SCMedia News | Revista | Março 2024
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
Mensal · 4,60€<br />
50<br />
Escassez de Recursos Humanos<br />
LOGÍSTICOS<br />
PROCURAM-SE!<br />
ELA Awards<br />
Solução de<br />
Blockchain ganha<br />
prémio do ano<br />
Efficio<br />
Portugal<br />
Entrevista com<br />
Wolfgang Rueth<br />
Conferência<br />
Intralogística<br />
A tecnologia<br />
veio para ficar<br />
Frotcom e<br />
Interfreight<br />
Logistics<br />
Um caso de sucesso
Supply Chain Magazine 3<br />
EDITORIAL<br />
dora.assis@supplychainmagazine.pt<br />
Dora Assis<br />
QUO VADIS JORNALISMO?<br />
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer<br />
que se publique. Tudo o resto é publicidade.”<br />
Autor desconhecido<br />
Já todos nos habituámos a notícias de despedimentos<br />
em órgãos de informação ou<br />
assistimos à morte de projetos editoriais. E<br />
todos nós, jornalistas, conhecemos alguém com<br />
quem trabalhámos, com quem já nos cruzámos<br />
ou que nos habituámos a ler, que de um momento<br />
para o outro ficou no desemprego. É que<br />
na generalidade têm sido os jornalistas a pagar<br />
a fatura de um negócio que está em acelerado<br />
processo de mudança há mais de 20 anos. São<br />
pessoas, pessoas como nós, que todos os meses<br />
levamos até si esta revista.<br />
Pessoas que escolheram como profissão<br />
informar os outros. Ajudar, através da informação,<br />
outras pessoas a tomar melhores decisões,<br />
decisões fundamentadas, esclarecidas. Na era das<br />
fake news, da desinformação, da contra informação,<br />
o jornalismo sério desempenha uma função<br />
primordial na sociedade.<br />
É um negócio que está em mudança há mais<br />
de 20 anos e em que fomos assobiando para o<br />
lado, como se não se passasse nada. E claro que<br />
as audiências, os leitores, as pessoas para quem<br />
produzimos informação, foram-se transferindo<br />
mais e mais e mais para sites, redes sociais, agregadores...<br />
e quando se começou a reconhecer<br />
que afinal passava-se alguma coisa, muitos foram<br />
acometidos pela demência do share, do click, do<br />
like, da visualização, que nos vão levando vertiginosamente,<br />
a cada dia, para um buraco negro.<br />
Rigor, isenção, transparência, objetividade, são<br />
fundamentais para levar a quem está desse lado<br />
aquilo que espera: a verdade. A matéria-prima<br />
que necessita para alimentar a sua sede de conhecimento<br />
e informação. Mas a verdade hoje é<br />
tão filtrada, manipulada, duplicada e repetida que<br />
é impossível olhar para os media sem ficarmos<br />
preocupados.<br />
14 de março de <strong>2024</strong> ficará para a história. Foi<br />
a segunda paralisação do setor em 40 anos. A<br />
última greve geral de jornalistas tinha sido em<br />
1982. Uma coisa ficou clara: é por tudo o que está<br />
mal no jornalismo que é crucial ajudar o bom<br />
jornalismo a sobreviver, vingar e progredir. Para<br />
bem de todos.<br />
Acreditamos que no caso dos nichos de mercado<br />
- pasme-se! – o papel ainda pode ter um<br />
futuro. Um futuro assente na qualidade e na elevada<br />
exigência dos nossos leitores, que querem<br />
profundidade e alternativas de informação que<br />
vão além do instantâneo digital.<br />
A nossa convicção? Apenas uma: a boa<br />
informação, o bom jornalismo, como as boas<br />
empresas, as boas marcas e os excelentes<br />
profissionais têm sempre lugar. É verdade que<br />
a imprensa tem que repensar modelos de negócio<br />
e encontrar formas mais criativas de criar<br />
valor. O caminho não passa pela desvalorização<br />
do digital, mas sim por uma estratégia integrada<br />
que faça sentido para quem lê e quer estar bem<br />
informado. E é aí que se situa o compromisso<br />
que assumimos.
4<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
ÍNDICE<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
INTRALOGÍSTICA<br />
06 Bacalhau representa 36% do<br />
total exportado da Noruega<br />
para Portugal<br />
LOGÍSTICA<br />
34<br />
34 “Somos mais do que um espaço<br />
de exposição”<br />
36 A tecnologia veio para ficar<br />
08<br />
08 <strong>2024</strong> é um ano pouco novo para a<br />
supply chain<br />
14 Inovação: da embalagem ao<br />
transporte<br />
16 Solução de Blockchain ganha<br />
prémio do ano<br />
PROCUREMENT<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
44 Papel e cartão entre os mais<br />
reciclados<br />
44<br />
TECNOLOGIAS<br />
20<br />
20 Missão: transformar a gestão de<br />
compras e o procurement<br />
28 Entrevista Efficio<br />
32 “3 perguntas a”: Fábio Pinheiro<br />
46 Aprender com os erros<br />
46
Supply Chain Magazine 5<br />
TRANSPORTES<br />
CARREIRA<br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
PONTO DE VISTA<br />
50<br />
50 Interfreight Logistics: um caso de<br />
sucesso<br />
54 Rumo a um futuro seguro: como a<br />
tecnologia protege os portos<br />
56 Brinde a um futuro sustentável<br />
58 Supply Chain no ADN: Pedro Paiva<br />
60 Logísticos procuram-se!<br />
76 A importância da integração<br />
estratégica dos sistemas<br />
de informação na cadeia de<br />
abastecimento<br />
78 Uma solução de gestão chamada<br />
“Interim Management”<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Sede editor, Administração e Redação<br />
Al. Júlio Dinis, n.º 68<br />
– São Francisco 2890-307 Alcochete<br />
T: 210 499 074<br />
Direção Geral<br />
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Dora Assis<br />
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Sales manager<br />
Samantha Casas<br />
Marketing Digital<br />
Margarida de Vasconcelos<br />
Events Support<br />
Katline Costa<br />
Impressão<br />
VASP DPS<br />
MLP – Quinta do Grajal,<br />
Venda Seca<br />
2739-511 Agualva Cacém<br />
Tiragem<br />
3 mil exemplares<br />
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Os artigos assinados apenas veiculam<br />
a posição dos seus autores.<br />
Interdita a reprodução de textos e imagens<br />
sem autorização expressa.
6<br />
FACTOS & NÚMEROS<br />
Exportação<br />
BACALHAU REPRESENTA<br />
36% DO TOTAL EXPORTADO<br />
DA NORUEGA PARA PORTUGAL<br />
Em 2023, a Noruega exportou cerca<br />
de 124.000 toneladas do seu bacalhau<br />
para Portugal, o que equivale<br />
a 36% do total exportado, segundo os<br />
dados do Norwegian Seafood Council<br />
(NSC).<br />
No final do ano passado, o NSC indicou<br />
à Agência Lusa que as exportações de<br />
bacalhau (inteiro) salgado e seco da Noruega<br />
para Portugal atingiram as 17.915<br />
toneladas, uma quebra de 15% face a<br />
2022, mas o preço subiu 16%.<br />
Por sua vez, as exportações de bacalhau<br />
salgado chegaram às 17.836 toneladas,<br />
menos 4%, com o preço a crescer 24%. As<br />
exportações de bacalhau congelado fixaram-se<br />
nas 2.877 toneladas, um recuo de<br />
7%, sendo que o respetivo valor também<br />
subiu 24%.<br />
Já o bacalhau fresco/refrigerado da Noruega,<br />
veio em 922 toneladas para Portugal,<br />
o que se traduziu numa diminuição<br />
de 63%, mas o preço cresceu 30%.<br />
O NSC relembra que, no corrente ano, as<br />
quotas de pesca de bacalhau sofreram<br />
um corte de entre 20% e 25%, alcançando<br />
218.000 toneladas. “Isto representa<br />
um desafio para os compradores que<br />
terão de fazer face à grande competitividade<br />
dada a menor disponibilidade da<br />
espécie”, refere.<br />
De acordo com esta fonte, em <strong>2024</strong>, a<br />
tendência deverá recair, à semelhança<br />
do ano passado, sobre o consumo de<br />
bacalhau crescido, “dada a abundância<br />
desta categoria”.
8<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
LOGISTICA<br />
Desafios na cadeia<br />
de abastecimento<br />
Texto: Dora Assis<br />
<strong>2024</strong> É UM ANO<br />
POUCO NOVO<br />
PARA A SUPPLY<br />
CHAIN<br />
Após anos sucessivos de perturbações<br />
sem precedentes na supply<br />
chain, <strong>2024</strong> continua a não dar<br />
tréguas aos gestores da cadeia<br />
de abastecimento e promete não<br />
lhes fazer a vida fácil. O alerta é de<br />
Carlos Cordon, professor do IMD,<br />
no artigo publicado na revista do<br />
Institute for Management Development,<br />
que chama a atenção para<br />
cinco aspetos a que quem gere a<br />
supply chain deve estar atento.<br />
Os líderes da cadeia de abastecimento<br />
nunca passaram por uma<br />
situação tão difícil. A COVID-19<br />
causou perturbações sem precedentes<br />
e foi seguida de perto pela invasão da<br />
Ucrânia pela Rússia, que teve um impacto<br />
direto no fornecimento de matérias-primas<br />
e provocou um aumento<br />
dos preços da energia, fazendo disparar<br />
globalmente a inflação.<br />
Segundo reflete o académico na publicação<br />
do IMD, com os desafios atuais e<br />
os novos que se perfilam no horizonte,<br />
quem esperava pela bonança já em <strong>2024</strong><br />
tem fortes probabilidades de ficar desapontado.<br />
Vamos ver porquê.<br />
Em primeiro lugar, continuam a fazer-<br />
-se sentir as consequências das perturbações<br />
na cadeia de abastecimento. Os
Supply Chain Magazine 9<br />
produtores e retalhistas de todo o mundo<br />
esperavam que, em <strong>2024</strong>, as cadeias<br />
de abastecimento regressassem finalmente<br />
às rotinas estáveis da era pré-CO-<br />
VID-19. Infelizmente, nessa ótica, o ano<br />
pouco trouxe de novo e tem-se vindo a<br />
assistir a uma espiral de custos logísticos<br />
devido aos confrontos militares no Mar<br />
Vermelho, importante rota de comércio<br />
global.<br />
Volatilidade e incerteza<br />
Os efeitos desta volatilidade continuarão<br />
a repercutir-se em toda a economia<br />
mundial, diz Carlos Cordon, e “embora<br />
exista um desejo generalizado de regressar<br />
a um sistema em que grossistas e<br />
retalhistas acordem preços por períodos<br />
prolongados, esta continuará a ser uma<br />
área da economia que coloca grandes<br />
desafios”. O académico dá o exemplo<br />
de França, onde a prática consiste em<br />
fixar anualmente os preços dos produtos<br />
alimentares através de um processo de<br />
negociação. E explica que o grupo Carrefour<br />
teve um conflito com o (agora antigo)<br />
fornecedor PepsiCo. Como resultado,<br />
o Carrefour recusa-se a armazenar os<br />
produtos da PepsiCo, descrevendo como<br />
“inaceitáveis” os aumentos de preços<br />
propostos por esta última para <strong>2024</strong>. No<br />
ano passado, uma disputa semelhante<br />
levou o retalhista britânico Tesco a retirar<br />
os produtos Heinz das suas prateleiras.<br />
Os grossistas argumentam que precisam<br />
de se proteger contra a volatilidade contínua<br />
nas suas cadeias de abastecimento.<br />
Os retalhistas insistem que estão a tentar
10<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
“Embora exista um<br />
desejo generalizado<br />
de regressar a um<br />
sistema em que grossistas<br />
e retalhistas<br />
acordem preços por<br />
períodos prolongados,<br />
esta continuará<br />
a ser uma área da<br />
economia que coloca<br />
grandes desafios”<br />
proteger os consumidores e que as suas<br />
próprias margens já sofreram um golpe<br />
substancial em consequência disso. A<br />
adoção de preços mais dinâmicos parece<br />
ser a única forma de ultrapassar esta situação,<br />
sendo que grossistas e retalhistas<br />
poderão ter de aceitar acordos de preços<br />
a mais curto prazo, mesmo que isso não<br />
favoreça nenhuma das partes.<br />
Não menos importante neste contexto<br />
é a crise desencadeada pelo aumento do<br />
custo de vida. O professor do IMD lembra<br />
na sua reflexão que embora a inflação<br />
tenha abrandado consideravelmente em<br />
grande parte da Europa, é provável que<br />
os consumidores (e, em particular, as<br />
famílias) sintam apenas um alívio parcial,<br />
na melhor das hipóteses. Milhões de<br />
europeus, cujos empréstimos hipotecários<br />
a taxa fixa terminam este ano, verão<br />
as suas despesas mensais aumentarem<br />
drasticamente quando forem obrigados<br />
a cumprir as suas obrigações com uma<br />
taxa de juro significativamente mais<br />
elevada.<br />
As empresas que lidam diretamente<br />
com o consumidor serão afetadas de<br />
muitas formas diferentes, mas a situação<br />
no segmento dos supermercados é de<br />
particular interesse. Neste segmento,<br />
muitas organizações estão a questionar<br />
a sensatez das máquinas de pagamento<br />
automático introduzidas. O lançamento<br />
destas máquinas reduziu certamente os<br />
custos de mão de obra e pode ter tido<br />
um efeito positivo no que diz respeito à<br />
comodidade do consumidor, mas os sistemas<br />
de auto-pagamento apresentam,<br />
de facto, maiores oportunidades de furto,<br />
como reflete o professor Carlos Cordon.<br />
“De facto, as taxas de perda nas lojas que<br />
utilizam caixas automáticas são mais<br />
de 20 vezes superiores às das lojas que<br />
utilizam exclusivamente caixas manuais.<br />
Numa altura em que tantos consumidores<br />
se debatem com dificuldades<br />
financeiras, a tentação de omitir discretamente<br />
a leitura de alguns artigos que<br />
vão para os sacos de compras, mesmo<br />
para aqueles que nunca considerariam<br />
a hipótese de furto em circunstâncias<br />
normais, pode ser demasiado forte para<br />
resistir. Os furtos acidentais, em que os<br />
compradores não conseguem, involuntariamente,<br />
digitalizar corretamente os artigos,<br />
também são comuns”, salienta. Em<br />
última análise, a tecnologia mais recente<br />
pode ser a solução, com algumas lojas<br />
a adotarem agora um sistema em que<br />
cestos e carrinhos inteiros podem ser<br />
lidos de uma só vez. Entretanto, alguns<br />
retalhistas estão a recuar na implementação<br />
de caixas automáticas.<br />
Sustentabilidade<br />
e sazonalidade<br />
Este poderá ser o ano em que os<br />
consumidores europeus se verão transportados<br />
de volta a um tempo em que<br />
os produtos fora de época não estavam<br />
disponíveis nas suas lojas locais. O<br />
abandono das cadeias de abastecimento
Supply Chain Magazine 11<br />
alargadas, em que qualquer uma de<br />
uma multiplicidade de peças em movimento<br />
pode dar aos retalhistas uma dor<br />
de cabeça em termos de preços, milita<br />
contra a disponibilidade durante todo<br />
o ano. Muitos retalhistas poderão já não<br />
estar preparados para se abastecerem<br />
junto de produtores geograficamente<br />
distantes.<br />
Do mesmo modo, o pêndulo da sustentabilidade<br />
continua a oscilar. Os defensores<br />
do ambiente continuam a atacar<br />
os retalhistas dispostos a continuar a<br />
deixar uma grande pegada de carbono<br />
ao acumularem quilómetros aos alimentos<br />
que comercializam: o transporte de<br />
alimentos pode agora ser responsável<br />
por um terço das emissões de gases com<br />
efeito de estufa do setor. As ONG continuam<br />
a preocupar-se com as práticas<br />
laborais dos fornecedores sediados nos<br />
países em desenvolvimento. Perante este<br />
cenário, alguns supermercados europeus<br />
estão cada vez mais receosos de oferecer<br />
produtos fora de época. Mesmo que os<br />
fornecedores de países como Espanha,<br />
que investiu muito na produção em<br />
estufa, consigam colmatar a lacuna, os<br />
retalhistas de outros mercados preocupam-se<br />
com a potencial reação negativa<br />
dos clientes que não ficam impressionados<br />
com produtos que duvidam terem<br />
sido produzidos localmente.<br />
A luta entre marcas<br />
Num ambiente económico difícil, as<br />
vendas dos produtos de marca própria<br />
dos retalhistas aumentam quase sempre<br />
à custa das marcas mais caras. A<br />
atual recessão não é exceção, com as<br />
marcas de distribuidor mais uma vez em<br />
ascendência – mas, desta vez, há uma<br />
nova dimensão na dinâmica. “Cada vez<br />
mais, os consumidores não consideram<br />
os produtos de marca de distribuidor<br />
como inferiores: 60% dos compradores<br />
europeus consideram-nos atualmente<br />
de qualidade semelhante à dos produtos<br />
de marca, de acordo com um estudo.<br />
Os consumidores que mudam para as
12<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
“Os consumidores<br />
que mudam para as<br />
marcas de distribuidor<br />
em busca de uma<br />
poupança de custos<br />
podem acabar por<br />
ficar com estes produtos<br />
se sentirem<br />
que há pouco ou nenhum<br />
compromisso<br />
em termos de qualidade,<br />
aumentando<br />
a pressão sobre as<br />
marcas que esperavam<br />
um regresso<br />
à norma assim que<br />
a pressão sobre os<br />
consumidores diminuísse”<br />
marcas de distribuidor em busca de uma<br />
poupança de custos podem acabar por<br />
ficar com estes produtos se sentirem<br />
que há pouco ou nenhum compromisso<br />
em termos de qualidade, aumentando a<br />
pressão sobre as marcas que esperavam<br />
um regresso à norma assim que a pressão<br />
sobre os consumidores diminuísse”,<br />
esclarece Carlos Cordon.<br />
O académico não exclui a possibilidade<br />
de, em <strong>2024</strong>, podermos começar a ver<br />
marcas mais pequenas desaparecerem<br />
definitivamente – ou, pelo menos, serem<br />
postas à venda – porque os fabricantes<br />
decidiram que as suas margens já não<br />
são sustentáveis e que os custos de marketing<br />
são demasiado elevados.<br />
O desafio europeu<br />
do nearshoring<br />
Os fabricantes de setores como o<br />
automóvel e as TI têm um problema no<br />
que diz respeito à Europa. Reconhecem<br />
o imperativo da produção nearshoring<br />
– a pandemia expôs as fragilidades das<br />
complexas cadeias de abastecimento globais<br />
e a excessiva dependência da China<br />
– mas a sua concretização apresenta-lhes<br />
dificuldades práticas.<br />
Na América do Norte, o México oferece<br />
uma base óbvia de baixos custos na proximidade<br />
do importantíssimo mercado dos<br />
Estados Unidos. Na Europa, pelo contrário,<br />
a escolha do local certo para uma nova<br />
fábrica é menos clara. Os elevados custos<br />
laborais nos mercados mais desenvolvidos<br />
são para Carlos Cordon um fator<br />
dissuasor, tal como as incertezas geopolíticas<br />
nos locais periféricos. Na Europa<br />
de Leste, a sombra da crise ucraniana e o<br />
fantasma da guerra é grande e tem peso.<br />
Na Turquia, o risco político continua a aumentar<br />
e a inflação está fora de controlo.<br />
Os mercados do Norte de África também<br />
estão repletos de dificuldades.<br />
O professor do IMD considera que a<br />
Polónia e Portugal possam estar entre<br />
os vencedores, com ambos os países a<br />
lutarem arduamente para atrair os fabricantes<br />
que contemplam uma estratégia<br />
de nearshoring. Mas a concorrência será<br />
dura, o que levará os governos a intervir<br />
com incentivos e até com apoio financeiro<br />
direto. Em <strong>2024</strong>, os fabricantes terão,<br />
portanto, algumas decisões a tomar e<br />
nem sempre o que parece ser a solução<br />
óbvia o é, de facto, já que as regras neste<br />
gigante tabuleiro mudam a uma velocidade<br />
estonteante.<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
14<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
Herdade Vale da Rosa<br />
Texto: Fábio Santos<br />
INOVAÇÃO:<br />
DA EMBALAGEM<br />
AO TRANSPORTE<br />
A Herdade Vale da Rosa, produtor<br />
nacional de uva de mesa, atingiu<br />
um volume de vendas de 4.500<br />
toneladas em 2023, devido a um<br />
aumento significativo da procura<br />
no mercado externo. Hoje, a exportação<br />
já representa 30% do volume<br />
de negócios da empresa de Ferreira<br />
do Alentejo.<br />
No último ano, a Herdade da Rosa<br />
apresentou uma faturação de 19<br />
milhões de euros, considerando que<br />
este resultado teve “um balanço extremamente<br />
positivo, representando mais um<br />
passo na consolidação do negócio e na afirmação<br />
da marca Vale da Rosa, não só junto<br />
do consumidor português, mas também<br />
na conquista de uma fatia cada vez mais<br />
alargada de consumidores internacionais”.<br />
A exportação de uvas Vale da Rosa<br />
tem vindo a ganhar maior destaque na<br />
faturação da empresa, e atualmente é<br />
feita para sete mercados: Reino Unido<br />
(principal mercado), Polónia, França,<br />
Hungria, Países Baixos, Malásia e Hong<br />
Kong, sendo este último o mais recente,<br />
numa operação iniciada no ano passado<br />
e que teve como destaque uma solução<br />
pioneira de transporte.<br />
“Um momento significativo para a Vale<br />
da Rosa foi a abertura de caminhos para<br />
as exportações via aérea. As uvas ganharam<br />
o mercado da Ásia pelas alturas”,<br />
revela António Silvestre Ferreira, adminis-
Supply Chain Magazine 15<br />
trador da Vale da Rosa, “foi por essa via<br />
que Hong Kong recebeu a sua primeira<br />
encomenda de uvas sem grainha produzidas<br />
em solos alentejanos”.<br />
Enviadas por avião, as uvas conseguem<br />
chegar aos mercados mais distantes em<br />
ótimas condições, cumprindo todas as<br />
exigências de qualidade e mantendo o<br />
seu sabor.<br />
De forma a dar continuidade ao<br />
sucesso alcançado, expandiram as<br />
suas operações na Europa e iniciaram<br />
contactos com países árabes, de forma<br />
a chegarem exportações aéreas para a<br />
Arábia Saudita em <strong>2024</strong>.<br />
A Herdade Vale da Rosa também deu<br />
passos importantes para a diversificação<br />
do negócio, apostando na área<br />
da agroindústria. “O foco da linha de<br />
produção é atender especialmente ao<br />
segmento seletivo e exigente dos apreciadores<br />
de produtos gourmet, e a Vale<br />
da Rosa dedica-se a esse propósito com<br />
a filosofia de criar uma linha de produção<br />
de sabor elevado e diferenciado,<br />
exigindo técnicas refinadas e operações<br />
precisas, contando com colaboradores<br />
capacitados”, aponta António Silvestre<br />
Ferreira. “Em 2023 tivemos avanços<br />
significativos, melhorámos a produção<br />
de passas e expandimos a produção de<br />
vinagre balsâmico, que tem como base<br />
uva passa e é envelhecido em tonéis<br />
de carvalho provenientes do vinho do<br />
Porto”.<br />
A sustentabilidade é também um<br />
dos focos da Vale da Rosa, sendo que<br />
terminaram 2023 com a introdução da<br />
embalagem Zero Plástico, uma nova<br />
solução de packaging livre de plástico,<br />
onde investiram cerca de meio milhão<br />
de euros. A solução apresentada consiste<br />
numa película transparente biodegradável,<br />
que apesar da semelhança<br />
com a embalagem convencional,<br />
representa uma alternativa ecologicamente<br />
responsável, reduzindo o consumo<br />
de plástico em aproximadamente<br />
80 toneladas. “Um investimento que<br />
reafirma a consciência Vale da Rosa em<br />
relação à sustentabilidade do planeta<br />
e o seu compromisso de inovação com<br />
máximo respeito e em parceria com<br />
a natureza, 365 dias do ano”, afirma a<br />
empresa.
