

resposta aos requisitos de operação<br />

identificados.<br />

Tiago Sacchetti, diretor ibéria da Bosch<br />

Industry Consulting, abordou as vantagens<br />

da simulação industrial, nomeadamente,<br />

análises de cenário, uma maior<br />

transparência do fluxo de processo e<br />

visualização lógica, ou ajuda na decisão<br />

validada de forma matemática. A fechar<br />

a conferência esteve a start-up Azitek,<br />

que apresentou a sua solução tecnológica<br />

para rastreamento, que possibilita ter<br />

um inventário em tempo real.


43<br />

“São os nossos<br />

equipamentos<br />

que têm de<br />

se adaptar aos<br />

espaços, e não<br />

os espaços que<br />

têm de se<br />

adaptar aos<br />

equipamentos”<br />

Luís de Matos,<br />

Chairman & CEO, Follow Inspiration<br />

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44<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

Reciclagem na Europa<br />

PAPEL E CARTÃO<br />

ENTRE OS MAIS RECICLADOS<br />

De acordo com um novo estudo da DS Smith, um aumento de apenas 9%<br />

nas taxas de reciclagem de embalagens de papel e cartão na UE poderia,<br />

por si só, acrescentar aos circuitos de reciclagem 5 milhões de toneladas<br />

de material, no valor de até mil milhões de euros por ano até 2030.<br />

O<br />

papel e o cartão já são os materiais<br />

mais reciclados na Europa, mas<br />

existe um claro potencial para<br />

obter resultados ainda melhores para as<br />

empresas, as pessoas e o planeta.<br />

À medida que os recursos finitos são<br />

avaliados na Europa e em todo o mundo<br />

após a COP28, a DS Smith apela aos<br />

governos e à indústria para que tomem<br />

medidas e impulsionem a reciclagem<br />

antes do final da década.<br />

De acordo com um novo estudo da<br />

DS Smith, empresa líder mundial em<br />

soluções de packaging sustentável, um<br />

aumento de apenas 9% nas taxas de reciclagem<br />

de embalagens de papel e cartão<br />

na UE poderia, por si só, acrescentar aos<br />

circuitos de reciclagem 5 milhões de<br />

toneladas de material, no valor de até mil<br />

milhões de euros por ano até 2030.<br />

As taxas de reciclagem de papel e cartão<br />

têm vindo a diminuir nos últimos cinco<br />

anos, tendo alcançado uma média de 81%<br />

em toda a UE em 2022. O relatório da DS<br />

Smith apresenta medidas específicas que<br />

podem ajudar a aumentar esta taxa até<br />

90%, impulsionando a economia circular<br />

em torno daquele que já é o material<br />

mais reciclado na Europa.<br />

O plano de ação surge numa altura em


Supply Chain Magazine 45<br />

que o crescimento do e-commerce está<br />

a contribuir para o aumento do consumo<br />

de embalagens: novos dados estimam<br />

que os países da União Europeia alcançarão<br />

uma produção anual de 39 milhões<br />

de toneladas de embalagens de papel e<br />

cartão em 2030.<br />

Portugal é o 8.º maior<br />

produtor de resíduos<br />

de papel e cartão<br />

O relatório “Papel desperdiçado: o caminho<br />

para uma reciclagem melhor”, revela<br />

também que as taxas de reciclagem necessitam<br />

de um impulso, particularmente<br />

entre os mais jovens. Menos de 62% dos<br />

europeus com idades compreendidas<br />

entre os 18 e os 24 anos reciclam quase<br />

todo o seu papel e cartão, em comparação<br />

com quase nove em cada dez (88%)<br />

com mais de 65 anos. Esta situação pode<br />

dever-se a uma falta de compreensão e<br />

de confiança no processo, uma vez que<br />

menos de dois terços (62%) da Geração Z<br />

acredita que o que coloca no seu caixote<br />

do lixo é reciclado corretamente pelas autoridades,<br />

em comparação com mais de<br />

sete em cada dez (72%) das pessoas com<br />

mais de 65 anos.<br />

Segundo dados da Eurostat, Portugal<br />

é o oitavo maior produtor de resíduos de<br />

papel e cartão na Europa e ocupa o 28.º<br />

lugar entre 30 países europeus no que<br />

respeita à taxa de reciclagem de embalagens<br />

de papel e cartão. Em 2020, 66%<br />

das embalagens de papel e cartão foram<br />

recicladas em Portugal, em comparação<br />

com uma média europeia de 82%, e a DS<br />

Smith prevê que este valor possa atingir<br />

aproximadamente 68% até 2030. As taxas<br />

de reciclagem e a procura diferem entre<br />

os países europeus, com a Alemanha a<br />

produzir tanto papel e material de embalagem<br />

de cartão como os 24 países com<br />

menor produção de resíduos em conjunto.<br />

No entanto, a Alemanha tem uma taxa<br />

de reciclagem superior à média europeia<br />

de 84%, melhor do que outros grandes<br />

produtores, como a França, o Reino Unido<br />

e a Espanha.<br />

Quatro recomendações<br />

fundamentais<br />

Para aproveitar esta oportunidade e impulsionar<br />

ainda mais as taxas de reciclagem,<br />

a DS Smith tem vindo a apelar aos<br />

legisladores europeus, nacionais e locais,<br />

para que se unam e implementem quatro<br />

recomendações fundamentais:<br />

1. Legislar no sentido de exigir a separação<br />

na origem, o que significa que<br />

o papel e o cartão são separados dos<br />

outros materiais pelos consumidores<br />

em suas casas e nos contentores;<br />

2. Implementar um sistema de recolha<br />

consistente a nível nacional e integrado<br />

com as autoridades locais;<br />

3. Standardizar os rótulos de reciclagem<br />

e incentivar a educação dos consumidores;<br />

4. Fomentar legislação clara para dar às<br />

empresas a confiança necessária para<br />

investirem na reciclagem.<br />

Sobre este tema, Luis Moura, Recycling<br />

Iberia MD da DS Smith, afirma: “O papel<br />

e o cartão já são o material de embalagem<br />

mais reciclado na Europa e um dos<br />

materiais mais circulares do planeta. Mas,<br />

embora quase quatro em cada cinco<br />

embalagens de papel e cartão já sejam<br />

recicladas, existe uma enorme oportunidade<br />

para fazer ainda melhor: criar valor<br />

económico e milhares de postos de trabalho,<br />

enquanto se evita o desperdício de<br />

valiosos recursos naturais. Se os legisladores,<br />

as autoridades locais, as empresas e<br />

os consumidores trabalharem em conjunto,<br />

acreditamos que podemos garantir<br />

que nenhuma embalagem se transforme<br />

em desperdício”.


46<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

TECNOLOGIAS<br />

Softwares empresariais<br />

APRENDER COM OS ERROS<br />

Muito se tem escrito nos últimos anos sobre o fracasso do projeto ERP do<br />

Lidl. De facto, embora existam inúmeros no mundo das implementações<br />

de software empresarial, o que torna este caso menos comum é a dimensão<br />

do investimento que estava a ser feito quando foi tomada a decisão<br />

de o parar: 500 milhões de euros. Fico arrepiado só de pensar nisso...


