Revista Dr Plinio 312
Março de 2024 Março de 2024
Reflexões teológicas Panorama grandioso e Gabriel K. trágico, prenunciativo da primavera do Reino de Maria Profeta Jeremias Basílica de Santa Maria, Cracóvia, Polônia Na Cruz, os brados e os gemidos de Nosso Senhor Jesus Cristo não foram só por causa do povo que O abandonou. Ele sabia que outra Jerusalém, mais perfeita do que a primeira, iria deixá-Lo na desolação. Entretanto, devemos ter a certeza sobrenatural de que toda esta enxurrada e a atual catástrofe na Igreja não servirão senão para realçar a glória d’Ele. Gabriel K. Há fulgores que se desprendem subitamente das mais variadas coisas. Por exemplo, um tecido de seda sob a ação da luz, solta, de repente, uma claridade de prata. Também uma joia colocada sob a luminosidade dá um fulgor especial. Tantas coisas fulguram na vida! A dor também pode fulgurar. Jerusalém prefigura a Igreja Quando ouvimos as palavras da Sagrada Escritura a respeito de Jerusalém, a cidade de uma beleza perfeita, antiga alegria da Terra inteira (cf. Lm 2, 15), que chorava na sua solidão porque estava abandonada, vemos no seu pranto o majestoso soluçar profético que chega até nós. Quando os comentadores da Escritura haveriam de imaginar que os acontecimentos seriam tais, que algum dia houvesse admiradores e devotos do Profeta Jeremias, que olhariam para esse quadro que a Sagrada Escritura, inspirada pelo Espírito Santo, apresenta como o auge do quadro pungente, e diriam abanando a cabeça: “Nós descemos mais fundo, a nossa tristeza vai mais longe. Quão majestoso e belo é o pranto desse profeta e quanto ele dá glória a Deus! Mas a nós foi dado ver uma realidade ainda mais amarga e, sem sabermos soluçar como ele, entretanto temos uma dor que nos transpassa o coração.” Jerusalém prefigura a Santa Igreja Católica; pode ser considerada 10
Gabriel K. também uma figura das nações que outrora constituíram a Cristandade, pobre fogueira extinta da qual se diria que uma ou outra brasa ainda rola acesa aqui, lá e acolá, por meio de cinzas; mas, de fato, é um abismo insondável. Imaginem a sensação de uma pessoa atirada dentro de um poço e, quando percebe apavorada estar chegando ao fundo e que dali a pouco virá o impacto com o chão, de repente, percebe, com espanto, que aquele fundo é fictício. Ela atravessa aquilo e cai num outro poço muito pior, mais profundo e não para de cair. Nós ainda não atingimos o fundo de nossa humilhação nem de nossa dor, mas estamos caindo, caindo, caindo… A cada vez que pensamos ter atingido o fundo do poço, ainda há mais. Até onde vai esse fundo? Onde estamos? O que é feito da glória de Deus? O que é feito da glória de Maria, Rainha do Universo? Como seria bom se pelo menos nós, a quem Nossa Senhora favorece com a graça de compreender essa situação, tivéssemos um pranto do tamanho dessa dor e uma indignação proporcionada a esse pecado e, portanto, nos desinteressássemos de tudo quanto é banal e voássemos mais alto, pensando apenas na Causa Católica! Situação de tragédia, condição para a glória As velas de um navio só deixam ver a sua beleza inteira quando o vento sopra e elas se enchem. O pulchrum de um navio só se deixa ver inteiro quando ele desencosta do cais. Se ele navega assim mesmo, quando está dentro do porto, dentro do golfo, ainda em circunstâncias onde se vê terra firme, ele não aparece no seu isolamento grandioso. É preciso que o barco seja imaginado num mar onde não se vê nada, onde de todos os lados os confins do horizonte e do mar se fecham em torno dele, e aí se começa a perceber como ele é pequeno diante do mar que singra e como ele é grande, porque ousa singrar o mar. Que vitória singrar o mar! Quando se inventou a fotografia, mil recursos foram empregados para fotografar navios em todas as posições e ações possíveis. Na época do avião, o homem ainda não cessa, a muito justo