16<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
LOGÍSTICA<br />
ELA e CargoX<br />
Texto: Ana Paiva<br />
SOLUÇÃO DE BLOCKCHAIN<br />
GANHA PRÉMIO DO ANO<br />
A European Logistics Association (ELA) atribuiu o prémio do ano à CargoX,<br />
pois é através da sua plataforma que a solução de janela única<br />
NAFEZA, que se dedica à digitalização de importações egípcias, que<br />
pode efetuar a transferência de documentos em blockchain, permitindo<br />
transparência através de um processo neutro, descentralizado e seguro.<br />
A ELA e a CargoX explicaram à <strong>SCMedia</strong> <strong>News</strong> em que consiste o projeto<br />
e qual a importância desta distinção.
Supply Chain Magazine 17<br />
AELA é uma organização que<br />
agrega associações nacionais<br />
de logística a nível internacional,<br />
a maior parte dentro da Europa<br />
e algumas nos outros continentes,<br />
e tem contacto com mais de 50.000<br />
profissionais que atuam no setor da<br />
logística. Todos os anos, a ELA atribuí<br />
o “prémio do ano” a projetos de<br />
empresas cujos critérios são avaliados<br />
com base em aspetos substanciais,<br />
excelência da solução e aspetos formais.<br />
“Este prémio representa o ápice<br />
da conquista para todas as empresas<br />
e profissionais envolvidos em logística<br />
e cadeias de abastecimento europeias”,<br />
afirma Mirek Rumler, vice-presidente<br />
da ELA e líder de projeto da<br />
ELA Awards. “Este prémio, que, na<br />
prática, tornará o campeão da Europa<br />
em logística e supply chain em cada<br />
ano, é muito valorizado tanto por indivíduos<br />
como por empresas”, acrescenta.<br />
Além disso, esta distinção oferece<br />
ainda uma “oportunidade única” para<br />
as empresas apresentarem as suas<br />
conquistas e mostrarem a clientes,<br />
concorrentes e colegas que são os<br />
melhores na Europa.<br />
Cada associação só tem direito a<br />
uma inscrição, que é o vencedor da<br />
competição a nível nacional. Assim, as<br />
conquistas logísticas implementadas<br />
na Europa irão competir pelo prémio<br />
enquanto são submetidas a uma avaliação<br />
de um júri internacional composto<br />
por especialistas de logística<br />
nas áreas de comércio, indústria, consultoria,<br />
ciência e serviços de logística.<br />
Na edição deste ano do ELA Awards,<br />
a CargoX foi a grande vencedora.<br />
A plataforma da CargoX permitiu à<br />
NAFEZA, um projeto desenvolvido<br />
pela MTS dedicado à digitalização<br />
das importações egípcias, transferir<br />
documentos em blockchain, verificando<br />
a sua identidade através de um<br />
“ambiente completamente neutro,<br />
descentralizado e seguro”, explica Igor<br />
Jakomin, deputy CEO da CargoX. Este<br />
projeto arrecadou o reconhecimento<br />
de “prémio do ano” pela Associação<br />
de Logística Eslovena, tendo, assim,<br />
qualificado para o “prémio do ano” da<br />
ELA. “A solução da plataforma CargoX<br />
Blockchain Data Transfer (BDT) é utilizada<br />
para processar e transferir documentos<br />
comerciais eletrónicos de<br />
importadores para o Egito, enquanto<br />
fornece verificações de empresas”,<br />
explica o responsável. No Egito, o sistema<br />
para importações é obrigatório<br />
e é utilizado diariamente por cerca<br />
de 120.000 empresas de todo o mundo.<br />
Durante os cerca de três anos de<br />
operação, processou seis milhões de<br />
documentos comerciais eletrónicos e<br />
trouxe “inúmeros benefícios” para importadores,<br />
exportadores e também<br />
para o governo do Egito.<br />
Quanto às melhorias, a janela única<br />
NAFEZA integrou as operações de 29<br />
órgãos estaduais relacionados com<br />
alfândega, tráfego de carga e tributação,<br />
e está a ser utilizado em 30 portos,<br />
aeroportos, portos secos e zonas de livre<br />
comércio aduaneiro no Egito. O tempo<br />
médio de liberação de carga nos portos<br />
foi reduzido de 16 a 29 dias para apenas<br />
3 a 6. Já os custos de conformidade<br />
administrativa para importadores foram<br />
diminuídos de mais de 600 dólares para<br />
cerca de 165, enquanto o governo observou<br />
um aumento de 13% na receita fiscal<br />
apenas no primeiro ano de operação.<br />
De acordo com Igor Jakomin, a plataforma<br />
BDT da CargoX está, atualmente,<br />
a ser utilizada no Egito e está<br />
em processo de implementação no<br />
Uganda e em Abu Dhabi. No Uganda,<br />
a CargoX está a colaborar com a Technology<br />
Associates num consórcio para
18<br />
estabelecer uma plataforma nacional<br />
de facilitação de comércio chamada<br />
TradeXchange. Já a alfândega de Abu<br />
Dhabi lançou recentemente a sua<br />
plataforma digital Trade Chain, que<br />
introduziu tecnologia blockchain nos<br />
seus processos, e está a colaborar com<br />
a CargoX para estabelecer um sistema<br />
de informações antecipadas de carga<br />
com a plataforma BDT.
Supply Chain Magazine 19<br />
“Prova de sucesso”<br />
Xavier Derycke, presidente do júri do ELA<br />
Awards, indicou à <strong>SCMedia</strong> <strong>News</strong> que a<br />
CargoX mereceu o prémio porque “é a<br />
prova de sucesso da aplicação de um processo<br />
de blockchain numa situação muito<br />
delicada, que é o desembarque aduaneiro<br />
dos clientes”. Sobre os fatores que influenciaram<br />
a escolha do júri, o responsável explica<br />
que “o sucesso operacional em larga<br />
escala foi reconhecido pelo júri como um<br />
prémio justo sobre uma parte da supply<br />
chain que é subestimada em muitas ocasiões,<br />
e aqui temos uma excelente visão<br />
sobre um uso real que melhora os serviços<br />
aos clientes numa larga escala”.<br />
A CargoX sente-se “extremamente”<br />
honrada por ter recebido o prémio, e<br />
demonstram a sua gratidão à Associação<br />
de Logística Eslovena por reconhecer as<br />
valências da NAFEZA com a integração da<br />
plataforma. “O nosso sistema foi comprovado<br />
e testado em operações do mundo<br />
real, e este reconhecimento significa que<br />
a tecnologia blockchain segura e neutra<br />
que utilizamos, juntamente com a nossa<br />
abordagem holística para facilitar o comércio<br />
internacional e estabelecer confiança<br />
digital, são o caminho para um futuro mais<br />
interconectado”, refere Igor Jakomin.<br />
A CargoX, em conjunto com a empresa<br />
espanhola de soluções logísticas baseadas<br />
em blockchain, Usyncro, irá levar um<br />
novo projeto ao Congresso de Logística<br />
<strong>2024</strong>, em Portoroz, na Eslovénia, através<br />
do qual irão demonstrar a interoperabilidade<br />
entre as suas plataformas, “traçando<br />
o caminho da interoperabilidade para<br />
toda a indústria”, termina Igor Jakomin.<br />
PUB
20<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
PROCUREMENT<br />
Procurement Conferência<br />
Texto: Fábio Santos<br />
MISSÃO: TRANSFORMAR<br />
A GESTÃO DE COMPRAS<br />
E O PROCUREMENT<br />
O auditório APDL, em Leça da Palmeira (Porto), reuniu no passado dia 22<br />
de fevereiro mais de uma centena de profissionais de compras e procurement,<br />
com um simples propósito: transformar a gestão de compras<br />
e o procurement. A missão foi cumprida por um painel composto por<br />
12 oradores, profissionais do setor, e a quem foi incumbido o desafio de<br />
revolucionar esta área.
Supply Chain Magazine 21<br />
Ao longo de meio dia, os profissionais<br />
olharam para o setor, a evolução<br />
que tem tido, as tendências e…<br />
A humanização da profissão. Foi precisamente<br />
por aí que Isabel Paiva de Sousa,<br />
consultora em gestão de pessoas, iniciou<br />
a tarde de conferências, com o tema<br />
“Competências estratégicas do Negociador:<br />
porquê e para quê? Da preparação à<br />
criação de valor”. Olhando para a própria<br />
natureza humana, defende que “desde<br />
que nascemos que negociamos”, desde<br />
o simples choro de criança com a intenção<br />
de obter algo.<br />
Na própria negociação, Isabel Paiva de<br />
Sousa destaca existirem diversas formas<br />
e níveis de negociação. Negociamos com<br />
empresas, parceiros, equipas, fornecedores<br />
ou clientes, mas também com recursos<br />
humanos, com a board ou com o<br />
marketing. Existem negociações internas<br />
e externas, e com intenções diferentes.<br />
“Sempre que queremos implementar<br />
um novo processo, outra campanha, etc.,<br />
estamos a negociar”.<br />
Por outro lado, desmistifica a ideia de<br />
que a colaboração não faz parte da nossa<br />
essência, o que é visível nos comportamentos<br />
naturais das crianças. É uma<br />
característica que desenvolvemos com o<br />
tempo e com a vida em sociedade. “Nós<br />
somos competitivos, e aprendemos a ser<br />
colaborativos”, afirma.<br />
Seguidamente, Wolfgang Rueth, Head<br />
of Efficio Hub Portugal, e Pedro Barroso,<br />
diretor da Efficio, olharam para as tendências<br />
atuais em diferentes áreas. Com<br />
o tema “Inovar em Procurement com a<br />
Efficio: Tendências atuais nas categorias<br />
de Food, Logística e Metais”, a intervenção<br />
da Efficio analisou a evolução do<br />
mercado e como será o futuro.<br />
Se a pandemia já tinha sido um momento<br />
de renovação da profissão, questões<br />
como as tensões geopolíticas entre<br />
a Rússia e a Ucrânia, baixa demanda<br />
global devido a fatores adversos macroeconómicos<br />
ou mudanças climáticas<br />
adversas extremas, foram alguns dos<br />
temas destacados pelos profissionais.<br />
Assim, deixaram alguns pensamentos<br />
no ar: o que irá voltar ao que era? O que<br />
irá permanecer? E do que aprendemos,<br />
o que será replicável para o futuro e que<br />
práticas deixarão de existir?<br />
“A questão que eu acho que nós temos<br />
de colocar como profissionais de procurement<br />
é se naquilo que aprendemos,<br />
e naquilo que foi diferente nestes dois<br />
anos, se há aqui algumas questões que
22<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
nós podemos adquirir e que podemos<br />
manter, para aquilo que é o futuro de<br />
procurement”, afirmou Pedro Barroso.<br />
Sandra Tavares Magalhães, Lawyer da<br />
Miranda & Associados, deu um enquadramento<br />
legal da contratação pública<br />
sustentável e da sua finalidade através<br />
do tema “Compras públicas sustentáveis:<br />
como envolver o mercado?”.<br />
Ao nível do envolvimento do mercado, o<br />
processo que tem lugar antes da aquisição,<br />
destacou algumas práticas que podem<br />
e devem ser feitas antes da abertura<br />
de um contrato público, como é o caso<br />
de uma consulta preliminar ao mercado.<br />
“O envolvimento do mercado trata-se de<br />
um processo que tem lugar antes de um<br />
procedimento de contratação pública ser<br />
lançado, antes da aquisição ser concretizada<br />
que, em bom rigor, também ocorre<br />
durante e após o processo”, nota a responsável.<br />
“O objetivo é, desde logo, permitir<br />
à entidade pública, o mercado, o que é<br />
que pretende, qual é que é o seu objetivo,<br />
quais são as suas necessidades. Por outro<br />
lado, também lhe permite identificar logo<br />
potenciais fornecedores, em certos produtos,<br />
soluções que eventualmente lhes<br />
possam interessar”.<br />
Sandra Tavares Magalhães destaca, no<br />
entanto, que a consulta preliminar não<br />
pode ter por efeito distorcer a concorrência<br />
ou resultar em qualquer violação<br />
dos princípios da não discriminação e<br />
da transparência, “ou seja, a consulta<br />
preliminar não pode ser utilizada para<br />
distorcer ou desvirtuar a concorrência, os<br />
resultados da consulta não podem servir<br />
para conferir uma vantagem desleal a<br />
nenhum dos operadores económicos<br />
que nela tenham participado e devem<br />
ser tomadas medidas que garantam a<br />
integridade, por exemplo, que a mesma<br />
informação seja facultada a todos os operadores<br />
económicos que nela participem”.<br />
A responsável apontou algumas formas<br />
de preparação para o envolvimento do<br />
mercado, métodos para o envolver e<br />
abordou ainda a temática de gestão de<br />
risco.<br />
De seguida, Fernando Belém, Chefe da<br />
Divisão de Aprovisionamento, Lipor, apresentou<br />
o tema “Central de compras da<br />
Lipor – um caso de sucesso”, onde não só
Supply Chain Magazine 23<br />
deu a conhecer como funciona a central<br />
de compras já conta com mais de 40 anos<br />
de existência e é composta por 8 municípios<br />
da região do Grande Porto, sendo que<br />
também aderiram algumas entidades,<br />
totalizando 16 membros.<br />
Ao consolidarem numa única negociação<br />
os diferentes processos, a Lipor consegue<br />
obter vantagens ao nível da economia de<br />
escala, diminuição de custos administrativos<br />
e permite a troca de ideias entre os<br />
elementos da central de compras.<br />
A central de compras conta com<br />
contratos de fornecimento de energia<br />
100% renovável, combustíveis rodoviários<br />
(compensação carbónica), gás natural e<br />
comprimido, subscrição de apólices de<br />
seguro, prestação de serviços de segurança,<br />
higiene e saúde no trabalho e,<br />
mais recentemente, também prestação<br />
de serviços de manutenção de espaços<br />
verdes, de iluminação interior e exterior<br />
com análise do custo de ciclo de vida, e<br />
de serviços de viagem e estadias. Estão<br />
ainda a avançar com um processo de<br />
Aquisição de Fardamento / Vestuário<br />
Têxtil, no qual entrou em maior detalhe<br />
durante a sua apresentação.<br />
André Vaz Silva, Head of sales da WTW,<br />
foi o próximo interveniente a pisar o<br />
palco, olhando para os “Desafios do<br />
procurement na negociação de seguros”,<br />
e para um dos temas constantes dos<br />
profissionais de procurement: o risco.<br />
O responsável explicou como funciona<br />
a contratação de seguros, os diversos<br />
tipos de contratação de seguros, e a sua<br />
volatilidade face às adversidades, mas<br />
também a importância de manter uma<br />
apólice que garante uma maior segurança<br />
no caso de ocorrer alguma eventualidade,<br />
o que tem sido cada vez mais<br />
comum no setor da logística.<br />
“As seguradoras transferem o risco para<br />
os grandes resseguradores e se o preço<br />
que as seguradoras pagam aos resseguradores<br />
está mais alto, isso vai-se refletir<br />
nos vossos prémios. Por outro lado,<br />
questões de regularização de sinistros, se<br />
há uns anos reparar um pequeno sinistro<br />
numa habitação era uma coisa relativamente<br />
simples, hoje custa o dobro. Tudo<br />
isto tem impacto no resultado das apólices,<br />
e consecutivamente nos prémios”,
24<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
explica.<br />
O responsável da WTW destacou ainda<br />
os diferentes tipos de seguros e de contratação,<br />
e as suas vantagens e desvantagens<br />
para fazer face aos momentos de<br />
“hard market”.<br />
Quase a terminar, Vítor Ribeiro Gomes,<br />
CEO da Pendular, Ana Moirinho Barbosa,<br />
Head of Procurement da High Gate,<br />
Luís Vasconcelos, Diretor de Compras<br />
da Comp-RAR – Central de Compras,<br />
e Ricardo Filipe Teixeira, Procurement<br />
Director da Anteros Empreitadas, integraram<br />
uma mesa-redonda moderada<br />
por Miguel Silva, CEO / Senior Partner<br />
da ADMICAMI. O desafio deste painel foi<br />
abordar o tema da conferência: “Missão:<br />
Transformar a gestão de compras e o<br />
procurement”.<br />
Ana Moirinho Barbosa começou por<br />
destacar a diferença existente dentro do<br />
setor entre diferentes áreas de negócio.<br />
Após 15 anos enquanto responsável de<br />
compras da Sonae, a responsável mudou<br />
para a área da hotelaria, onde percebeu<br />
que a função era muito mais transparente,<br />
e onde a troca de experiências e<br />
know-how era algo natural mesmo entre<br />
empresas concorrentes, o que não ocorre<br />
no retalho.<br />
Nesse sentido, Vítor Ribeiro Gomes nota<br />
que muita gente tem apontado que o<br />
Procurement tem uma função absolutamente<br />
estratégica, mas acrescenta<br />
que também é uma função de gestão, e<br />
que é necessário estar enquadrado com<br />
os processos das empresas. “Falta-nos<br />
curiosidade e falta-nos envolver mais<br />
as pessoas e envolver-nos mais com as<br />
pessoas”, nota.<br />
Miguel Silva concorda que deve haver<br />
uma interligação entre a logística e o<br />
procurement, mas que ainda acontece<br />
uma centralização das funções, e considera<br />
que “há empresas que não descobriram<br />
que logística e Procurement<br />
deveriam estar separados”.<br />
Luís Vasconcelos acrescenta ainda a<br />
necessidade de envolver os stakeholders,<br />
e que “cabe a nós trazermos os stakeholders<br />
para a nossa atividade, e se nós<br />
tivermos a inteligência aqui de o fazer,<br />
também será mais fácil compreender as<br />
necessidades deles”.<br />
Ricardo Filipe Teixeira nota alguns desafios<br />
na sua função, como é o caso da falta<br />
de planeamento. “Eu preciso constantemente<br />
de pedir coisas para ontem, e se
Supply Chain Magazine 25<br />
há alguma coisa que já era difícil antes<br />
do COVID e da guerra na Ucrânia, agora<br />
é impossível”, afirma o responsável. O<br />
procurement director conta que no dia<br />
seguinte a ganharem um concurso já<br />
estão a iniciá-la, pois o cliente já quer ter<br />
uma data de abertura de uma infraestrutura<br />
mesmo antes de iniciar a obra.<br />
Ao nível tecnológico, Vítor Ribeiro Gomes<br />
admite ter um fascínio pelos benefícios<br />
que traz ao nível das ciências de saúde,<br />
ciências de vida ou que melhor o ambiente,<br />
mas não de todas as que aceleram<br />
desesperadamente os processos, “porque<br />
essas são justamente aquelas que vão<br />
começar a pegar a redundância”, e acrescenta<br />
que, segundo o Fundo de Data<br />
Internacional, estima-se que 300 milhões<br />
de pessoas são afetadas de forma próxima<br />
à redundância pela Inteligência Artificial<br />
nos próximos cinco anos.<br />
No caso de Ana Moirinho Barbosa, a High<br />
Gate mudou recentemente o seu sistema<br />
informático para SAP, o que envolveu<br />
levantar todas as necessidades, todos os<br />
processos de requisição interna, como iria<br />
funcionar dentro dos vários departamentos,<br />
compreender a envolvência do procurement<br />
nos processos, onde era necessário<br />
fazer contratos, etc.<br />
Uma das preocupações que tiveram de<br />
ter foram as compras centralizadas, em<br />
que os 18 hotéis a nível nacional fazem as<br />
suas requisições a um único local. “No dia<br />
da implementação tínhamos 80 mil SKU,<br />
e há três dias já eram 208 mil”, revela a<br />
head of procurement, destacando que isso<br />
irá garantir que “a requisição dos produtos<br />
vai ser clara para quem está a comprar”.<br />
Luís Vasconcelos destacou ainda a<br />
proximidade que tem de haver entre o<br />
procurement e os parceiros, de modo a<br />
compreenderem as suas necessidades e<br />
dificuldades, e juntos caminharem para<br />
uma solução conjunta. “Eu diria que a<br />
relação com os fornecedores é como um<br />
casamento que é construído, espera-se<br />
que dure para a vida toda, mas só funciona<br />
se nos conhecemos bem e se soubermos<br />
também fazer cedências, e acho<br />
que nós, como responsáveis de compras,<br />
temos muito trabalho a fazer dentro<br />
de portas, que é forçar internamente a<br />
que sejam feitas as cedências de forma<br />
a conseguirmos que a relação com os<br />
fornecedores seja suave”.<br />
Ricardo Filipe Teixeira acrescenta ainda<br />
a importância de “nos colocarmos no<br />
lugar do outro e perceber quais são as<br />
suas dores. Eu tenho de conseguir perceber<br />
