Todos os sapatos
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<strong>Tod<strong>os</strong></strong> <strong>os</strong><br />
sapat<strong>os</strong><br />
Ilustrações de<br />
Paulo Zilberman
Dad<strong>os</strong> Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)<br />
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)<br />
<strong>Tod<strong>os</strong></strong> <strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> [livro eletrônico] / Brabuleto<br />
Corvinho...[et al.] ; coordenação Valdir<br />
Cimino ; ilustração Paulo Zilberman.<br />
-- São Paulo : Associação Viva e Deixe Viver,<br />
2023.<br />
PDF<br />
Outr<strong>os</strong> autores: Thamires Sant<strong>os</strong> Moraes, Beatriz<br />
Pollettini Medici, Victoria do Monte Rodrigues, Maria<br />
Elisabete Fernandes Dias, Juliana Fracarolli, Maria<br />
Cristina Stolf, Márcia R<strong>os</strong>ário.<br />
ISBN 978-65-994682-9-2<br />
1. Cont<strong>os</strong> - Coletâneas - Literatura brasileira<br />
2. Dinâmica de grupo I. Corvinho, Brabuleto.<br />
II. Moraes, Thamires Sant<strong>os</strong>. III. Medici, Beatriz<br />
Pollettini. IV. Rodrigues, Victoria do Monte.<br />
V. Dias, Maria Elisabete Fernandes. VI. Francarolli,<br />
Juliana. VII. Stolf, Maria Cristina. VIII. R<strong>os</strong>ário,<br />
Márcia IX. Cimino, Valdir. X. Zilberman, Paulo.<br />
XI. Título.<br />
23-159826 CDD-B869.9308<br />
Índices para catálogo sistemático:<br />
1. Cont<strong>os</strong> : Coletâneas : Literatura brasileira<br />
B869.9308<br />
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
A Jornada de Arquibaldo, o chinelo<br />
Brabuleto Corvinho<br />
Essa história é sobre um sapato chamado Arquibaldo.<br />
Arquibaldo, desde que se conhecia<br />
como sapato, morava no Clã das Botas: um<br />
lugar gelado onde, não importando a direção<br />
que se olhasse, sempre havia neve.<br />
Mas Arquibaldo não era como <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong><br />
de seu Clã, que sempre diziam para ele:<br />
— Você não é feito de couro macio, e sim de<br />
uma borracha colorida!<br />
— Não tem pel<strong>os</strong> felpud<strong>os</strong> e cadarç<strong>os</strong> resistentes,<br />
mas uma tira fininha que se prende<br />
na sua sola!<br />
Realmente, Arquibaldo não se encaixava no<br />
Clã das Botas mas, mesmo assim tinha esperança<br />
de que sua situação melhorasse no<br />
futuro. Um dia, o Clã se reuniu para dar uma<br />
notícia para ele:<br />
— Arquibaldo, nós decidim<strong>os</strong> que você não<br />
pode mais ficar con<strong>os</strong>co. É muito diferente<br />
de tod<strong>os</strong> e não se encaixa aqui! Você deve<br />
partir para achar um lugar<br />
a qual pertença.<br />
Arquibaldo ficou<br />
triste com a notícia,<br />
mas não se deixou<br />
abalar. Era um sapato<br />
muito decidido<br />
e resolveu encarar<br />
sua missão<br />
com coragem. Estaria<br />
sozinho, mas era<br />
sua chance de ver o<br />
mundo, afinal!<br />
Ele arrumou sua trouxinha<br />
e começou sua<br />
jornada, conhecendo<br />
lugares deslumbrantes<br />
que nunca tinha<br />
imaginado que existiam!<br />
Passou por florestas<br />
que enchiam<br />
o mundo de tons de<br />
verde e canto de passarinh<strong>os</strong>,<br />
por terras<br />
pedreg<strong>os</strong>as com montanhas<br />
altíssimas que<br />
pareciam tocar as nuvens<br />
e por desert<strong>os</strong> com<br />
dunas de areia infinita<br />
e que, à noite, tinham o<br />
mais bonito céu estrelado.<br />
Onde quer que f<strong>os</strong>se,<br />
Arquibaldo encontrava grup<strong>os</strong> de sapat<strong>os</strong>,<br />
tod<strong>os</strong> com suas peculiaridades que <strong>os</strong> faziam<br />
perfeit<strong>os</strong> para morar naqueles lugares,<br />
mas no final falavam sempre a mesma<br />
história:<br />
– Você é muito diferente de tod<strong>os</strong> e não se encaixa<br />
aqui. Deve partir para achar um lugar<br />
a qual pertença.<br />
Arquibaldo começava a achar que nunca<br />
encontraria nov<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> ou um lugar a<br />
que pudesse pertencer… até que sua jornada<br />
o levou a mais um belíssimo lugar: uma<br />
praia de areia branquíssima que acabava<br />
em um mar que se confundia com o azul do<br />
céu no horizonte<br />
Ao chegar, foi recebido por um sapato muito<br />
parecido com ele!<br />
— Olá! Eu sou a líder da Tribo d<strong>os</strong> Chinel<strong>os</strong>,<br />
Eva Iana, qual é o<br />
seu nome?<br />
— Sou o Arquibaldo,<br />
e estou<br />
numa longa<br />
aventura procurando<br />
um<br />
