Identidades juvenis e atitudes em torno da discriminação e da tolerância
Uma pesquisa sobre as diferentes maneiras que os jovens têm de construir o seu senso de pertença e identidade.
Uma pesquisa sobre as diferentes maneiras que os jovens têm de construir o seu senso de pertença e identidade.
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IDENTIDADES JUVENIS<br />
E ATITUDES<br />
EM TORNO DA<br />
DISCRIMINAÇÃO<br />
E DA TOLERÂNCIA
IDENTIDADES JUVENIS E ATITUDES<br />
<strong>em</strong> <strong>torno</strong> <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> e <strong>da</strong> <strong>tolerância</strong><br />
Autores 1 :<br />
Patricio Olivera<br />
Daniel Valencia<br />
Fecha de publicación: Marzo 2019<br />
1<br />
Consultores <strong>da</strong> Divisão de Desenvolvimento Social <strong>da</strong><br />
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe<br />
(CEPAL), supervisionados por Ernesto Espíndola, funcionário<br />
dessa mesma instituição.
I. Introdução<br />
Atualmente, existe uma tendência de nomear os<br />
jovens de diferentes maneiras. Alguns os catalogam<br />
como “millennials”, termo que ressalta sua maior<br />
<strong>em</strong>patia com os ambientes digitais e sua maior capaci<strong>da</strong>de<br />
de realizar várias tarefas ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />
além de indicar que são amantes do imediatismo e<br />
<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> ativa (Feixa, Fernández-Planells e<br />
Figueras-Maz, 2016). Outros os chamam de “geração<br />
nós”, revelando que os jovens cont<strong>em</strong>porâneos<br />
teriam uma forte consciência solidária e valores que<br />
vão além do material, sendo mais conscientes <strong>da</strong>s<br />
desigual<strong>da</strong>des que operam na socie<strong>da</strong>de (Reig e Vilches,<br />
2013). Essas denominações pod<strong>em</strong> ser assertivas,<br />
no entanto, não dev<strong>em</strong>os esquecer que o mundo<br />
juvenil é um espaço heterogêneo e complexo.<br />
T<strong>em</strong> havido diferentes maneiras de se estu<strong>da</strong>r e definir<br />
o mundo juvenil. Por um lado, exist<strong>em</strong> as posturas,<br />
liga<strong>da</strong>s a um paradigma adultocêntrico, que<br />
observam os jovens a partir de uma perspectiva singularizadora.<br />
2 Por outro lado, têm surgido perspectivas<br />
mais integradoras e compreensivas, que descartam<br />
a existência de uma juventude única e sustentam<br />
que há diversas formas de ser jov<strong>em</strong>, ou seja,<br />
uma infini<strong>da</strong>de de juventudes. Da mesma forma,<br />
outros estudos indicam que os canais tradicionais de<br />
construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de — como a escola, o país,<br />
a política, etc. — têm perdido relevância no mundo<br />
cont<strong>em</strong>porâneo, o que leva os jovens a buscar novos<br />
espaços e grupos de referência para construir suas<br />
identi<strong>da</strong>des.<br />
No entanto, a <strong>discriminação</strong> limitaria a construção<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de e o direito dos jovens de<br />
fazê-lo. Alguns estudos têm mostrado que, nas<br />
socie<strong>da</strong>des de hoje, os jovens são discriminados<br />
por diferentes fatores, mas que eles, por sua<br />
vez, também reproduz<strong>em</strong> e exerc<strong>em</strong> a <strong>discriminação</strong><br />
sobre outros grupos. A <strong>discriminação</strong> é<br />
expressa <strong>em</strong> diversas práticas violentas, <strong>em</strong> que<br />
muitas <strong>da</strong>s disputas entre diferentes grupos são<br />
provenientes <strong>da</strong> formação de suas identi<strong>da</strong>des.<br />
Da mesma forma, os valores dos jovens não são<br />
uniformes e não necessariamente difer<strong>em</strong> muito<br />
dos valores dos adultos; de fato, alguns sustentam<br />
que os jovens reproduz<strong>em</strong> valores tradicionais<br />
<strong>em</strong> certas t<strong>em</strong>áticas relevantes, enquanto<br />
outros argumentam que os jovens apresentam<br />
posturas inovadoras, que tend<strong>em</strong> a ser inclusivas<br />
e tolerantes.<br />
Para questionar as identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong> e suas<br />
<strong>atitudes</strong> com relação à <strong>discriminação</strong>, t<strong>em</strong>áticas<br />
centrais deste artigo, é preciso superar a ideia<br />
de que a juventude é apenas uma etapa de transição<br />
ou “moratória” para a fase adulta, ou que<br />
os jovens só têm <strong>atitudes</strong> positivas <strong>em</strong> relação<br />
à diversi<strong>da</strong>de. Esses processos são complexos,<br />
cheios de tensões, nos quais os jovens constro<strong>em</strong><br />
suas formas de interação com os outros<br />
e as <strong>atitudes</strong> que tomam diante de diferentes<br />
t<strong>em</strong>áticas.<br />
II. Juventude(s) e identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong>: abor<strong>da</strong>gens conceituais<br />
para compreender os jovens de hoje 3<br />
A Convenção Ibero-Americana dos Direitos<br />
dos Jovens (CIDJ) de 2008 estabeleceu que os<br />
jovens 4 têm direito à sua própria identi<strong>da</strong>de: esta<br />
consiste na formação de sua personali<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />
consideração ao seu sexo, nacionali<strong>da</strong>de, etnia,<br />
filiação, orientação sexual, crença e cultura. A<br />
Convenção define também que os Estados são<br />
responsáveis por promover o devido respeito<br />
à identi<strong>da</strong>de dos jovens, garantindo sua liber<strong>da</strong>de<br />
de expressão e assegurando a erradicação<br />
de situações que os discrimin<strong>em</strong> <strong>em</strong> qualquer<br />
aspecto.<br />
Agora, falar sobre a identi<strong>da</strong>de dos jovens<br />
envolve questionar o conceito de juventude ou<br />
de juventudes (Lozano, 2003), como discutido<br />
mais adiante. A juventude é uma etapa fun<strong>da</strong>mental,<br />
pois nela se desenvolv<strong>em</strong> comportamentos,<br />
<strong>atitudes</strong> e a criação dos sujeitos; <strong>em</strong><br />
uma frase: sua própria identi<strong>da</strong>de (Domínguez,<br />
2004). Essa é uma etapa complexa, na qual os<br />
jovens viv<strong>em</strong> diversas experiências e necessi<strong>da</strong>des,<br />
dependendo dos diferentes horizontes<br />
culturais, <strong>da</strong>s dinâmicas políticas e <strong>da</strong>s expectativas<br />
sociais <strong>em</strong> que estão inseridos (UNFPA,<br />
2011).<br />
T<strong>em</strong> havido diferentes maneiras de conceber<br />
a juventude, as quais são expressas <strong>em</strong> debates<br />
teóricos e práticos sobre como compreender<br />
os jovens; a noção de juventude não é<br />
estática no t<strong>em</strong>po e está exposta às diferentes<br />
transformações históricas, culturais, sociais e<br />
econômicas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (PNUD, 2015). Como<br />
consequência, as maneiras de compreender a<br />
juventude passaram de posturas conservadoras<br />
e funcionalistas para outras mais integradoras<br />
e progressistas (Duarte, 2000). Nas primeiras,<br />
a juventude é vista a partir do chamado paradigma<br />
adultocêntrico, ou seja, a perspectiva<br />
supõe a superiori<strong>da</strong>de do adulto e compreende<br />
a juventude como um período transitório rumo<br />
à vi<strong>da</strong> adulta, no qual o adulto é o modelo que<br />
os jovens dev<strong>em</strong> seguir para se integrar<strong>em</strong>,<br />
ser<strong>em</strong> produtivos e conquistar<strong>em</strong> o respeito<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (UNICEF, 2013). Segundo Duarte<br />
(2000), essas perspectivas adultocêntricas tend<strong>em</strong><br />
a definir e compreender a juventude como<br />
3 Neste artigo, foram usados dois critérios para definição <strong>da</strong>s faixas etárias para a análise dos <strong>da</strong>dos apresentados: a) apesar de vários<br />
estudos internacionais e <strong>da</strong> CIDJ considerar<strong>em</strong> jovens as pessoas entre 15 e 24 anos, aqui optamos por ampliar essa faixa, como tradicionalmente<br />
se trabalha na CEPAL, e definimos como limite superior a i<strong>da</strong>de de 29 anos, o que coincide com as leis de juventude de<br />
vários países <strong>da</strong> região; b) com um objetivo mais prático, decidimos considerar 16 anos como a i<strong>da</strong>de mínima, já que assim são homologa<strong>da</strong>s<br />
as análises a partir dos micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s fontes trabalha<strong>da</strong>s ao longo do estudo.<br />
2 Essa noção refere-se a compreender a juventude como um grupo único, porém homogêneo, s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> conta as diferenças e as particulari<strong>da</strong>des<br />
que os jovens apresentam de acordo com os diferentes espaços sociais <strong>em</strong> que estão inseridos.<br />
4 No presente trabalho, o termo jovens refere-se tanto a mulheres quanto a homens. Isso t<strong>em</strong> o objetivo prático de <strong>da</strong>r maior fluidez ao<br />
texto.<br />
2 3
uma “fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, ou seja, como uma etapa do<br />
ciclo de vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que as pessoas se preparam para<br />
entrar no mundo do trabalho; ou como um “grupo<br />
social”, definido principalmente pela i<strong>da</strong>de; 5 além<br />
disso, a partir <strong>da</strong>s perspectivas adultocêntricas, a<br />
juventude t<strong>em</strong> sido entendi<strong>da</strong> como um “conjunto<br />
de <strong>atitudes</strong> perante a vi<strong>da</strong>”, ou como a “geração<br />
futura”, que assumirá os papéis adultos; ou ain<strong>da</strong><br />
como “um estágio de experimentação”.<br />
O probl<strong>em</strong>a dessas formas de conceber a juventude<br />
é que elas tend<strong>em</strong> a singularizá-la. Assim,<br />
Duarte (2000) critica que essas abor<strong>da</strong>gens têm<br />
a tendência de compreender a universalização<br />
como homogeneização, ocultando os diferentes<br />
grupos de jovens e as distinções de gênero, raça<br />
e classe; além disso, os jovens são estigmatizados<br />
como um grupo, objetivando-os e tornando-os<br />
invisíveis, pois são entendidos como um probl<strong>em</strong>a<br />
para a socie<strong>da</strong>de; também, a divisão por etapas do<br />
ciclo de vi<strong>da</strong> instala uma divisão entre grupos que<br />
não considera as interações simultâneas; por fim,<br />
Duarte observa e critica que há uma idealização <strong>da</strong><br />
juventude, que lhes atribui responsabili<strong>da</strong>des de<br />
ser<strong>em</strong> agentes <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e de esperanças.<br />
A partir dessas críticas ao paradigma adultocêntrico<br />
surge uma nova maneira de conceber a<br />
juventude que atende à diversi<strong>da</strong>de do mundo<br />
juvenil. Como observa Bourdieu (1990), a noção<br />
de juventude seria mais uma construção tanto histórica<br />
quanto social, abrindo-se na direção de um<br />
giro epist<strong>em</strong>ológico que supera a singularização,<br />
<strong>em</strong> que, <strong>em</strong> vez de falarmos de juventude, deveríamos<br />
falar de juventudes. O giro <strong>em</strong> direção à<br />
juventude, como indica a CEPAL/OIJ (2014), permite<br />
assumir uma nova base epist<strong>em</strong>ológica<br />
abrangente e compreensiva <strong>da</strong> juventude.<br />
Essa nova óptica entende a juventude como<br />
parte de um processo de crescimento mais totalizador,<br />