Supply Chain Magazine 47<br />

Na última MES e Indústria 4.0, eu<br />

tinha analisado o paralelismo<br />

entre as implementações MES e<br />

ERP, referindo na altura que uma das<br />

principais diferenças era o nível de investimento<br />

envolvido. De facto, este caso do<br />

Lidl nem sequer é o maior fracasso nesta<br />

perspetiva. O que me fascina especificamente<br />

neste caso é o facto de, apesar<br />

de haver sempre uma lista incontável de<br />

razões que contribuíram para este cancelamento,<br />

o maior parece ter sido um<br />

único (!) personalização.<br />

Neste ponto, é necessário um aviso: não<br />

tenho qualquer tipo de visão privilegiada<br />

sobre o que aconteceu, mas o caso está<br />

bem documentado.<br />

Então, o que é que<br />

aconteceu?<br />

Em 2011, a Lidl tomou a decisão de<br />

substituir o seu sistema por uma nova<br />

solução baseada no “SAP for Retail, powered<br />

by HANA”. O antigo sistema estava<br />

a atingir os limites da sua capacidade e<br />

a SAP alegou que o sistema da Lidl era<br />

“prejudicado por quebras de processos,<br />

armazenamento redundante de dados,<br />

lacunas de integração e restrições<br />

funcionais. Além disso, uma combinação<br />

de inúmeras interfaces e módulos e uma<br />

estrutura de servidor descentralizada<br />

estava a tornar cada vez mais complexa a<br />

tarefa de executar e manter o sistema”.<br />

No início do projeto foi identificado<br />

um grande obstáculo: A Lidl baseava a<br />

sua gestão de inventário nos preços de<br />

compra, enquanto a plataforma SAP<br />

é construída com base nos preços de<br />

retalho. Mas os executivos não estavam<br />

dispostos a alterar nenhum dos seus<br />

processos empresariais para se adaptarem<br />

às melhores práticas da SAP. Afinal<br />

de contas, esta sempre foi a forma como<br />

a gestão de inventário era feita na Lidl e<br />

a equipa de projeto tinha mais do que a<br />

Autor<br />

Francisco Almada Lobo,<br />

CEO, Critical Manufacturing<br />

força necessária para fazer a mudança,<br />

uma vez que era composta por aproximadamente<br />

1000 funcionários e “centenas<br />

de consultores”.<br />

O problema é que esta personalização<br />

mexeu com um elemento central do<br />

funcionamento do módulo SAP Inventory<br />

Management, criando um efeito em<br />

cascata de personalizações. O que antes<br />

se pensava ser uma lacuna de requisitos,<br />

transformou-se num abismo de requisitos.<br />

Outro aspeto, possivelmente relacionado<br />

com o excesso de personalização, foi<br />

a duração do projeto. Quando foi cancelado,<br />

já durava há 7 anos, e apenas com<br />

alguns go-lives em países mais pequenos.<br />

A juntar a esta grande turbulência,<br />

vários executivos deixaram a empresa.<br />

E, claro, é muito provável que o projeto<br />

tenha ficado desalinhado com as ideias e<br />

prioridades dos novos executivos.<br />

Esta insistência em personalizar o software<br />

SAP para se adequar aos processos<br />

existentes, em vez de adaptar os seus<br />

processos ao software normalizado, aumentou<br />

a duração do projeto, a rotação<br />

de executivos e a gestão insuficiente<br />

da mudança, o que acabou por levar ao<br />

cancelamento do projeto.<br />

Paralelo ao MES<br />

O caso da implementação dispendiosa<br />

e, em última análise, mal sucedida do<br />

sistema ERP da SAP por parte da Lidl


48<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

constitui uma advertência não só para os<br />

projetos ERP, mas também para as implementações<br />

de sistemas de execução<br />

da produção (MES).<br />

O ponto de partida, mutatis mutandis,<br />

é a situação encontrada na maioria dos<br />

projetos brownfield para a implementação<br />

de MES: soluções antigas, quer sejam<br />

desenvolvidas internamente, quer sejam<br />

comerciais, que já não são capazes de satisfazer<br />

as necessidades da empresa. Os<br />

principais problemas enfrentados pela<br />

Lidl - personalização excessiva, governação<br />

do projeto e gestão da mudança<br />

- não são exclusivos dos projectos ERP e<br />

também se verificam nos projetos MES.<br />

Como superar estes<br />

desafios?<br />

A Gartner analisou 142 avaliações Peer<br />

Insights para identificar as principais<br />

lições aprendidas na implementação do<br />

MES. Não é de surpreender que estas<br />

lições, recolhidas a partir de implementações<br />

bem e mal sucedidas, sejam<br />

de grande importância para qualquer<br />

empresa que embarque numa aventura<br />

deste tipo e teriam sido tremendamente<br />

valiosas também para a Lidl.<br />

Lição #1<br />

A essência de objetivos claros<br />

Esta lição afirma que é importante realizar<br />

uma análise completa das necessidades<br />

e processos específicos da organização,<br />

para construir um roteiro de projeto<br />

robusto, que garanta um curso de ação<br />

definido e ajude a orientar o processo de<br />

tomada de decisão.<br />

Nas implementações de MES, os objetivos<br />

claros não se referem apenas ao<br />

que o sistema deve fazer, mas também à<br />

forma como pode transformar a organização.<br />

Trata-se de reimaginar processos<br />

e não apenas de replicar os existentes.<br />

Isto requer uma abordagem visionária,<br />

onde o foco muda de “o que fazemos<br />

agora” para “o que poderíamos alcançar<br />

com este sistema”.<br />

Lição #2<br />

Capacidades e integração do<br />

sistema: Um Pivô Estratégico<br />

A maioria dos pares concorda que é<br />

fundamental analisar minuciosamente<br />

as capacidades do sistema para<br />

garantir que este satisfaz os requisitos<br />

da organização. Claramente, isto não<br />

aconteceu no caso da Lidl e, talvez<br />

porque o SAP foi utilizado na maioria das<br />

operações de grande retalho, a decisão<br />

foi tomada sem a necessária análise<br />

minuciosa.<br />

Neste momento, é muito importante<br />

perceber que a análise não deve ser feita<br />

apenas com base nas respostas a um<br />

RFI ou RFP, mas as empresas devem<br />

tentar perceber que soluções existem<br />

em produtos para responder a requisitos<br />

semelhantes e que melhores práticas<br />

são implementadas em projetos no segmento<br />

em questão.<br />

O percurso do MES não se resume a<br />

escolher um sistema que se adapte às<br />

necessidades atuais; trata-se de prever<br />

tendências futuras e garantir que o sistema<br />

se pode adaptar e escalar. A integração<br />

não é apenas um desafio técnico;<br />

é um ponto de viragem estratégico que<br />

pode redefinir a forma como os diferentes<br />

sistemas se unem para criar um fluxo<br />

operacional perfeito.<br />

Lição #3<br />

Execução estratégica<br />

e formação<br />

Uma secção transversal de pares sugere<br />

que se crie e documente o processo de<br />

implementação de ponta a ponta, com<br />

prazos exatos, para garantir uma implementação<br />

suave e evitar quaisquer<br />

atrasos e alterações de âmbito numa


Supply Chain Magazine 49<br />

fase posterior.<br />

A formação e a gestão da mudança não<br />

são apenas caixas a assinalar na lista de<br />

verificação da implementação do MES.<br />

São processos contínuos que impulsionam<br />

a mudança cultural, necessária<br />

para uma adoção bem sucedida. O fator<br />

humano é frequentemente o elemento<br />

decisivo nas implementações do MES.<br />

Trata-se de criar uma cultura em que a<br />

tecnologia é vista como um facilitador e<br />

não como um fator de perturbação.<br />

Lição #4<br />

Padronização vs.<br />

Personalização: O Ato<br />

de Equilíbrio<br />

Esta lição foi a mais difícil para a Lidl<br />

- a personalização excessiva é uma das<br />

principais causas de desafios nas implementações.<br />

A sua insistência em adaptar<br />

o sistema SAP aos seus processos<br />

pré-existentes, em vez de adaptar os<br />

seus processos ao software, reflete uma<br />

armadilha comum nas implementações<br />

MES.<br />

O equilíbrio entre a normalização e a<br />

personalização é delicado. Os projetos<br />

MES devem começar com a normalização<br />

como base, encarando a personalização<br />

como uma exceção e não como a<br />

regra. Esta abordagem garante flexibilidade<br />

futura e atualizações mais fáceis,<br />

evitando que o sistema se torne um<br />

monólito rígido e imutável.<br />

É por isso que é tão importante conhecer<br />

bem o produto e compreender<br />

quais as soluções configuráveis que ele<br />

traz para resolver determinados requisitos,<br />

antes de prescrever uma determinada<br />

solução exata que só pode ser implementada<br />

através da personalização.<br />

Conclusão: Uma perspetiva<br />

mais alargada<br />

A experiência da Lidl é uma profunda<br />

chamada de atenção para o facto de<br />

os projectos tecnológicos, quer se trate<br />

de ERP ou MES, não serem apenas<br />

sobre tecnologia e implementação de<br />

software, mas também sobre pessoas,<br />

processos e governação. As lições aprendidas<br />

com a experiência da Lidl são<br />

universalmente aplicáveis e sublinham a<br />

importância de adotar funcionalidades<br />

padrão, assegurando uma governação<br />

robusta do projeto e dando prioridade<br />

a uma gestão eficaz da mudança nas<br />

implementações MES.<br />

À medida que as organizações embarcam<br />

em implementações de MES,<br />

devem encarar estes sistemas não como<br />

meras ferramentas, mas como catalisadores<br />

de inovação e eficiência.


50<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

TRANSPORTES<br />

Interfreight Logistics<br />

e Frotcom<br />

Texto: Ana Paiva<br />

UM CASO<br />

DE SUCESSO<br />

A operação da Interfreight Logistics,<br />

empresa de transporte e logística<br />

sediada no Chipre, refletia algumas<br />

ineficiências a nível de gestão<br />

de frota. Era necessário recorrer<br />

a uma solução que permitisse<br />

maior competitividade e eficiência.<br />

Assim, optou por um sistema da<br />

Frotcom, fornecedora global de sistemas<br />

e rastreamento de veículos e<br />

gestão de frota, localizada em Portugal,<br />

que permitiu aumentar em<br />

15% a produtividade da sua frota, e<br />

reduzir os custos em 10%, de acordo<br />

com a empresa portuguesa.<br />

Numa fase inicial, a empresa cipriota<br />

enfrentava desafios operacionais,<br />

como o acompanhamento das<br />

despesas da frota, uma vez que tinha por<br />

base um controlo manual, o que consumia<br />

tempo e recursos, criando ineficiências<br />

nas operações. Além disto, a Interfreight<br />

Logistics também precisava de ter<br />

acesso a dados relacionados com o fornecimento,<br />

consumo e até roubo de combustível,<br />

e monitorização de temperatura.<br />

Esta lacuna nos dados disponíveis não<br />

permitia à empresa tomar decisões informadas<br />

ou otimizar a gestão da sua frota,<br />

assim como não conseguia descarregar<br />

remotamente os dados dos tacógrafos,<br />

pelo que, os veículos tinham, muitas<br />

vezes, de parar para os descarregar manualmente.<br />

Estes problemas constantes<br />

refletiam-se em elevados custos operacionais<br />

e na redução da produtividade da<br />

frota, pode ler-se no site da Frotcom.<br />

Era necessária uma solução que colmatasse<br />

todas estas dificuldades operacionais.<br />

E é aqui que entra a Frotcom e a sua<br />

solução que permitiu à Interfreight Logistics<br />

melhorar o planeamento e reduzir os<br />

tempos de condução. A empresa recebe<br />

agora notificações automáticas assim<br />

que o motorista concluí tarefas em determinadas<br />

áreas, garantindo transparência<br />

relativamente aos tempos de entrega, e<br />

a requisitos adicionais de recursos humanos.<br />

Outra das melhorias está relacionada<br />

com o acompanhamento das despesas<br />

que, com a gestão dos custos de frota da<br />

Frotcom, passou a ser uma tarefa mais<br />

simples, uma vez que esta funcionalidade<br />

monitoriza as despesas mensais, consolidando<br />

todos os custos num só sistema.<br />

Além disso, a empresa recebe ainda<br />

notificações atempadas para a marcação<br />

de serviços e renovação das cartas de<br />

condução.<br />

Através da funcionalidade Frotcom de<br />

descarga remota do tacógrafo, os dados


Supply Chain Magazine 51


52<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

dos motoristas estão disponíveis sem ser<br />

necessário visitar a oficina. A integração<br />

do VDP Fleet via Frotcom API, faz com<br />

que os motoristas recebam um relatório<br />

automático no qual as suas infrações vêm<br />

detalhadas. Por sua vez, a Interfreight<br />

Logistics também pode monitorizar a<br />

temperatura da sua carga.<br />

De acordo com Panayiotis Alexandrou,<br />

gestor de frota da Interfreight Logistics, “a<br />

eficiência e eficácia do sistema têm sido<br />

um divisor de águas nas nossas operações.<br />

Permitiu que me concentrasse nas<br />

prioridades-chave ao agilizar tarefas e<br />

simplificar processos complexos”. Acrescenta<br />

ainda que “a Frotcom permitiu<br />

não só poupar tempo, como também<br />

melhorar a nossa produtividade, fazendo<br />

dele um ativo inestimável para qualquer<br />

empresa que procure otimizar a frota”.<br />

O sistema foi implementado ao longo de<br />

seis meses em várias fases. A implementação<br />

começou com uma análise da frota<br />

e configuração de contas, focada nas funções<br />

e acesso dos utilizadores, e criando<br />

relatórios automáticos exclusivos para o<br />

gestor da frota. As fases seguintes incluíram<br />

uma gestão exaustiva de custos, integração<br />

com a KASASI, e a configuração<br />

dos reboques. A configuração dos relatórios<br />

VDO e das autorizações de acesso dos<br />

motoristas incluíram-se na fase final. “Por<br />

último, a abordagem modular, marcada<br />

por uma configuração meticulosa e por<br />

formação, contribuiu para o sucesso global<br />

da implementação na frota da Interfreight<br />

Logistics”, pode ler-se no site da<br />

Frotcom, no qual também está indicada a<br />

nota de que “a comunicação e orientação<br />

foram constantes ao longo do processo<br />

de implementação, com a equipa Frotcom<br />

a oferecer um apoio contínuo”.<br />

Atualmente, a Interfreight Logistics possui<br />

68 veículos equipados com a solução<br />

da Frotcom.


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54<br />

TRANSPORTES<br />

Segurança portuária<br />

RUMO A UM FUTURO SEGURO:<br />

COMO A TECNOLOGIA PROTEGE<br />

OS PORTOS<br />

Vivemos num mundo globalizado e em constante evolução, e a segurança<br />

dos portos é, hoje, mais importante do que nunca. Porquê? Para salvaguardar<br />