se aquilo realmente é uma urgência<br />
ou se é uma falta de planeamento, e se<br />
aquilo tem um impacto muito grande<br />
nas obras ou se é simplesmente alguém<br />
que decidiu no momento que quer aquilo<br />
para o hotel”, destaca.<br />
Vítor Ribeiro Gomes considera que “a<br />
falta de planeamento sai sempre na fa-
26<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
tura, mas sai arrumadinho no fim”, e que<br />
por vezes esta desorganização ajuda a<br />
compreender algumas razões de ser no<br />
negócio, pois “é difícil encontrar o propósito<br />
do negócio”, e por vezes no final de<br />
um contrato, que não era negociado há<br />
alguns anos, existe um incremento significativo<br />
no valor, e é aí que são revistas as<br />
necessidades e o porquê de optarem por<br />
determinado serviço ou material e não<br />
por outros que lhes podem gerar mais<br />
poupanças, mas destaca ser necessária<br />
essa maior envolvência e a compreensão<br />
das necessidades.<br />
Outra questão importante que Ricardo<br />
Filipe Teixeira aborda é a responsabilidade<br />
que têm dentro das parcerias, e<br />
conta que quando lhe dizem “eu vou<br />
fazer esta obra, mas vou perder dinheiro”,<br />
imediatamente recusa a proposta,<br />
e afirma que “eu não quero fazer esse<br />
contrato. Ninguém vai para um negócio<br />
para perder dinheiro”. Assim, o responsável<br />
toma uma de duas decisões: ou<br />
escolhe outro fornecedor, ou transfere a<br />
preocupação internamente de modo a<br />
que consigam ajustar os valores, e essa<br />
“é a negociação mais difícil: explicar<br />
ao administrador, que não vamos para<br />
esta opção e sim para a outra devido a<br />
estes fatores, ou não vamos para este<br />
fornecedor e sim para aquele por estes<br />
motivos”.<br />
Ana Moirinho Barbosa concorda com<br />
esta abordagem, e afirma que “a negociação<br />
tem de ser uma questão de win-<br />
-win”, e que se o fornecedor estiver a ter<br />
prejuízo ambos os negociadores ficam<br />
a perder, pois esse fornecedor não se irá<br />
conseguir manter, e poderá abrir falência,<br />
e o cliente de um momento para o<br />
outro depara-se com um fornecedor a<br />
menos. “isto parece tudo cor-de-rosa, um<br />
mundo em que ninguém quer trabalhar<br />
quando o outro está a perder, mas<br />
a verdade é que no médio e longo prazo<br />
aquele fornecedor vai acabar, pois não se<br />
vai conseguir sustentavelmente manter<br />
durante muito tempo e, portanto, eu vou<br />
ganhar agora, mas vou perdê-lo mais à<br />
frente, e é esta visão 360 que é necessário<br />
ter na negociação. É mais do que<br />
custo”.<br />
“Se nós tivermos cada vez mais sensibilidade<br />
ao que está do outro lado e<br />
darmos resposta às nossas necessidades<br />
e às necessidades do outro a negociação<br />
torna-se fértil e todos ganharemos ao<br />
final do dia”, afirma ainda Ana Moirinho<br />
Barbosa.<br />
A concluir a mesa-redonda, Luís Vasconcelos<br />
recorda um tema abordado por<br />
Isabel Paiva de Sousa no início da conferência:<br />
curiosidade. “A curiosidade é algo<br />
que nós temos de transmitir às nossas<br />
equipas, enquanto responsáveis de equipas<br />
de compras. Eu acho que a curiosidade<br />
é essencial porque nós estamos a<br />
dar formação numa área, e à velocidade<br />
em que isto muda, amanhã a formação<br />
já está desatualizada. Nós temos de ter é<br />
a curiosidade de estar sempre à procura<br />
de nova informação e das últimas soluções<br />
que há no mercado, e investirmos<br />
na formação das nossas pessoas”.<br />
A terminar o dia, Luís Santos, senior manager<br />
da KPMG, apresentou as principais<br />
conclusões do estudo “Otimizar o procurement”,<br />
e onde analisou as tendências e<br />
a forma como está a evoluir a profissão,<br />
sendo que muitas das conclusões do estudo<br />
foram ao encontro do que foi falado<br />
ao longo do dia.<br />
Algumas das dificuldades apontadas<br />
com maior destaque nos processos de<br />
Consulta & Negociação, Seleção e Adjudicação<br />
e Gestão de entregas foram:<br />
· Morosidade dos processos de compra;<br />
· Incorreto planeamento de necessidades,<br />
potenciando o cariz reativo das<br />
Compras;<br />
· Excessiva orientação para o preço,
Supply Chain Magazine 27<br />
e não consideração do Custo Total de<br />
Posse;<br />
· Avaliação e Qualificação de fornecedores<br />
com um cariz predominantemente<br />
burocrático;<br />
· Ausência de estratégias de sourcing<br />
e mecanismos de gestão do risco da<br />
Supply Chain;<br />
· Insuficientes mecanismos de incentivo/<br />
penalizações face a fornecedores/<br />
parceiros.<br />
“A otimização estrutural da função<br />
compras é o caminho crítico para assegurar<br />
a sustentabilidade dos benefícios<br />
alcançados, garantindo o não retorno à<br />
situação de partida e a melhoria contínua”,<br />
afirma o responsável.<br />
Luís Santos aponta ainda que para<br />
efetuar uma transformação estrutural<br />
na função de compras, existem dois<br />
vetores a ter em conta e que devem ser<br />
trabalhados em paralelo: a estratégia e a<br />
operação. Neste sentido, confirma a ideia<br />
abordada anteriormente, de que as compras<br />
devem trabalhar “de braços dados”<br />
com as operações, para conseguirem<br />
em conjunto encontrar soluções para as<br />
necessidades reais e operacionais, e a importância<br />
de questionar o porquê de os<br />
processos serem feitos de determinada<br />
maneira e com determinadas características,<br />
e encontrando assim soluções<br />
alternativas em conjunto.<br />
“Nós só vamos conseguir ter destaque,<br />
ter posição no board, ter respeito<br />
e ombrear com as áreas mais típicas da<br />
organização quando conseguimos ser<br />
um enabler de performance, e quando<br />
conseguimos ser parte da solução e não<br />
parte do problema”.<br />
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28<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
Wolfgang Rueth,<br />
Responsável pelo escritório de Lisboa da Efficio
Supply Chain Magazine 29<br />
PROCUREMENT<br />
Texto: Ana Paiva<br />
Efficio Portugal<br />
“O NOSSO COMPROMISSO<br />
RESIDE EM ENCONTRAR<br />
SOLUÇÕES E ESTRATÉGIAS<br />
ADAPTADAS A CADA DESAFIO”<br />
A Efficio é uma empresa especializada em consultoria nas áreas de procurement<br />
e supply chain. Tem 14 escritórios localizados em vários pontos<br />
da Europa, América do Norte e Médio Oriente. No início de 2023 abriu o<br />
primeiro escritório em Lisboa e, passado um ano, procuramos conhecer<br />
a sua estratégia, como se posicionam para ajudar as empresas a enfrentar<br />
desafios e gerir o risco, e quais as principais diferenças dos mercados<br />
onde atuam.<br />
Duplicar de tamanho a cada três<br />
a quatro anos”, este foi o objetivo<br />
dado por Jens Pedersen, CEP<br />
e co-fundador da Efficio, a propósito<br />
da abertura do primeiro escritório em<br />
Portugal. Por sua vez, Wolfgang Rueth,<br />
que está responsável pelo escritório em<br />
Lisboa, referia na altura que “pretendemos<br />
construir uma forte equipa portuguesa<br />
para apoiar os projetos dos nossos<br />
clientes globalmente”.<br />
O responsável explica que a estratégia<br />
que adotaram inicialmente passava por<br />
“criar uma equipa multidisciplinar” que<br />
pudesse ser uma extensão da sede da<br />
empresa, localizada no Reino Unido, e<br />
dos restantes escritórios a nível internacional.<br />
A equipa de Lisboa deveria ser<br />
composta por especialistas em Procurement<br />
e Supply Chain, que fossem capazes<br />
de integrar projetos internacionais<br />
a partir da cidade portuguesa, viajando<br />
quando necessário, mas também por<br />
data scientists e programadores. O objetivo<br />
passava por “tornar Lisboa o polo<br />
central de desenvolvimento de soluções<br />
e ferramentas digitais da Efficio, servindo<br />
globalmente”, refere Wolfgang Rueth.<br />
Um ano depois, a estratégia não se<br />
alterou, mas agora “estamos mais preparados<br />
para entrar no mercado ibérico<br />
caso existam oportunidades onde a<br />
metodologia da Efficio possa trazer valor<br />
aos clientes”, explica. A equipa continua<br />
a crescer, e tem a intenção de “continuar<br />
a investir em novo talento” com a contratação<br />
de mais profissionais. “Atualmente<br />
já somos 30, e ambicionamos duplicar<br />
este número até ao final do ano”, afirma<br />
o responsável. Acredita que já detêm
30<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
uma presença sólida no mercado português,<br />
uma vez que consultores de outras<br />
empresas já conhecem e reconhecem<br />
a Efficio através do que fazem, como se<br />
diferenciam e da sua especialização em<br />
Procurement e Supply Chain. Daqui para<br />
a frente, pretendem continuar a crescer<br />
e potenciar a relevância do escritório de<br />
Lisboa dentro da empresa, “bem como<br />
impulsionar o nosso envolvimento no<br />
mercado português como especialistas<br />
“tornar Lisboa o polo<br />
central de desenvolvimento<br />
de soluções<br />
e ferramentas digitais<br />
da Efficio, servindo<br />
globalmente”<br />
em Supply Chain e Procurement”, sem<br />
não descartar a certeza de que “vão sempre<br />
surgir desafios”.<br />
Desafios: prevenção<br />
e solução<br />
As disrupções causadas pela COVID-19,<br />
a escassez de contentores e matérias-primas,<br />
a guerra entre a Ucrânia e a Rússia<br />
e agora os constrangimentos que se<br />
vivem no Canal do Suez, têm impactado<br />
as cadeias de abastecimento globais.<br />
Parece que assim que termina um momento<br />
mais desafiante para os gestores<br />
de supply chain e procurement, outro<br />
já está no caminho. Por vezes não é fácil<br />
gerir o risco, e é aqui que entra o negócio<br />
da Efficio. “A verdade é que estas adversidades<br />
geram uma procura significativa<br />
e interesse no nosso negócio”, assume<br />
Wolfgang Rueth, acrescentando que “o<br />
cerne da nossa atividade reside na otimização<br />
de supply chains, e é precisamente
Supply Chain Magazine 31<br />
nestes contextos desafiantes que podemos<br />
ser particularmente úteis aos nossos<br />
clientes”. A abordagem da empresa<br />
para “prevenir ou solucionar” falhas nas<br />
cadeias de abastecimento dos clientes<br />
passa por duas metodologias. A primeira<br />
foca-se no De-risking, que consiste em<br />
tentar minimizar o risco diversificando<br />
fornecedores e optando por estratégias<br />
nearshoring, ou seja, trazer as cadeias de<br />
abastecimento para mais perto de “casa”,<br />
a nível regional. A segunda consiste no<br />
Sales and Operation Planning (S&OP),<br />
que tem como o objetivo criar uma<br />
gestão mais eficaz da procura, produção<br />
e distribuição. Esta abordagem permite<br />
uma resposta “mais ágil” a flutuações<br />
no mercado, e ainda ajuda a prevenir ou<br />
minimizar potencias falhas na cadeia de<br />
abastecimento. “No fundo, o nosso compromisso<br />
reside em encontrar soluções<br />
personalizadas e estratégias adaptadas a<br />
cada desafio específico dos nossos clientes,<br />
contribuindo para tornar as operações<br />
mais resilientes e eficientes”, indica<br />
o responsável.<br />
A Efficio detém vários escritórios espalhados<br />
pelo mundo, nomeadamente<br />
na Europa, Médio-Oriente e América do<br />
Norte, apresentando assim as suas soluções<br />
de logística e procurement nestas<br />
geografias. No entanto, estes mercados<br />
têm especificidades e necessidades diferentes,<br />
podendo também apresentar-se<br />
como um desafio. No caso do Médio<br />
Oriente, Wolfgang Rueth explica que há<br />
um grande foco em políticas nacionais<br />
de local content, como é o caso da Arábia<br />
Saudita. “Isto impõe às empresas que<br />
operam na região, a aquisição de uma<br />
parte significativa e crescente das quotas<br />
de mercado local, impulsionando o<br />
desenvolvimento da supply chain local”.<br />
Desta forma, sublinha que a adptação<br />
das empresas a estas políticas é “crucial”.<br />
No que diz respeito à América do Sul,<br />
“estamos mais preparados<br />
para entrar<br />
no mercado ibérico<br />
caso existam oportunidades<br />
onde a<br />
metodologia da Efficio<br />
possa trazer<br />
valor aos clientes”<br />
“deparamo-nos com um continente<br />
ainda repleto de desafios, tornando-se<br />
um mercado bastante fechado para o<br />
negócio internacional”, assume. Muitos<br />
países desta geografia enfrentam<br />
barreiras alfandegárias, enquanto outros<br />
têm alguns problemas relacionados<br />
com a inflação elevada, como é o caso<br />
da Argentina, complicando a interação<br />
com o mercado exterior. No entanto, um<br />
dos problemas transversais é mesmo a<br />
falta de infraestruturas, como estadas ou<br />
comboios de carga, originando desafios<br />
ao nível logístico, com custos muito superiores<br />
em comparação com a Europa.<br />
“É, portanto, um continente mais orientado<br />
para o mercado local, com poucas<br />
importações, embora ainda que forte em<br />
exportações de matérias-primas”, acrescenta.<br />
Já a Europa, Wolfgang Rueth caracteriza<br />
como um mercado “bastante desenvolvido”,<br />
ainda que “bastante fragmentado”,<br />
devido às diversas línguas e políticas que,<br />
na sua ótica, podem criar tanto barreiras<br />
como oportunidades. “A diversidade de<br />
opções e soluções disponíveis oferece um<br />
terreno fértil para otimização de compras<br />
e logística”, indica o responsável, terminando<br />
com o real desafio, que reside em<br />
“encontrar as opções certas”.
32<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
PROCUREMENT<br />
3 perguntas a… Fábio Pinheiro,<br />
Purchasing and Procurement<br />
Texto: Fábio Santos<br />
DESCOBERTA<br />
DE NOVAS REALIDADES<br />
Foi em 2021 que Fábio Pinheiro integrou a equipa de procurement da<br />
Artevasi, inicialmente enquanto Purchasing and Procurement manager,<br />
e atualmente como Purchasing and Procurement director. Ao longo do<br />
seu percurso profissional já acumulou alguns anos de experiência nesta<br />
área, mas sente que há sempre algo a descobrir.<br />
manager da Artevasi<br />
SCM - O que o levou a escolher esta<br />
profissão?<br />
Fábio Pinheiro - A meu ver, a área de<br />
procurement requer interesse, busca e<br />
interação constantes, premissas essas<br />
que se enquadram no meu perfil e facilitam<br />
bastante o meu trabalho. A descoberta<br />
de novas realidades é algo que me<br />
atrai diariamente, assim como a comunicação,<br />
o diálogo e a negociação em prol<br />
de novas soluções para a organização. É<br />
uma área do setor das compras onde, na<br />
minha opinião, estas soft skils passam<br />
do espectro pessoal para o profissional e,<br />
não havendo dois dias de trabalho iguais,<br />
torna a profissão fascinante, até porque<br />
requer pensar fora da caixa muitas das<br />
vezes, o que me obriga, não só a ser melhor<br />
profissional, como melhor pessoa.<br />
Qual o maior desafio para uma equipa<br />
de procurement dentro da organização?<br />
Precisamente a procura de novas<br />
soluções. O enquadramento da equipa<br />
de procurement é feito de uma forma<br />
transversal, sendo um alicerce para a<br />
organização. Dentro desta ideia, somos<br />
constantemente desafiados na busca<br />
de novas soluções que permitam ir ao<br />
encontro daquilo que são as necessidades<br />
da estrutura organizativa, tendo<br />
em conta a nossa realidade financeira,<br />
a conjuntura socioeconómica, o impacto<br />
ambiental e tantas outras questões<br />
que temos de atentar na hora de fazer<br />
negócio.<br />
Quais as três competências-chave<br />
que mais valoriza, ou considera<br />
fundamentais num profissional de<br />
compras e procurement?<br />
Na área de compras e procurement é<br />
fundamental ter algumas competências,<br />
mas na minha opinião, existem<br />
três que são fundamentais: resiliência,<br />
flexibilidade e curiosidade. Um profissional<br />
que consiga agregar tudo isto, com<br />
humildade e vontade de crescer, certamente<br />
será excelente no seu trabalho.
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34<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Empack e Logistics<br />
& Automation<br />
Texto: Fábio Santos<br />
“SOMOS MAIS<br />
DO QUE UM<br />
ESPAÇO DE<br />
EXPOSIÇÃO”<br />
Nos dias 17 e 18 de abril decorre a<br />
8.ª edição da Empack e Logistics &<br />
Automation Porto, o maior evento<br />
de embalagem e logística do país,<br />
realizado na Exponor. Ao longo de<br />
dois dias será possível encontrar<br />
soluções, produtos e serviços inovadores<br />
num espaço com mais de<br />
70 expositores, e onde a Easyfairs,<br />
entidade organizadora, antecipa<br />
mais de 9.000 interações comerciais<br />
e mais de 3.000 visitantes.<br />
Inicialmente lançada para servir um<br />
mercado que não estava coberto, ao<br />
longo destes nove anos de existência a<br />
Empack e Logistics & Automation tem-se<br />
posicionado como uma feira de referência<br />
para os setores da logística e da<br />
supply chain. “Todos os anos os nossos<br />
visitantes e expositores aguardam ansiosamente<br />
pela data, por isso continuamos<br />
a apostar ano após ano nesta feira, para
Supply Chain Magazine 35<br />
que continue a crescer no panorama<br />
nacional”, avança a organização.<br />
A área de exposição irá contar com<br />
algumas empresas que participam pela<br />
primeira vez, com novas soluções, produtos<br />
e serviços para o setor, e não só<br />
nacionais, mas também internacionais.<br />
Algumas das mais recentes empresas<br />
que se juntam ao evento são a holandesa<br />
Qimarox, as espanholas FDI, Ats-Tanner<br />
e Mim Group, e as portuguesas Coelho &<br />
Cortesão, Engels e Provost.<br />
A Easyfairs avança que “nos últimos meses<br />
temos vindo a trabalhar em acordos<br />
estratégicos com parceiros e organizações<br />
de referência e, juntamente com<br />
eles, estamos a trabalhar para oferecer<br />
novos conteúdos e novos formatos que<br />
permitam aos visitantes desfrutar de uma<br />
experiência enriquecedora e dinâmica”.<br />
Para a Empack e Logistics & Automation<br />
Porto <strong>2024</strong>, a empresa também<br />
concebeu vários Innovation Tours, que<br />
já implementaram com sucesso noutras<br />
edições e feiras do grupo, e que “serão<br />
percursos por diferentes produtos e<br />
pontos estratégicos da feira, previamente<br />
selecionados para um grupo exclusivo de<br />
visitantes, onde os expositores mostrarão<br />
ao vivo as suas últimas tecnologias,<br />
resolverão dúvidas e interagirão com os<br />
assistentes”.<br />
Esta edição terá como foco ser uma<br />
solução para os problemas das empresas<br />
atualmente, cujas necessidades passam<br />
pela otimização das cadeias de abastecimento,<br />
digitalização e sustentabilidade:<br />
“é essencialmente uma nova oportunidade<br />
para os profissionais da embalagem,<br />
logística e transporte em Portugal, que<br />
terão acesso a uma vasta e variada gama<br />
de produtos e serviços relacionados com<br />
estes setores sem terem de se deslocar<br />
para longe”.<br />
“Somos mais do que um espaço de<br />
exposição. O evento oferece também<br />
uma sala de conferências, visitas guiadas<br />
e networking. Por isso, encorajo todos,<br />
especialmente as empresas do Norte de<br />
Portugal, a reservar algumas horas para<br />
visitar o evento, porque temos a certeza<br />
de que regressarão com novas ideias,<br />
novos contactos e com a sensação de terem<br />
feito em poucas horas um trabalho<br />
de campo que, de outra forma, levaria<br />
muito mais tempo”, conclui.
