Revista Dr Plinio 309

dezembro 2023 dezembro 2023

15.12.2023 Views

De Maria nunquam satis Arquivo Revista Beato Pio IX - Museu de São João de Latrão, Roma de um concerto de vozes humanas e rugidos satânicos por todo o mundo, semelhante a uma imensa e fragorosa tempestade. Ver que contra essa tempestade de paixões inconfessáveis, de ódios ameaçadores, de desesperos furiosos, se erguia só e intrépida, a figura majestosa do Vigário de Cristo, desarmada de todos os recursos da Terra e fiada apenas no auxílio do Céu, era fonte, para os verdadeiros católicos, de um júbilo igual ao que sentiram os Apóstolos vendo erguer-se, na tempestade desencadeada sobre o Lago de Genesaré, a figura divinamente varonil do Salvador, a comandar soberanamente os ventos e o mar: “Venti et mare obediunt ei” (Mt 8, 27). Início da derrocada da Revolução Assim como diante dos hunos se deixaram derrotar ou debandaram todos os generais e governadores do Império Romano, assim também, diante da Revolução, estavam em deplorável derrota ou debandada, em número incontável, os que na sociedade temporal deveriam defender a Igreja e a Civilização Cristã. Nessa situação de uma nobre e solene dramaticidade, Pio IX, como São Leão Magno, era o único a enfrentar o adversário e a lhe impor a retirada. Recuar? A proposição parece ousada. Entretanto, nada mais verdadeiro. A partir de 1854, a Revolução começou a sofrer suas grandes derrotas. É certo que, na aparência como na realidade, ela continuou a desenvolver seu império sobre a Terra. O igualitarismo, a sensualidade, o ceticismo foram alcançando vitórias sempre mais radicais e extensas. Mas algo de novo surgiu. E este algo, que é modesto, apagado, insignificante de aspecto, por sua vez vem crescendo incoercivelmente e acabará por matar a Revolução. A Igreja é o centro da História Para compreender bem esse ponto fundamental, cumpre ter em mente o papel da Igreja na História, e da devoção a Nossa Senhora, na Igreja. A Igreja é, nos planos de Deus, o centro da História. É a Esposa Mística de Cristo, que Ele ama com amor único e perfeito e à qual quis sujeitar todas as criaturas. Claro está que o Esposo nunca abandona a Esposa, e que é sumamente cioso da glória d’Ela. Assim, na medida em que seu elemento humano se conserva fiel a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Igreja nada deve temer. Até as maiores perseguições servirão à sua glória. E as honras e prosperidades mais marcadas não esmorecerão no povo fiel o senso do dever e o amor à Cruz. Isto no plano espiritual. De outro lado, no plano temporal, se os homens abrirem sua alma à influência da Igreja, estará franqueado a eles o caminho de todas as prosperidades e grandezas. Pelo contrário, se a abandonarem, estarão na trilha de todas as ca- Gabriel K. São Leão Magno impede a entrada de Átila em Roma - Museus Vaticanos 10

