Revista Dr Plinio 312

Março de 2024 Março de 2024

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Hagiografia SimonP(CC3.0) gem Maria. E pela Virgem Mãe terminar em Cristo, Filho Bendito de Deus. Em outros termos, a Providência julgou necessário, para a grandeza de Nossa Senhora, que Ela nascesse e procedesse de um sangue nobre; de tal maneira a nobreza é capaz de ser adorno, até para Aquela que é adorno de todas as coisas, Maria Santíssima. Consanguinidade de São José com Nosso Senhor Sobre a nobreza natural de São José São José nasceu de raça patriarcal, régia e principesca, em linha reta. Pois São Mateus leva em linha reta todos esses pais, de Abraão até o esposo da Virgem, demonstrando claramente que nele se terminou toda a dignidade patriarcal, régia e principesca. E se São Mateus, em vez da genealogia de Maria, deu a de São José, fê-lo por três razões. Realmente, São José não era o pai natural de Nosso Senhor Jesus Cristo. Então, por que é que se deu a genealogia dele? Vem a explicação: Primeiro, para se conformar ao uso dos hebreus da Sagrada Escritura, que jamais estabelece genealogia pelas mulheres, ou pelas mães, mas sempre pelos homens e pais, porque a varonia prepondera. Em seguida, principalmente, por causa do parentesco. Maria e José pertenciam à mesma tribo, eram parentes. Além disso, segundo a lei, as mulheres e, principalmente, as herdeiras, como foi a Virgem, só deviam se casar com homens da sua tribo, e até do próprio parentesco, no grau permitido. Nossa Senhora era herdeira, não tinha homens A árvore de Jessé - Biblioteca Nacional da França na sua irmandade; Ela herdava a nobreza que Lhe vinha por meio de São Joaquim, e deveria casar-Se com um homem da mesma tribo e, de preferência, dos mesmos parentes; isso para que a nobreza herdada caísse o mais próximo possível dentro daquela mesma linhagem. Portanto, sendo São José um justo, como afirma São Mateus, se Maria não fosse de sua tribo, ele jamais A teria desposado. Enfim, recensearam-se ao mesmo tempo em Belém, como descendentes da mesma estirpe. Em terceiro lugar, dá-se a genealogia de José e não de Maria, para mostrar a excelência do matrimônio de Maria e José, durante o qual nasceu Cristo e no qual era tão estreita a união que, por sua causa, José foi chamado, de certo modo e verdadeiramente, o pai de Jesus Cristo. Convinha que São José, sendo pai apenas adotivo de Nosso Senhor, fosse parente num grau muito próximo d’Ele, para que, de algum modo, a consanguinidade conferisse mais calor vital, ontológico àquele parentesco adotivo. Da nobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo, de certo modo herdada de seus pais Cristo foi, portanto, como decorre do que foi dito, Patriarca, Rei e Príncipe, por parte de Mãe e de pai. […] Os Evangelistas descreveram a nobreza da Virgem e de José, para manifestar a nobreza de Cristo. José foi, portanto, de tanta nobreza que, de certo modo, se é permitido exprimir-se assim, deu a nobreza temporal a Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo. É o sumo em matéria de nobiliarquia! Dar sua própria nobreza a Deus, ser tão nobre que Deus quer revestir- -Se daquela carne nobre para Se fazer Homem! É uma maravilha. Vejam como um santo sabe tratar com superioridade um tema e tirar dele luzes, que pregações opacas e não santas, durante séculos de pregação, não saberiam tirar. Esse é o esplendor da santidade. 28

Esposo virgem, à estatura da Virgem-Mãe Quão santa foi a vida de São José com a Santíssima Virgem e que perfeição ele alcançou Se na Paixão Cristo confiou sua Mãe somente a um discípulo virgem, não se deve supor que antes da conceição, enquanto jovem, Ele A tenha confiado aos cuidados de um homem virgem? Por isso diz São Jerônimo, que José foi virgem para que de Maria nascesse, de uma união virgem, um Filho virginal. Depois de mencionar a nobreza de São José, São Bernardino destaca a virtude mais conveniente ao nobre: a pureza; e cuja carência, isto é, a impureza, conspurca as duas coisas mais sublimes que há na Terra: em primeiro lugar, o sacerdócio e, em segundo lugar, a nobreza. Um nobre, ao ser impuro, cai no pecado que mais radicalmente destrói a sua condição. São José teve de modo supereminente a nobreza e a pureza; a nobreza, devido às razões explicadas; a pureza, pela razão aqui indicada. Ou seja, quando Nosso Senhor Jesus Cristo morreu, quis que sua Mãe Virgem fosse entregue a um Apóstolo virgem. E não teria querido que Ela fosse entregue e estivesse sob a guarda de um esposo virgem? Para alguém ser esposo da Virgem das virgens poderia não ser virgem? É uma coisa inconcebível. Aqui fica minha lamentação: é uma pena que não haja entre nós um artista que saiba fazer uma imagem de São José de acordo com estas concepções de São Bernardino de Sena. Homem de trajes simples, porque era pobre, mas brilhando, através da simplicidade dos trajes, a dignidade, a categoria, a largueza de visão, a segurança de si, de um homem que é patriarca, rei e príncipe. E, ao mesmo tempo, o fulgor da virgindade iluminando-o todo. Este seria um São José real, segundo o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria, tão diferente de toda espécie de imagens que conheço: eu ainda estou para conhecer alguma que corresponda à figura que dele faz a piedade do verdadeiro católico e que dele faz essa estupenda descrição de São Bernardino de Sena. Essa é a grandeza do Santo Patriarca! E assim devemos ver nele um intercessor junto a Nossa Senhora, mas um grandíssimo intercessor entre os intercessores secundários, porque é secundário apenas no que diz respeito a Ela e não aos outros mediadores, em relação aos quais ele ocupa um lugar eminente e talvez o maior de todos. v (Extraído de conferências de 8/10/1966 e 23/12/1968) 1) Ficha retirada da obra: SÃO BER- NARDINO DE SENA. Sermo II. In vigilia Nativitatis Domini. De Sancto Ioseph sponso Beatæ Virginis. In: Opera Omnia. Florentiæ: Ad Claras Acquas, 1959, v. VII, p.16-21 Gabriel K. / Flávio Aliança 29