36<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
INTRALOGÍSTICA<br />
Conferência SCM<br />
Texto: Ana Paiva<br />
A TECNOLOGIA VEIO PARA FICAR<br />
No dia 30 de janeiro, o Hotel Meliã, em Braga, recebeu a segunda edição<br />
da conferência Intralogística, organizada pela Supply Chain Magazine.<br />
O evento, cujo mote foi “Transformar a Intralogística: Inovação e Eficiência<br />
para o Futuro”, reuniu cerca de 180 pessoas que passaram este dia a<br />
explorar as últimas tendências e tecnologias que estão a revolucionar o<br />
campo da intralogística.<br />
A<br />
primeira intervenção do evento<br />
esteve a cargo de Maria do Sameiro<br />
Carvalho, da Universidade<br />
do Minho e associate director da ALGO-<br />
RITMI Research Centre, que abordou a<br />
importância de transformar os dados em<br />
conhecimento para ser possível tomar<br />
boas decisões, sendo este um fator que<br />
preocupa cada vez mais as empresas.<br />
Para isso, é preciso ter conhecimento da<br />
realidade onde a empresa está inserida,<br />
as contingências e possíveis impactos.<br />
Os dados sãoa a base de uma boa decisão,<br />
e as empresas ainda se encontram<br />
numa fase rudimentar no que diz respeito<br />
a capacidade analítica. Apresentou os<br />
benefícios, como maior visibilidade sobre<br />
os processos, melhor gestão de materiais
Supply Chain Magazine 37<br />
(inventários), redução de risco, ou conhecimento<br />
dos padrões de procura, mas<br />
também os desafios, pois a qualidade dos<br />
dados é algo complexo de garantir, bem<br />
como a sua integração e disponibilidade.<br />
De seguida, o foco incidiu sobre os<br />
projetos desenvolvidos por António Galrão<br />
Ramos do INESC Tec e Elsa Silva do<br />
ALGORITMI Research Centre/LASI, Universidade<br />
do Minho, na área da intralogística<br />
através de digital twins, nomeadamente<br />
nas áreas do armazém, receção, picking<br />
ou expedição. “Temos vindo a observar<br />
uma evolução fantástica no âmbito da<br />
intralogística, nomeadamente na automação<br />
de armazéns e nas alterações na<br />
cadeia de abastecimento”, começou por<br />
dizer António Galrão Ramos. Apresentaram<br />
o projeto de descontentorização<br />
automática, na qual efetuaram a simulação<br />
do ambiente desde a chegada<br />
dos contentores ao armazém e, na fase<br />
seguinte, a paletização dos produtos. Foi<br />
desenvolvido um gerador automático de<br />
paletização em que, através da informação<br />
dos produtos, é possível indicar ao<br />
robô a posição de cada artigo na palete.<br />
Durante a primeira parte da manhã foi<br />
ainda possível conhecer o Lean Excellence<br />
Centre, apresentado por Nuno Silva,<br />
managing director, nomeadamente a sua<br />
visão em fomentar o conhecimento lean,<br />
e unir esforços entre empresas para criar<br />
ou adaptar produtos à realidade lean.<br />
“Como a robótica pode impactar na<br />
logística interna”, foi o mote que trouxe<br />
Luís de Matos, chairman e CEO da Follow<br />
Inspiration ao Intralogística. A premissa<br />
da empresa, que é especializada na<br />
criação de produtos nas áreas da robótica<br />
avançada, reconhecimento e imagem<br />
e Inteligência Artificial, é de que “são os<br />
nossos equipamentos que têm de se<br />
adaptar aos espaços, e não os espaços
38<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
que têm de se adaptar aos equipamentos”.<br />
O responsável explicou que desenvolvem<br />
uma tecnologia em que conseguem<br />
tornar um robô 100% autónomo, e que os<br />
seus produtos estão ligados à plataforma<br />
de gestão de frota. A Sonae, Yazaki, Delta<br />
e Cork Supply são alguns dos seus parceiros.<br />
A Jungheinrich também marcou<br />
presença no evento, contando com David<br />
Cayuela Molinero, head of mobile robots<br />
na Península Ibérica, a identificar alguns<br />
casos de sucesso de robôs móveis. A empresa<br />
tem diversos equipamentos para<br />
soluções específicas, como aplicações<br />
high-stack (ERCa/EKSa), aplicações de<br />
baixo nível (EREa, EAEa), reboque de carga<br />
interior (EZSA), transporte de subcargas,<br />
manuseamento de tote (SOTO), e armazenamento<br />
VNA automatizado. O caso<br />
de sucesso que trouxe foi o de implementação<br />
de um AutoVNA num armazém em<br />
Tarraco. O principal objetivo era o cliente<br />
mudar-se para um armazém maior, no<br />
qual incluiriam uma área automatizada<br />
e outra manual, e aumentar a produção.<br />
Para isso, implementaram o 7xEKXa com<br />
Busbar, um sistema transportador de paletes,<br />
um JH estantes de paletes e um JH<br />
software WCS. Os benefícios do projeto<br />
permitiram uma operação automática<br />
eficiente para alturas limitadas do armazém,<br />
a possibilidade de uma automação<br />
gradual, a possibilidade de operação em<br />
“A robotização<br />
da logística<br />
é irreversível<br />
e inevitável”<br />
Pedro Gordo,<br />
supply chain business<br />
manager da Generix Portugal
Supply Chain Magazine 39<br />
mais linhas de rack com apenas um AGV<br />
VNA, menos desgaste em comparação<br />
com operação manual, e uma maior e<br />
mais fácil escalabilidade.<br />
A manhã prosseguiu com a intervenção<br />
de António Guedes, business consultant<br />
da CodeOne, na qual foi referida a importância<br />
que tecnologias como RFID e<br />
Machine Learning terão no ano de <strong>2024</strong>.<br />
Referiu que as empresas devem preparar-<br />
-se para esta realidade recolhendo dados.<br />
Estas implementações serão necessárias<br />
para melhorar a qualidade de vida<br />
dos operadores nos locais de trabalho. A<br />
mesa redonda da manhã contou com<br />
o moderador Hernâni Andrés, business<br />
advisor, Hugo Duarte Fonseca, managing<br />
partner da Devlop, Ana Leandro, logistics<br />
& supply chain director da Auchan Retail,<br />
António Fernandes, diretor de inovação<br />
e processos da Luís Simões, Francisco<br />
Alberto, diretor de logística da Adalberto<br />
Textile Solutions, e Marlos Silva, area<br />
leader digital & innovation da Sonae MC.<br />
Foram apresentados os desafios que as<br />
empresas dos oradores enfrentam atualmente,<br />
bem como quais as necessidades<br />
que enfrentarão no futuro em termos de<br />
tecnologia. Debateu-se ainda a relevância<br />
da transformação digital, e como esta já é<br />
uma realidade, e como é que se pode interligar<br />
com o problema da falta de mão<br />
de obra nesta área. Concluiu-se que o<br />
digital é considerado crítico nas organizações,<br />
mas também é necessário trabalhar<br />
em equipas mistas (robôs e humanos),<br />
estar o mais atualizado possível, e ter um<br />
bom planeamento e análise.<br />
Casos práticos de sucesso<br />
A tarde do dia 30 foi dedicada a casos<br />
práticos. Pedro Gordo, supply chain<br />
business manager da Generix Portugal,<br />
começou por afirmar que “a robotização<br />
da logística é irreversível e inevitável”, mas<br />
quando as empresas implementam au-
40<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
tomatização, devem considerar, à partida,<br />
que o automatismo por si só não resolve<br />
todos os problemas se não estiver articulado<br />
com as necessidades do armazém.<br />
Ainda assim, alguns dos seus fatores-chave<br />
são a ergonomia, a interação com os<br />
operadores, a flexibilidade e escalabilidade.<br />
De seguida apresentou o caso de sucesso<br />
com a Lusavouga, cujos objetivos passariam<br />
por industrializar a execução logística,<br />
aumentar a produtividade e reduzir o lead<br />
time, reduzir a dependência de recursos<br />
humanos, assegurar a capacidade de<br />
fullfilment numa realidade de crescimento<br />
de negócio, e inovação e sustentabilidade.<br />
Através da implementação do WMS<br />
Generix, foi possível orquestrar todos os<br />
recursos, planear o inbound e outbound,<br />
otimizar o armazenamento e arrumação, e<br />
integrar alguns automatismos, como três<br />
miniloads, um box minimizer Storopack<br />
(embalamento), um transportador aéreo,<br />
um conveyor, um quickscan (dados logísticos)<br />
e AGV’s.<br />
Luís Claro Dias, diretor de software da<br />
Tecnibite e Rui Oliveira, gestor de produto<br />
da X-Log, apresentaram as os benefícios<br />
de utilizar o XLOG WMS, um sistema de
41<br />
gestão de armazéns, que gere a mercadoria<br />
desde o momento que entra até sair<br />
do armazém. Algumas das suas características<br />
são o controlo de localizações, a<br />
seleção automática de localizações em<br />
receção e picking, ou o reaprovisionamento<br />
e picking por voz. A Cegid e o seu<br />
parceiro Devlop trouxeram à conferência<br />
mais um caso prático. Na mesa redonda “A<br />
Digitalização dos processos na Logística –<br />
Caso Orey/Grupo Horizon” fornecedores e<br />
cliente tiveram oportunidade de partilhar<br />
ideias e know-how no campo da gestão<br />
logística, além de explorarem as vantagens<br />
da solução Eye Peak da Cegid Primavera,<br />
mergulhando num caso real, com a ajuda<br />
de Daniel Baptista, business developer<br />
da CEGID, Hugo Duarte da Fonseca, da<br />
Devlop, e Hugo Martins. Caso Orey/Grupo<br />
Horizon. A encerrar a primeira parte da<br />
tarde, António José Correia, diretor comercial<br />
da Cleanbots, apresentou os robôs da<br />
marca que surgem para inovar o processo<br />
de limpeza dentro dos armazéns.<br />
“A intralogística como fator diferenciador”<br />
foi o tema que trouxe Luiz Rodrigues, consultor<br />
em gestão e engenharia industrial<br />
do INEGI ao evento. A importância que a
42<br />
“Temos vindo a<br />
observar uma evolução<br />
fantástica no<br />
âmbito da intralogística,<br />
nomeadamente<br />
na automação de<br />
armazéns e nas alterações<br />
na cadeia de<br />
abastecimento”<br />
António Galrão Ramos,<br />
INESC Tec<br />
intralogística está a ter nas empresas, foi<br />
um dos highlights, bem como a tecnologia<br />
que lhe está inerente. Até 2026, 75%<br />
das empresas irão adotar robôs inteligentes<br />
nas suas operações de intralogística, e<br />
mais de 80% das empresas utilizarão aplicações<br />
baseadas em Inteligência Artificial<br />
em ambientes de produção, em comparação<br />
com os atuais 5%. Identificou a metodologia<br />
adotada pelo INEGI para melhorar<br />
as operações intralogísticas das empresas<br />
do setor industrial, nomeadamente através<br />
da identificação da situação atual (identificar<br />
oportunidades de melhoria), organizar<br />
e normalizar (reduzir ineficiências),<br />
automatizar (associar pessoas a tarefas<br />
de maior valor acrescentado), e otimizar<br />
(reduzir ou até eliminar tempos de deslocação<br />
e movimentações em vazio). De seguida<br />
apresentou casos de sucesso em<br />
empresas como Amorim Cork Composites,<br />
cujos objetivos passavam pela melhoria<br />
dos processos de logística interna<br />
para reduzir o número de movimentos e<br />
o esforço de movimentação associados,<br />
bem como aumentar sinergias entre<br />
unidades industriais; com o Grupo Nabeiro,<br />
que passou pelo estudo da rede<br />
logística com o intuito de mapear as<br />
infraestruturas de armazenagem e custear<br />
a operação; com a Creative Works,<br />
em que se desenhou o layout da produção<br />
e armazém das novas instalações<br />
para suportar o crescimento do negócio;<br />
e com a AM2R, tendo revisto o “estado<br />
da arte” da digitalização e automação<br />
da atividade de armazenagem e fluxos<br />
logísticos, bem como a identificação das<br />
melhores soluções tecnológicas para<br />
resposta aos requisitos de operação<br />
identificados.<br />
Tiago Sacchetti, diretor ibéria da Bosch<br />
Industry Consulting, abordou as vantagens<br />
da simulação industrial, nomeadamente,<br />
análises de cenário, uma maior<br />
transparência do fluxo de processo e<br />
visualização lógica, ou ajuda na decisão<br />
validada de forma matemática. A fechar<br />
a conferência esteve a start-up Azitek,<br />
que apresentou a sua solução tecnológica<br />
para rastreamento, que possibilita ter<br />
um inventário em tempo real.
43<br />
“São os nossos<br />
equipamentos<br />
que têm de<br />
se adaptar aos<br />
espaços, e não<br />
os espaços que<br />
têm de se<br />
adaptar aos<br />
equipamentos”<br />
Luís de Matos,<br />
Chairman & CEO, Follow Inspiration<br />
PUB<br />
bem-vindo a<br />
uma estreita colaboração<br />
em toda a Europa<br />
Descubra o caminho mais curto para uma experiência local,<br />
apoio ao cliente, garantia de disponibilidade e uma<br />
parceria dedicada, com a nossa cobertura Europeia.<br />
together towards a sustainable future
44<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
Reciclagem na Europa<br />
PAPEL E CARTÃO<br />
ENTRE OS MAIS RECICLADOS<br />
De acordo com um novo estudo da DS Smith, um aumento de apenas 9%<br />
nas taxas de reciclagem de embalagens de papel e cartão na UE poderia,<br />
por si só, acrescentar aos circuitos de reciclagem 5 milhões de toneladas<br />
de material, no valor de até mil milhões de euros por ano até 2030.<br />
O<br />
papel e o cartão já são os materiais<br />
mais reciclados na Europa, mas<br />
existe um claro potencial para<br />
obter resultados ainda melhores para as<br />
empresas, as pessoas e o planeta.<br />
À medida que os recursos finitos são<br />
avaliados na Europa e em todo o mundo<br />
após a COP28, a DS Smith apela aos<br />
governos e à indústria para que tomem<br />
medidas e impulsionem a reciclagem<br />
antes do final da década.<br />
De acordo com um novo estudo da<br />
DS Smith, empresa líder mundial em<br />
soluções de packaging sustentável, um<br />
aumento de apenas 9% nas taxas de reciclagem<br />
de embalagens de papel e cartão<br />
na UE poderia, por si só, acrescentar aos<br />
circuitos de reciclagem 5 milhões de<br />
toneladas de material, no valor de até mil<br />
milhões de euros por ano até 2030.<br />
As taxas de reciclagem de papel e cartão<br />
têm vindo a diminuir nos últimos cinco<br />
anos, tendo alcançado uma média de 81%<br />
em toda a UE em 2022. O relatório da DS<br />
Smith apresenta medidas específicas que<br />
podem ajudar a aumentar esta taxa até<br />
90%, impulsionando a economia circular<br />
em torno daquele que já é o material<br />
mais reciclado na Europa.<br />
O plano de ação surge numa altura em
Supply Chain Magazine 45<br />
que o crescimento do e-commerce está<br />
a contribuir para o aumento do consumo<br />
de embalagens: novos dados estimam<br />
que os países da União Europeia alcançarão<br />
uma produção anual de 39 milhões<br />
de toneladas de embalagens de papel e<br />
cartão em 2030.<br />
Portugal é o 8.º maior<br />
produtor de resíduos<br />
de papel e cartão<br />
O relatório “Papel desperdiçado: o caminho<br />
para uma reciclagem melhor”, revela<br />
também que as taxas de reciclagem necessitam<br />
de um impulso, particularmente<br />
entre os mais jovens. Menos de 62% dos<br />
europeus com idades compreendidas<br />
entre os 18 e os 24 anos reciclam quase<br />
todo o seu papel e cartão, em comparação<br />
com quase nove em cada dez (88%)<br />
com mais de 65 anos. Esta situação pode<br />
dever-se a uma falta de compreensão e<br />
de confiança no processo, uma vez que<br />
menos de dois terços (62%) da Geração Z<br />
acredita que o que coloca no seu caixote<br />
do lixo é reciclado corretamente pelas autoridades,<br />
em comparação com mais de<br />
sete em cada dez (72%) das pessoas com<br />
mais de 65 anos.<br />
Segundo dados da Eurostat, Portugal<br />
é o oitavo maior produtor de resíduos de<br />
papel e cartão na Europa e ocupa o 28.º<br />
lugar entre 30 países europeus no que<br />
respeita à taxa de reciclagem de embalagens<br />
de papel e cartão. Em 2020, 66%<br />
das embalagens de papel e cartão foram<br />
recicladas em Portugal, em comparação<br />
com uma média europeia de 82%, e a DS<br />
Smith prevê que este valor possa atingir<br />
aproximadamente 68% até 2030. As taxas<br />
de reciclagem e a procura diferem entre<br />
os países europeus, com a Alemanha a<br />
produzir tanto papel e material de embalagem<br />
de cartão como os 24 países com<br />
menor produção de resíduos em conjunto.<br />
No entanto, a Alemanha tem uma taxa<br />
de reciclagem superior à média europeia<br />
de 84%, melhor do que outros grandes<br />
produtores, como a França, o Reino Unido<br />
e a Espanha.<br />
Quatro recomendações<br />
fundamentais<br />
Para aproveitar esta oportunidade e impulsionar<br />
ainda mais as taxas de reciclagem,<br />
a DS Smith tem vindo a apelar aos<br />
legisladores europeus, nacionais e locais,<br />
para que se unam e implementem quatro<br />
recomendações fundamentais:<br />
1. Legislar no sentido de exigir a separação<br />
na origem, o que significa que<br />
o papel e o cartão são separados dos<br />
outros materiais pelos consumidores<br />
em suas casas e nos contentores;<br />
2. Implementar um sistema de recolha<br />
consistente a nível nacional e integrado<br />
com as autoridades locais;<br />
3. Standardizar os rótulos de reciclagem<br />
e incentivar a educação dos consumidores;<br />
4. Fomentar legislação clara para dar às<br />
empresas a confiança necessária para<br />
investirem na reciclagem.<br />
Sobre este tema, Luis Moura, Recycling<br />
Iberia MD da DS Smith, afirma: “O papel<br />
e o cartão já são o material de embalagem<br />
mais reciclado na Europa e um dos<br />
materiais mais circulares do planeta. Mas,<br />
embora quase quatro em cada cinco<br />
embalagens de papel e cartão já sejam<br />
recicladas, existe uma enorme oportunidade<br />
para fazer ainda melhor: criar valor<br />
económico e milhares de postos de trabalho,<br />
enquanto se evita o desperdício de<br />
valiosos recursos naturais. Se os legisladores,<br />
as autoridades locais, as empresas e<br />
os consumidores trabalharem em conjunto,<br />
acreditamos que podemos garantir<br />
que nenhuma embalagem se transforme<br />
em desperdício”.
46<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
TECNOLOGIAS<br />
Softwares empresariais<br />
APRENDER COM OS ERROS<br />
Muito se tem escrito nos últimos anos sobre o fracasso do projeto ERP do<br />
Lidl. De facto, embora existam inúmeros no mundo das implementações<br />
de software empresarial, o que torna este caso menos comum é a dimensão<br />
do investimento que estava a ser feito quando foi tomada a decisão<br />
de o parar: 500 milhões de euros. Fico arrepiado só de pensar nisso...
