Revista Dr Plinio 311

fevereiro de 2024 fevereiro de 2024

23.01.2024 Views

Hagiografia Biografia de São José de Leonissa Eufrânio Desideri nasceu em Leonissa, Itália, em 1556 e ingressou aos 16 anos na Ordem dos Capuchinhos de Rieti, recebendo o nome de José. No convento de Carcerelle, próximo a Assis, passou seu noviciado entregando-se à mais dura penitência. Após sua ordenação sacerdotal, foi enviado como missionário para Constantinopla. Ao tomar conhecimento do estado lastimável no qual se encontravam vários cristãos, tornados escravos pelos turcos, condoeu-se de seus irmãos na Fé, passando a encorajá-los, distribuindo-lhes os sacramentos e fazendo voltar à Igreja aqueles que a haviam deixado. A pobreza na qual vivia despertou interesse nos povos daquela região, que acorriam em grande quantidade para ouvi-lo. Pregava com ardor e intrepidez, e após uma tentativa de entrar no palácio para pregar ao próprio Sultão Murad III, seu intento foi julgado como atrevido e como um crime de lesa-majestade. Preso e açoitado, suspenso por um pé e uma mão sobre uma fogueira, permaneceu nesse suplício por três dias sem, contudo, falecer. O sultão, maravilhado com o fato, trocou sua pena de morte por uma de exílio perpétuo. Voltado à Itália, José continuou sua vida de pregador na Úmbria, promovendo diversas conversões. Suas pregações eram regadas por uma vida de penitência e os carismas sobrenaturais davam maior vigor às pregações. Após uma vida marcada pela austeridade e pelo zelo apostólico, aos 57 anos de idade adoeceu gravemente com um tumor. Os médicos o operaram, mas como anestésico o Santo usou somente o seu crucifixo, que apertava sobre o peito. No dia 4 de fevereiro de 1612, entregou sua alma a Deus. v e de obras de arte, habitando num Palácio como nenhum rei da Europa ou do Oriente possui, tendo um arquivo com o qual nenhum outro do mundo pode emular! E é cercado da veneração de centenas de milhões de fiéis que veem nele o Vigário de Jesus Cristo sobre a Terra. Ao lado dele, um Senado de Cardeais com manto de púrpura, homens ilustres por vários títulos, todos revestidos de grande representação social. Tudo isso é o Espírito Santo utilizando as coisas da Terra para dar força à própria vontade de Deus. Vemos depois o contrário. Através do capuchinho, que não tem nada disso porque renunciou a tudo, o Espírito Santo utilizando a renúncia a todas as coisas da Terra para dar força à palavra de Deus. É uma espécie de duplo jogo de contraste harmônico, onde se percebe a onipotência de Deus e a variedade existente dentro da Santa Igreja Católica; o poder que Deus tem de falar aos homens através de todas as suas criaturas, até das que representam a pobreza; através de uma e de outra, dizendo palavras ora de amor, ora de arrojo, ora de denodo, ora de valentia, palavras estas que se tornaram especialmente importantes em nossa época. Ao lado da Igreja em suas amarguras No tempo de São Pio X, quando a crise da Igreja estava menos profunda que em nossos dias, ele se apropriava do gemido de um dos profetas e dizia: “‘De gentibus non est vir mecum’ (cf. Is 41, 28) na luta contra o modernismo – isto está no processo de canonização – ‘Entre todos os homens não há um varão que esteja comigo’”, ou seja, que leve a luta até onde deveria. Hoje, quão poucas pessoas estão ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo, quão poucas estão ao lado da Santa Igreja. Fica aqui a evocação esplêndida do varão eclesiástico que estava ao lado da Santa Igreja em todas as suas amarguras, aquela figura do capuchinho com o seu burel, com a sua barba, com a sua tonsura, com a sua palavra franca e com o seu olhar fogoso. Apesar de não saber muito, sabemos que São José de Leonissa foi um capuchinho que concorreu para formar no firmamento da Igreja esse perfil dos capuchinhos. Não é preciso dizer mais nada. Basta pedirmos que São José de Leonissa rogue por nós. De um Santo desconhecido tanta coisa se sabe: ele foi Santo, ele foi capuchinho! v (Extraído de conferência de 4/2/1971) São José de Leonissa - Galeria Nacional de Parma Parma benia artistici(CC3.0) 30

Luzes da Civilização Cristã Flávio Lourenço Conversão de Clóvis Igreja da Abadia de Saint-Ouen, Rouen Cristandade: manifestação do esplendor da Igreja na sociedade temporal Entre a graça e a natureza só pode haver harmonia. Foi sob o influxo e as bênçãos da Igreja que o Lumen Christi penetrou nos aspectos temporais da vida e a sociedade temporal desabrochou inteiramente. A graça agiu nos povos, harmonizando-os e erguendo neles o sagrado edifício da Cristandade. Um bom método para se tratar a respeito do pulchrum e do alcandorado da Cristandade é começar por descrever o que sentimos a respeito dela, para depois distinguirmos o que sentimos quando nos referimos à Igreja. A Cristandade medieval europeia A fim de exprimir bem o que sinto quando falo em Cristandade, faço referência à dupla ação que ela causa em meu espírito. A primeira refere-se a uma situação que em concreto existiu; a segunda, a algo de doutrinário implícito, que está meio embebido nas impressões daquela ordem de coisas. É um determinado lumen máximo, em estado de começo de desabrochar, diferente do período que vai desde o império pós-constantiniano até a época dos bárbaros ou do império oficialmente católico. A Cristandade, a meu ver, nasceu com a conversão de Clóvis, com o estilo românico, alcançando seu esplendor 31