as mercadorias valiosas que passam por estas instalações todos<br />

os dias – por exemplo, em 2022, os portos portugueses movimentaram<br />

mais de 85 milhões de toneladas de mercadorias –, mas acima de tudo<br />

para proteger os pilares da economia portuguesa (o setor dos transportes<br />

e logística representa 1.1% do PIB português) e a segurança nacional.<br />

Não há dúvida de que os portos<br />

fazem parte das infraestruturas<br />

críticas de qualquer país – o funcionamento<br />

do país depende deles em<br />

grande parte e, em caso de rutura, não<br />

temos alternativas. Desta forma, garantir<br />

que os portos são seguros é fundamental,<br />

mas também nada fácil, devido aos diversos<br />

perigos a que estão expostos e para<br />

os quais se devem preparar. Enumerando<br />

apenas alguns: devem estar preparados<br />

para riscos naturais que podem afetar<br />

as suas operações, instalações e pessoas;<br />

precisam de garantir a segurança da<br />

navegação; proteger as mercadorias de<br />

ameaças físicas como sabotagens ou<br />

roubos; prevenir eventuais derrames de<br />

substâncias químicas; e ao mesmo tempo<br />

zelar pela segurança e bem-estar dos<br />

trabalhadores. Para além disso, os portos<br />

têm de cumprir regulamentos nacionais<br />

e internacionais rigorosos, pois são alvos<br />

potenciais de atos de terrorismo e também<br />

de ciberataques.<br />

Para fazer frente a todos estes perigos,<br />

não é suficiente tomar medidas reativas<br />

contra os riscos atuais; é, sim, necessária<br />

a preparação para quaisquer ameaças


Supply Chain Magazine 55<br />

Autora<br />

Verónica del Hoyo, end customer key<br />

account manager, Axis Communications<br />

futuras, adotando uma atitude proativa.<br />

A tecnologia desempenha um papel<br />

fundamental neste sentido, pois permite<br />

ao setor ter uma visão completa e dar<br />

resposta todas as suas necessidades de<br />

vigilância atuais e futuras. Felizmente, já<br />

se encontra disponível no mercado uma<br />

vasta gama de soluções tecnológicas<br />

que abordam todos os aspetos essenciais<br />

da segurança portuária – entradas<br />

e saídas, linhas costeiras, perímetros,<br />

edifícios e armazéns chave, zonas de<br />

transporte de carga e de estacionamento,<br />

etc. – e que ajudam a criar um<br />

ambiente seguro.<br />

Os sistemas de vigilância ajudam a<br />

criar um ambiente seguro e proporcionam<br />

aos gestores das instalações uma<br />

monitorização rentável, em qualquer<br />

momento e a partir de qualquer lugar.<br />

Falamos, neste ponto, de imagens térmicas,<br />

soluções de controlo de acesso<br />

de veículos, diferentes tipos de câmaras<br />

e outras tecnologias avançadas para<br />

otimizar a gestão das operações diárias<br />

nos portos. Alguns exemplos desta<br />

otimização incluem: a monitorização<br />

remota de dados, como números de<br />

identificação de contentores ou vagões;<br />

inspeções remotas de danos nas<br />

cargas; a melhoria da formação dos<br />

colaboradores, expondo-os a incidentes<br />

e cenários reais; alertas automáticos<br />

quando alguém acede ao perímetro;<br />

investigação de acidentes facilitada com<br />

imagens de vídeo de alta qualidade (ao<br />

vivo ou gravadas); e ainda a contagem<br />

de pessoas ou a deteção de movimento<br />

com inteligência integrada.<br />

Todas estas soluções de videovigilância,<br />

controlo de acessos, intercomunicadores<br />

ou sistemas de áudio, combinadas<br />

com aplicações inteligentes especializadas<br />

em análise e formação avançada,<br />

não apenas aumentam a eficiência<br />

da segurança nas infraestruturas portuárias<br />

e ajudam a reduzir os custos e<br />

o tempo despendido, como também<br />

são escaláveis. Isto significa que vão ser<br />

cruciais na preparação dos portos para o<br />

futuro, permitindo-lhes expandir os seus<br />

sistemas de segurança pouco a pouco, à<br />

medida das suas necessidades.<br />

Em suma, a segurança no setor portuário<br />

é uma questão muito importante<br />

e que não deve, de forma alguma, ser<br />

subestimada. Num contexto de mudança<br />

constante, garantir a estabilidade e a<br />

resiliência de um país significa proteger<br />

as suas infraestruturas críticas contra as<br />

muitas ameaças a que estão expostas,<br />

e os portos não são exceções. Tendo em<br />

conta as muitas ameaças a que estão<br />

expostos. Setores estratégicos como o<br />

do comércio, turismo, produção, entre<br />

outros, dependem da continuidade das<br />

operações portuárias. Está na hora de<br />

todos os intervenientes do setor porem<br />

mãos à obra e assumirem um compromisso<br />

firme com sistemas de proteção<br />

da segurança física ligados a dados, que<br />

vão permitir proteger instalações, bens<br />

e pessoas – agora e sempre.


56<br />

TRANSPORTES<br />

Parceria<br />

Texto: Bruna Manguito<br />

BRINDE A UM FUTURO<br />

SUSTENTÁVEL<br />

A Carlsberg Sweden, em colaboração com a empresa de mobilidade de carga<br />

Einride, desenvolveu uma solução que possibilitou eletrificar a rota entre a<br />

cervejeira em Falkenberg e os terminais de transbordo em Gotemburgo, Malmö<br />

e Helsingborg. Uma história a que vale a pena brindar, pois cada quilómetro<br />

eletrificado representa um compromisso com um futuro mais sustentável.<br />

Num esforço para adotar uma abordagem<br />

mais ecológica, a Carlsberg<br />

Sweden uniu forças com a Einride<br />

para implementar uma solução de<br />

transporte sustentável nas regiões sul e<br />

oeste da Suécia. Esta iniciativa vai além do<br />

simples transporte da fábrica para os terminais<br />

de transbordo, incluindo também<br />

a movimentação de latas de alumínio da<br />

empresa de embalagens Ball, de Malmö<br />

para Falkenberg e Ramlösa. Ademais,<br />

contempla o transporte de Ramlösa para<br />

Falkenberg e uma parte da distribuição<br />

direta de Falkenberg para clientes grossistas<br />

em Halmstad, tudo impulsionado por<br />

veículos elétricos.<br />

“Iniciámos a nossa colaboração com a Einride<br />

no outono de 2022, quando eletrificámos<br />

o transporte pesado no armazém em<br />

Halland. Na primavera de 2023, expandimos<br />

a colaboração adicionando mais um<br />

camião elétrico que opera diariamente entre<br />

Falkenberg e Ramlösa. Agora, estamos<br />

a dar o próximo passo ao fazer um grande<br />

investimento numa solução de transporte<br />

sustentável para as partes sul e oeste da<br />

Suécia, o que contribuirá significativamente<br />

para a redução da nossa pegada de<br />

carbono e impulsionará o nosso progresso<br />

em direção a uma cadeia de valor de zero<br />

emissões”, referiu Peter Hammarstedt,<br />

CEO da Carlsberg Sverige.


Supply Chain Magazine 57<br />

Do desafio à inovação<br />

A iniciativa envolverá oito equipas com<br />

camiões elétricos com reboques, proporcionando<br />

51 espaços para paletes<br />

por equipa. A Einride será responsável<br />

por instalar a infraestrutura de carregamento<br />

em locais estratégicos, incluindo<br />

a cervejeira em Falkenberg e a fábrica<br />

de água em Ramlösa. Essa abordagem<br />

permitirá que os camiões carreguem enquanto<br />

são carregados e descarregados,<br />

otimizando eficiência e sustentabilidade.<br />

Os primeiros camiões elétricos devem<br />

entrar em operação no outono de <strong>2024</strong>.<br />

A frota será gerida, planeada, otimizada e<br />

monitorizada pela plataforma de mobilidade<br />

Einride Saga. A Einride estima<br />

que a parceria alargada deverá eletrificar<br />

aproximadamente 7.650.000 quilómetros<br />

de transporte em cinco anos, representando<br />

uma poupança de quase<br />

12.300 toneladas de CO₂ em comparação<br />

com camiões a diesel. Isto equivale a<br />

retirar 428 carros a diesel, a conduzir 200<br />

quilómetros por dia durante um ano, das<br />

estradas.<br />

De acordo com Carl Ceder, VP Nordics<br />

da Einride, “é um prazer trabalhar com<br />

clientes como a Carlsberg Sverige e ajudá-los<br />

na sua jornada rumo ao transporte<br />

sustentável, provando juntos que chegou<br />

o momento de uma transformação em<br />

grande escala do transporte pesado,<br />

mesmo em distâncias mais longas. A<br />

Carlsberg atreve-se a desafiar verdades<br />

antigas e inovar através da digitalização<br />

e eletrificação, para criar uma mudança<br />

real”.<br />

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58<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

CARREIRA<br />

Supply Chain no ADN<br />

Pedro Paiva<br />

diretor de logística<br />

da Panidor<br />

“UM BOM<br />

PROFISSIONAL DE<br />

LOGÍSTICA NÃO SE MEDE PELO<br />

TEMPO QUE DISPENSA, MAS PELA<br />

DETERMINAÇÃO E OBJETIVIDADE<br />

QUE EMPREGA!“<br />

Pedro Paiva já detém um completo currículo na área da logística e dos<br />

transportes, tendo passado por empresas como Chronopost Portugal,<br />

CTT Correios de Portugal, Transportes Machado & Brites Lda e Panilogistic.<br />

Atualmente, é diretor de logística da Panidor, e tem várias experiências<br />

e conselhos para partilhar sobre a sua carreira.<br />

Descreva o seu trabalho em três<br />

palavras.<br />

Coordenação, Eficiência, Desafiante.<br />

Por que se tornou num profissional<br />

de logística?<br />

Desde criança, o interesse pelo mundo<br />

do transporte sempre me acompanhou,<br />

levando-me a percorrer um caminho<br />

interessante e completo. Desde a distribuição,<br />

que foi uma primeira experiência<br />

fundamental, passando depois para<br />

a coordenação e gestão de equipas. A<br />

vontade e o interesse em otimizar processos,<br />

o interesse na gestão da cadeia<br />

de abastecimento e o querer sempre<br />

garantir a eficiência em toda a operação,<br />

fez com que naturalmente me tornasse<br />

um profissional na área da logística.<br />

Como é um dia típico de trabalho?<br />

O dia a dia é passado com o objetivo<br />

de implementar novas estratégias tendo<br />

em vista a eficiência de toda a cadeia. É<br />

fundamental a análise diária de dados, a<br />

coordenação de meios e equipas, e a colaboração<br />

com diferentes departamentos<br />

para garantir sempre uma gestão<br />

eficaz de toda a área logística.<br />

Quais os aspetos mais e menos<br />

gratificantes da sua profissão?<br />

O aspeto mais gratificante é, sem dúvida,<br />

as conquistas diárias, que são resul-


Supply Chain Magazine 59<br />

tado de uma otimização dos processos.<br />

É uma satisfação alcançar a eficiência<br />

operacional, aliada à capacidade de influenciar<br />

positivamente toda a cadeia. O<br />

aspeto menos gratificante é a incapacidade<br />

de prever problemas relacionados<br />

com avarias, infraestruturas ou equipamentos<br />

que provocam incumprimentos<br />

de prazos de entrega.<br />

Como mantém a motivação nos<br />

momentos mais desafiantes?<br />

A motivação é mantida com o foco<br />

nas soluções. Ultrapassar os desafios<br />

diários sabendo que a logística tem, e<br />

poderá ter sempre, um impacto positivo<br />

em toda a organização, é uma motivação<br />

forte!<br />

Quais as competências fundamentais<br />

para ter sucesso nesta função?<br />

A capacidade de decisão eficiente, comunicar<br />

de forma clara, ter a capacidade<br />

de se adaptar à mudança, de análise<br />

de dados e, principalmente, de liderança<br />

e coordenação para manter as equipas<br />

motivadas, envolvidas e focadas.<br />

Como cuida da sua saúde mental?<br />

É imperativo equilibrar o trabalho com<br />

momentos de descanso e familiar. Nunca<br />

separar os dois ambientes. Ambos<br />

permitem ter o equilíbrio natural e obrigatório<br />

de uma vida mental saudável<br />

Há algum episódio mais caricato<br />

ou marcante que recorde?<br />

Um episódio marcante como profissional<br />

foi quando a empresa passou por<br />

dificuldades na contratação de transportes,<br />

nacionais e internacionais, por<br />

via terrestre. Após a identificação da<br />

necessidade urgente de ter parceiros<br />

com grande capacidade de resposta,<br />

enquanto responsável de departamento,<br />

promovi entre parceiros existentes e<br />

novos parceiros, encontros com o objetivo<br />

de termos sempre resposta a todos os<br />

pedidos. Implementar mudanças operacionais,<br />

ter planos flexíveis considerando<br />

sempre todas as restrições, otimizar os<br />

tempos de carga, o planeamento e definição<br />

de horários de carga foram o mote<br />

para partilhar qual seria a forma possível<br />

de iniciar ou reforçar as parcerias garantido<br />

a operacionalização das entregas<br />

aos nossos clientes. A aquisição de novos<br />

equipamentos de movimentação e reforço<br />

de equipas contribuiu para o sucesso<br />

de toda a operação. O episódio marcante<br />

foi perceber que, com todas as alterações<br />

promovidas internamente, conseguimos<br />

adaptar, ter uma maior capacidade e<br />

soluções para que os nossos parceiros<br />

tivessem as condições e maior disponibilidade<br />

de resposta. Com dedicação, esforço<br />

e trabalho em equipa, apresentamos,<br />

hoje, soluções essenciais para garantir<br />

que as dificuldades sentidas no passado,<br />

se traduzam numa maior capacidade de<br />

resposta a imprevistos.<br />

Que conselhos daria a futuros<br />

profissionais que estão (ou irão)<br />

ingressar nesta profissão?<br />

Sejam humildes. Tenham a capacidade<br />

e habilidade de fazer um percurso ascendente.<br />

Focar no objetivo e trabalhar para<br />

atingir o mesmo, ainda que o caminho<br />

inicial seja difícil. Desistir nunca! É uma<br />

área de excelência e uma das que tem<br />

maior influência em toda a cadeia de<br />

abastecimento. Cultivem bons hábitos<br />

de comunicação, tenham capacidade<br />

para se adaptarem às mudanças e não<br />

esqueçam nunca a formação contínua.<br />

Criem e mantenham uma boa rede<br />

de contactos. Será fundamental para o<br />

vosso percurso! Um bom profissional de<br />

logística não se mede pelo tempo que<br />

dispensa, mas sim pela determinação e<br />

objetividade que emprega!