lugar para chamar<br />
de lar!<br />
— Pois bem, parece<br />
que você<br />
encontrou! Bem-<br />
-vindo à Praia<br />
d<strong>os</strong> Chinel<strong>os</strong> Perdid<strong>os</strong><br />
e Achad<strong>os</strong>.<br />
Iana o apresentou<br />
a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong><br />
outr<strong>os</strong> chinel<strong>os</strong>,<br />
que receberam<br />
Arquibaldo<br />
como um velho<br />
amigo que enfim<br />
retornava à sua<br />
casa.”<br />
Arquibaldo agora<br />
vive finalmente feliz,<br />
em seu lar, na Praia<br />
d<strong>os</strong> Chinel<strong>os</strong> Perdid<strong>os</strong> e<br />
Achad<strong>os</strong> e, se um dia você<br />
perder seu chinelo, pode<br />
ser que ele tenha ido visitar<br />
Arquibaldo para fazer castelinh<strong>os</strong><br />
de areia com ele.<br />
Fim!<br />
2
A tragédia do Sapato<br />
Thamires Sant<strong>os</strong> Moraes<br />
Esta é a história d<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> de Clarinha.<br />
Um d<strong>os</strong> seus primeir<strong>os</strong> amig<strong>os</strong> foi Getúlio<br />
e Alfredo, um tênis preto e branco.<br />
Getúlio é muito eficiente e camarada.<br />
Quando ele corre com Clara para pegar<br />
o ônibus, depois de um dia inteiro<br />
andando pela cidade, ele sempre<br />
diz: - Clara, estou cansado!<br />
Tem<strong>os</strong> que correr mesmo?<br />
E ela sempre responde: - Claro<br />
Getúlio, se a gente não<br />
correr, o próximo ônibus<br />
vai demorar, e não vam<strong>os</strong><br />
chegar a tempo para<br />
comer <strong>os</strong> bolinh<strong>os</strong> de<br />
chuva da mamãe.<br />
Mesmo assim Getúlio<br />
amava passear<br />
com Clara<br />
pela cidade.<br />
Eram tantas<br />
luzinhas, enfeites,<br />
pessoas<br />
gritando,<br />
promoções.<br />
Tinha<br />
também,<br />
vári<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong><br />
andando<br />
pelas ruas da<br />
cidade. Ah, e Getúlio reparava<br />
em tod<strong>os</strong>.<br />
— Esse sapato parece um<br />
prédio de tão alto, é empresário.<br />
Esse outro é um sapato<br />
social, não é nada casual.<br />
Agora esse daqui, coitado,<br />
está todo furado.<br />
E ele seguiu andando pela<br />
cidade, observou alguns<br />
sapat<strong>os</strong> suando na academia,<br />
as botas n<strong>os</strong> pés d<strong>os</strong><br />
policiais marchando<br />
ao lado.<br />
E agradceu por estar<br />
no pé de Clarinha.<br />
Logo ele estaria de volta em casa.<br />
Mas eu esqueci de te contar. Getúlio é o sapato<br />
no pé direito. E Alfredo no pé Esquerdo.<br />
Alfredo era muito conversador, não podia<br />
ver um par de sapat<strong>os</strong> ou de meias, e já começava<br />
a tagarelar.<br />
— Aí você viu a última tendência, agora devem<strong>os</strong><br />
usar meias listradas até o joelho.<br />
E foi em um dia desses andando pela cidade<br />
que aconteceu a grande tragédia de todas<br />
as tragédias d<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>.<br />
Clara estava subindo no ônibus, quando<br />
Alfredo enxergou uma meia cintilante passando<br />
e começou a conversar, só que a meia<br />
estava um pouco longe para ouvi-lo. Então<br />
ele foi ficando um pouco mais frouxo no pé<br />
de Clara, foi deslizando e deslizando para<br />
ouvir a meia, e pronto! Alfredo saiu rolando<br />
e caiu na rua, não deu tempo de nada, porque<br />
a porta do ônibus se fechou. E ele ficou<br />
lá, choramingando.<br />
— Ó céus, ó céus, como isso foi acontecer comigo?!<br />
Eu não quero parar em umas dessas<br />
ilhas de sapat<strong>os</strong> perdid<strong>os</strong>.<br />
Mas logo que Alfredo acabou de falar, passava<br />
um menino segurando as mã<strong>os</strong> de sua<br />
mãe. O menino agachou e chutou Alfredo<br />
para longe.<br />
— Ah, menino! Obrigado. Tomara que eu caia<br />
na Casa da Clara. disse ele pel<strong>os</strong> ares. Mas<br />
não foi nada disso, Alfredo foi parar em cima<br />
de uma árvore. E começou a choramingar.<br />
— Ó céus, ó vida!<br />
Passava por ali uma pipa, com uma linda<br />
rabiola que dançava no ar.<br />
— Porque choras, nesse dia lindo de vento?<br />
Venha voar comigo e ficará contente.<br />
— Pipa de rabiola dançante,<br />
eu sou um pobre sapato<br />
perdido. Mas chegue<br />
mais perto para conversar.<br />
A pipa foi se aproximando<br />
e se enr<strong>os</strong>cou n<strong>os</strong><br />
galh<strong>os</strong> da árvore.<br />
— Agora quem se enr<strong>os</strong>cou<br />
fui eu, mas logo o Pedrinho vai<br />
subir e me tirar daqui - disse a<br />
pipa dançarina.<br />