que adquire seus con<strong>torno</strong>s na trama de<br />
experiências que os indivíduos viv<strong>em</strong> (Dayrell,<br />
2003). Assim, exist<strong>em</strong> diferentes maneiras de ser<br />
jov<strong>em</strong>, com fatores como gênero, etnia, classe,<br />
orientação sexual, entre outros, gerando diferenças<br />
que influenciam a forma de experimentar<br />
o ser jov<strong>em</strong>.<br />
Para entender melhor as identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong> cont<strong>em</strong>porâneas,<br />
é preciso falar de juventudes no plural,<br />
pois os jovens e suas identi<strong>da</strong>des são tão diversos<br />
quanto as próprias socie<strong>da</strong>des (UNFPA, 2008).<br />
A identi<strong>da</strong>de é uma necessi<strong>da</strong>de do ser humano, é<br />
como uma procura por respostas para a pergunta:<br />
“qu<strong>em</strong> sou eu?”. É uma necessi<strong>da</strong>de afetiva, cognitiva<br />
e ativa, que vai mu<strong>da</strong>ndo ao longo do processo<br />
de autoafirmação e diferenciação dos outros<br />
(Domínguez, 2004). A identi<strong>da</strong>de está relaciona<strong>da</strong><br />
à nossa história de vi<strong>da</strong> e ao conceito de mundo<br />
imperante; assim, o conceito de identi<strong>da</strong>de é “um<br />
cruzamento entre pessoa-grupo-socie<strong>da</strong>de, de<br />
um lado, e <strong>da</strong> história pessoal e social, do outro”<br />
(Dominguez, 2004, p. 2).<br />
Se a identi<strong>da</strong>de se forma por meio <strong>da</strong> interação<br />
com os d<strong>em</strong>ais e dos diferentes processos históricos<br />
e sociais <strong>em</strong> curso, as juventudes cont<strong>em</strong>porâneas<br />
se desenvolv<strong>em</strong> no âmbito <strong>da</strong> globalização<br />
(UNFPA, 2008). Os jovens de hoje têm a<br />
consciência de viver “num único mundo”, <strong>em</strong> que<br />
seus gostos musicais, estilos de se vestir e tendências<br />
políticas chegam aos cantos mais r<strong>em</strong>otos do<br />
planeta (Feixa, 2006). É nesse cenário que, nas<br />
identi<strong>da</strong>des, expressam-se forças que ultrapassam<br />
o local e transbor<strong>da</strong>m os limites geográficos<br />
do estado-nação (Reguillo, 2000). Portanto, as<br />
identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong>:<br />
Outrora locais, agora se formam <strong>em</strong> processos interétnicos e internacionais,<br />
entre fluxos produzidos pelas tecnologias e corporações multinacionais, intercâmbios<br />
financeiros globalizados e repertórios de imagens e informações criados<br />
para ser<strong>em</strong> distribuídos a todo o planeta pelas indústrias culturais (García-Canclini,<br />
2004, p. 161).<br />
Por to<strong>da</strong>s essas mu<strong>da</strong>nças e transformações é que<br />
dev<strong>em</strong>os abandonar a ideia de um (único) ethos<br />
juvenil (Ibase e Pólis, 2010). As identi<strong>da</strong>des se<br />
formam <strong>em</strong> um processo dinâmico e complexo,<br />
<strong>em</strong> que há colaborações e compl<strong>em</strong>entari<strong>da</strong>des;<br />
mas pod<strong>em</strong> também interferir entre si ou entrar<br />
<strong>em</strong> conflito com outras identi<strong>da</strong>des. Consequent<strong>em</strong>ente,<br />
questionar as identi<strong>da</strong>des cont<strong>em</strong>porâneas<br />
também nos permite compreender os conflitos<br />
atuais, uma vez que os jovens pod<strong>em</strong> não apenas<br />
sentir que faz<strong>em</strong> parte de algo, como também<br />
reagir a ameaças à sua identi<strong>da</strong>de (PNUD, 2015).<br />
III. <strong>Identi<strong>da</strong>des</strong> <strong>juvenis</strong> cont<strong>em</strong>porâneas: o desgaste <strong>da</strong>s<br />
referências clássicas e o surgimento de novas formas de<br />
construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
Diversos estudios han mostrado como los diversos<br />
cambios políticos, sociales y económicos a<br />
los cuales se ha visto expuesta la socie<strong>da</strong>d cont<strong>em</strong>poránea,<br />
han socavado los referentes clásicos<br />
que interpelaban a los sujetos, con los que<br />
se creaban proyectos colectivos y se construían<br />
las identi<strong>da</strong>des. Dichas instituciones, que eran<br />
claves para los sentidos de pertenencia como<br />
para la formación de las identi<strong>da</strong>des de las<br />
personas, han ido perdiendo protagonismo. En<br />
consecuencia, los jóvenes han buscado nuevos<br />
espacios y referentes para elaborar sus proyectos<br />
de vi<strong>da</strong> y construir sus identi<strong>da</strong>des. En lo que<br />
sigue, se discute el rol de diversas agrupaciones<br />
juveniles e informales, que pueden ser claves<br />
para la vi<strong>da</strong> de los jóvenes para encontrarse,<br />
compartir inquietudes y contrarrestar los sentimientos<br />
de inseguri<strong>da</strong>d e incertidumbre.<br />
5 Bourdieu (1990) apresenta uma crítica a essa concepção de juventude, afirmando que usar a i<strong>da</strong>de como critério para definir o grupo<br />
juvenil não é na<strong>da</strong> além de manipulação por parte dos cientistas sociais, que agrupam os jovens <strong>em</strong> <strong>torno</strong> de interesses comuns e como<br />
um grupo totalmente constituído, s<strong>em</strong> considerar as especifici<strong>da</strong>des e os contextos do grupo social de que se fala.<br />
4 5
III.1 Sentido de pertencimento, referências de identi<strong>da</strong>de e adesão <strong>da</strong>s<br />
juventudes cont<strong>em</strong>porâneas: os clássicos estão perdendo o protagonismo?<br />
Para ecompreender as identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong> cont<strong>em</strong>porâneas<br />
é preciso discutir o sentido de<br />
pertencimento dos jovens, sua adesão a diferentes<br />
referências de identi<strong>da</strong>de e as várias formas<br />
pelas quais eles constro<strong>em</strong> suas identi<strong>da</strong>des.<br />
O sentido de pertencimento corresponde<br />
a uma dimensão subjetiva <strong>da</strong> coesão social e<br />
se refere a:<br />
Um conjunto de percepções, avaliações e disposições. Refere-se centralmente<br />
ao t<strong>em</strong>a <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des — <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de pertencimento e <strong>da</strong>s<br />
possíveis identificações, “que permit<strong>em</strong>, à socie<strong>da</strong>de, permanecer uni<strong>da</strong>”<br />
e, aos grupos sociais, reagir aos mecanismos de exclusão (Sunkel, 2008,<br />
p. 185).<br />
O sentido de pertencimento expressa as adesões<br />
e os valores compartilhados, a disposição para<br />
reconhecer os d<strong>em</strong>ais, a confiança nas estruturas<br />
sociais e as opções de futuro que as pessoas<br />
têm. É um el<strong>em</strong>ento subjetivo por meio<br />
do qual os jovens pod<strong>em</strong> expressar expectativas,<br />
reações ou disposições perante diferentes<br />
opções (Hopenhayn, 2011); refere-se também<br />
ao grau de vínculo e identificação que os indivíduos,<br />
jovens ou não, manifestam perante os<br />
grupos e instituições que compõ<strong>em</strong> a socie<strong>da</strong>de<br />
(CEPAL, SEGIB e OIJ, 2008). Para o sentido de<br />
pertencimento, é fun<strong>da</strong>mental o fortalecimento<br />
do “comum”, pois este pode melhorar a convivência,<br />
o respeito à diversi<strong>da</strong>de e a <strong>tolerância</strong><br />
(CEPAL, 2007). Segundo Sunkel (2008), o pertencimento,<br />
no caso dos jovens, é um fenômeno<br />
complexo e r<strong>em</strong>ete a diferentes dimensões, tais<br />
como as identi<strong>da</strong>des, a participação, a comunicação<br />
e as expectativas. A estas acrescenta-se<br />
a <strong>discriminação</strong>, dimensão que afeta negativamente<br />
a coesão social.<br />
No passado, várias instituições sociais foram fun<strong>da</strong>mentais<br />
para interpelar os sujeitos e gerar percepções,<br />
vontades e valores compartilhados <strong>em</strong><br />
busca <strong>da</strong> integração e <strong>da</strong> formação do sentido de<br />
pertencimento; essas instituições são a família, o<br />
trabalho e a escola (Saraví, 2009), b<strong>em</strong> como a<br />
nação, a política e a religião (Sunkel, 2008). Agora,<br />
as transformações nos papéis do Estado e do mercado,<br />
as crises econômicas e, no caso específico<br />
<strong>da</strong> América Latina, a configuração de socie<strong>da</strong>des<br />
ca<strong>da</strong> vez mais fragmenta<strong>da</strong>s 6 têm limitado a capaci<strong>da</strong>de<br />
aglutinadora dessas instituições (Saraví,<br />
2009).<br />
Nesse cenário, Saraví (2009) analisa o sentido<br />
que a escola e o trabalho teriam para os jovens de<br />
setores urbanos vulneráveis. Como observado, a<br />
escola e o trabalho tinham um papel de protagonismo<br />
nas socie<strong>da</strong>des latino-americanas; faziam<br />
parte de um imaginário coletivo que acompanhou<br />
os processos de modernização e industrialização<br />
e eram cruciais para a mobili<strong>da</strong>de social. Por sua<br />
vez, essas instituições tinham a capaci<strong>da</strong>de de<br />
influenciar e mol<strong>da</strong>r as subjetivi<strong>da</strong>des dos indivíduos,<br />
para promover valores e vontades que<br />
possibilitavam um pertencimento ao comum. No<br />
entanto, atualmente, o sentido do trabalho e <strong>da</strong><br />
escola para os jovens se encontra transformado<br />
e debilitado. Muitos deles perceb<strong>em</strong> que a educação<br />
é incapaz de gerar melhorias <strong>em</strong> suas condições<br />
de vi<strong>da</strong>; do ponto de vista dos jovens, o<br />
trabalho está desacreditado por sua precarização<br />
e pelas trajetórias profissionais estagna<strong>da</strong>s que<br />
muitos deles viv<strong>em</strong>.<br />
Nesse mesmo sentido, a nação, a política e a<br />
religião, que foram referências clássicas <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de,<br />
também têm perdido a relevância na<br />
socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea, principalmente entre<br />
os jovens; nos últimos 20 anos, essas instituições<br />
perderam o monopólio simbólico que tiveram no<br />
passado (Sunkel, 2008). A política, como apontado<br />
por Garretón (2009), apresentava-se como<br />
um caminho para o alcance de níveis de vi<strong>da</strong> melhores<br />
para a população, ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />
integrava os sujeitos <strong>em</strong> um projeto coletivo. Da<br />
mesma forma, a religião era uma <strong>da</strong>s instituições<br />
que procurava garantir o vínculo social e fornecer<br />
marcos simbólicos para a construção de identi<strong>da</strong>des<br />
sociais (CEPAL, SEGIB e OIJ, 2008).<br />
A per<strong>da</strong> de relevância <strong>da</strong>s referências clássicas<br />
para a construção do sentido de pertencimento e<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de pode ser observa<strong>da</strong> na importância<br />
destes para a vi<strong>da</strong> dos jovens. Como mostrado no<br />
Gráfico 1, política e religião apresentam as médias<br />
mais baixas, enquanto família e amigos têm alta<br />
relevância, 99% e 82%, respectivamente. A política<br />
é importante apenas para 33% dos jovens, e<br />
não há grandes diferenças entre os aspectos <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> destacados por jovens e adultos, com exceção<br />
<strong>da</strong> religião, considera<strong>da</strong> importante por um percentual<br />
significativamente maior de adultos.<br />
