You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Entre as relíquias da Paixão<br />
que membros do nosso Movimento<br />
puderam venerar<br />
durante uma peregrinação que fizeram,<br />
duas me impressionaram sobremaneira.<br />
Flávio Lourenço<br />
Dois símbolos da<br />
divina e voluntária<br />
impotência de Deus<br />
Para guardar uma delas, se eu pudesse,<br />
mandaria construir a maior<br />
catedral da face da Terra. Trata-se da<br />
corda, entre todas sacrossanta, que<br />
ligou as divinas mãos de Nosso Senhor<br />
Jesus Cristo.<br />
Eu a imagino uma corda forte,<br />
bruta, de qualidade ordinária; que<br />
tão longamente e tão de perto apertou<br />
o pulso sagrado, que ela mesma<br />
ficou meio desgastada e ainda deve<br />
estar empapada daquele Sangue já<br />
coagulado que nos fechou o Inferno e nos abriu as<br />
portas do Céu. Sangue do qual nasceram a Santa<br />
Igreja e a Civilização Cristã.<br />
A outra relíquia é um fragmento da cana<br />
ou vara que, como um cetro de irrisão,<br />
Nosso Senhor Jesus Cristo carregou nas<br />
mãos.<br />
Ambas as relíquias são símbolos da<br />
impotência do Onipotente. Elas marcam<br />
essas horas sinistras da História<br />
em que Deus dá a impressão de que<br />
Se deixou amarrar e não pode fazer<br />
nada, nas quais devemos compreender<br />
a divina e voluntária impotência<br />
d’Ele.<br />
Ele, Senhor de todos os Exércitos<br />
Angélicos, que venceram tão garbosamente<br />
Satanás e que o tem<br />
acorrentado no Inferno; Ele,<br />
por cujo poder infinito os astros<br />
gravitam e os Anjos sustentam<br />
a ordem do universo;<br />
os animais nascem e se reproduzem,<br />
se alimentam e vão enchendo<br />
a Terra, e as plantas<br />
prosperam e vicejam.<br />
Ele, por cuja força voam os<br />
passarinhos e as borboletas,<br />
e com cuja força investem os<br />
J. P. Braido<br />
leões. Ele, manietado, tendo na sua mão a vara<br />
da imbecilidade, sendo tratado como um bobo,<br />
como um cretino, um impostor que Se diz<br />
dono do reino que não existe e que, a existir,<br />
não é seu. Esta vara de irrisão é apenas uma<br />
provocação, porque Ele será objeto de sacrilégios<br />
ainda muito mais terríveis. Ele carrega,<br />
com a majestade de sua dor, com a majestade<br />
de sua impotência, a vara do bobo.<br />
Ele, a Sabedoria Encarnada, o Filho<br />
de Maria!<br />
O que daria eu para poder oscular essa<br />
corda e essa vara! E eu rezaria antes aquela<br />
oração lindíssima que o sacerdote reza<br />
durante a Missa, antes de ler o Evangelho:<br />
“Deus, que ao Profeta Isaías purificastes<br />
os lábios com uma brasa ardente, purificai<br />
também os meus lábios para que, com dignidade<br />
e competência, eu anuncie o vosso<br />
santo Evangelho.” 1 Eu adaptaria: “para<br />
que, não com muita indignidade, eu<br />
oscule a vossa corda sagrada.”<br />
Presságio da situação<br />
atual da Igreja<br />
Tal é a visão esplêndida, magnífica de<br />
um Deus manietado, a respeito de Quem,<br />
tantos séculos depois, Bossuet cantaria<br />
33