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Historiar 2023 ed. julho, agosto e setembro

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Entrevista<br />

São Paulo<br />

Entrevista<br />

Mas, quando a atenção da Regina<br />

voltou-se ao jogo Eu Conto foi por causa<br />

de um trabalho que ela desenvolve<br />

desde 2008. A líder do Núcleo Interdisciplinar<br />

de Pesquisa em Perdas e Luto<br />

(Nippel) e vice-presidente do International<br />

Work Group in Death, Dying and Bereavement<br />

(IWG) se d<strong>ed</strong>ica à produção<br />

de conhecimentos relativos às áreas de<br />

enfermagem da família, morte e luto e<br />

cuidados paliativos.<br />

“Há uns seis anos, trabalhava na<br />

pesquisa que chamei de ‘Dando voz à<br />

criança’, não porque a criança não tinha<br />

voz, mas porque quis empoderá-la<br />

para usar a sua própria voz em situações<br />

de vulnerabilidade. Vi que a utilização<br />

do jogo seria muito importante<br />

não só nas minhas pesquisas com as<br />

crianças, mas também com os profissionais<br />

de saúde e, ainda, para facilitar<br />

a comunicação das famílias e a conversa<br />

sobre a morte e o luto”, recorda.<br />

Assim, um convênio foi firmado entre<br />

a USP e a Viva e Deixe Viver, por intermédio<br />

de Valdir Cimino, presidente da<br />

associação na época. “Tenho orgulho em<br />

dizer que é uma parceria muito produtiva<br />

que começou na <strong>ed</strong>ucação e foi, claro,<br />

para a saúde e que cabe em várias áreas,<br />

como na do direito.”<br />

processo de humanização. As crianças,<br />

os adolescentes têm a oportunidade<br />

de usar a palavra do personagem, o espaço<br />

do personagem para se colocar e<br />

para falar sobre si, expressar seus sentimentos<br />

e sobre as suas próprias experiências<br />

dentro do hospital. Também é<br />

uma oportunidade para que os profissionais<br />

de saúde possam entender esse<br />

olhar de um paciente e para que a família<br />

possa compreender essa possibilidade<br />

de deixar a criança, o jovem se<br />

expressar. É preciso desfazer o mito de<br />

que deixar falar aumenta o sofrimento”,<br />

afirma.<br />

Workshop<br />

terapêutico<br />

Sem tabu<br />

O<br />

Jogo Eu Conto tem temáticas diferenciadas;<br />

uma versão trabalha especificamente<br />

a morte e o luto, que a<br />

Regina ajudou na elaboração. Ela ressalta<br />

a necessidade de se abordar o tema<br />

considerado ainda um tabu em nossa<br />

soci<strong>ed</strong>ade. “Sou extremamente favorável<br />

a conversar, a expor mais o assunto,<br />

a partir de brincadeiras, de contação<br />

de histórias, em espaços, workshops, escolas<br />

com crianças, adolescentes para<br />

eles saberem que podem falar sobre<br />

isso, podem ficar tristes, podem sentir a<br />

perda.<br />

Quando se aborda a morte e o luto,<br />

a gente aumenta as possibilidades de<br />

estabelecer políticas públicas sobre<br />

essas questões e também para que a<br />

gente de fato reconheça os cuidados<br />

paliativos em todos os seus benefícios”,<br />

frisa.<br />

O trabalho<br />

com as<br />

crianças<br />

Não é nenhuma novidade que o hospital<br />

é um ambiente extremamente<br />

ameaçador para a criança. Ainda mais<br />

para aquela que é submetida a uma internação<br />

prolongada, seja para um tratamento<br />

longo ou por uma doença crônica.<br />

“A contação do jogo ajuda muito no<br />

Regina também é colaboradora do<br />

workshop “A Descoberta de Brincar<br />

e Contar Histórias Terapêuticas”,<br />

da Viva. Seus alunos de graduação costumam<br />

participar da iniciativa, o que,<br />

segundo ela, colabora para a formação<br />

de profissionais mais humanos, mais<br />

sensíveis para lidar com as situações do<br />

cotidiano hospitalar. “O workshop mostra<br />

para esses profissionais que eles podem<br />

falar, conversar, contar histórias<br />

e interagir mais, o que é indispensável<br />

para a humanização nas instituições”.<br />

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