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Flávio Lourenço<br />
lhor naquele momento, inclusive as<br />
sacratíssimas dores físicas de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo. Era como que<br />
uma confidência iluminadíssima que<br />
ele recebia de Nosso Senhor, que dizia:<br />
“Vem e segue-Me.”<br />
São Pedro chorou amargamente,<br />
e se conhece o resto: toda a glória<br />
que veio depois, como também o<br />
martírio. E, na hora de morrer, ele<br />
pede para ser crucificado de cabeça<br />
para baixo, porque não era digno de<br />
ser crucificado como Aquele a quem<br />
ele negou. Ainda é o último olhar<br />
que o acompanha até a morte.<br />
No olhar de Nosso Senhor para<br />
ele durante a Paixão, São Pedro<br />
se modificou, e acho que quando os<br />
olhos dele viram a última coisa terrena,<br />
ele tinha diante de si o olhar de<br />
Nosso Senhor.<br />
Itinerário de São João<br />
Evangelista na Paixão<br />
Como terá sido a contrição de São<br />
João Evangelista? Pode-se imaginá-<br />
-la de mil maneiras. Ele fugiu, como<br />
todos os Apóstolos, mas na narração<br />
do Evangelho, ele aparece, de<br />
repente, ao pé da Cruz.<br />
Entre a fuga e esse momento o<br />
que se passou? Esse homem que fugia<br />
quando Nosso Senhor era preso,<br />
A Verônica consola Jesus no caminho do Calvário - Museu de Belas Artes de Lille, França<br />
acaba tendo a coragem de aparecer<br />
quando Ele está morrendo naquelas<br />
circunstâncias? É muita coragem.<br />
Como podemos imaginar isso?<br />
Por exemplo, assim: que ele estava<br />
só, no quarto dele, pensando, gemendo,<br />
com vergonha de si mesmo,<br />
mas esmagado pela covardia, percebendo<br />
em si, enquanto ele mesmo<br />
chorava, as lerdezas do respeito humano<br />
e da preguiça, e agitado entre<br />
o “sim” e o “não”. Não ousando ir<br />
ver Nosso Senhor e acompanhá-Lo,<br />
ele ao menos quer ver de longe para<br />
saber o que está acontecendo. Ele<br />
não ousa dizer para si mesmo, porque<br />
sabe que fugiria, mas se ele ouvisse<br />
um pouco daquela voz que ele<br />
tantas vezes ouvira, ainda que fosse<br />
sob a forma de um gemido! Aquele<br />
timbre, que ele tantas vezes ouvira<br />
e cuja ausência o deixava lanhado<br />
de saudades. Por fim, ele acaba vencendo<br />
a preguiça, o respeito humano<br />
e caminha com o projeto de ver de<br />
longe o Mestre.<br />
Nosso Senhor, que sabia dele no<br />
quarto, conhecia tudo o que se passava<br />
com ele, o acompanhou em espírito<br />
nesse itinerário. Nossa Senhora<br />
está rezando por São João; Ele recebe<br />
as orações d’Ela por ele. Nosso<br />
Senhor, quando sabe que São João<br />
se aproxima, põe na inflexão da voz<br />
uma coisa qualquer que ele sente<br />
que é dirigida a ele.<br />
Ao longe, ele ouve o brado. Imaginemos<br />
que São João esteja escondido<br />
atrás de uma janela ou de uma<br />
esquina de rua, onde ele pensa estar<br />
certo de que Nosso Senhor não sabe<br />
da presença dele, apesar de saber<br />
que Nosso Senhor conhece tudo.<br />
De repente, chega-lhe aquela inflexão,<br />
com meiguice, mas com uma<br />
tristeza sem fim: “Meu filho, veja<br />
quanto eu sofro!” É um convite a<br />
São João para ser sério e se pôr à altura<br />
daquela dor. Ele se entrega.<br />
Depois, talvez, de um pranto<br />
amargo, ele afinal vê Nosso Senhor<br />
que já subiu o Calvário, está cruci-<br />
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