Cultura de Bancada, 20º Número
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
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Congresso S4
Safety, Security, Service at Sports Events
novo formato,
mesmos intentos
14
28
32
HISTÓRIA DO MOVIMENTO
ORGANIZADO DE ADEPTOS
no leixões sc
O NOVO DIPLOMA DAS
SOCIEDADES DESPORTIVAS
à conversa com
ultras-tifo
36
50
memórias da bancada
resumo da bancada
68
Os intelectuais e o futebol –
O caso de Alves Redol
2
70
mini-férias POR espanha
76
o futuro do paços de ferreira
78
os anos passam,
nós não!
80
82
86
real sociedad x sl benfica
mix jogos itália
sporting cp x atalanta bc
88
rivalidades com história
derby della lanterna
92
uc sampdoria x spezia calcio
94
98
cultura de adepto
a voz do leitor
3
Edito
Finalmente chegamos ao vigésimo
número da Cultura de Bancada!
Começamos por mostrar agrado
em saber que mais um grupo ultra português
lançou a sua fanzine, juntando-se às poucas
publicações de adeptos que existem
actualmente em Portugal. Que mais grupos
se motivem em fazer o mesmo, mais que não
seja, porque é importante haver actividade
nos próprios grupos. Insistimos que um
movimento faz-se de pessoas que se mexem
e, por isso, enquanto vivemos tempos que
nos impedem de fazer tanta coisa para as
nossas bancadas, juntem esforços e não
desistam.
Entretanto, no país onde tratam os
adeptos como uma espécie potencialmente
perigosa, vemos os supostos bons
samaritanos desta sociedade envolvidos em
mais um escândalo. Felizmente, tal como
das outras vezes, esta vez foi mais um caso
irrelevante (modo irónico) com a diferença
que, finalmente, houve consequências
políticas para o primeiro-ministro de Portugal.
São tantos os casos, associados à justiça, de
membros deste (des)governo, que a única
coisa que nos apetece fazer é questionar o
seguinte: para quando o cartão do político,
com todas as restrições de expressão,
deslocação e demais que foram e são
impostas aos adeptos? Todos sabemos que
estão, entre os políticos, aqueles que mais
prejudicam os cidadãos portugueses (sejam
adeptos ou não). Se antes suspeitávamos,
hoje temos a certeza: As bancadas mais
perigosas em Portugal não estão nos estádios,
estão no Parlamento.
Assim, esperamos que a justiça...
Permitam-nos reformular: gostávamos que
a justiça tirasse consequências profundas
de tudo isto. É altura para ter mão firme e
mostrar ao país que não há dois pesos e duas
medidas. Para já, uma certeza: António Costa
e a sua equipa estão de saída e não deixam
saudades. Quem também podia estar de saída
era Pedro Proença, mas, infelizmente, não
abdicou de ser presidente da Liga Portuguesa
ao assumir a presidência da Associação de
Ligas Europeias. Realmente temos pena.
Desviando um bocado o
assunto, a comunicação social tem estado,
particularmente, atenta aos assuntos
Director
J. Lobo
Redacção
L. Cruz
G. Mata
J. Sousa
Design
S. Frias
M. Bondoso
Revisão
J. Rocha
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associados à pirotecnia. São sinais que
reforçam o anúncio que está para breve: a
alteração à Lei que irá considerar crime a
posse e uso da pirotecnia. Temos muito que
refletir sobre o que queremos nesta matéria,
pois são demasiados os tiros nos pés.
Um facto curioso é que a Liga
Portuguesa tem andado em silêncio nas
questões sobre as assistências nos estádios.
De facto, uma coisa eles já entenderam
- são precisos mais adeptos. O problema é
que quem toma as decisões não entende
o que é a bancada e acha que pode ir
preenchendo as cadeiras com “figurantes”, e
por isso reiteramos a enorme necessidade de
promover o associativismo em Portugal.
Continuando com a Liga Portugal,
recentemente Pedro Proença referiu a
importância de identificar quem entra num
estádio, abrindo a cortina para a questão da
bilhética nominal – algo que os clubes e os
adeptos parecem ignorar neste momento.
Sem deixar de tirar a devida reflexão, parecenos
que Pedro Proença deveria era estar
preocupado em identificar pessoas associadas
ao tráfico humano e à corrupção.
Por último, mencionar as seguintes
palavras de Carsten Crames, CEO do Borussia
de Dortmund, com um apontamento nosso:
“O futebol está relacionado com a cultura
e rituais. Com tradição e com história. Na
Fórmula 1 não têm essa retrospectiva, pois o
seu foco é dar sempre o próximo passo com
o carro. O futebol está mais lento, contudo,
nós temos de crescer. No fim de contas, a
nossa concorrência não é o Real Madrid, mas
a Netflix ou outra atividade de lazer. A nossa
missão é garantir que as próximas gerações
ainda se interessem por futebol”. Está aberta
a porta à transformação do jogo em função da
salvação do negócio. A cultura do espectador
figurante é que parece importar, e poucos
parecem compreender o papel notável dos
clubes na relação do futebol com as pessoas.
Agradecemos a todos os que nos
seguem e também nos apoiam. Esperemos
que a Cultura de Bancada esteja ao nível que
vocês almejam. Agora, é tempo dos nossos
leitores espreitarem as nossas páginas.
Convidados
Martha Gens
Vasco Rodrigues
Ultras-Tifo
Eupremio Scarpa
Rui Abreu
Afonso C.
Duarte Monteiro
M. Soares
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CONGRESSO S4
SAFETY, SECURITY, SERVICE AT SPORTS EVENTS
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S4 – Safety, Security, Service, Sports
Events – foi o mote que serviu ao Congresso
Internacional organizado pela Autoridade
de Prevenção e Combate à Violência no
Desporto, no passado dia 13 de Outubro, na
Aula Magna do Instituto Politécnico de Viseu.
A APDA foi convidada pela APCVD e marcámos
a nossa presença, neste primeiro evento do
género no nosso país.
O evento teve início com sala cheia,
com cerca de 400 convidados - entre eles,
vários Oficiais de Ligação a Adeptos, com
quem estivemos e trocámos algumas ideias e
experiências.
Um congresso S4 é um ponto de
viragem na forma como são abordados os
eventos desportivos e, como tal, pode ser
tido como uma ferramenta útil na mudança
de mentalidades, no que aos adeptos diz
respeito. Explicando melhor, todos nós
seguimos de forma atenta, em outros
países, não só o panorama político e legal,
bem como a forma como tratam os seus
adeptos, e temos consciência que o nosso
país ainda está muitos passos atrás do que
são as práticas hoje já enraizadas em países
como a Alemanha ou a Holanda. Assistimos
hoje, infelizmente, a uma constante
instrumentalização da massa adepta, de
forma indiscriminada, para justificar todos
os males do futebol em particular – sempre
baseado numa perspetiva securitária e,
observámo-lo tantas vezes, que chega a ser
cansativo.
Infelizmente, somos obrigados
a constatar que, neste país à beira-mar
plantado, os corpos directivos e gestores dos
nossos clubes gerem os clubes como se de
vulgares empresas se tratassem – vendem
um produto a um cliente e, no fim, queixamse
do comportamento dos seus adeptos –
totalmente alheados que são eles próprios
responsáveis por estes comportamentos.
Enquanto isso, vendem mais camisolas e
mudam de símbolos, para manter os cofres a
salvo e as votações a seu favor também. Ser
gestor da Nestlé ou de um clube de futebol é,
e tem de ser, diferente, pelo menos enquanto
houver pessoas que amam clubes de forma
como não amam uma vulgar empresa como a
Nestlé. Mas não nos alonguemos aqui.
É, contudo, importante referir que,
no meio desta total falta de noção, assistimos
a um evento que, no limite, procurou sair
deste marasmo e do chavão fácil da violência
e trazer opiniões de diversos oradores que
sabem do que falam. Talvez alguns dos
convidados possam ter saído de lá com
algumas lições – ainda que não aprendidas,
esperemos que as tenham, ao menos,
colocado no programa.
Depois das apresentações
introdutórias da praxe, seguiu-se um
programa muito rico, desde logo com a
apresentação da versão oficial em língua
portuguesa do curso e-learning sobre
Proteção, Segurança e Serviço, que resulta
do trabalho conjunto do Conselho da Europa,
a APCVD e a Universidade de Liverpool. Este
curso, na nossa visão, será certamente uma
ferramenta extremamente interessante para
quem gosta e trabalha na organização e
gestão de eventos desportivos – sobretudo
pela visão global e holística dos três pilares da
Convenção de St. Denis – sustendo que não
pode haver legítima expectativa da existência
de um panorama sustentável e saudável se
os três pilares da Convenção não forem tidos
em consideração em conjunto, como um
todo. Esperamos de facto que tenha sucesso
e que, sobretudo, se traduza numa alteração
de mentalidade e comportamentos de forma
transversal.
Sem querer particularizar em
demasia e descrever de forma extensa todos
os painéis que tiveram lugar ao longo do
primeiro dia de Congresso, queremos apenas
sublinhar três intervenções que nos cativaram
em particular – umas de forma mais positiva,
outras nem tanto.
A primeira teve lugar no segundo
painel da manhã, dedicado aos Grandes
Eventos Desportivos, que é um tema que me
diz muito. Com moderação de Paulo Fontes,
da APCVD, as intervenções ficaram a cargo
de Helmut Spahn (FIFA), Falah Al Dosari
(INTERPOL), Juha Karjalainen (UEFA), Luís
Silva (Blue Rock) e Tom Smith (Consultor de
Pirotecnia). Foi provavelmente o painel que,
em termos técnicos, captou mais a nossa
atenção, e será sobre ele que escolhemos
discorrer um pouco mais.
Juha Karjalainen é um nome
conhecido para quem segue as competições
UEFA, uma vez que é Senior Safety and
Security Expert da UEFA. Conhecido e muito
querido entre clubes que habitualmente
movimentam consigo milhares de adeptos
nas três competições organizadas pela
UEFA, trouxe a este Congresso um caso
prático, a organização e gestão de um evento
desportivo: a final da Conference League
que colocou, frente a frente, a Fiorentina
com o West Ham, no Fortuna Arena, casa
do SK Slavia Praha, República Checa. Quais
os maiores desafios da organização e gestão
de um jogo em que são apenas conhecidas
as equipas a um mês antes da realização do
jogo? Quais os desafios em receber milhares
de adeptos, de diferentes países, numa
cidade que nem sequer é a sua? Como são
as infraestruturas da cidade? Como se dão
a conhecer aos adeptos? Como funcionará
a bilhética? Quantas pessoas vão viajar? Há
rivalidades ou anticorpos entre as equipas? E
no dia de jogo? Quem faz o quê? E se houver
imprevistos? Foram estas questões as que
foram colocadas e respondidas por Juha, de
forma extremamente prática, empática e
elucidativa. Provavelmente, a nível pessoal, a
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que mais me ensinou e captou a atenção.
Já no mesmo painel, outra
intervenção que motivou o extremo inverso.
Tom Smith, é um académico, doutorado por
Oxford em Química, que tem trabalhado
como Consultor de pirotecnia em inúmeros
e importantes palcos. Em Junho de
2017, a UEFA publicou um estudo, por si
encomendado e pela FSE, elaborado por
Tom Smith onde, pasme-se... se conclui
que a utilização de pirotecnia não é segura
num recinto desportivo. Este relatório de
72 páginas está praticamente construído
com base nesta premissa e apresenta
uma abordagem científica à utilização de
engenhos pirotécnicos. É como se fosse
encomendado um estudo sobre os males
associados ao tabaco que concluísse que
“fumar faz mal” – é este o melhor resumo que
podemos fazer destas 72 páginas. Claro que,
para os interessados, a leitura e abordagem
crítica deste tema é altamente recomendada.
Sem prejuízo, é seguro afirmar que ouvir as
palavras de Tom Smith é estar perante uma
abordagem securitária hardline. Esta foi,
surpreendentemente, uma confirmação de
última hora, e a sua intervenção durou cerca
de 30 minutos, em formato online.
Pessoalmente, considero este tipo
de abordagem despropositada, demagógica
e completamente sem contexto. Morrem
pessoas de cancro causado por hábitos
tabágicos numa taxa superior do que os
eventuais danos que já ocorreram devido
ao uso de pirotecnia, e a abordagem não é
proibitiva, mas sim educativa e pedagógica.
Curiosamente, também morreram mais
pessoas a construir estádios para acolher
eventos desportivos do que alguma vez
aconteceu com engenhos pirotécnicos. O que
arde, queima - é uma conclusão que todos
nós a partir de determinada idade somos
capazes de induzir.
Eventualmente, esta abordagem
científica poderia até conduzir a uma
utilização consciente, responsável e
moderada de engenhos pirotécnicos, e
nisso concordamos que poderia ter sido um
tópico bastante interessante – que é. Mas
não, quando conduzido da forma como foi e
para os fins a que se destinou, acabando por
chocar os menos conhecedores do tema, que
não têm qualquer contexto sobre os dados
apresentados. Porque claro, o que arde,
queima.
Que a pirotecnia tem riscos não
é uma descoberta digna de um Nobel. Se
o objectivo é criar a ilusão que o uso de
pirotecnia é a causa de todos os males no
futebol, este é um bom caminho. Agora, se o
objectivo é que ninguém se magoe, devemos
ter em conta o contexto em vez de proibir.
Identificar e reduzir os riscos. Em França,
actualmente, a pirotecnia é legal, e há zero
ocorrências. Em 2015 na Noruega, em 80
espetáculos, zero ocorrências nas bancadas.
E podíamos continuar. Em todo o congresso,
foi talvez o único momento que nos marcou
pela negativa e não podíamos deixar de
esconder a nossa crítica.
Em todo o restante primeiro dia
de evento, e não querendo propriamente
terminar com esta nossa nota em tom mais
duro, podemos assinalar que todos os painéis
tiveram como tónica uma abordagem positiva
e hospitaleira. Sem descurar os pilares de
safety e security, não há como ter recintos
desportivos em harmonia sem o pilar de
serviço.
Para terminar, e precisamente
neste sentido, salientamos a fantástica (mas
curta) apresentação subordinada ao tema
“Receber bem e ser bem recebido” pelo
Professor Michael Humann, do Centro de
Desenvolvimento e Apoio Educacional da
Universidade de Liverpool. Uma intervenção
que em todos os segundos captou a nossa
atenção. Os seus minutos tiveram como foco
um ponto-chave que é por muitos ignorado
– comunicação. Comunicação, compreensão,
diálogo.
Eu, polícia, entendo a pergunta e o
objectivo do que me está a ser comunicado?
De forma integral, sem subterfúgios ou
anticorpos? Eu, promotor, entendo porque
querem os adeptos uma marcha? Isso
prejudica a segurança? Ou pode ser feito,
com segurança? Então porque não? Todos
nós, adeptos, já fomos confrontados com
o não porque não. Porque “eu não quero”,
“porque é assim”, “porque é a lei”. “Porque,
porque, porque... não”. E conseguimos nós,
adeptos, se nos compreenderem, também
compreender o outro lado? Esta seria uma
intervenção que faria todo o sentido ser
repetida e, quem sabe, levada aos próprios
promotores. Esta é, sem dúvida, daquelas
que é para nós uma das mais importantes
abordagens que a Convenção nos apresenta.
Os restantes painéis do dia,
moderados pelo experiente e sempre
empático Carlos Daniel, marcaram pontos
pela forma leve como assuntos sérios foram
conduzidos – que levaram, muitas vezes, a
que o público se sentisse emocionado pelo
modo como o futebol toca a todos de forma
tão diferente, mas sempre de forma tão
profunda.
Por fim, mencionar a presença de
uma figura muito acarinhada do desporto,
Cândido Costa, que falou do seu trabalho
como Embaixador da Liga 3, e Jorge Reis,
Presidente do Caldas SC, que tem devolvido
o Clube à cidade e aos seus adeptos, criando
um sentimento incrível de pertença.
O foco está, e esteve muito bem,
aqui – mais serviço, menos anticorpos,
mais disponibilidade para ouvir outras
experiências. Mais disponibilidade,
igualmente, para querer absorver outras
realidades, sem a arrogância de achar que
estamos sempre no carro da frente, porque
claramente não é o caso do nosso panorama
– pelo menos no que diz respeito à forma
como são tratados todos os que frequentam
as nossas bancadas.
Por Martha Gens, Presidente da Associação
Portuguesa de Defesa do Adepto
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NOVO FORMATO, MESMOS INTENTOS
Corria a noite de 18 de Abril de 2021
quando, já para lá das 23 horas, um rumor
que se espalhava incessantemente pela
imprensa ganhou finalmente corpo. Surgia
o anúncio oficial, por parte de 12 “tubarões”
do futebol europeu (AC Milan, Arsenal,
Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, Inter
de Milão, Liverpool, Manchester City, Real
Madrid e Tottenham), da criação da SuperLiga
Europeia, uma competição fora do circuito
da UEFA que previa contar com a presença
anual de 20 clubes, sendo que os membros
fundadores tinham lugar assegurado,
independentemente de qual fosse a sua
prestação desportiva na temporada transacta.
Esta nova competição seria presidida por
Florentino Pérez, Presidente do Real Madrid
e uma espécie de “guru” pioneiro da
“financeirização” do futebol, coadjuvado
por Andrea Agnelli, à época presidente da
Juventus que, entretanto, se viu envolvido
num escândalo financeiro que culminou na
retirada de 15 pontos ao clube, e Joel Glazer,
proprietário do Manchester United.
Este anúncio acabou por
desencadear um verdadeiro terramoto
nos alicerces do futebol e da sociedade
europeia em geral. As críticas a este projecto
surgiram de entidades e personalidades dos
mais diversos quadrantes, e até o Primeiro-
-Ministro britânico e o Presidente francês se
juntaram ao coro de indignados. Federações,
ligas, governos, associações, treinadores,
jogadores, ex-jogadores e muitos, muitos
adeptos gritaram em uníssono que esta
ideia era inconcebível e atacava todos os
pilares basilares que norteiam, ou melhor,
deviam nortear, o futebol. A UEFA, pela voz
do seu responsável máximo Aleksander
Ceferin, também foi bastante contundente,
ameaçando com a exclusão de todos os clubes
que incorporassem a SuperLiga, que apesar
de estar projectada para alegadamente não
interferir com a realização dos campeonatos
nacionais, iria seguramente retirar boa parte
da importância que a Champions League
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tem e retirar também ao organismo que
tutela o futebol europeu o monopólio sobre
o mesmo. As pressões sentidas foram de tal
forma intensas que, poucos dias após este
anúncio, boa parte dos integrantes tinha já
feito marcha-atrás e abandonado a ideia. Em
virtude dessa pressão, esta primeira tentativa
viria a ficar em “águas de bacalhau”, mas
a UEFA foi célere a responder, tendo no dia
seguinte à “apresentação” deste projecto
prometido uma reformulação do quadro
competitivo da Champions. Pouco mais de
um ano volvido, a 10 de Maio de 2022, seria
aprovado esse novo modelo.
Para compreendermos com maior
amplitude o teor desta transformação,
convém que façamos uma breve retrospectiva
daquilo que foram as alterações de formato
na maior competição de clubes da UEFA
desde os seus primórdios. A Taça dos Clubes
Campeões Europeus realizou-se pela 1ª vez
na temporada 1955/1956 e, nessa época,
contava apenas com um representante de
cada país (foram 16), sendo disputada num
sistema de eliminatórias a duas mãos, desde
a 1ª ronda até à final, esta jogada num só
encontro. Nas primeiras edições os clubes
foram escolhidos por convite, mas desde o
final da década de 1950 esta Taça passou a ser
disputada apenas pelos campeões nacionais
de cada país, tendo-se este formato mantido
praticamente inalterado até aos anos 90. Foi
na temporada 1991/1992 que, pela primeira
vez, se introduziu o formato de fase de
grupos, ainda que para aceder a esta fase
da competição fosse necessário ultrapassar,
antes disso, três eliminatórias. Na temporada
seguinte a prova muda de nome, e é então
que surge o nome “Champions League”.
Durante esta década a Champions foi sendo
alvo de sucessivos ajustes, sendo um dos mais
importantes a inclusão de vice-campeões a
partir do ano de 1997, entre outras alterações
no sistema de grupos e eliminatórias, até que
chegamos ao ano de 2003, em que se passou
a disputar a competição nos moldes que hoje
conhecemos.
Depois de duas décadas sem
alterações de monta, eis que a próxima
temporada trará uma transformação radical
da prova, que passará a ser disputada por 36
equipas em lugar das anteriores 32, e contará
com uma liga única substituindo os 8 grupos
em vigor. Cada equipa realizará, pelo menos,
8 jogos contra 8 adversários diferentes, ao
invés dos 6 jogos contra 3 equipas (casa
e fora). Os clubes serão distribuídos por
quatro potes (consoante o coeficiente) e
defrontarão dois adversários de cada pote,
sendo esses mesmos adversários sorteados
consoante os resultados da ronda anterior
(vitoriosos defrontam vitoriosos, derrotados
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contra derrotados), formato que é apelidado
de “Sistema Suíço” e que é regra em alguns
torneios de xadrez.