Esposo virgem, à estatura<br />

da Virgem-Mãe<br />

Quão santa foi a vida de São José<br />

com a Santíssima Virgem e que perfeição<br />

ele alcançou<br />

Se na Paixão Cristo confiou sua Mãe<br />

somente a um discípulo virgem, não se<br />

deve supor que antes da conceição, enquanto<br />

jovem, Ele A tenha confiado aos<br />

cuidados de um homem virgem? Por isso<br />

diz São Jerônimo, que José foi virgem<br />

para que de Maria nascesse, de uma<br />

união virgem, um Filho virginal.<br />

Depois de mencionar a nobreza de<br />

São José, São Bernardino destaca a<br />

virtude mais conveniente ao nobre: a<br />

pureza; e cuja carência, isto é, a impureza,<br />

conspurca as duas coisas mais<br />

sublimes que há na Terra: em primeiro<br />

lugar, o sacerdócio e, em segundo<br />

lugar, a nobreza. Um nobre, ao ser<br />

impuro, cai no pecado que mais radicalmente<br />

destrói a sua condição.<br />

São José teve de modo supereminente<br />

a nobreza e a pureza; a nobreza,<br />

devido às razões explicadas; a pureza,<br />

pela razão aqui indicada. Ou seja,<br />

quando Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

morreu, quis que sua Mãe Virgem fosse<br />

entregue a um Apóstolo virgem. E<br />

não teria querido que Ela fosse entregue<br />

e estivesse sob a guarda de um esposo<br />

virgem? Para alguém ser esposo<br />

da Virgem das virgens poderia não ser<br />

virgem? É uma coisa inconcebível.<br />

Aqui fica minha lamentação: é<br />

uma pena que não haja entre nós um<br />

artista que saiba fazer uma imagem<br />

de São José de acordo com estas<br />

concepções de São Bernardino de<br />

Sena. Homem de trajes simples, porque<br />

era pobre, mas brilhando, através<br />

da simplicidade dos trajes, a dignidade,<br />

a categoria, a largueza de visão,<br />

a segurança de si, de um homem<br />

que é patriarca, rei e príncipe. E, ao<br />

mesmo tempo, o fulgor da virgindade<br />

iluminando-o todo.<br />

Este seria um São José real, segundo<br />

o Sagrado Coração de Jesus e<br />

o Imaculado Coração de Maria, tão<br />

diferente de toda espécie de imagens<br />

que conheço: eu ainda estou para<br />

conhecer alguma que corresponda à<br />

figura que dele faz a piedade do verdadeiro<br />

católico e que dele faz essa<br />

estupenda descrição de São Bernardino<br />

de Sena.<br />

Essa é a grandeza do Santo Patriarca!<br />

E assim devemos ver nele<br />

um intercessor junto a Nossa Senhora,<br />

mas um grandíssimo intercessor<br />

entre os intercessores secundários,<br />

porque é secundário apenas no que<br />

diz respeito a Ela e não aos outros<br />

mediadores, em relação aos quais<br />

ele ocupa um lugar eminente e talvez<br />

o maior de todos. v<br />

(Extraído de conferências de<br />

8/10/1966 e 23/12/1968)<br />

1) Ficha retirada da obra: SÃO BER-<br />

NARDINO DE SENA. Sermo II. In<br />

vigilia Nativitatis Domini. De Sancto<br />

Ioseph sponso Beatæ Virginis. In:<br />

Opera Omnia. Florentiæ: Ad Claras<br />

Acquas, 1959, v. VII, p.16-21<br />

Gabriel K. / Flávio Aliança<br />

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