6 O segrega<strong>da</strong>s, por la pobreza, la desigual<strong>da</strong>d económica, la segregación urbana, entre otros aspectos.<br />
6 7
Gráfico 1. Ibero-América (nove países): A importância de família, amigos, t<strong>em</strong>po livre, política, trabalho<br />
e religião na vi<strong>da</strong> de jovens entre 16 e 29 anos e de adultos (<strong>em</strong> percentuais)<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
99 99<br />
Importância <strong>da</strong><br />
família na vi<strong>da</strong><br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> World Values<br />
Survey (6a On<strong>da</strong>), 2010–2014.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Peru e Uruguai.<br />
A política já não goza <strong>da</strong> importância que tinha,<br />
e a religião v<strong>em</strong> perdendo importância na vi<strong>da</strong><br />
dos jovens. Ou seja, elas já não seriam apresenta<strong>da</strong>s<br />
como espaços centrais para a construção <strong>da</strong><br />
identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s juventudes ibero-americanas. Da<br />
mesma forma, a “identi<strong>da</strong>de nacional”, que buscava<br />
a homogeneização ou o consenso entre as<br />
pessoas, postulando a existência de um “nós”, e<br />
que constrói certos códigos comuns (O’ Donnell,<br />
2004, Iaies e Delich, 2007), também sofreu algum<br />
82<br />
78<br />
Importância dos<br />
amigos na vi<strong>da</strong><br />
86 85<br />
Importância do<br />
t<strong>em</strong>po na vi<strong>da</strong><br />
33 33<br />
Importância <strong>da</strong><br />
política na vi<strong>da</strong><br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
93 93<br />
Importância do<br />
trabalho na vi<strong>da</strong><br />
desgaste geracional. O estudo <strong>da</strong> CEPAL, SEGIB e<br />
OIJ (2008) mostrou que os jovens ader<strong>em</strong> à identi<strong>da</strong>de<br />
nacional <strong>em</strong> menor medi<strong>da</strong> do que seus<br />
pares adultos. No entanto, a família, também uma<br />
referência de identi<strong>da</strong>de clássica, continua a ser<br />
uma área de grande importância para a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
juventudes. Isso poderia evidenciar a reprodução<br />
de um pensamento tradicional, que concebe a<br />
família como um aspecto central para a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
pessoas.<br />
59<br />
72<br />
Importância <strong>da</strong><br />
religião na vi<strong>da</strong><br />
Como aponta Sunkel (2008), a participação é um<br />
aspecto crucial do sentido de pertencimento dos<br />
jovens e de sua construção de identi<strong>da</strong>de. Atualmente,<br />
os jovens se encontram na busca e na<br />
abertura de novos espaços de participação, afastando-se<br />
de grupos tradicionais, como os partidos<br />
políticos e as associações religiosas. Como<br />
mostra o Gráfico 2, <strong>em</strong> média, apenas 19% dos<br />
jovens ibero-americanos declaram ser m<strong>em</strong>bros<br />
ativos de organizações religiosas, o que é claramente<br />
inferior à participação dos adultos (28%).<br />
Com relação aos partidos políticos e sindicatos,<br />
tanto os jovens quanto os adultos apresentam<br />
baixa participação. Os jovens ibero-americanos<br />
apresentam maior adesão a grupos esportivos e/<br />
ou recreativos (17%), assim como a grupos artísticos,<br />
musicais ou educacionais (11%). Isso mostraria<br />
que as novas gerações estão se abrindo e aderindo<br />
a novos espaços de participação ligados ao<br />
mundo juvenil, e que elas apresentam maior grau<br />
de horizontali<strong>da</strong>de do que as referências clássicas<br />
de identi<strong>da</strong>de.<br />
Gráfico 2. Ibero-América (9 países a/): Participação de jovens de 16 a 29 anos e adultos <strong>em</strong> diferentes<br />
grupos (<strong>em</strong> percentuais)<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
19<br />
28<br />
Igreja ou outra<br />
organização religiosa<br />
17<br />
Grupo esportivo ou<br />
recreativo<br />
10 11<br />
7<br />
Grupo artístico, de<br />
música ou educacional<br />
3<br />
Sindicato<br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
4<br />
2<br />
Partido político<br />
3<br />
3 3<br />
Organização<br />
ambiental<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> World Values<br />
Survey (6a On<strong>da</strong>), 2010–2014.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Espanha e Uruguai.<br />
Portanto, a evidência <strong>em</strong>pírica permite constatar<br />
que as juventudes estariam redefinindo<br />
o que se entende por inclusão social, seu sentido<br />
de pertencimento e suas próprias identi-<br />
8 9
<strong>da</strong>des. Os projetos coletivos e sua integração<br />
à socie<strong>da</strong>de já não se enraizariam nas fontes<br />
tradicionais, mas, sim, seriam realizados por<br />
meio de comunicação à distância e <strong>da</strong> participação<br />
<strong>em</strong> novos espaços e movimentos<br />
sociais, <strong>em</strong> conjunto com seus pares geracionais<br />
(García-Canclini, 2008). Seriam esses os<br />
novos grupos com os quais os jovens tenderiam<br />
a se identificar e que iriam gerar um sentido<br />
de pertencimento.<br />
III.2 Novos grupos de referências e formas de construir a identi<strong>da</strong>de<br />
hoje: os jovens e sua relação com as “tribos urbanas”, as TICs e a<br />
música.<br />
Como exposto anteriormente, há um certo distanciamento<br />
entre as juventudes cont<strong>em</strong>porâneas<br />
e as referências tradicionais <strong>da</strong> construção<br />
do sentido de pertencimento e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de.<br />
Esse distanciamento resulta <strong>em</strong> uma mu<strong>da</strong>nça no<br />
sentido de pertencimento dos jovens e <strong>em</strong> suas<br />
orientações de valor (INJUV, 2017). Da mesma<br />
forma, outras referências começam a ganhar protagonismo,<br />
como as “tribos urbanas”, que, perante<br />
uma socie<strong>da</strong>de debilita<strong>da</strong>, posicionam-se como<br />
espaços de construção de horizontes coletivos. As<br />
“tribos urbanas” ganham importância e relevância<br />
com as juventudes porque se apresentam como<br />
um refúgio de identi<strong>da</strong>de perante socie<strong>da</strong>des que<br />
não consegu<strong>em</strong> definir um sentido compartilhado<br />
devido às mu<strong>da</strong>nças econômicas, políticas, culturais<br />
e sociais do mundo cont<strong>em</strong>porâneo (CEPAL,<br />
SEGIB e OIJ, 2008) (PNUD, 2002).<br />
Para o sociólogo francês Maffesoli (2004a), as “tribos<br />
urbanas” são novos grupos <strong>juvenis</strong> que se reuniriam<br />
<strong>em</strong> <strong>torno</strong> do nomadismo e de um sentido<br />
de pertencimento; nessas tribos, os grupos <strong>juvenis</strong><br />
gostariam de um reencontro com a corporali<strong>da</strong>de<br />
e a vitali<strong>da</strong>de (Maffesoli, 2004a, 2004b). Essas tribos<br />
estão relaciona<strong>da</strong>s ao “neotribalismo” (Maffesoli,<br />
1990), <strong>em</strong> que, como resultado de mu<strong>da</strong>nças<br />
na malha social <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, o sujeito<br />
deixa seu encapsulamento individual e dilui sua<br />
experiência cotidiana no pertencimento a diferentes<br />
microgrupos ou tribos (Matus, 2000). Assim,<br />
para Maffesoli (citado <strong>em</strong> Matus, 2000), as tribos<br />
teriam as seguintes características:<br />
a) São constituí<strong>da</strong>s como comuni<strong>da</strong>des <strong>em</strong>ocionais,<br />
fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s na comunhão de <strong>em</strong>oções<br />
intensas, efêmeras e sujeitas a modismos.<br />
b) São uma fonte fragmenta<strong>da</strong> de resistência e<br />
práticas alternativas.<br />
c) São uma fonte de sociabili<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> que o fun<strong>da</strong>mental<br />
é conviver com o grupo, afastar-se do<br />
político para entrar na cumplici<strong>da</strong>de do que é<br />
compartilhado dentro <strong>da</strong> tribo.<br />
d) Possu<strong>em</strong> a necessi<strong>da</strong>de de se opor à fragmentação,<br />
de encontrar espaços e momentos compartilhados<br />
com interações fortes, ain<strong>da</strong> que<br />
não sejam contínuas.<br />
Essas tribos apresentam grande diversi<strong>da</strong>de e são<br />
constituí<strong>da</strong>s por um número infindável de grupos<br />
<strong>juvenis</strong>, como gangues, hip-hoppers, grafiteiros,<br />
góticos, <strong>em</strong>os, barra bravas e grupos de jovens e<br />
adolescentes que se vest<strong>em</strong> de modo s<strong>em</strong>elhante e<br />
segu<strong>em</strong> certos hábitos comuns. Esses grupos valorizam<br />
o compartilhamento de experiências e ritos que<br />
geram e consoli<strong>da</strong>m seu senso de pertencimento<br />
(Costa, Pérez e Tropea, 1996). Essas formas de associação<br />
juvenil, como assinala Silva (2002), caracterizam-se<br />
por ter<strong>em</strong> uma dimensão estética, são constituí<strong>da</strong>s<br />
pelo consumo de certos tipos de música,<br />
determinados tipos de roupa, intervenções no corpo<br />
e adesão a determinados valores. Esses el<strong>em</strong>entos<br />
que constitu<strong>em</strong> a dimensão estética <strong>da</strong> tribo des<strong>em</strong>penham<br />
um papel importante na construção <strong>da</strong><br />
identi<strong>da</strong>de do grupo e dos jovens, e funcionam como<br />
forma de atribuição e expressão de um determinado<br />
modo de entender o mundo (Reguillo, 2000). Dessa<br />
forma, ca<strong>da</strong> subcultura juvenil compartilha uma ideologia<br />
(ou melhor, uma metanarrativa), uma maneira<br />
de entender a socie<strong>da</strong>de e seus conflitos, <strong>da</strong>ndo base<br />
à sua existência e a uma filosofia de vi<strong>da</strong> que os posiciona<br />
de determina<strong>da</strong> maneira com relação a t<strong>em</strong>as<br />
como diferença sexual, desigual<strong>da</strong>de, violência e<br />
relações sexuais (Rubio e San Martín, 2012).<br />
Para fins descritivos, 13% dos jovens uruguaios<br />
ader<strong>em</strong> a ban<strong>da</strong>s de rock nacionais, seguidos por<br />
um disperso número de gêneros musicais, todos<br />
diferentes entre si (veja a Tabela 1). Na Costa Rica,<br />
o Relatório <strong>da</strong> Encuesta Nacional de Juventudes,<br />
realizado <strong>em</strong> 2013, também mostrou como resultado<br />
que os grupos de roqueiros (4,9%) são aqueles<br />
com os quais os jovens declararam se identificar<br />
mais, seguidos pelos rastafáris (4,5%), pelos<br />
metaleiros (4,3%) e pelos reguetoneros (4,1%).<br />
Tabela 1. Uruguai: Grupos com os quais os jovens uruguaios de 17 a 29 anos declaram se identificar<br />
(<strong>em</strong> percentuais)<br />
GRUPOS %<br />
Ban<strong>da</strong>s de rock nacionais 13%<br />
Murguistas 3%<br />
Folcloristas 3%<br />
Tamborileros (Percussionistas) 3%<br />
Chetos (Mauricinhos) 3%<br />
Planchas (Cumbieiros) 2%<br />
Eletrônicos 2%<br />
Metaleiros 2%<br />
Hip-hoppers 1%<br />
Rastafáris 1%<br />
Nenhum desses 68%<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> Encuesta<br />
Nacional de Adolescencia y Juventud (ENAJ) de 2013 no Uruguai.<br />
10 11
A relevância <strong>da</strong>s “tribos urbanas” para a construção<br />
de uma visão do mundo e de <strong>atitudes</strong><br />
perante a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> juventude uruguaia está<br />
refleti<strong>da</strong> no Gráfico 3. Por um lado, são os<br />
grupos musicais (23%) e os clubes esportivos<br />
(22%) que compartilham e melhor representam<br />
