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Revista Dr Plinio 312

Março de 2024

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Flávio Lourenço<br />

lhor naquele momento, inclusive as<br />

sacratíssimas dores físicas de Nosso<br />

Senhor Jesus Cristo. Era como que<br />

uma confidência iluminadíssima que<br />

ele recebia de Nosso Senhor, que dizia:<br />

“Vem e segue-Me.”<br />

São Pedro chorou amargamente,<br />

e se conhece o resto: toda a glória<br />

que veio depois, como também o<br />

martírio. E, na hora de morrer, ele<br />

pede para ser crucificado de cabeça<br />

para baixo, porque não era digno de<br />

ser crucificado como Aquele a quem<br />

ele negou. Ainda é o último olhar<br />

que o acompanha até a morte.<br />

No olhar de Nosso Senhor para<br />

ele durante a Paixão, São Pedro<br />

se modificou, e acho que quando os<br />

olhos dele viram a última coisa terrena,<br />

ele tinha diante de si o olhar de<br />

Nosso Senhor.<br />

Itinerário de São João<br />

Evangelista na Paixão<br />

Como terá sido a contrição de São<br />

João Evangelista? Pode-se imaginá-<br />

-la de mil maneiras. Ele fugiu, como<br />

todos os Apóstolos, mas na narração<br />

do Evangelho, ele aparece, de<br />

repente, ao pé da Cruz.<br />

Entre a fuga e esse momento o<br />

que se passou? Esse homem que fugia<br />

quando Nosso Senhor era preso,<br />

A Verônica consola Jesus no caminho do Calvário - Museu de Belas Artes de Lille, França<br />

acaba tendo a coragem de aparecer<br />

quando Ele está morrendo naquelas<br />

circunstâncias? É muita coragem.<br />

Como podemos imaginar isso?<br />

Por exemplo, assim: que ele estava<br />

só, no quarto dele, pensando, gemendo,<br />

com vergonha de si mesmo,<br />

mas esmagado pela covardia, percebendo<br />

em si, enquanto ele mesmo<br />

chorava, as lerdezas do respeito humano<br />

e da preguiça, e agitado entre<br />

o “sim” e o “não”. Não ousando ir<br />

ver Nosso Senhor e acompanhá-Lo,<br />

ele ao menos quer ver de longe para<br />

saber o que está acontecendo. Ele<br />

não ousa dizer para si mesmo, porque<br />

sabe que fugiria, mas se ele ouvisse<br />

um pouco daquela voz que ele<br />

tantas vezes ouvira, ainda que fosse<br />

sob a forma de um gemido! Aquele<br />

timbre, que ele tantas vezes ouvira<br />

e cuja ausência o deixava lanhado<br />

de saudades. Por fim, ele acaba vencendo<br />

a preguiça, o respeito humano<br />

e caminha com o projeto de ver de<br />

longe o Mestre.<br />

Nosso Senhor, que sabia dele no<br />

quarto, conhecia tudo o que se passava<br />

com ele, o acompanhou em espírito<br />

nesse itinerário. Nossa Senhora<br />

está rezando por São João; Ele recebe<br />

as orações d’Ela por ele. Nosso<br />

Senhor, quando sabe que São João<br />

se aproxima, põe na inflexão da voz<br />

uma coisa qualquer que ele sente<br />

que é dirigida a ele.<br />

Ao longe, ele ouve o brado. Imaginemos<br />

que São João esteja escondido<br />

atrás de uma janela ou de uma<br />

esquina de rua, onde ele pensa estar<br />

certo de que Nosso Senhor não sabe<br />

da presença dele, apesar de saber<br />

que Nosso Senhor conhece tudo.<br />

De repente, chega-lhe aquela inflexão,<br />

com meiguice, mas com uma<br />

tristeza sem fim: “Meu filho, veja<br />

quanto eu sofro!” É um convite a<br />

São João para ser sério e se pôr à altura<br />

daquela dor. Ele se entrega.<br />

Depois, talvez, de um pranto<br />

amargo, ele afinal vê Nosso Senhor<br />

que já subiu o Calvário, está cruci-<br />

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