34 <strong>Fevereiro</strong> <strong>2024</strong> “Não podemos deslocalizar uma série de áreas que são estratégicas”, concorda Fernando Cruz Gonçalves. A deslocalização das unidades produtivas é feita em primeira-mão para reduzir os custos de mão-de-obra. Mas no dia em que o acréscimo dos custos de transporte, associados à deslocalização da produção, for superior à redução dos custos de produção, não faz sentido deslocalizar. Aliado a isto, considera importante que haja níveis de stock mais altos, para colmatar uma eventual falha de fornecimento. “Andamos durante tanto tempo a apostar em modelos como o just-in-time, cujos modelos logísticos assentavam em níveis de stock muito baixos. E tudo ia funcionando porque esses modelos não têm resposta para situações de disrupção. Se calhar é prudente passarmos a ter modelos just- -in-case”, sugere. Por sua vez, António Nabo Martins, indica que “é verdade que pode acontecer” uma eventual desglobalização, uma vez que já se fala muito em near shoring em que a produção está localizada mais perto dos locais de consumo. “A aposta em países mais próximos da Europa, do Norte de África, igualmente com mão-de- -obra barata, mas com sistemas políticos mais consolidados e com menos convulsões, serão, seguramente, uma solução para a transferência de alguma indústria da Ásia”, afirma. Destaca ainda a “tão falada reindustrialização da Europa”, mas ressalva que este é um processo que não demora menos do que 20 ou 30 anos, pelo que, sugere que seria “cauteloso encontrar caminhos equilibrados entre esta eventual mudança e a atualidade”. Salienta ainda que alguns armadores estão até a encomendar navios mais pequenos, “o que pressupõe uma aposta maior no short sea e na ferrovia na Europa, movimentando as cargas entre os portos do Sul e do Norte, e o centro da Europa”. A aposta na ferrovia poderá ser uma eventual solução, em que as ligações marítimas do Oriente possam ser feitas até Portugal, e daqui para a Europa via ferroviária. “Eu prevejo que o transporte internacional de mercadorias por via ferroviária, pelo menos na Europa, possa vir a ter um aumento exponencial. Em primeiro lugar porque falamos de um modo de transporte muito sustentável e, em segundo lugar, porque, na Europa, temos alguns armadores a apostar seriamente na ferrovia”, como é o caso da Medway (em alguns países Medlog), que faz parte do Grupo MSC, e a Continental Rail que integra o Grupo CMA-CGM. Dependendo das estratégias individuais, o presidente da APAT considera que esta aposta pode contribuir para uma estratégia mais global na forma como o transporte ferroviário de mercadorias é encarado na Europa. “Pena é que a União Europeia, com a sua veia de reguladora nata, não entenda que este negócio precisa muito mais de ações concretas do que apenas de regulação”, refere. C M Y CM MY CY CMY K
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