Os quatro lugares “extra” serão
distribuídos pelas duas ligas com melhor
coeficiente no final da temporada anterior
(um lugar para a 1ª e um lugar para a 2ª melhor
liga), pelo 3º classificado da 5ª melhor liga, e
ainda um lugar para ser atribuído às equipas
que vêm das pré-eliminatórias pelo “caminho
dos campeões” (campeões de países com
coeficientes mais baixos na UEFA). Resta dizer
que os oito primeiros classificados desta nova
liga da Champions apurar-se-ão directamente
para os oitavos-de-final, enquanto que os
que se classificarem entre o 9º e o 24º lugar
disputarão um play-off a duas mãos, sendo
o caminho da fase a eliminar até à final em
parte determinado pela performance na fase
regular, decisão que a UEFA justifica com a
alegada necessidade de “fortalecer a sinergia
entre a fase da liga e a fase a eliminar”, mas
que aparenta uma intenção bem diferente: a
de garantir que as equipas ditas mais fortes
cheguem incólumes à “recta final” da prova.
Este novo modelo, que passará a
incluir encontros à quinta-feira, irá aumentar
o número de jogos disputados na competição
e, desta forma, aumentar também as
receitas geradas pela mesma, tentando
assim “apaziguar” as intenções das equipas
mais poderosas, que pretendem gerar
mais e mais receitas para aumentar as suas
despesas, num loop que parece não ter fim.
Perante este cenário, fica bem patente que as
sucessivas declarações dos responsáveis dos
organismos que tutelam o futebol (e não só)
que atacavam a criação da SuperLiga, porque
esta violava aquilo que de mais bonito tem
o futebol (a solidariedade, a meritocracia, a
competitividade, etc), soam a pura hipocrisia.
Se é verdade que, de um lado, temos um
conjunto de clubes que querem reforçar
a sua hegemonia no futebol europeu,
depauperando tudo à sua volta, parece
também que aos responsáveis da UEFA,
mais do que fomentar a competitividade e a
solidariedade, interessa realmente é defender
um monopólio e um privilégio intocável. Os
dois lados da “barricada” enchem a boca para
falar do interesse dos adeptos, mas a verdade
é que o que ambicionam é meramente seguir
as tendências dos telespectadores, que mais
não são do que consumidores, nesta nova
faceta do “show biz” chamada futebol.
Este ritmo voraz de jogos em
catadupa pode parecer interessante para
aqueles que assistem do sofá ao espetáculo,
como se da telenovela da noite se tratasse,
mas para o adepto fidelizado, consciente
e militante, o ritmo do futebol negócio
configura-se como uma verdadeira tortura.
Para aqueles que insistem em estar presentes
em todos os encontros do seu clube do
coração, que vivem esse emblema de forma
associativa e o olham como verdadeiramente
seu, esta alteração não produz nada de
bom. Serão mais dois jogos num calendário
já sobrelotado e, muito provavelmente, os
sorteios serão realizados bem mais próximos
da data dos encontros, o que necessariamente
fará disparar o montante gasto nestas viagens
continentais.
A verdade é que estas alterações
parecem não ser suficientes para satisfazer
a gula dos mais poderosos, e o projecto
da SuperLiga voltou à baila, ainda que
em moldes ligeiramente diferentes. A
empresa A22, com o apoio do Real Madrid,
Barcelona e Juventus, veio anunciar a
intenção de relançar a competição, desta vez
apresentando a intenção de incluir 60 a 80
equipas, todas apuradas com base no mérito
desportivo. A lição que a UEFA deveria extrair
é que não é fazendo mais e mais concessões
aos tubarões que vai conseguir saciar o seu
apetite infinito por receitas. Os homens que
lideram estes clubes, tal como os que gerem
as multinacionais que “comandam” o leme
da economia mundial, norteiam-se pelos
valores capitalistas que concentram todos os
esforços e recursos num crescimento infinito,
desprezando os interesses das camadas
populares e da grande fatia da população.
A bola está agora na mão dos aficionados,
pois reside neles a última esperança para
travar este rumo destrutivo que o futebol
tem tomado. O apelo é bem claro: tomem
consciência, unam-se e mobilizem-se porque,
se não o fizerem, nenhum Sebastião nos virá
salvar!
Por J. Sousa
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Interrompemos a nossa procura por mais informação sobre movimentos de apoio
internacionais, salutando o facto de que, entre tanta diferença e diversidade, haja tanto em
comum nesta nossa cultura. Regressamos a casa e assentamos arraiais. Fruto da nossa base
se ter expandido ao longo de três anos de trabalho em prol do panorama nacional, podemos
aprofundar mais sobre a sua história, a qual retratamos de forma muito resumida no número
de estreia da Cultura de Bancada. Juntos abrimos a oportunidade de conhecermos mais sobre
este tipo de realidade, em clube ou em cidade, coisa que começou a suceder-se há dois meses,
quando entramos na “máquina do tempo” das bancadas do “berço da nação”. Desta feita vamos
até à terra que se tornou cidade muito à custa da sua aguerrida gente e dos leixões, um conjunto
de rochas que constituiu um porto de abrigo marítimo natural.
Nos últimos anos do século XIX, Matosinhos tornou-se um dos berços do Futebol
português, embora os matosinhenses ainda não tocassem na “xixa”. Tal deveu-se às equipas/
clubes da cidade do Porto que começaram a jogar à bola num hipódromo daquela vila piscatória,
onde os seus naturais tiveram o seu primeiro contacto com o desporto-rei em 1902, quando
um jovem emigrante retornou de Inglaterra com uma bola de couro e a partilhou no areal da
praia. Foi a semente que levou a que surgissem os Leixões Foot-Ballers, equipa que protagonizou
a fusão com Lawn-Tennis do Prado e Lawn-Tennis de Matosinhos da qual nasceu o Leixões
Sport Club, em 28 de Novembro de 1907. O clube foi formado com os objectivos de servir a
comunidade e de elevar o nome da terra, merecendo então o entusiasmo e participação dos
locais, registando-se um total de 84 sócios fundadores, entre eles homens da indústria pesqueira,
um laço determinante na história leixonense. Desta forma começou a desenvolver-se uma das
mais carismáticas massas adeptas de Portugal.
Nos inícios do século XX, a sociedade não estava familiarizada com o desporto e o
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mesmo não estava acessível a todos, sendo maioritariamente disputado por cavalheiros das
classes altas, algo que contrastava com o povo de Matosinhos, gente pobre que subsistia à base
da pesca, em tempos em que a fome era uma realidade diária. Naturalmente que nos primeiros
anos eram poucos aqueles que assistiam aos “match’s”, algo que foi evoluindo positivamente
com o tempo. Em 1935, na recepção ao Sporting CP, registou-se a maior enchente num campo
do Leixões até ali, contabilizando-se a presença de 4 000 adeptos.
Mais tarde, na manhã de 1 de Dezembro de 1947, durante o período em que
Matosinhos era o maior centro conserveiro nacional, regressa ao molhe sul do nosso porto uma
traineira carregada de sardinha, contrariando o que tinha acontecido com outras embarcações.
A necessidade era grande e, nesse mesmo dia, partiram rumo à Figueira da Foz 103 traineiras.
Infelizmente, as condições climáticas mudaram drasticamente ao anoitecer e quatro embarcações
naufragaram, vitimizando um total de 152 pescadores, naquela que é a maior tragédia marítima
na costa portuguesa. Naquele tempo, Leixões já era o maior porto de pesca do país e a faina era
feita manualmente, levando a que cada traineira empregasse entre 30 a 40 pessoas. O Leixões
SC foi sempre um clube inclusivo, destacando-se como clube-escola eclético, alicerçando o
seu crescimento na sua comunidade. Ofereceu formação pessoal e desportiva, atingindo alto
nível dentro de campos e quadras e colheu frutos da união e sentido de missão da comunidade
envolvente, sendo exemplo disso a construção do Estádio do Mar. Puxando a fita atrás, sempre
foi uma dificuldade do LSC estabelecer-se num só campo e desenvolver o mesmo, uma vez que
eram espaços arrendados e o dinheiro nunca abundava, o que se traduziu em quatro mudanças
de “estádio” até aos anos 50. O problema persistiu, a vila continuou sem ter estádio municipal e
o Leixões continuou a procurar a sua independência. No ano de 1958, o clube conseguiu avançar
com a compra do terreno onde surgiria a sua tão desejada casa, tendo a direcção do LSC, com
gente de renome no sector piscatório, apelando à comparticipação e sacrifício do seu povo para
financiarem as despesas. Há então um acordo entre os mestres do mar, numa altura em que o
peixe abundava, em que havia cerca de 150 traineiras em actividade e a indústria conserveira
continuava a prosperar. O acordo consistia em doar ao clube um tostão em cada cabaz vendido,
não havendo limites de captura e cada traineira podendo apanhar num dia entre 800 a 1 000
cabazes. Multiplicando o valor de 800 cabazes/dia por metade dos dias de um ano, o valor
ultrapassa 7 300€, algo muito mais valioso à época. Juntando a isto o facto de diversas drogarias
doarem materiais de construção, de empreiteiros e trabalhadores comuns se juntarem à causa
pro bono, a concretização da obra deu-se a 1 de Janeiro de 1964. Os pescadores tinham ainda
o desiderato e tradição de serem associados do clube, o qual disponibilizou uma categoria de
associado própria à classe, sendo reduzida a quota em relação ao sócio comum.
Quanto às bancadas, o Leixões já enchia o Campo de Santana com milhares de apoiantes,
que até em cima de telhados de casas viam os jogos. Eram os tempos em que se faziam chapéus
de papel ao estilo chinês e em que os mais novos pediam aos adultos para entrarem de mão dada
para poderem assistir às partidas. Em comparação à actualidade o ambiente era mais fervoroso,
havendo menos contestação interna devido à união. Os primeiros registos que encontramos de
deslocações a terrenos adversários datam de 1953, quando um grupo de adeptos organizou um
comboio especial para irem a Chaves, de 1954, quando 2 000 matosinhenses viajaram até Viseu
(para surpresa do viseenses, registando-se ainda uma deslocação a Barcelos nesse ano) e de
1959, quando foram organizados comboios especiais e autocarros para levarem centenas de
adeptos a Santo Tirso, com mulheres e crianças a acompanharem figuras predominantemente
masculinas. O apoio vocal não era organizado, surgindo de forma espontânea, baseando-se em
palavras de incentivo e no nome do clube, como também do uso de bandeiras, que naturalmente
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eram raras. O primeiro registo em que é possível ver dezenas de bandeiras na bancada é aquando
da subida à Primeira Divisão, em 1958/1959, naquelas que parecem ser bandeiras de papel do
tamanho da palma da mão. No regresso ao principal escalão, ficaram marcados os jogos com
o Benfica e com o Porto, os quais presenciaram 20 000 e 15 000 pessoas respectivavemente,
estabelecendo-se novos recordes de assistência em Matosinhos.
Podemos dizer com certeza que, entre o final dos anos 50 e dos anos 70, o Leixões SC
viveu a sua era dourada a nível desportivo, chegando inclusive a vencer a Taça de Portugal em
1961. A final foi disputada no Estádio das Antas e a maioria dos leixonenses fizeram a pé cerca de
13 quilómetros na ida e na vinda. Também neste período a indústria matosinhense vivia tempos
saudáveis, contribuindo em larga medida para isso as exportações de conversas para o Ultramar.
Tudo isto abriu a porta a muita gente que procurava trabalho, “emigrando” para cá. O centro da
vila era bem diferente do actual, situando-se na zona beira-mar, com artérias como a Rua Conde
São Salvador, a Rua de Brito Capelo e a Avenida Serpa Pinto como “epicentro”, sendo o Café
Girassol e o Café Lindo Mar dois dos principais pontos de encontro dos leixonenses. De lá partiam
sempre grandes romarias, fosse para o Santana, fosse para o Estádio do Mar, apesar da distância.
Mais tarde, em meados de 1971, o LSC não conseguiu evitar a descida à II Divisão,
após o término da fase regular do campeonato. A direcção e a massa associativa entenderam
que essa descida foi forçada pela Federação Portuguesa de Futebol, uma vez que foi imposta
na secretaria. Liderados pelo Dr. Edison Magalhães, entre outros, durante vários dias seguidos
os matosinhenses protestaram e fecharam as entradas e saídas da cidade, fosse pelas estradas,
caminhos de ferros ou pela via marítima, não deixando comercializar nada enquanto a FPF não
voltasse atrás na sua decisão. Posto isto, o nosso Leixões recebeu a positiva notícia da parte da
FPF de que afinal haveria uma liguilha, a qual ultrapassou com sucesso, mantendo-se assim na
primeira divisão. Tudo isto se passou em pleno regime ditatorial, liderado por Marcello Caetano,
numa altura em que não eram permitidas manifestações.
Com a Revolução dos Cravos acentuou-se muito o número de mulheres a viajarem para
os jogos fora, principalmente nas viagens mais longas. Em 1976/77, após dezoito épocas seguidas
na I Divisão, o Leixões desce. Coincidentemente ou não, foi por altura que se instalou uma grave
crise na indústria do pescado, mas os problemas financeiros do LSC já eram herança. A partir daí,
o clube disputou a II Divisão - Zona Norte, procurando incessantemente a subida. Eram tempos
em que as muitas invasões de campo eram acontecimentos normais em Matosinhos, onde a rede
da superior ia sempre abaixo e em que os jogos eram interrompidos devido ao arremesso de
pedras para o relvado. Inclusive, em 1983/1984, o árbitro Santos Ruivo saiu do estádio às portas
da morte, deitado numa maca após ser agredido. Mas há histórias bem mais bonitas, dos anos em
que era “fácil” encher autocarros, sendo exemplo a deslocação a Tadim (Braga), em Dezembro de
1978, que aconteceu por altura do Natal e que foi antecedida por uma semana de mau tempo. Os
pescadores praticamente não saíram para o mar nesses dias, acentuando a escassez de dinheiro,
o que levou a que um dos organizadores mais assíduos de camionetas, o Sr. Valdemar, não o
tenha feito. No domingo de jogo, o “bichinho” mexia com a malta que parava no Café Girassol e,
por acaso, parou ali uma camioneta à hora de almoço. O motorista vai tomar um café e comprar
tabaco para seguir para casa, em Santa Maria da Feira. O Sr. Valdemar mete conversa, questiona
quanto ficaria a viagem para Braga e em cinco minutos enche o autocarro, levando muita gente a
mais, que se sentou em bancos corridos das tascas que foram postos no corredor. Foi uma tarde
de rambóia, com cerveja e muita chuva à mistura num campo ladeado por terrenos de cultivo. À
saída, os leixonenses encheram o autocarro de legumes para a consoada.
Na época 1983/1984 surge o primeiro grupo de apoio organizado, de seu nome
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“Piratas do Mar”. Formou-se então um colectivo idealizado e composto por adolescentes que
acompanhavam o Futebol e o Voleibol leixonense. Apoiados pela direcção de Ricardo Peixinho,
tiveram a primeira sede nas instalações do clube, t-shirt’s próprias e conseguiam mobilizar cerca
de 100 elementos no jogos caseiros. Desde aí até à suspensão da Máfia Vermelha, todos os
grupos apoiavam desde a bancada superior, e nos jogos fora costumavam organizar autocarros,
que costumavam encher. Aliás, numa viagem a Famalicão, o neto do proprietário da rodoviária
matosinhense levou uma camioneta da empresa sem autorização. Depois disso, a Resende passou
a disponibilizar um autocarro. O grupo apresentou-se com as primeiras bandeiras de grandes
dimensões rubro-brancas abanadas em ferros, tendo sido pioneiro no movimento leixonense na
utilização de potes de fumo, fumos esses adquiridos através da Juventude Leonina, na sequência
de contactos que levaram a que os Piratas do Mar tivessem representados por um membro no I
Congresso Nacional de Claques, que decorreu em 1984 na Nave de Alvalade. Dois ou três anos
mais tarde o grupo cessaria a actividade.
A segunda claque a surgir foi “Lobos do Mar”, fundada em 14 de Fevereiro de 1986. Na
sua composição já havia uma mistura de gerações, sendo que também foram integrados antigos
Piratas. Pelos registos que encontramos, foi o primeiro grupo leixonense a apresentar a palavra
“Ultra” numa faixa. Alugavam camionetas para deslocações com dinheiro angariado através de
rifas e permutavam bilhetes com grupos de apoio ou direcções de outros clubes. Há a destacar
ainda as boas relações com gilistas, com quem chegaram a ter convívios nos quais também
participou Penteado, icónico avançado. Os grupos de apoio leixonenses supracitados não faziam
do apoio vocal a sua principal força, uma vez que cantavam músicas muito básicas que eram
transversais a vários clubes, como “a pulga salta, a pulga grita e o Leixões é a melhor equipa”, “oh
Leixões, oh Leixões, não tenhas medo de sujar a camisola, a camisola e os calções, marca um golo
para sermos campeões” e “viva o alho, viva o alho e xyz vai para o caralho”. Uma das memórias
mais bonitas destes tempos é a tradição do capitão de equipa entrar em campo com um peluche
à Leixões, o qual atirava para a claque. No final do jogo, o peluche era devolvido na rouparia para
que o ritual se repetisse duas semanas depois. Tudo isto aconteceu durante cerca de três anos.
Há então um interregno no movimento organizado de apoio leixonense, interrompido
em 1992. Dois jogos antes da meia-final da Taça de Portugal, disputada no Mar contra o Porto,
surgem os “Heróis do Mar”, criados por estudantes das secundárias de Matosinhos que curtiam
as ondas Psycho Billy e Oi!. A faixa tinha o nome do grupo em cima e em baixo “Ultra Leixões”,
sendo que cantavam sobretudo “we are hooligans” e “é pra a esquerda allez, é pra direita allez,
é pra cima allez, é pra baixo allez allez, allez Leixões allez”. O jogo da Taça ficou marcado por
incidentes na bancada, nos quais se envolveram elementos do grupo, e a verdade é que o mesmo
não durou para além daquela tarde.
A situação do clube piora com a descida à “rua escura”, a II Divisão B, em 93/94. Por
essa altura, três adolescentes oriundos da Rua Conde São Salvador, que tinham o costume de ir à
bola com a família, decidiram criar um grupo de apoio, composto por 20/30 leixonenses da zona
da rua da praia nova. Denominaram-se de “Strogonoff’s” e pintaram a sua faixa principal numa
empresa de plásticos. Apresentavam-se com coletes iguais, utilizavam tochas e potes de fumo,
inovando com o uso de tiras de plástico e cascatas de papel higiénico. O grupo que manteve
actividade durante dois anos, estava sediado no café do pai de um elemento e organizou algumas
deslocações, viajando no autocarro emprestado pela Escola de Condução Beira-Mar até Viana do
Castelo, Sandim e Freamunde, por exemplo.
Em 1996 surgem os Ultras Leixões, fundamentalmente composto por malta dos bairros
de Carcavelos, Cruz de Pau, Biquinha e de Sendim. Era malta “pesada”, que muitas vezes não
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queria jovens no seu meio e que baseava o seu material de apoio na sua faixa principal, dois
bandeirões com bulldog’s e outras bandeiras rubro-brancas. Na Escola Industrial, alguns Ultras
Leixões conheceram o professor Bruno, o qual já tinha militado nos Dragões Azuis e pertencia ao
Colectivo, que lecionava Educação Visual e desenhou algumas faixas lindíssimas para os UL96.
Nos jogos fora viajavam de comboio, Resende (rodoviária de Matosinhos) ou em carrinhas de
transporte ao molhe e fé em Deus, com a preparação/organização a ser feita no ringue do Senhor
do Padrão ou na escola. Parte do seu financiamento era angariado através da venda de rifas (o
prémio era uma bola do Leixões, comprada no Continente) nos jogos em casa, e ao intervalo
anunciavam no sistema de som do estádio o vencedor, que “invariavelmente” saía sempre à
casa. Nesses anos era habitual os clubes visitados mudarem o preço do bilhete em cima da hora
de jogo, como aconteceu num célebre jogo no Marco, em que os primeiros bilhetes saíram a 1
000 escudos e depois de se aperceberem que iam ter enchente, meteram um carimbo a marcar
2 500 escudos. Isso gerou contestação e motivou a ira dos leixonenses, que forçaram a entrada,
tendo inclusive levado à frente Avelino Ferreira Torres. As suas coreografias eram baseadas nas
tradicionais cascatas de papel higiénico misturadas com papel cortado, acompanhadas de tochas
(nesse tempo já se faziam tochas com bolas de Ping Pong embrulhadas em prata), embora se
destacassem mais pelo contexto hardcore e aventuras violentas ao longo dos cerca de seis anos
de actividade.
Durante a época 1998/1999, “bebés do Mar” das equipas de infantis e iniciados, que
antes pertenciam aos Ultras Leixões, decidem fundar a sua própria claque, a “Mancha Vermelha”.