o pensamento <strong>da</strong>s juventudes; por outro<br />
lado, um pequeno percentual de jovens declara<br />
que os partidos políticos e os grupos religiosos<br />
representam seu pensamento. Os jovens se<br />
distanciam dos grupos tradicionais; os novos<br />
grupos alinham-se mais aos jovens, aos seus<br />
valores, modos de pensar e identi<strong>da</strong>des.<br />
A importância desses novos grupos na vi<strong>da</strong><br />
dos jovens é observa<strong>da</strong> no estudo realizado<br />
por Dayrell (2003) sobre dois jovens brasileiros:<br />
um se identifica com um grupo de rappers;<br />
o outro, com “funkeiros”. 7 Nesse estudo, verificou-se<br />
que, nas histórias de vi<strong>da</strong> de ambos,<br />
pertencer a esses grupos foi de grande importância<br />
para a constituição de suas identi<strong>da</strong>des<br />
e de uma determina<strong>da</strong> maneira de ser jov<strong>em</strong>.<br />
Isso porque, segundo o autor, esses grupos<br />
são apresentados tanto como um espaço de<br />
7 Funkeiros são grupos que se identificam com a música funk.<br />
construção de redes de relacionamentos, de<br />
projetos para o futuro, de visões do mundo e<br />
dos valores que os jovens expressam, como<br />
também um lugar <strong>em</strong> que são estruturados<br />
relacionamentos afetivos e de confiança e <strong>em</strong><br />
que também são produzi<strong>da</strong>s várias formas de<br />
sociabili<strong>da</strong>de.<br />
Por outro lado, essas novas formas de associação<br />
também pod<strong>em</strong> estar vincula<strong>da</strong>s a<br />
aspectos negativos, pois pod<strong>em</strong> adotar antivalores<br />
humanitários “neonazistas” e promover<br />
o confronto com os d<strong>em</strong>ais. Exist<strong>em</strong> versões<br />
violentas desses novos grupos, como gangues,<br />
grupos de protesto e máfias, que ameaçam e<br />
diminu<strong>em</strong> o progresso <strong>em</strong> direção a socie<strong>da</strong>des<br />
mais tolerantes e inclusivas (CEPAL, SEGIB<br />
w OIJ, 2008). Ex<strong>em</strong>plos de tais associações<br />
seriam as gangues nos países do norte <strong>da</strong><br />
América Central, que se converteram <strong>em</strong> uma<br />
clara ameaça à segurança desses países, são<br />
um risco para as comuni<strong>da</strong>des onde operam<br />
e se transformaram <strong>em</strong> grupos do crime organizado<br />
que fizeram <strong>da</strong> violência sua principal<br />
forma de ação (Cruz, 2005).<br />
Gráfico 3. Uruguai: Grupos que jovens de 16 a 29 anos declaram representar melhor sua maneira de<br />
pensar (<strong>em</strong> percentuais)<br />
Uma ban<strong>da</strong>/grupo musical<br />
Um clube esportivo<br />
Uma associação,<br />
comuni<strong>da</strong>de, igreja ou ONG<br />
Um movimento estu<strong>da</strong>ntil<br />
Uma torci<strong>da</strong> de futebol<br />
Partido político<br />
Sindicato<br />
Outros<br />
Nenhum dos anteriores<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> Encuesta<br />
Nacional de Adolescencia y Juventud (ENAJ) de 2013 no Uruguai.<br />
Os jovens se integram a essas gangues <strong>juvenis</strong><br />
na América Central devido à influência de vários<br />
fatores, entre os quais estão as dificul<strong>da</strong>des para<br />
construir sua identi<strong>da</strong>de, razão pela qual essas<br />
gangues se mostram como o grupo de referência<br />
mais próximo para eles; as gangues fornec<strong>em</strong><br />
identi<strong>da</strong>de e contribu<strong>em</strong> para a formação de um<br />
sentido de independência e sobrevivência <strong>em</strong> contextos<br />
<strong>em</strong> que a autonomia é limita<strong>da</strong> pela falta<br />
de oportuni<strong>da</strong>des econômicas. Assim, as gangues<br />
não apenas oferec<strong>em</strong> violência e risco, mas também<br />
satisfaz<strong>em</strong> carências afetivas e materiais,<br />
ain<strong>da</strong> que, segundo Cruz (2005), as ativi<strong>da</strong>des criminosas<br />
e o uso de drogas tenham se tornado um<br />
fim <strong>em</strong> si mesmos.<br />
No entanto, as identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong> e o ser<br />
jov<strong>em</strong> no mundo cont<strong>em</strong>porâneo também se<br />
relacionam com a apropriação <strong>da</strong>s TICs, que se<br />
transformaram <strong>em</strong> um eixo relevante <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des<br />
<strong>juvenis</strong> e estão associa<strong>da</strong>s à maneira com<br />
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50%<br />
1<br />
6<br />
8<br />
8<br />
9<br />
11<br />
22<br />
23<br />
que os jovens são chamados hoje (Murden e<br />
Cadenasso, 2018). Assim, os jovens do século 21<br />
tend<strong>em</strong> a pensar <strong>em</strong> si mesmos como “nativos<br />
digitais”, nascidos na era digital e acostumados<br />
a processar grandes quanti<strong>da</strong>des de informação<br />
(Prensky, 2001). Também foram chamados de<br />
“millennials”, um grupo caracterizado por sua<br />
maior <strong>em</strong>patia com os ambientes digitais, por<br />
sua capaci<strong>da</strong>de de realizar várias tarefas ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po e por ser<strong>em</strong> amantes do imediatismo<br />
e <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> ativa (Feixa, Fernández-Planells<br />
e Figueras-Maz, 2016).<br />
As novas tecnologias intervêm na maneira como<br />
os jovens constro<strong>em</strong> suas identi<strong>da</strong>des, dão significado<br />
às suas práticas cotidianas e se vinculam<br />
e interag<strong>em</strong> com o mundo (Reguillo, 2012). Para<br />
os jovens, as tecnologias são um suporte para<br />
a vi<strong>da</strong> cotidiana, pois é por meio delas que eles<br />
gerenciam seus vínculos e seu pertencimento a<br />
diferentes grupos de sociabili<strong>da</strong>de (L<strong>em</strong>us, 2017).<br />
44<br />
12 13
A internet e as novas tecnologias exerc<strong>em</strong> um<br />
impacto profundo no modo como os jovens estão<br />
desenvolvendo seu sentido de pertencimento.<br />
Assim, as juventudes participam mais de espaços<br />
menos instituídos, como as redes virtuais, pois lá<br />
encontrariam mecanismos de construção de suas<br />
identi<strong>da</strong>des e de participação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública (Reig<br />
e Vilches, 2013).<br />
Na literatura, não há consenso com relação às<br />
redes sociais realmente permitir<strong>em</strong> a participação<br />
na política; no entanto, não se pode ignorar<br />
sua presença e sua influência, pois, como já<br />
foi apontado, as redes sociais são um espaço que<br />
cria novas formas de ativismo cívico e espaços<br />
de participação, questões centrais para a constituição<br />
<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des dos jovens (Sunkel, 2008,<br />
Valenzuela 2012). O Gráfico 4 mostra a avaliação<br />
do papel que as redes sociais têm na participação<br />
na política. Como se pode ver, não há grandes<br />
diferenças entre os grupos etários com relação<br />
ao papel <strong>da</strong>s redes sociais na participação na<br />
política. Esse resultado mostra a ambigui<strong>da</strong>de<br />
existente com relação às redes sociais estar<strong>em</strong><br />
realmente se constituindo como um espaço de<br />
participação ativa.<br />
Gráfico 4. América Latina (18 países a/): Avaliação do papel <strong>da</strong>s redes sociais na participação política<br />
por parte de jovens de 16 a 29 anos e adultos, conforme a faixa etária, (<strong>em</strong> percentuais)<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
32<br />
36<br />
34 34<br />
As redes sociais permit<strong>em</strong><br />
participar na política<br />
31 30<br />
16 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 e mais<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Média simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>)..<br />
29<br />
26<br />
As redes sociais criam a<br />
ilusão de que a pessoa<br />
participa na política<br />
37<br />
36<br />
36<br />
40<br />
As redes sociais não<br />
serv<strong>em</strong> para participar na<br />
política<br />
III.2.1 Música: uma breve aproximação à sua influência na construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s juventudes<br />
Conforme exposto na seção III.2, as juventudes<br />
estão <strong>em</strong> busca de novos grupos de referência<br />
por meio dos quais construir suas identi<strong>da</strong>des,<br />
aderindo a diferentes “tribos urbanas” e sentindo<br />
que suas formas de pensar são mais b<strong>em</strong><br />
representa<strong>da</strong>s por novos grupamentos, diferentes<br />
dos tradicionais, como os grupos artísticos<br />
e musicais. A importância destes últimos<br />
deve-se ao fato de a música ser um dos principais<br />
consumos culturais <strong>da</strong> juventude e estar<br />
diretamente relaciona<strong>da</strong> à formação de suas<br />
identi<strong>da</strong>des (CEPAL/OIJ, 2004). A música, assim<br />
como a aparência estética e as relações com as<br />
tecnologias, são eixos-chave nos processos de<br />
constituição do “eu” nas socie<strong>da</strong>des cont<strong>em</strong>porâneas<br />
(Reguillo, 2000). Atualmente, devido<br />
à expansão <strong>da</strong> indústria cultural e ao desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s novas tecnologias, a música está<br />
ao alcance <strong>da</strong> maioria, independent<strong>em</strong>ente de<br />
seus recursos.<br />
Seguindo Bourdieu (1998), pode-se apontar<br />
que a música é heterogênea e funciona como<br />
um mecanismo de diferenciação social; as<br />
preferências musicais defin<strong>em</strong> e criam uma<br />
d<strong>em</strong>arcação tanto entre os jovens como entre<br />
os jovens e os adultos (UNDP, 2002). Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
na América Latina há uma grande dispersão<br />
<strong>em</strong> relação aos estilos musicais; o rock é<br />
altamente consumido por jovens mexicanos,<br />
uruguaios e argentinos, enquanto os colombianos<br />
mostram um gosto maior pela salsa,<br />
pelo reggae e pelo vallenato; <strong>da</strong> mesma forma,<br />
outros jovens prefer<strong>em</strong> gêneros locais, como<br />
a bala<strong>da</strong>, a ranchera e a norteña no México<br />
(CEPAL/OIJ, 2004). No entanto, exist<strong>em</strong> gêneros<br />
musicais associados a algumas “tribos<br />
urbanas” que apresentam baixa adesão entre<br />
os jovens, como o hip-hop, o punk e o ska:<br />
são gêneros “especializados” que d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>m<br />
um certo tipo de capital cultural ou que implicam<br />
a associação com uma subcultura juvenil<br />
(CEPAL/OIJ, 2004).<br />
Há também estudos mais recentes que destacam<br />
a importância de certos gêneros musicais<br />
para a construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de dos jovens.<br />
Reguillo (2000), por meio de grupos de discussão<br />
com jovens adeptos do punk, techno,<br />
reggae e grupera, argumenta que, para estes, a<br />
música é algo mais do que um estado de espírito<br />
ou hobby; ela significa o primeiro território liberado<br />
<strong>da</strong> tutela dos pais, um espaço fun<strong>da</strong>mental<br />
para construir sua autonomia; além disso, alguns<br />
jovens vinculam suas percepções políticas,<br />
amorosas, sexuais e sociais à música, que passa<br />
a ser um espaço de construção e expressão <strong>da</strong>s<br />
diferentes concepções do mundo. Assim, para<br />
Reguillo (2000), a música não é apenas uma<br />
forma de conceber o mundo, mas também uma<br />
forma de enfrentar a incerteza e os dil<strong>em</strong>as do<br />