tástrofes e abominações. Para um povo que chegou a pertencer ao grêmio da Igreja, só há uma ordem de coisas normal, que é a Civilização Cristã. E essa civilização, superior a todas as outras, tem por princípio vital a Religião Católica. Condições de florescimento da Igreja Por sua vez, há para a Igreja três condições de florescimento tão essenciais, que se avantajam sobre todas as outras. Delas já tenho falado muito. Nunca, porém, será suficiente insistir. Antes de tudo, está a piedade eucarística. Nosso Senhor presente no Santíssimo Sacramento é o Sol da Igreja. D’Ele nos vêm toda as graças. Mas estas graças têm de passar por Maria. Pois é Ela a Medianeira universal, por Quem vamos a Jesus e por Quem Jesus vem a nós. A devoção marial intensa, esclarecida, filial é, pois, a segunda condição para o florescimento da virtude. Se Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento está presente, mas não nos fala, sua voz se faz ouvir para nós através do Sumo Pontífice. De onde a docilidade ao Sucessor de São Pedro é o fruto próprio e lógico da devoção à Sagrada Eucaristia e a Nossa Senhora. Quando, pois, essas três devoções florescem, cedo ou tarde a Igreja triunfa. E, a contrario sensu, quando elas estão em declínio, cedo ou tarde a Civilização Cristã decai. Lourdes, estrondosa confirmação do dogma Comunhão - Catedral do Salvador, Aix-en-Provence, França De há muito, vinham sendo os meios católicos da Europa e da América trabalhados por uma verdadeira lepra, que era o jansenismo. Essa heresia tinha em mira precisamente enfraquecer a Igreja, minando a devoção ao Santíssimo Sacramento sob as aparências de um falso respeito. Exigia tais disposições para que se aproximasse alguém da Sagrada Mesa, que as pessoas, infelizmente muito numerosas, por ela influenciadas, deixavam quase completamente de comungar. De outro lado, o jansenismo movia uma campanha insistente contra a devoção a Nossa Senhora, que acusava de desviar de Jesus Cristo em lugar de conduzir a Ele. E, por fim, essa heresia movia luta incessante contra o Papado e especialmente contra a infalibilidade do Sumo Pontífice. A definição do dogma da Imaculada Conceição foi o primeiro dos grandes reveses sofridos pelo inimigo interno. Com efeito, nasceu daí uma imensa caudal de piedade mariana, que se vem avolumando cada vez mais. Para provar que tudo nos vem por Maria, quis a Providência que fosse marial o primeiro grande triunfo. Mas, para glorificar ainda melhor sua Mãe, Nosso Senhor fez mais. Em Lourdes, como estrondosa confirmação do dogma, fez o que nunca antes se vira: instalou no mundo o milagre, por assim dizer, em série e a título permanente. Até então, o milagre aparecera na Igreja esporadicamente. Mas, em Lourdes, as curas mais cientificamente comprovadas e de origem mais autenticamente sobrenatural se dão, há cem anos, a bem dizer a jato contínuo, à face de um século confuso e desnorteado. Desse braseiro de fé, aceso com a definição da Imaculada Conceição, desprendeu-se, como uma chama, um imenso anelo. Os melhores, os mais doutos, os mais qualificados elementos da Igreja desejavam a proclamação do dogma da infalibilidade papal. Mais do que ninguém, queria-o o grande Pio IX. E da definição desse dogma veio para o mundo um surto de devoção ao Papa, que constituiu para a impiedade nova derrota. Flávio Lourenço O inimigo, mais forte do que nunca Por fim, veio o pontificado de São Pio X e com ele o convite aos fiéis para a comunhão frequente e até diária, bem como para a comunhão das crianças. E a era dos grandes triunfos eucarísticos começou a brilhar radiosa para toda a Igreja. 11