Ao criarem o grupo, deparam-se com os poucos recursos materiais e, após um jogo, dirigiram-se
até à praia para sacarem uma lona publicitária de um bar e juntaram dinheiro para tinta vermelha
e preta, pintando o nome do colectivo e uma cruz celta, sem fundo ideológico. Os panos que
conseguiram juntar foram usados para os transformar em bandeiras e estandartes, pintando-
-os sem protecção no pátio da casa de um fundador, deixando o chão marcado de inscrições
como, por exemplo, “Anti-Sul”. No final de um jogo, um sócio do LSC ofereceu àqueles jovens
um bandeirão rubro-branco e uma bandeira suiça, que é possivel ver em fotos antigas dos Lobos
do Mar. Fizeram em papel os cartões de membro, que depois eram plastificados, meramente
por uma questão de orgulho. Era costume procurarem recolher extintores e num jogo com o
Porto b abriram três, proporcionando um belo impacto visual, numa altura em que era difícil
arranjar tochas. Para outro jogo caseiro, conseguiram reunir mais de 100 rolos de papel higiénico,
tendo sido distribuídos dois ou três rolos por elemento. Passaram o jogo a mandarem os rolos,
uma vez que os que não abriam eram devolvidos pelos apanha bolas para novas tentativas.
Marcavam sempre presença nos jogos caseiros, não conseguindo atingir a mesma consistência
nas deslocações, uma vez que eram atletas de formação e nem sempre era possível conciliar
os jogos e tratando-se de um grupo de miúdos, estavam dependentes de boleias. Conseguiam
mobilizar entre 10 a 60 leixonenses, dependendo dos jogos, cantando praticamente sempre as
mesmas músicas, sem materiais que acompanhassem o esforço vocal. O grupo acabaria passado
cerca de um ano e meio.
Entretanto, na época 2000/2001, o Leixões desloca-se ao José de Alvalade para um jogo
da Taça, jogo em que os Ultras Leixões se apresentaram com uma t-shirt nova. Outros leixonenses,
que já tinham pertencido a outras claques ou que curtiam a onda, organizaram autocarro e
apresentaram-se com a faixa “Matosinhos Rebels - Grupo Anti-Tripas”. Para isso roubaram uma
lona, pediram o empréstimo de um retroprojector a uma escola e aproveitaram a noite para, no
ringue da Cruz de Pau, desenharem o nome em letras góticas. O que aconteceu naquele jogo não
teve continuidade.
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Os “Red Rebel’s” surgem em Novembro de 2001, num jogo na Póvoa de Varzim, um dos
que fez parte da histórica caminhada até ao Jamor, e passado uma semana separam-se, durando
apenas dois jogos.
A “Frente Leixonense” foi fundada após uma cisão nos Ultras Leixões em Dezembro
de 2001, embora a sua faixa tivesse a inscrição “FL02”. Essa faixa principal era a da Mancha
Vermelha, tendo sido toda pintada de preto para, à posteriori, levar as letras rubro-brancas.
Contaram com antigos elementos de claques antecessoras, sendo mais de 50 nos jogos em casa,
e destacaram-se pelo uso de megafone e inovação na confecção de material de bancada, bem
como de cachecóis, tendo sido o primeiro grupo a ter cachecol próprio, que foi desenhado pelo
professor Bruno. Foi mais um colectivo que procurou extintores por todo o lado para poder abrir
na bancada, onde revelaram serem inconstantes no apoio vocal durante a época e meia em
que se organizaram. A par dos Ultras Leixões, estiveram presentes na meia-final de Braga, na
qual ambos os grupos fizeram uma cascata de papel, que a seguir foi sendo junto e incendiado.
Meses depois, para a final do Jamor, deslocaram-se 12 000 pessoas para apoiarem o Leixões,
numa jornada marcante para todos os presentes. A Frente apresentou uma grande camisola
rubro-branca, tendo o pessoal que se tinha apresentado no ano anterior como “Matosinhos
Rebels” tentado, sem sucesso, organizar no dia uma coreografia em cartolinas. Nesse tempo,
os leixonenses tinham adaptado as músicas “Só Eu Sei” e “És a Nossa Fé” da Juventude Leonina.
O povo matosinhense prestou um enorme apoio, principalmente na segunda parte, cantando
repetidamente a “Uma equipa belíssima, uma equipa fantástica”, precisamente num confronto
com o Sporting.
Na época seguinte, fruto do êxito na competição rainha, o Leixões disputa a Supertaça
Cândido de Oliveira e a Taça UEFA, não se registando presença dos grupos organizados leixonenses
no estrangeiro. Nesse verão, miúdos do Bairro dos Pescadores resolvem criar a sua claque com
o nome “Putos do Mar”, tendo andado pela Cidade a perguntar quem se queria juntar a eles e
a distribuir fichas de inscrição. Pintaram material e foram para a bancada fazer o melhor que
sabiam, algo que aconteceu em meia dúzia de jogos. Eram tempos de gente com vontade, mas de
muita inconsistência. Julgo que, durante os anos na “rua escura”, faltou por cá fundamentalmente
um projecto bem estruturado. Apesar disso, o Leixões sempre teve muito apoio em casa e fora,
sendo o “abono de família” para os visitados e “assustador” para os visitantes, sendo raro o jogo
que não dava estalo. Poucos eram os grupos de apoio existentes na II Divisão B e menos ainda
eram os que cá vinham, salvo excepções como, por exemplo, os Fama Boys e os Green Devils.
Ainda em 2002/2003 aparecem os “Red Demons”, criados na Escola Básica Prof.
Óscar Lopes, no bairro da Cruz de Pau. O professor Bruno foi transferido da Industrial para lá,
onde começou a fazer actividades extracurriculares com jovens problemáticos na pintura de
camisolas com técnicas de Graffiti. Numa dessas sessões o professor ouve falar pela primeira
vez em “Red Demons” e, questionando o aluno, o mesmo explicou-lhe que era uma ideia de
criar uma nova claque para o L.S.C., tendo o nome Red Demons surgido numa aula de Inglês (no
ano letivo precedente), com ajuda de uma professora. A partir daí, Bruno Sampaio começa a
desenvolver a ideia, tendo também criado o logo e desenhado material. Trocaram-se as atividades
extracurriculares de pintura pelo “Espaço Red Demons”, dando assim um cariz ainda mais social a
um projeto dum grupo de apoio. Para tal e muito mais, contribuiu a professora Aurora Anastácio,
que era à altura a diretora da Escola e uma leixonense ferrenha. Aproveitando o espaço, a nova
geração Ultra era cultivada com reuniões do grupo, criação de cânticos, desenho e pintura de
material e coreografias, etc. O apoio vocal e a pirotecnia improvisada com extintores, com tochas
artesanais feitas de prata e bolas de Ping-pong, ou até mesmo com cal comprada em drogarias,
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que punham em garrafões para depois abanar, também contribuíam para o espetáculo que
proporcionavam. De referir que o professor, em algumas partidas, esteve lado-a-lado na bancada
com os seus alunos, sendo um dos momentos mais marcantes quando o professor mostrou a
prova do primeiro cachecol do grupo a alguns jovens, algo que era como o concretizar de um
sonho para miúdos que muitas vezes viam as suas expectativas desfeitas. Igualmente memorável
são momentos como o primeiro aniversário, festejado na Escola, na qual a comunidade escolar
recebeu uma comitiva do clube, onde perfilavam dirigentes, jogadores como Pedras (originário
daquele bairro), Brito, etc. Marcante é ainda o facto dos adolescentes e o professor passarem
parte das férias escolares a pintarem material na Escola, como também o facto de nos dias de
torneio inter-turmas as faixas e estandartes estarem afixados nas redes do campo e à volta do
mesmo haver um ambiente de estádio. Com o surgimento da Máfia Vermelha e com o intuito
de fortalecer o apoio ao clube, ambos os grupos partilharam algumas vezes o mesmo sector (e
também uma sede, disponibilizada pelo clube). Numa altura em que menos de cinco membros
ainda resistiam à tentação de pertencerem à Máfia Vermelha, findaram a sua existência em
2004/2005, com cerca de três anos de atividade.
A 22 de Maio de 2003, no ano de regresso à II Liga, é fundada a “Máfia Vermelha”.
Inicialmente, foi proposto a dois fundadores assumirem a Frente Leixonense, mas após
ponderação optaram por trilhar um novo caminho. Tudo o que veio de trás foi “maturação”, e
os fundadores da Máfia tiveram o condão de cativar e unir malta de muitos grupos anteriores.
Inovaram muito no contexto leixonense, mobilizando sempre boas massas em casa e fora. A nível
vocal tornaram-se um dos mais consistentes e fortes grupos nacionais, fazendo coreografias de
dimensões e qualidade nunca antes vistas no universo leixonense, não descurando o confronto
físico. Em 17 anos de actividade, a MV03 não marcou presença somente uma vez, por boicote,
e fez por merecer o reconhecimento que lhe é dado até hoje. Fora da bancada apoiaram o clube
em momentos conturbados, sendo exemplo disso a oferta de um corta relva e de quase 15 000 €.
Este é o grupo leixonense que mais ficou marcado na história do Leixões Sport Club e dos próprios
leixonenses, deixando uma grande herança e um enorme vazio após a sua suspensão em 2020.
No dia 22 de Maio de 2021, de forma a relembrar e homenagear todos os leixonenses
e grupos que “desapareceram”, especialmente a Máfia Vermelha, foi organizado o I Memorial
Apenas Diferentes. Nessa edição, realizada no Estádio do Mar, foi feito um minuto de silêncio
em memória de quem já não está entre nós, foram apresentadas faixas verdadeiras e réplicas
de todos os grupos de apoio e uma fumarada em jeito de despedida das portas 1 e 2 do Estádio
do Mar. Na segunda edição, foram novamente homenageados leixonenses e houve torneio de
Futebol de 5, o que aconteceu igualmente este ano, adicionando-se a isso a apresentação do livro
“Apenas Diferentes”, que aborda a história da Máfia Vermelha. Também em 2023, um grupo de
amigos independente pintou um mural de 150 metros no Estádio do Mar, reservando um espaço
no qual homenageou todos os grupos de apoio.
Hoje em dia, o apoio “claqueiro” é dado por um grupo de amigos independente e pelos
Ultras do Mar, grupo fundado em 2022, voltando a ser muito mais desorganizado e espontâneo.
Por L. Cruz
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O NOVO DIPLOMA DAS
SOCIEDADES DESPORTIVAS
UM NOVO DIPLOMA
Depois de, em 2013, o governo
em funções ter reformulado o quadro das
competições profissionais ao obrigar a que
os clubes que participassem em competições
profissionais assumissem uma forma
societária, fosse ela através de uma SAD ou
de uma sociedade unipessoal por quotas
(SDUQ), através da emanação do Decreto-Lei
nº10/2013, o mesmo viu-se na contingência
de reformular o diploma que esteve em
vigência durante dez anos.
para as que ocorreram fruto do diferendo
entre os Belenenses e a Codecity, entidade
que era accionista maioritária da sua SAD, ou
a insolvência do Clube Desportivo das Aves,
sem que o diploma aplicável conseguisse dar
uma resposta jurídica a esses (mas, ainda
outros que foram surgindo) problemas.
Aliás, o governo português, em
comunicado no seu sítio oficial, ao anunciar
o novo diploma (a Lei 39/2023), era claro em
afirmar que “Considerando que cerca de 20%
das sociedades desportivas constituídas até
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Na verdade, a década que
transcorreu demonstrou que o diploma,
que nessa altura entrou em vigor, não foi
capaz de responder aos desafios que se lhe
foram colocando. Nada de surpreendente,
atendendo ao facto da omissão de previsão
de situações ser corrente nos normativos
jurídicos, levando ao surgimento das regras
de interpretação jurídica, mas preocupante
pelo sem número de situações que foram
ocorrendo, com especial ênfase, a nosso ver,
hoje foram ou estão a caminho da extinção,
insolvência ou dissolução e que, em alguns
casos, os clubes fundadores foram arrastados
pela queda das respetivas sociedades
desportivas, tornou-se prioritário avançar
com alterações ao regime destas sociedades
procurando-se, ao mesmo tempo, assegurar
uma maior regulação ao setor, de forma a
torná-lo mais atrativo para a captação de
investimento.”
Ou seja, durante dez anos, assistiu-
se ao avolumar de situações agónicas, à
entrada de investidores de dúbias intenções,
a conflitos entre clubes e accionistas, sem
que até hoje algo fosse feito. Assim, para
obstar a estas situações apostou-se num
diploma que, na sua generalidade, pretende
o “equilíbrio de direitos na relação entre
clubes fundadores e sociedades desportivas,
o reforço dos requisitos de idoneidade e
incompatibilidades, a criação de quotas
de género nos órgãos de administração e
fiscalização, o aumento da transparência e
dos deveres de informação, assim como a
criação de um regime contraordenacional,
um canal de denúncias específico e mais e
melhor fiscalização a estas sociedades.”
Serão estas vertentes que
procuraremos deslindar nesta exposição,
ainda que de modo sucinto, devendo os
interessados aprofundar estes pontos nas
diversas publicações e artigos que vão
surgindo relativamente a esta matéria.
EM BUSCA DA TRANSPARÊNCIA
Diga-se, porém, que o principal
escopo a alcançar pelo legislador foi a
transparência, principalmente, no que tange
a participações no capital social e direitos de
voto e, ainda, à identificação de beneficiários
de participações. Aliás, um dos maiores sinais
de combate à opacidade que grassou nestes
entes residirá na aplicação de medidas de
combate ao branqueamento de capitais e ao
financiamento do terrorismo previstas na lei
83/2017, de 18 de Agosto.
De mãos dadas com a transparência
estarão o reforço dos requisitos de idoneidade
para os integrantes dos respectivos Conselhos
de Administração. Assim, não deverão ter
sido condenados por crimes como racismo
ou xenofobia, por ilícitos contra sociedades
desportivas, mas também outro tipo de
crimes que vão desde o terrorismo até ao
tráfico de substâncias psicotrópicas nos
últimos cinco anos. Porém, mais do que isso,
deverão demonstrar junto de uma entidade
fiscalizadora a capacidade económica para
proceder a investimentos, bem como a
procedência dos meios financeiros para
realizar esses actos. O organismo incumbido
dessa missão será o Instituto Português do
Desporto e da Juventude, que terá atribuições
para realizar inquéritos, inspecções,
sindicâncias e auditorias externas para
aquilatar da idoneidade e entre eventuais
conflitos de interesses dos investidores,
administradores e gerentes.
Com uma procura tão clara de se
obter a máxima transparência nas sociedades
desportivas, ainda que tenha reduzido o
capital mínimo societário exigido aos clubes
de 10% para 5%, não será de surpreender
as preocupações com a publicidade que
o diploma demonstra. Deste modo, as
sociedades desportivas encontram-se,
agora, obrigadas a publicar no seu sítio
de Internet o seu contrato societário, as
contas dos últimos anos, a composição dos
órgãos de administração e de fiscalização e,
ainda, as comunicações dos sócios relativas
à subscrição ou aquisição de participações
sociais. Deverão, ainda, aquando da
realização de transferências de jogadores
profissionais, prestar todas as informações
relativas às mesmas, como o seu valor e a
percentagem de direitos que é alienada à
respectiva federação, bem como à entidade
fiscalizadora, que já mencionamos qual era.
A IMPORTÂNCIA DA PARIDADE
Num diploma adaptado aos
novos tempos, não será de surpreender
outra inovação que passa por um regime
de paridade de sexos. Assim, apesar de um
clube não poder ser titular de capital social de
mais do que uma sociedade desportiva que
tenha por objecto o mesmo desporto, a nova
lei excepciona esta regra, permitindo que
o clube, na mesma modalidade desportiva,
possa criar outra sociedade, desde que se
refira ao sexo feminino. No fundo, o legislador
tomou em atenção a relevância crescente
que o futebol feminino está a merecer, dando
a possibilidade do seu desenvolvimento
29
através desta possibilidade.
Porém, vai mais além. Assim,
colocou no diploma uma norma de quotas
de género, definindo que cada órgão de
administração e fiscalização das sociedades
devam ter, no mínimo, 1/3 de componentes
do sexo feminino.
Falemos, agora, de outras curiosas
especificidades. Assim, se o anterior diploma
criou a figura societária da sociedade
unipessoal por quotas, a SDUQ, que permitia
que o ente fundador, ou seja, o clube, ficasse
detentor de uma quota única, agora a lei
remete para outra possibilidade e regulada
pelo Código das Sociedades Comerciais: as
sociedades por quotas, como existem em
outros ramos empresariais.
A SALVAGUARDA DO CLUBE FUNDADOR
Todas estas sociedades passarão a
ter uma valiosa salvaguarda que no anterior
diploma não existia. Assim, para evitar casos
como os que ocorreram com o Desportivo
das Aves, que viu penhorada a Taça de
Portugal por si conquistada, o artigo 30º sob a
epígrafe “Dissolução, Insolvência e Extinção”
estipula que “Em caso de dissolução,
insolvência ou extinção da sociedade
desportiva, as instalações desportivas, se não
forem indispensáveis para liquidar dívidas
sociais, o palmarés desportivo e os troféus
conquistados pela sociedade desportiva
devem ser reconhecidos e atribuídos ao
clube desportivo fundador, desde que
este mantenha essa qualidade à data da
dissolução, insolvência ou extinção.” Procurase,
pois, garantir que os troféus e honrarias
conquistados se mantenham nas mãos do
clube fundador, para quem os mesmos
têm um valor estimativo e sentimental
bastante superior do que para a maioria dos
accionistas, às vezes desprovidos do vínculo
afectivo para com o emblema fundador da
sociedade.
Outro ponto destinado a
salvaguardar os interesses do clube fundador,
defendendo-o, consiste na possibilidade
que este passa a ter de eleger um seu
associado para o conselho de administração
da SAD, com direito a participar nas
reuniões, mas sem direito de voto. Mesmo
sem capacidade de influir as decisões dos
homens do dinheiro pretende-se que, pelo
menos, possam desempenhar um papel de
vigilância das medidas levadas a cabo pelos
administradores.
APLICAÇÃO DE REGIME CONTRA-
ORDENACIONAL
Por fim, deveremos falar de uma
30
das principais novidades do diploma, o
regime contra-ordenacional nele inserto e
que obriga a que as entidades desportivas
não se desviem da legalidade aí definida.
Assim, por qualquer infracção, poderão
ser responsabilizadas as pessoas singulares
e colectivas independentemente da
regularidade da sua constituição.
Além disso, as entidades
fiscalizadoras podem passar a recorrer
a medidas cautelares, quando tal seja
necessário, como a suspensão preventiva de
algumas funções.
PONTOS DE EVOLUÇÃO
Não existirão diplomas perfeitos.
Aliás, as normas deverão ser merecedoras de
um constante aperfeiçoamento, procurando,
de modo constante, uma adaptação às
situações que vão surgindo. Porém, algumas
questões deveriam ser aprofundadas,
desde logo o modo de fusão de sociedades
desportivas, de modo a impedir o surgimento
de entes estranhos e quase esotéricos.
Além disso, deve também ser considerada a
regulação de situações em que um investidor
salta de um clube fundador para outro,
como aconteceu no AVS SAD, abandonando
o anterior e levando consigo os direitos
desportivos do primeiro, numa forma de
ascensão artificial, mas que a lei em nada
poderá opor.
Para além disso, porque não
privilegiar os adeptos? Por que não prever a
possibilidade, ainda que sem direito de voto,
de um grupo de sócios poder ter assento nas
reuniões do Conselho de Administração da
sociedade, de modo a apresentar sugestões
ou levar a cabo reclamações?
Poderemos ainda abordar a
previsão e a regulamentação de grupos de
sócios poderem adquirir títulos, juntando-os
e podendo votar de forma global.
O caminho é longo e ainda está no início...
Por Vasco Rodrigues
31
À CONVERSA COM
ULTRAS-TIFO
32
Como e quando começa o projeto Ultras-
Tifo? Quais eram os objectivos iniciais do
projeto? Mantêm-se os mesmos ou, com
o passar do tempo, foram acrescentados
outros? Por quem e como é composta a
vossa equipa? São todos do mesmo país?
Deixem-me apresentar-me. Sou búlgaro e
uma das três pessoas que detêm e gerem o
ULTRAS-TIFO.net (UT). Juntei-me à equipa
em 2010, embora já participasse no fórum há
vários anos.
O Ultras-Tifo foi inicialmente fundado em
dezembro de 2004, principalmente como
um fórum. O seu principal objetivo era ligar
pessoas da comunidade ultra de todo o
mundo, permitindo-lhes partilhar imagens e
informações entre si.
A criação do UT foi um esforço de colaboração
entre dois irmãos, adeptos do Sporting CP,
cujas cores influenciaram a nossa identidade,
e um norueguês. Pouco tempo depois, os dois
irmãos abandonaram o projeto por terem ido
para a tropa, deixando o nosso administrador
norueguês a tratar de tudo sozinho. Um
pouco mais tarde, um segundo indivíduo, um
croata, juntou-se à equipa. Eu, como já referi,
passei a fazer parte da UT em 2010.