Hagiografia<br />

Biografia de São José de Leonissa<br />

Eufrânio Desideri nasceu em Leonissa, Itália, em 1556 e ingressou<br />

aos 16 anos na Ordem dos Capuchinhos de Rieti, recebendo<br />

o nome de José. No convento de Carcerelle, próximo a Assis,<br />

passou seu noviciado entregando-se à mais dura penitência.<br />

Após sua ordenação sacerdotal, foi enviado como missionário para<br />

Constantinopla. Ao tomar conhecimento do estado lastimável no qual se<br />

encontravam vários cristãos, tornados escravos pelos turcos, condoeu-se<br />

de seus irmãos na Fé, passando a encorajá-los, distribuindo-lhes os sacramentos<br />

e fazendo voltar à Igreja aqueles que a haviam deixado.<br />

A pobreza na qual vivia despertou interesse nos povos daquela região,<br />

que acorriam em grande quantidade para ouvi-lo. Pregava com ardor<br />

e intrepidez, e após uma tentativa de entrar no palácio para pregar<br />

ao próprio Sultão Murad III, seu intento foi julgado como atrevido e como<br />

um crime de lesa-majestade. Preso e açoitado, suspenso por um pé<br />

e uma mão sobre uma fogueira, permaneceu nesse suplício por três dias<br />

sem, contudo, falecer. O sultão, maravilhado com o fato, trocou sua pena<br />

de morte por uma de exílio perpétuo.<br />

Voltado à Itália, José continuou sua vida de pregador na Úmbria,<br />

promovendo diversas conversões. Suas pregações eram regadas por<br />

uma vida de penitência e os carismas sobrenaturais davam maior vigor<br />

às pregações.<br />

Após uma vida marcada pela austeridade e pelo zelo apostólico, aos<br />

57 anos de idade adoeceu gravemente com um tumor. Os médicos o<br />

operaram, mas como anestésico o Santo usou somente o seu crucifixo,<br />

que apertava sobre o peito. No dia 4 de fevereiro de 1612, entregou sua<br />

alma a Deus.<br />

v<br />

e de obras de arte, habitando num Palácio<br />

como nenhum rei da Europa ou<br />

do Oriente possui, tendo um arquivo<br />

com o qual nenhum outro do mundo<br />

pode emular! E é cercado da veneração<br />

de centenas de milhões de fiéis que<br />

veem nele o Vigário de Jesus Cristo sobre<br />

a Terra. Ao lado dele, um Senado<br />

de Cardeais com manto de púrpura,<br />

homens ilustres por vários títulos, todos<br />

revestidos de grande representação social.<br />

Tudo isso é o Espírito Santo utilizando<br />

as coisas da Terra para dar força<br />

à própria vontade de Deus.<br />

Vemos depois o contrário. Através<br />

do capuchinho, que não tem nada<br />

disso porque renunciou a tudo, o<br />

Espírito Santo utilizando a renúncia<br />

a todas as coisas da Terra para dar<br />

força à palavra de Deus.<br />

É uma espécie de duplo jogo de contraste<br />

harmônico, onde se percebe a<br />

onipotência de Deus e a variedade existente<br />

dentro da Santa Igreja Católica;<br />

o poder que Deus tem de falar aos homens<br />

através de todas as suas criaturas,<br />

até das que representam a pobreza;<br />

através de uma e de outra, dizendo<br />

palavras ora de amor, ora de arrojo, ora<br />

de denodo, ora de valentia, palavras estas<br />

que se tornaram especialmente importantes<br />

em nossa época.<br />

Ao lado da Igreja em<br />

suas amarguras<br />

No tempo de São Pio X, quando a<br />

crise da Igreja estava menos profunda<br />

que em nossos dias, ele se apropriava<br />

do gemido de um dos profetas e dizia:<br />

“‘De gentibus non est vir mecum’ (cf. Is<br />

41, 28) na luta contra o modernismo<br />

– isto está no processo de canonização<br />

– ‘Entre todos os homens não há<br />

um varão que esteja comigo’”, ou seja,<br />

que leve a luta até onde deveria.<br />

Hoje, quão poucas pessoas estão<br />

ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

quão poucas estão ao lado da Santa<br />

Igreja. Fica aqui a evocação esplêndida<br />

do varão eclesiástico que estava ao<br />

lado da Santa Igreja em todas as suas<br />

amarguras, aquela figura do capuchinho<br />

com o seu burel, com a sua barba,<br />

com a sua tonsura, com a sua palavra<br />

franca e com o seu olhar fogoso.<br />

Apesar de não saber muito, sabemos<br />

que São José de Leonissa foi<br />

um capuchinho que concorreu para<br />

formar no firmamento da Igreja esse<br />

perfil dos capuchinhos. Não é preciso<br />

dizer mais nada. Basta pedirmos<br />

que São José de Leonissa rogue por<br />

nós. De um Santo desconhecido tanta<br />

coisa se sabe: ele foi Santo, ele foi<br />

capuchinho!<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

4/2/1971)<br />

São José de Leonissa - Galeria<br />

Nacional de Parma<br />

Parma benia artistici(CC3.0)<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!