60<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

CARREIRA<br />

Escassez<br />

de Recursos Humanos<br />

Texto: Fábio Santos<br />

LOGÍSTICOS PROCURAM-SE!<br />

Diz-se por aí que são os profissionais que operam na sombra, aqueles<br />

que fazem acontecer, e que só são notados quando algo falha, mas a<br />

verdade é que sem eles o mundo estaria um caos. Falamos dos logísticos,<br />

claro. Estes profissionais que “fazem a máquina andar”, e que são cada<br />

vez mais procurados, estão a extinguir-se.


Supply Chain Magazine 61<br />

Do centro de distribuição ao armazém<br />

local, do camião ao navio,<br />

do picking ao last mile, todas as<br />

funções da cadeia de abastecimento<br />

são extremamente importantes para o<br />

seu correto funcionamento. É difícil perceber<br />

qual a área mais importante, pela<br />

simples razão de que tudo funciona de<br />

forma interligada. É um elo completo<br />

que funciona em cadeia, razão pelo qual<br />

tem o nome “cadeia de abastecimento”.<br />

Quando algum ponto falha, sentem-se<br />

as repercussões a montante e a jusante.<br />

Dependendo de onde ocorra o problema,<br />

pode dar-se uma quebra ou um<br />

excesso de produção, falta de stock ou<br />

armazéns que não conseguem escoar<br />

os produtos, entre outros problemas<br />

que, de um modo ou de outro, acabam<br />

por gerar falhas nas entregas.<br />

Atualmente, temos assistido a uma<br />

reformulação da profissão. Devido a<br />

questões como a digitalização, a automatização<br />

e a automação, estes cargos<br />

têm procurado profissionais cada vez<br />

mais aptos para lidar com estas novas<br />

tecnologias, e com diferentes soft skills.<br />

Por outro lado, por parte dos colaboradores,<br />

o salário já não é o fator determinante,<br />

mas também possíveis bónus,<br />

sejam eles monetários, materiais ou<br />

através de serviços, bem como outras<br />

vantagens como a possibilidade de fazer<br />

teletrabalho, a flexibilidade horária, o<br />

ambiente empresarial, etc.<br />

A nível interno, por vezes um ligeiro<br />

custo adicional por mês, através destes<br />

incentivos, poderá poupar à empresa<br />

vários custos indiretos, pois há que ter<br />

em conta que a perda de um colaborador<br />

não é apenas um ligeiro abrandamento<br />

nas operações. A substituição de<br />

um colaborador envolve grandes gastos,<br />

desde logo na procura de um novo profissional<br />

(num mercado em que a oferta<br />

está escassa), na sua formação e acompanhamento,<br />

e todo o tempo dedicado<br />

a essa pessoa. Custos que poderiam ser<br />

evitados ao manterem essa pessoa.<br />

De forma a traçar um perfil deste novo<br />

profissional de logística, bem como um<br />

estado do setor, abordámos várias empresas<br />

e entidades de diferentes áreas,<br />

bem como um futuro profissional do<br />

setor.<br />

RECRUTADORES<br />

Randstad<br />

David Ferreira, director staffing &<br />

inhouse da Randstad Portugal, nota<br />

que a escassez de recursos humanos é<br />

uma tendência que se tem sentido de<br />

forma crescente nos últimos tempos, e<br />

que foi também verificado no relatório<br />

de tendências 2023-<strong>2024</strong> da empresa.<br />

Segundo o estudo, 60% das empresas<br />

entrevistadas referiram existir uma<br />

notável escassez de talento, o que tem<br />

um impacto negativo sobre a competitividade,<br />

produtividade e capacidade de<br />

satisfazer as necessidades dos clientes.<br />

“Prevê-se que o ano de <strong>2024</strong> continue a<br />

apresentar uma necessidade crescente<br />

de elaboração de estratégias eficazes<br />

para atrair, reter e desenvolver talento”,<br />

destaca o responsável.<br />

No que toca às cadeias de abastecimento,<br />

defende que a escassez de<br />

talentos tem vindo a sentir-se desde a<br />

pandemia de COVID-19, e que isso “tem<br />

desempenhado um papel marcante<br />

no setor”. David Ferreira nota que para<br />

além de causas como o envelhecimento<br />

da população, o longo período de pandemia<br />

e de restrições, crise energética<br />

e conflitos terem tido grandes impactos<br />

na falta de recursos humanos para o<br />

setor, “à semelhança de outras áreas,<br />

também as perspetivas dos próprios<br />

colaboradores estão a mudar, acompanhadas<br />

igualmente pelas suas expectativas<br />

e exigências face ao emprego”.