Nessa altura (2010) o nosso website já estava
a funcionar há alguns anos, e a nossa página
no Facebook estava criada. O UT evoluiu
para uma espécie de sítio web “mediático”,
coincidindo com o declínio gradual dos
fóruns. Hoje em dia, as pessoas têm acesso
em tempo real a plataformas de redes sociais
como o Instagram, o Twitter e outras, mas o
UT continua a atrair um número significativo
de visitantes todos os meses que apreciam
os nossos artigos, reportagens fotográficas e
outros tipos de publicações.
Consideram que ser adepto/ultra tem uma
importância relevante nas vossas vidas e
no vosso desenvolvimento pessoal? Como
é que o projeto contribuiu para o vosso
desenvolvimento pessoal e mesmo como
ultras?
Sem dúvida, o facto de sermos ultras e
estarmos presentes nos jogos durante todos
estes anos foi, sem dúvida, benéfico. Teve um
impacto positivo tanto no website enquanto
projeto como em nós, enquanto pessoas que
o gerem. Ao contrário das redes tradicionais
de comunicação social, temos uma ligação
profunda ao que fazemos porque vivemos
uma emoção real todos os fins-de-semana.
Quais são as maiores dificuldades com que
se depara o Ultras-Tifo? Tendo em conta
que gerem o fórum, que estão presentes
em diferentes plataformas e que publicam
regularmente, a dimensão do projeto torna
a vossa tarefa mais difícil?
O nosso maior desafio é encontrar o
equilíbrio entre a família, o nosso trabalho
na vida real e os Ultras-Tifo (UT). O UT é um
projeto que exige muita atenção e tempo,
mas é algo que não podemos deixar de fazer
porque gostamos genuinamente de o fazer.
Gostamos de ser úteis e informativos para as
pessoas, mas o aspeto mais gratificante são
as fortes ligações que criamos uns com outras
pessoas ao longo dos anos. Podemos dizer
com confiança que não teríamos conhecido
ou estabelecido contacto com muitas destas
pessoas se não fosse o projecto.
que se mantêm fiéis à “velha forma” de
acções mais discretas, revelando-as apenas
depois do facto consumado - esse é o aspeto
romântico.
Um aspeto positivo é que, hoje em dia, é
possível ver facilmente as fotografias de um
determinado jogo quase em tempo real.
Lembro-me dos dias em que tinha de esperar
que alguém partilhasse uma fotografia de um
jogo, por vezes durante dias.
Sentem que o vosso trabalho é devidamente
reconhecido pelos outros adeptos?
Olha, por muito que gostemos de fazer isto,
se não houvesse interesse e feedback dos
nossos seguidores teríamos acabado por
parar. Claro que há quem nos veja apenas
como mais um site, mas também temos
um núcleo muito fiel de seguidores que nos
acompanham há anos. Agradecemos-lhes
sinceramente por confiarem em nós para
lhes fornecermos informações e multimédia
exactas e genuínas.
Surgiram novas plataformas que
transformaram a divulgação de informação
entre os adeptos organizados. Acreditam que
a busca pelo protagonismo instantâneo pode
ser prejudicial para o movimento ou acham
que traz algo positivo? É preciso ter critério
no que é publicado?
Como em tudo, há aspectos positivos e
negativos, dependendo de como é utilizado.
Pessoalmente, o que me deixa uma
impressão negativa é a parte hooligan destas
“reportagens”. Hoje em dia, é frequente ver
grupos de jovens a publicar coisas como
“estamos aqui, à procura de X, mas não
apareceram”, como se estivessem a tentar
documentar todos os momentos para
construírem uma imagem para si próprios.
No entanto, esta abordagem não funciona.
Felizmente, ainda há muitos grupos sérios
Consideram que os diferentes agentes
desportivos, governos e autoridades de
segurança têm uma verdadeira compreensão
do fenómeno cultural que são os adeptos em
geral e os ultras em particular?
Não, esse tipo de pessoas vêem-nos como um
problema. Não querem saber do nosso amor
por um determinado clube, dão prioridade
aos negócios. Tudo o que vêem é alguém que
pode interferir com a sua agenda. Aproveitam
qualquer oportunidade conveniente para
proibir a entrada de indivíduos ou mesmo
de grupos inteiros nos estádios. Assistimos
a isto com os Ultras Sur (Real Madrid) e,
infelizmente, é um padrão com muitos outros.
33
34
Quais são as causas fundamentais pelas
quais é essencial lutar durante a próxima
década no movimento ultra?
Por mais triste ou mundano que possa
parecer, a nossa luta é fundamentalmente
pelo nosso direito a estar nos estádios. Muitos
clubes, sobretudo os maiores, que atraem
muito interesse turístico, são cada vez mais
indiferentes aos ultras. Não se importam se
não houver ninguém a cantar, porque podem
continuar a vender bilhetes para encher
esses lugares com turistas e “espectadores
de teatro”. Não posso afirmar que sei como
podemos ganhar a luta pelo “ser ou não ser”,
mas estou certo de que todos nós lutaremos
com todos os meios necessários para fazer
valer o nosso direito de estar presente. É
essencial reconhecer que os ultras trazem a
forma mais pura de amor e paixão aos seus
clubes.
O que pensam da cultura de adeptos e do
movimento ultra em Portugal?
Uma boa cena com características próprias,
como muitas outras na Europa. Sobretudo no
passado, quando tudo era mais descontraído
e acessível. Hoje em dia há muita repressão
contra os ultras, como referi anteriormente.
Infelizmente, isso acontece em todo o lado,
mas continuamos a assistir a grandes acções,
tanto dentro como fora dos estádios.
Que caminhos consideram que devem ser
seguidos para que haja um reforço da cultura
dos adeptos e dos próprias ultras?
Sou totalmente a favor da manutenção
das tradições do passado. As pessoas mais
velhas devem dialogar com as gerações
mais novas, que são novas na cena ultra.
Devem explicar que ser ultra é mais do que
apenas apoiar a equipa durante 90 minutos
ou entrar em conflitos com outros adeptos.
É um modo de vida distinto que se estende
para além do futebol. Uma vez demonstrado
o teu empenho e seriedade, deixas de ser
apenas um entre muitos adeptos e passas
a fazer parte de uma família que se ajuda
mutuamente em vários aspectos da vida.
Para além disso, é com orgulho que defende
o seu clube, as suas cores, a sua cidade e os
seus irmãos.
O que pensam das fanzines como meio
de comunicação? Consideram que são
importantes para o desenvolvimento desta
cultura nas pessoas?
Adoro-as. No passado, comprava muitos
números da Supertifo italiana e da Fan’s
Magazine, apesar de não falar italiano.
Fazia-o por pura afeição a essa cena em
particular. Actualmente, acumulei centenas
destas revistas com milhares de fotografias,
a maioria das quais não está disponível na
Internet. Por isso, para mim, ver uma fanzine
é como uma explosão do passado. Dou todo
o meu apoio aos grupos e às pessoas que
continuam a criá-los.
Uma mensagem final para os nossos leitores.
Mantenham-se fiéis à vossa família, amigos
e princípios porque, neste mundo louco, eles
são tudo o que temos.
35
MEMÓRIAS Da BANCADA
DESLOCAÇÕES HISTÓRICAS
FOTOS CEDIDAS POR RAÚL RODRIGUES, J. CAMPOS, M SOARES
Bologna x Sporting
1990/1991
Inter x Sporting
1990/1991
36
Leverkusen x Benfica
1993/1994
Milão x Porto
1993/1994
37
Parma x Benfica
1993/1994
Parma x Benfica
1993/1994
38
Barcelona x Porto
1993/1994
Real Madrid x Sporting
1993/1994
39
Real Madrid x Sporting
1994/1995
Real Madrid x Sporting
1994/1995
40
Sampdoria x Porto
1994/1995
Sampdoria x Porto
1994/1995
41
Nápoles x Boavista
1994/1995
Nápoles x Boavista
1994/1995
42
Nápoles x Boavista
1994/1995
Hajduk x Benfica
1994/1995
43
Lyon x Farense
1995/1996
44
Lyon x Farense
1995/1996
Barcelona x Vitória SC
1995/1996
Barcelona x Vitória SC
1995/1996
45
Milão x Porto
1995/1996
Fiorentina x Benfica
1996/1997
46
Inter x Boavista
1996/1997
Real Madrid x Porto
1999/2000
47
Roma x Vitória FC
1999/2000
Espanhol x Porto
2000/2001
48
Juventus x Porto
2001/2002
Lazio x Porto
2002/2003
49
Estamo-nos a aproximar do final do ano civil, altura de diversos jogos grandes e de várias
partidas europeias, que proporcionam sempre bons registos. Apresentamos, então, mais um
Resumo de Bancada, pela 20ª vez!
1. FC Union Berlin x SC Braga | 03-10-2023
Não eram muitos, mas os suficientes para
marcarem nova presença bracarense num
reduto estrangeiro. Foi o primeiro jogo fora
de casa do Braga nesta fase de grupos das
competições europeias e logo no mítico
Olympistadion, em Berlim, casa emprestada
ao Union Berlin, que está impossibilitado de
realizar os seus encontros europeus no seu
Estádio An der Alten Försterei, o que tem
motivado protestos dos adeptos da formação
do leste da capital alemã, como foi o caso
neste encontro.
Num canto de uma das bancadas, que estavam
compostas por mais de 73 mil espectadores
(!), os braguistas que se encontravam em
Berlim tiveram a felicidade de assistir a uma
reviravolta épica, de um 2-0 para um 2-3,
em que o último golo foi feito no 4º minuto
depois dos 90. Uma alegria imensa para os
minhotos, que naquele fervoroso ambiente
quase passava despercebida.
FC Porto x FC Barcelona | 04-10-2023
O Dragão encheu para receber o Barcelona,
emblema que naturalmente dispensa
apresentações, em mais um embate a contar
para a Liga dos Campeões. Com uma espécie
de mosaico com uma pequena imagem do
troféu da Champions nas mãos de cada um
dos presentes, houve um efeito interessante
na entrada das equipas em campo, momento
50
que também deu origem a uma coreografia
apresentada pelos Super Dragões e,
posteriormente, a um pequeno espectáculo
com mistura de fumo azul e pirotecnia feito
pelos Casuals.
O ambiente foi naturalmente de jogo grande,
com oscilações entre momentos mais
empolgantes e de alguma expectativa, pois a
partida foi discutida até ao fim, mas sorriu ao
Barça uma vitória pela margem mínima.
Sporting CP x Atalanta BC | 05-10-2023
Excelente jogo europeu, principalmente no
que às bancadas diz respeito. Mais de 42 mil
presentes, entre eles cerca de mil “tifosi” da
formação italiana.
Na bancada sul, onde fica a Juventude
Leonina, destaque para a mensagem, junta
do símbolo sportinguista em grande plano:
“Tão grande como os maiores da Europa!”.
Simultaneamente, nota para uma fumarada
verde a abrir o encontro e ainda para uma
tochada.
Relativamente à parte norte do estádio,
registo para uma pequena coreografia do
Directivo Ultras XXI com a inscrição da data
de fundação do clube, ao mesmo tempo que
faziam um pequeno espectáculo pirotécnico.
Ainda antes do jogo, o próprio Directivo abriu
uma pequena tarja, provocando o adversário:
“Odio Bergamo”. Não é difícil de entender que
tudo se devia principalmente à amizade dos
grupos leoninos com os da Fiorentina. Essa
mensagem valeu a intervenção da polícia.
Do lado visitante, para além do número já
referido, convém salientar o apoio dado pelos
ultras da Atalanta, que se fizeram ouvir várias
vezes, empolgados também pelo resultado e
exibição da sua equipa, que saiu de Alvalade
com uma vitória por 1-2.
SC Braga x Rio Ave FC | 07-10-2023
Com mais de meia casa preenchida, o público
da casa ajudou a sua equipa a somar mais
uma vitória no campeonato, num final de
tarde de Sábado. Destaque para os Red
Boys, que aproveitaram para festejar o
51
seu 31º aniversário, com algumas tochas,
acompanhadas pela mensagem: “31 anos de
irreverência ultra”.
CF “Os Belenenses” x CS Marítimo | 08-10-
2023
Duelo no segundo escalão do futebol
nacional entre dois conjuntos historicamente
de primeira, não sendo de estranhar as mais
de duas mil pessoas presentes no Restelo,
ao início da tarde de Domingo. Nota positiva
para os apoiantes forasteiros, que deram
bastante cor ao sector visitante, com um
bom incentivo à sua equipa, sobretudo
pelo grupo Fanatics. A verdade é que foram
premiados com uma vitória por 1-2, em mais
um registo de uma boa presença forasteira de
simpatizantes deste clube insular.
FC Famalicão x Vitória SC | 08-10-2023
Encontro entre dois conjuntos minhotos, que
quando se defrontam têm tendência para
proporcionar boas assistências, o que foi
também o caso nesta bela tarde de Domingo,
com mais de quatro mil adeptos presentes.
Fama Boys de um lado e os ultras do emblema
vimaranense do outro tomaram conta do
apoio sentido no estádio, com destaque para
os forasteiros, que abarrotaram o canto a
eles destinado e, empolgados por estarem
a vencer toda a partida (desde o primeiro
minuto), fizeram-se sempre ouvir.
52
Rebordosa AC x SC Braga | 19-10-2023
Numa 5ª feira à noite, o bonito e revitalizado
Complexo Desportivo Monte de Azevido
recebeu este embate entre a sua formação,
do quarto escalão nacional, contra o Braga,
na 3ª eliminatória da Taça de Portugal. Uma
excelente moldura humana que, segundo as
palavras do próprio presidente da formação
local, praticamente teve lotação esgotada
(limitada por questões de segurança), num
recinto que, sem restrições, teria capacidade
máxima para 12 mil espectadores.
Muitos minhotos fizeram a deslocação,
que, apesar de não ser muito longínqua,
ocorreu a meio da semana e sob condições
atmosféricas não muito convidativas. Houve,
por isso, um grande ambiente proporcionado
pelos muitos milhares de simpatizantes do
Rebordosa e pelos ultras do Braga, que foram
audíveis durante praticamente toda a partida.
No final, o Braga venceu por 0-2, destacandose
o aplauso dos seus adeptos à equipa
adversária, reconhecendo o esforço realizado
pelos atletas do emblema que milita
actualmente no Campeonato de Portugal.
CD Paços de Brandão x SC Espinho | 22-10-
2023
Destaque para a excelente moldura humana
espinhense na curta deslocação até Paços de
Brandão, em mais uma partida da distrital
aveirense. Eram várias as centenas presentes,
que proporcionaram imagens muito boas,
num recinto com lotação limitada, fazendo
lembrar registos de antigamente.
SL Benfica x Real Sociedad | 24-10-2023
Encontro interessante no panorama europeu
para quem se interessa pelo mundo dos
adeptos. A procura de ingressos por parte dos
bascos foi intensa, esgotando rapidamente
os 2.850 bilhetes que lhes foram destinados
para o sector visitante. Para além disso,
houve tentativas de mais pedidos de
bilhetes e até de vários ‘aficionados’ da Real
Sociedad a fazerem-se sócios para comprar
para sectores da casa. Seria, portanto,
facilmente perceptível que iria haver uma
invasão de pessoas do emblema de San
Sebastián a Lisboa, o que de facto aconteceu,
preenchendo bastante do centro da cidade
no dia do jogo. Para além disso, a RSF Firm,
mais virada para a vertente hooligan, andou
sem escolta nas ruas lisboetas, tanto na noite
anterior como durante o dia da partida, não
tendo havido qualquer registo de confrontos
com os grupos encarnados.
Ao contrário das expectativas iniciais, houve
algumas clareiras nas bancadas e a assistência
total ficou-se pelos 56 mil espectadores.
Apoio audível dos bascos no sector visitante,
53
empolgados pela exibição dos seus jogadores
e pelo resultado favorável, tendo vencido
por 0-2, complicando e muito a tarefa do
Benfica na Liga dos Campeões. Relativamente
ao público da casa, nota para as diferentes
tochadas dos No Name Boys, tanto no
primeiro como no terceiro anel do topo sul.
SC Braga x Real Madrid CF | 24-10-2023
A Pedreira encheu para receber este duelo
contra o poderoso Real Madrid, ficando esse
facto naturalmente como um registo histórico
para o emblema bracarense. Ambiente
intenso, como seria natural, com destaque
para a tochada dos ultras do Braga e a
presença dos Ultras Sur, que concentraram
muitas atenções pela Europa sobre isso, pelo
facto de serem “personas non gratas” dentro
do próprio Real Madrid, e também da própria
polícia que lhes fez um acompanhamento
especial. Houve, da parte deles, vários
cânticos a exigir a demissão de Florentino
Pérez, motivando alguma polémica posterior
entre os sócios ‘madridistas’.
Quanto à partida, o Real Madrid venceu por
1-2, com o golo braguista, que foi marcado
logo depois de sofrer o segundo, a motivar
uma explosão de alegria e uma esperança
num outro resultado, que não chegou a ser
consumado.
FC Midtjylland x FC Famalicão | 25-10-2023
11 elementos dos Fama Boys estiveram
presentes na cidade dinamarquesa de Herning
para apoiar a sua equipa de juniores que,
em virtude de se terem sagrado campeões
nacionais da época passada, tiveram acesso
à Youth League, maior competição europeia
para conjuntos sub-19. Há que referir que a
claque famalicense também esteve presente
em casa, na primeira mão, que aconteceu no
início deste mesmo mês de Outubro.
O desfecho não foi o mais feliz para quem
se deslocou até território nórdico, pois a sua
formação foi eliminada após desempate por
grandes penalidades, ficando a nota para este
registo histórico para o grupo minhoto.
54
Royal Antwerp FC x FC Porto | 25-10-2023
O Antuérpia chegou pela primeira ver à Liga
dos Campeões - desde que a competição
mudou para este nome - sendo uma formação
interessante de acompanhar neste percurso
europeu pelo ambiente proporcionado no seu
estádio, ao bom nível do que se vai fazendo
naquela zona do continente europeu. Não foi
de estranhar, portanto, que a partida tivesse
casa cheia, com quase 14 mil espectadores,
entre eles 800 portistas, que esgotaram
rapidamente os ingressos que lhes estavam
destinados. Perante uma atípica e rigorosa
forma de deslocação, em que eram obrigados
a trocar os seus bilhetes, nominais, apenas e
só num perímetro delineado pela polícia no
centro daquela cidade belga, sem qualquer
possibilidade de poderem caminhar ao
estádio de forma individual, não faltou apoio
aos azuis e brancos, com vários momentos
em que foram bem audíveis e empolgados
por um resultado favorável, de 1-4 (após
até terem começado em desvantagem no
marcador), havendo também brilho com
pirotecnia aberta.
No final da partida, houve alguns momentos
de tensão, com cerca de duas dezenas
de fanáticos do clube da casa a terem-se
aproximado do sector visitante, obrigando a
um reforço policial e estendendo-se até ao
exterior, o que obrigou a um grande atraso na
saída dos adeptos (e até da equipa) do Porto.
RKS Raków Częstochowa x Sporting CP | 26-
10-2023
500 adeptos leoninos preencheram a grande
maioria do sector visitante do estádio, em
Częstochowa, e foram protagonistas nesta
partida. Para além do excelente número para
uma partida da Liga Europa a esta distância,
foram bastante audíveis durante quase
toda a partida e tiveram vários momentos
de pirotecnia, proporcionando bons
espectáculos também visuais.
55
SL Benfica x Casa Pia AC | 28-10-2023
Encontro que ficou marcado nas bancadas
pela homenagem dos No Name Boys ao 73º
aniversário dos seus amigos da Torcida Split,
claque do Hajduk, através de uma mensagem
em croata e de tochas abertas. Convém
referir que, no mesmo dia, houve presença
de vários símbolos do grupo encarnado nas
celebrações ocorridas no próprio estádio dos
croatas.
Quanto à partida, nota para uma casa muito
boa com mais de 57 mil presentes, mas em
que o público acabou por cair em desilusão
por causa de um empate inesperado a uma
bola.
Gil Vicente FC x SC Braga | 28-10-2023
As curtas deslocações dos bracarenses a
Barcelos têm sido sinónimo de invasões, e
esta não foi excepção. Num jogo bastante
animado, que terminou com um empate a
três golos, o apoio de quem se encontrava na
bancada destinada aos adeptos visitantes foi
sempre bastante ruidoso. Destaque para uma
mensagem da Bracara Legion, que comunicou
anteriormente o boicote a encontros da Taça
da Liga pelo facto de a mesma no próximo ano
se realizar no estrangeiro, anunciando: “Taça
da Liga no estrangeiro? Fazemos boicote!
Fiquem com o dinheiro.”
FC Vizela x FC Porto | 29-10-2023
Já não é surpresa os bons ambientes neste
tipo de jogos nesta localidade minhota,
o que também aconteceu desta vez, de
parte a parte. Cerca de 4.500 espectadores
compuseram o recinto do Vizela, destacandose
muito apoio vindo de vários sectores
diferentes, com os portistas empolgados
pelo resultado positivo da sua equipa e os
vizelenses a aproveitarem vários momentos
para tentar incentivar os seus jogadores a
conseguirem outro resultado. Nota, ainda,
para um espectáculo pirotécnico dos
Casuals Porto, que acabou por interromper
momentaneamente a partida.