Foi o que aconteceu, a pipa já estava<br />
sendo desenr<strong>os</strong>cada d<strong>os</strong> galh<strong>os</strong> da<br />
árvore e iria voar de novo, mas bem na<br />
hora que a pipa começou a subir no céu<br />
3
o sapato pulou e se enr<strong>os</strong>cou<br />
na rabiola da pipa.<br />
— Daqui de cima eu vou<br />
conseguir enxergar a casa<br />
da Clarinha. pensou ele.<br />
E foi voando e voando quando<br />
encontrou um balão no céu.<br />
— Psiu! Balão vermelho,<br />
você sabe onde fica<br />
a casa da Clarinha?<br />
O balão olhou para o alto<br />
e se assustou. Um sapato<br />
nessas alturas!<br />
— Não sei e não quero<br />
saber, aqui não é o seu<br />
lugar, o que você está fazendo<br />
no céu.<br />
Alfredo se encurvou, e deixou<br />
o balão ir embora sem falar<br />
nada. Estava com uma saudade<br />
de casa e do seu amigo<br />
Getúlio. De repente: Truuum,<br />
um raio ilumina todo o céu.<br />
E Alfredo começa a tremer.<br />
Ainda bem que lá embaixo a<br />
mãe do Pedrinho chamou ele<br />
para entrar. E quando a pipa começa<br />
a chegar perto do chão, o<br />
sapato preto e branco cai ao lado<br />
de Pedro.<br />
— Que sapato gozado, vou levar pra<br />
casa - disse Pedro levando Alfredo<br />
por baixo do braço e a pipa dançante<br />
no outro.<br />
Pedro jogou o sapato e a pipa debaixo<br />
de sua cama e saiu do quarto.<br />
— Ô! Pipa, eu pensei que você me levaria<br />
para bem longe, perto do meu lar.<br />
— Eu não p<strong>os</strong>so, você não percebeu que<br />
tem uma linha me segurando. Eu danço<br />
pelo lindo céu, mas tenho limite para<br />
onde vou. E você, senhor sapato, também<br />
deveria ter uma linha, assim não ficaria<br />
zanzando por aí perdido!<br />
— Oras, eu não estou perdido, sei o meu lugar,<br />
só não sei como chegar lá.<br />
— É a mesma coisa.<br />
Quando a pipa acabou de falar, logo a porta<br />
se abre e <strong>os</strong> dois enxergam dois pares de<br />
sapat<strong>os</strong>. Um era de Pedrinho, um chinelo<br />
azul. E o outro, de quem será esse par de<br />
sapat<strong>os</strong>?<br />
— Entra Clara, eu tenho certeza de que vai te<br />
4
animar. Vou m<strong>os</strong>trar a minha mais nova<br />
pipa. Ela é muito boa, faz pirueta e hoje me<br />
deu um trabalho daqueles. Você acredita<br />
que ela se enr<strong>os</strong>cou na árvore?<br />
O coraçãozinho de Alfredo começou a fazer<br />
“Tum, tum, tum,tum”. Era a Clarinha. Ele já<br />
iria gritar, mas se lembrou que era um segredo<br />
entre ele e Clara, ninguém mais poderia<br />
saber que ele conversava com ela.<br />
Pensa Alfredo, pensa… Já sei! Vou fazer barulho.<br />
E começou a pular.<br />
Tum, tum, tum ,tum, tum, tum.<br />
Mas o barulho ainda era baixo, ele precisava<br />
de ajuda. Olhou para o lado e viu um pandeiro.<br />
E começou a pular em cima do pandeiro.<br />
Tic, tic, tum! Tic,tic, tum! Tic,tic, tum!.<br />
— Você está ouvindo isso Pedro, vem debaixo<br />
da sua cama!<br />
— Já sei Clara, vá para<br />
trás, devem ser <strong>os</strong> Aliens, eles chegaram<br />
antes do que imaginávam<strong>os</strong>, - disse Pedro<br />
se preparando para uma batalha.<br />
Ele agarrou sua espada de plástico e olhou<br />
por debaixo da cama.<br />
— Saiam extraterrestres, eu estou preparado<br />
para enfrentar vocês.<br />
Mas se decepcionou quando não encontrou<br />
nada.<br />
— Acho que estou vendo coisas, só tem a minha<br />
pipa, o pandeiro e esse sapato preto e<br />
branco que achei.<br />
Clara caiu por debaixo da cama e pegou o<br />
seu amigo no colo e deu um abraço daqueles<br />
bem apertad<strong>os</strong>.<br />
— Você fez muita falta Alfredo, por onde<br />
andou?<br />
Alfredo olhou para a pipa e para Getúlio que<br />
estava na mão de Clara e deu uma risadinha.<br />
5
Cada sapato tem seu pé<br />
Beatriz Pollettini Medici<br />
R<strong>os</strong>a e sua irmã gêmea R<strong>os</strong>inha eram um<br />
par de sandálias diferentes. Eram do mesmo<br />
número, mas uma era um pouco maior<br />
que a outra. Moravam, desde sempre, em<br />
uma caixa de sapat<strong>os</strong> dentro de uma loja em<br />
um grande shopping e estavam à espera da<br />
fábrica, para retirá-las do comércio e substituí-las<br />
por um par igual.<br />
Um vendedor novato pegou a caixa em que<br />
R<strong>os</strong>a e R<strong>os</strong>inha viviam e logo ouviu um grito:<br />
— Essa caixa, não - disse o gerente - essa não<br />
serve. Os sapat<strong>os</strong> vieram com defeito.<br />
Elas já tinham ouvido isso muitas vezes,<br />
mas sempre ficam chateadas.<br />