62<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

O responsável da Randstad destaca<br />

ainda que “este não é apenas um tema<br />

de escassez de recursos, mas sim uma<br />

questão de escassez de talento, já que<br />

o setor da logística e transportes carece<br />

de mão de obra especializada, assim<br />

como de determinadas licenças e até<br />

tempos de experiência”. De forma a colmatar<br />

estas necessidades, defende que<br />

é necessária a adoção de tecnologia e<br />

inteligência artificial, de modo a fornecer<br />

dados e insights para identificar tendências<br />

de mercado e prever com maior<br />

precisão as necessidades futuras para o<br />

negócio. “Isto pode fornecer uma vantagem<br />

competitiva para construir uma<br />

forte rede de fornecedores e processos<br />

mais ágeis e resilientes nas cadeias de<br />

abastecimento”, aponta ainda.<br />

Ao mesmo tempo, realça que o<br />

talento também é necessário “para<br />

conseguir desenvolver estas matérias e<br />

aplicá-las ao bom funcionamento dos<br />

negócios”, considerando que as empresas<br />

devem estar atentas e apostar fortemente<br />

em programas de conversão e<br />

reconversão de competências.<br />

Ao nível dos setores em que faltam<br />

mais recursos, David Ferreira aponta<br />

o exemplo das tecnologias de informação,<br />

por envolver uma adaptação<br />

constante, e por vezes o que falta são<br />

profissionais qualificados, com uma<br />

experiência específica. “Nas cadeias de<br />

abastecimento – assim como noutros<br />

setores – está a ser feita uma transformação<br />

digital do negócio, o que requer<br />

cada vez mais profissionais dessa área”,<br />

explica o responsável da Randstad, e<br />

“quando existe um crescimento exponencial<br />

de alguns setores ou áreas<br />

de trabalho, determina uma grande<br />

procura por trabalhadores qualificados<br />

que não existem no mercado em<br />

número suficiente para colmatar as<br />

necessidades das empresas”.<br />

Atração e retenção de talento<br />

De forma a atrair estes talentos, sente<br />

que “é, mais do que nunca, importante<br />

a análise de informação e a atualização<br />

da mesma”, de modo a perceber quais<br />

as tendências do setor, bem como as<br />

necessidades e motivações dos colaboradores.<br />

“As análises recentes que a<br />

Randstad tem levado a cabo dizem que<br />

num mercado competitivo, as empresas<br />

que possuem equipas estáveis têm uma<br />

vantagem estratégica significativa e é<br />

por isso que a falta de talento pode ter<br />

como consequência a perda de oportunidades<br />

de crescimento, inovação e<br />

eficiência”, avança David Ferreira, tendo<br />

as empresas de apostar em estratégias<br />

eficazes para atrair, reter e desenvolver<br />

talentos para conseguirem essa competitividade.<br />

Algumas formas de atrair talento<br />

passam por medidas de flexibilidade e<br />

salário emocional, sendo que também<br />

a transformação digital e a inovação<br />

tecnológica irão ser determinantes no<br />

futuro, e que trazem grandes desafios,<br />

nomeadamente ao nível da segurança<br />

da informação.<br />

O desafio, no entanto, não passa apenas<br />

por atrair, mas também por reter.<br />

David Ferreira aponta que os candidatos<br />

já não procuram apenas salários, mas<br />

também benefícios adicionais, como<br />

por exemplo a flexibilidade, contribuindo<br />

igualmente para a qualidade de vida<br />

dos colaboradores.<br />

Novas skills<br />

A formação adequada é uma forma de<br />

desenvolver talento dentro dos recursos<br />

internos da empresa, com a possibilidade<br />

de direcionar para necessidades<br />

específicas. “É ideal que estas formações<br />

sejam promovidas pelos especialistas<br />

de cada setor, inseridas no contexto de<br />

cada empresa específica, pois é uma


Supply Chain Magazine 63<br />

forma de transmitir os valores das organizações<br />

e criar momentos de partilha e<br />

conhecimento”, destaca David Ferreira.<br />

No caso da Randstad, enquanto empresa<br />

de recursos humanos, estas práticas<br />

aumentam as oportunidades de uma<br />

pessoa encontrar um emprego, e também<br />

capacitam os profissionais para se<br />

adequarem às mudanças, inovarem e<br />

alcançarem os seus objetivos profissionais.<br />

“A importância da formação adequada<br />

e do desenvolvimento de competências<br />

destaca-se de forma ainda mais crítica<br />

no contexto de escassez de talento.<br />

Neste sentido, o upskilling (processo de<br />

aprimorar as competências e conhecimentos<br />

existentes de um profissional) e<br />

o reskilling (processo de aprender novas<br />

competências) assumem um papel de<br />

maior relevância”, aponta, acrescentando<br />

que, segundo o World Economic Forum,<br />

até 2025 será necessário que 50%<br />

dos trabalhadores passem por processos<br />

de reskilling de modo a manterem-<br />

-se relevantes no mercado de trabalho,<br />

o que gera desafios significativos para<br />

as empresas, que exigem uma ação<br />

conjunta entre as empresas, trabalhadores<br />

e governo.<br />

Esta necessidade de adaptação torna-se<br />

ainda mais significativa quando<br />

vemos a entrada acelerada da Inteligência<br />

Artificial no mundo do trabalho<br />

e em setores como o da logística e da<br />

indústria. “Estes são setores onde a<br />

componente manual está ainda muito<br />

marcada e presente, pelos pressupostos<br />

das funções, mas ainda assim, são áreas<br />

onde a componente tecnológica pode<br />

ser uma mais-valia, nomeadamente no<br />

desempenho de tarefas mais rotineiras<br />

deixando livre para a intervenção humana<br />

nas tarefas onde estes podem realmente<br />

acrescentar valor”, realça David<br />

Ferreira.<br />

Futuro do recrutamento<br />

Olhando para <strong>2024</strong>, acredita que será<br />

um ano que irá continuar a necessitar<br />

de elaboração de estratégias eficazes<br />

para atrair, reter e desenvolver talentos.<br />

“Prevê-se que continue a existir um<br />

grande foco nos candidatos, na procura<br />

de talento e de competências especializadas”,<br />

afirma ainda. A nível tecnológico,<br />

aponta que a inovação irá continuar a<br />

marcar o futuro, e que a Inteligência Artificial<br />

deverá ter um impacto crescente<br />

no mercado de trabalho, e que neste<br />

momento já está a impactar na forma<br />

como os processos de recrutamento<br />

acontecem. “Esta inovação traz mais ferramentas<br />

para nos ajudar a ter análises<br />

mais completas”, explica o responsável,<br />

sendo que “num contexto de escassez<br />

de talento torna-se ainda mais importante<br />

conseguir, de forma ágil, analisar<br />

informação de forma detalhada”.<br />

Para o futuro, antecipa que a escassez<br />

de talento permaneça até que os processos<br />

estabilizem e que seja possível<br />

encontrar modelos que estejam cada<br />

vez mais equilibrados entre as empresas<br />

e os colaboradores. David Ferreira destaca<br />

ainda que será importante valorizar<br />

as questões de reconversão de carreira,<br />

podendo reinventar processos e capacitar<br />

pessoas. “É importante que tenhamos<br />

presente que as necessidades e<br />

exigências estão a mudar, assim como<br />

as próprias perspetivas das empresas e<br />

os setores”.<br />

RSDG Human Capital<br />

Hugo Gonçalves, fundador da RSDG<br />

Human Capital, considera que existem<br />

muitos fatores por detrás da escassez<br />

de recursos humanos, no entanto, de<br />

todos, destaca um que não costuma ser<br />

abordado: o envelhecimento da população.<br />

“Se não temos entradas, e temos<br />

muitas saídas, podemos ter aqui um dos


64<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

fatores que ajuda à escassez de recursos<br />

humanos”, comenta, salientando que o<br />

aumento da esperança média de vida<br />

acaba por ser um fator positivo em termos<br />

de disponibilidade de mão de obra.<br />

Baseando-se no relatório “World Population<br />

Prospects 2022”, considera que<br />

o dividendo demográfico é um outro<br />

fator positivo, podendo ser visto como<br />

uma janela de oportunidade. “A população<br />

ativa face à população com 14 ou<br />

menos anos de idade é superior, podendo<br />

isto trazer uma oportunidade para<br />

fazer crescer a economia”, explica Hugo<br />

Gonçalves.<br />

De forma a colmatar a falta de mão de<br />

obra, considera que também a tecnologia<br />

poderá ter um papel determinante<br />

para realizar determinadas tarefas, aproveitando-se<br />

assim os recursos humanos<br />

existentes para tarefas mais complexas<br />

e especializadas, enquanto as máquinas<br />

reproduzem tarefas repetitivas e<br />

simples. “É importante saber gerir este<br />

dividendo, e uma das situações mais<br />

relevantes para a boa gestão do mesmo,<br />

é dar às pessoas as condições certas”,<br />

como o acesso a ensino de qualidade e<br />

a boas condições de saúde.<br />

Gestão geracional<br />

O dividendo demográfico leva ainda a<br />

um novo tópico: o ‘conflito entre gerações’.<br />

“Se estamos a falar de aumento da<br />

esperança média de vida, e se a idade<br />

da reforma também tende a aumentar,<br />

temos como resultado um maior cruzamento<br />

entre gerações nos locais de<br />

trabalho”, aponta.<br />

De forma a que o know-how das<br />

pessoas mais experientes não se perca,<br />

é necessário haver esta troca de experiências<br />

entre gerações, mas “para isso,<br />

as várias gerações têm de saber estar<br />

umas com as outras”, afirma. A este nível,<br />

destaca a necessidade de as pessoas<br />

sentirem-se bem no local de trabalho e<br />

assim tornarem-se uma mais-valia para<br />

as empresas. “Cada geração ter a sua<br />

forma de pensar e de estar perante o<br />

mesmo assunto, é perfeitamente normal.<br />

Somos influenciados pelas nossas<br />

vivências”.<br />

Hugo Gonçalves considera que este<br />

efeito de conflito entre gerações poderá<br />

aumentar, e que as empresas deverão<br />

criar estratégias para gerir os potenciais<br />

conflitos entre gerações, de modo a colocar<br />

as empresas numa posição confortável,<br />

estando assim um passo à frente”.<br />

Captação e retenção de talento<br />

O fluxo imigratório tende a dar resposta,<br />

em parte, à falta de mão de obra.<br />

Porém, a necessidade de especialização<br />

não costuma ser colmatada por estes<br />

recursos, o que leva a que uma grande<br />

parte desta mão de obra não consiga<br />

responder a necessidades específicas<br />

das empresas. Assim, destaca existir<br />

uma necessidade de abordar o mercado<br />

de outra maneira, apontando três aspetos<br />

que considera relevantes:<br />

. As empresas devem tornar-se atrativas<br />

para potenciais trabalhadores e para<br />

manter os atuais, não esquecendo assim<br />

quem já se encontra nas empresas;<br />

. As empresas devem procurar nas instituições<br />

de ensino o seu parceiro estratégico<br />

e fornecedor ideal para encontrar<br />

o fato à medida;<br />

. Uso do digital enquanto fator de<br />

eficiência e potencial facilitador para a<br />

atração de pessoas.<br />

“O foco das empresas tem de estar<br />

nos clientes. É indiscutível. No entanto,<br />

não se podem esquecer dos trabalhadores.<br />

São um dos pilares das empresas.<br />

Felizmente, nos dias de hoje, é um<br />

assunto muito falado e explicado. No entanto,<br />

em algumas organizações importa<br />

passar das palavras à ação”, defende


Supply Chain Magazine 65<br />

Hugo Gonçalves.<br />

Uma forma de reforçar e demonstrar o<br />

interesse das empresas nos colaboradores<br />

é através da valorização do potencial<br />

dos recursos humanos. “Dar um sinal<br />

que se acredita nas pessoas, através<br />

de iniciativas como a formação, é algo<br />

muito positivo e relevante do ponto de<br />

vista da gestão dos recursos humanos”,<br />

realça, e é importante que a formação<br />

não seja vista apenas para cumprimento<br />

de requisitos legais: “é preciso olhar para<br />

a mesma de forma estratégica”.<br />

Algumas iniciativas existentes envolvem<br />

a ligação entre universidades,<br />

politécnicos e outras instituições ligadas<br />

ao setor da formação com as empresas,<br />

contribuindo para essa ‘formação estratégica’.<br />

“Não é apenas na logística, mas<br />

também noutras áreas. Há inclusivamente<br />

programas cuja base é adaptada<br />

à realidade de cada empresa (o tal fato<br />

à medida que referi anteriormente)”,<br />

explica.<br />

Tecnologia<br />

De acordo com o relatório da World<br />

Economic Forum (“The Future of Jobs<br />

Report 2023”), Hugo Gonçalves aponta<br />

existir uma previsão de grande mudança<br />

impulsionada por novas tecnologias<br />

e pela transição verde, pelo menos entre<br />

2023 e 2027. “Esta mudança vai implicar<br />

a criação de novos empregos e o desaparecimento<br />

de outros. Isto levará à<br />

necessidade de governos, empresas e<br />

trabalhadores abraçarem uma cultura<br />

de formação contínua”.<br />

Ao nível tecnológico, considera que<br />

a tecnologia irá continuar a desafiar as<br />

empresas e as pessoas, e reforça a ideia<br />

de que quem não acompanhar a necessidade<br />

de mudança constante, ficará<br />

para trás: “estamos no mercado global.<br />

Se as empresas locais não se adaptam,<br />

vai aparecer alguma, de algum outro<br />

ponto do planeta, para aproveitar a<br />

oportunidade”.<br />

Adaptação constante<br />

Um mundo volátil como o de hoje<br />

exige uma necessidade constante de<br />

adaptação, sendo cada vez mais difícil<br />

pensar a longo prazo. Assim, “as empresas<br />

adaptam-se ou ficam de fora”, e o<br />

mesmo acontece com o recrutamento.<br />

O recurso à Inteligência Artificial é<br />

visto como uma grande vantagem para<br />

as empresas, capacitando-as de uma<br />

resposta mais rápida e mais enquadrada<br />

com as necessidades dos negócios.<br />

“Os recursos humanos, em toda a sua<br />

intervenção de A a Z, têm de ser vistos<br />

como uma área estratégica para os<br />

negócios. Seja por recurso a empresas<br />

terceiras, seja recorrendo aos departamentos<br />

de RH das próprias empresas,<br />

quando surge uma necessidade de<br />

preencher uma posição, a resposta tem<br />

de ser rápida”, afirma Hugo Gonçalves, e<br />

“neste sentido, o uso das novas tecnologias<br />

é indiscutivelmente uma vantagem<br />

competitiva”.<br />

O recrutamento de amanhã<br />

O problema da escassez de recursos<br />

humanos é transversal a várias áreas da<br />

economia, não apenas na logística. Por<br />

isso mesmo, o fundador da RSDG Human<br />

Capital considera relevante que as<br />

empresas pensem de forma estratégica<br />

quanto à sua abordagem na área dos<br />

RH. “Um sinal positivo para os trabalhadores<br />

é a preocupação efetiva por parte<br />

da empresa com estes”, e isso implica<br />

que os RH também tenham disponibilidade<br />

para se dedicarem aos mesmos.<br />

O uso da IA poderá ser uma forma de<br />

reduzir o tempo gasto com determinados<br />

processos, deixando mais espaço<br />

para o que é realmente relevante: olhar<br />

pelas pessoas.