56
Boavista FC x Sporting CP | 30-10-2023
Partida numa 2ª feira à noite, o que não
demoveu os mais de 12.600 presentes, entre
eles alguns milhares de sportinguistas, que
encheram a parte inferior do topo norte.
Não faltou pirotecnia dos dois lados, sendo
que, num dos espectáculos pirotécnicos,
proporcionado pelos ultras sportinguistas,
a partida esteve temporariamente
interrompida, à imagem do que ocorreu em
Vizela no dia anterior. Houve, naturalmente,
muito apoio dos dois lados, com os forasteiros
a galvanizarem-se pelo resultado positivo
e pela própria motivação de liderarem o
campeonato.
Houve vários momentos de tensão, tanto
antes como depois da partida, que acabaram
mesmo por levar a uma agressão por engano
de um grupo de sportinguistas a outro
adepto sportinguista, não faltando também
as habituais picardias no interior do estádio.
SC Braga x Casa Pia AC | 01-11-2023
Primeiro encontro do Braga na Taça da Liga
e, como referido antes, houve previsão
de boicote por parte de vários adeptos
arsenalistas. Inicialmente, tal como
escrevemos, a Bracara Legion anunciou
isso mesmo - fizeram comunicado online,
colocaram tarjas e ainda afixaram papéis em
Barcelos a expor as suas razões -, sendo que
os Red Boys também se acabaram por juntar
à causa.
Os diversos apelos dos dois grupos ultras
para os restantes sócios se juntarem ao
protesto acabaram por surtir efeito, pois o
recinto contou apenas com seis milhares
de espectadores, numa época em que,
até então, as assistências oficiais vinham
sempre a ultrapassar os 16 mil. Um encontro,
portanto, com um cenário desolador, numa
noite não muito agradável em pleno feriado,
para uma competição que sistematicamente
tem decisões em sentido contrário aos
interesses do adepto.
57
UD Leiria x CS Marítimo | 05-11-2023
Partida bastante interessante na cidade do
Lis entre dois históricos do futebol nacional.
Os leirienses em casa e os maritimistas fora
são, como já temos vindo a destacar há
muito tempo por aqui, sinónimo de boas
presenças no estádio. Não foi surpresa, por
isso, os quase oito milhares de espectadores
presentes, contando com duas boas falanges
de apoio dos dois lados. Dentro de campo,
as equipas criaram também muita animação
com um 4-3 final a favor do Leiria.
No final, perto do autocarro do Marítimo,
registaram-se alguns ânimos exaltados entre
adeptos do emblema insular com Tulipa, o
próprio treinador, descontentes com a fase
menos positiva atravessada.
Moreirense FC x Vitória SC | 05-11-2023
Dérbi do concelho vimaranense, o que
significou naturalmente uma boa assistência -
com 4.351 presentes oficialmente -, contando
como é habitual com uma deslocação em
grande número de adeptos vitorianos.
Grande apoio durante praticamente toda a
partida do público visitante, que até estava
empolgado com uma recente boa forma
da sua equipa, mas que neste caso viu o
conjunto verde e branco a levar a melhor,
vencendo por 1-0, para alegria dos da casa,
que também foram incentivando, graças ao
apoio dos Green Devils, que iam tentando
contagiar os restantes simpatizantes cónegos.
FC Porto x Royal Antwerp FC | 07-11-2023
Depois dos momentos finais em Antuérpia,
daquilo que também é habitual daqueles
adeptos belgas e do facto de terem sido
vendidos cerca de 2.500 ingressos para
o sector visitante (mas a viagem ser
alegadamente feita por 3.500 belgas),
esperava-se um ambiente muito quente pela
cidade do Porto, o que se confirmou logo na
véspera, 2ª feira à noite, com vários vídeos
de alguns incidentes entre alguns deles e a
polícia a tornarem-se virais. O dia de jogo foi
mais calmo, com os belgas a fazerem-se sentir
58
de uma maneira menos agressiva, registandose
bonitas imagens do seu impactante cortejo
na Baixa.
Quase 45 mil presentes no Dragão, com
muitos cânticos de parte a parte, animando
bastante o ambiente em mais uma noite
europeia. O Porto venceu por 2-0, para
entusiasmo do público portista, que viu mais
perto as aspirações de passar aos oitavos-definal
da prova.
Real Sociedad x SL Benfica | 08-11-2023
Se um e dois dias antes os olhos postos de
quem se interessa pelo movimento mais
fanático de adeptos estava virado para
o Porto, a verdade é que na 4ª feira, dia
do encontro dos encarnados no Anoeta,
as atenções dos ultras europeus foram
concentradas aí mesmo, em San Sebastián.
Horas antes do jogo, que se realizava ao final
da tarde, turmas benfiquistas organizaram-se
sem escolta e foram ao ponto de encontro
dos grupos e simpatizantes em geral da Real
Sociedad, gerando-se vários confrontos - com
muitas tochas, garrafas e outros objectos a
serem trocados -, que se tornaram virais em
vários vídeos partilhados nas redes sociais.
Relativamente à partida em si, dentro de
campo não correu nada bem ao Benfica,
começando cedo numa desvantagem de
vários golos. Os cerca de 1.800 adeptos que
ia compondo o sector visitante não tinham
grandes razões para sorrir, ao contrário do
público da casa - que acabou por criar grandes
momentos de animação -, ainda assim nota
para o facto dos benfiquistas não terem
passado nada despercebidos, muito por
causa dos vários registos de pirotecnia que
criaram. Os Diabos Vermelhos abriram uma
bela tarja, juntamente com algumas tochas,
dedicada aos interditos. Já os No Name Boys,
durante o jogo, lançaram tochas para outras
zonas, gerando-se algum caos, detenções no
final e, posteriormente, mais uma proibição
de deslocação num jogo europeu (que vai ser
em Salzburgo).
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Real Madrid CF x SC Braga | 08-11-2023
Previsivelmente, esta foi a deslocação
europeia com mais procura até agora, com
cerca de quatro milhares de braguistas
a adquirirem ingressos para o Santiago
Bernabéu. Durante o dia, o vermelho e branco
já se ia vendo regularmente pelo centro da
cidade, mas o destaque no que toca à prépartida
vai para o impactante cortejo, em
que os dois grupos ultras do Braga seguiam
na frente.
Quanto à partida, pese embora o resultado
desfavorável [o Real Madrid venceu por
3-0], nota para uma muito boa prestação
dos apoiantes do emblema minhoto,
fazendo-se ouvir por diversas vezes e ainda a
abrilhantarem o seu sector com várias tochas.
Não passaram certamente despercebidos aos
olhos dos simpatizantes da casa.
Relativamente aos ‘madridistas’, houve um
curioso “protesto” no início, com a Grada
Fans a manter-se momentaneamente em
silêncio enquanto apresentava uma tarja com
a inscrição “fuero violentos de los estadios”,
numa referência ao facto de não estarem
satisfeitos com a presença dos Ultras Sur em
Braga.
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Sporting CP x RKS Raków Częstochowa | 09-
11-2023
Cerca de 33 mil pessoas presentes em
Alvalade, numa partida com um excelente
ambiente, pese embora tenha estado longe
da lotação esgotada. Dentro de campo, digase
que foi uma partida praticamente sempre
tranquila para os leões, mesmo que apenas
tenham vencido por 2-1, pois adiantaram-se
cedo no marcador e jogaram a maior parte do
tempo em superioridade numérica.
Os adeptos iam aproveitando para criar o seu
próprio espectáculo fora das quatro linhas.
Não surgiu praticamente nenhum momento
de silêncio, houve vários registos pirotécnicos,
com tochadas em diferentes sectores, com
destaque para uma do Directivo Ultras XXI,
que tinha em simultâneo várias bandeiras e
imensos petardos seguidos, e ainda várias
diferentes mensagens a surgirem por parte
dos grupos ultras sportinguistas. A partir de
certa altura, já era mais um pré-dérbi (pois
iam ter a deslocação à Luz passados três dias),
com as tarjas e os cânticos a serem dedicados
a isso mesmo.
Do lado polaco, a sua presença também não
passou despercebida. Trouxeram uma boa
turma, composta, segundo os próprios, por
393 elementos, entre os quais 45 adeptos
do Lechia Gdansk, oito do Stomil Olsztyn e
três do Chemik, no típico estilo daquele país,
onde as coligações entre grupos de clubes
diferentes são muito comuns. No meio de
uma boa prestação vocal dos apoiantes verde
e brancos, ainda conseguiram fazer-se ouvir
num ou noutro momento, comprovando que
também fizeram bem a sua parte.
Vitória SC x FC Porto | 11-11-2023
Noite de Sábado com um ambiente de
jogo grande em Guimarães. Mais de 21 mil
espectadores presentes, pirotecnia de ambos
os lados - com destaque para uma belíssima
tochada dos White Angels e de vários
momentos de tochas abertas pelos ultras
portistas -, uma pequena coreografia com
várias tiras pretas e brancas nos Insane Guys
e Gruppo 1922, muitos cânticos de parte a
parte, com os habituais incentivos audíveis
do público da casa e um sector visitante
em ascensão, fruto também do resultado
favorável, e as habituais picardias neste tipo
de partidas.
Houve, ainda, o registo de um pano dos Super
Dragões conseguido por parte de ultras do
emblema vimaranense.
SL Benfica x Sporting CP | 12-11-2023
Segundo clássico da época no Estádio do Sport
Lisboa e Benfica e segunda casa cheia. Não
faltou o costume destes jogos, entre muitos
apoio, insultos, picardias e, claro, pirotecnia.
Do lado benfiquista, salienta-se uma série
de boas tochadas dos No Name Boys e o
ambiente de êxtase que uma reviravolta
épica nos descontos finais proporcionou no
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recinto. Já do lado sportinguista, o habitual
cortejo em grande número, o incentivo
extremamente audível e ainda um pano
benfiquista queimado, por parte da Juve Leo,
em pleno sector visitante, algo não muito
comum de se ver em Portugal.
UD Lamas x SC Espinho | 19-11-2023
Dérbi na distrital de Aveiro, com um
ambiente melhor do que a grande maioria
dos encontros do primeiro escalão nacional.
Como vem sendo habitual quando estes dois
rivais se defrontam, a afluência foi bastante
interessante e houve muito incentivo de
parte a parte. De um lado, os Papa Tintos,
que realizaram uma coreografia de grandes
dimensões que tinha a seguinte mensagem:
“We die for the land”. Para além desse
momento, há que registar a grande festa
feita pela vitória, numa partida onde se
defrontavam duas das melhores equipas da
tabela classificativa.
Do lado do Espinho, nota para a deslocação
feita por centenas de simpatizantes, que
também não se fizeram esconder no apoio
e ainda tiveram um belo momento de
confraternização com a sua formação, após
os 90 minutos.
113.º aniversário do Vitória FC | 20-11-2023
O Grupo 1910, claque do emblema sadino,
comemorou mais um aniversário do seu
Vitória em grande estilo, com muita pirotecnia.
No Bonfim, organizaram um espectáculo de
tochas, strobs e fogo de artifício. Num dos
registos, podia ler-se o número 113, em plena
bancada do estádio, através precisamente de
uma tochada em tons de verde.
FC Porto x CDC Montalegre | 24-11-2023
Num jogo a uma 6ª feira à noite entre equipas
separadas por três divisões, a assistência não
foi logicamente a mais famosa, com menos de
20 mil presentes. Ainda assim, houve vários
registos fora das quatro linhas. Cerca de dois
milhares de simpatizantes do Montalegre
viajaram desde a região transmontana até ao
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Dragão, fazendo a “festa” no final com os seus
jogadores, pese embora a derrota por 4-0.
Do lado azul e branco, destaque para a
mensagem do Colectivo 95 em homenagem
a Reinaldo Teles e a Fernando Gomes, duas
figuras do mundo portista que faleceram
por esta altura em 2020 e no ano passado,
respectivamente. Quanto aos Super Dragões,
foi notícia, dias depois de uma atribulada
assembleia-geral do clube, o facto de terem
entoado o cântico para Pinto da Costa,
nos momentos finais da partida, que foi
respondido com alguns assobios de vários
sócios da casa.
Sporting CP x Dumiense/CJP II | 26-11-2023
Tal como o registo anterior, também aqui
um candidato ao título nacional recebeu
uma formação do quarto escalão, não houve
uma grande assistência (com cerca de 18 mil
espectadores) e também houve uma boa
deslocação forasteira. Depois de uma pesada
derrota por 8-0, os quase 800 apoiantes do
Dumiense fizeram questão de aplaudir a sua
equipa e entoar vários cânticos, fazendo com
que vários dos adeptos da casa aplaudissem
mesmo esse momento final e os próprios
jogadores do emblema minhoto que milita
actualmente no Campeonato de Portugal.
116.º aniversário do Leixões | 28-11-2023
O Leixões cumpriu mais um ano de vida e os
seus simpatizantes não deixaram de marcar
registo por esse acontecimento. Ainda
antes do aniversário, houve algumas tarjas
espalhadas pela cidade matosinhense com
várias mensagens diferentes. Já durante a
meia-noite de 3ª feira, dia de aniversário do
clube, os seus adeptos protagonizaram um
espectáculo pirotécnico, com várias tarjas e
onde não faltou fogo de artifício. Passadas
algumas horas, já durante a manhã, alguns
apoiantes do emblema do Mar concentraramse
junto á sua sede, para o tradicional hastear
da bandeira, apresentando uma faixa dos 116
anos e abrindo fumos e pirotecnia.
63
FC Barcelona x FC Porto | 28-11-2023
Cerca de três milhares de portistas
deslocaram-se até Barcelona para apoiar
a sua equipa no Estádio Olímpico, recinto
que vai acolhendo actualmente os jogos
do conjunto ‘blaugrana’, enquanto
decorrerem as remodelações do Camp
Nou. Apesar do resultado desfavorável por
2-1, os simpatizantes azuis e brancos foram
destaque. Houve um imponente cortejo em
direcção ao estádio, com muita pirotecnia
e muitas bandeiras dos Super Dragões a
darem cor ao número de elementos que
ia caminhando. Depois, já na bancada, o
incentivo foi praticamente desde o início
ao fim, fazendo-se ouvir regularmente na
própria transmissão televisiva.
SC Braga x 1. FC Union Berlin | 29-11-2023
Numa noite de 4ª feira fria e chuvosa, foi
sem grandes surpresas que esta foi a partida
da fase de grupos da Liga dos Campeões no
reduto bracarense com menor assistência.
Menos de 16 mil pessoas estiveram presentes,
entre elas cerca de 2.500 apoiantes do Union
Berlin, que já nos habituaram a boas invasões,
e acabaram por dar, sem surpresa, um bom
e ruidoso espectáculo no sector visitante.
Ainda assim, os ultras da casa tiveram um
papel importante em empurrar a sua equipa,
que se viu a jogar com menos um elemento
logo na primeira parte, conseguindo um
importante empate a uma bola.
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SL Benfica x FC Internazionale Milano | 29-
11-2023
Encontro que concentrou muitas atenções
pela Europa fora para quem gosta do
movimento ultra. Cerca de 1.600 adeptos
‘nerazzurri’ viajaram até Lisboa, entre eles
várias centenas de ultras da Curva Nord,
acompanhados pelos seus amigos búlgaros
do Botev Plovdiv, franceses do Nice e até
neerlandeses do PSV (que jogavam no
mesmo dia em Sevilha). Organizaram um
cortejo, onde não faltaram cânticos de apoio,
mas também picardias com os locais - à
imagem do que se passou na época passada,
tanto na ida à Luz como ao Dragão. Dentro
do estádio, foram audíveis, principalmente na
segunda parte, altura em que a sua equipa
conseguiu evitar uma desvantagem de três
golos(!) e empatar a três bolas, renovando a
crise encarnada na Liga dos Campeões.
Do lado do Benfica, nota para os vários
espectáculos pirotécnicos. Os Diabos
Vermelhos fizeram uma bela tochada, que
serviu de comemoração ao 41.º aniversário
do grupo, e os No Name Boys também se
mostraram em destaque com muitas tochas
e fumarada vermelha. Algo que embelezou
as bancadas, mas que foi destaque na
comunicação social em modo polémico, pelas
recentes sanções ao clube na Europa.
Já na noite após a partida, numa acção
conjunta de elementos dos No Name Boys
e dos croatas da Torcida Split, um hotel que
abrigava ultras do Inter e do Botev foi atacado.
Atalanta BC x Sporting CP | 30-11-2023
Ambiente de jogo grande europeu em
Bérgamo. Os ultras sportinguistas fizeram um
comunicado em conjunto, dando a novidade
que iriam organizar uma coreografia juntos,
muito tempo depois da última vez numa
partida fora de casa, em que apelavam aos 750
adeptos que iriam ocupar o sector visitante
para levantarem um plástico à entrada das
equipas em campo durante três minutos, algo
que se proporcionou. Ao mesmo tempo que
tal acontecia, os ultras da Atalanta também
executavam uma bela tochada e com muito
material presente na Curva Nord, ao seu bom
estilo.
Durante o encontro, excelente apoio de
parte a parte, com muitos incentivos a virem
dos dois lados. Tal como nas bancadas,
também em campo a partida foi equilibrada e
terminou num empate a uma bola.
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SC Farense x Vitória SC | 02-12-2023
Bela casa no São Luís, cerca de cinco milhares
de espectadores presentes nas bancadas, com
presença de uma boa falange de vitorianos
que viajou até ao Sul do país para seguir a
sua equipa. Os South Side Boys tomaram
conta do apoio do lado caseiro, havendo
momentos em que o restante público
também acompanhava no incentivo. Ainda
assim, foram os de Guimarães a sorrirem no
fim, com uma vitória por 1-2, em que o golo
decisivo chegou já perto do final da partida.
FC Famalicão x FC Porto | 02-12-2023
Tal como no anterior registo, também aqui
se registou uma assistência com cerca
de cinco milhares nas bancadas, o que é
sinónimo em Famalicão de casa cheia. Fama
Boys com o habitual apoio à sua equipa
e os ultras portistas que lotavam o sector
visitante iam animando os seus respectivos
conjuntos. Os dragões acabaram por vencer
por 0-3, empolgando naturalmente quem os
acompanhava.
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Falar de intelectuais, escritos,
homens de cultura e futebol nunca foi
um conúbio que resultou. Durante muitos
anos, a elite intelectual não gostou do jogo
da bola, considerado um ópio dos povos,
aproveitado por governos reacionários e
manipuladores. Aquilo que pairava à volta do
futebol não podia agradar a esta faixa “culta”
da população, desde o analfabetismo e pouca
cultura dos seus praticantes, à violência,
irracionalidade e fanatismo clubístico. Tudo
isto não ajudou para que os intelectuais se
apaixonassem pelo nosso desporto preferido.
Só que há sempre excepções à
regra. Hoje queremos contar como a cultura
se associou ao desporto e ao associativismo
através de uma figura de relevo da cultura
portuguesa dos anos 40/50 - Alves Redol,
escritor considerado como um dos expoentes
máximos do Neorrealismo português. Nascido
num ambiente humilde de trabalhadores,
curioso e empático observador da vida dos
“marginalizados”, Alves Redol desde cedo
revelou preocupações de natureza social e
uma imensa vontade de intervir na realidade
envolvente, procurando encontrar soluções
para os problemas e as injustiças que
identificava, acreditando que as agremiações
desportivas são instrumentos fundamentais
na emancipação do povo e dos trabalhadores
através do desporto e da cultura. O escritor
esteve envolvido em muitas coletividades da
sua terra, Vila Franca de Xira.
Numa entrevista publicada n´A
Bola, em agosto de 1947, encontramos Alves
Redol a falar da sua paixão pelo futebol e pelo
desporto em geral: “O futebol domina-me e
absorve-me, porque encontro nele uma força
extraordinária de emoção”; “falar de futebol
agrada-me tanto como falar de literatura”;
“acho que os grupos desportivos deveriam
ser mobilizados para colaborarem num vasto
plano nacional de luta contra o analfabetismo
- bibliotecas, cursos de aperfeiçoamento,
conferências, representações teatrais,
exposições de arte, entre outras coisas,
deveriam figurar entre as realizações e
atividades culturais destes grupos”
A entrevista é muito interessante
porque focava temas que, ainda hoje,
continuam polémicos, como o desporto
vs espectáculo, e o problema amadorismo
vs profissionalismo, e toca pontos em
pontos como a saúde e higiene. Alves Redol
incentivou sempre a criação de grupos
desportivos como lugar de confraternização
e união dos mais humildes, dos últimos dos
Gaibéus que ele tanto falava.
“Acho que o desporto deve ser
considerado como um meio para que o
homem desenvolva as suas aptidões físicas
e assim se possam obter gerações mais
fortes, capazes, portanto, de melhor realizar
as grandes tarefas de paz que as condições
sociais lhes hão-de de propor”, um discurso
muito “atrevido” em pleno salazarismo.
