Revista Dr Plinio 312

Março de 2024 Março de 2024

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O pensamento filosófico de Dr. Plinio Flávio Aliança mim. Devemos, portanto, olhar admirativamente em torno de nós. Sei que muitos têm a prática tão infeliz e miserável de não fazer exame de consciência e de nem saber o que se passa na própria alma. Por aí entram pedregulhos de inveja. Não tenhamos ilusão! Ou temos a certeza de que tratamos de expulsar a inveja, ou ela habita em nós. Não é alentador, mas é a pura verdade. O caminho da cruz e os graus de perfeição A respeito do condicionamento da via da cruz é preciso dizer o seguinte: seria um erro afirmar que as pessoas chamadas para a vida temporal não são chamadas à perfeição. Com efeito, todos os que pertencem a Ordens religiosas são chamados para o estado de perfeição. O religioso que se recusa explicitamente a tender para a perfeição comete, ipso facto, pecado mortal. É doutrina da Igreja, ele deve tender para a perfeição. Mas, se não houver na sociedade um bom número de pessoas que, dentro das suas condições de vida, busquem a perfeição cristã, ou ao menos tenham a intenção de buscá-la, a sociedade temporal fenece, perece. Não devemos, portanto, identificar “perfeição” somente com a condição eclesiástica ou religiosa, consentindo para a sociedade temporal a imperfeição desavergonhada. Cada um foi chamado a um grau de perfeição. Para o estado de perfeição dos religiosos a grande maioria não foi chamada, mas, sim, o foi a um certo teto de perfeição dentro da vida que leva, e para isso deve tender. Na Igreja de São Basílio, em Moscou, temos uma imagem disso. Aquelas cúpulas poderiam ser o gráfico das perfeições. Algumas perfeições são enormes, outras são pequenas, torreõezinhos tendo na ponta uma cúpula pequenininha também. Assim é a multidão das almas. Toda alma é como um torreão que tem no alto uma cúpula, ou seja, uma perfeição própria para a qual deve tender. Alguém pode chegar ao Céu sem passar pelo Purgatório, tendo vivido na sociedade temporal para uma perfeição menor. E, porque foi reto nessa perfeição, seguiu um ideal muito belo e alcançou a visão de Deus. Compreendendo isso, creio que a alma fica arejada e balizada para entrar no caminho da cruz, o qual é lindo e cheio de surpresas, como uma navegação num mar ignoto apresenta tanto as borrascas e as ciladas mais tenebrosas, como também os panoramas mais magníficos. Suavidades colocadas pela Providência Há coisas que para o comum das pessoas seria um sacrifício medonho praticar. No entanto, quando alguém é chamado a realizar aquilo pela vocação, se enche de alegria e de consolação até os últimos dias da vida. Na Gruta de Lourdes, por exemplo. Ali estão homens e mulheres que se esmeram em dar banho aos doentes. Alguém poderia dizer-lhes: “Olhe, ali você vai ter contato com tudo o que há de mais repugnante, de mais terrível. Quando você mexer na água daquele banho imundo, onde tem as cascas de ferida e o pus do mundo inteiro, os micróbios mais Cúpulas da Igreja de São Basílio Nagarjun(CC3.0) 22

