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Entrevista<br />
São Paulo<br />
Entrevista<br />
Mas, quando a atenção da Regina<br />
voltou-se ao jogo Eu Conto foi por causa<br />
de um trabalho que ela desenvolve<br />
desde 2008. A líder do Núcleo Interdisciplinar<br />
de Pesquisa em Perdas e Luto<br />
(Nippel) e vice-presidente do International<br />
Work Group in Death, Dying and Bereavement<br />
(IWG) se d<strong>ed</strong>ica à produção<br />
de conhecimentos relativos às áreas de<br />
enfermagem da família, morte e luto e<br />
cuidados paliativos.<br />
“Há uns seis anos, trabalhava na<br />
pesquisa que chamei de ‘Dando voz à<br />
criança’, não porque a criança não tinha<br />
voz, mas porque quis empoderá-la<br />
para usar a sua própria voz em situações<br />
de vulnerabilidade. Vi que a utilização<br />
do jogo seria muito importante<br />
não só nas minhas pesquisas com as<br />
crianças, mas também com os profissionais<br />
de saúde e, ainda, para facilitar<br />
a comunicação das famílias e a conversa<br />
sobre a morte e o luto”, recorda.<br />
Assim, um convênio foi firmado entre<br />
a USP e a Viva e Deixe Viver, por intermédio<br />
de Valdir Cimino, presidente da<br />
associação na época. “Tenho orgulho em<br />
dizer que é uma parceria muito produtiva<br />
que começou na <strong>ed</strong>ucação e foi, claro,<br />
para a saúde e que cabe em várias áreas,<br />
como na do direito.”<br />
processo de humanização. As crianças,<br />
os adolescentes têm a oportunidade<br />
de usar a palavra do personagem, o espaço<br />
do personagem para se colocar e<br />
para falar sobre si, expressar seus sentimentos<br />
e sobre as suas próprias experiências<br />
dentro do hospital. Também é<br />
uma oportunidade para que os profissionais<br />
de saúde possam entender esse<br />
olhar de um paciente e para que a família<br />
possa compreender essa possibilidade<br />
de deixar a criança, o jovem se<br />
expressar. É preciso desfazer o mito de<br />
que deixar falar aumenta o sofrimento”,<br />
afirma.<br />
Workshop<br />
terapêutico<br />
Sem tabu<br />
O<br />
Jogo Eu Conto tem temáticas diferenciadas;<br />
uma versão trabalha especificamente<br />
a morte e o luto, que a<br />
Regina ajudou na elaboração. Ela ressalta<br />
a necessidade de se abordar o tema<br />
considerado ainda um tabu em nossa<br />
soci<strong>ed</strong>ade. “Sou extremamente favorável<br />
a conversar, a expor mais o assunto,<br />
a partir de brincadeiras, de contação<br />
de histórias, em espaços, workshops, escolas<br />
com crianças, adolescentes para<br />
eles saberem que podem falar sobre<br />
isso, podem ficar tristes, podem sentir a<br />
perda.<br />
Quando se aborda a morte e o luto,<br />
a gente aumenta as possibilidades de<br />
estabelecer políticas públicas sobre<br />
essas questões e também para que a<br />
gente de fato reconheça os cuidados<br />
paliativos em todos os seus benefícios”,<br />
frisa.<br />
O trabalho<br />
com as<br />
crianças<br />
Não é nenhuma novidade que o hospital<br />
é um ambiente extremamente<br />
ameaçador para a criança. Ainda mais<br />
para aquela que é submetida a uma internação<br />
prolongada, seja para um tratamento<br />
longo ou por uma doença crônica.<br />
“A contação do jogo ajuda muito no<br />
Regina também é colaboradora do<br />
workshop “A Descoberta de Brincar<br />
e Contar Histórias Terapêuticas”,<br />
da Viva. Seus alunos de graduação costumam<br />
participar da iniciativa, o que,<br />
segundo ela, colabora para a formação<br />
de profissionais mais humanos, mais<br />
sensíveis para lidar com as situações do<br />
cotidiano hospitalar. “O workshop mostra<br />
para esses profissionais que eles podem<br />
falar, conversar, contar histórias<br />
e interagir mais, o que é indispensável<br />
para a humanização nas instituições”.<br />
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