A ligação de Redol ao futebol fez-se
ainda mais forte em duas ocasiões: foi o autor
dos diálogos do filme “Bola ao Centro”, longa
metragem que tem como pano de fundo o
futebol e a história da ascensão e queda de
um jogador-operário, que se deixa corromper
pelas “sereias” do sucesso e do dinheiro, mas
sobretudo como Diretor do periódico “Goal”,
um semanário ribatejano de desporto, arte e
literatura.
A produção do Goal era assegurada
por desempregados, com conhecimento em
tipografia, como era referido insistentemente
nas suas páginas. Apostava numa política
de baixo preço de venda (avulso 3 tostões),
provavelmente para não pesar nos magros
rendimentos dos seus potenciais leitores:
o povo de Vila Franca de Xira e da região
envolvente. Saíram 10 números entre janeiro
e março de 1933.
No editorial do primeiro número
(11.1.1933) considerou que o periódico
vinha suprir a ausência de um jornal nessa
matéria. Prometeu “vitalidade moça, cheia
de entusiasmo, repleta de espírito moderno”
e “independência crítica”. Finalmente,
assumiu que no semanário “só conheciam
uma ambição e só lutavam por uma causa:
o Desporto”, cuja prática considerava ter
virtudes revolucionárias na formação do
carácter humano. O semanário estabeleceu
como desígnio “auxiliar todos os clubes
ribatejanos que se dediquem à prática do
desporto”.
Os clubes do Ribatejo, o futebol
e as diferentes modalidades desportivas
constituíram a temática dominante do
novo periódico que assumiu, desde logo,
a necessidade da defesa e divulgação do
desporto por ser um “espectáculo sublime
da força física que garante a consolidação da
força moral”.
Ainda hoje, o legado do Alves Redol
é vivo no Ribatejo e na sua Vila Franca de Xira,
onde a biblioteca da UD Vilafranquense tem o
nome de uma das suas maiores figuras.
Por Eupremio Scarpa
69
70
Esta foi uma viagem a Madrid com
o principal interesse a ser o que se passa
fora das quatro linhas do mundo da bola
por lá. Certamente à imagem da grande
maioria dos habituais leitores desta fanzine,
o conhecimento dos movimentos de apoio
locais acaba por me interessar mais do que
o típico turismo de visitar paisagens bonitas,
sítios famosos, ir a museus, etc. Mais do
que isso, consigo até diferenciar este estilo
de quem gosta simplesmente de futebol.
Saber mais sobre cada grupo ultra da capital
espanhola é bastante mais fascinante do que
ver troféus ou as estrelas de cada clube.
Não marquei a viagem com muito
tempo de antecedência, mas foi o suficiente
para encontrar algo barato e escolher um sítio
que já tinha interesse em conhecer melhor
há algum tempo, aproveitando uma última
semana de férias que tinha no calendário e o
facto de ter ficado mais livre no plano pessoal.
Depois de dois ou três amigos terem tido em
mente irem comigo, todos eles acabaram
por não o conseguir fazer, o que acabou por
representar a minha primeira viagem sozinho
ao estrangeiro.
A decisão do local também teve,
obviamente, relação com o calendário
futebolístico. Alguém que eu já conhecia dos
ultras do Getafe já me tinha convidado para
lá ir no passado, sendo que reparei que eles
jogavam em casa num Sábado à tarde, frente
ao Villarreal. Para além disso, também reparei
que o Atlético Madrid jogava em casa, contra
o Cádiz, no dia seguinte à noite, o que para
mim ficou perfeito para conseguir conciliar.
No primeiro caso, falei com o tal colega
espanhol, que me garantiu um bilhete para o
jogo do seu Getafe. Já para o Metropolitano,
fiz questão de reservar online um bilhete por
30€. Tendo em conta os dias e os preços da
viagem, optei por comprar viagem de ida
numa 5ª feira à noite e de volta na 2ª feira
logo de manhã.
Cheguei então na 5ª feira à noite
(dia 28 de Setembro), com tempo para
pousar as coisas no hostel e aproveitar a
noite numa das discotecas de techno mais
conhecidas do centro. Entre muitas aventuras
que duraram até à tarde seguinte, era tempo
de descansar um pouco e passar para o tão
aguardado fim-de-semana de futebol. No
Sábado de manhã saí bem cedo, e deu para
confirmar que não é mito o facto de os
espanhóis acordarem o mais tarde possível.
As ruas estavam inicialmente quase desertas
e silenciosas, tendo eu aproveitado para ir
conhecer algumas praças mais históricas,
dando sempre prioridade a espaços ligados a
adeptos como, por exemplo, o habitual sítio
dos festejos de determinados ‘aficionados’
ou onde multidões se concentram em jogos
das competições europeias. Despertou-me
a atenção uma conhecida loja de camisolas
retro, chamada Cooligan, que se localizava
precisamente no centro, onde entrei e pude
ver muitas pérolas históricas de diferentes
clubes internacionais.
Ao final da manhã apanhei comboio
e fiz a curta e rápida deslocação até Getafe.
Pouco faltava para as 11h30 locais, o que
significava que restavam pelo menos 2h30
para o início do encontro. Na estação estava
o meu amigo à espera, dando-me boleia até
junto do Coliseum Alfonso Pérez, o estádio
do Getafe. Lá é possível encontrar uma praça
nos arredores do recinto, por onde passam
grande parte dos adeptos que se deslocam
até ao mesmo e, no fundo, o sítio onde se
concentra o grupo ultra local, os Comandos
Azules. Situados no meio da praça, alojados
numa “banca” improvisada, cerca de 20
membros já lá estavam a confraternizar,
enquanto montavam o seu stock de cervejas e
material, onde se incluía vestuário, adereços
e fanzines.
O meu colega apresentou-me aos
elementos presentes, que me fizeram uma
simpática recepção. Era claramente notória a
diferença entre eles e qualquer simpatizante
normal que lá passasse. À parte de um ou
outro terem indumentárias alusivas ao clube,
a maioria priorizava roupas com marcas
claramente mais casuais ou então da própria
claque. É importante referir que, o grupo,
apesar de não ser muito grande, apresentava
dois subgrupos: um designado “Vandals”
e outro correspondente às Getafe Girls.
Saltava também à vista as muitas tatuagens
visíveis que cada um deles tinha, muitas delas
políticas, mais concretamente nacionalistas
- seguindo a tendência do que é a posição
política do grupo.
Depois dos cumprimentos iniciais
a quem lá estava, foi tempo de ir almoçar
de forma rápida. Num bar próximo e que
está habituado a receber os ‘aficionados’ do
Getafe, comi uma daquelas típicas baguetes
de presunto espanholas, acompanhada
naturalmente por cerveja. Essa altura serviu
para ter os primeiros conhecimentos sobre a
realidade do clube e do grupo. Como já sabia
antes, o Leganés, clube de uma localidade
situada a escassos quatro quilómetros, é
o grande rival. Eles estão actualmente no
segundo escalão, mas defrontaram-se nesta
última pré-época, onde houve problemas,
com os Comandos a deslocarem-se sem
escolta e a entrarem em confronto com o
grupo rival, chamado Ghetto 28.
Regressámos à concentração do
grupo já com a praça bastante preenchida
de azul. Era altura de ouvir mais histórias
de vários elementos e de perceber que
a realidade é bastante diferente do que
acontece em Portugal, apesar da proximidade
geográfica. Os combates combinados, por
exemplo, já se começam lá a enraizar, ao invés
do que acontece por cá. Independentemente
do resultado, essas lutas são encaradas com
toda a normalidade e como processo de
crescimento.
Algo que me despertava curiosidade
era obviamente o comportamento da polícia,
pois a repressão por aquele território é mais
que conhecida. Ao contrário de Portugal, não
existe aquela vigilância apertada e os olhos
postos permanentemente sobre os adeptos
no exterior, principalmente sobre quem
aparenta ser de algum grupo organizado de
adeptos. O que acontecia é que a carrinha
do Corpo Nacional de Polícia passava por
lá ocasionalmente, aproximadamente
num intervalo de 30 em 30 minutos, e fui
alertado para virar a cara no momento
da sua passagem, pois havia uma grande
probabilidade de estarem a filmar atrás dos
vidros fumados do veículo.
A meia-hora do encontro iniciar o
meu amigo disse-me para irmos entrando.
Muita gente nos acessos ao interior do
estádio, mas a andar a um bom ritmo, até
porque a revista não parecia muito rigorosa.
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A bancada do grupo era a sul, ou seja, atrás de
uma das balizas. As bancadas estavam muito
bem preenchidas para o início da partida,
tendo a assistência ficado acima dos 11 mil
espectadores, num recinto com lotação para
menos de 17 mil. Iam-se colorindo entre o azul
e o branco, com a particularidade de grande
parte do público estar de boné branco, uma
vez que estavam a ser distribuídos à entrada.
Destaque, também, para muitos adeptos de
várias bancadas apresentarem pequenos
cartazes com a imagem do seu treinador, José
Bordalás, figura muito acarinhada por lá.
Estava um calor monumental, e
três das quatro bancadas eram descobertas
(incluindo aquela em que eu fiquei) e o sol
incidia sem piedade. Nem uma brisa soprava e
era quase impossível estar sequer de camisola
vestida. As várias dezenas de elementos dos
Comandos iam preenchendo a parte inferior
central dessa bancada e, um pouco acima,
juntavam-se muitos jovens de camisola
do Getafe. Também tive oportunidade de
ver um grupo chamado “Cachorros” que,
segundo entendi, não adoptava o estilo
do movimento ultra, mas sim algo mais à
imagem de uma típica “peña”. Confirmava-se
a ideia que já tinha dos espanhóis. Os grupos
são relativamente pequenos e restritos,
acabando por ter uma percentagem muito
mais reduzida que em Portugal no que toca
à quantidade representada num estádio em
relação à assistência total, mas conseguem
firmar bem o seu respeito e comandar as
operações e qualquer ritmo ou cântico. Do
lado visitante, como seria expectável, eram
muito poucos os simpatizantes presentes do
Villarreal.
A partida foi de sentido único,
com o Getafe praticamente sempre por
cima, sendo que a meio da primeira parte
os forasteiros ficaram reduzidos a menos um
jogador. Curiosamente, depois disso, a veia
atacante da formação da casa até decresceu
um pouco. Ainda assim, apesar das várias
tentativas, não houve qualquer golo. O
apoio não foi mau, com os cânticos simples
e típicos do que estamos habituados a ouvir
no mundo ultra espanhol. Reforço que o calor
era claramente uma condicionante, e era
difícil ter capacidade e resistência de estarem
sem esmorecer em ritmos mais eufóricos. O
público que estava sentado acompanhava
apenas nos cânticos mais fáceis e “populares”,
principalmente depois dos lances de perigo.
Convém referir que, perto dos 90 minutos,
já iam saindo alguns adeptos, especialmente
da bancada nascente, originando algumas
“bocas” de quem estava junto a mim,
fazendo questão de gritar que estavam mais
preocupados em sair mais cedo para verem
o Real Madrid [iam jogar em Girona pouco
depois daquele encontro terminar].
Tive novamente curiosidade em
reparar no comportamento das forças de
segurança, agora no interior do estádio.
Apenas três stewards estavam a vigiar, de
forma separada e bastante tranquila, entre
o relvado e a bancada onde se situam
os Comandos. Não esperava, mas, nesse
aspecto, fiquei surpreendido pela positiva.
Em Portugal, com assistências bem mais
pequenas, vemos spotters, polícia, stewards,
etc, de olhos postos em bancadas de muito
menor dimensão. E, ainda sobre repressão,
convém salientar que os elementos do
grupo do Getafe foram ameaçados tempos
antes, em reunião com a direcção do clube,
com sanções individuais, caso a instituição
continuasse a pagar multas pelos seus
insultos.
Terminado o jogo com um empate
sem golos, como dissera anteriormente,
houve trocas de aplausos entre ‘aficionados’
e jogadores, mas achei que, da parte de
quem estava em campo, foram muito
tímidos. Pouco se afastaram do meio-campo
e não tiveram vontade de se aproximar da
bancada, demonstrando que a ligação entre
ambos não é a melhor e que a equipa não vê
os apoiantes com um poder e respeito como
existe noutros sítios.
Era tempo de ir saindo do estádio
com quem estava. Com os milhares de
presentes a abandonarem, reparei que a
tal praça junto ao recinto se ia esvaziando
rapidamente, sobrando quase exclusivamente
os elementos da claque, que voltaram a lá
ficar. Era tempo de voltar a confraternizar,
ficar finalmente à sombra e beber mais umas
cervejas. Depois de ter oferecido ao longo
da tarde muitos autocolantes da Cultura de
Bancada e alusivos ao Leixões, publicitando
e explicando sempre coisas sobre cada um
deles, retribuíram-me no fim com a oferta
de três fanzines diferentes do seu grupo
- estavam à venda por 10€ na tal banca - e
de dezenas de stickers. Pessoal bastante
amigável, que me acolheu bem, e ficou o
convite de parte a parte para novas visitas
futuras.
No dia seguinte, logo pela manhã,
decidi fazer tempo e aproveitar para
conhecer um pouco mais de Madrid. No
entanto, à hora de almoço, quando ainda
faltavam várias horas para o encontro que
iria assistir pela noite, segui viagem para
o Estádio Metropolitano e almocei por lá,
aproveitando também para conhecer o local.
O calor continuava intenso e foi tempo de
petiscar num estabelecimento localizado
já na área do recinto. Naturalmente que
ainda estava tudo muito vazio, com apenas
pequenos comerciantes a irem montando as
suas tendas e poucas pessoas a passearem
73
74
por lá.
Deu para conhecer a zona
envolvente ao estádio, onde se concentram
muitos bares e onde se vão reunindo os
adeptos do Atleti. Esta partida tinha a
particularidade de envolver duas formações
apoiadas por grupos de ideologias políticas
opostas, o que em Espanha é sempre
sinónimo de faísca. Ainda assim, não houve
qualquer presença das Brigadas Amarillas,
grupo dos forasteiros, ao contrário de
cerca de duas centenas de ‘aficionados’ do
Cádiz, nada relacionados com a cena ultra e
perfeitamente identificados com as camisolas
do clube. Muitos deles foram passando
por mim desde cedo, tanto a pé como
anteriormente nos transportes públicos.
Curiosamente, nenhum deles teve algum
olhar mais intimidatório de qualquer adepto
mais fanático do Atlético, percebendo-se
facilmente que, por lá, as hostilidades ficam
apenas e só para com os grupos rivais. Os
simpatizantes “normais” são tratados todos
da mesma maneira, independentemente de
serem do mesmo clube ou de um rival.
Nota também para um cenário
idêntico ao do dia anterior a nível de presença
policial nas imediações. Podia passar uma
carrinha ou outra, mas nada de vigílias quase
ofegantes perante adeptos de futebol nas
determinadas áreas em que os mesmos se
encontravam. Também como em Getafe,
era facilmente perceptível distinguir-se, no
exterior, malta do movimento e outro tipo de
apoiantes.
O tempo corria e deu para ir
bebendo mais umas cervejas durante largas
horas para disfarçar o calor. Pelo meio
consegui a recente fanzine da Frente Atlético,
a “Super Atleti”, que voltou a ser feita muito
tempo depois da anterior. Não é grande, mas
é dedicada ao clássico da semana anterior
contra o Real Madrid e tem um bom valor
simbólico pelo regresso à actividade do grupo
a este tipo de escrita.
Foi tempo de ir para o estádio já
com uma multidão a preparar-se para entrar,
neste encontro em que estiveram presentes
mais de 53 mil espectadores. Não foi casa
cheia, mas esteve naturalmente muito bem
composto. Era interessante também reparar
que praticamente todas as camisolas do
Atlético vestidas pelos adeptos tinham o
símbolo antigo, ou melhor, o símbolo antigo
e que agora se tornará novamente no oficial.
Convém salientar que, no passado mês de
Junho, os ‘colchoneros’, depois de cerca de seis
anos de luta contra a direcção, conseguiram
que o seu símbolo voltasse ao que era antes,
tendo sempre rejeitado o último. Depois de
muita insistência, conseguiram-no através de
um referendo, em que várias figuras muito
conhecidas da vida do clube se manifestaram
a favor do regresso, juntando-se à luta dos
adeptos.
O bilhete era destinado para uma
parte superior da bancada sul, ou seja,
por cima de onde fica a Frente Atlético.
O ambiente foi naturalmente agradável,
sendo que, nos cânticos mais fáceis ou até
nos mais sentimentais (caso do hino), o
restante público juntava-se e ajudava a criar
um ambiente frenético, em que as próprias
condições do estádio moderno ajudavam. O
Cádiz já vencia por 0-2 quando ainda nem
meia-hora do encontro estava realizado.
Percebeu-se logo a apreensão de quase toda
a gente, ao contrário da Frente, que seguia no
apoio. A verdade é que o Atlético logo reduziu
o marcador e as bancadas voltavam a ficar um
pouco mais animadas.
Surgiu o intervalo e aí o momento
do jogo no que a fora das quatro linhas diz
respeito. Reparei que os sectores ocupados
pela Frente se foram rapidamente esvaziando
e dava para verificar que teria sido originado
por problemas com a polícia. Um ou outro
adepto mais perto de onde eu me encontrava
também ia saindo do recinto, mas o resto do
público ficou normalmente nos seus lugares à
espera que a segunda parte se iniciasse.
Na realidade, era previsível que o ambiente
tivesse morrido a partir daí, e o meu interesse
até estava mais nessa parte, a bem dizer.
Saí, por isso, nesse momento, e percebi que
a razão de tudo aquilo se deveu ao facto
de dois elementos terem sido detidos sem
motivo aparente. Muita gente estava cá fora
centrada em frente a um ecrã de um bar
do estádio e vibraram com uma reviravolta.
Houve mais dois golos – um no início da
segunda parte e outro a meio – que valeram
uma grande festa, o que ia contrastando com
um ambiente mais hostil entre muitos polícias
equipados e a preparem-se para outro
tipo de eventualidades com os apoiantes
do Atlético concentrados no exterior. No
entanto, não passou mesmo de uma postura
mais intimidatória – sendo, obviamente, o
oposto de tudo o que tinha verificado até
então nesse fim-de-semana.
Terminado o encontro, aproveitei
para apanhar o metro, que se ia colorindo
com muito vermelho e branco, e algumas
manchas de azul e amarelo, e fui aproveitar
a última noite. Para a aventura se alongar,
acabei por perder o voo de regresso que
iria ter às 6h da manhã, acabando depois
por ter apenas às 14h, o que serviu para ir
experimentar mais algumas coisas da capital
espanhola. Inclusive, cheguei a ser abordado
no metro por um jovem adepto do Atlético,
que me reconheceu da noite anterior e,
em conversa, disse-me que trabalhava… na
remodelação do Estádio Santiago Bernabéu.
Aproveitei para ir com ele a um bar antes de
ele iniciar o trabalho diário (já era 2ª feira)
e, curiosamente, à minha frente reparei
em várias inscrições dos Ultras Sur. Estava
na Rua Marceliano Santa María, local de
concentração do grupo do Real Madrid que
está, como é sabido, proibido de ir à bola.
O exterior daquele recinto não
estava propriamente atraente por causa das
obras e não me chamou grande atenção. A
bem dizer, o próprio clube em si nunca me
despertou qualquer tipo de simpatia, sendo
o reflexo de tudo o que não me revejo no
futebol moderno.
Foi depois tempo de almoçar e
regressar, finalmente, a Portugal. Serviu para
conhecer pessoalmente uma realidade que
está muito próxima de nós e, ao mesmo
tempo, tem tantas parecenças e diferenças,
o que torna o movimento e a parte social do
futebol espanhol tão curioso.
Por G. Mata
75
O FUTURO DO PAÇOS DE FERREIRA
76
Ao longo dos seus 73 anos de
história, o FC Paços de Ferreira foi gerido
seguindo o modelo “tradicional” de gestão
de clubes desportivos: gente da terra
emprestando o seu tempo, conhecimento
e dinheiro em prol do clube. Ano após ano,
os cêntimos eram angariados com recurso a
todo o tipo de atividades: rifas, janeiras, porco
no espeto, etc. Tudo isto para complementar
o dinheiro de quotas dos associados e
patrocínios das empresas e autarquia locais.
Durante anos, o Paços sobreviveu à custa dos
mecenas locais que, apaixonados pelo clube e
pela sua terra, contribuíam para que o futuro
do clube nunca estivesse em causa.
Mesmo em 2013, quando surge a
obrigação legal de constituir uma sociedade
desportiva, os sócios optaram por manter
o clube fechado à entrada de “forasteiros”
que pudessem desvirtuar toda a história do
clube e mantiveram o controlo total através
da criação de uma SDUQ. SDUQ essa que
foi sendo gerida por membros que eram
concomitantemente diretores do clube e
da sociedade desportiva e, por isso mesmo,
sabiam defender os interesses do clube nas
decisões tomadas pela sociedade.