Supply Chain Magazine 47<br />
Na última MES e Indústria 4.0, eu<br />
tinha analisado o paralelismo<br />
entre as implementações MES e<br />
ERP, referindo na altura que uma das<br />
principais diferenças era o nível de investimento<br />
envolvido. De facto, este caso do<br />
Lidl nem sequer é o maior fracasso nesta<br />
perspetiva. O que me fascina especificamente<br />
neste caso é o facto de, apesar<br />
de haver sempre uma lista incontável de<br />
razões que contribuíram para este cancelamento,<br />
o maior parece ter sido um<br />
único (!) personalização.<br />
Neste ponto, é necessário um aviso: não<br />
tenho qualquer tipo de visão privilegiada<br />
sobre o que aconteceu, mas o caso está<br />
bem documentado.<br />
Então, o que é que<br />
aconteceu?<br />
Em 2011, a Lidl tomou a decisão de<br />
substituir o seu sistema por uma nova<br />
solução baseada no “SAP for Retail, powered<br />
by HANA”. O antigo sistema estava<br />
a atingir os limites da sua capacidade e<br />
a SAP alegou que o sistema da Lidl era<br />
“prejudicado por quebras de processos,<br />
armazenamento redundante de dados,<br />
lacunas de integração e restrições<br />
funcionais. Além disso, uma combinação<br />
de inúmeras interfaces e módulos e uma<br />
estrutura de servidor descentralizada<br />
estava a tornar cada vez mais complexa a<br />
tarefa de executar e manter o sistema”.<br />
No início do projeto foi identificado<br />
um grande obstáculo: A Lidl baseava a<br />
sua gestão de inventário nos preços de<br />
compra, enquanto a plataforma SAP<br />
é construída com base nos preços de<br />
retalho. Mas os executivos não estavam<br />
dispostos a alterar nenhum dos seus<br />
processos empresariais para se adaptarem<br />
às melhores práticas da SAP. Afinal<br />
de contas, esta sempre foi a forma como<br />
a gestão de inventário era feita na Lidl e<br />
a equipa de projeto tinha mais do que a<br />
Autor<br />
Francisco Almada Lobo,<br />
CEO, Critical Manufacturing<br />
força necessária para fazer a mudança,<br />
uma vez que era composta por aproximadamente<br />
1000 funcionários e “centenas<br />
de consultores”.<br />
O problema é que esta personalização<br />
mexeu com um elemento central do<br />
funcionamento do módulo SAP Inventory<br />
Management, criando um efeito em<br />
cascata de personalizações. O que antes<br />
se pensava ser uma lacuna de requisitos,<br />
transformou-se num abismo de requisitos.<br />
Outro aspeto, possivelmente relacionado<br />
com o excesso de personalização, foi<br />
a duração do projeto. Quando foi cancelado,<br />
já durava há 7 anos, e apenas com<br />
alguns go-lives em países mais pequenos.<br />
A juntar a esta grande turbulência,<br />
vários executivos deixaram a empresa.<br />
E, claro, é muito provável que o projeto<br />
tenha ficado desalinhado com as ideias e<br />
prioridades dos novos executivos.<br />
Esta insistência em personalizar o software<br />
SAP para se adequar aos processos<br />
existentes, em vez de adaptar os seus<br />
processos ao software normalizado, aumentou<br />
a duração do projeto, a rotação<br />
de executivos e a gestão insuficiente<br />
da mudança, o que acabou por levar ao<br />
cancelamento do projeto.<br />
Paralelo ao MES<br />
O caso da implementação dispendiosa<br />
e, em última análise, mal sucedida do<br />
sistema ERP da SAP por parte da Lidl
48<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
constitui uma advertência não só para os<br />
projetos ERP, mas também para as implementações<br />
de sistemas de execução<br />
da produção (MES).<br />
O ponto de partida, mutatis mutandis,<br />
é a situação encontrada na maioria dos<br />
projetos brownfield para a implementação<br />
de MES: soluções antigas, quer sejam<br />
desenvolvidas internamente, quer sejam<br />
comerciais, que já não são capazes de satisfazer<br />
as necessidades da empresa. Os<br />
principais problemas enfrentados pela<br />
Lidl - personalização excessiva, governação<br />
do projeto e gestão da mudança<br />
- não são exclusivos dos projectos ERP e<br />
também se verificam nos projetos MES.<br />
Como superar estes<br />
desafios?<br />
A Gartner analisou 142 avaliações Peer<br />
Insights para identificar as principais<br />
lições aprendidas na implementação do<br />
MES. Não é de surpreender que estas<br />
lições, recolhidas a partir de implementações<br />
bem e mal sucedidas, sejam<br />
de grande importância para qualquer<br />
empresa que embarque numa aventura<br />
deste tipo e teriam sido tremendamente<br />
valiosas também para a Lidl.<br />
Lição #1<br />
A essência de objetivos claros<br />
Esta lição afirma que é importante realizar<br />
uma análise completa das necessidades<br />
e processos específicos da organização,<br />
para construir um roteiro de projeto<br />
robusto, que garanta um curso de ação<br />
definido e ajude a orientar o processo de<br />
tomada de decisão.<br />
Nas implementações de MES, os objetivos<br />
claros não se referem apenas ao<br />
que o sistema deve fazer, mas também à<br />
forma como pode transformar a organização.<br />
Trata-se de reimaginar processos<br />
e não apenas de replicar os existentes.<br />
Isto requer uma abordagem visionária,<br />
onde o foco muda de “o que fazemos<br />
agora” para “o que poderíamos alcançar<br />
com este sistema”.<br />
Lição #2<br />
Capacidades e integração do<br />
sistema: Um Pivô Estratégico<br />
A maioria dos pares concorda que é<br />
fundamental analisar minuciosamente<br />
as capacidades do sistema para<br />
garantir que este satisfaz os requisitos<br />
da organização. Claramente, isto não<br />
aconteceu no caso da Lidl e, talvez<br />
porque o SAP foi utilizado na maioria das<br />
operações de grande retalho, a decisão<br />
foi tomada sem a necessária análise<br />
minuciosa.<br />
Neste momento, é muito importante<br />
perceber que a análise não deve ser feita<br />
apenas com base nas respostas a um<br />
RFI ou RFP, mas as empresas devem<br />
tentar perceber que soluções existem<br />
em produtos para responder a requisitos<br />
semelhantes e que melhores práticas<br />
são implementadas em projetos no segmento<br />
em questão.<br />
O percurso do MES não se resume a<br />
escolher um sistema que se adapte às<br />
necessidades atuais; trata-se de prever<br />
tendências futuras e garantir que o sistema<br />
se pode adaptar e escalar. A integração<br />
não é apenas um desafio técnico;<br />
é um ponto de viragem estratégico que<br />
pode redefinir a forma como os diferentes<br />
sistemas se unem para criar um fluxo<br />
operacional perfeito.<br />
Lição #3<br />
Execução estratégica<br />
e formação<br />
Uma secção transversal de pares sugere<br />
que se crie e documente o processo de<br />
implementação de ponta a ponta, com<br />
prazos exatos, para garantir uma implementação<br />
suave e evitar quaisquer<br />
atrasos e alterações de âmbito numa
Supply Chain Magazine 49<br />
fase posterior.<br />
A formação e a gestão da mudança não<br />
são apenas caixas a assinalar na lista de<br />
verificação da implementação do MES.<br />
São processos contínuos que impulsionam<br />
a mudança cultural, necessária<br />
para uma adoção bem sucedida. O fator<br />
humano é frequentemente o elemento<br />
decisivo nas implementações do MES.<br />
Trata-se de criar uma cultura em que a<br />
tecnologia é vista como um facilitador e<br />
não como um fator de perturbação.<br />
Lição #4<br />
Padronização vs.<br />
Personalização: O Ato<br />
de Equilíbrio<br />
Esta lição foi a mais difícil para a Lidl<br />
- a personalização excessiva é uma das<br />
principais causas de desafios nas implementações.<br />
A sua insistência em adaptar<br />
o sistema SAP aos seus processos<br />
pré-existentes, em vez de adaptar os<br />
seus processos ao software, reflete uma<br />
armadilha comum nas implementações<br />
MES.<br />
O equilíbrio entre a normalização e a<br />
personalização é delicado. Os projetos<br />
MES devem começar com a normalização<br />
como base, encarando a personalização<br />
como uma exceção e não como a<br />
regra. Esta abordagem garante flexibilidade<br />
futura e atualizações mais fáceis,<br />
evitando que o sistema se torne um<br />
monólito rígido e imutável.<br />
É por isso que é tão importante conhecer<br />
bem o produto e compreender<br />
quais as soluções configuráveis que ele<br />
traz para resolver determinados requisitos,<br />
antes de prescrever uma determinada<br />
solução exata que só pode ser implementada<br />
através da personalização.<br />
Conclusão: Uma perspetiva<br />
mais alargada<br />
A experiência da Lidl é uma profunda<br />
chamada de atenção para o facto de<br />
os projectos tecnológicos, quer se trate<br />
de ERP ou MES, não serem apenas<br />
sobre tecnologia e implementação de<br />
software, mas também sobre pessoas,<br />
processos e governação. As lições aprendidas<br />
com a experiência da Lidl são<br />
universalmente aplicáveis e sublinham a<br />
importância de adotar funcionalidades<br />
padrão, assegurando uma governação<br />
robusta do projeto e dando prioridade<br />
a uma gestão eficaz da mudança nas<br />
implementações MES.<br />
À medida que as organizações embarcam<br />
em implementações de MES,<br />
devem encarar estes sistemas não como<br />
meras ferramentas, mas como catalisadores<br />
de inovação e eficiência.
50<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
TRANSPORTES<br />
Interfreight Logistics<br />
e Frotcom<br />
Texto: Ana Paiva<br />
UM CASO<br />
DE SUCESSO<br />
A operação da Interfreight Logistics,<br />
empresa de transporte e logística<br />
sediada no Chipre, refletia algumas<br />
ineficiências a nível de gestão<br />
de frota. Era necessário recorrer<br />
a uma solução que permitisse<br />
maior competitividade e eficiência.<br />
Assim, optou por um sistema da<br />
Frotcom, fornecedora global de sistemas<br />
e rastreamento de veículos e<br />
gestão de frota, localizada em Portugal,<br />
que permitiu aumentar em<br />
15% a produtividade da sua frota, e<br />
reduzir os custos em 10%, de acordo<br />
com a empresa portuguesa.<br />
Numa fase inicial, a empresa cipriota<br />
enfrentava desafios operacionais,<br />
como o acompanhamento das<br />
despesas da frota, uma vez que tinha por<br />
base um controlo manual, o que consumia<br />
tempo e recursos, criando ineficiências<br />
nas operações. Além disto, a Interfreight<br />
Logistics também precisava de ter<br />
acesso a dados relacionados com o fornecimento,<br />
consumo e até roubo de combustível,<br />
e monitorização de temperatura.<br />
Esta lacuna nos dados disponíveis não<br />
permitia à empresa tomar decisões informadas<br />
ou otimizar a gestão da sua frota,<br />
assim como não conseguia descarregar<br />
remotamente os dados dos tacógrafos,<br />
pelo que, os veículos tinham, muitas<br />
vezes, de parar para os descarregar manualmente.<br />
Estes problemas constantes<br />
refletiam-se em elevados custos operacionais<br />
e na redução da produtividade da<br />
frota, pode ler-se no site da Frotcom.<br />
Era necessária uma solução que colmatasse<br />
todas estas dificuldades operacionais.<br />
E é aqui que entra a Frotcom e a sua<br />
solução que permitiu à Interfreight Logistics<br />
melhorar o planeamento e reduzir os<br />
tempos de condução. A empresa recebe<br />
agora notificações automáticas assim<br />
que o motorista concluí tarefas em determinadas<br />
áreas, garantindo transparência<br />
relativamente aos tempos de entrega, e<br />
a requisitos adicionais de recursos humanos.<br />
Outra das melhorias está relacionada<br />
com o acompanhamento das despesas<br />
que, com a gestão dos custos de frota da<br />
Frotcom, passou a ser uma tarefa mais<br />
simples, uma vez que esta funcionalidade<br />
monitoriza as despesas mensais, consolidando<br />
todos os custos num só sistema.<br />
Além disso, a empresa recebe ainda<br />
notificações atempadas para a marcação<br />
de serviços e renovação das cartas de<br />
condução.<br />
Através da funcionalidade Frotcom de<br />
descarga remota do tacógrafo, os dados
Supply Chain Magazine 51
52<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
dos motoristas estão disponíveis sem ser<br />
necessário visitar a oficina. A integração<br />
do VDP Fleet via Frotcom API, faz com<br />
que os motoristas recebam um relatório<br />
automático no qual as suas infrações vêm<br />
detalhadas. Por sua vez, a Interfreight<br />
Logistics também pode monitorizar a<br />
temperatura da sua carga.<br />
De acordo com Panayiotis Alexandrou,<br />
gestor de frota da Interfreight Logistics, “a<br />
eficiência e eficácia do sistema têm sido<br />
um divisor de águas nas nossas operações.<br />
Permitiu que me concentrasse nas<br />
prioridades-chave ao agilizar tarefas e<br />
simplificar processos complexos”. Acrescenta<br />
ainda que “a Frotcom permitiu<br />
não só poupar tempo, como também<br />
melhorar a nossa produtividade, fazendo<br />
dele um ativo inestimável para qualquer<br />
empresa que procure otimizar a frota”.<br />
O sistema foi implementado ao longo de<br />
seis meses em várias fases. A implementação<br />
começou com uma análise da frota<br />
e configuração de contas, focada nas funções<br />
e acesso dos utilizadores, e criando<br />
relatórios automáticos exclusivos para o<br />
gestor da frota. As fases seguintes incluíram<br />
uma gestão exaustiva de custos, integração<br />
com a KASASI, e a configuração<br />
dos reboques. A configuração dos relatórios<br />
VDO e das autorizações de acesso dos<br />
motoristas incluíram-se na fase final. “Por<br />
último, a abordagem modular, marcada<br />
por uma configuração meticulosa e por<br />
formação, contribuiu para o sucesso global<br />
da implementação na frota da Interfreight<br />
Logistics”, pode ler-se no site da<br />
Frotcom, no qual também está indicada a<br />
nota de que “a comunicação e orientação<br />
foram constantes ao longo do processo<br />
de implementação, com a equipa Frotcom<br />
a oferecer um apoio contínuo”.<br />
Atualmente, a Interfreight Logistics possui<br />
68 veículos equipados com a solução<br />
da Frotcom.
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54<br />
TRANSPORTES<br />
Segurança portuária<br />
RUMO A UM FUTURO SEGURO:<br />
COMO A TECNOLOGIA PROTEGE<br />
OS PORTOS<br />
Vivemos num mundo globalizado e em constante evolução, e a segurança<br />
dos portos é, hoje, mais importante do que nunca. Porquê? Para salvaguardar<br />
as mercadorias valiosas que passam por estas instalações todos<br />
os dias – por exemplo, em 2022, os portos portugueses movimentaram<br />
mais de 85 milhões de toneladas de mercadorias –, mas acima de tudo<br />
para proteger os pilares da economia portuguesa (o setor dos transportes<br />
e logística representa 1.1% do PIB português) e a segurança nacional.<br />
Não há dúvida de que os portos<br />
fazem parte das infraestruturas<br />
críticas de qualquer país – o funcionamento<br />
do país depende deles em<br />
grande parte e, em caso de rutura, não<br />
temos alternativas. Desta forma, garantir<br />
que os portos são seguros é fundamental,<br />
mas também nada fácil, devido aos diversos<br />
perigos a que estão expostos e para<br />
os quais se devem preparar. Enumerando<br />
apenas alguns: devem estar preparados<br />
para riscos naturais que podem afetar<br />
as suas operações, instalações e pessoas;<br />
precisam de garantir a segurança da<br />
navegação; proteger as mercadorias de<br />
ameaças físicas como sabotagens ou<br />
roubos; prevenir eventuais derrames de<br />
substâncias químicas; e ao mesmo tempo<br />
zelar pela segurança e bem-estar dos<br />
trabalhadores. Para além disso, os portos<br />
têm de cumprir regulamentos nacionais<br />
e internacionais rigorosos, pois são alvos<br />
potenciais de atos de terrorismo e também<br />
de ciberataques.<br />
Para fazer frente a todos estes perigos,<br />
não é suficiente tomar medidas reativas<br />
contra os riscos atuais; é, sim, necessária<br />
a preparação para quaisquer ameaças
Supply Chain Magazine 55<br />
Autora<br />
Verónica del Hoyo, end customer key<br />
account manager, Axis Communications<br />
futuras, adotando uma atitude proativa.<br />
A tecnologia desempenha um papel<br />
fundamental neste sentido, pois permite<br />
ao setor ter uma visão completa e dar<br />
resposta todas as suas necessidades de<br />
vigilância atuais e futuras. Felizmente, já<br />
se encontra disponível no mercado uma<br />
vasta gama de soluções tecnológicas<br />
que abordam todos os aspetos essenciais<br />
da segurança portuária – entradas<br />
e saídas, linhas costeiras, perímetros,<br />
edifícios e armazéns chave, zonas de<br />
transporte de carga e de estacionamento,<br />
etc. – e que ajudam a criar um<br />
ambiente seguro.<br />
Os sistemas de vigilância ajudam a<br />
criar um ambiente seguro e proporcionam<br />
aos gestores das instalações uma<br />
monitorização rentável, em qualquer<br />
momento e a partir de qualquer lugar.<br />
Falamos, neste ponto, de imagens térmicas,<br />
soluções de controlo de acesso<br />
de veículos, diferentes tipos de câmaras<br />
e outras tecnologias avançadas para<br />
otimizar a gestão das operações diárias<br />
nos portos. Alguns exemplos desta<br />
otimização incluem: a monitorização<br />
remota de dados, como números de<br />
identificação de contentores ou vagões;<br />
inspeções remotas de danos nas<br />
cargas; a melhoria da formação dos<br />
colaboradores, expondo-os a incidentes<br />
e cenários reais; alertas automáticos<br />
quando alguém acede ao perímetro;<br />
investigação de acidentes facilitada com<br />
imagens de vídeo de alta qualidade (ao<br />
vivo ou gravadas); e ainda a contagem<br />
de pessoas ou a deteção de movimento<br />
com inteligência integrada.<br />
Todas estas soluções de videovigilância,<br />
controlo de acessos, intercomunicadores<br />
ou sistemas de áudio, combinadas<br />
com aplicações inteligentes especializadas<br />
em análise e formação avançada,<br />
não apenas aumentam a eficiência<br />
da segurança nas infraestruturas portuárias<br />
e ajudam a reduzir os custos e<br />
o tempo despendido, como também<br />
são escaláveis. Isto significa que vão ser<br />
cruciais na preparação dos portos para o<br />
futuro, permitindo-lhes expandir os seus<br />
sistemas de segurança pouco a pouco, à<br />
medida das suas necessidades.<br />
Em suma, a segurança no setor portuário<br />
é uma questão muito importante<br />
e que não deve, de forma alguma, ser<br />
subestimada. Num contexto de mudança<br />
constante, garantir a estabilidade e a<br />
resiliência de um país significa proteger<br />
as suas infraestruturas críticas contra as<br />
muitas ameaças a que estão expostas,<br />
e os portos não são exceções. Tendo em<br />
conta as muitas ameaças a que estão<br />
expostos. Setores estratégicos como o<br />
do comércio, turismo, produção, entre<br />
outros, dependem da continuidade das<br />
operações portuárias. Está na hora de<br />
todos os intervenientes do setor porem<br />
mãos à obra e assumirem um compromisso<br />
firme com sistemas de proteção<br />
da segurança física ligados a dados, que<br />
vão permitir proteger instalações, bens<br />
e pessoas – agora e sempre.
56<br />
TRANSPORTES<br />
Parceria<br />
Texto: Bruna Manguito<br />
BRINDE A UM FUTURO<br />
SUSTENTÁVEL<br />
A Carlsberg Sweden, em colaboração com a empresa de mobilidade de carga<br />
Einride, desenvolveu uma solução que possibilitou eletrificar a rota entre a<br />
cervejeira em Falkenberg e os terminais de transbordo em Gotemburgo, Malmö<br />
e Helsingborg. Uma história a que vale a pena brindar, pois cada quilómetro<br />
eletrificado representa um compromisso com um futuro mais sustentável.<br />
Num esforço para adotar uma abordagem<br />
mais ecológica, a Carlsberg<br />
Sweden uniu forças com a Einride<br />
para implementar uma solução de<br />
transporte sustentável nas regiões sul e<br />
oeste da Suécia. Esta iniciativa vai além do<br />
simples transporte da fábrica para os terminais<br />
de transbordo, incluindo também<br />
a movimentação de latas de alumínio da<br />
empresa de embalagens Ball, de Malmö<br />
para Falkenberg e Ramlösa. Ademais,<br />
contempla o transporte de Ramlösa para<br />
Falkenberg e uma parte da distribuição<br />
direta de Falkenberg para clientes grossistas<br />
em Halmstad, tudo impulsionado por<br />
veículos elétricos.<br />
“Iniciámos a nossa colaboração com a Einride<br />
no outono de 2022, quando eletrificámos<br />
o transporte pesado no armazém em<br />
Halland. Na primavera de 2023, expandimos<br />
a colaboração adicionando mais um<br />
camião elétrico que opera diariamente entre<br />
Falkenberg e Ramlösa. Agora, estamos<br />
a dar o próximo passo ao fazer um grande<br />
investimento numa solução de transporte<br />
sustentável para as partes sul e oeste da<br />
Suécia, o que contribuirá significativamente<br />
para a redução da nossa pegada de<br />
carbono e impulsionará o nosso progresso<br />
em direção a uma cadeia de valor de zero<br />
emissões”, referiu Peter Hammarstedt,<br />
CEO da Carlsberg Sverige.
