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Gabriel K.<br />
também uma figura das nações que<br />
outrora constituíram a Cristandade,<br />
pobre fogueira extinta da qual se diria<br />
que uma ou outra brasa ainda rola<br />
acesa aqui, lá e acolá, por meio de<br />
cinzas; mas, de fato, é um abismo insondável.<br />
Imaginem a sensação de uma pessoa<br />
atirada dentro de um poço e,<br />
quando percebe apavorada estar chegando<br />
ao fundo e que dali a pouco virá<br />
o impacto com o chão, de repente,<br />
percebe, com espanto, que aquele<br />
fundo é fictício. Ela atravessa aquilo e<br />
cai num outro poço muito pior, mais<br />
profundo e não para de cair.<br />
Nós ainda não atingimos o fundo<br />
de nossa humilhação nem de nossa<br />
dor, mas estamos caindo, caindo,<br />
caindo… A cada vez que pensamos<br />
ter atingido o fundo do poço, ainda<br />
há mais. Até onde vai esse fundo?<br />
Onde estamos? O que é feito da glória<br />
de Deus? O que é feito da glória<br />
de Maria, Rainha do Universo?<br />
Como seria bom se pelo menos<br />
nós, a quem Nossa Senhora favorece<br />
com a graça de compreender essa situação,<br />
tivéssemos um pranto do tamanho<br />
dessa dor e uma indignação<br />
proporcionada a esse pecado e, portanto,<br />
nos desinteressássemos de tudo<br />
quanto é banal e voássemos mais<br />
alto, pensando apenas na Causa Católica!<br />
Situação de tragédia,<br />
condição para a glória<br />
As velas de um navio só deixam<br />
ver a sua beleza inteira quando<br />
o vento sopra e elas se enchem.<br />
O pulchrum de um navio só se deixa<br />
ver inteiro quando ele desencosta<br />
do cais. Se ele navega assim mesmo,<br />
quando está dentro do porto, dentro<br />
do golfo, ainda em circunstâncias<br />
onde se vê terra firme, ele não aparece<br />
no seu isolamento grandioso. É<br />
preciso que o barco seja imaginado<br />
num mar onde não se vê nada, onde<br />
de todos os lados os confins do horizonte<br />
e do mar se fecham em torno<br />
dele, e aí se começa a perceber como<br />
ele é pequeno diante do mar que<br />
singra e como ele é grande, porque<br />
ousa singrar o mar. Que vitória singrar<br />
o mar!<br />
Quando se inventou a fotografia,<br />
mil recursos foram empregados para<br />
fotografar navios em todas as posições<br />
e ações possíveis. Na época do<br />
avião, o homem ainda não cessa, a<br />
muito justo título, de se encantar e<br />
de se surpreender com a navegação.<br />
Ele se encanta, reproduz os navios<br />
de todas as ordens em toda espécie<br />
de mares. Isso vai para os álbuns, para<br />
os museus, por toda a parte. O homem<br />
canta a beleza dessa situação:<br />
um navio sozinho no mar e que navega.<br />
Se fosse só isso. Quantos literatos,<br />
pintores, se têm esmerado em mostrar<br />
o navio na tempestade. Ou sob<br />
céu aberto, quando o mar está refulgente,<br />
espelhando o Sol, tranquilo<br />
ou com ondas belas que o fazem<br />
apenas balouçar, brincam com ele<br />
sem ter vontade de tragá-lo quando<br />
passa. É muito bonito!<br />
Quando há tempestade, o navio<br />
continua; o infortúnio se abate, ele<br />
continua e resiste, ameaça naufragar,<br />
a tragédia… Até o seu soçobro<br />
é belo. A agonia e a morte de um navio<br />
são bonitas de tal maneira é bela<br />
a navegação.<br />
Na realidade, todo o infortúnio da<br />
navegação faz ver aspectos da reali-<br />
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