Seguiram-se anos de sucesso
desportivo e, por consequência, financeiros.
A SDUQ não caiu na tentação de investir
os milhões que a Champions ou a venda
do Diogo Jota trouxeram em jogadores de
renome. Preferiu-se apostar nas melhorias
das instalações que, tornam hoje a Mata Real,
num dos melhores locais para os profissionais
de futebol desenvolverem a sua profissão.
Contudo, enquanto o Paços trilhava
este caminho, outros clubes começavam a
abrir-se a capital estrangeiro e o fosso para a
realidade de clubes como o Paços começava a
ser cavado. Nos últimos anos assistimos a um
Boom de entrada de investidores estrangeiros
no futebol português. E não apenas no futebol
profissional. Começamos a ver clubes de Liga
3, CP e até distrital a serem comprados. A
terem fundos que nunca conseguiriam ter
através dos modelos tradicionais de gestão…
mesmo que cantassem as janeiras todos os
meses!
É preciso perceber que o futebol
que muitos de nós aprenderam a amar, não
existe. A defesa da camisola, o orgulho de
ostentar um símbolo, os sacrifícios em prol
de um clube são coisas do passado (salvo
raras excepções). O futebol tornou-se uma
indústria, cada vez mais profissionalizada. Aos
clubes não basta hoje ter um plantel, com um
treinador e um preparador físico, um roupeiro
e um massagista. Há nutricionistas, analistas,
psicólogo, médico, mental coach, team
managers, departamentos de comunicação,
scouting… e por isso, as estruturas de clubes
profissionais são cada vez mais pesadas.
E notem que nem toquei na questão dos
agentes…
Toda esta evolução nos últimos
anos colocam clubes como o Paços numa
posição muito complicada: manter-se no
modelo atual e perder competitividade ou
abrir a porta ao “diabo” e conseguir manterse
no futebol profissional?
Chega a ser caricato pensar que
o Paços que desceu na última temporada
da Primeira Liga, apresente este ano um
orçamento 3 vezes inferior a um clube
que acabou de subir da Liga 3, mas é esta
a realidade. A folga financeira que estes
investidores trazem aos clubes fazem com
que jogadores de segunda, tenham salários
de primeira. E o Paços não consegue
acompanhar. Haverão sempre excepções, é
certo. Não esqueçamos que conquistamos
o terceiro lugar na primeira liga com um
dos orçamentos mais baixos de toda a
competição. Mas nos dias que correm, as
exigência do futebol moderno ditam que
clubes como o Paços precisam de aliar a
competência e o rigor a muita sorte para
conseguir estar no topo do futebol nacional.
E foi por isso que os sócios do
clube foram chamados a refletir sobre o
rumo que devemos tomar. Numa altura em
que estamos próximos de ser o único clube
fechado a capital externo, será que estamos
a tomar a decisão correta? Estaremos nós
certos e tudo o resto errado?
Na cabeça de muitos sócios do
Paços paira o fantasma das SADs falhadas.
Dos escândalos que levaram clubes históricos
a afundar-se. E talvez isso torne ainda mais
difícil a aceitação deste modelo de gestão
por parte dos nossos adeptos. É natural e
aceitável o seu ceticismo. Porque havemos de
tentar algo em que as histórias negativas são
mais do que as positivas? Porque havemos de
experimentar isso se no modelo atual temos
até conseguido ir a competições europeias?
A verdade é que o presente dá
sinais claros de que algo tem de ser feito. A
incapacidade de atrair talento por ausência
de argumentos financeiros começa a ser
preocupante. A dificuldade em segurar os
melhores ativos retira-nos força. E num clube
onde as receitas extraordinárias relacionadas
com as vendas são fundamentais para o
equilíbrio das contas, isto torna-se ainda
mais dramático porque se revela uma bola
de neve: sem vendas extraordinárias não
há melhorias de infraestruturas, não há
melhores condições para a formação, etc, etc.
É pois perante este cenário que os
sócios precisam tomar uma decisão: manter
tudo igual ou mudar?
Pessoalmente sempre fui contra
as SADs e mantenho essa posição. Não
me parece que o modelo de SAD pura e
dura seja o que o Paços precisa. Contudo,
o novo modelo de sociedade desportiva
recentemente criado - SDQ - parece-me ser
algo que se possa considerar. Desde logo
por aquilo que a lei impõe na criação deste
novo tipo de sociedade e que protege o
clube fundador. Neste novo modelo seria
impossível acontecer a aberração a que
assistimos em Vila Franca de Xira este verão.
Neste novo modelo, o grande desafio passa
por a direção do clube conseguir encontrar
algum investidor/parceiro com vontade
de se aliar ao clube mesmo com todos os
condicionalismos impostos pela nova lei.
Independentemente do que
venha a acontecer, o facto é que os sócios
serão soberanos e a sua vontade deverá
ser respeitada. Só desejo que essa vontade
signifique um Paços mais forte no futuro, seja
qual for o modelo de gestão.
Por Rui Abreu
77
OS ANOS PASSAM, NÓS NÃO!
78
Será que os anos vividos num
grupo conferem algum tipo de estatuto
dentro do mesmo ou será que sem acção,
com excepção das presenças nos jogos em
casa, esses mesmos anos não passam de um
número? Talvez a resposta mais justa seja
depende. Após alguma ponderação esta é a
minha resposta, e é natural que a vossa possa
ser diferente. Na verdade, e sem mistério,
a resposta depende da maior condição de
todas, de quem responde e sobre quem se
fala. Em vários casos a objectividade parece
relativa e a subjectividade encaminha a dar
uma resposta em função da própria vivência.
Por outras palavras, mesmo nos grupos, não é
estranho que haja formas diferentes de ver o
mesmo problema – no fundo, sem prejudicar
o sentido primário de unidade de um grupo,
cada um vê o mundo com os seus próprios
olhos.
A questão que abre o texto não
é de todo inocente, procurando traçar um
debate entre o SER do grupo e o ESTAR no
grupo. Com isto não procuro encontrar uma
verdade absoluta, apenas abrir a porta a um
tema bastante pertinente que poderá servir
de ponto de reflexão para alguém. Do mesmo
modo, também não pretendo desvalorizar
a história, o trabalho e, por ventura, a
importância de cada um no passado do grupo.
Sem dúvida que posso afirmar que sem
passado não há presente, mas nunca posso
esquecer que sem presente não há futuro.
Neste campo, tudo parece estar conectado.
No parágrafo anterior, acabo
por abrir a cortina ao que suporta a minha
resposta. É claro que os anos que temos de
grupo significam algo de importante, só que
a meu ver o principal destaque deve ser dado
ao sacrifício e esforço apresentado durante
esse tempo. São essas as componentes
que fazem os anos terem outro valor e que
tornam as pessoas em referências do grupo.
Não são heróis, que fique claro, pois acredito
que quem anda muitos anos num grupo e
os leve realmente a sério percebe, como
ninguém, o significado do termo anti-herói.
No entanto, sem a dedicação de quem se
sacrifica, os grupos acabam por perder uma
parte significativa do seu propósito. Para que
não haja desvios na interpretação, ressalvo
que não é sobre líderes que estou a escrever,
mas sim sobre todos os Ultras.
Resumindo, é importante respeitar
o passado, pois é nele que se encontra o
trabalho que precedeu as novas gerações,
mas, se queremos continuar a história, não
podemos descuidar a actividade do presente.
Se é pelo presente que se constrói a história,
então fica fácil de entender que sem esforço
de quem ainda cá está “passaremos à
história”. É agora que as novas gerações têm
que afirmar o seu espaço, passando de ESTAR
a SER, mas o activismo deve continuar a ser
partilhado pelos mais velhos - em teoria, o
exemplo deve partir obrigatoriamente destes.
É certo que as fases da vida mudam e, com
isso, muitas outras coisas se transformam,
seja em contexto familiar ou profissional, mas
não diminui a responsabilidade de fazermos
o que está ao nosso alcance para ajudar e
representar o nosso grupo na medida que é
possível. Contudo, na dimensão portuguesa
da Cultura Ultra, é comum ver os mais antigos
a passarem de SER para ESTAR quando não
abandonam o grupo. Quem nunca ouviu
a expressão “já não tenho idade/vida para
isso”? Facilmente percebem que não me
refiro a uma questão de sentimento. Este SER
é objectivamente uma questão de activismo
e, para mim, a par do reconhecimento da
história, este é um dos aspectos que devemos
valorizar. A militância Ultra pressupõe este
compromisso.
No nosso país, é muito comum ver o
pessoal dos grupos a encontrar no estrangeiro
as suas referências de bancada. Certamente,
não sou o único a sentir que entre os ultras
portugueses existe uma opinião que coloca
os grupos de alguns países num patamar
acima dos nossos. Era bom procurar perceber
porquê, para que o movimento português
também consiga subir o nível. Penso que
a resposta assenta essencialmente em
três factores: a organização, o sentido
de orientação e os membros. Explicando
minimamente cada um dos factores
mencionados, posso dizer que a organização
é preponderante para o bom funcionamento
e desenvolvimento do grupo, o sentido de
orientação define os valores e a identidade e,
por fim, os membros são a materialização do
grupo. Tudo se centra nas pessoas e no que
eles são, querem e fazem. Está aí a condição
que nos pode levar a patamares maiores, e
é também onde se encontra a necessidade
de pôr em causa o papel de cada um de nós
nos nossos próprios grupos. Seja por motivos
culturais, geracionais ou sociais, o povo está
demasiado acomodado - incluindo os Ultras.
Precisamos de contrariar essa tendência e
para isso temos que sair do conforto e colocar
o nosso papel em questão.
Não escondo que este texto foi
um desafio. Para passar a minha visão deste
tema tive de dar algumas “voltas”, sob pena
de desvirtuar a minha intenção ao redigir
este texto. Reitero que o objectivo não foi
criar avaliações entre os Ultras, apenas
contribuir para a reflexão do que somos e o
que queremos para os nossos grupos. Façam
a vossa parte.
Por J. Lobo
79
REAL SOCIEDAD X SL BENFICA
Destino fora da habitual, rota
de Champions, proximidade uma cidade
fantástica e boas perspectivas em termos
desportivos.
Tudo levava a crer num away ao
país vizinho de sonho, numa mescla entre
a invulgaridade de um Getafe (do tempo
em que Mantorras ainda fazia golos) e a
esperança num resultado positivo tal e qual
como fizemos na última deslocação ao extinto
Vicente Calderón - naquela que, recordo, foi a
primeira derrota da era Simeone em casa.
Sou da opinião que estas são
daquelas que se fazem de carro. Não adianta
inventar muito. Mesmo que o condutor seja
sempre o mesmo (já estão a ver onde quero
chegar). Chegar ao destino é incrível e bom
sinal, mas é no caminho que se partilha,
que se criam e partilham histórias. Para lá,
é aproveitar. Para cá, é regressar como se
puder. Ganhando ou perdendo. Ganhando,
a viagem é mais longa e ruidosa. Perdendo,
silenciosa e sobretudo mais rápida.
San Sebastián não desilude. É uma
cidade que vive a Real, assim como Bilbao
vive o Athletic. Os bascos sabem receber, a
menos que “les toquen las narices”.
Nas bancadas, sector cheio como
tem sido apanágio. Dentro de campo,
lampejos da época dos zero pontos, de Vigo,
daquilo que quiserem.
Para além disso, dejavús e atitudes
80
iguais às que nos “impediram” de ir a Milão,
com consequente controlo policial após o
jogo. E controlo na verdadeira aceção da
palavra para quem já por muitas destas
passou.
A viagem de regresso foi algo
lenta pelo cansaço (psicológico e físico), mas
silenciosa.
Tudo passa. Valores mais altos se
levantam. A viagem para Salzburgo estava
marcada desde o dia do sorteio. Pensei que
ia adquirir bilhete ao meu clube e, afinal, não
vou, mas é uma questão resolvida.
Por Afonso C.
81
Dia 1
Saímos do Porto debaixo de chuva,
mas tínhamos sol à chegada a Itália.
Bologna aguardava-nos com um verdadeiro
spaghetti (à bolonhesa).
De barriga cheia encaminhamo-nos
para o estádio Renato Dall’Ara. Ao contrário
das nossas expectativas o ambiente era
de calmaria entre os adeptos da casa. O
cenário estava bem policiado em cada rua,
antecipando eventuais confrontos com os
milhares de tifosi da Lázio que viajaram da
capital.
A entrada do estádio para a nossa
bancada faz-se por um acesso, imagine-se, de
uma velha escola.
o ambiente era de festa, com cânticos e
pirotecnia de ambos os lados. Excelente
ambiente.
Uma primeira parte fraca
esmoreceu os ânimos, e só voltamos a dar
conta que estávamos tão perto dos adeptos
da Lázio quando, aos 46 minutos, o Bologna
marca e os ultras da Lázio arremessam várias
tochas em direção aos bolonheses. Daí até
ao final do jogo só ouvimos os festejos dos
adeptos da casa.
Resultado final: Bologna 1 Lázio 0
Já lá dentro, ficamos mesmo ao
lado do setor visitante. Aí pudemos observar
toda a movimentação dos milhares de ultras
da Lázio que, mesmo numa sexta feira, a mais
de 350 km de casa, mostraram-se efusivos e
prontos a apoiar a sua equipa.
Antes mesmo do apito inicial
82
Dia 2
Depois de 120 km percorridos
eis-nos chegados a terras de Santo António,
Pádua. O confronto do dia opôs o clube da
cidade ao Giana Erminio.
Zero expectativas sobre o que se ia
passar dentro e fora das quatro linhas neste
jogo da série C, não fosse esse o objectivo
desta viagem: descobrir ao vivo a realidade
dos 3 principais escalões do futebol italiano.
Surpreendidos logo pela dimensão do
estádio, o ambiente de festa e o entusiasmo
dos adeptos, dirigimo-nos às bilheteiras (este
foi o único jogo para o qual não tínhamos
antecipado bilhetes) sob olhar curioso dos
ultras do Padova, cuja sede era mesmo ali.
Com os bilhetes comprados
ainda dava tempo para uma cerveja.
Arriscamos e entramos logo ali e, pelo meio
do avermelhado das tochas e dos cânticos
dos ultras da casa, avistamos uma pequena
mesa onde se vendiam cachecóis do grupo.
Colecionador como sou perguntei o preço
- 15€, respondeu-me o rapaz. Quando me
preparava para pagar fui surpreendido por
um sujeito já velha guarda, que mandou o
rapaz guardar o cachecol, e perguntou-nos de
onde éramos. O ambiente ficou tenso, num
ápice rodearam-nos vários outros membros
do grupo, mas quando respondemos que
eramos de Portugal baixaram a guarda.
Acabei por comprar o cachecol, deixando-nos
ficar por ali a beber até ao início do jogo.
Uma partida com um ambiente
surpreendente, melhor do que o do dia
anterior.
Resultado final: Padova 3 Giana Erminio 1
Dia 3
Verona, o mais esperado. Dois
jogos num só dia. Uma cidade encantadora,
uma simbiose perfeita entre cidade, clube e
adeptos. Verona respira o Hellas e o Hellas
respira Verona... qual Romeu e Julieta.
Jogo marcado para as 12:30, e
talvez por isso sem ambiente de registo fora
do estádio.
Já lá dentro, junto ao sector dos
ultras do Hellas, ficamos desapontados por
não estar tão cheio quanto prevíamos. Do
lado oposto, bem no topo, faziam-se ouvir
os visitantes do Monza. A fraca prestação
do Hellas no jogo levou-nos à conversa com
os adeptos da casa, enquanto o marcador
aumentava para os visitantes.
Enquanto bebíamos borghettis –
sim, em Itália há todo o tipo de álcool nos
83
estádios - sem os excessos que se cometem
por cá, ouvíamos os relatos de tudo o que se
passava no clube. Dos problemas na direção
à falta de dinheiro, passando mesmo pelas
guerrilhas internas entre os grupos do Hellas.
Descobrimos, então, por que é que o sector
dos ultras não estava tão cheio.
Era hora de partir para Parma, bem
antes do árbitro assinalar o final do jogo.
Resultado final: Hellas 1 Monza 3
Chegados a Parma, depois de
percorrermos mais de 140 km de paisagens
deslumbrantes por entre rios e vales,
estávamos prontos para mais um jogo.
No Ennio Tardini defrontavam-se
Parma e Sudtirol. À nossa chegada já estava
1-0, e o ambiente era de festa, não estivesse
o Parma a lutar para subir de divisão.
Ao intervalo fomos explorar as
redondezas do setor dos ultras da casa.
Convém lembrar que a arquitetura dos
estádios em Itália em nada se assemelha
aos nossos, onde encontrámos vários murais
graffitados alusivos ao clube e às suas gentes.
A segunda parte serviu para
saborear as últimas cervejas em Itália e
cantarolar os cânticos entoados pela curva
do Parma conhecidos por todos nós, não
fossem os italianos os grandes compositores
dos cânticos que ouvimos nas bancadas dos
estádios por este mundo fora.
Resultado final: Parma 2 Südtirol 0
Por Duarte Monteiro
84
85
SPORTING CP X ATALANTA BC
As visitas de equipas italianas
geram sempre grande expectativa em relação
à visita e prestação dos seus ultras, sobretudo
quando se trata de uma curva histórica como
a Curva Nord da Atalanta. O alinhamento
do calendário apontou para que o jogo se
disputasse no dia 5 de outubro, feriado em
Portugal, acabando o horário da partida
por proporcionar uma soalheira jornada de
futebol europeu. De Bérgamo viriam 900
adeptos, número bastante reduzido, mas
reflexo do atual momento do movimento
ultra neroazzurro à procura de liderança e
orientação, depois da dissolução da Curva
Nord Atalanta. Horas antes, os adeptos
bergamascos juntaram-se no habitual ponto
de encontro definido pelas autoridades
neste tipo de ocasiões, para depois rumarem
de metro até ao estádio Alvalade XXI. Nas
imediações de Alvalade, a calma em torno do
estádio apenas foi agitada pela chegada em
grupos separados de adeptos da Atalanta,
que se fizeram ouvir com os seus cânticos.
A escolta musculada por parte das forças
de segurança direcionou rapidamente os
adeptos da Atalanta para a entrada do
estádio, provocados com cânticos referentes
à Fiorentina, cuja curva tem amizade com os
ultras sportinguistas e que tem uma rivalidade
muito forte com os da Atalanta. À medida
que o início da partida se ia aproximando,
as bancadas foram sendo preenchidas pelos
cerca de 42 mil adeptos que presenciariam
a partida. Noutros tempos, esta seria uma
ocasião propícia para os ultras da casa
realizarem uma coreografia, mas tal acabou
86
por não acontecer, limitando-se a curva sul
a expor a frase “Um clube tão grande, como
os maiores da Europa” e posteriormente um
lençol com o símbolo do clube juntamente
com potes de fumo verdes. Brigada e Torcida
mostraram de forma discreta algum do seu
material identificativo e, já com o jogo a
decorrer, na curva norte, onde atualmente
se posiciona o Directivo, foram abertos vários
lençóis com símbolo e data de fundação do
clube, acompanhados por alguma pirotecnia.
Posteriormente, os mesmos exibiram a frase
“Odio Bergamo”. O apoio vocal por parte dos
ultras sportinguistas foi constante, mas longe
do nível que se assistia aquando da curva sul
com os grupos todos. Na parte final, com
o Sporting em busca do empate, registouse
um forte apoio que alastrou facilmente
às restantes bancadas. Do lado italiano, a
permissão de utilização de tubos fez com que
o seu sector fosse colorido com estandartes
(ai que saudades!) e algumas bandeiras de
pequena dimensão, exibidos ao longo de
toda a partida. Os cânticos foram constantes
e intensos à medida que a sua equipa ia
assumindo o comando do jogo. A nova
disposição da bancada visitante, que agora
ocupa grande parte da bancada superior
norte, beneficiou bastante a projeção dos
cânticos dos italianos, bastante audíveis em
todo o estádio. Registe-se a presença de
diversas gerações de ultras que viviam com
a mesma intensidade que os mais novos
os acontecimentos da partida. No final, a
saída dos adeptos da Atalanta foi tranquila,
mas com forte aparato policial que os
acompanhou até ao metro que os levaria de
regresso ao centro da cidade.
Por M. Soares
87
“Derby della Lanterna” é o nome
pelo qual se popularizaram os jogos entre os
dois principais emblemas futebolísticos da
cidade de Génova, que se localiza no noroeste
de Itália e que tem como principal atracção
precisamente a “Lanterna”, que mais não é
do que um farol que serve como referência
para as embarcações que há muito tempo
navegam por aqueles mares. É na ligação com
o mar que se encontra a alma desta cidade,
conhecida por ser o local mais provável
de nascimento do navegador Cristóvão
Colombo. Com aproximadamente 1,5
milhões de habitantes na área metropolitana,
a cidade foi fundada no século V a.C. e foi
uma república independente, a Sereníssima
República de Génova, entre o século XI e
1797, ano em que foi invadida pelos exércitos
napoleónicos. Durante o seu apogeu, a
Sereníssima República chegou a deter as
ilhas da Córsega e inclusive a Crimeia como
colónias, e evidenciava-se pelo forte pendor
comercial e mercantil da sua economia.