Supply Chain Magazine 57<br />
Do desafio à inovação<br />
A iniciativa envolverá oito equipas com<br />
camiões elétricos com reboques, proporcionando<br />
51 espaços para paletes<br />
por equipa. A Einride será responsável<br />
por instalar a infraestrutura de carregamento<br />
em locais estratégicos, incluindo<br />
a cervejeira em Falkenberg e a fábrica<br />
de água em Ramlösa. Essa abordagem<br />
permitirá que os camiões carreguem enquanto<br />
são carregados e descarregados,<br />
otimizando eficiência e sustentabilidade.<br />
Os primeiros camiões elétricos devem<br />
entrar em operação no outono de <strong>2024</strong>.<br />
A frota será gerida, planeada, otimizada e<br />
monitorizada pela plataforma de mobilidade<br />
Einride Saga. A Einride estima<br />
que a parceria alargada deverá eletrificar<br />
aproximadamente 7.650.000 quilómetros<br />
de transporte em cinco anos, representando<br />
uma poupança de quase<br />
12.300 toneladas de CO₂ em comparação<br />
com camiões a diesel. Isto equivale a<br />
retirar 428 carros a diesel, a conduzir 200<br />
quilómetros por dia durante um ano, das<br />
estradas.<br />
De acordo com Carl Ceder, VP Nordics<br />
da Einride, “é um prazer trabalhar com<br />
clientes como a Carlsberg Sverige e ajudá-los<br />
na sua jornada rumo ao transporte<br />
sustentável, provando juntos que chegou<br />
o momento de uma transformação em<br />
grande escala do transporte pesado,<br />
mesmo em distâncias mais longas. A<br />
Carlsberg atreve-se a desafiar verdades<br />
antigas e inovar através da digitalização<br />
e eletrificação, para criar uma mudança<br />
real”.<br />
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<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
CARREIRA<br />
Supply Chain no ADN<br />
Pedro Paiva<br />
diretor de logística<br />
da Panidor<br />
“UM BOM<br />
PROFISSIONAL DE<br />
LOGÍSTICA NÃO SE MEDE PELO<br />
TEMPO QUE DISPENSA, MAS PELA<br />
DETERMINAÇÃO E OBJETIVIDADE<br />
QUE EMPREGA!“<br />
Pedro Paiva já detém um completo currículo na área da logística e dos<br />
transportes, tendo passado por empresas como Chronopost Portugal,<br />
CTT Correios de Portugal, Transportes Machado & Brites Lda e Panilogistic.<br />
Atualmente, é diretor de logística da Panidor, e tem várias experiências<br />
e conselhos para partilhar sobre a sua carreira.<br />
Descreva o seu trabalho em três<br />
palavras.<br />
Coordenação, Eficiência, Desafiante.<br />
Por que se tornou num profissional<br />
de logística?<br />
Desde criança, o interesse pelo mundo<br />
do transporte sempre me acompanhou,<br />
levando-me a percorrer um caminho<br />
interessante e completo. Desde a distribuição,<br />
que foi uma primeira experiência<br />
fundamental, passando depois para<br />
a coordenação e gestão de equipas. A<br />
vontade e o interesse em otimizar processos,<br />
o interesse na gestão da cadeia<br />
de abastecimento e o querer sempre<br />
garantir a eficiência em toda a operação,<br />
fez com que naturalmente me tornasse<br />
um profissional na área da logística.<br />
Como é um dia típico de trabalho?<br />
O dia a dia é passado com o objetivo<br />
de implementar novas estratégias tendo<br />
em vista a eficiência de toda a cadeia. É<br />
fundamental a análise diária de dados, a<br />
coordenação de meios e equipas, e a colaboração<br />
com diferentes departamentos<br />
para garantir sempre uma gestão<br />
eficaz de toda a área logística.<br />
Quais os aspetos mais e menos<br />
gratificantes da sua profissão?<br />
O aspeto mais gratificante é, sem dúvida,<br />
as conquistas diárias, que são resul-
Supply Chain Magazine 59<br />
tado de uma otimização dos processos.<br />
É uma satisfação alcançar a eficiência<br />
operacional, aliada à capacidade de influenciar<br />
positivamente toda a cadeia. O<br />
aspeto menos gratificante é a incapacidade<br />
de prever problemas relacionados<br />
com avarias, infraestruturas ou equipamentos<br />
que provocam incumprimentos<br />
de prazos de entrega.<br />
Como mantém a motivação nos<br />
momentos mais desafiantes?<br />
A motivação é mantida com o foco<br />
nas soluções. Ultrapassar os desafios<br />
diários sabendo que a logística tem, e<br />
poderá ter sempre, um impacto positivo<br />
em toda a organização, é uma motivação<br />
forte!<br />
Quais as competências fundamentais<br />
para ter sucesso nesta função?<br />
A capacidade de decisão eficiente, comunicar<br />
de forma clara, ter a capacidade<br />
de se adaptar à mudança, de análise<br />
de dados e, principalmente, de liderança<br />
e coordenação para manter as equipas<br />
motivadas, envolvidas e focadas.<br />
Como cuida da sua saúde mental?<br />
É imperativo equilibrar o trabalho com<br />
momentos de descanso e familiar. Nunca<br />
separar os dois ambientes. Ambos<br />
permitem ter o equilíbrio natural e obrigatório<br />
de uma vida mental saudável<br />
Há algum episódio mais caricato<br />
ou marcante que recorde?<br />
Um episódio marcante como profissional<br />
foi quando a empresa passou por<br />
dificuldades na contratação de transportes,<br />
nacionais e internacionais, por<br />
via terrestre. Após a identificação da<br />
necessidade urgente de ter parceiros<br />
com grande capacidade de resposta,<br />
enquanto responsável de departamento,<br />
promovi entre parceiros existentes e<br />
novos parceiros, encontros com o objetivo<br />
de termos sempre resposta a todos os<br />
pedidos. Implementar mudanças operacionais,<br />
ter planos flexíveis considerando<br />
sempre todas as restrições, otimizar os<br />
tempos de carga, o planeamento e definição<br />
de horários de carga foram o mote<br />
para partilhar qual seria a forma possível<br />
de iniciar ou reforçar as parcerias garantido<br />
a operacionalização das entregas<br />
aos nossos clientes. A aquisição de novos<br />
equipamentos de movimentação e reforço<br />
de equipas contribuiu para o sucesso<br />
de toda a operação. O episódio marcante<br />
foi perceber que, com todas as alterações<br />
promovidas internamente, conseguimos<br />
adaptar, ter uma maior capacidade e<br />
soluções para que os nossos parceiros<br />
tivessem as condições e maior disponibilidade<br />
de resposta. Com dedicação, esforço<br />
e trabalho em equipa, apresentamos,<br />
hoje, soluções essenciais para garantir<br />
que as dificuldades sentidas no passado,<br />
se traduzam numa maior capacidade de<br />
resposta a imprevistos.<br />
Que conselhos daria a futuros<br />
profissionais que estão (ou irão)<br />
ingressar nesta profissão?<br />
Sejam humildes. Tenham a capacidade<br />
e habilidade de fazer um percurso ascendente.<br />
Focar no objetivo e trabalhar para<br />
atingir o mesmo, ainda que o caminho<br />
inicial seja difícil. Desistir nunca! É uma<br />
área de excelência e uma das que tem<br />
maior influência em toda a cadeia de<br />
abastecimento. Cultivem bons hábitos<br />
de comunicação, tenham capacidade<br />
para se adaptarem às mudanças e não<br />
esqueçam nunca a formação contínua.<br />
Criem e mantenham uma boa rede<br />
de contactos. Será fundamental para o<br />
vosso percurso! Um bom profissional de<br />
logística não se mede pelo tempo que<br />
dispensa, mas sim pela determinação e<br />
objetividade que emprega!
60<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
CARREIRA<br />
Escassez<br />
de Recursos Humanos<br />
Texto: Fábio Santos<br />
LOGÍSTICOS PROCURAM-SE!<br />
Diz-se por aí que são os profissionais que operam na sombra, aqueles<br />
que fazem acontecer, e que só são notados quando algo falha, mas a<br />
verdade é que sem eles o mundo estaria um caos. Falamos dos logísticos,<br />
claro. Estes profissionais que “fazem a máquina andar”, e que são cada<br />
vez mais procurados, estão a extinguir-se.
Supply Chain Magazine 61<br />
Do centro de distribuição ao armazém<br />
local, do camião ao navio,<br />
do picking ao last mile, todas as<br />
funções da cadeia de abastecimento<br />
são extremamente importantes para o<br />
seu correto funcionamento. É difícil perceber<br />
qual a área mais importante, pela<br />
simples razão de que tudo funciona de<br />
forma interligada. É um elo completo<br />
que funciona em cadeia, razão pelo qual<br />
tem o nome “cadeia de abastecimento”.<br />
Quando algum ponto falha, sentem-se<br />
as repercussões a montante e a jusante.<br />
Dependendo de onde ocorra o problema,<br />
pode dar-se uma quebra ou um<br />
excesso de produção, falta de stock ou<br />
armazéns que não conseguem escoar<br />
os produtos, entre outros problemas<br />
que, de um modo ou de outro, acabam<br />
por gerar falhas nas entregas.<br />
Atualmente, temos assistido a uma<br />
reformulação da profissão. Devido a<br />
questões como a digitalização, a automatização<br />
e a automação, estes cargos<br />
têm procurado profissionais cada vez<br />
mais aptos para lidar com estas novas<br />
tecnologias, e com diferentes soft skills.<br />
Por outro lado, por parte dos colaboradores,<br />
o salário já não é o fator determinante,<br />
mas também possíveis bónus,<br />
sejam eles monetários, materiais ou<br />
através de serviços, bem como outras<br />
vantagens como a possibilidade de fazer<br />
teletrabalho, a flexibilidade horária, o<br />
ambiente empresarial, etc.<br />
A nível interno, por vezes um ligeiro<br />
custo adicional por mês, através destes<br />
incentivos, poderá poupar à empresa<br />
vários custos indiretos, pois há que ter<br />
em conta que a perda de um colaborador<br />
não é apenas um ligeiro abrandamento<br />
nas operações. A substituição de<br />
um colaborador envolve grandes gastos,<br />
desde logo na procura de um novo profissional<br />
(num mercado em que a oferta<br />
está escassa), na sua formação e acompanhamento,<br />
e todo o tempo dedicado<br />
a essa pessoa. Custos que poderiam ser<br />
evitados ao manterem essa pessoa.<br />
De forma a traçar um perfil deste novo<br />
profissional de logística, bem como um<br />
estado do setor, abordámos várias empresas<br />
e entidades de diferentes áreas,<br />
bem como um futuro profissional do<br />
setor.<br />
RECRUTADORES<br />
Randstad<br />
David Ferreira, director staffing &<br />
inhouse da Randstad Portugal, nota<br />
que a escassez de recursos humanos é<br />
uma tendência que se tem sentido de<br />
forma crescente nos últimos tempos, e<br />
que foi também verificado no relatório<br />
de tendências 2023-<strong>2024</strong> da empresa.<br />
Segundo o estudo, 60% das empresas<br />
entrevistadas referiram existir uma<br />
notável escassez de talento, o que tem<br />
um impacto negativo sobre a competitividade,<br />
produtividade e capacidade de<br />
satisfazer as necessidades dos clientes.<br />
“Prevê-se que o ano de <strong>2024</strong> continue a<br />
apresentar uma necessidade crescente<br />
de elaboração de estratégias eficazes<br />
para atrair, reter e desenvolver talento”,<br />
destaca o responsável.<br />
No que toca às cadeias de abastecimento,<br />
defende que a escassez de<br />
talentos tem vindo a sentir-se desde a<br />
pandemia de COVID-19, e que isso “tem<br />
desempenhado um papel marcante<br />
no setor”. David Ferreira nota que para<br />
além de causas como o envelhecimento<br />
da população, o longo período de pandemia<br />
e de restrições, crise energética<br />
e conflitos terem tido grandes impactos<br />
na falta de recursos humanos para o<br />
setor, “à semelhança de outras áreas,<br />
também as perspetivas dos próprios<br />
colaboradores estão a mudar, acompanhadas<br />
igualmente pelas suas expectativas<br />
e exigências face ao emprego”.
62<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
O responsável da Randstad destaca<br />
ainda que “este não é apenas um tema<br />
de escassez de recursos, mas sim uma<br />
questão de escassez de talento, já que<br />
o setor da logística e transportes carece<br />
de mão de obra especializada, assim<br />
como de determinadas licenças e até<br />
tempos de experiência”. De forma a colmatar<br />
estas necessidades, defende que<br />
é necessária a adoção de tecnologia e<br />
inteligência artificial, de modo a fornecer<br />
dados e insights para identificar tendências<br />
de mercado e prever com maior<br />
precisão as necessidades futuras para o<br />
negócio. “Isto pode fornecer uma vantagem<br />
competitiva para construir uma<br />
forte rede de fornecedores e processos<br />
mais ágeis e resilientes nas cadeias de<br />
abastecimento”, aponta ainda.<br />
Ao mesmo tempo, realça que o<br />
talento também é necessário “para<br />
conseguir desenvolver estas matérias e<br />
aplicá-las ao bom funcionamento dos<br />
negócios”, considerando que as empresas<br />
devem estar atentas e apostar fortemente<br />
em programas de conversão e<br />
reconversão de competências.<br />
Ao nível dos setores em que faltam<br />
mais recursos, David Ferreira aponta<br />
o exemplo das tecnologias de informação,<br />
por envolver uma adaptação<br />
constante, e por vezes o que falta são<br />
profissionais qualificados, com uma<br />
experiência específica. “Nas cadeias de<br />
abastecimento – assim como noutros<br />
setores – está a ser feita uma transformação<br />
digital do negócio, o que requer<br />
cada vez mais profissionais dessa área”,<br />
explica o responsável da Randstad, e<br />
“quando existe um crescimento exponencial<br />
de alguns setores ou áreas<br />
de trabalho, determina uma grande<br />
procura por trabalhadores qualificados<br />
que não existem no mercado em<br />
número suficiente para colmatar as<br />
necessidades das empresas”.<br />
Atração e retenção de talento<br />
De forma a atrair estes talentos, sente<br />
que “é, mais do que nunca, importante<br />
a análise de informação e a atualização<br />
da mesma”, de modo a perceber quais<br />
as tendências do setor, bem como as<br />
necessidades e motivações dos colaboradores.<br />
“As análises recentes que a<br />
Randstad tem levado a cabo dizem que<br />
num mercado competitivo, as empresas<br />
que possuem equipas estáveis têm uma<br />
vantagem estratégica significativa e é<br />
por isso que a falta de talento pode ter<br />
como consequência a perda de oportunidades<br />
de crescimento, inovação e<br />
eficiência”, avança David Ferreira, tendo<br />
as empresas de apostar em estratégias<br />
eficazes para atrair, reter e desenvolver<br />
talentos para conseguirem essa competitividade.<br />
Algumas formas de atrair talento<br />
passam por medidas de flexibilidade e<br />
salário emocional, sendo que também<br />
a transformação digital e a inovação<br />
tecnológica irão ser determinantes no<br />
futuro, e que trazem grandes desafios,<br />
nomeadamente ao nível da segurança<br />
da informação.<br />
O desafio, no entanto, não passa apenas<br />
por atrair, mas também por reter.<br />
David Ferreira aponta que os candidatos<br />
já não procuram apenas salários, mas<br />
também benefícios adicionais, como<br />
por exemplo a flexibilidade, contribuindo<br />
igualmente para a qualidade de vida<br />
dos colaboradores.<br />
Novas skills<br />
A formação adequada é uma forma de<br />
desenvolver talento dentro dos recursos<br />
internos da empresa, com a possibilidade<br />
de direcionar para necessidades<br />
específicas. “É ideal que estas formações<br />
sejam promovidas pelos especialistas<br />
de cada setor, inseridas no contexto de<br />
cada empresa específica, pois é uma
Supply Chain Magazine 63<br />
forma de transmitir os valores das organizações<br />
e criar momentos de partilha e<br />
conhecimento”, destaca David Ferreira.<br />
No caso da Randstad, enquanto empresa<br />
de recursos humanos, estas práticas<br />
aumentam as oportunidades de uma<br />
pessoa encontrar um emprego, e também<br />
capacitam os profissionais para se<br />
adequarem às mudanças, inovarem e<br />
alcançarem os seus objetivos profissionais.<br />
“A importância da formação adequada<br />
e do desenvolvimento de competências<br />
destaca-se de forma ainda mais crítica<br />
no contexto de escassez de talento.<br />
Neste sentido, o upskilling (processo de<br />
aprimorar as competências e conhecimentos<br />
existentes de um profissional) e<br />
o reskilling (processo de aprender novas<br />
competências) assumem um papel de<br />
maior relevância”, aponta, acrescentando<br />
que, segundo o World Economic Forum,<br />
até 2025 será necessário que 50%<br />
dos trabalhadores passem por processos<br />
de reskilling de modo a manterem-<br />
-se relevantes no mercado de trabalho,<br />
o que gera desafios significativos para<br />
as empresas, que exigem uma ação<br />
conjunta entre as empresas, trabalhadores<br />
e governo.<br />
Esta necessidade de adaptação torna-se<br />
ainda mais significativa quando<br />
vemos a entrada acelerada da Inteligência<br />
Artificial no mundo do trabalho<br />
e em setores como o da logística e da<br />
indústria. “Estes são setores onde a<br />
componente manual está ainda muito<br />
marcada e presente, pelos pressupostos<br />
das funções, mas ainda assim, são áreas<br />
onde a componente tecnológica pode<br />
ser uma mais-valia, nomeadamente no<br />
desempenho de tarefas mais rotineiras<br />
deixando livre para a intervenção humana<br />
nas tarefas onde estes podem realmente<br />
acrescentar valor”, realça David<br />
Ferreira.<br />
Futuro do recrutamento<br />
Olhando para <strong>2024</strong>, acredita que será<br />
um ano que irá continuar a necessitar<br />
de elaboração de estratégias eficazes<br />
para atrair, reter e desenvolver talentos.<br />
“Prevê-se que continue a existir um<br />
grande foco nos candidatos, na procura<br />
de talento e de competências especializadas”,<br />
afirma ainda. A nível tecnológico,<br />
aponta que a inovação irá continuar a<br />
marcar o futuro, e que a Inteligência Artificial<br />
deverá ter um impacto crescente<br />
no mercado de trabalho, e que neste<br />
momento já está a impactar na forma<br />
como os processos de recrutamento<br />
acontecem. “Esta inovação traz mais ferramentas<br />
para nos ajudar a ter análises<br />
mais completas”, explica o responsável,<br />
sendo que “num contexto de escassez<br />
de talento torna-se ainda mais importante<br />
conseguir, de forma ágil, analisar<br />
informação de forma detalhada”.<br />
Para o futuro, antecipa que a escassez<br />
de talento permaneça até que os processos<br />
estabilizem e que seja possível<br />
encontrar modelos que estejam cada<br />
vez mais equilibrados entre as empresas<br />
e os colaboradores. David Ferreira destaca<br />
ainda que será importante valorizar<br />
as questões de reconversão de carreira,<br />
podendo reinventar processos e capacitar<br />
pessoas. “É importante que tenhamos<br />
presente que as necessidades e<br />
exigências estão a mudar, assim como<br />
as próprias perspetivas das empresas e<br />
os setores”.<br />
RSDG Human Capital<br />
Hugo Gonçalves, fundador da RSDG<br />
Human Capital, considera que existem<br />
muitos fatores por detrás da escassez<br />
de recursos humanos, no entanto, de<br />
todos, destaca um que não costuma ser<br />
abordado: o envelhecimento da população.<br />
“Se não temos entradas, e temos<br />
muitas saídas, podemos ter aqui um dos
64<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
fatores que ajuda à escassez de recursos<br />
humanos”, comenta, salientando que o<br />
aumento da esperança média de vida<br />
acaba por ser um fator positivo em termos<br />
de disponibilidade de mão de obra.<br />
Baseando-se no relatório “World Population<br />
Prospects 2022”, considera que<br />
o dividendo demográfico é um outro<br />
fator positivo, podendo ser visto como<br />
uma janela de oportunidade. “A população<br />
ativa face à população com 14 ou<br />
menos anos de idade é superior, podendo<br />
isto trazer uma oportunidade para<br />
fazer crescer a economia”, explica Hugo<br />
Gonçalves.<br />
De forma a colmatar a falta de mão de<br />
obra, considera que também a tecnologia<br />
poderá ter um papel determinante<br />
para realizar determinadas tarefas, aproveitando-se<br />
assim os recursos humanos<br />
existentes para tarefas mais complexas<br />
e especializadas, enquanto as máquinas<br />
reproduzem tarefas repetitivas e<br />
simples. “É importante saber gerir este<br />
dividendo, e uma das situações mais<br />
relevantes para a boa gestão do mesmo,<br />
é dar às pessoas as condições certas”,<br />
como o acesso a ensino de qualidade e<br />
a boas condições de saúde.<br />
Gestão geracional<br />
O dividendo demográfico leva ainda a<br />
um novo tópico: o ‘conflito entre gerações’.<br />
“Se estamos a falar de aumento da<br />
esperança média de vida, e se a idade<br />
da reforma também tende a aumentar,<br />
temos como resultado um maior cruzamento<br />
entre gerações nos locais de<br />
trabalho”, aponta.<br />
De forma a que o know-how das<br />
pessoas mais experientes não se perca,<br />
é necessário haver esta troca de experiências<br />
entre gerações, mas “para isso,<br />
as várias gerações têm de saber estar<br />
umas com as outras”, afirma. A este nível,<br />
destaca a necessidade de as pessoas<br />
sentirem-se bem no local de trabalho e<br />
assim tornarem-se uma mais-valia para<br />
as empresas. “Cada geração ter a sua<br />
forma de pensar e de estar perante o<br />
mesmo assunto, é perfeitamente normal.<br />
Somos influenciados pelas nossas<br />
vivências”.<br />
Hugo Gonçalves considera que este<br />
efeito de conflito entre gerações poderá<br />
aumentar, e que as empresas deverão<br />
criar estratégias para gerir os potenciais<br />
conflitos entre gerações, de modo a colocar<br />
as empresas numa posição confortável,<br />
estando assim um passo à frente”.<br />
Captação e retenção de talento<br />
O fluxo imigratório tende a dar resposta,<br />
em parte, à falta de mão de obra.<br />
Porém, a necessidade de especialização<br />
não costuma ser colmatada por estes<br />
recursos, o que leva a que uma grande<br />
parte desta mão de obra não consiga<br />
responder a necessidades específicas<br />
das empresas. Assim, destaca existir<br />
uma necessidade de abordar o mercado<br />
de outra maneira, apontando três aspetos<br />
que considera relevantes:<br />
. As empresas devem tornar-se atrativas<br />
para potenciais trabalhadores e para<br />
manter os atuais, não esquecendo assim<br />
quem já se encontra nas empresas;<br />
. As empresas devem procurar nas instituições<br />
de ensino o seu parceiro estratégico<br />
e fornecedor ideal para encontrar<br />
o fato à medida;<br />
. Uso do digital enquanto fator de<br />
eficiência e potencial facilitador para a<br />
atração de pessoas.<br />
“O foco das empresas tem de estar<br />
nos clientes. É indiscutível. No entanto,<br />
não se podem esquecer dos trabalhadores.<br />
São um dos pilares das empresas.<br />
Felizmente, nos dias de hoje, é um<br />
assunto muito falado e explicado. No entanto,<br />
em algumas organizações importa<br />
passar das palavras à ação”, defende
Supply Chain Magazine 65<br />
Hugo Gonçalves.<br />
Uma forma de reforçar e demonstrar o<br />
interesse das empresas nos colaboradores<br />
é através da valorização do potencial<br />
dos recursos humanos. “Dar um sinal<br />
que se acredita nas pessoas, através<br />
de iniciativas como a formação, é algo<br />
muito positivo e relevante do ponto de<br />
vista da gestão dos recursos humanos”,<br />
realça, e é importante que a formação<br />
não seja vista apenas para cumprimento<br />
de requisitos legais: “é preciso olhar para<br />
a mesma de forma estratégica”.<br />
Algumas iniciativas existentes envolvem<br />
a ligação entre universidades,<br />
politécnicos e outras instituições ligadas<br />
ao setor da formação com as empresas,<br />
contribuindo para essa ‘formação estratégica’.<br />
“Não é apenas na logística, mas<br />
também noutras áreas. Há inclusivamente<br />
programas cuja base é adaptada<br />
à realidade de cada empresa (o tal fato<br />
à medida que referi anteriormente)”,<br />
explica.<br />
Tecnologia<br />
De acordo com o relatório da World<br />
Economic Forum (“The Future of Jobs<br />
Report 2023”), Hugo Gonçalves aponta<br />
existir uma previsão de grande mudança<br />
impulsionada por novas tecnologias<br />
e pela transição verde, pelo menos entre<br />
2023 e 2027. “Esta mudança vai implicar<br />
a criação de novos empregos e o desaparecimento<br />
de outros. Isto levará à<br />
necessidade de governos, empresas e<br />
trabalhadores abraçarem uma cultura<br />
de formação contínua”.<br />
Ao nível tecnológico, considera que<br />
a tecnologia irá continuar a desafiar as<br />
empresas e as pessoas, e reforça a ideia<br />
de que quem não acompanhar a necessidade<br />
de mudança constante, ficará<br />
para trás: “estamos no mercado global.<br />
Se as empresas locais não se adaptam,<br />
vai aparecer alguma, de algum outro<br />
ponto do planeta, para aproveitar a<br />
oportunidade”.<br />
Adaptação constante<br />
Um mundo volátil como o de hoje<br />
exige uma necessidade constante de<br />
adaptação, sendo cada vez mais difícil<br />
pensar a longo prazo. Assim, “as empresas<br />
adaptam-se ou ficam de fora”, e o<br />
mesmo acontece com o recrutamento.<br />
O recurso à Inteligência Artificial é<br />
visto como uma grande vantagem para<br />
as empresas, capacitando-as de uma<br />
resposta mais rápida e mais enquadrada<br />
com as necessidades dos negócios.<br />
“Os recursos humanos, em toda a sua<br />
intervenção de A a Z, têm de ser vistos<br />
como uma área estratégica para os<br />
negócios. Seja por recurso a empresas<br />
terceiras, seja recorrendo aos departamentos<br />
de RH das próprias empresas,<br />
quando surge uma necessidade de<br />
preencher uma posição, a resposta tem<br />
de ser rápida”, afirma Hugo Gonçalves, e<br />
“neste sentido, o uso das novas tecnologias<br />
é indiscutivelmente uma vantagem<br />
competitiva”.<br />
O recrutamento de amanhã<br />
O problema da escassez de recursos<br />
humanos é transversal a várias áreas da<br />
economia, não apenas na logística. Por<br />
isso mesmo, o fundador da RSDG Human<br />
Capital considera relevante que as<br />
empresas pensem de forma estratégica<br />
quanto à sua abordagem na área dos<br />
RH. “Um sinal positivo para os trabalhadores<br />
é a preocupação efetiva por parte<br />
da empresa com estes”, e isso implica<br />
que os RH também tenham disponibilidade<br />
para se dedicarem aos mesmos.<br />
O uso da IA poderá ser uma forma de<br />
reduzir o tempo gasto com determinados<br />
processos, deixando mais espaço<br />
para o que é realmente relevante: olhar<br />
pelas pessoas.
