Revista Dr Plinio 309

dezembro 2023 dezembro 2023

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Apóstolo do pulchrum Essa doçura que acabo de descrever tem uma qualquer relação com o traçado da avenida de entrada: em certo momento, ela inflecte com uma curva delicada e suave, apresentando algo em comum com as amenidades da natureza. Quando o automóvel segue o seu curso, tem-se a impressão de que tudo o que há de imponderável e doce, de distinto, de agradável e de bondoso na natureza, toma mais uma dimensão, porque já não é apenas luz e cor, mas também movimento. Pouco mais adiante, vê-se a parte lateral de uma das casas do complexo, que, àquela hora reveste-se de algo de aconchegado; é o local onde todos se reúnem, se aquecem, todos são amigos e se juntam para terem o bom convívio de uma noite… Continuando o percurso, passa-se diante do cruzeiro e rezam-se as jaculatórias: “Ave Crux, spes unica! Mater Dolorosa, ora pro nobis!” O automóvel avança mais um pouco, o necessário para que essas impressões fiquem para trás e, sem choque, chega-se, por fim, ao esplendor do Pátio de Nossa Senhora da Glória, onde estão hasteados os nossos estandartes. Já é outra atmosfera, outro ambiente, como que um outro mundo a nos falar de batalhas. E assim estava terminada minha entrada nesta sede, numa tarde de verão… Poderíamos dizer que tudo isso constitui três quadros sucessivos e distintos: o primeiro, da entrada; o segundo, da casa; e o terceiro, do pátio. O que eles significam? Melancolia discreta, bem-estar e sossego Há momentos em que a natureza se apresenta com as delicadezas e as discrições, com essa gota de cansaço, de sono e de tristeza próprias ao anoitecer. Nisso está representado um quê da virtude, própria às almas, quando se encontram em certos estados: são muito doces e suaves, espargem em torno de si uma melancolia discreta – nada de torrencial – agradável, na qual quase se poderia dizer preponderar uma nota de bem-es- 32

Alegria da intimidade seguida do desejo de luta Num segundo quadro de consideração, há outros momentos nos quais se apreciam, não os deleites da natureza livre e solta, do vento, das folhas secas correndo um pouco sobre o chão, mas se gosta do fechado, do íntimo, do aconchegado, do concentrado, do defendido contra o que está fora… Essas são aquelas horas em que o homem tem a alegria de encontrar no outro um semelhante! Alegria de ser compreendido e de compreender; alegria da intimidade, do aconchego de quem sabe e pode confiar. Não é apenas a confiança, porque as portas estão trancadas e o lobo não entra, mas é porque as almas estão abertas, pode-se falar e se expandir. É quase um primeiro universo que cessa e um outro que entra, todo ele feito de impressões e sensações diversas, mas em que a alma humana sente o prazer de ter passado por um e ter entrado em outro. É uma espécie de viagem de estado de espírito em estado de espírito. Depois das serenidades tranquilas, das intimidades reconfortantes, a alma Dr. Plinio em visita ao Præsto Sum, em 1982 tar, mais do que de tristeza, que é, sobretudo, o sossego… No fundo há, em todas as almas, momentos nos quais elas são assim, como em toda natureza há momentos em que ela se apresenta assim. Há, portanto, um como que estado de espírito pairando por cima de todas as coisas, o qual, em determinado momento, envolve o homem, convida- -o e lhe diz: “Meu filho, é a hora de ser deste modo! Compreenda isto como é!” 33

Alegria da intimidade<br />

seguida do desejo de luta<br />

Num segundo quadro de consideração,<br />

há outros momentos nos quais se<br />

apreciam, não os deleites da natureza<br />

livre e solta, do vento, das folhas secas<br />

correndo um pouco sobre o chão, mas se<br />

gosta do fechado, do íntimo, do aconchegado,<br />

do concentrado, do defendido contra<br />

o que está fora…<br />

Essas são aquelas horas em que o homem<br />

tem a alegria de encontrar no outro<br />

um semelhante! Alegria de ser compreendido<br />

e de compreender; alegria da<br />

intimidade, do aconchego de quem sabe<br />

e pode confiar.<br />

Não é apenas a confiança, porque as<br />

portas estão trancadas e o lobo não entra,<br />

mas é porque as almas estão abertas,<br />

pode-se falar e se expandir.<br />

É quase um primeiro universo que<br />

cessa e um outro que entra, todo ele feito<br />

de impressões e sensações diversas, mas<br />

em que a alma humana sente o prazer de<br />

ter passado por um e ter entrado em outro.<br />

É uma espécie de viagem de estado<br />

de espírito em estado de espírito.<br />

Depois das serenidades tranquilas,<br />

das intimidades reconfortantes, a alma<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> em visita ao Præsto Sum, em 1982<br />

tar, mais do que de tristeza,<br />

que é, sobretudo, o<br />

sossego…<br />

No fundo há, em todas<br />

as almas, momentos<br />

nos quais elas são assim,<br />

como em toda natureza<br />

há momentos em que ela<br />

se apresenta assim. Há,<br />

portanto, um como que<br />

estado de espírito pairando<br />

por cima de todas<br />

as coisas, o qual, em determinado<br />

momento, envolve<br />

o homem, convida-<br />

-o e lhe diz: “Meu filho,<br />

é a hora de ser deste modo!<br />

Compreenda isto como<br />

é!”<br />

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