eu: afirmar “sou punk” ou “sou techno” implica<br />
construir um território de significação e pertencimento<br />
na socie<strong>da</strong>de.<br />
14 15
IV. Jovens: <strong>discriminação</strong> sofri<strong>da</strong>, <strong>atitudes</strong> discriminatórias e<br />
violência entre os jovens como conflito de identi<strong>da</strong>de<br />
A identi<strong>da</strong>de é crucial tanto para os jovens<br />
como para qualquer outra pessoa. Além disso,<br />
a identi<strong>da</strong>de é um direito humano e expressa<br />
uma necessi<strong>da</strong>de que não pode ser ignora<strong>da</strong>;<br />
o Estado e a socie<strong>da</strong>de como um todo têm o<br />
dever de permitir que essa identi<strong>da</strong>de seja<br />
expressa livr<strong>em</strong>ente. A <strong>discriminação</strong>, por sua<br />
vez, inibe o sentido de pertencimento e não<br />
permite que os jovens que a sofr<strong>em</strong> possam forjar<br />
livr<strong>em</strong>ente sua identi<strong>da</strong>de. Tradicionalmente,<br />
os jovens têm sido vistos como um grupo que<br />
sofre certas discriminações e, como se vê nesta<br />
seção, isso é ver<strong>da</strong>de. No entanto, como observado<br />
acima, não existe uma juventude única,<br />
mas, sim, várias juventudes, e por isso alguns<br />
jovens também pod<strong>em</strong> exercer a <strong>discriminação</strong>;<br />
ou seja, não cabe singularizar os jovens, tampouco<br />
se deve idealizá-los.<br />
IV.1 Motivos e âmbitos nos quais os jovens são objeto de <strong>discriminação</strong><br />
A <strong>discriminação</strong> inibe o sentido de pertencimento<br />
e limita o direito dos jovens de forjar<br />
sua própria identi<strong>da</strong>de. Discriminação é to<strong>da</strong><br />
distinção e/ou exclusão que priva as pessoas<br />
de gozar de seus direitos por causa de sua<br />
cor, religião, gênero, raça ou outras características.<br />
A <strong>discriminação</strong> se dá por meio de<br />
desprezo, violência ou maus-tratos; mas também<br />
pelo deixar fazer, que é a chama<strong>da</strong> <strong>discriminação</strong><br />
indireta (Castañe<strong>da</strong> e Contreras,<br />
2012). Por outro lado, a <strong>discriminação</strong> é um<br />
fenômeno de relações intergrupais, ou seja,<br />
é uma construção social entre grupos discriminantes<br />
e discriminados (INJUV, 2010); e as<br />
percepções e contextos nos quais a <strong>discriminação</strong><br />
se desenvolve variam historicamente<br />
(Pérez, 2010).<br />
Garcia-Canclini (2004) propõe três cenários<br />
possíveis pelos quais a <strong>discriminação</strong> ocorre e<br />
pode ocorrer: um primeiro cenário é a <strong>discriminação</strong><br />
por meio de desigual<strong>da</strong>des por estrato<br />
social, ou seja, acesso diferenciado a certos<br />
capitais. Um segundo cenário é a <strong>discriminação</strong><br />
basea<strong>da</strong> na diferença, ou seja, a percepção que<br />
se t<strong>em</strong> de um “nós” é construí<strong>da</strong> como homogênea,<br />
<strong>em</strong> oposição a “outros” com características<br />
e marcas diferenciais e distintivas, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
de gênero, etnia, nacionali<strong>da</strong>de, i<strong>da</strong>de, preferência<br />
sexual, entre outras. O terceiro contexto<br />
de <strong>discriminação</strong> é a desconexão, relaciona<strong>da</strong><br />
à conectivi<strong>da</strong>de tecnológica e a ter acesso, ou<br />
não, às possibili<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s pela indústria<br />
cultural digital, como os analfabetos tecnológicos,<br />
que seriam deixados de fora de alguns<br />
<strong>em</strong>pregos.<br />
No nível latino-americano, tanto os jovens<br />
quanto os adultos declaram que se sent<strong>em</strong> parte<br />
de um grupo discriminado. Como mostrado no<br />
Gráfico 5, exist<strong>em</strong> diferenças importantes entre<br />
os países, mas, na maioria deles, a proporção<br />
de jovens e adultos que declaram sentir <strong>discriminação</strong><br />
é s<strong>em</strong>elhante. No Estado Plurinacional<br />
<strong>da</strong> Bolívia, no Equador e no Paraguai, há claramente<br />
mais adultos que declaram sentir fazer<br />
parte de um grupo discriminado; apenas no<br />
caso do México observa-se que são os jovens<br />
que, <strong>em</strong> maior medi<strong>da</strong>, perceb<strong>em</strong>-se fazendo<br />
parte de um grupo discriminado.<br />
Gráfico 5. América Latina (18 países a/): Jovens de 16 a 29 anos e adultos que declaram sentir fazer<br />
parte de um grupo discriminado b/ (<strong>em</strong> percentuais)<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
17<br />
16<br />
23<br />
30<br />
Argentina<br />
Bolívia<br />
28 29<br />
20 19 19 21 20<br />
16 17 18 17<br />
17<br />
13<br />
11 14 11<br />
Brasil<br />
Chile<br />
8<br />
Colômbia<br />
Costa Rica<br />
Rep. Dominicana<br />
9<br />
6<br />
Equador<br />
El Salvador<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
12<br />
Honduras<br />
Mexico<br />
Nicarágua<br />
Panamá<br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
14 14 15 13<br />
10<br />
Paraguai<br />
Peru<br />
Uruguai<br />
21 19 20<br />
11 12 14 18<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
b/ A pergunta era se o participante se descreveria, ou não, como fazendo parte de um grupo discriminado <strong>em</strong> seu país.<br />
Embora não haja grandes diferenças na percepção<br />
de <strong>discriminação</strong> entre jovens e adultos <strong>da</strong> região,<br />
vários estudos mostram que a <strong>discriminação</strong><br />
sofri<strong>da</strong> pelas juventudes é e t<strong>em</strong> sido muito relevante;<br />
a população jov<strong>em</strong> é um grupo que é alvo<br />
de <strong>discriminação</strong>, tanto por sua própria condição<br />
de “ser jov<strong>em</strong>” como por suas práticas (Pérez,<br />
2010). As juventudes costumam ser associa<strong>da</strong>s a<br />
Venezuela<br />
categorias sociais negativas, como a violência e a<br />
delinquência (INJUV, 2010), tanto que os jovens<br />
de setores populares chegaram a se tornar um<br />
“inimigo interno”, causando diversas formas de<br />
violência social (Aguilera e Duarte, 2009).<br />
Em relação às razões pelas quais os jovens ibero-americanos<br />
declararam sentir-se discriminados,<br />
16 17
como mostra o Gráfico 6, os principais fatores<br />
são aparência física ou modo de se vestir (24%),<br />
i<strong>da</strong>de (11%), etnia (10%), o local onde moram<br />
(10%) e a classe social (9%). O relevante sobre<br />
esses fatores é que, por um lado, são aspectos<br />
principalmente ligados à condição de “ser<br />
jov<strong>em</strong>”, que, por sua vez, estão associados a<br />
um tipo de <strong>discriminação</strong> foca<strong>da</strong> na diferença.<br />
O modo de se vestir, a etnia e a i<strong>da</strong>de são el<strong>em</strong>entos<br />
que constitu<strong>em</strong> aspectos centrais na<br />
formação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de dos jovens, e o radical<br />
<strong>da</strong> situação é que suas roupas os identificam<br />
como jovens e também como objeto de <strong>discriminação</strong>.<br />
Gráfico 6. Ibero-América (6 países a/): Motivos pelos quais os jovens de 16 a 29 anos b/ declaram<br />
haver sentido <strong>discriminação</strong> c/ <strong>em</strong> alguma ocasião d/ (<strong>em</strong> percentuais)<br />
Os jovens <strong>da</strong> Argentina e <strong>da</strong> Costa Rica também<br />
apontaram que as características físicas são um<br />
dos principais fatores de <strong>discriminação</strong>: na Argentina,<br />
a <strong>discriminação</strong> física foi responsável por<br />
50% dos casos; na Costa Rica, 10% (segun<strong>da</strong> categoria<br />
<strong>em</strong> frequência de respostas). 8 Contudo, as<br />
vivências e os motivos também pod<strong>em</strong> ser diferenciados<br />
ou intensificados dentro <strong>da</strong>s próprias<br />
juventudes; assim, as mulheres jovens são as que<br />
tend<strong>em</strong> a sentir maior <strong>discriminação</strong> por causa<br />
de seu sexo (veja a Tabela 2). Da mesma forma,<br />
na Argentina, as mulheres jovens foram as com<br />
maior tendência de sofrer <strong>discriminação</strong> por suas<br />
características físicas. Por outro lado, os jovens de<br />
estratos mais baixos são aqueles que declaram,<br />
<strong>em</strong> maior medi<strong>da</strong>, sentir-se discriminados por sua<br />
classe social. Ou seja, retomando a caracterização<br />
proposta por Garcia-Canclini (2004), a <strong>discriminação</strong><br />
se encontra tanto no espaço <strong>da</strong>s diferenças<br />
quanto no <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des.<br />
Aparência física<br />
I<strong>da</strong>de<br />
Etnia<br />
Lugar onde você mora<br />
Classe social<br />
Sexo<br />
Aspectos relacionados à sua educação<br />
Orientação política ou religiosa<br />
tação sexual ou identi<strong>da</strong>de de gênero<br />
Deficiência ou doença<br />
Outras<br />
0% 5% 10% 15% 20% 25%<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
sobre percepção <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> (II), Espanha (2016); a Octava Encuesta Nacional de Juventudes, Chile (2015); a Primera<br />
Encuesta Nacional de Juventudes (ENJU), Guat<strong>em</strong>ala (2011); a Primera Encuesta Nacional de Juventudes Peruana (ENA-<br />
JUV), Peru (2011); a Encuesta Nacional de la Adolescencia y la Juventud (ENAJ), Uruguai (2013); e a Encuesta Nacional<br />
sobre Discriminación ENADIS, México (2017).<br />
a/ Médias simples. Inclui: Chile, Espanha, Guat<strong>em</strong>ala, Peru, Uruguai e México.<br />
b/ No caso <strong>da</strong> Espanha, a i<strong>da</strong>de mínima considera<strong>da</strong> é de 18 anos.<br />
c/ Os percentuais médios de algumas categorias não inclu<strong>em</strong> todos os países: “Lugar onde mora” não inclui a Espanha;<br />
“Classe social” não inclui o Peru; “Por aspectos relacionados à sua educação” não inclui a Espanha e o México; “Orientação<br />
política e religiosa” não inclui o Peru e a Guat<strong>em</strong>ala; “Orientação sexual ou de gênero” não inclui o Peru; “Deficiência<br />
ou doença” não inclui a Guat<strong>em</strong>ala, o Peru e o México; “Outros” não inclui o Chile e a Guat<strong>em</strong>ala.<br />
d/ A forma como as perguntas estão construí<strong>da</strong>s varia entre as diferentes pesquisas. Elas se refer<strong>em</strong> à frequência com<br />
que a pessoa se sentiu discrimina<strong>da</strong> (Guat<strong>em</strong>ala); se foi no último mês (Chile); <strong>em</strong> alguma ocasião (Espanha); nos últimos<br />
12 meses (México); a razão <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> (Uruguai); ou se sofreu <strong>discriminação</strong> alguma vez <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong> (Peru).<br />
2<br />
2<br />
6<br />
8<br />
8<br />
8<br />
9<br />
10<br />
10<br />
11<br />
24<br />
Tabela 2. Ibero-América (6 países a/): Razões pelas quais jovens de 16 a 29 anos b/ declaram haver<br />
sentido <strong>discriminação</strong> c/ <strong>em</strong> alguma ocasião d/, por sexo, faixa etária e nível socioeconômico<br />
RAZÃO DA DISCRIMINAÇÃO SEXO Faixas etárias e/ ESTRATO f/<br />
Hombre Mujer 16-19 20-24 25-29 Alto Medio Bajo<br />
TOTAL<br />
GERAL<br />
Aspecto físico ou modo de se vestir 24% 24% 28% 25% 25% 24% 23% 21% 24%<br />
I<strong>da</strong>de 12% 11% 11% 12% 9% 9% 8% 7% 11%<br />
Etnia 9% 10% 9% 10% 10% 7% 7% 11% 10%<br />
Lugar onde você mora 9% 10% 9% 10% 10% 5% 7% 8% 10%<br />
Classe social 10% 8% 7% 10% 11% 8% 8% 10% 9%<br />