66<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
Por outro lado, considera importante<br />
que as empresas invistam em novas<br />
medidas, de modo a atraírem novos<br />
talentos, e aqui podem ser apontados<br />
alguns aspetos como a flexibilidade de<br />
horários, a formação continua, benefícios<br />
extra, entre outros. “Quando se<br />
fala de remuneração, tendencialmente<br />
pensamos na componente monetária.<br />
No entanto, importa não esquecer que<br />
a componente não monetária também<br />
pode estar presente na remuneração e<br />
pode ser igualmente importante para<br />
algumas pessoas”, destaca Hugo Gonçalves,<br />
deixando como exemplos, que<br />
considera serem menos comum, os<br />
fatores de ser um trabalho desafiante e<br />
o de ter reconhecimento social.<br />
No entanto, todas estas questões<br />
também dependem tanto de pessoa<br />
para pessoa, como do ponto em que o<br />
trabalhador se encontra na hierarquia, o<br />
que dará mais ou menos importância às<br />
diversas componentes que fazem parte<br />
da remuneração. “É aqui que entram os<br />
gestores de recursos humanos. É necessário<br />
tempo para olhar aos pormenores.<br />
É também neste ponto que entra a<br />
importância dos dados”, sendo crucial<br />
que o gestor olhe para os dados e faça<br />
uma análise.<br />
“Acima de tudo, importa ter uma<br />
cultura que transmita confiança aos trabalhadores.<br />
Quem se sente bem numa<br />
casa, pondera muito bem antes de mudar!”,<br />
remata Hugo Gonçalves.<br />
Adecco<br />
Cátia Melo, senior manager | Engineering,<br />
Industry & IT na Adecco<br />
Recruitment, considera que não verificam<br />
uma escassez de talento na área<br />
de supply chain, mas notam “algum<br />
aumento nos salários praticados neste<br />
setor, o que pode induzir a uma perceção<br />
de escassez de talento”.<br />
Segundo a recrutadora, esta situação<br />
advém do facto de que, embora existam<br />
profissionais qualificados disponíveis,<br />
as empresas enfrentam desafios<br />
na atração e fidelização desses talentos<br />
devido às crescentes expectativas<br />
salariais.<br />
“O que recomendamos aos nossos<br />
clientes/ parceiros é disponibilizarem<br />
um pacote de benefícios adicionais,<br />
oportunidades de desenvolvimento<br />
profissional, e um ambiente de trabalho<br />
mais flexível”, explica Cátia Melo.<br />
Uma das formas como agem é<br />
dando visibilidade aos parceiros sobre<br />
as novas tendências salariais do setor,<br />
podendo esta ser feita através de<br />
estudos salariais, de modo a que estes<br />
ponderem ajustes estratégicos de<br />
modo a manterem a competitividade<br />
no mercado.<br />
OPERADORES LOGÍSTICOS<br />
APOL<br />
Por parte da Associação Portuguesa<br />
de Operadores Logísticos (APOL), Vítor<br />
Figueiredo, presidente do Conselho<br />
Diretivo, aponta que o problema da escassez<br />
de mão de obra afeta a totalidade<br />
da economia, e que “os operadores<br />
logísticos, enquanto setor altamente<br />
dinâmico e em forte transformação,<br />
não são exceção. Pelo contrário, enquanto<br />
setor em crescimento, são dos<br />
setores mais afetados”.<br />
O responsável associativo destaca<br />
que a escassez de mão de obra é<br />
transversal a todas as funções. Se por<br />
um lado, considera que o ensino da<br />
logística é recente, especialmente em<br />
Portugal, “por outro lado, o êxodo das<br />
gerações mais novas e mais qualificadas,<br />
a crescente adoção de novas<br />
tecnologias, a multiplicidade de canais<br />
de venda e o forte aumento quer da<br />
complexidade, quer da abrangência
Supply Chain Magazine 67<br />
das cadeias de abastecimento têm feito<br />
com que a procura de posições em<br />
funções mais qualificadas tenha sido<br />
preenchida apenas de forma parcial”,<br />
nota, sendo que “a cada ano a situação<br />
tem-se agravado e não existem<br />
perspetivas de que venha a melhorar a<br />
curto prazo”.<br />
Apesar da crescente automação e<br />
robotização de funções mais rotineiras,<br />
também se tem sentido a escassez de<br />
mão de obra em funções mais indiferenciadas.<br />
“O aumento da imigração,<br />
sobretudo oriunda de fora da Europa,<br />
tem atenuado este problema”, porém,<br />
não tem sido suficiente para responder<br />
à crescente procura por pessoas<br />
qualificadas.<br />
Vítor Figueiredo assinala que a escassez<br />
tem-se feito sentir em regiões<br />
onde a atividade logística está mais<br />
concentrada, nomeadamente no eixo<br />
da Azambuja e Carregado, e em diversas<br />
áreas, mas destaca a falta de motoristas<br />
profissionais. “Essa escassez foi<br />
agravada pela guerra da Ucrânia, que<br />
fez regressar a casa uma importante<br />
fatia dos motoristas que antes estavam<br />
em rotas internacionais. Esta é uma<br />
dificuldade crescente e com tendência<br />
a agravar-se, já que a idade média dos<br />
motoristas está bastante acima dos 50<br />
anos e a renovação geracional desta<br />
categoria profissional é completamente<br />
incipiente”.<br />
Desafios<br />
Ao nível da evolução e crescimento<br />
do setor, considera que este tem<br />
enfrentado grandes desafios, tendo<br />
PUB<br />
CONNOSCO
68<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
em conta todos os impactos negativos<br />
recentes na cadeia de abastecimento,<br />
o que dificultou muito as suas operações.<br />
Desde as crises disruptivas<br />
sucessivas, o crescimento dos canais<br />
de venda e a diminuição significativa<br />
de lead times, os operadores logísticos<br />
têm enfrentado vários desafios nos últimos<br />
anos. Ao mesmo tempo, problemas<br />
como a interrupção de algumas<br />
cadeias de abastecimento de bens<br />
subsidiários à atividade logística, ou<br />
a ausência de mão de obra, agravam<br />
ainda mais a situação. “É no chão de<br />
armazém, nas funções mais indiferenciadas,<br />
sobretudo em turnos noturnos<br />
ou de fim de semana ou em funções<br />
mais exigentes de um ponto de vista<br />
físico que mais se têm sentido estes<br />
constrangimentos”, explica.<br />
“Nos últimos anos, o setor da logística<br />
tem evoluído de uma forma extraordinária<br />
e muito difícil de acompanhar”,<br />
nota o presidente da direção da APOL,<br />
mas mesmo com estas dificuldades,<br />
destaca o papel que os operadores<br />
logísticos têm tido para conseguirem<br />
responder às necessidades do mercado,<br />
tendo não só mantido os níveis<br />
de serviços, como nalguns casos até<br />
mesmo melhorado.<br />
Vítor Figueiredo diz que existem<br />
muitas razões para estarmos a viver<br />
esta crise de recursos humanos, desde<br />
logo porque a logística é um setor com<br />
uma forte exigência, quer em recursos<br />
técnicos, quer físicos, ou até mesmo<br />
de disponibilidade, e as crescentes necessidades<br />
das empresas, em termos<br />
de profissionais especializados, não<br />
estão a conseguir ser colmatadas pelas<br />
universidades, pelo ensino ou pelas<br />
formações profissionais.<br />
Tal como Hugo Gonçalves, também<br />
aponta o envelhecimento da população<br />
como uma razão para a falta de<br />
mão de obra especializada, bem como<br />
a concorrência de outros mercados,<br />
sobretudo no norte da Europa, tornando<br />
difícil a fixação de profissionais,<br />
especialmente de jovens.<br />
Promoção do setor<br />
A APOL tem trabalhado de forma a<br />
dinamizar ações que possam atenuar<br />
o problema da ausência de mão de<br />
obra, aproximando-se cada vez mais<br />
das instituições de ensino e assinando<br />
protocolos no sentido de promover a<br />
integração de recém-formados no setor<br />
e a ajudar as entidades de ensino a<br />
adaptar melhor a sua estrutura curricular<br />
às necessidades dos operadores<br />
logísticos.<br />
Para além de estarem mais próximos<br />
dos jovens, também têm promovido a<br />
discussão entre associados, de forma<br />
a debater as dificuldades de cada um,<br />
criando medidas dirigidas para reduzir<br />
o impacto das mesmas. Para o efeito,<br />
foi criado um grupo de trabalho dedicado<br />
ao tema no âmbito da APOL.<br />
Não menos importante tem sido a<br />
aposta da associação em dar a conhecer<br />
a realidade altamente dinâmica<br />
em que vivem os profissionais que<br />
trabalham no setor da logística em<br />
geral, e nos operadores logísticos em<br />
particular.<br />
“Felizmente, apesar de todos os<br />
constrangimentos, a resposta dos<br />
operadores logísticos aos desafios que<br />
lhes têm sido colocados tem sido excelente”,<br />
afirma.<br />
O presidente da APOL aponta que os<br />
operadores logísticos têm conseguido<br />
responder à escassez de mão de obra<br />
através da capacidade de sacrifício,<br />
digitalização, automação e robotização,<br />
bem como a constante formação<br />
interna. “Além disso, temos vindo a<br />
assistir a uma forte concentração por
Supply Chain Magazine 69<br />
parte dos operadores logísticos, que<br />
contribuem para criar sinergias e escala<br />
para afrontar problemas estruturais<br />
e estruturantes”, como este.<br />
A nível das condições para os seus<br />
recursos humanos, “há a referir que<br />
os operadores logísticos têm vindo a<br />
melhorar substancialmente as condições<br />
salariais médias praticadas como<br />
forma de poder atrair e fidelizar mais<br />
profissionais”.<br />
Expectativas futuras<br />
Vítor Figueiredo não considera que<br />
em <strong>2024</strong> o problema da falta de mão de<br />
obra seja ultrapassado, bem pelo contrário.<br />
“Acreditamos que a erosão das<br />
condições de vida da população portuguesa,<br />
associadas ao facto de que este é<br />
um problema global e não apenas local,<br />
farão com que a renovação geracional<br />
que tanto é ambicionada se venha a<br />
agravar. É por isso com apreensão que<br />
vemos o futuro no que diz respeito à<br />
incorporação de mais mão de obra no<br />
setor da logística”.<br />
Ao nível das novas skills, destaca que<br />
um profissional do setor logístico tem<br />
que ter forte dinâmica e agilidade para<br />
lidar com o imprevisto. “A resiliência é<br />
uma característica fundamental para<br />
quem trabalha neste setor”, sublinha,<br />
sendo necessário alguém que ao mesmo<br />
tempo também seja aberto à mudança.<br />
“Acreditamos que este setor vai intensificar<br />
ainda mais a tendência de incorporação<br />
de novas tecnologias nos seus<br />
processos”, e sejam elas a robotização,<br />
automação ou ferramentas de Inteligência<br />
Artificial, não tem dúvidas que as<br />
funções mais rotineiras serão desempenhadas<br />
por máquinas.<br />
“A inteligência emocional e a habilidade<br />
no contacto humano e na gestão<br />
de equipas são características cada vez<br />
mais valorizadas nos profissionais do<br />
setor, porque é aí que se vai continuar a<br />
fazer a diferença”, remata.<br />
INDÚSTRIA<br />
PPG Industries<br />
Marco Castanheira, iberia logistics<br />
manager da PPG Industries, aponta que<br />
a PPG também enfrenta desafios ao<br />
nível da atração e retenção de talentos<br />
em determinadas áreas, e encontram-se<br />
a trabalhar ativamente em estratégias<br />
para melhorar os esforços de recrutamento<br />
e aprimorar os programas de retenção,<br />
de modo a resolver esse problema.<br />
“A empresa está comprometida em<br />
criar um ambiente de trabalho positivo<br />
e oferecer benefícios competitivos para<br />
atrair e reter os melhores talentos do<br />
setor”, explica o responsável.<br />
A escassez de talentos qualificados<br />
impacta diretamente as operações<br />
da PPG, podendo levar a atrasos nas<br />
expedições, problemas de qualidade,<br />
impactar o nível de serviço ao cliente e<br />
até mesmo aumentar os custos. “Atrair<br />
e reter talentos é crucial para a inovação<br />
e a manutenção da competitividade no<br />
mercado”, explica Marco Castanheira,<br />
lembrando que só através de uma força<br />
de trabalho forte é que a PPG poderá<br />
adaptar-se às mudanças do mercado e<br />
aos avanços tecnológicos. Indiretamente,<br />
considera que também poderá afetar<br />
a moral dos colaboradores e a satisfação<br />
no trabalho dentro da empresa, criando<br />
uma sensação de instabilidade e incerteza<br />
nos colaboradores, o que poderá<br />
levar a um menor engagement e desempenho<br />
geral.<br />
Desafios da falta de talento<br />
Algumas das áreas que podem ser<br />
mais afetadas incluem os profissionais<br />
qualificados em I&D, fabricação e produção,<br />
vendas e marketing, supply chain
70<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
e logística, prejudicando as áreas de<br />
inovação e desenvolvimento, eficiência e<br />
qualidade, vendas e operações. “Os profissionais<br />
na Indústria são profissionais<br />
em ‘vias de extinção’”, considera Marco<br />
Castanheira.<br />
Relativamente aos motivos por detrás<br />
destas dificuldades de captação e<br />
retenção de talentos ao longo da cadeia<br />
de abastecimento, aponta aspetos<br />
como as competências para responder<br />
às novas tecnologias, o equilíbrio entre<br />
a vida profissional e pessoal, o trabalho<br />
remoto, a mobilidade, oportunidades de<br />
progressão de carreira, desenvolvimento<br />
de novas competências e formação,<br />
mudanças demográficas devido ao<br />
envelhecimento da mão de obra, e o aumento<br />
da concorrência por talentos de<br />
outros setores. “Enfrentar estes desafios<br />
exige à PPG a criação e implementação<br />
de estratégias para atrair e reter talentos”,<br />
explica o logistics manager.<br />
Atrair e reter talento<br />
A promoção de uma cultura de local<br />
de trabalho diversificada e inclusiva,<br />
valorizando as contribuições dos seus<br />
colaboradores, é também uma forma<br />
utilizada para envolver as pessoas,<br />
apostando também numa comunicação<br />
regular, com mecanismos de feedback,<br />
programas de reconhecimento<br />
e envolvimento dos funcionários nos<br />
processos de tomada de decisão. Também<br />
a nível interno, têm uma política<br />
de planeamento de sucessão e iniciativas<br />
de plano de carreira para ajudar os<br />
colaboradores a compreender possíveis<br />
oportunidades de progressão.<br />
Para a procura de novos talentos,<br />
a PPG também tem estratégias de<br />
recrutamento, como os programas de<br />
recrutamento em campus, feiras de<br />
emprego e parcerias com organizações<br />
do setor.<br />
Novas skills<br />
De modo a adaptar-se ao cenário atual<br />
de rápida evolução, a PPG procura colaboradores<br />
com um conjunto mais diversificado<br />
de habilidades e qualidades que<br />
possam ajudar a inovar, adaptarem-se às<br />
mudanças e acrescentar valor à organização.<br />
“Algumas das novas qualidades e capacidades<br />
que procuramos são a adaptabilidade<br />
e a flexibilidade, a capacidade de<br />
dinamizar, aprender novas competências<br />
e adaptar-se às novas realidades é essencial<br />
no ambiente de trabalho dinâmico de<br />
hoje”, avança Marco Castanheira. “Características<br />
igualmente importantes são a criatividade<br />
e a inovação porque procuramos<br />
pessoas que possam pensar criativamente,<br />
gerar novas ideias e impulsionar a inovação<br />
em produtos, serviços e processos”<br />
A literacia digital e as competências<br />
tecnológicas são outras das skills que a<br />
empresa procura nos seus colaboradores,<br />
pois “num mundo cada vez mais digital,<br />
quem tem uma forte literacia digital e<br />
proficiência em tecnologias emergentes,<br />
como inteligência artificial, análise de dados<br />
e automação, que são os atuais game<br />
changers”.<br />
Ao nível das equipas, considera que a<br />
capacidade de trabalhar em equipa é um<br />
elemento base para um colaborador da<br />
PPG, e considera que “quem consegue<br />
trabalhar de forma eficaz com outras pessoas<br />
e construir relacionamentos sólidos<br />
são diferenciadores nos seus resultados”.<br />
Também destaca a “característica da<br />
moda”, a inteligência emocional, como<br />
forma de compreender e gerir emoções,<br />
bem como capacidades de comunicar de<br />
forma eficaz, construir relacionamentos<br />
interpessoais fortes, como formas de melhorar<br />
o trabalho em equipa e a eficácia da<br />
liderança, e ainda “talvez a qualidade mais<br />
rara nas novas gerações, o pensamento<br />
crítico. Os colaboradores que pensam criticamente<br />
e tomam decisões baseadas em<br />
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K
+12<br />
+12.000m2<br />
TRANSPORTE<br />
TERRESTRE<br />
TRANSPORTE<br />
AÉREO<br />
TRANSPORTE<br />
MARÍTIMO<br />
SERVIÇOS<br />
ADUANEIROS<br />
LOGÍSTICA<br />
www
72<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
dados são os mais raros nos nossos locais<br />
de trabalho”.<br />
Épocas altas e parcerias<br />
Durante os períodos de maior necessidade<br />
de recursos humanos, a PPG utiliza<br />
agências de recrutamento para agilizar<br />
o processo de contratação e preencher<br />
rapidamente funções temporárias ou permanentes.<br />
“Temos uma pool de pessoas<br />
identificadas para trabalho temporário<br />
durante a nossa época alta (mercado<br />
bastante sazonal)”, aponta Marco Castanheira,<br />
explicando que após a pandemia<br />
começaram a ter várias dificuldades neste<br />
tipo de contratação, e que “sendo Portugal<br />
um país de turismo, não é de todo ‘sexy’<br />
trabalhar na indústria durante o verão”.<br />
Como forma de contornar esta questão,<br />
“as parcerias podem ser uma forma valiosa<br />
para a PPG superar a escassez de recursos<br />
humanos. Por exemplo, ao colaborar com<br />
instituições de ensino, a PPG tem acesso<br />
a talentos, recursos e conhecimentos para<br />
ajudar a enfrentar a escassez de pessoal”,<br />
defende Marco Castanheira, referindo que<br />
no Grupo PPG já existem diversos projetos<br />
de parcerias, das quais destaca as que<br />
fazem junto de escolas secundárias, onde<br />
os estudantes trabalham nos armazéns<br />
e fábricas da PPG, sendo um exemplo de<br />
um projeto de sucesso na Dinamarca há<br />
vários anos.<br />
Analisando todo o impacto na cadeia de<br />
abastecimento, Marco Castanheira considera<br />
que “abordar a escassez de talentos<br />
é fundamental para que a PPG mantenha<br />
a excelência operacional, impulsione a<br />
inovação e tenha um crescimento sustentável.<br />
A capacidade da PPG atrair e reter<br />
os melhores talentos será a chave para o<br />
sucesso”.<br />
EQUIPAMENTOS<br />
Jungheinrich<br />
A Jungheinrich Portugal nomeou recentemente<br />
Margarida Filipe para o cargo de<br />
HR Manager, cargo que, até à data, não<br />
existia. A necessidade de destacar uma<br />
pessoa para assumir estas responsabilidades<br />
deveu-se ao grande crescimento<br />
recente do volume de negócios da empresa,<br />
aliado ao desenvolvimento das suas<br />
equipas, pois precisavam de alguém focado<br />
em responder às expectativas dos seus<br />
colaboradores, e que também cuidasse<br />
deles.<br />
“Desde o início que percebi que o desafio<br />
era grande, e a oportunidade de aprendizagem<br />
e crescimento era ainda maior. A<br />
decisão foi fácil visto que é uma empresa<br />
que coloca as pessoas em primeiro lugar,<br />
focada no desenvolvimento de cada um,<br />
tendo assim todos os ingredientes para<br />
um projeto de sucesso”, destaca Margarida<br />
Filipe.<br />
Ao nível da gestão de pessoas, a nova<br />
responsável de recursos humanos conta<br />
que encontrou “uma empresa onde as<br />
pessoas são consideradas essenciais e<br />
prioritárias”, existindo uma grande preocupação<br />
com o bem-estar, a felicidade e o<br />
desenvolvimento das pessoas.<br />
Bem-estar dos colaboradores<br />
De modo a fomentar a satisfação, felicidade<br />
e bem-estar, bem como a responsabilidade<br />
social, foi criado o Comité da<br />
Felicidade e da Responsabilidade Social,<br />
composto por colaboradores da empresa,<br />
cuja missão é proporcionar momentos,<br />
iniciativas e projetos que visem atender ao<br />
propósito de cada comité. Contam ainda<br />
com o programa Well-being, e um programa<br />
