SCMedia News | Revista | Fevereiro 2024
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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Supply Chain Magazine 29<br />
caso, não é propriamente o aumento<br />
da procura que está a determinar as<br />
taxas de frete elevadas, mas é exatamente<br />
o problema de restrições a<br />
nível da oferta”. Fernando Cruz Gonçalves<br />
considera os acontecimentos recentes<br />
como uma “tempestade perfeita”:<br />
os constrangimentos no Canal do<br />
Panamá e no Canal do Suez, juntando<br />
ainda a tarifação das emissões poluentes<br />
no transporte marítimo implementada<br />
a 1 de Janeiro de <strong>2024</strong>. Tudo isto<br />
se resume a uma coisa: aumento das<br />
taxas de frete.<br />
Todos os estes constrangimentos<br />
impactam a atividade dos transitários.<br />
Como afirma António Nabo Martins,<br />
presidente executivo da Associação<br />
dos Transitários de Portugal (APAT), “a<br />
vida do transitário não tem dois dias<br />
iguais. Sem qualquer aviso dá-se uma<br />
nova disrupção e lá somos forçados,<br />
novamente, a encontrar a melhor<br />
alternativa”. E a melhor alternativa nem<br />
sempre é a mais fácil, competitiva ou a<br />
que a o cliente melhor entende. “Ultimamente<br />
temos vindo a falar muito<br />
de uma logística preventiva, ou seja, do<br />
ato de planeamento e antecipação que<br />
permita perceber de que forma podemos<br />
arquitetar planos B, alternativos<br />
à normalidade das cadeias logísticas”,<br />
garante António Nabo Martins. Ainda<br />
assim, se o conflito perdurar, a alternativa<br />
será manter a rota pelo Cabo da Boa<br />
Esperança. “As alternativas que existem<br />
são conhecidas e todas elas possuem<br />
tempos de trânsito maiores. Esta situação<br />
faz aumentar os custos, mas, no entanto,<br />
o transporte marítimo ainda é o<br />
que apresenta custos mais competitivos<br />
para esta tipologia de carga”, refere.<br />
Apesar de, para já, o cenário no Mar<br />
Vermelho não ser animador, não estamos<br />
numa altura tão crítica como<br />
poderia ser, por exemplo, em novembro<br />
ou dezembro, como explica Raul Magalhães.<br />
“Este é um efeito que se vai sentir<br />
fundamentalmente no primeiro trimestre<br />
que, para a maior parte das economias<br />
da Europa e também dos EUA, é,<br />
normalmente, um período pouco tenso<br />
em termos de compras e stocks”. Se<br />
ocorresse em outubro ou novembro,<br />
por serem os meses que antecedem o<br />
Natal e, por isso, se movimenta muita<br />
mercadoria, teríamos “um problema<br />
muitíssimo maior”. Refere ainda a<br />
questão do ano novo chinês, um evento<br />
anual que tem a duração de 15 dias,<br />
e com grande impacto nos negócios<br />
do país, uma vez que há interrupções<br />
na produção e os volumes de importação<br />
e exportação reduzem. Portanto,<br />
na semana que antecede o evento, as<br />
empresas já tomaram precauções e,<br />
muitas delas, expedem a mercadoria<br />
nessa altura. “Este efeito, mais o facto<br />
de estarmos no primeiro trimestre, estão<br />
a diluir um pouco os efeitos perniciosos<br />
que estas mudanças poderiam<br />
ter”, afirma o presidente da APLOG.<br />
Ainda assim, destaca os setores que deverão<br />
sentir um maior embate: o têxtil,<br />
alimentar, produtos para a casa, eletrónica<br />
e os combustíveis. “Pelo Canal do<br />
Suez passam cerca de 23.000 ou 24.000<br />
embarcações por ano, e do conjunto de<br />
transporte de petróleo, a nível global,<br />
10% passa por lá. No gás, 8%”, indica.<br />
Portanto, este setor sofrerá, de facto,<br />
algum impacto que afetará diretamente<br />
a economia. No que diz respeito à<br />
eletrónica, segundo Raul Magalhães,<br />
“não há razão para haver disrupções<br />
nas cadeias de abastecimento por<br />
falta destes produtos porque, pelas<br />
suas dimensões e valor unitário intrínseco,<br />
suportam bem uma mudança do<br />
marítimo para o aéreo”. Este tipo de<br />
produtos, diga-se, aparelhos eletrónicos<br />
e semicondutores.