66<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

Por outro lado, considera importante<br />

que as empresas invistam em novas<br />

medidas, de modo a atraírem novos<br />

talentos, e aqui podem ser apontados<br />

alguns aspetos como a flexibilidade de<br />

horários, a formação continua, benefícios<br />

extra, entre outros. “Quando se<br />

fala de remuneração, tendencialmente<br />

pensamos na componente monetária.<br />

No entanto, importa não esquecer que<br />

a componente não monetária também<br />

pode estar presente na remuneração e<br />

pode ser igualmente importante para<br />

algumas pessoas”, destaca Hugo Gonçalves,<br />

deixando como exemplos, que<br />

considera serem menos comum, os<br />

fatores de ser um trabalho desafiante e<br />

o de ter reconhecimento social.<br />

No entanto, todas estas questões<br />

também dependem tanto de pessoa<br />

para pessoa, como do ponto em que o<br />

trabalhador se encontra na hierarquia, o<br />

que dará mais ou menos importância às<br />

diversas componentes que fazem parte<br />

da remuneração. “É aqui que entram os<br />

gestores de recursos humanos. É necessário<br />

tempo para olhar aos pormenores.<br />

É também neste ponto que entra a<br />

importância dos dados”, sendo crucial<br />

que o gestor olhe para os dados e faça<br />

uma análise.<br />

“Acima de tudo, importa ter uma<br />

cultura que transmita confiança aos trabalhadores.<br />

Quem se sente bem numa<br />

casa, pondera muito bem antes de mudar!”,<br />

remata Hugo Gonçalves.<br />

Adecco<br />

Cátia Melo, senior manager | Engineering,<br />

Industry & IT na Adecco<br />

Recruitment, considera que não verificam<br />

uma escassez de talento na área<br />

de supply chain, mas notam “algum<br />

aumento nos salários praticados neste<br />

setor, o que pode induzir a uma perceção<br />

de escassez de talento”.<br />

Segundo a recrutadora, esta situação<br />

advém do facto de que, embora existam<br />

profissionais qualificados disponíveis,<br />

as empresas enfrentam desafios<br />

na atração e fidelização desses talentos<br />

devido às crescentes expectativas<br />

salariais.<br />

“O que recomendamos aos nossos<br />

clientes/ parceiros é disponibilizarem<br />

um pacote de benefícios adicionais,<br />

oportunidades de desenvolvimento<br />

profissional, e um ambiente de trabalho<br />

mais flexível”, explica Cátia Melo.<br />

Uma das formas como agem é<br />

dando visibilidade aos parceiros sobre<br />

as novas tendências salariais do setor,<br />

podendo esta ser feita através de<br />

estudos salariais, de modo a que estes<br />

ponderem ajustes estratégicos de<br />

modo a manterem a competitividade<br />

no mercado.<br />

OPERADORES LOGÍSTICOS<br />

APOL<br />

Por parte da Associação Portuguesa<br />

de Operadores Logísticos (APOL), Vítor<br />

Figueiredo, presidente do Conselho<br />

Diretivo, aponta que o problema da escassez<br />

de mão de obra afeta a totalidade<br />

da economia, e que “os operadores<br />

logísticos, enquanto setor altamente<br />

dinâmico e em forte transformação,<br />

não são exceção. Pelo contrário, enquanto<br />

setor em crescimento, são dos<br />

setores mais afetados”.<br />

O responsável associativo destaca<br />

que a escassez de mão de obra é<br />

transversal a todas as funções. Se por<br />

um lado, considera que o ensino da<br />

logística é recente, especialmente em<br />

Portugal, “por outro lado, o êxodo das<br />

gerações mais novas e mais qualificadas,<br />

a crescente adoção de novas<br />

tecnologias, a multiplicidade de canais<br />

de venda e o forte aumento quer da<br />

complexidade, quer da abrangência


Supply Chain Magazine 67<br />

das cadeias de abastecimento têm feito<br />

com que a procura de posições em<br />

funções mais qualificadas tenha sido<br />

preenchida apenas de forma parcial”,<br />

nota, sendo que “a cada ano a situação<br />

tem-se agravado e não existem<br />

perspetivas de que venha a melhorar a<br />

curto prazo”.<br />

Apesar da crescente automação e<br />

robotização de funções mais rotineiras,<br />

também se tem sentido a escassez de<br />

mão de obra em funções mais indiferenciadas.<br />

“O aumento da imigração,<br />

sobretudo oriunda de fora da Europa,<br />

tem atenuado este problema”, porém,<br />

não tem sido suficiente para responder<br />

à crescente procura por pessoas<br />

qualificadas.<br />

Vítor Figueiredo assinala que a escassez<br />

tem-se feito sentir em regiões<br />

onde a atividade logística está mais<br />

concentrada, nomeadamente no eixo<br />

da Azambuja e Carregado, e em diversas<br />

áreas, mas destaca a falta de motoristas<br />

profissionais. “Essa escassez foi<br />

agravada pela guerra da Ucrânia, que<br />

fez regressar a casa uma importante<br />

fatia dos motoristas que antes estavam<br />

em rotas internacionais. Esta é uma<br />

dificuldade crescente e com tendência<br />

a agravar-se, já que a idade média dos<br />

motoristas está bastante acima dos 50<br />

anos e a renovação geracional desta<br />

categoria profissional é completamente<br />

incipiente”.<br />

Desafios<br />

Ao nível da evolução e crescimento<br />

do setor, considera que este tem<br />

enfrentado grandes desafios, tendo<br />

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CONNOSCO


68<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

em conta todos os impactos negativos<br />

recentes na cadeia de abastecimento,<br />

o que dificultou muito as suas operações.<br />

Desde as crises disruptivas<br />

sucessivas, o crescimento dos canais<br />

de venda e a diminuição significativa<br />

de lead times, os operadores logísticos<br />

têm enfrentado vários desafios nos últimos<br />

anos. Ao mesmo tempo, problemas<br />

como a interrupção de algumas<br />

cadeias de abastecimento de bens<br />

subsidiários à atividade logística, ou<br />

a ausência de mão de obra, agravam<br />

ainda mais a situação. “É no chão de<br />

armazém, nas funções mais indiferenciadas,<br />

sobretudo em turnos noturnos<br />

ou de fim de semana ou em funções<br />

mais exigentes de um ponto de vista<br />

físico que mais se têm sentido estes<br />

constrangimentos”, explica.<br />

“Nos últimos anos, o setor da logística<br />

tem evoluído de uma forma extraordinária<br />

e muito difícil de acompanhar”,<br />

nota o presidente da direção da APOL,<br />

mas mesmo com estas dificuldades,<br />

destaca o papel que os operadores<br />

logísticos têm tido para conseguirem<br />

responder às necessidades do mercado,<br />

tendo não só mantido os níveis<br />

de serviços, como nalguns casos até<br />

mesmo melhorado.<br />

Vítor Figueiredo diz que existem<br />

muitas razões para estarmos a viver<br />

esta crise de recursos humanos, desde<br />

logo porque a logística é um setor com<br />

uma forte exigência, quer em recursos<br />

técnicos, quer físicos, ou até mesmo<br />

de disponibilidade, e as crescentes necessidades<br />

das empresas, em termos<br />

de profissionais especializados, não<br />

estão a conseguir ser colmatadas pelas<br />

universidades, pelo ensino ou pelas<br />

formações profissionais.<br />

Tal como Hugo Gonçalves, também<br />

aponta o envelhecimento da população<br />

como uma razão para a falta de<br />

mão de obra especializada, bem como<br />

a concorrência de outros mercados,<br />

sobretudo no norte da Europa, tornando<br />

difícil a fixação de profissionais,<br />

especialmente de jovens.<br />

Promoção do setor<br />

A APOL tem trabalhado de forma a<br />

dinamizar ações que possam atenuar<br />

o problema da ausência de mão de<br />

obra, aproximando-se cada vez mais<br />

das instituições de ensino e assinando<br />

protocolos no sentido de promover a<br />

integração de recém-formados no setor<br />

e a ajudar as entidades de ensino a<br />

adaptar melhor a sua estrutura curricular<br />

às necessidades dos operadores<br />

logísticos.<br />

Para além de estarem mais próximos<br />

dos jovens, também têm promovido a<br />

discussão entre associados, de forma<br />

a debater as dificuldades de cada um,<br />

criando medidas dirigidas para reduzir<br />

o impacto das mesmas. Para o efeito,<br />

foi criado um grupo de trabalho dedicado<br />

ao tema no âmbito da APOL.<br />

Não menos importante tem sido a<br />

aposta da associação em dar a conhecer<br />

a realidade altamente dinâmica<br />

em que vivem os profissionais que<br />

trabalham no setor da logística em<br />

geral, e nos operadores logísticos em<br />

particular.<br />

“Felizmente, apesar de todos os<br />

constrangimentos, a resposta dos<br />

operadores logísticos aos desafios que<br />

lhes têm sido colocados tem sido excelente”,<br />

afirma.<br />

O presidente da APOL aponta que os<br />

operadores logísticos têm conseguido<br />

responder à escassez de mão de obra<br />

através da capacidade de sacrifício,<br />

digitalização, automação e robotização,<br />

bem como a constante formação<br />

interna. “Além disso, temos vindo a<br />

assistir a uma forte concentração por


Supply Chain Magazine 69<br />

parte dos operadores logísticos, que<br />

contribuem para criar sinergias e escala<br />

para afrontar problemas estruturais<br />

e estruturantes”, como este.<br />

A nível das condições para os seus<br />

recursos humanos, “há a referir que<br />

os operadores logísticos têm vindo a<br />

melhorar substancialmente as condições<br />

salariais médias praticadas como<br />

forma de poder atrair e fidelizar mais<br />

profissionais”.<br />

Expectativas futuras<br />

Vítor Figueiredo não considera que<br />

em <strong>2024</strong> o problema da falta de mão de<br />

obra seja ultrapassado, bem pelo contrário.<br />

“Acreditamos que a erosão das<br />

condições de vida da população portuguesa,<br />

associadas ao facto de que este é<br />

um problema global e não apenas local,<br />

farão com que a renovação geracional<br />

que tanto é ambicionada se venha a<br />

agravar. É por isso com apreensão que<br />

vemos o futuro no que diz respeito à<br />

incorporação de mais mão de obra no<br />

setor da logística”.<br />

Ao nível das novas skills, destaca que<br />

um profissional do setor logístico tem<br />

que ter forte dinâmica e agilidade para<br />

lidar com o imprevisto. “A resiliência é<br />

uma característica fundamental para<br />

quem trabalha neste setor”, sublinha,<br />

sendo necessário alguém que ao mesmo<br />

tempo também seja aberto à mudança.<br />

“Acreditamos que este setor vai intensificar<br />

ainda mais a tendência de incorporação<br />

de novas tecnologias nos seus<br />

processos”, e sejam elas a robotização,<br />

automação ou ferramentas de Inteligência<br />

Artificial, não tem dúvidas que as<br />

funções mais rotineiras serão desempenhadas<br />

por máquinas.<br />

“A inteligência emocional e a habilidade<br />

no contacto humano e na gestão<br />

de equipas são características cada vez<br />

mais valorizadas nos profissionais do<br />

setor, porque é aí que se vai continuar a<br />

fazer a diferença”, remata.<br />

INDÚSTRIA<br />

PPG Industries<br />

Marco Castanheira, iberia logistics<br />

manager da PPG Industries, aponta que<br />

a PPG também enfrenta desafios ao<br />

nível da atração e retenção de talentos<br />

em determinadas áreas, e encontram-se<br />

a trabalhar ativamente em estratégias<br />

para melhorar os esforços de recrutamento<br />

e aprimorar os programas de retenção,<br />

de modo a resolver esse problema.<br />

“A empresa está comprometida em<br />

criar um ambiente de trabalho positivo<br />

e oferecer benefícios competitivos para<br />

atrair e reter os melhores talentos do<br />

setor”, explica o responsável.<br />

A escassez de talentos qualificados<br />

impacta diretamente as operações<br />

da PPG, podendo levar a atrasos nas<br />

expedições, problemas de qualidade,<br />

impactar o nível de serviço ao cliente e<br />

até mesmo aumentar os custos. “Atrair<br />

e reter talentos é crucial para a inovação<br />

e a manutenção da competitividade no<br />

mercado”, explica Marco Castanheira,<br />

lembrando que só através de uma força<br />

de trabalho forte é que a PPG poderá<br />

adaptar-se às mudanças do mercado e<br />

aos avanços tecnológicos. Indiretamente,<br />

considera que também poderá afetar<br />

a moral dos colaboradores e a satisfação<br />

no trabalho dentro da empresa, criando<br />

uma sensação de instabilidade e incerteza<br />

nos colaboradores, o que poderá<br />

levar a um menor engagement e desempenho<br />

geral.<br />

Desafios da falta de talento<br />

Algumas das áreas que podem ser<br />

mais afetadas incluem os profissionais<br />

qualificados em I&D, fabricação e produção,<br />

vendas e marketing, supply chain


70<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

e logística, prejudicando as áreas de<br />

inovação e desenvolvimento, eficiência e<br />

qualidade, vendas e operações. “Os profissionais<br />

na Indústria são profissionais<br />

em ‘vias de extinção’”, considera Marco<br />

Castanheira.<br />

Relativamente aos motivos por detrás<br />

destas dificuldades de captação e<br />

retenção de talentos ao longo da cadeia<br />

de abastecimento, aponta aspetos<br />

como as competências para responder<br />

às novas tecnologias, o equilíbrio entre<br />

a vida profissional e pessoal, o trabalho<br />

remoto, a mobilidade, oportunidades de<br />

progressão de carreira, desenvolvimento<br />

de novas competências e formação,<br />

mudanças demográficas devido ao<br />

envelhecimento da mão de obra, e o aumento<br />

da concorrência por talentos de<br />

outros setores. “Enfrentar estes desafios<br />

exige à PPG a criação e implementação<br />

de estratégias para atrair e reter talentos”,<br />

explica o logistics manager.<br />

Atrair e reter talento<br />

A promoção de uma cultura de local<br />

de trabalho diversificada e inclusiva,<br />

valorizando as contribuições dos seus<br />

colaboradores, é também uma forma<br />

utilizada para envolver as pessoas,<br />

apostando também numa comunicação<br />

regular, com mecanismos de feedback,<br />

programas de reconhecimento<br />

e envolvimento dos funcionários nos<br />

processos de tomada de decisão. Também<br />

a nível interno, têm uma política<br />

de planeamento de sucessão e iniciativas<br />

de plano de carreira para ajudar os<br />

colaboradores a compreender possíveis<br />

oportunidades de progressão.<br />

Para a procura de novos talentos,<br />

a PPG também tem estratégias de<br />

recrutamento, como os programas de<br />

recrutamento em campus, feiras de<br />

emprego e parcerias com organizações<br />

do setor.<br />

Novas skills<br />

De modo a adaptar-se ao cenário atual<br />

de rápida evolução, a PPG procura colaboradores<br />

com um conjunto mais diversificado<br />

de habilidades e qualidades que<br />

possam ajudar a inovar, adaptarem-se às<br />

mudanças e acrescentar valor à organização.<br />

“Algumas das novas qualidades e capacidades<br />

que procuramos são a adaptabilidade<br />

e a flexibilidade, a capacidade de<br />

dinamizar, aprender novas competências<br />

e adaptar-se às novas realidades é essencial<br />

no ambiente de trabalho dinâmico de<br />

hoje”, avança Marco Castanheira. “Características<br />

igualmente importantes são a criatividade<br />

e a inovação porque procuramos<br />

pessoas que possam pensar criativamente,<br />

gerar novas ideias e impulsionar a inovação<br />

em produtos, serviços e processos”<br />

A literacia digital e as competências<br />

tecnológicas são outras das skills que a<br />

empresa procura nos seus colaboradores,<br />

pois “num mundo cada vez mais digital,<br />

quem tem uma forte literacia digital e<br />

proficiência em tecnologias emergentes,<br />

como inteligência artificial, análise de dados<br />

e automação, que são os atuais game<br />

changers”.<br />

Ao nível das equipas, considera que a<br />

capacidade de trabalhar em equipa é um<br />

elemento base para um colaborador da<br />

PPG, e considera que “quem consegue<br />

trabalhar de forma eficaz com outras pessoas<br />

e construir relacionamentos sólidos<br />

são diferenciadores nos seus resultados”.<br />

Também destaca a “característica da<br />

moda”, a inteligência emocional, como<br />

forma de compreender e gerir emoções,<br />

bem como capacidades de comunicar de<br />

forma eficaz, construir relacionamentos<br />

interpessoais fortes, como formas de melhorar<br />

o trabalho em equipa e a eficácia da<br />

liderança, e ainda “talvez a qualidade mais<br />

rara nas novas gerações, o pensamento<br />

crítico. Os colaboradores que pensam criticamente<br />

e tomam decisões baseadas em<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K