de benefícios, que tentam a cada<br />
ano tornar mais atrativo (Kit Nascimento,<br />
Kit Casamento, parcerias com empresas,<br />
seguros, prémios de antiguidade, etc.).<br />
Esta preocupação com a satisfação e<br />
com o bem-estar do colaborador é uma<br />
forma de manterem os seus recursos humanos<br />
dentro da empresa, e investem em
Supply Chain Magazine 73<br />
diversas formas de proporcionar conforto e<br />
estabilidade aos seus colaboradores, sendo<br />
inclusive certificada pela Great Place to<br />
Work desde 2022 na categoria Empresas.<br />
“Os nossos colaboradores consideram que<br />
são tratados de forma justa e que lhes são<br />
atribuídos todos os recursos necessários<br />
para o desempenho da sua função”, explica<br />
Margarida Filipe.<br />
Uma nova responsabilidade<br />
“Não existindo esta posição até à minha<br />
entrada, as expectativas eram/são muitas,<br />
e muitos eram/são os projetos e ambições<br />
que temos”, explica Margarida Filipe, “tem<br />
sido um desafio e aprendizagem contínuos.<br />
Há muitos projetos para realizar e<br />
muitas políticas para construir”.<br />
A RH Manager tem como prioridade,<br />
nesta fase, a consolidação de uma cultura<br />
de proximidade, proporcionando um<br />
ambiente organizacional que permita a<br />
retenção e atração de talento. Ao mesmo<br />
tempo, também procura implementar<br />
políticas de Recursos Humanos fortes, que<br />
os ajudem a alcançar os seus objetivos. “A<br />
Jungheinrich Portugal, à semelhança do<br />
Grupo Jungheinrich AG, sempre apostou<br />
na implementação de iniciativas que promovem<br />
a formação e valorização dos nossos<br />
colaboradores”, realça a responsável.<br />
Ao nível da formação, contam com um<br />
programa bastante completo e consistente,<br />
nomeadamente ao nível do Serviço<br />
Pós-Venda, apostando fortemente em<br />
ações de formação, tanto em Portugal<br />
como em Espanha ou na Alemanha, afirmando<br />
que nesta área “há necessidade de<br />
haver uma constante atualização, sendo<br />
formações que preparamos para que ocorram<br />
anualmente”.<br />
Atualmente, a equipa da Jungheinrich é<br />
composta por 106 pessoas, divididos entre<br />
a sede de Mem Martins (Lisboa) e a delegação<br />
na zona industrial da Maia (Porto),<br />
e ainda um Técnico de Manutenção na<br />
região do Algarve, mas têm a ambição de<br />
que este número continue a crescer. “Pretendemos<br />
ter um papel ativo na promoção<br />
de uma cultura de proximidade com<br />
as pessoas, onde a nossa prioridade é a<br />
capacitação, potenciando sempre as competências<br />
individuais de cada um”, afirma.<br />
Desafio acrescido<br />
Crescer implica um desafio acrescido<br />
a que sente que as empresas não estão<br />
acostumadas, e exige uma necessidade<br />
constante de se reinventarem todos os<br />
dias e serem atrativos, tanto interna como<br />
externamente. “Estamos a viver uma fase<br />
em que o mercado de trabalho é extremamente<br />
volátil, onde são as pessoas que<br />
escolhem as empresas, e não o contrário<br />
como temos sido habituados”, considera<br />
Margarida Filipe, “neste momento o<br />
desafio é igual tanto para atrair como para<br />
reter”.<br />
Por serem uma multinacional, o crescimento<br />
e o desenvolvimento de competências<br />
pode ser feito também noutros países,<br />
um aspeto que revela ser cada vez mais<br />
procurado pelos jovens, o que também<br />
“nos traz uma responsabilidade acrescida,<br />
porque desafia-nos a sermos atrativos<br />
internacionalmente”.<br />
Olhando para o futuro da força de trabalho<br />
nesta área, considera que “vivemos<br />
num contexto dinâmico”, e que a intralogística<br />
“é uma área que tem passado, nos<br />
últimos anos, por inúmeras mudanças e<br />
desenvolvimento a uma velocidade incrível”.<br />
Destaca que, estando numa era de<br />
transformação e automatização de processos,<br />
serviços e de equipamentos, será uma<br />
área afetada pela adoção dos robôs e da<br />
Inteligência Artificial.<br />
Face a esta fase de digitalização, a RH<br />
Manager considera que “na gestão de pessoas,<br />
este novo paradigma é extremamente<br />
desafiante. Teremos de saber integrar<br />
e preparar as pessoas diariamente para
74<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
estas mudanças, bem como nos obriga<br />
a reinventar-nos para nos adaptar-nos às<br />
novas exigências”.<br />
Apesar dos desafios, Margarida Filipe<br />
comenta que “sabia que iria encontrar<br />
uma empresa organizada e muito bem<br />
estruturada, mas tem sido uma ótima<br />
surpresa perceber que para além disso,<br />
é uma empresa que tem vindo a proporcionar<br />
aos seus colaboradores inúmeras<br />
iniciativas com a finalidade de promover o<br />
seu bem-estar e satisfação”.<br />
ESTUDANTE<br />
Escola Superior Náutica Infante<br />
D. Henrique (ENIDH)<br />
Duarte Amaral é aluno finalista na<br />
Licenciatura em Gestão de Transportes e<br />
Logística na Escola Superior Náutica Infante<br />
D. Henrique (ENIDH). O seu primeiro<br />
contacto com a logística foi através da<br />
escola secundária, durante uma exposição<br />
sobre licenciaturas. “Foi uma área que me<br />
cativou principalmente pela sua importância<br />
global. Apesar de muitas pessoas não<br />
terem essa noção, o mundo onde vivemos<br />
está dependente da logística, desde a comida<br />
que está nas nossas casas, aos carros<br />
que conduzimos, a logística tem um papel<br />
fulcral nas nossas vidas”, afirma.<br />
Apesar de ainda se encontrar a estudar,<br />
Duarte Amaral já teve dois contactos<br />
com o mundo da logística, através de um<br />
estágio de verão na Marship Corretagem<br />
Marítima, e um segundo estágio que se<br />
encontra atualmente a fazer na Liscont-Yilport<br />
Iberia.<br />
“Depois de ter contacto com a área, penso<br />
que a minha motivação cresceu, vejo a<br />
logística de uma forma muito mais ampla<br />
e ‘real’”, considera Duarte Amaral.<br />
Destaca que os estágios o enriqueceram,<br />
tanto enquanto aluno, como enquanto<br />
futuro profissional, permitindo-lhe fazer<br />
a ligação entre a teoria da sala de aula e<br />
a prática desenvolvida “no mundo real”,<br />
o que tornou a sua aprendizagem “mais<br />
interessante e apelativa”.<br />
Várias áreas por explorar<br />
Atualmente, Duarte Amaral está mais<br />
ligado ao setor marítimo-portuário, pelo<br />
qual revela sempre ter tido “uma atração<br />
inegável”, porém, ainda procura abranger<br />
mais os seus conhecimentos antes de<br />
decidir qual a área da logística que mais o<br />
fascina, visto cada uma ter as suas especificidades.<br />
“Quanto mais contacto tenho<br />
com o setor, mais possibilidades surgem,<br />
e penso que gostaria de experimentar um<br />
bocado de tudo antes de me especializar”,<br />
afirma. “Neste momento, o meu objetivo<br />
é ver o mercado de várias perspetivas, ver<br />
várias formas de pensar e de trabalhar,<br />
e expandir ao máximo o meu leque de<br />
conhecimentos. Acredito que no futuro vai<br />
ser uma mais-valia, tanto a nível profissional,<br />
como a nível de realização pessoal”.<br />
Olhando para o mercado, considera existirem<br />
algumas tendências claras ao nível<br />
tecnológico na área, um foco na sustentabilidade<br />
e um aumento da complexidade<br />
das cadeias de abastecimento, devido às<br />
disrupções e às instabilidades políticas que<br />
se têm vindo a sentir no mundo, e que a<br />
procura por profissionais irá estar alinhada<br />
com o futuro do setor. “Tenho a expectativa<br />
de um mercado cada vez mais global e<br />
dinâmico, em que uma empresa que não<br />
consegue acompanhar as principais tendências,<br />
não consegue ser competitiva”.<br />
A nível tecnológico, sente que “hoje<br />
vemos tecnologias mais avançadas com<br />
cada vez mais especificidades, o que faz<br />
com que seja cada vez mais valorizado um<br />
conhecimento transversal dos profissionais”.<br />
Durante o estágio na Liscont, acompanhou<br />
a implementação de um sistema<br />
AGS (Automated Gated System), e viu o<br />
papel “quase vital” dos profissionais com<br />
conhecimentos tanto a nível de operações
Supply Chain Magazine 75<br />
e logística, como a nível de tecnologias<br />
e programação. “Penso que estes profissionais<br />
vão ser cada vez mais procurados<br />
e valorizados dentro das empresas, arriscando<br />
a dizer que uma empresa que não<br />
invista neste tipo de profissionais, não vai<br />
conseguir ser competitiva nesta nova era<br />
de digitalização”.<br />
Desafios<br />
Relativamente aos desafios, nota que<br />
para além das tendências transversais a<br />
outros setores, como a integração tecnológica<br />
e a sustentabilidade, a logística também<br />
enfrenta problemas com a disrupção<br />
das cadeias de abastecimento, a instabilidade<br />
política ou o possível recuo na globalização<br />
das cadeias, tornando-se num setor<br />
cada vez mais complexo, “onde ninguém<br />
tem a resposta certa para o futuro”.<br />
Ao nível das tendências, sente-se mais<br />
curioso em acompanhar a implementação<br />
de inteligência artificial e da blockchain<br />
na logística. “São duas tendências<br />
que têm o potencial de mudar completamente<br />
a direção e a forma como vemos a<br />
logística”, defende, mas “em contrapartida,<br />
estas tecnologias trazem um alto grau de<br />
complexidade, principalmente na fase de<br />
implementação”, tendo as empresas uma<br />
maior responsabilidade para identificar<br />
quais os processos e áreas que vão realmente<br />
beneficiar da implementação de<br />
tecnologias altamente complexas, e que<br />
requerem um investimento superior.<br />
Apesar disso, Duarte Amaral sente-se<br />
motivado para embarcar nesta viagem, e<br />
afirma que “fazer parte do mundo que é<br />
a logística dá-me um sentido de responsabilidade,<br />
uma responsabilidade com a<br />
qual eu gosto de viver”. Embora seja um<br />
mundo complexo e volátil, o estudante<br />
encara as dificuldades com otimismo: “é<br />
isso que a torna numa área tão interessante.<br />
Avançar para um futuro incerto não é<br />
fácil, mas por isso sei que os profissionais<br />
com novas formas de pensar vão ter cada<br />
vez mais espaço”.<br />
Atração e retenção de talentos<br />
Nesse mesmo sentido, espera que as<br />
empresas apostem cada vez mais nos jovens,<br />
que tragam novas formas de pensar,<br />
e novas formas de interpretar a logística,<br />
pois “o mundo está cada vez mais moderno<br />
e mais global, as empresas precisam<br />
de inovar e arriscar se quiserem continuar<br />
competitivas”. Já vê muitas dinâmicas de<br />
atração de talentos através de programas<br />
de “trainees”, que considera serem “uma<br />
maneira muito atrativa para estes darem<br />
os primeiros passos no mundo da logística”,<br />
e sente que é importante para o setor<br />
e para as empresas criar carreiras claras e<br />
bem definidas, “para que os jovens profissionais<br />
não se sintam perdidos, e tenham<br />
um objetivo para o qual consigam trabalhar”.<br />
Ao nível da atração, diz que as características<br />
mais valorizadas pelas empresas<br />
atualmente são a iniciativa e os conhecimentos<br />
transversais, e considera importante<br />
que todos os futuros profissionais<br />
da área, tal como ele próprio, procurem<br />
expandir os seus conhecimentos, conhecer<br />
várias formas de trabalhar, e explorar<br />
diversos setores, pois “numa área tão grande<br />
como a logística, seria um desperdício<br />
não a explorar ao máximo”.<br />
Para as empresas, deixa a recomendação<br />
de que estas invistam em ações<br />
junto dos estudantes, nas universidades,<br />
desde visitas de estudo, a seminários com<br />
profissionais do setor, pois “as empresas ao<br />
contribuírem para a formação dos alunos<br />
de hoje, terão profissionais mais qualificados<br />
amanhã”.<br />
“Penso que o setor da logística enfrenta<br />
desafios nunca vistos, e por isso vai ser<br />
algo que estou muito curioso em poder<br />
acompanhar de perto”, conclui Duarte<br />
Amaral.
76<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
DIÁRIO DE BORDO<br />
A IMPORTÂNCIA<br />
DA INTEGRAÇÃO<br />
ESTRATÉGICA<br />
DOS SISTEMAS<br />
DE INFORMAÇÃO<br />
NA CADEIA DE<br />
ABASTECIMENTO<br />
Marisa Santos,<br />
business & project manager, Anturio<br />
Business Software<br />
Nos últimos anos, o mundo tem sido confrontado com alguns desafios<br />
imprevistos, cujo impacto nas operações do dia-a-dia das empresas não<br />
é negligenciável. Os ERP são fundamentais numa organização, mesmo<br />
num país como Portugal, no qual o tecido empresarial é composto, maioritariamente,<br />
por PME. Mas até que ponto estamos a extrair deles tudo<br />
o que podemos para conseguirmos responder aos desafios que surgem<br />
diariamente?<br />
No que diz respeito à gestão da cadeia<br />
de abastecimento, um sistema<br />
que é particularmente importante<br />
é o sistema de gestão de armazéns, usualmente<br />
designado por WMS (do inglês<br />
Warehouse Management System). Os<br />
WMS trabalham em conjunto com outros<br />
módulos do sistema ERP, e permitem a<br />
rastreabilidade dos produtos e a organização<br />
das rotas dos operadores logísticos<br />
dentro do próprio armazém, entre outras<br />
vantagens.<br />
Ao longo dos anos foram evoluindo e<br />
passaram a integrar o processamento<br />
de códigos de barras e RFID. À medida<br />
que a tecnologia ficou mais barata, as<br />
empresas mais pequenas começaram<br />
também a ter acesso mais facilitado. Com<br />
um WMS, pode categorizar-se o inventário<br />
de acordo com a importância de cada
Supply Chain Magazine 77<br />
produto, percebendo-se assim quais terão<br />
um impacto significativo no custo geral<br />
do inventário, para além de se conhecer<br />
os custos de entrada e saída de mercadoria,<br />
armazenamento e envio. Assim, os<br />
gestores ficam munidos de informação<br />
preciosa, sabendo com precisão as quantidades<br />
reais de recursos consumidos por<br />
cada atividade, facilitando uma alocação<br />
bem informada dos recursos humanos e<br />
financeiros.<br />
Finalmente, e apenas a título de exemplo,<br />
um WMS também permite avaliar o<br />
desempenho dos fornecedores e clientes<br />
em termos de esforço financeiro, o que<br />
auxilia a tomada de decisão estratégica<br />
quanto às parcerias comerciais. Consegue-se,<br />
assim, otimizar a gestão do<br />
armazém de forma a encontrar um equilíbrio<br />
entre a eficiência e a necessidade<br />
efetiva.<br />
Existem desafios técnicos e humanos na<br />
implementação de um WMS. A integração<br />
com outros sistemas existentes é<br />
complexa, pois à partida existirão muitos<br />
outros sistemas em funcionamento. A<br />
migração dos dados para o novo sistema<br />
é sempre também uma tarefa enorme e<br />
difícil. Por outro lado, o novo WMS deverá<br />
suportar desenvolvimentos futuros. E<br />
também ser flexível para se adaptar a<br />
mudanças repentinas no mundo.<br />
Desenvolvimentos recentes nos WMS,<br />
em particular no que diz respeito à cloud<br />
e à Inteligência Artificial (IA), evidenciam<br />
passos significativos na eficiência e inteligência<br />
das operações de armazém, dos<br />
quais se podem destacar a integração de<br />
IoT (Internet of Things) e de IA analítica,<br />
que estão a revolucionar as operações.<br />
Existem dispositivos IoT espalhados pelos<br />
armazéns, como sensores e veículos com<br />
capacidade de condução autónoma, que<br />
captam enormes quantidades de dados,<br />
e que são depois alavancados pela IA<br />
para identificar fontes de ineficiência,<br />
prevendo padrões de procura e otimizando<br />
as operações. A IA está a ser usada<br />
para melhorar as previsões analíticas nos<br />
armazéns. Falamos de sistemas capazes<br />
de analisar dados históricos e tendências<br />
atuais para prever com exatidão a procura<br />
de inventário. Esta mudança ajuda a<br />
manter níveis de inventário otimizados,<br />
reduzindo custos e aumentando a eficiência<br />
operacional.<br />
A globalização e os desafios económicos<br />
têm vindo a mostrar que, de um modo<br />
geral, a rastreabilidade das operações<br />
através dos sistemas de informação é<br />
uma necessidade iminente para quem<br />
procura o crescimento do negócio e para<br />
quem se quer posicionar no mercado de<br />
forma diferenciada dos seus concorrentes.<br />
A implementação de WMS traz desafios<br />
às organizações, como a administração<br />
aos operadores, sendo que todos deverão<br />
estar envolvidos no processo desde cedo<br />
para garantir o sucesso do mesmo. A IA<br />
desempenha um papel cada vez mais<br />
relevante na cadeia de abastecimento<br />
moderna. A implementação de sistemas<br />
WMS e ERP de forma integrada é<br />
fundamental para aprimorar a eficiência<br />
operacional e são os melhores aliados<br />
para enfrentar os desafios do mercado<br />
global e posicionar as empresas de forma<br />
competitiva.
78<br />
<strong>Março</strong> <strong>2024</strong><br />
PONTO DE VISTA<br />
PAULO JORGE, MANAGING PARTNER DA EASYTALENT – INTERIM SOLUTIONS<br />
E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO INTERIM MANAGEMENT PORTUGAL (AIM)<br />
UMA SOLUÇÃO DE GESTÃO<br />
CHAMADA “INTERIM MANAGEMENT”<br />
O Interim Management nasceu na Holanda e nos Estados Unidos nos<br />
anos 1970 e estendeu-se às economias mais desenvolvidas, onde existe<br />
de forma consolidada como um mercado organizado e estruturado, com<br />
uma Procura e uma Oferta.<br />
Traduz-se na possibilidade de as empresas,<br />
independentemente da sua<br />
dimensão, setor de atividade e ciclo<br />
de vida, poderem recorrer aos serviços de<br />
um especialista, para executar um projeto<br />
específico ou superar um determinado<br />
desafio, em qualquer ponto da respetiva<br />
cadeia de valor, quando e apenas durante<br />
o tempo estritamente necessário, de uma<br />
forma ágil e flexível, sem os condicionalismos<br />
da contratação tradicional.<br />
Não estando suportada num contrato de<br />
trabalho, mas sim de prestação de serviços,<br />
esta solução de gestão é extremamente<br />
flexível e tailor-made, evitando-se<br />
alocações improdutivas, desperdícios ou<br />
responsabilidades adicionais. O “Interim<br />
Management”, ou “Consultoria de Implementação”,<br />
permite que as empresas e<br />
PME possam ter acesso a profissionais<br />
muito experientes e qualificados na sua<br />
área de expertise, a que não teriam acesso<br />
de outra forma. A primeira missão de<br />
“Interim Management” em Portugal ocorreu<br />
no âmbito da EXPO’98 e tem vindo<br />
a conhecer uma crescente notoriedade<br />
que entrou numa nova fase a partir da<br />
fundação da AIM – Associação de Interim<br />
Management.<br />
O Interim Management constitui assim<br />
uma modalidade de MaaS (Management<br />
as a Service) à disposição de todas as<br />
empresas e negócios. Na atual conjuntura,<br />
em que uma parte significativa dos nossos<br />
jovens mais promissores está fora do país,<br />
ou a trabalhar para empresas estrangeiras,<br />
e em que os nossos empresários e<br />
gestores se lamentam da falta de profissionais<br />
qualificados para levarem a cabo<br />
os seus projetos, o recurso a esta pool de<br />
talento sénior qualificado perfila-se como<br />
uma alternativa extremamente válida e<br />
competitiva para a mitigação e resolução,<br />
com sucesso, dos múltiplos pain-points<br />
identificados: Rentabilidade, Produtividade,<br />
Internacionalização, Sustentabilidade,<br />
Aumento de Escala, ou objetivos aspiracionais<br />
como Mudança, Transformação e<br />
Crescimento.<br />
Chegar, ver e executar, com um olhar<br />
independente e descomprometido com<br />
a realidade percecionada e existente no<br />
shop floor e com um foco exclusivo no<br />
atingimento dos objetivos acordados, é<br />
a imagem de marca dos “Interim Managers”.<br />
Indexação de parte da retribuição à<br />
performance é também um traço distintivo<br />
do Interim Management.
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nos próximos dias 17 e 18 de Abril