-Qual é o problema de ser um pouco maior<br />
do que seu par? - perguntou R<strong>os</strong>a.<br />
— Eu não vejo problema nenhum. Toda hora<br />
entra alguém aqui no estoque e ninguém é<br />
exatamente do mesmo tamanho.<br />
Uma criança chamada Belinha entrou na<br />
loja para comprar uma sandália. Porém,<br />
experimentou sapat<strong>os</strong> número 30, estavam<br />
grandes, experimentou 29, estavam pequen<strong>os</strong>,<br />
e a mãe já estava saindo da loja.<br />
De repente, R<strong>os</strong>a, com muita coragem, pulou<br />
da caixa, correu e falou:<br />
— Dê-me uma chance!<br />
A mãe parou e R<strong>os</strong>a pulou no pé maior da<br />
menina. Imediatamente, a mãe ficou feliz,<br />
mas Belinha disse:<br />
— Eu tenho dois pés.<br />
Eis que surge R<strong>os</strong>inha e se coloca no pé menor.<br />
A menina abriu um sorriso e seus olhinh<strong>os</strong><br />
brilharam, pois era a sua primeira sandália.<br />
E a mãe ficou muito surpresa, porque descobriu<br />
que a sua filha tinha um pé de cada tamanho<br />
e era, por isso, que nunca havia conseguido<br />
comprar sapatinh<strong>os</strong> para Belinha.<br />
R<strong>os</strong>a e R<strong>os</strong>inha se sentiram muito felizes,<br />
porque o que era um problema pra loja tornou-se<br />
uma solução para a criança.<br />
R<strong>os</strong>a gritava:<br />
— Uhuuuuull! Não vam<strong>os</strong> voltar pra fábrica!<br />
— Ebal!!! Irem<strong>os</strong> pra casa! - R<strong>os</strong>inha comemorava.<br />
Enquanto Belinha dizia:<br />
— Nunca vou me esquecer de vocês, porque<br />
são as primeiras, as mais especiais.<br />
6
Leonora, a bota exploradora<br />
Victoria do Monte Rodrigues<br />
Leonora era uma bota.<br />
Mas não era qualquer bota. Ela era uma<br />
bota exploradora.<br />
Ela era marrom, chegava até <strong>os</strong> calcanhares<br />
de quem a calçava e era feita com um<br />
material resistente à água.<br />
Leonora g<strong>os</strong>tava muito de fazer trilhas,<br />
atravessar riach<strong>os</strong>, pular em cima de poças<br />
d’água e desbravar a mata.<br />
Ela já viajou pela Amazônia, pela Mata<br />
Atlântica e até mesmo pelo Pantanal!<br />
Além de tudo isso, Leonora já pisou em inset<strong>os</strong>,<br />
empurrou bich<strong>os</strong> estranh<strong>os</strong>, duelou<br />
com cobras e foi até mesmo arremessada<br />
ao ar para espantar um gavião! Quando ela<br />
se encontrava com outr<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> em suas<br />
aventuras, fazia questão de contar:<br />
— …e então eu vi a sombra de um pássaro<br />
enorme vindo rapidamente na direção da<br />
minha humana. Ela me tirou do pé e me jogou<br />
pro ar! Eu rodopiei e rodopiei até que<br />
olhei bem dentro d<strong>os</strong> olh<strong>os</strong> daquele bicho<br />
pertinho de mim e ele voou para longe!<br />
Mas, o pior aconteceu…<br />
Em uma de suas aventuras por trilhas roch<strong>os</strong>as,<br />
a sola de Leonora descolou e ela foi<br />
mandada para o sapateiro.<br />
O velho senhor procurava de um lado, procurava<br />
de outro… e nenhuma cola ajudava<br />
a remendar a coitada da Leonora, a bota exploradora.<br />
— Mais um remendo… eu não aguento mais!<br />
Nenhuma cola é igual à minha! - chorava ela.<br />
Era chegado seu fim. Leonora seria obrigada<br />
a se ap<strong>os</strong>entar.<br />
Ela foi colocada em uma das prateleiras<br />
cheias de outr<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>. Alguns simplesmente<br />
estavam abandonad<strong>os</strong>, outr<strong>os</strong> remendad<strong>os</strong>,<br />
outr<strong>os</strong> estavam apenas de passagem,<br />
enquanto esperavam seus don<strong>os</strong><br />
virem buscá-l<strong>os</strong>.<br />
Leonora chorava a noite toda. Os tênis reclamavam,<br />
<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> de salto viravam de<br />
lado e as chinelas tentavam acalmá-la.<br />
— Norinha, você é uma bota tão bonitinha!<br />
Não fique assim! - exclamavam elas.<br />
7
— Olha só pra gente, som<strong>os</strong> de vári<strong>os</strong> desenh<strong>os</strong><br />
diferentes!<br />
— M<strong>os</strong>tra pra ela, Cleide, as florzinhas da<br />
sua sola! - empurrava uma.<br />
— Norinha, olha as tiras brilhantes da Adelaide!<br />
- falava outra.<br />
— Garanto que meu prego novinho vai te animar<br />
- se intrometia a mais velha do grupo.<br />
Nada adiantava.<br />
O tempo foi passando e Leonora decidiu que<br />
tentaria se adaptar à nova vida e que se esforçaria<br />
para fazer novas amizades.<br />
Ela era bastante tagarela, mas isso fez<br />