+12<br />

+12.000m2<br />

TRANSPORTE<br />

TERRESTRE<br />

TRANSPORTE<br />

AÉREO<br />

TRANSPORTE<br />

MARÍTIMO<br />

SERVIÇOS<br />

ADUANEIROS<br />

LOGÍSTICA<br />

www


72<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

dados são os mais raros nos nossos locais<br />

de trabalho”.<br />

Épocas altas e parcerias<br />

Durante os períodos de maior necessidade<br />

de recursos humanos, a PPG utiliza<br />

agências de recrutamento para agilizar<br />

o processo de contratação e preencher<br />

rapidamente funções temporárias ou permanentes.<br />

“Temos uma pool de pessoas<br />

identificadas para trabalho temporário<br />

durante a nossa época alta (mercado<br />

bastante sazonal)”, aponta Marco Castanheira,<br />

explicando que após a pandemia<br />

começaram a ter várias dificuldades neste<br />

tipo de contratação, e que “sendo Portugal<br />

um país de turismo, não é de todo ‘sexy’<br />

trabalhar na indústria durante o verão”.<br />

Como forma de contornar esta questão,<br />

“as parcerias podem ser uma forma valiosa<br />

para a PPG superar a escassez de recursos<br />

humanos. Por exemplo, ao colaborar com<br />

instituições de ensino, a PPG tem acesso<br />

a talentos, recursos e conhecimentos para<br />

ajudar a enfrentar a escassez de pessoal”,<br />

defende Marco Castanheira, referindo que<br />

no Grupo PPG já existem diversos projetos<br />

de parcerias, das quais destaca as que<br />

fazem junto de escolas secundárias, onde<br />

os estudantes trabalham nos armazéns<br />

e fábricas da PPG, sendo um exemplo de<br />

um projeto de sucesso na Dinamarca há<br />

vários anos.<br />

Analisando todo o impacto na cadeia de<br />

abastecimento, Marco Castanheira considera<br />

que “abordar a escassez de talentos<br />

é fundamental para que a PPG mantenha<br />

a excelência operacional, impulsione a<br />

inovação e tenha um crescimento sustentável.<br />

A capacidade da PPG atrair e reter<br />

os melhores talentos será a chave para o<br />

sucesso”.<br />

EQUIPAMENTOS<br />

Jungheinrich<br />

A Jungheinrich Portugal nomeou recentemente<br />

Margarida Filipe para o cargo de<br />

HR Manager, cargo que, até à data, não<br />

existia. A necessidade de destacar uma<br />

pessoa para assumir estas responsabilidades<br />

deveu-se ao grande crescimento<br />

recente do volume de negócios da empresa,<br />

aliado ao desenvolvimento das suas<br />

equipas, pois precisavam de alguém focado<br />

em responder às expectativas dos seus<br />

colaboradores, e que também cuidasse<br />

deles.<br />

“Desde o início que percebi que o desafio<br />

era grande, e a oportunidade de aprendizagem<br />

e crescimento era ainda maior. A<br />

decisão foi fácil visto que é uma empresa<br />

que coloca as pessoas em primeiro lugar,<br />

focada no desenvolvimento de cada um,<br />

tendo assim todos os ingredientes para<br />

um projeto de sucesso”, destaca Margarida<br />

Filipe.<br />

Ao nível da gestão de pessoas, a nova<br />

responsável de recursos humanos conta<br />

que encontrou “uma empresa onde as<br />

pessoas são consideradas essenciais e<br />

prioritárias”, existindo uma grande preocupação<br />

com o bem-estar, a felicidade e o<br />

desenvolvimento das pessoas.<br />

Bem-estar dos colaboradores<br />

De modo a fomentar a satisfação, felicidade<br />

e bem-estar, bem como a responsabilidade<br />

social, foi criado o Comité da<br />

Felicidade e da Responsabilidade Social,<br />

composto por colaboradores da empresa,<br />

cuja missão é proporcionar momentos,<br />

iniciativas e projetos que visem atender ao<br />

propósito de cada comité. Contam ainda<br />

com o programa Well-being, e um programa<br />

de benefícios, que tentam a cada<br />

ano tornar mais atrativo (Kit Nascimento,<br />

Kit Casamento, parcerias com empresas,<br />

seguros, prémios de antiguidade, etc.).<br />

Esta preocupação com a satisfação e<br />

com o bem-estar do colaborador é uma<br />

forma de manterem os seus recursos humanos<br />

dentro da empresa, e investem em


Supply Chain Magazine 73<br />

diversas formas de proporcionar conforto e<br />

estabilidade aos seus colaboradores, sendo<br />

inclusive certificada pela Great Place to<br />

Work desde 2022 na categoria Empresas.<br />

“Os nossos colaboradores consideram que<br />

são tratados de forma justa e que lhes são<br />

atribuídos todos os recursos necessários<br />

para o desempenho da sua função”, explica<br />

Margarida Filipe.<br />

Uma nova responsabilidade<br />

“Não existindo esta posição até à minha<br />

entrada, as expectativas eram/são muitas,<br />

e muitos eram/são os projetos e ambições<br />

que temos”, explica Margarida Filipe, “tem<br />

sido um desafio e aprendizagem contínuos.<br />

Há muitos projetos para realizar e<br />

muitas políticas para construir”.<br />

A RH Manager tem como prioridade,<br />

nesta fase, a consolidação de uma cultura<br />

de proximidade, proporcionando um<br />

ambiente organizacional que permita a<br />

retenção e atração de talento. Ao mesmo<br />

tempo, também procura implementar<br />

políticas de Recursos Humanos fortes, que<br />

os ajudem a alcançar os seus objetivos. “A<br />

Jungheinrich Portugal, à semelhança do<br />

Grupo Jungheinrich AG, sempre apostou<br />

na implementação de iniciativas que promovem<br />

a formação e valorização dos nossos<br />

colaboradores”, realça a responsável.<br />

Ao nível da formação, contam com um<br />

programa bastante completo e consistente,<br />

nomeadamente ao nível do Serviço<br />

Pós-Venda, apostando fortemente em<br />

ações de formação, tanto em Portugal<br />

como em Espanha ou na Alemanha, afirmando<br />

que nesta área “há necessidade de<br />

haver uma constante atualização, sendo<br />

formações que preparamos para que ocorram<br />

anualmente”.<br />

Atualmente, a equipa da Jungheinrich é<br />

composta por 106 pessoas, divididos entre<br />

a sede de Mem Martins (Lisboa) e a delegação<br />

na zona industrial da Maia (Porto),<br />

e ainda um Técnico de Manutenção na<br />

região do Algarve, mas têm a ambição de<br />

que este número continue a crescer. “Pretendemos<br />

ter um papel ativo na promoção<br />

de uma cultura de proximidade com<br />

as pessoas, onde a nossa prioridade é a<br />

capacitação, potenciando sempre as competências<br />

individuais de cada um”, afirma.<br />

Desafio acrescido<br />

Crescer implica um desafio acrescido<br />

a que sente que as empresas não estão<br />

acostumadas, e exige uma necessidade<br />

constante de se reinventarem todos os<br />

dias e serem atrativos, tanto interna como<br />

externamente. “Estamos a viver uma fase<br />

em que o mercado de trabalho é extremamente<br />

volátil, onde são as pessoas que<br />

escolhem as empresas, e não o contrário<br />

como temos sido habituados”, considera<br />

Margarida Filipe, “neste momento o<br />

desafio é igual tanto para atrair como para<br />

reter”.<br />

Por serem uma multinacional, o crescimento<br />

e o desenvolvimento de competências<br />

pode ser feito também noutros países,<br />

um aspeto que revela ser cada vez mais<br />

procurado pelos jovens, o que também<br />

“nos traz uma responsabilidade acrescida,<br />

porque desafia-nos a sermos atrativos<br />

internacionalmente”.<br />

Olhando para o futuro da força de trabalho<br />

nesta área, considera que “vivemos<br />

num contexto dinâmico”, e que a intralogística<br />

“é uma área que tem passado, nos<br />

últimos anos, por inúmeras mudanças e<br />

desenvolvimento a uma velocidade incrível”.<br />

Destaca que, estando numa era de<br />

transformação e automatização de processos,<br />

serviços e de equipamentos, será uma<br />

área afetada pela adoção dos robôs e da<br />

Inteligência Artificial.<br />

Face a esta fase de digitalização, a RH<br />

Manager considera que “na gestão de pessoas,<br />

este novo paradigma é extremamente<br />

desafiante. Teremos de saber integrar<br />

e preparar as pessoas diariamente para


74<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

estas mudanças, bem como nos obriga<br />

a reinventar-nos para nos adaptar-nos às<br />

novas exigências”.<br />

Apesar dos desafios, Margarida Filipe<br />

comenta que “sabia que iria encontrar<br />

uma empresa organizada e muito bem<br />

estruturada, mas tem sido uma ótima<br />

surpresa perceber que para além disso,<br />

é uma empresa que tem vindo a proporcionar<br />

aos seus colaboradores inúmeras<br />

iniciativas com a finalidade de promover o<br />

seu bem-estar e satisfação”.<br />

ESTUDANTE<br />

Escola Superior Náutica Infante<br />

D. Henrique (ENIDH)<br />

Duarte Amaral é aluno finalista na<br />

Licenciatura em Gestão de Transportes e<br />

Logística na Escola Superior Náutica Infante<br />

D. Henrique (ENIDH). O seu primeiro<br />

contacto com a logística foi através da<br />

escola secundária, durante uma exposição<br />

sobre licenciaturas. “Foi uma área que me<br />

cativou principalmente pela sua importância<br />

global. Apesar de muitas pessoas não<br />

terem essa noção, o mundo onde vivemos<br />

está dependente da logística, desde a comida<br />

que está nas nossas casas, aos carros<br />

que conduzimos, a logística tem um papel<br />

fulcral nas nossas vidas”, afirma.<br />

Apesar de ainda se encontrar a estudar,<br />

Duarte Amaral já teve dois contactos<br />

com o mundo da logística, através de um<br />

estágio de verão na Marship Corretagem<br />

Marítima, e um segundo estágio que se<br />

encontra atualmente a fazer na Liscont-Yilport<br />

Iberia.<br />

“Depois de ter contacto com a área, penso<br />

que a minha motivação cresceu, vejo a<br />

logística de uma forma muito mais ampla<br />

e ‘real’”, considera Duarte Amaral.<br />

Destaca que os estágios o enriqueceram,<br />

tanto enquanto aluno, como enquanto<br />

futuro profissional, permitindo-lhe fazer<br />

a ligação entre a teoria da sala de aula e<br />

a prática desenvolvida “no mundo real”,<br />

o que tornou a sua aprendizagem “mais<br />

interessante e apelativa”.<br />

Várias áreas por explorar<br />

Atualmente, Duarte Amaral está mais<br />

ligado ao setor marítimo-portuário, pelo<br />

qual revela sempre ter tido “uma atração<br />

inegável”, porém, ainda procura abranger<br />

mais os seus conhecimentos antes de<br />

decidir qual a área da logística que mais o<br />

fascina, visto cada uma ter as suas especificidades.<br />

“Quanto mais contacto tenho<br />

com o setor, mais possibilidades surgem,<br />

e penso que gostaria de experimentar um<br />

bocado de tudo antes de me especializar”,<br />

afirma. “Neste momento, o meu objetivo<br />

é ver o mercado de várias perspetivas, ver<br />

várias formas de pensar e de trabalhar,<br />

e expandir ao máximo o meu leque de<br />

conhecimentos. Acredito que no futuro vai<br />

ser uma mais-valia, tanto a nível profissional,<br />

como a nível de realização pessoal”.<br />

Olhando para o mercado, considera existirem<br />

algumas tendências claras ao nível<br />

tecnológico na área, um foco na sustentabilidade<br />

e um aumento da complexidade<br />

das cadeias de abastecimento, devido às<br />

disrupções e às instabilidades políticas que<br />

se têm vindo a sentir no mundo, e que a<br />

procura por profissionais irá estar alinhada<br />

com o futuro do setor. “Tenho a expectativa<br />

de um mercado cada vez mais global e<br />

dinâmico, em que uma empresa que não<br />

consegue acompanhar as principais tendências,<br />

não consegue ser competitiva”.<br />

A nível tecnológico, sente que “hoje<br />

vemos tecnologias mais avançadas com<br />

cada vez mais especificidades, o que faz<br />

com que seja cada vez mais valorizado um<br />

conhecimento transversal dos profissionais”.<br />

Durante o estágio na Liscont, acompanhou<br />

a implementação de um sistema<br />

AGS (Automated Gated System), e viu o<br />

papel “quase vital” dos profissionais com<br />

conhecimentos tanto a nível de operações


Supply Chain Magazine 75<br />

e logística, como a nível de tecnologias<br />