Sexo 4% 12% 6% 7% 7% 9% 7% 6% 8%<br />
Devido a aspectos relacionados<br />
à sua educação<br />
9% 8% 9% 9% 8% 5% 6% 6% 8%<br />
Orientação política ou religiosa 7% 5% 5% 5% 5% 10% 6% 5% 6%<br />
Orientação sexual ou identi<strong>da</strong>de<br />
de gênero<br />
2% 1% 2% 2% 2% 2% 2% 2% 2%<br />
Deficiência ou doença 2% 2% 1% 1% 1% 3% 2% 2% 2%<br />
Outra 8% 8% 9% 7% 10% 13% 9% 9% 8%<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
sobre percepção <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> (II), Espanha (2016); a Octava Encuesta Nacional de Juventudes, Chile (2015); a Primera<br />
Encuesta Nacional de Juventudes (ENJU), Guat<strong>em</strong>ala (2011); a Primera Encuesta Nacional de Juventudes Peruana (ENA-<br />
JUV), Peru (2011); a Encuesta Nacional de la Adolescencia y la Juventud (ENAJ), Uruguai (2013); e a Encuesta Nacional<br />
sobre Discriminación ENADIS, México (2017).<br />
8 Veja os relatórios <strong>da</strong>s Encuestas de Juventud <strong>da</strong> Argentina (2014) e <strong>da</strong> Costa Rica (2018).<br />
18 19
a/ Médias simples. Inclui: Chile, Espanha, Guat<strong>em</strong>ala, Peru, Uruguai e México.<br />
b/ No caso <strong>da</strong> Espanha, a i<strong>da</strong>de mínima considera<strong>da</strong> é de 18 anos.<br />
c/ Os percentuais médios de algumas categorias não inclu<strong>em</strong> todos os países: “Lugar onde mora” não inclui a Espanha;<br />
“Classe social” não inclui o Peru; “Por aspectos relacionados à sua educação” não inclui a Espanha e o México; “Orientação<br />
política e religiosa” não inclui o Peru e a Guat<strong>em</strong>ala; “Orientação sexual ou de gênero” não inclui o Peru; “Deficiência<br />
ou doença” não inclui a Guat<strong>em</strong>ala, o Peru e o México; “Outros” não inclui o Chile e a Guat<strong>em</strong>ala.<br />
d/ A forma como as perguntas estão construí<strong>da</strong>s varia entre as diferentes pesquisas. Elas se refer<strong>em</strong> à frequência com<br />
que a pessoa se sentiu discrimina<strong>da</strong> (Guat<strong>em</strong>ala); se foi no último mês (Chile); <strong>em</strong> alguma ocasião (Espanha); nos últimos<br />
12 meses (México); a razão <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> (Uruguai); ou se sofreu <strong>discriminação</strong> alguma vez <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong> (Peru).<br />
e/ No caso <strong>da</strong> construção <strong>da</strong>s faixas etárias, optou-se por não considerar a Espanha (2016), pois a i<strong>da</strong>de mínima para<br />
participar do estudo era de 18 anos.<br />
f/ Não considera o Peru.<br />
Gráfico 7. Ibero-América (5 países a/): Âmbitos onde os jovens de 16 a 29 anos b/ declaram sentir-se<br />
discriminados c/ (<strong>em</strong> percentuais)<br />
No trabalho ou <strong>em</strong> um centro educacional<br />
No espaço público<br />
Por alguém que ocupa uma posição de autori<strong>da</strong>de<br />
En<strong>torno</strong> familiar e/ou amizades<br />
Em serviços públicos<br />
Outro<br />
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30%<br />
4<br />
5<br />
9<br />
12<br />
22<br />
28<br />
Na mesma linha, Castañe<strong>da</strong> e Contreras (2012),<br />
com base <strong>em</strong> um estudo com jovens mexicanos<br />
entre 13 e 25 anos de i<strong>da</strong>de, 9 constataram que os<br />
jovens percebiam que as pessoas pertencentes<br />
a comuni<strong>da</strong>des indígenas e aquelas que se identificavam<br />
como homossexuais eram discrimina<strong>da</strong>s<br />
com maior frequência. Essa <strong>discriminação</strong><br />
se <strong>da</strong>va principalmente por meio de ações cotidianas,<br />
algo mais sutis e disfarça<strong>da</strong>s como falta<br />
de respeito, ridicularização, crítica e exclusão<br />
por parte dos pares. Tudo isso faz com que as<br />
pessoas que se identificam como homossexuais<br />
tenham medo de revelar sua identi<strong>da</strong>de e sofrer<br />
rejeição.<br />
Por outro lado, é relevante considerar os lugares<br />
ou grupos <strong>em</strong> que os jovens declararam<br />
sentir-se discriminados. 28% dos jovens sent<strong>em</strong><br />
que foram alvo de <strong>discriminação</strong> no local de trabalho<br />
ou na instituição educacional; 22% deles,<br />
no espaço público (veja o Gráfico 7). A Encuesta<br />
Nacional de Jóvenes de Argentina 2014 mostra<br />
resultados s<strong>em</strong>elhantes: a escola e a rua ou<br />
bairro são as duas principais áreas de <strong>discriminação</strong><br />
para os jovens, com 61% e 16%, respectivamente.<br />
O primeiro aspecto a destacar é que<br />
tanto o trabalho quanto a instituição educacional<br />
são espaços que os jovens habitam diariamente,<br />
e o fato de ser<strong>em</strong> os principais locais onde os<br />
jovens sofr<strong>em</strong> <strong>discriminação</strong> mostra apenas a<br />
extensão dessa probl<strong>em</strong>ática, sendo imperativo,<br />
no caso <strong>da</strong>s instituições educacionais, abor<strong>da</strong>r as<br />
práticas de bullying e de violência na escola. Em<br />
segundo lugar, o espaço público é de todos, e os<br />
jovens têm o direito de habitá-lo s<strong>em</strong> sentir que<br />
são discriminados, isto é, s<strong>em</strong> que seu aspecto<br />
físico ou modo de vestir seja motivo de desprezo,<br />
rejeição ou maus-tratos. É importante ressaltar<br />
também que, no âmbito do trabalho ou <strong>da</strong> instituição<br />
educacional, foram as mulheres jovens<br />
que mais relataram sentir-se discrimina<strong>da</strong>s, com<br />
30%, contra 26% dos homens jovens.<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
sobre percepção <strong>da</strong> <strong>discriminação</strong> (II), Espanha (2016); a Octava Encuesta Nacional de Juventudes, Chile (2015); a Primera<br />
Encuesta Nacional de Juventudes (ENJU), Guat<strong>em</strong>ala (2011); a Encuesta Nacional de la Adolescencia y la Juventud (ENAJ),<br />
Uruguai (2013); e a Encuesta Nacional sobre Discriminación ENADIS, México (2017).<br />
a/ Médias simples. Inclui: Chile, Espanha, Guat<strong>em</strong>ala, Uruguai e México.<br />
b/ No caso <strong>da</strong> Espanha, a i<strong>da</strong>de mínima considera<strong>da</strong> é de 18 anos.<br />
c/ Os percentuais médios de algumas categorias não inclu<strong>em</strong> todos os países: “Por alguém que exerce um papel de<br />
autori<strong>da</strong>de” não inclui o Uruguai e o México; “Em serviços públicos” não inclui o Chile e a Guat<strong>em</strong>ala; “Outros” não inclui<br />
o Chile e a Guat<strong>em</strong>ala.<br />
IV.2 Atitudes discriminatórias dos jovens e a violência como expressão<br />
<strong>da</strong> <strong>discriminação</strong><br />
Como a <strong>discriminação</strong> é um conceito relacional,<br />
construído historicamente, os jovens não apenas<br />
estão expostos a sofrê-la por parte de outros,<br />
como também pod<strong>em</strong> exercê-la contra outros<br />
grupos. Os jovens criam e recriam percepções<br />
<strong>em</strong> relação a outros segmentos e grupos de identi<strong>da</strong>de<br />
com os quais se relacionam. A Encuesta<br />
Nacional sobre Discriminación de México, 2010,<br />
e a Encuesta Nacional de Juventud de Chile, 6ª<br />
versão de 2010, mostram que os jovens também<br />
discriminam os outros. No México, os jovens<br />
foram consultados quanto a estar<strong>em</strong> dispostos a<br />
ter diferentes pessoas morando <strong>em</strong> suas casas;<br />
um alto percentual deles, 41%, rejeitou mulheres<br />
lésbicas; 39% deles rejeitaram homossexuais; e<br />
36% se opuseram a viver com pessoas com HIV/<br />
AIDS. 10 Os jovens chilenos também estigmatizam<br />
certos grupos de pessoas; quando consultados<br />
9 Estudo de desenho metodológico misto, com pesquisas estrutura<strong>da</strong>s e focos grupais.<br />
10 Veja o relatório <strong>da</strong> Encuesta nacional sobre Discriminación (ENADIS) do México (2010) e o <strong>da</strong> 6ª versão <strong>da</strong> Encuesta Nacional de<br />
Juventud de Chile (2010).<br />
20 21
sobre os grupos que eles não gostariam de ter<br />
como vizinhos, “neonazistas”, 11 “usuários de drogas<br />
e alcoólatras” foram os que tiveram maior<br />
índice de rejeição, com destaque também para<br />
os chamados “flaites”, um nome pejorativo para<br />
pessoas de setores populares ou de classe baixa,<br />
não apenas por seu estrato socioeconômico, mas<br />
também por seu comportamento e modo de vestir<br />
(INJUV, 2010).<br />
No nível ibero-americano, os principais grupos discriminados,<br />
os quais ninguém quer ter como vizinhos,<br />
são os usuários de drogas e os alcoólatras.<br />
Destaca-se também a rejeição dos homossexuais<br />
e <strong>da</strong>s pessoas com HIV/AIDS (3º e 4º lugar), uma<br />
vez que mais de 15% <strong>da</strong> população os rejeita (veja o<br />
Gráfico 8). Os jovens dos países ibero-americanos<br />
considerados não fog<strong>em</strong> a essas tendências; como<br />
mostra o Gráfico 8, para ca<strong>da</strong> um dos diferentes<br />
grupos, a proporção de jovens que os rejeitam é<br />
menor. No entanto, a diferença é relativamente<br />
pequena e segue a tendência dos adultos. Mas<br />
exist<strong>em</strong> diferenças importantes entre os países <strong>da</strong><br />
região que estão representados no World Values<br />
Survey (6a On<strong>da</strong>, 2010–2014), uma vez que no<br />
Equador e no Peru uma alta proporção de jovens<br />
rejeita os homossexuais e pessoas com HIV/AIDS<br />
(mais de 30%); no outro extr<strong>em</strong>o, apenas uma<br />
pequena porcentag<strong>em</strong> de jovens na Espanha e no<br />
Uruguai declara rejeitar essas pessoas.<br />
Gráfico 8. Ibero-América (9 países a/): Grupos que jovens de 16 a 29 anos e adultos declaram não<br />
querer ter como vizinhos (<strong>em</strong> percentuais)<br />
Usuários de drogas<br />
Alcoólatras<br />
Homossexuais<br />
Pessoas com HIV/AIDS<br />
Pessoas que falam outra língua<br />
Pessoas de outra religião<br />
Imigrantes<br />
Pessoas de outra raça<br />
Casais não casados morando juntos<br />
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%<br />
10<br />
9<br />
10<br />
8<br />
10<br />
8<br />
8<br />
7<br />
7<br />
7<br />
24<br />
19<br />
18<br />
15<br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
51<br />
49<br />
72<br />
69<br />
Como discutido anteriormente, a <strong>discriminação</strong><br />
também está relaciona<strong>da</strong> a acentuar diferenças;<br />
o “outro” é conceituado como distinto e distante,<br />
enquanto o “nós” é homogêneo e próximo. Na América<br />
Latina, a opinião <strong>da</strong> população diverge quanto<br />
a ser preferível ter uma socie<strong>da</strong>de mais homogênea<br />
ou mais heterogênea. O Gráfico 9 mostra as principais<br />
diferenças entre os países na hora de considerar<br />
se é melhor, ou não, que a socie<strong>da</strong>de seja composta<br />
por pessoas de diferentes nacionali<strong>da</strong>des,<br />
religiões e culturas. Em todos os países <strong>da</strong> região,<br />
os jovens se mostram mais abertos a pessoas com<br />
diferentes religiões e culturas, <strong>em</strong> comparação com<br />
os adultos. No entanto, a opinião dos jovens segue<br />
alinha<strong>da</strong> à de seus compatriotas adultos, e apenas<br />
no Chile, na Costa Rica e no México é que as opiniões<br />
dos jovens e dos adultos difer<strong>em</strong> claramente<br />
(diferença superior a 15%).<br />
Gráfico 9. América Latina (18 países a/): Jovens de 16 a 29 anos e adultos que declaram concor<strong>da</strong>r<br />
que a socie<strong>da</strong>de seja composta por pessoas de diferentes nacionali<strong>da</strong>des, religiões e culturas (<strong>em</strong><br />