título, de se encantar e de se surpreender com a navegação. Ele se encanta, reproduz os navios de todas as ordens em toda espécie de mares. Isso vai para os álbuns, para os museus, por toda a parte. O homem canta a beleza dessa situação: um navio sozinho no mar e que navega. Se fosse só isso. Quantos literatos, pintores, se têm esmerado em mostrar o navio na tempestade. Ou sob céu aberto, quando o mar está refulgente, espelhando o Sol, tranquilo ou com ondas belas que o fazem apenas balouçar, brincam com ele sem ter vontade de tragá-lo quando passa. É muito bonito! Quando há tempestade, o navio continua; o infortúnio se abate, ele continua e resiste, ameaça naufragar, a tragédia… Até o seu soçobro é belo. A agonia e a morte de um navio são bonitas de tal maneira é bela a navegação. Na realidade, todo o infortúnio da navegação faz ver aspectos da reali- 11
- Page 1 and 2: Publicação Mensal Vol. XXVII - N
- Page 3 and 4: Sumário Publicação Mensal Vol. X
- Page 5 and 6: tos na Paixão. Fazei de mim um esc
- Page 7 and 8: Dona Lucilia Arquivo Revista Os olh
- Page 9: pelos pecados dos homens. É um ato
- Page 13 and 14: Flávio Lourenço lhor naquele mome
- Page 15 and 16: Nosso Senhor nos confidencia, porqu
- Page 17 and 18: fixo comum, mas de tamanho grande,
- Page 19 and 20: O pensamento filosófico de Dr. Pli
- Page 21 and 22: enfrentá-lo, mas sem certa forma d
- Page 23 and 24: ameaçadores de toda doença vão s
- Page 25 and 26: ----------------- * Março * ---- d
- Page 27 and 28: de Nosso Senhor Jesus Cristo e verd
- Page 29 and 30: Esposo virgem, à estatura da Virge
- Page 31 and 32: isso. Nessas condições, Nosso Sen
- Page 33 and 34: Entre as relíquias da Paixão que
- Page 35 and 36: 35 Flávio Lourenço
Reflexões teológicas<br />
Panorama grandioso e<br />
Gabriel K.<br />
trágico, prenunciativo<br />
da primavera do<br />
Reino de Maria<br />
Profeta Jeremias<br />
Basílica de Santa Maria,<br />
Cracóvia, Polônia<br />
Na Cruz, os brados e os gemidos de Nosso<br />
Senhor Jesus Cristo não foram só por causa<br />
do povo que O abandonou. Ele sabia que outra<br />
Jerusalém, mais perfeita do que a primeira, iria<br />
deixá-Lo na desolação. Entretanto, devemos<br />
ter a certeza sobrenatural de que toda esta<br />
enxurrada e a atual catástrofe na Igreja não<br />
servirão senão para realçar a glória d’Ele.<br />
Gabriel K.<br />
Há fulgores que se desprendem<br />
subitamente das mais<br />
variadas coisas. Por exemplo,<br />
um tecido de seda sob a ação da<br />
luz, solta, de repente, uma claridade<br />
de prata. Também uma joia colocada<br />
sob a luminosidade dá um fulgor especial.<br />
Tantas coisas fulguram na vida! A<br />
dor também pode fulgurar.<br />
Jerusalém prefigura a Igreja<br />
Quando ouvimos as palavras da<br />
Sagrada Escritura a respeito de Jerusalém,<br />
a cidade de uma beleza perfeita,<br />
antiga alegria da Terra inteira<br />
(cf. Lm 2, 15), que chorava na sua<br />
solidão porque estava abandonada,<br />
vemos no seu pranto o majestoso soluçar<br />
profético que chega até nós.<br />
Quando os comentadores da Escritura<br />
haveriam de imaginar que os<br />
acontecimentos seriam tais, que algum<br />
dia houvesse admiradores e devotos<br />
do Profeta Jeremias, que olhariam<br />
para esse quadro que a Sagrada<br />
Escritura, inspirada pelo Espírito<br />
Santo, apresenta como o auge do<br />
quadro pungente, e diriam abanando<br />
a cabeça: “Nós descemos mais<br />
fundo, a nossa tristeza vai mais longe.<br />
Quão majestoso e belo é o pranto<br />
desse profeta e quanto ele dá glória<br />
a Deus! Mas a nós foi dado ver uma<br />
realidade ainda mais amarga e, sem<br />
sabermos soluçar como ele, entretanto<br />
temos uma dor que nos transpassa<br />
o coração.”<br />
Jerusalém prefigura a Santa Igreja<br />
Católica; pode ser considerada<br />
10