tástrofes e abominações.<br />

Para um povo que chegou<br />

a pertencer ao grêmio da<br />

Igreja, só há uma ordem de<br />

coisas normal, que é a Civilização<br />

Cristã. E essa civilização,<br />

superior a todas as<br />

outras, tem por princípio vital<br />

a Religião Católica.<br />

Condições de florescimento<br />

da Igreja<br />

Por sua vez, há para a<br />

Igreja três condições de<br />

florescimento tão essenciais,<br />

que se avantajam<br />

sobre todas as outras. Delas<br />

já tenho falado muito.<br />

Nunca, porém, será suficiente<br />

insistir.<br />

Antes de tudo, está a<br />

piedade eucarística. Nosso<br />

Senhor presente no<br />

Santíssimo Sacramento é<br />

o Sol da Igreja. D’Ele nos<br />

vêm toda as graças. Mas<br />

estas graças têm de passar<br />

por Maria. Pois é Ela<br />

a Medianeira universal, por Quem vamos<br />

a Jesus e por Quem Jesus vem a<br />

nós. A devoção marial intensa, esclarecida,<br />

filial é, pois, a segunda condição<br />

para o florescimento da virtude.<br />

Se Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento<br />

está presente, mas não nos fala,<br />

sua voz se faz ouvir para nós através<br />

do Sumo Pontífice. De onde a docilidade<br />

ao Sucessor de São Pedro é o<br />

fruto próprio e lógico da devoção à Sagrada<br />

Eucaristia e a Nossa Senhora.<br />

Quando, pois, essas três devoções<br />

florescem, cedo ou tarde a Igreja<br />

triunfa. E, a contrario sensu, quando<br />

elas estão em declínio, cedo ou tarde<br />

a Civilização Cristã decai.<br />

Lourdes, estrondosa<br />

confirmação do dogma<br />

Comunhão - Catedral do Salvador, Aix-en-Provence, França<br />

De há muito, vinham sendo os<br />

meios católicos da Europa e da América<br />

trabalhados por uma verdadeira<br />

lepra, que era o jansenismo. Essa heresia<br />

tinha em mira precisamente enfraquecer<br />

a Igreja, minando a devoção<br />

ao Santíssimo Sacramento sob as<br />

aparências de um falso respeito. Exigia<br />

tais disposições para que se aproximasse<br />

alguém da Sagrada Mesa, que<br />

as pessoas, infelizmente muito numerosas,<br />

por ela influenciadas, deixavam<br />

quase completamente de comungar.<br />

De outro lado, o jansenismo movia<br />

uma campanha insistente contra a devoção<br />

a Nossa Senhora, que acusava<br />

de desviar de Jesus Cristo em lugar de<br />

conduzir a Ele. E, por fim, essa heresia<br />

movia luta incessante contra o Papado<br />

e especialmente contra a infalibilidade<br />

do Sumo Pontífice.<br />

A definição do dogma da Imaculada<br />

Conceição foi o primeiro dos<br />

grandes reveses sofridos pelo inimigo<br />

interno. Com efeito, nasceu daí<br />

uma imensa caudal de<br />

piedade mariana, que se<br />

vem avolumando cada<br />

vez mais.<br />

Para provar que tudo<br />

nos vem por Maria, quis<br />

a Providência que fosse<br />

marial o primeiro grande<br />

triunfo.<br />

Mas, para glorificar<br />

ainda melhor sua Mãe,<br />

Nosso Senhor fez mais.<br />

Em Lourdes, como estrondosa<br />

confirmação do<br />

dogma, fez o que nunca<br />

antes se vira: instalou no<br />

mundo o milagre, por assim<br />

dizer, em série e a título<br />

permanente. Até então,<br />

o milagre aparecera na<br />

Igreja esporadicamente.<br />

Mas, em Lourdes, as curas<br />

mais cientificamente comprovadas<br />

e de origem mais<br />

autenticamente sobrenatural<br />

se dão, há cem anos,<br />

a bem dizer a jato contínuo,<br />

à face de um século<br />

confuso e desnorteado.<br />

Desse braseiro de fé, aceso com a<br />

definição da Imaculada Conceição,<br />

desprendeu-se, como uma chama,<br />

um imenso anelo. Os melhores, os<br />

mais doutos, os mais qualificados elementos<br />

da Igreja desejavam a proclamação<br />

do dogma da infalibilidade papal.<br />

Mais do que ninguém, queria-o<br />

o grande Pio IX. E da definição desse<br />

dogma veio para o mundo um surto<br />

de devoção ao Papa, que constituiu<br />

para a impiedade nova derrota.<br />

Flávio Lourenço<br />

O inimigo, mais forte<br />

do que nunca<br />

Por fim, veio o pontificado de São<br />

Pio X e com ele o convite aos fiéis<br />

para a comunhão frequente e até diária,<br />

bem como para a comunhão<br />

das crianças. E a era dos grandes<br />

triunfos eucarísticos começou a brilhar<br />

radiosa para toda a Igreja.<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!