e programação. “Penso que estes profissionais<br />

vão ser cada vez mais procurados<br />

e valorizados dentro das empresas, arriscando<br />

a dizer que uma empresa que não<br />

invista neste tipo de profissionais, não vai<br />

conseguir ser competitiva nesta nova era<br />

de digitalização”.<br />

Desafios<br />

Relativamente aos desafios, nota que<br />

para além das tendências transversais a<br />

outros setores, como a integração tecnológica<br />

e a sustentabilidade, a logística também<br />

enfrenta problemas com a disrupção<br />

das cadeias de abastecimento, a instabilidade<br />

política ou o possível recuo na globalização<br />

das cadeias, tornando-se num setor<br />

cada vez mais complexo, “onde ninguém<br />

tem a resposta certa para o futuro”.<br />

Ao nível das tendências, sente-se mais<br />

curioso em acompanhar a implementação<br />

de inteligência artificial e da blockchain<br />

na logística. “São duas tendências<br />

que têm o potencial de mudar completamente<br />

a direção e a forma como vemos a<br />

logística”, defende, mas “em contrapartida,<br />

estas tecnologias trazem um alto grau de<br />

complexidade, principalmente na fase de<br />

implementação”, tendo as empresas uma<br />

maior responsabilidade para identificar<br />

quais os processos e áreas que vão realmente<br />

beneficiar da implementação de<br />

tecnologias altamente complexas, e que<br />

requerem um investimento superior.<br />

Apesar disso, Duarte Amaral sente-se<br />

motivado para embarcar nesta viagem, e<br />

afirma que “fazer parte do mundo que é<br />

a logística dá-me um sentido de responsabilidade,<br />

uma responsabilidade com a<br />

qual eu gosto de viver”. Embora seja um<br />

mundo complexo e volátil, o estudante<br />

encara as dificuldades com otimismo: “é<br />

isso que a torna numa área tão interessante.<br />

Avançar para um futuro incerto não é<br />

fácil, mas por isso sei que os profissionais<br />

com novas formas de pensar vão ter cada<br />

vez mais espaço”.<br />

Atração e retenção de talentos<br />

Nesse mesmo sentido, espera que as<br />

empresas apostem cada vez mais nos jovens,<br />

que tragam novas formas de pensar,<br />

e novas formas de interpretar a logística,<br />

pois “o mundo está cada vez mais moderno<br />

e mais global, as empresas precisam<br />

de inovar e arriscar se quiserem continuar<br />

competitivas”. Já vê muitas dinâmicas de<br />

atração de talentos através de programas<br />

de “trainees”, que considera serem “uma<br />

maneira muito atrativa para estes darem<br />

os primeiros passos no mundo da logística”,<br />

e sente que é importante para o setor<br />

e para as empresas criar carreiras claras e<br />

bem definidas, “para que os jovens profissionais<br />

não se sintam perdidos, e tenham<br />

um objetivo para o qual consigam trabalhar”.<br />

Ao nível da atração, diz que as características<br />

mais valorizadas pelas empresas<br />

atualmente são a iniciativa e os conhecimentos<br />

transversais, e considera importante<br />

que todos os futuros profissionais<br />

da área, tal como ele próprio, procurem<br />

expandir os seus conhecimentos, conhecer<br />

várias formas de trabalhar, e explorar<br />

diversos setores, pois “numa área tão grande<br />

como a logística, seria um desperdício<br />

não a explorar ao máximo”.<br />

Para as empresas, deixa a recomendação<br />

de que estas invistam em ações<br />

junto dos estudantes, nas universidades,<br />

desde visitas de estudo, a seminários com<br />

profissionais do setor, pois “as empresas ao<br />

contribuírem para a formação dos alunos<br />

de hoje, terão profissionais mais qualificados<br />

amanhã”.<br />

“Penso que o setor da logística enfrenta<br />

desafios nunca vistos, e por isso vai ser<br />

algo que estou muito curioso em poder<br />

acompanhar de perto”, conclui Duarte<br />

Amaral.


76<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

DIÁRIO DE BORDO<br />

A IMPORTÂNCIA<br />

DA INTEGRAÇÃO<br />

ESTRATÉGICA<br />

DOS SISTEMAS<br />

DE INFORMAÇÃO<br />

NA CADEIA DE<br />

ABASTECIMENTO<br />

Marisa Santos,<br />

business & project manager, Anturio<br />

Business Software<br />

Nos últimos anos, o mundo tem sido confrontado com alguns desafios<br />

imprevistos, cujo impacto nas operações do dia-a-dia das empresas não<br />

é negligenciável. Os ERP são fundamentais numa organização, mesmo<br />

num país como Portugal, no qual o tecido empresarial é composto, maioritariamente,<br />

por PME. Mas até que ponto estamos a extrair deles tudo<br />

o que podemos para conseguirmos responder aos desafios que surgem<br />

diariamente?<br />

No que diz respeito à gestão da cadeia<br />

de abastecimento, um sistema<br />

que é particularmente importante<br />

é o sistema de gestão de armazéns, usualmente<br />

designado por WMS (do inglês<br />

Warehouse Management System). Os<br />

WMS trabalham em conjunto com outros<br />

módulos do sistema ERP, e permitem a<br />

rastreabilidade dos produtos e a organização<br />

das rotas dos operadores logísticos<br />

dentro do próprio armazém, entre outras<br />

vantagens.<br />

Ao longo dos anos foram evoluindo e<br />

passaram a integrar o processamento<br />

de códigos de barras e RFID. À medida<br />

que a tecnologia ficou mais barata, as<br />

empresas mais pequenas começaram<br />

também a ter acesso mais facilitado. Com<br />

um WMS, pode categorizar-se o inventário<br />

de acordo com a importância de cada


Supply Chain Magazine 77<br />

produto, percebendo-se assim quais terão<br />

um impacto significativo no custo geral<br />

do inventário, para além de se conhecer<br />

os custos de entrada e saída de mercadoria,<br />

armazenamento e envio. Assim, os<br />

gestores ficam munidos de informação<br />

preciosa, sabendo com precisão as quantidades<br />

reais de recursos consumidos por<br />

cada atividade, facilitando uma alocação<br />

bem informada dos recursos humanos e<br />

financeiros.<br />

Finalmente, e apenas a título de exemplo,<br />

um WMS também permite avaliar o<br />

desempenho dos fornecedores e clientes<br />

em termos de esforço financeiro, o que<br />

auxilia a tomada de decisão estratégica<br />

quanto às parcerias comerciais. Consegue-se,<br />

assim, otimizar a gestão do<br />

armazém de forma a encontrar um equilíbrio<br />

entre a eficiência e a necessidade<br />

efetiva.<br />

Existem desafios técnicos e humanos na<br />

implementação de um WMS. A integração<br />

com outros sistemas existentes é<br />

complexa, pois à partida existirão muitos<br />

outros sistemas em funcionamento. A<br />

migração dos dados para o novo sistema<br />

é sempre também uma tarefa enorme e<br />

difícil. Por outro lado, o novo WMS deverá<br />

suportar desenvolvimentos futuros. E<br />

também ser flexível para se adaptar a<br />

mudanças repentinas no mundo.<br />

Desenvolvimentos recentes nos WMS,<br />

em particular no que diz respeito à cloud<br />

e à Inteligência Artificial (IA), evidenciam<br />

passos significativos na eficiência e inteligência<br />

das operações de armazém, dos<br />

quais se podem destacar a integração de<br />

IoT (Internet of Things) e de IA analítica,<br />

que estão a revolucionar as operações.<br />

Existem dispositivos IoT espalhados pelos<br />

armazéns, como sensores e veículos com<br />

capacidade de condução autónoma, que<br />

captam enormes quantidades de dados,<br />

e que são depois alavancados pela IA<br />

para identificar fontes de ineficiência,<br />

prevendo padrões de procura e otimizando<br />

as operações. A IA está a ser usada<br />

para melhorar as previsões analíticas nos<br />

armazéns. Falamos de sistemas capazes<br />

de analisar dados históricos e tendências<br />

atuais para prever com exatidão a procura<br />

de inventário. Esta mudança ajuda a<br />

manter níveis de inventário otimizados,<br />

reduzindo custos e aumentando a eficiência<br />

operacional.<br />

A globalização e os desafios económicos<br />

têm vindo a mostrar que, de um modo<br />

geral, a rastreabilidade das operações<br />

através dos sistemas de informação é<br />

uma necessidade iminente para quem<br />

procura o crescimento do negócio e para<br />

quem se quer posicionar no mercado de<br />

forma diferenciada dos seus concorrentes.<br />

A implementação de WMS traz desafios<br />

às organizações, como a administração<br />

aos operadores, sendo que todos deverão<br />

estar envolvidos no processo desde cedo<br />

para garantir o sucesso do mesmo. A IA<br />

desempenha um papel cada vez mais<br />

relevante na cadeia de abastecimento<br />

moderna. A implementação de sistemas<br />

WMS e ERP de forma integrada é<br />

fundamental para aprimorar a eficiência<br />

operacional e são os melhores aliados<br />

para enfrentar os desafios do mercado<br />

global e posicionar as empresas de forma<br />

competitiva.


78<br />

<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />

PONTO DE VISTA<br />

PAULO JORGE, MANAGING PARTNER DA EASYTALENT – INTERIM SOLUTIONS<br />

E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO INTERIM MANAGEMENT PORTUGAL (AIM)<br />

UMA SOLUÇÃO DE GESTÃO<br />

CHAMADA “INTERIM MANAGEMENT”<br />

O Interim Management nasceu na Holanda e nos Estados Unidos nos<br />

anos 1970 e estendeu-se às economias mais desenvolvidas, onde existe<br />

de forma consolidada como um mercado organizado e estruturado, com<br />

uma Procura e uma Oferta.<br />

Traduz-se na possibilidade de as empresas,<br />

independentemente da sua<br />

dimensão, setor de atividade e ciclo<br />

de vida, poderem recorrer aos serviços de<br />

um especialista, para executar um projeto<br />

específico ou superar um determinado<br />

desafio, em qualquer ponto da respetiva<br />

cadeia de valor, quando e apenas durante<br />

o tempo estritamente necessário, de uma<br />

forma ágil e flexível, sem os condicionalismos<br />

da contratação tradicional.<br />

Não estando suportada num contrato de<br />

trabalho, mas sim de prestação de serviços,<br />

esta solução de gestão é extremamente<br />

flexível e tailor-made, evitando-se<br />

alocações improdutivas, desperdícios ou<br />

responsabilidades adicionais. O “Interim<br />

Management”, ou “Consultoria de Implementação”,<br />

permite que as empresas e<br />

PME possam ter acesso a profissionais<br />

muito experientes e qualificados na sua<br />

área de expertise, a que não teriam acesso<br />

de outra forma. A primeira missão de<br />

“Interim Management” em Portugal ocorreu<br />

no âmbito da EXPO’98 e tem vindo<br />

a conhecer uma crescente notoriedade<br />

que entrou numa nova fase a partir da<br />

fundação da AIM – Associação de Interim<br />

Management.<br />

O Interim Management constitui assim<br />

uma modalidade de MaaS (Management<br />

as a Service) à disposição de todas as<br />

empresas e negócios. Na atual conjuntura,<br />

em que uma parte significativa dos nossos<br />

jovens mais promissores está fora do país,<br />

ou a trabalhar para empresas estrangeiras,<br />

e em que os nossos empresários e<br />

gestores se lamentam da falta de profissionais<br />

qualificados para levarem a cabo<br />

os seus projetos, o recurso a esta pool de<br />

talento sénior qualificado perfila-se como<br />

uma alternativa extremamente válida e<br />

competitiva para a mitigação e resolução,<br />

com sucesso, dos múltiplos pain-points<br />

identificados: Rentabilidade, Produtividade,<br />

Internacionalização, Sustentabilidade,<br />

Aumento de Escala, ou objetivos aspiracionais<br />

como Mudança, Transformação e<br />

Crescimento.<br />

Chegar, ver e executar, com um olhar<br />

independente e descomprometido com<br />

a realidade percecionada e existente no<br />

shop floor e com um foco exclusivo no<br />

atingimento dos objetivos acordados, é<br />

a imagem de marca dos “Interim Managers”.<br />

Indexação de parte da retribuição à<br />

performance é também um traço distintivo<br />

do Interim Management.


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