com que se aproximasse d<strong>os</strong> sapatinh<strong>os</strong> de<br />
crochê para bebês. Os pequen<strong>os</strong> amavam<br />
quando ela lhes contava histórias de suas<br />
aventuras.<br />
— …e naquele dia eu quase tropecei n<strong>os</strong> meus<br />
cadarç<strong>os</strong>, mas consegui evitar que eles f<strong>os</strong>sem<br />
sugad<strong>os</strong> pela AREIA MOVEDIÇA!<br />
Olivia, a botinha ortopédica, sempre finalizava<br />
dizendo:<br />
— Um dia, eu serei uma bota exploradora<br />
também!<br />
Já Crodoaldo, o sapatinho de crochê, achava<br />
que todas as histórias de Leonora eram<br />
de terror.<br />
— Imagina se eu vou sujar meu corpinho de<br />
fi<strong>os</strong> de lã pisando em todo esse lamaçal<br />
que você comenta?<br />
O tempo foi passando e Leonora começou<br />
a se enturmar e fazer<br />
amizades. Antes,<br />
ela ficava sozinha<br />
num canto de um<br />
armário quando<br />
não estava explorando<br />
algum<br />
lugar, mas agora<br />
tinha muit<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong><br />
com quem<br />
conversar tod<strong>os</strong><br />
<strong>os</strong> dias.<br />
Com <strong>os</strong> sapat<strong>os</strong><br />
de salto, ficou sabendo de todas as fofocas<br />
da oficina do sapateiro e das sapatarias de<br />
onde cada um daqueles sapat<strong>os</strong> vinha.<br />
— A Adelaide foi chinela de comercial!<br />
É, ela gravou várias cenas numa praia do<br />
Rio de Janeiro! Dizem que tem várias sapatarias<br />
chiques por lá!<br />
Com <strong>os</strong> tênis, aprendeu vári<strong>os</strong> esportes.<br />
Aprendeu a saltar com <strong>os</strong> tênis de basquete<br />
e a chutar bolas com a força d<strong>os</strong> tênis de<br />
futebol.<br />
— Gol! - gritavam <strong>os</strong> sapatinh<strong>os</strong> de crochê a<br />
cada vez que um cadarço embolado rolava<br />
por entre eles.<br />
Com as sapatilhas de balé e com as chinelas<br />
remendadas com preg<strong>os</strong>, aprendeu a se<br />
equilibrar melhor com a sua sola defeitu<strong>os</strong>a.<br />
— Olha só como eu ando mais curvada para<br />
a frente para não cair! - indicava a sapatilha<br />
de ponta.<br />
Mas, o que Leonora mais g<strong>os</strong>tava era de ouvir<br />
<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> de sapateado fazendo música a<br />
cada fim de expediente do sapateiro. Apesar<br />
de id<strong>os</strong><strong>os</strong>, eles formavam uma banda e tanto.<br />
— O sapateiro pegou em minha sola e eu me<br />
abri! Senhoras e senhores, tirem seus cadarç<strong>os</strong>,<br />
senhoras e senhores, joguem suas<br />
palmilhas, senhoras e senhores, pulem<br />
em suas pontas e saiam das prateleiras!<br />
E, assim, Leonora percebeu que ela fazia<br />
parte de uma família de sapat<strong>os</strong>. Tinha as<br />
criancinhas barulhentas, <strong>os</strong> prim<strong>os</strong> estil<strong>os</strong><strong>os</strong>,<br />
<strong>os</strong> prim<strong>os</strong> esportistas, <strong>os</strong> ti<strong>os</strong> músic<strong>os</strong>,<br />
as irmãs dançarinas, as irmãs prontas<br />
para ajudar no que precisasse…<br />
Ah, já ia esquecendo! Leonora agora<br />
também tinha um avô bem resmungão.<br />
Ela nunca o viu pessoalmente, mas ouvia<br />
seus grit<strong>os</strong> de guerra da sapateira<br />
em que estava preso. Mas, isso é parte<br />
de uma outra história!<br />
O que importa é que Leonora estava feliz.<br />
Afinal, qual melhor aventura do que viver<br />
com uma grande família?<br />
8
Margarida, o sapato ruivo<br />
Maria Elisabete Fernandes Dias<br />
Na maternidade de sapat<strong>os</strong>, nasci linda e<br />
ruiva. Minha textura acetinada era de dar<br />
inveja até n<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> de verniz. Porém, eu<br />
tinha medo do mundo fora da caixa.<br />
– Ser sapato é horrível! Você vai pisar em<br />
terren<strong>os</strong> desagradáveis e suj<strong>os</strong>, você vai ficar<br />
feia e logo será abandonada – disse Michele,<br />
a sandália salto 15 platinada.<br />
Michele nasceu para brilhar. Era delicada,<br />
de tiras finas prateadas e brilhantes. Confesso<br />
que seu brilho me fascinava. Michele<br />
tinha prazer em depreciar <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>,<br />
mas isso não me atingia. Eu percebia<br />
que no fundo, no fundo, ela sabia que aquele<br />
salto 15 não era confortável em nenhum pé,<br />
por mais brilhante que f<strong>os</strong>se.<br />
Ao contrário, Anabela sempre contestava a<br />
fala de Michele:<br />