Ora foi também pela “via marítima”
que começou a longa ligação desta cidade com
o futebol, uma vez que foi no porto de Génova
que cidadãos ingleses introduziram o jogo da
bola na Península Itálica, mais concretamente
a 7 de Setembro de 1893, quando nasce o
Genoa Cricket and Football Club, o mais antigo
clube de futebol italiano. Para além de ser o
primeiro clube a ser fundado oficialmente
no país, o Genoa foi também o primeiro
a vencer o Scudetto (campeonato), cuja
edição de estreia se realizou em 1898, e, na
aurora do futebol transalpino, os “rossoblú”
tiveram um domínio praticamente absoluto,
levando de vencidos seis dos primeiros sete
campeonatos italianos.
O primeiro jogo entre equipas
genovesas de que há registo foi disputado
ainda nos finais do século XIX (1898), e opôs
o Genoa ao Pro Liguria, estava o primeiro
Derby della Lanterna ainda a quase meio
século de distância, uma vez que o Unione
Calcio Sampdoria só seria fundado no final da
2ª Grande Guerra, em 1946, fruto da fusão
entre dois clubes locais, o Sampiedarena e o
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Andrea Doria. Inicialmente, a nomenclatura
desta colectividade continha até um hífen
(Samp-Doria), tendo o mesmo deixado de
ser utilizado com o passar dos anos. Os
blucerchiati, alcunha pela qual é conhecida
a Samp, cujos equipamentos ostentam o
azul (dominante), branco, vermelho e preto,
herdado dos clubes predecessores, apesar de
ainda jovem, é um clube já com um palmarés
assinalável, tendo vencido um scudetto em
1991 e quatro Taças de Itália, títulos a que
junta a conquista europeia da Taça das Taças
em 1990, diante do Anderlecht, e chegando
inclusivamente a disputar uma final da Taça
dos Campeões Europeus, em 1992.
Com forte implantação na zona de
Sampierdarena, subúrbio industrial da cidade,
a Sampdoria leva vantagem no confronto com
o vizinho Genoa, tendo vencido 42 dérbis,
contra apenas 26 vitórias dos Rossoblu, e
registando-se ainda 39 empates, tendo o
primeiro confronto entre os dois emblemas
ocorrido logo no ano de fundação da Samp,
a 3 de Dezembro, com a vitória por 3-0 a
sorrir ao clube recém-fundado. Ainda assim,
e fruto da hegemonia inicial, o Genoa pode
orgulhar-se de contar no seu espólio com
nove scudettos vencidos, ainda que o último
remonte ao longínquo ano de 1924.
É verdade que, em termos
mediáticos, este confronto não tem o
impacto de outros dérbis tais como o romano
ou o milanês, mas em matéria de paixão e
entusiasmo, as bancadas do Stádio Comunale
Luigi Ferraris, propriedade do município e
casa dos dois clubes, não recebem lições
de ninguém. Esta é uma rivalidade intensa
dentro e fora das quatro linhas e as duas
massas adeptas ostentam com orgulho o
seu fervor clubístico. Os mais entusiastas
de cada um dos lados estão radicados em
bancadas opostas do estádio - na Gradinata
Nord (bancada norte) localizam-se os
grupos Ultras do Genoa, cuja percurso fica
indubitavelmente marcado pela Fossa dei
Grifoni, fundada em 1973 e que, apesar de
se ter dissolvido vinte anos depois, continua
a figurar como o mais importante grupo
da história do movimento organizado de
adeptos do Genoa, ainda que muitos outros
lhe tenham sucedido, nomeadamente
Ottavio Barbieri ou Vecchi Orsi, que também
se destacaram. Actualmente mantêm-se em
actividade Via Armenia 5r (nome inspirado na
morada da antiga sede da Fossa dei Grifoni),
Gav, Caruggi e Levante Rossoblú.
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Do lado dos blucerchiati, que
ocupam “La Sud”, o filme não é muito
diferente. Quem figura como protagonista
principal neste lado são os incontornáveis
Ultras Tito Cucchiaroni, um dos grupos
pioneiros no movimento e apontados como
os primeiros a usarem uma faixa com o nome
Ultras. Ao contrário da Fossa dei Grifoni, os
Ultras Tito mantêm-se no activo, ainda que
tenham abandonado a bancada superior que
ocuparam durante largos anos e se tenham
juntado no piso baixo ao grosso dos outros
grupos da Samp. Fedelissimi 61 é outro dos
protagonistas desta película, para além de
outros intervenientes como a Struppa 86,
Valsecca Group, Molesti ou Fieri Fossato
que fecha o leque de colectivos ainda em
actividade.
As imagens de marca das bancadas
do Luigi Ferraris em dia de dérbi são os tifos
habitualmente apresentados pelas duas
gradinatas, que rivalizam em qualidade e
se superam a cada confronto. Apesar desta
fortíssima rivalidade, nas ruas reina uma paz
relativa entre ultras dos dois clubes, com
o último confronto violento e de grandes
proporções a datar de 2007, sendo que desde
então vigora uma espécie de pacto não oficial
que tem evitado grandes “arraiais”.
Nas últimas temporadas os dois
emblemas da cidade têm vivido tempos
conturbados, como a despromoção para
a Série B do Genoa na temporada 21/22,
que deu aso a inúmeras provocações
por parte dos rivais, inclusivamente uma
marcha fúnebre. Os blucerchiati, no
entanto, provaram o sabor dum velho ditado
português que diz para “não te rires do mal
do vizinho”, sendo eles próprios relegados
para a segunda divisão na temporada 22/23,
vendo o clube envolvido numa paupérrima
situação financeira, enquanto os Rossoblú
conseguiam a promoção que os trouxe na
corrente temporada de volta à série A. Para
infortúnio de todos os que gostam de bons
espetáculos de bancada, esta temporada não
haverá Derby della Lanterna, mas ficamos a
torcer para que as duas equipas de Génova
se voltem a encontrar o mais brevemente
possível.
Por J. Sousa
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UC SAMPDORIA X SPEZIA CALCIO
Depois de em Agosto ter descoberto
uma das maiores alegrias de vida, por um
bom período de tempo, fui maturando a ideia
de fazer mais um salto a Génova. A viagem
foi fácil de marcar, como sempre, e nada fazia
antever o que se soube a 3 dias da partida:
greve geral nos aeroportos em Itália.
Há coisas que não conseguimos
explicar em Portugal, mas muito menos em
Itália. Dos 3 voos Porto - Milão do dia, apenas
voou o nosso. Abençoado Santo Protector
dos Ultras.
Chegados a Génova a meio da
tarde, dirigimo-nos para o estádio e o caos
era bem visível no trânsito em direcção ao
mesmo. Com alguma sorte, conseguimos um
excelente estacionamento e em 5 minutos
já nos encontrávamos junto dos amigos de
sempre e com as primeiras bebidas a sair.
Com a certeza de que a escolta
para os visitantes seria imensa, o movimento
era bem sereno na rua dos grupos Doriani.
A entrada fez-se com grande calmaria no
primeiro controlo. No último controlo o
aspecto dos torniquetes tem perfil securitário
máximo, mas na realidade quase nem
revistado fui. Nota para a entrada tranquila
de bebidas, uma vez que há cerveja com
álcool dentro do estádio. Outras realidades e
percepções de bom senso.
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Gradinata Sud extremamente
compacta com a “nova” disposição dos
Grupos a dar excelentes resultados,
lembrando-me dos tempos áureos com
o velhinho sistema de som e para abrir o
jogo uma grande tochada acompanhada de
milhares de bandeiras ao vento e 3 riscas “à
argentina” caídas do segundo anel.
No settore ospiti, pouco mais de
800 adeptos, fruto da restrição de venda de
bilhetes apenas a quem possuía a tessera
del tifoso, coisa a que os grupos do Spezia
aderiram, e que apenas foram colocados à
venda a 3 dias do jogo.
Nível muito alto da Gradinata Sud
durante os 90 minutos, e nem com o golo do
empate se conseguiu ouvir o sector visitante.
Cânticos sempre ritmados com tambor e
forte influência argentina, mas sempre com
um cunho italiano clássico.
O golo da vitória a faltar 10 minutos
para o fim fez disparar a adrenalina e selar a
terceira vitória consecutiva da Sampdoria a
contar para o Campeonato, e com isto mais
uma sequência brutal de cânticos até ao
último segundo.
Final do jogo e era hora de arrumar
o material. Uma saída tranquilíssima do
estádio sem sinal de qualquer confusão, num
derby que já foi de amizade/respeito e que
nos últimos 2 anos tem sido de ódio.
Tempo para comer mais uma
fatia de pizza e beber as últimas antes de
continuarmos a festa na cidade, pela noite
fora.
Por M. Bondoso
Foto: Luca Ghiglione
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CULTURA
DE ADEPTO
Por M. Bondoso
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20 Anni di Passione Recidiva
Internacional
20 Anni di passione recidiva
Autor: Friulani al Seguito
Equipa: Udinese
Ano: 2014
Páginas: 187
Preço: 25 eur
Friulani al Seguito, um grupo
bastante respeitado no panorama italiano,
sempre manteve uma estética inovadora
como matriz principal.
O livro conta os 20 anos de
actividade jogo a jogo e época a época,
passando pelos períodos maus e bons.
Pelo meio vai sendo mostrado variado
material realizado desde cachecóis, t-shirts,
DVDs, bem como outras fotos relacionadas
com a vida “FAS”.
Cada foto, sempre numerada por
época, reporta depois para a legenda do jogo
dando um bom enquadramento auxiliada
quando possível de recortes de jornais e
bilhetes dos jogos.
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Ultras Salerno - Un’altra storia
Internacional
Ultras Salerno - Un’altra storia
Autor: U. Adinolfi, D. Cioffi, M. de Fazio
Equipa: Salernitana
Ano: 2020
Páginas: 172
Preço: 15 eur
Este livro pretende dar a visão
dos três autores sobre o movimento ultras
em Salerno e, para isso, parte da premissa
clássica: a origem social do movimento
associativo do clube em 1919 ate à génese
dos primeiros grupos em 1968.
Os capítulos são dedicados aos
grupos históricos da Curva Sud: Fedelissimi,
Ultras Plaitano, Gsf, Nucleo e East Side e
Nuova Guardia.
O nascimento, actividade e o fim
dos grupos vai acompanhando o relatar
dos jogos e das épocas da Salernitana,
passando pelos valores de cada um, das suas
dificuldades e também dos seus sucessos.
Termina com uma fotogaleria
de algumas das coreografias da Curva Sud
Siberiano que fizeram história.
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20 Anni di Passione Recidiva
Ultras Salerno - Un’altra storia
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Pela Pátria dos Ultras
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É recorrente ouvirmos na gíria
desportiva que “o futebol é muito mais do
que um jogo”. A verdade é que assim o é
desde os primórdios da prática do desportorei,
seja pelo impacto social que o futebol tem
na sociedade, seja pelos costumes e tradições
que são transportados das comunidades
locais para a bancada e vice-versa, ou até
pelas histórias que correm o mundo por
boas razões. Todas estas questões são alguns
dos pilares que fazem com que exista uma
vasta “Cultura de Bancada” por esses países
fora e é exatamente essa cultura que nos
dá a vontade única de percorrer o mundo
atrás destes pequenos tesouros. Posto isto,
a região da Campânia seria o destino para
uma semana de férias em família, ainda que
o objetivo principal não fosse por motivos de
bola. Porém, uma vez em Itália, diria que é
impensável não estar atento aos pormenores
que as curvas italianas têm para oferecer e
que tanto inspiram muitas outras pelo resto
da Europa.
A primeira paragem foi em Nápoles,
que passado três meses (agosto) ainda
ostentava fortes marcas dos célebres festejos
do terceiro scudetto e que seguramente
assim permanecerá durante um bom
tempo. A ligação umbilical entre a cidade e
o clube é o que mais se destaca quando se
vagueia por Nápoles: as ruas estão repletas
de alusões ao clube, os comércios exibem
com orgulho o símbolo dos partenopei
dentro dos seus estabelecimentos e existe
a certeza de que Diego Armando Maradona
jamais será esquecido por aquelas bandas.
Diego é indiscutivelmente o maior ídolo
dos napolitanos, o que é fácil de confirmar
devido à grande quantidade de referências
ao mesmo, desde pequenas bandeiras nas
habitações a grandes murais que cobrem
a fachada dos prédios. Quanto ao “Stadio
Diego Armando Maradona” não posso tecer
uma crítica completa, uma vez que não tive a
oportunidade de vivenciar uma partida, assim
como as duas localidades que vou referenciar
de seguida. Ao visitar o exterior do estádio,
fica apenas a imaginação do que poderá ser o
ambiente em torno de um jogo, ainda que as
dezenas de graffitis e murais realizados pelos
ultras sejam meritórios de uma palavra, que
certamente estão relacionados com a forte
cultura graffiti que domina as ruas da grande
urbe napolitana. Ao analisar estas artes
facilmente se percebe que a organização das
bancadas é algo complexa. Essencialmente,
dividem-se em duas curvas principais, as
famosas “A” e “B”, compostas por inúmeros
grupos, alguns já extintos. Ainda assim,
grande parte das mensagens nas paredes,
apesar de serem de grupos distintos,
possuem o objetivo comum de conotar a
luta pela liberdade de apoiar, de realizar
transfertas e de tifar, bem como contrariar
os abusos policiais e estatais. Relativamente
à cidade, fiquei com impressões que se
enquadram com muito daquilo que idealizava
anteriormente. O quotidiano napolitano está
completamente mergulhado no caos urbano,
com muitas ruas estreitas, o trânsito caótico
e a grande quantidade quer
de motos (as clássicas vespas
e lambretas) quer de pessoas
gera ainda mais confusão. Não
obstante, a urbanização em
massa dá sempre espaço para os
pequenos pormenores do povo
local, e Nápoles é perfeito para
abdicar de algumas horas apenas
para aliciar isso mesmo.
Continuando as férias,
optamos por tirar um dia para
realizar a tão famosa viagem
pela Costa Amalfitana na qual,
na minha perspetiva, há duas
paragens obrigatórias: Cava de’
Tirreni (uma pequena cidade com
pouco mais de 50 mil habitantes
que se recusa a render à febre
napolitana que domina grande
parte das localidades da região
da Campânia) e Salerno, que
dispensa apresentações. Logo
que chegamos a Cava sentimos um choque
regional comparado a Nápoles, onde a
tranquilidade reina, um número reduzido de
veículos e pessoas circula na rua e o centro
histórico é de facto deslumbrante. Esta
paragem foi o concretizar de um pequeno
sonho, dado que já faz algum tempo que
acompanho os Ultras da Cavese e aparentava
ser mais um dos infinitos casos em que
não ia passar de uma “visita virtual”. Em
praticamente toda a sua existência, o clube
competiu nas divisões italianas inferiores,
sendo que o ponto mais alto da história
recente foi a participação por 3 vezes
consecutivas e únicas na Série B entre 1981
e 1984. O passado da atual Società Sportiva
Cavese 1919 não é constituído propriamente
por glórias e conquistas, mas sim por
inúmeras situações infelizes, desde graves
problemas financeiros que levaram à exclusão
dos campeonatos profissionais até às fusões
com outros clubes da cidade. À data a Cavese
compete na Série D, porém, a sua verdadeira
vida e encanto é fora das 4 linhas. Foi na
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Curva Sud Catello Mari (assim intitulada em
homenagem ao jogador do clube que faleceu
num acidente de viação em 2006) que o
ritmo “Dale Cavese” ganhou popularidade
e passou a estar presente nos estádios ao
redor do mundo. A Curva Sud é constituída
pelos Acid Boys, NDC (Noi di Cava), Viking,
Nucleo Mods e Ultras Cavese, na medida
em que a união de todos os grupos origina
um apoio extremamente festivo e colorido,
de tal modo que o clube ficou conhecido
mundialmente exatamente por isso, sendo
indubitavelmente um exemplo a seguir. Posto
isto, se o leitor algum dia for a Nápoles,
recomendo dar um pequeno salto a Cava de’
Tirreni, principalmente se a Cavese jogar em
casa.
Por último, a paragem em Salerno
foi bastante breve, tendo sido apenas
possível visitar a Catedral de Salerno e as
imediações do “Stadio Arechi”, este último
que fica descontextualizado com o centro
da cidade. Das três visitas às redondezas dos
estádios, o reduto da Salernitana ficou muito
aquém das expetativas, uma vez que para
além do estádio pouco ou nada havia. Porém,
o centro da cidade assemelha-se bastante a
Nápoles, onde a ligação ao clube é bastante
presente nas ruas. Não obstante, tenho a
certeza que a minha opinião mudará quando
efetivamente entrar no estádio, e que oxalá
seja brindado com um excelente tifo da Curva
Sud Siberiano, algo que são exímios a fazer.
Concluindo, é unânime para
quem pensa o futebol de forma diferente e
racional, dando o devido valor aos direitos e
liberdades, que é extremamente gratificante
e de um enriquecimento cultural único visitar
a pátria dos Ultras. Fica o mote para a difícil
tarefa de os ultras bracarenses terem a faixa
presente em Nápoles, bem como o orgulho de
o Sporting Clube de Braga ter a oportunidade
de pisar tal palco.
Por “Rooney”
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Viagem à Madeira
Após uma difícil, dura e penosa
época na distrital, o Sport Clube de Vila Real
conquistou a subida de divisão e voltou aos
nacionais, o que normalmente significa uma
ida às ilhas.
Ansiosos pela divulgação das
séries oficiais e do calendário definitivo,
somos confrontados com três idas à ilha da
Madeira. Na verdade, anteriormente já tinha
tido o privilégio de ir ver o “Bila” à Madeira,
num jogo para a Taça de Portugal contra o
União da Madeira. Contudo, foi uma viagem
marcada à última da hora, onde viajei com
a equipa e direção. Desde então, senti que
necessitava de viver uma jornada à ilha de
maneira diferente, na companhia daqueles
que, domingo após domingo, partilham a
bancada comigo.
No dia do sorteio, com as supostas
datas definitivas em mãos, adquiri a
“passagem” para dia 25 de fevereiro, data do
jogo contra o Camacha, que curiosamente
coincidia com o meu dia de aniversário.
Poderia haver forma melhor de celebrar um
aniversário do que a assistir e apoiar o Bila na
Madeira? Duvido.
Entretanto, em outubro, eu e os
meus companheiros que já tinham adquirido
passagem para 25 de fevereiro, fomos
confrontados com a alteração da data
desse jogo. Isso naturalmente deixou-nos
revoltados, mas não resignados.
Conversamos entre nós e garantimos
outra viagem, desta vez de 3 a 6 de novembro,
para o jogo contra o Marítimo “B”, juntandonos
a mais adeptos que também tinham
comprado bilhete para esse encontro. Assim,
dia 3 de novembro, em voos diferentes,
embarcamos 6 “malucos” pelo Bila rumo à
ilha.
Desportivamente, o Sport Clube de
Vila Real encontrava-se na última posição,
sem qualquer vitória. No entanto, a esperança
de uma reviravolta viajava connosco na
bagagem, e todos acreditávamos que a
primeira vitória aconteceria na Madeira.
Chegados à ilha, vivemos uma sextafeira
de copos, amizade e Bila, com uma saída
à noite na zona histórica do Funchal, regada
com muita poncha e algumas “baixas” na
noite...
O sábado, mesmo com ressaca, não
nos impediu de visitar a pitoresca cidade
de Câmara de Lobos, onde absorvemos a
verdadeira essência madeirense, partilhando
memórias do nosso clube e absorvendo a
cultura local.
No domingo, dia do jogo, chegamos
ao Campo da Imaculada Conceição, no
Funchal, onde esperávamos ser os únicos
adeptos do Bila. Para nossa agradável
surpresa, constatamos a presença de 25 a 30
vilarrealenses sediados na Madeira e pais de
atletas na bancada.
Assistimos a um bom jogo da nossa
equipa, culminando na primeira vitória e
num sentimento de dever cumprido. No final,
adeptos e jogadores celebraram numa bela
simbiose, e senti que a nossa presença foi
vital para este resultado positivo.
Destaco também a presença de
vários membros da claque do Marítimo,
os “Templários”, que nos acompanharam
durante e após o jogo. Esta conexão foi
estabelecida numa das minhas idas à
101
Madeira, onde assisti ao jogo junto deles
no Caldeirão dos Barreiros, estendendo-se
depois ao resto dos adeptos de ambos os
clubes, onde partilhamos a mentalidade do
apoio incondicional ao clube da terra.
No regresso a casa, passamos a
noite no aeroporto da Madeira, numa
demonstração de companheirismo, sacrifício
e dedicação ao nosso clube, que chegou ao
ponto de dormir no chão de um aeroporto
para apoiar 90 minutos de um jogo de
futebol, do último classificado da quarta
divisão em Portugal.
Digam o que quiserem, mas para nós,
não é apenas futebol.
Viva o Bila!
Por João Matos Bessa
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