percentuais)<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
80<br />
Uruguai<br />
Brasil<br />
71 71<br />
Chile<br />
Argentina<br />
Venezuela<br />
65<br />
58 56<br />
Costa Rica<br />
Colômbia<br />
Mexico<br />
Panamá<br />
53 51 51 51 50<br />
Equador<br />
El Salvador<br />
Nicarágua<br />
16 a 29 anos 30 e mais Total<br />
49 48 45 44<br />
Paraguai<br />
Peru<br />
Bolívia<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
41 40 40<br />
Honduras<br />
Rep. Dominicana<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2017.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
Fonte: Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL), sobre la base de tabulaciones especiales de 6ta<br />
ron<strong>da</strong> de la Encuesta Mundial de Valores, 2010-2014.<br />
a/ Promedios simples. Incluye: Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Ecuador, España, México, Perú y Uruguay.<br />
11 Essa rejeição, mais do que a <strong>discriminação</strong>, pode ser li<strong>da</strong> como um distanciamento dos valores anti-humanitários que os neonazistas<br />
muitas vezes representam.<br />
A migração é um dos fenômenos sociais cont<strong>em</strong>porâneos<br />
mais importantes globalmente, e a<br />
América Latina não é exceção. Como probl<strong>em</strong>ática<br />
social, ela faz <strong>em</strong>ergir as opiniões <strong>da</strong>s pessoas<br />
sobre aqueles conceituados como “outros”,<br />
ain<strong>da</strong> mais quando circulam noções bastante<br />
denegridoras sobre os migrantes e seus propósitos.<br />
Entre os jovens latino-americanos, exceto<br />
<strong>em</strong> alguns países como El Salvador, Nicarágua,<br />
República Dominicana e Uruguai, prevalece a<br />
opinião de que os migrantes vêm para competir<br />
por trabalho com os habitantes locais. Não há<br />
grandes diferenças entre as opiniões dos jovens<br />
e dos adultos, tampouco há diferenças signifi-<br />
22 23
cativas entre as opiniões de homens jovens e<br />
de mulheres jovens, mostrando que, se houvesse<br />
uma maior abertura para a migração, isso<br />
ocorreria <strong>em</strong> todo o país, e os jovens não são<br />
necessariamente mais receptivos ao estrangeiro<br />
migrante.<br />
Gráfico 11. América Latina (18 países): Nível de concordância de jovens de 16 a 29 anos e adultos com<br />
relação à existência de uma lei que restrinja a entra<strong>da</strong> de outras pessoas no país (<strong>em</strong> percentuais)<br />
Gráfico 10. América Latina (18 países): Nível de concordância de jovens de 16 a 29 anos com a declaração:<br />
“Os migrantes vêm para competir por nossos <strong>em</strong>pregos” (<strong>em</strong> percentuais)<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
59<br />
53<br />
Nicarágua<br />
Uruguai<br />
51 51 49<br />
El Salvador<br />
Rep. Dominicana<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
Paraguai<br />
Colômbia<br />
Honduras<br />
Em desacordo –<br />
muito <strong>em</strong> desacordo<br />
43 42 42 40 39<br />
Mexico<br />
Venezuela<br />
Bolivia<br />
Panamá<br />
N<strong>em</strong> de acordo n<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> desacordo<br />
34 33 32 30<br />
Brasil<br />
Argentina<br />
27 26 23 19<br />
Costa Rica<br />
Peru<br />
Equador<br />
Muito de acordo –<br />
de acordo<br />
Chile<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
6%<br />
5051<br />
50 51<br />
48<br />
45 44 49 43 45 40 44 43<br />
36<br />
38 41 34 37 3636<br />
31 33<br />
Honduras<br />
Bolívia<br />
Equador<br />
Rep. Dominicana<br />
Panamá<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
Argentina<br />
Mexico<br />
Nicarágua<br />
Chile<br />
Peru<br />
Costa Rica<br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
IV.2.1 <strong>Identi<strong>da</strong>des</strong>, violência e <strong>discriminação</strong>: a violência entre os jovens como<br />
uma disputa pela identi<strong>da</strong>de<br />
21<br />
34<br />
Brasil<br />
El Salvador<br />
32 2928 30<br />
25<br />
26<br />
28<br />
22 2425<br />
1011<br />
Colômbia<br />
Venezuela<br />
Paraguai<br />
Uruguai<br />
Fonte: CoComissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
Certamente, que se considere que os migrantes vêm<br />
para competir por trabalho pode ser uma constatação,<br />
<strong>em</strong>bora o verbo competir indique uma conotação diferente<br />
de trabalhar, subsistir ou contribuir. No entanto,<br />
há outra pergunta no Latinobarómetro cujo sentido é<br />
inequívoco e que trata de saber se os migrantes deveriam<br />
ser legalmente impedidos de entrar no país. No<br />
Panamá, na Guat<strong>em</strong>ala e <strong>em</strong> Honduras, a maioria dos<br />
jovens concor<strong>da</strong> com essa afirmação, enquanto que,<br />
nos d<strong>em</strong>ais países, a proporção é menor, <strong>em</strong>bora<br />
igualmente significativa, mostrando a opinião negativa<br />
que se t<strong>em</strong> sobre a migração <strong>em</strong> muitos países<br />
latino-americanos. Somente o Uruguai apresenta um<br />
baixo nível de rejeição à imigração. Na região, não<br />
há grandes diferenças entre jovens e adultos quanto<br />
a limitar a migração por lei. Os menores de 30 anos<br />
segu<strong>em</strong> a tendência dos adultos, tampouco há diferenças<br />
de acordo com o sexo dos jovens.<br />
A <strong>discriminação</strong> pode ocorrer tanto de forma indireta<br />
— exclusão ou omissão dos direitos <strong>da</strong>s pessoas<br />
e de suas necessi<strong>da</strong>des — quanto direta, por<br />
meio de violência, desprezo e maus-tratos; assim, a<br />
violência — física ou psicológica — é uma expressão<br />
de <strong>discriminação</strong> (Aravena, 2009). O uso <strong>da</strong> violência<br />
coloca <strong>em</strong> risco a integri<strong>da</strong>de física e psicológica<br />
<strong>da</strong>s pessoas, afetando seu b<strong>em</strong>-estar subjetivo e a<br />
construção de sua identi<strong>da</strong>de; o sentir-se reconhecido<br />
pelos outros é inviabilizado pela <strong>discriminação</strong> e pela<br />
violência (UNDP, 2012).<br />
Com base nas informações forneci<strong>da</strong>s pela OMS<br />
(2002), as juventudes são um dos grupos mais afetados<br />
pela violência. Essa população se vê mais exposta<br />
a delitos (<strong>em</strong> particular, aos homicídios), além de ser<br />
criminaliza<strong>da</strong> pelo restante <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Na trama<br />
<strong>da</strong>s violências sofri<strong>da</strong>s e vivi<strong>da</strong>s pelos jovens está a<br />
violência intrafamiliar, os conflitos entre pares e dentro<br />
de relações afetivas (Cruz, 2014). Alguns estudos<br />
buscaram relacionar a violência, os jovens e a delinquência,<br />
criminalizando as juventudes e vinculando-as<br />
a ideias patologizantes de que a violência t<strong>em</strong><br />
orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>atitudes</strong> típicas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de.<br />
No entanto, algumas expressões <strong>da</strong> violência de<br />
jovens e entre jovens são um fenômeno social<br />
que está relacionado aos limites de identi<strong>da</strong>de<br />
24 25
que esses mesmos jovens constro<strong>em</strong> para se diferenciar<strong>em</strong><br />
entre si (Hernández-Rosete, 2017). Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, há situações de violência entre diferentes<br />
subculturas <strong>juvenis</strong>, como as gangues, os <strong>em</strong>os, os<br />
punks, etc. Na Ci<strong>da</strong>de do México, a violência contra<br />
os jovens <strong>em</strong>os está liga<strong>da</strong> a estereótipos de gênero<br />
e à forma como eles se vest<strong>em</strong>, e isso se deve principalmente<br />
a uma disputa pela identi<strong>da</strong>de de certas<br />
“tribos urbanas”; grupos como os punks, os <strong>da</strong>rks<br />
e os góticos apontaram que os <strong>em</strong>os careciam de<br />
certa história e uma “identi<strong>da</strong>de pura”, além de<br />
esses outros grupos rejeitar<strong>em</strong> a homossexuali<strong>da</strong>de<br />
e a bissexuali<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong>s aos “<strong>em</strong>os” (Hernández-Rosete<br />
2017).<br />
Por outro lado, a violência de gangues também<br />
está relaciona<strong>da</strong> à construção do masculino. Um<br />
estudo realizado <strong>em</strong> Ciu<strong>da</strong>d Juarez mostrou que a<br />
violência entre gangues <strong>juvenis</strong> ocorre, entre outros<br />
fatores, pela busca <strong>em</strong> ser reconhecido como um<br />
“hom<strong>em</strong> de ver<strong>da</strong>de”, reafirmando a identi<strong>da</strong>de por<br />
meio de provocação, intimi<strong>da</strong>ção e agressão contra<br />
os outros (Cruz 2014). Em termos muito similares,<br />
pod<strong>em</strong>os entender a violência no esporte, especificamente<br />
no futebol, que é um mecanismo socializador<br />
de primeira ord<strong>em</strong> e decisivo para a configuração<br />
<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des masculinas; a formação <strong>da</strong><br />
identi<strong>da</strong>de é binária, por meio <strong>da</strong> comparação e <strong>da</strong><br />
exclusão do outro (Cabello, 2011).<br />
V. Entre a tradição e a mu<strong>da</strong>nça: os valores <strong>da</strong>s juventudes ibero-americanas<br />
no mundo cont<strong>em</strong>porâneo<br />
Os valores não são apenas centrais para a compreensão<br />
<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong>, mas também<br />
faz<strong>em</strong> parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social e, dessa forma,<br />
expressam tanto as tendências de mu<strong>da</strong>nça<br />
quanto a intenção de manter o que já existe.<br />
Essa tensão entre o que t<strong>em</strong> sido até o momento<br />
e o novo permeia to<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des, especialmente<br />
as socie<strong>da</strong>des ibero-americanas que<br />
enfrentam importantes transformações socioeconômicas<br />
e culturais. Leituras desatentas sobre<br />
os jovens geralmente atribu<strong>em</strong> a estes o papel<br />
de promover a mu<strong>da</strong>nça e incorporar o novo; no<br />
entanto, tal como argumenta-se nas páginas a<br />
seguir, os jovens não pod<strong>em</strong> ser classificados tão<br />
facilmente e, dependendo <strong>da</strong> t<strong>em</strong>ática, alguns se<br />
colocam do lado <strong>da</strong> tradição; outros, <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça.<br />
V.1 Os valores dos jovens: opiniões <strong>juvenis</strong> sobre t<strong>em</strong>áticas <strong>em</strong>ergentes<br />
Segundo Inglehart (1997), o desenvolvimento econômico<br />
<strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de capitalista impulsiona a<br />
mu<strong>da</strong>nça de certos valores materialistas, ligados a condições<br />
de escassez e sobrevivência, para outros valores<br />
pós-materialistas, centrados na autonomia individual e<br />
no b<strong>em</strong>-estar subjetivo. Dessa forma, mu<strong>da</strong>nças nos<br />
valores expressam processos progressivos de transformação<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, questão observável nas diferenças<br />
de valores entre as juventudes e as gerações<br />
mais adultas (INJUV, 2017). No entendimento de que<br />
os jovens são sujeitos no processo de construção de<br />
suas identi<strong>da</strong>des, eles internalizam, assimilam ou rejeitam<br />
certos valores compartilhados por sua socie<strong>da</strong>de<br />
(INJUV, 2010); obviamente, esse processo de formação<br />