– Cala a boca, Michele. Ninguém te aguenta<br />
nem por alguns minut<strong>os</strong>!<br />
Anabela era amiga de tod<strong>os</strong>. Defendia seus<br />
parceir<strong>os</strong> com propriedade, pois ela conhecia<br />
o que era conforto com classe.<br />
Um dia, Ohana, a havaiana branca, acordou<br />
feliz:<br />
– Meus amig<strong>os</strong>, hoje eu vou embora deste<br />
lugar, afinal amanhã já é Carnaval e eu vou<br />
festejar!<br />
Ohana sonhava em conhecer o verão e as<br />
praias brasileiras. Seus parentes diziam<br />
que ela nasceu para ser livre e conferir liberdade<br />
e conforto para <strong>os</strong> pés da humanidade.<br />
– Enfim, estou livre! Adeus, amig<strong>os</strong>!<br />
– Ai que medo de chegar o meu dia! –<br />
eu disse. Às vezes, no silencio da<br />
maternidade, eu desconfiava que Michele<br />
tivesse razão sobre <strong>os</strong> terren<strong>os</strong> suj<strong>os</strong> que<br />
eu enfrentaria.<br />
Naquela semana, muit<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong> nasceram<br />
e tant<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> foram embora da maternidade,<br />
inclusive eu. Minha tutora pareceu<br />
simpática desde o primeiro contato. Eu não<br />
fui calçada de imediato; ela me guardou na<br />
sapateira, onde pude fazer nov<strong>os</strong> amig<strong>os</strong>,<br />
tod<strong>os</strong> muito limp<strong>os</strong> e organizad<strong>os</strong> em caixas<br />
coloridas.<br />
– Seja bem-vinda, Margarida! Assim como<br />
nós, você foi privilegiada por ser escolhida.<br />
N<strong>os</strong>sa tutora é cuidad<strong>os</strong>a con<strong>os</strong>co e tem pés<br />
extremamente cheir<strong>os</strong><strong>os</strong>! Viverem<strong>os</strong> junt<strong>os</strong><br />
muitas aventuras! – disse um coturno<br />
escuro, antigo morador da sapateira e que<br />
conhecia bem <strong>os</strong> hábit<strong>os</strong> da n<strong>os</strong>sa tutora.<br />
De repente, a porta da sapateira se movimenta.<br />
- Meu Deus, o que será que vai acontecer<br />
con<strong>os</strong>co – pensei eu. <strong>Tod<strong>os</strong></strong> nós ficam<strong>os</strong><br />
com cara de espanto, aguardando o instante<br />
seguinte, que pareceu uma eternidade.<br />
Porém, todo espanto foi embora quando<br />
uma voz suave n<strong>os</strong> disse:<br />
– Crianças, saiam tod<strong>os</strong> das caixas e entrem<br />
nas malas! Vam<strong>os</strong> viajar amanhã!<br />
Aquela foi apenas a minha primeira viagem<br />
entre tantas outras que viriam depois. Eu<br />
continuo linda e ruiva, pois minha tutora<br />
cuida bem de mim no retorno das viagens.<br />
Nunca pensei que eu f<strong>os</strong>se encontrar a felicidade<br />
n<strong>os</strong> pés de alguém, mas de fato o<br />
coturno tinha razão; sou um sapato<br />
privilegiado!<br />
9
O gelo do centésimo gol<br />
Juliana Fracarolli<br />
Rodolfo adorava passear na grama, pisar no<br />
barro, chutar bola.<br />
Fazia muit<strong>os</strong> gols. O dono do Rodolfo percebia<br />
que sempre que o Rodolfo estava no pé<br />
direito, ele marcava muit<strong>os</strong> gols. E sempre<br />
que ele ia jogar futebol, o dono do Rodolfo<br />
sempre pegava de tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>, ele escolhia<br />
o Rodolfo: Vam<strong>os</strong> lá, ganhar esse jogo!<br />
Um dia, o dono do Rodolfo viajou e deixou o<br />
Rodolfo guardado no banheiro, bem perto<br />
de um ralo.<br />
Quando voltou de viagem, combinou com <strong>os</strong><br />
amig<strong>os</strong> de jogar futebol. Muito rápido, colocou<br />
Rodolfo n<strong>os</strong> pés, apertou bem <strong>os</strong> cadar<br />
ç<strong>os</strong> e foi bem confiante pro campo. Pensou<br />
pelo caminho: Vam<strong>os</strong> lá! Hoje marco meu<br />
centésimo gol nesse campo!!!<br />
Seu amigo Jorge cruzou a bola na grande<br />
área e Rodolfo estava pronto para acertá-la.<br />
Plack!<br />
Foi gol, mas… que estranho… o pé direito<br />
dentro do Rodolfo ficou gelado.<br />
Correndo pelo campo tentando comemorar<br />
o gol e entender aquela meia molhada ao<br />
mesmo tempo, o dono do Rodolfo decidiu tirar<br />
e ver o que era aquilo.<br />
Eca!!! Uma lesma… que depois do susto passou<br />
a ser sua companheira gelada!<br />
Comentário<br />
G<strong>os</strong>tei dessa história, sugiro que a lesma não<br />
seja esmagada, e que ele fique sempre amigo<br />
da lesma porque ela é boa de bola!<br />
10
O tênis aventureiro<br />
Maria Cristina Stolf<br />
Deixe-me me apresentar: sou bonitão, macio,<br />