ameaçadores de toda doença vão se levantar em você. Aquelas piscinas são anti-higiênicas no sentido mais violento e literal da palavra, e você colocará as suas mãos limpas, desinfetadas, para lavar aqueles doentes. Será uma tortura todo dia.” Não é uma tortura! Vá, mexa naquilo, a graça vai mexer na sua alma de outro jeito e tudo será feito com naturalidade! Não considere a coisa como em concreto ela não vai ser. Com muitos sofrimentos se dá isso, com outros não. Sofre-se muito, mas não se percebe que a Providência põe uma suavidade na alma a propósito daquele sofrimento. Quando acaba, a pessoa gosta de se lembrar dele e, às vezes, volta ao lugar onde sofreu para dar graças a Nossa Senhora. Luis Samuel No âmago do sofrimento, uma doçura É mister cada um compreender: não se deve confrontar ao sofrimento futuro o seu estado de espírito atual, porque quando chegar a hora, Nossa Senhora obterá as forças. Ainda mais Ela, que é Mãe de Misericórdia, dará os meios de sofrermos potavelmente. Há uma doçura especial no âmago do sofrimento, quando nos lembrarmos do seguinte: esta cruz me foi dada por Deus, é o travesseiro suave que a Mãe de Misericórdia me preparou para aguentar. Vamos adiante! Quando isso terminar, eu terei saudades desses dias. É como Jesus com os discípulos de Emaús. Na hora de Ele ir embora, O reconhecem. Na hora do sofrimento cessar, nós percebemos que mão estava nos segurando e ficamos encantados. Não nos apavoremos! A entrada do caminho do sofrimento é uma resolução heroica e viril, mas ao mesmo tempo é uma ponderação dos mil acolchoados que entram nisso. Senão, não se viveu nem se sofreu catolicamente. O exemplo para mim é a iconografia do Sagrado Coração de Jesus. Todas as imagens O apresentam com o Coração coroado de espinhos, transpassado, ferido por uma dor. Em cima, ardendo uma bonita chama do amor de Deus, de virtude, e apontando o Coração para os outros verem o quanto Ele sofria. Mas, sorridente, afável, bondoso, digno e – por que não dizer? – até nobre, é Rei! Rex dolorum, mas Rex caritatis. Sagrado Corção de Jesus (acervo particular) Rei de amor de Deus e de amor dos outros. É um prodígio de equilíbrio na dor! v (Extraído de conferência de 6/12/1985) 1) “Meus Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” 23

ameaçadores de toda doença vão se<br />

levantar em você. Aquelas piscinas<br />

são anti-higiênicas no sentido mais<br />

violento e literal da palavra, e você<br />

colocará as suas mãos limpas, desinfetadas,<br />

para lavar aqueles doentes.<br />

Será uma tortura todo dia.”<br />

Não é uma tortura! Vá, mexa naquilo,<br />

a graça vai mexer na sua alma<br />

de outro jeito e tudo será feito com<br />

naturalidade! Não considere a coisa<br />

como em concreto ela não vai ser.<br />

Com muitos sofrimentos se dá isso,<br />

com outros não. Sofre-se muito,<br />

mas não se percebe que a Providência<br />

põe uma suavidade na alma a propósito<br />

daquele sofrimento. Quando acaba,<br />

a pessoa gosta de se lembrar dele<br />

e, às vezes, volta ao lugar onde sofreu<br />

para dar graças a Nossa Senhora.<br />

Luis Samuel<br />

No âmago do sofrimento,<br />

uma doçura<br />

É mister cada um compreender:<br />

não se deve confrontar ao sofrimento<br />

futuro o seu estado de espírito atual,<br />

porque quando chegar a hora, Nossa<br />

Senhora obterá as forças. Ainda mais<br />

Ela, que é Mãe de Misericórdia, dará<br />

os meios de sofrermos potavelmente.<br />

Há uma doçura especial no âmago<br />

do sofrimento, quando nos lembrarmos<br />

do seguinte: esta cruz me<br />

foi dada por Deus, é o travesseiro<br />

suave que a Mãe de Misericórdia<br />

me preparou para aguentar. Vamos<br />

adiante! Quando isso terminar, eu<br />

terei saudades desses dias.<br />

É como Jesus com os discípulos de<br />

Emaús. Na hora de Ele ir embora, O<br />

reconhecem. Na hora do sofrimento<br />

cessar, nós percebemos que mão estava<br />

nos segurando e ficamos encantados.<br />

Não nos apavoremos! A entrada do<br />

caminho do sofrimento é uma resolução<br />

heroica e viril, mas ao mesmo tempo<br />

é uma ponderação dos mil acolchoados<br />

que entram nisso. Senão, não se<br />

viveu nem se sofreu catolicamente.<br />

O exemplo para mim é a iconografia<br />

do Sagrado Coração de Jesus.<br />

Todas as imagens O apresentam<br />

com o Coração coroado de espinhos,<br />

transpassado, ferido por uma<br />

dor. Em cima, ardendo uma bonita<br />

chama do amor de Deus, de virtude,<br />

e apontando o Coração para os outros<br />

verem o quanto Ele sofria. Mas,<br />

sorridente, afável, bondoso, digno e<br />

– por que não dizer? – até nobre, é<br />

Rei! Rex dolorum, mas Rex caritatis.<br />

Sagrado Corção de Jesus (acervo particular)<br />

Rei de amor de Deus e de amor dos<br />

outros. É um prodígio de equilíbrio<br />

na dor! <br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

6/12/1985)<br />

1) “Meus Deus, meu Deus, por que me<br />

abandonaste?”<br />

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