colorido e g<strong>os</strong>to muito de passear por aí,<br />
meus amig<strong>os</strong> me chamam só de Tênis, mas,<br />
meu nome completo é Tênis do Esquerdo.<br />
Este aqui do meu lado é meu irmão gêmeo o<br />
Tênis do Direito, ele está sempre por perto.<br />
Mas deixe isso pra lá, estou aqui para contar<br />
sobre mim.<br />
Minha dona se chama Nina, uma mulher tão,<br />
mas tão alta que imagine só, ela nem precisa<br />
ficar nas pontas d<strong>os</strong> pés para pegar uma fruta<br />
lá de cima, no galho mais alto da árvore.<br />
Ela g<strong>os</strong>ta muito de fazer longas caminhadas<br />
e sempre me leva junto, com meu irmão,<br />
é claro!! G<strong>os</strong>to muito de andar na terra e observar<br />
tudo ao redor.<br />
Quando ela me calça prende bem meu casaco<br />
com uma linda fita (que vocês chamam<br />
de cadarço) da cor de tomate.<br />
Quando não estou passeando por aí, fico no<br />
armário de sapat<strong>os</strong>, tenho muit<strong>os</strong> amig<strong>os</strong><br />
por lá. <strong>Tod<strong>os</strong></strong> <strong>os</strong> dias algum deles tem uma<br />
história nova para contar.<br />
Dia desses a sapatilha de camurça disse<br />
que ouviu a Nina combinando com <strong>os</strong> amig<strong>os</strong><br />
de fazer caminhada bem legal. Escutei<br />
atentamente, quase dando salt<strong>os</strong> de alegria<br />
pois sabia que iria junto.<br />
Passado uns dias, ela abre o armário e<br />
me tira lá de dentro, ebaa!! Lá vou eu<br />
para uma nova aventura.<br />
Fico na torcida para Nina pegar as<br />
meias de listras brancas e vermelhas,<br />
para ir junto, pois adoro papear<br />
com elas enquanto caminham<strong>os</strong>.<br />
No outro dia bem cedinho Nina<br />
acorda e já começa a se arrumar.<br />
Hum, mas quando<br />
ela pega a meia...<br />
vejo que não é minha<br />
amiga a meia<br />
listrada quem<br />
vai desta vez, é<br />
a exibida da senhorita<br />
meia<br />
de bolinhas.<br />
Tomara<br />
que tudo<br />
dê certo!<br />
Lá<br />
vam<strong>os</strong><br />
nós!<br />
O dia<br />
e s t á<br />
quente e<br />
ensolarado,<br />
ela com suas<br />
pernas tão, mas<br />
tão compridas,<br />
vai rapidinho pelo<br />
caminho. Logo encontra<br />
seus amig<strong>os</strong>,<br />
começam<strong>os</strong> por um<br />
caminho com muitas<br />
folhas caídas no chão,<br />
como faz tempo que não<br />
chove, as folhas estão<br />
bem secas, g<strong>os</strong>to muito do<br />
barulho que faz ao caminhar<br />
sobre ela e, também do cheiro<br />
do mato. Que sombra boa destas<br />
arvores. Andam<strong>os</strong> um bom tempo<br />
sobre as folhas e de repente saím<strong>os</strong><br />
da sombra, agora que solaço! Já que o<br />
papo com a senhorita meia de bolinhas<br />
11
não rola, vou papeando<br />
com <strong>os</strong><br />
tênis d<strong>os</strong> amig<strong>os</strong><br />
da Nina,<br />
assim nem<br />
percebo que o<br />
caminho vai<br />
ficando cada<br />
vez mais difícil<br />
com<br />
muitas<br />
pedras,<br />
algumas<br />
pequenas,<br />
outras<br />
grandes.<br />
Nina é ágil<br />
e dá grandes<br />
salt<strong>os</strong> para pular<br />
de uma pedra<br />
a outra, se equilibra<br />
e, lá vai ela para mais<br />
um salto. De repente escuto<br />
um barulho lá longe.<br />
É barulho de cachoeira!!!<br />
Fico na torcida para irm<strong>os</strong> pra<br />
lá. Vai ser uma delícia depois de<br />
toda essa caminhada e com esse calorão<br />
todo, dar bom mergulho.<br />
As meias de bolinhas que até então estavam<br />
caladas e emburradas, começam a<br />
resmungar. – Não estou g<strong>os</strong>tando nadica<br />
de nada dessa caminhada, estou toda empoeirada<br />
e agora mais essa, vou ficar encharcada!<br />
Ela continua um tanto mal-humorada - Queria<br />
ter ficado em casa, na gaveta de meias e<br />
só sair de lá para ir ao cinema ou passear<br />
n<strong>os</strong> parques da cidade.<br />
Não fico dando trela, pois quero aproveitar<br />
meu dia de passeio. Ela é uma meia frufru,<br />
que não g<strong>os</strong>ta muito de ir nas aventuras<br />
com a Nina.<br />
Finalmente chegam<strong>os</strong> na cachoeira. A água<br />
está geladinha, delici<strong>os</strong>a. Nina entra na<br />
água, com roupa e tênis, só deixando a mochila<br />
de fora, em cima duma pedra.<br />
Vam<strong>os</strong> dum lado para o outro, n<strong>os</strong> refrescando.<br />
Depois de um tempinho Nina resolve<br />
se secar ao sol. Me tira e me coloca para<br />
tomar sol em cima de uma pedra. Que delícia,<br />
dá até para tirar um cochilo.<br />
Isto é, se a senhorita meia de bolinhas emburrada,<br />
que está ao meu lado parar de reclamar<br />
de como está empoeirada, encharcada<br />
e... blá blá blá, blá blá blá!<br />
Parece que chegou a hora de voltar. Vam<strong>os</strong><br />
por um caminho diferente. Nina<br />
é assim, sempre buscando nov<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong><br />
e o que é mais legal, sempre<br />
me levando junto.<br />
Chegando em casa Nina me dá<br />
um banho quentinho e cheir<strong>os</strong>o.<br />
Depois de me secar<br />
muito bem, me coloca de<br />
volta no armário. Meus<br />
amig<strong>os</strong> sapat<strong>os</strong>, já estão<br />
dormindo, amanhã<br />
vou ter muitas<br />
histórias para contar.<br />
Vou dormir<br />
cansado e feliz<br />
já esperando<br />
a próxima<br />
aventura.<br />
12
O trio imbatível<br />
Márcia R<strong>os</strong>ário<br />
Lá naquela casa amarela perto do campo<br />
de futebol mora um garoto muito legal e o<br />
nome dele é J<strong>os</strong>é Eduardo. Mas eu o chamo<br />
de Zé Eduardo ou Dudu. Zé Eduardo g<strong>os</strong>ta<br />
muito de jogar futebol e vira e mexe, ele<br />
está no campinho jogando com <strong>os</strong> amig<strong>os</strong>.<br />
Eu me chamo Rodolfo e tenho um irmão chamado<br />
Roberto. Nós som<strong>os</strong> bem parecid<strong>os</strong> e o<br />
Zé Eduardo sempre diz que som<strong>os</strong> pés quentes.<br />
Eu descobri outro dia que pé quente é<br />
quem tem ou traz sorte. Todo dia de jogo estam<strong>os</strong><br />
lá, no campinho com o Dudu.<br />
O Dudu corre, cabeceia, cai, dribla chuta e<br />
faz gol. Eu e Roberto correm<strong>os</strong> também e é<br />
cada bicuda que a gente dá, que no final do<br />
jogo estam<strong>os</strong> suj<strong>os</strong> e cansad<strong>os</strong>.<br />
Um dia desses depois do jogo, tomam<strong>os</strong> um<br />
senhor banho e ficam<strong>os</strong> no muro do quintal<br />
do Dudu deitad<strong>os</strong> ao sol, olhando a molecada<br />
que ficou por lá. Tempo vai, tempo vem e<br />
de repente o tempo mudou. Um vento forte<br />
apareceu e eu me desequilibrei e quando eu<br />
dei por mim estava do outro lado do muro.<br />
Cai bem atrás do gol.<br />
Eu comecei a gritar: Roberto! Roberto! Mas<br />
nada do Roberto.<br />
Eu tentei pular, mas de nada adiantou.<br />
Eu gritei de novo: Dudu! Dudu! Mas Zé Eduardo<br />
também não ouviu.<br />
Aí eu comecei a pular: Pulava, descansava,<br />
pulava e pulava de novo.<br />
Um d<strong>os</strong> menin<strong>os</strong> que estava no campo viu o<br />
meu pula-pula, chegou perto de mim e começou<br />
a gritar: Zé Eduardo! Zé Eduardo!<br />
E o restante da turma ecoou: Dudu! Dudu!<br />
Dudu chegou na janela do quintal e me viu.<br />
O garoto que me achou gritou: Dudu,<br />
seu tênis caiu do muro.<br />
Dudu acenou e correu para me buscar. Eu<br />
estava super aliviado, achei que ia ficar para<br />
sempre perdido atrás do muro.<br />
Dudu também estava feliz e correu direto<br />
para o quintal para pegar o Roberto.<br />
O Roberto não estava lá. Será que ele caiu<br />
também? Lá vai Dudu voltar para o campinho<br />
à procura do Roberto. Ele procurou por<br />
todo canto e Roberto não apareceu.<br />
Fiquei muito triste. Não entendi o que<br />
aconteceu.<br />
Dudu me deixou debaixo da cama dele e alguns<br />
dias depois ele apareceu no quarto<br />
com um tênis todo sujo de lama e amarrotado.<br />
Estava fedido também. Que nojo! Espero<br />
que não traga para perto de mim, não.<br />
Dudu levou o tênis para o quintal e me colocou<br />
perto da porta da cozinha. Ele pegou<br />
aquele tênis encardido e começou a lavar.<br />
Eu não queria nem olhar, aquele tênis tinha<br />
que ir para o lixo. Quando olhei novamente<br />
não acreditei no que vi. Era o Roberto!<br />
Aquele tênis todo fei<strong>os</strong>o e fedido era meu<br />
irmão. Dudu tinha achado ele coberto de<br />
lama e lixo no lado mais baixo do campo de<br />
futebol. Eu fiquei muito envergonhado por<br />
ter desejado que o fei<strong>os</strong>o f<strong>os</strong>se para o lixo.<br />
Roberto ficou muito feliz quando me viu.<br />
Ele disse que era tanta lama grudada nele<br />
que ele nem conseguia falar e logo começou<br />
a contar a aventura desses dias em que ficou<br />
perdido.<br />
Amanhã é dia de Jogo e Dudu já está animado.<br />
Eu e Roberto estam<strong>os</strong> ansi<strong>os</strong><strong>os</strong> para<br />
correr pelo campo de novo com Dudu e fazer<br />
muit<strong>os</strong> gols. Som<strong>os</strong> um trio imbatível!<br />
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