dos valores dos jovens não é isento de disputas, de<br />
modo que os jovens pod<strong>em</strong> assimilar ou entrar <strong>em</strong> um<br />
processo de tensão com o que é transmitido e, portanto,<br />
com o adulto (Bourdieu, 1990; INJUV, 2010).<br />
Alguns dos coletivos <strong>juvenis</strong> atuais, ao invés de<br />
orientar suas d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s segundo valores materialistas<br />
e tradicionais, faz<strong>em</strong> isso por meio de valores<br />
pós-materialistas, abor<strong>da</strong>ndo t<strong>em</strong>áticas relaciona<strong>da</strong>s<br />
a ideias de autonomia individual, ao direito<br />
à própria vi<strong>da</strong> e ao reconhecimento, tais como<br />
os movimentos pela igual<strong>da</strong>de de direitos entre<br />
homens e mulheres, pela legalização do aborto,<br />
pela não <strong>discriminação</strong> e pela legalização <strong>da</strong><br />
maconha (Segovia, 2009). Os jovens latino-americanos<br />
rejeitam mais do que seus pares adultos<br />
a afirmação de que as mulheres só dev<strong>em</strong> trabalhar<br />
quando o casal não ganha o suficiente, 65%<br />
contra 57%, <strong>em</strong>bora a diferença não impressione;<br />
também não há grande diferença entre mulheres<br />
jovens e homens jovens, o que indica que a igual<strong>da</strong>de<br />
de gênero ain<strong>da</strong> t<strong>em</strong> um longo caminho a<br />
percorrer.<br />
Gráfico 12 . América Latina (18 países a/): Jovens de 16 a 29 anos e adultos que declaram não concor<strong>da</strong>r<br />
com a afirmação “As mulheres dev<strong>em</strong> trabalhar apenas quando o casal não ganha o suficiente”,<br />
segundo a i<strong>da</strong>de e o sexo (<strong>em</strong> percentuais)<br />
70% 65<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
16 a 29<br />
anos<br />
57<br />
30 ou mais<br />
anos<br />
62<br />
67<br />
Homens Mulheres<br />
(16 a 29 anos)<br />
O estudo dos valores apresenta-se como um âmbito<br />
central para a compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social. A<br />
relevância desses valores pode ser observa<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />
pensadores clássicos, como Weber e sua preocupação<br />
com a ética protestante, ou Durkheim e seu<br />
estudo <strong>da</strong> “consciência coletiva”. Autores cont<strong>em</strong>porâneos<br />
como Bourdieu argumentam que a socie<strong>da</strong>de<br />
precisa de agentes sociais com certas categorias<br />
de valores para garantir sua permanência (Segovia,<br />
2009).<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
26 27
Do ponto de vista qualitativo, um estudo com adolescentes<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de colombiana de Ibagué constatou que<br />
não há uniformi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> suas posturas, uma vez que<br />
alguns apoiavam a exclusão social de homossexuais<br />
e outros reconheciam os direitos humanos de todos,<br />
independent<strong>em</strong>ente de sua orientação sexual. Assim,<br />
alguns adolescentes usaram termos que discriminam<br />
os homossexuais, como “maricas”, “desviados” ou<br />
“anormais”, mostrando sua rejeição a que os homossexuais<br />
express<strong>em</strong> seu afeto <strong>em</strong> público. Além disso,<br />
alguns se opõ<strong>em</strong> à união entre pessoas do mesmo<br />
sexo, argumentando que tais uniões são uma barreira<br />
à reprodução humana. No entanto, <strong>em</strong> Ibagué também<br />
há adolescentes que apontam que não existe<br />
diferença entre heterossexuais e homossexuais,<br />
exceto por sua atração por pessoas do mesmo sexo,<br />
que tal orientação sexual é uma decisão pessoal e<br />
livre, e que, portanto, deve-se permitir casamentos<br />
entre pessoas do mesmo sexo e que estes casais adot<strong>em</strong><br />
crianças (Camacho, Tarquino, Prado e Preciado,<br />
2017). Assim, exist<strong>em</strong> construções sociais tradicionais<br />
sobre a homossexuali<strong>da</strong>de que alguns jovens reproduz<strong>em</strong>,<br />
enquanto outros são capazes de desafiar essa<br />
herança, incorporando novas construções sociais<br />
a partir de uma perspectiva de direitos e <strong>em</strong> busca<br />
<strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de. Segundo as autoras do estudo, esses<br />
resultados d<strong>em</strong>onstrariam a relevância <strong>da</strong>s interações<br />
sociais na reprodução ou mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s estruturas de<br />
valores entre os jovens (Camacho, Tarquino, Prado e<br />
Preciado, 2017).<br />
Com base nos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> pesquisa Latinobarómetro<br />
de 2015, pode-se afirmar que existe uma importante<br />
diversi<strong>da</strong>de de opiniões sobre o casamento de pessoas<br />
do mesmo sexo, conforme o país. Somente no<br />
Uruguai, no Chile e na Argentina o número de pessoas<br />
a favor do casamento gay é maior do que o número de<br />
pessoas contra. Em todos os d<strong>em</strong>ais países, a maioria<br />
é contra esse tipo de união, sendo que, <strong>em</strong> alguns países,<br />
o número de pessoas a favor chega a ser inferior a<br />
10% (veja o Gráfico 13). Em todos os países, os jovens<br />
se mostram muito mais abertos às uniões homossexuais<br />
do que seus pares adultos.<br />
Gráfico 13. América Latina (18 países a/): Nível de concordância de jovens de 16 a 29 anos e adultos<br />
com relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (<strong>em</strong> percentuais)<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
83<br />
62<br />
75<br />
Uruaguai<br />
Chile<br />
67<br />
45 46<br />
57<br />
Argentina<br />
Brasil<br />
Mexico<br />
Costa Rica<br />
35<br />
53<br />
29<br />
41<br />
21<br />
42<br />
14<br />
24<br />
15<br />
25<br />
12<br />
Colômbia<br />
Peru<br />
Rep. Dominicana<br />
Bolívia<br />
Equador<br />
19 19<br />
13 12 13 13 14<br />
11<br />
13 13<br />
9<br />
7 8<br />
10<br />
7 7 6<br />
Panamá<br />
Nicarágua<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
Venezuela<br />
16 a 29 anos 30 e mais<br />
Honduras<br />
El Salvador<br />
Paraguai<br />
a/ Promedios simples. Incluye: Argentina, Bolivia (Est. Plur. De), Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Ecuador, El Salvador,<br />
Guat<strong>em</strong>ala, Honduras, Nicaragua, Panamá, Paraguay, Perú, República Dominicana, Uruguay y Venezuela (Rep. Bol. De)..<br />
No que diz respeito à legalização do aborto,<br />
outra questão de valor que costuma gerar<br />
grande controvérsia, os percentuais de aceitação<br />
são sist<strong>em</strong>aticamente baixos na América<br />
Latina, com a média regional chegando a<br />
2,86 pontos <strong>em</strong> uma escala de justificativa do<br />
aborto que vai de 1 a 10. Os jovens apresentam<br />
maior aceitação do que seus pares adultos<br />
na região, assim como os homens jovens<br />
Fonte: Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL), sobre la base de tabulaciones especiales de la encuesta<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
28 29<br />
versus mulheres jovens, <strong>em</strong>bora a diferença<br />
seja mínima <strong>em</strong> ambos os casos (veja o Gráfico<br />
14). Segundo Segovia (2009), que também<br />
encontrou resultados s<strong>em</strong>elhantes, o<br />
baixo apoio ao aborto deve-se ao fato de a<br />
religião ser um fator importante na formação<br />
de opiniões na América do Sul, sendo os países<br />
com maior proporção de fiéis aqueles que<br />
apresentam maior rejeição ao aborto.<br />
Gráfico 14. América Latina (18 países a/): Postura, <strong>em</strong> escala de 1 a 10, de jovens e adultos com relação<br />
à justificativa do aborto, segundo sexo e i<strong>da</strong>de, (pontuações médias)<br />
4,0<br />
2,0<br />
0<br />
2,86 2,98 2,80<br />
16 e mais 16 a 29<br />
anos<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Médias simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
Por outro lado, a legalização do consumo de<br />
maconha só encontra apoio superior a 50%<br />
no Chile; no restante dos países <strong>da</strong> região a<br />
rejeição é maior. Inclusive, no Paraguai, no<br />
Peru, <strong>em</strong> Honduras, <strong>em</strong> El Salvador, no Equador,<br />
na Guat<strong>em</strong>ala, na República Bolivariana <strong>da</strong><br />
Venezuela e na Nicarágua, o apoio à legalização<br />
é igual ou inferior a 10%. Em quase todos os<br />
países <strong>da</strong> região observa-se um maior apoio à<br />
30 e mais Homens<br />
jovens<br />
3,04 2,93<br />
Mulheres<br />
jovens<br />
ideia de legalizar o consumo de maconha entre<br />
a população jov<strong>em</strong>, com exceção <strong>da</strong> Nicarágua.<br />
Como pode ser visto no Gráfico 15, a opinião<br />
dos jovens segue a tendência de seu país <strong>em</strong><br />
termos gerais; somente na Costa Rica, no Brasil,<br />
na Colômbia e na Argentina o percentual<br />
de jovens a favor <strong>da</strong> legalização é o dobro ou<br />
quase o dobro do percentual de adultos que<br />
apóiam essa medi<strong>da</strong>.
Gráfico 15. América Latina (18 países a/): Jovens de 16 a 29 anos e adultos que declaram estar de<br />
acordo com a legalização <strong>da</strong> maconha (<strong>em</strong> percentuais)<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
57<br />
Chile<br />
Uruguai<br />
Costa Rica<br />
35<br />
20 20 19 19<br />
Brasil<br />
Colômbia<br />
Argentina<br />
Mexico<br />
Rep. Dominicana<br />
Panamá<br />
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com base nas tabulações especiais <strong>da</strong> pesquisa<br />
Latinobarómetro de 2015.<br />
a/ Média simples. Inclui: Argentina, Bolívia (Est. Plur. <strong>da</strong>), Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guat<strong>em</strong>ala,<br />
Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela (Rep. Bol. <strong>da</strong>).<br />
A evidência <strong>em</strong>pírica permite constatar que os<br />
jovens não pod<strong>em</strong> ser classificados de forma<br />
total como sujeitos de mu<strong>da</strong>nças com relação às<br />
orientações de valores perante diversas t<strong>em</strong>áticas,<br />
uma vez que suas opiniões sobre t<strong>em</strong>as<br />
<strong>em</strong>ergentes <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de variam entre posturas<br />
de mu<strong>da</strong>nça e de manutenção de estruturas de<br />
pensamento tradicionais. É assim que, <strong>em</strong> alguns<br />
18<br />
14 14<br />
Bolívia<br />
Paraguai<br />
Peru<br />
Honduras<br />
El Salvador<br />
Equador<br />
Guat<strong>em</strong>ala<br />
Venezuela<br />
11 10 10 9 9 8<br />
16 a 29 anos 30e mais Total nacional<br />
5 5 5<br />
Nicarágua<br />
casos, como o do casamento entre pessoas do<br />
mesmo sexo, os jovens tend<strong>em</strong> a mostrar posturas<br />
mais tolerantes e integradoras do que os<br />
adultos; <strong>em</strong> outras ocasiões, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong><br />
relação à legalização do aborto ou a questões<br />
de gênero, as posturas são mais ambíguas, com<br />
diferenças mínimas entre os posicionamentos de<br />
adultos e jovens.<br />
quais tend<strong>em</strong> a participar afastam-se <strong>da</strong>s referências<br />
clássicas nas quais a identi<strong>da</strong>de era construí<strong>da</strong><br />
antes: a política e a nação perd<strong>em</strong> relevância, apenas<br />
a família mantém sua importância. Os jovens<br />
do mundo cont<strong>em</strong>porâneo são interpelados e, ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po, sent<strong>em</strong>-se representados por grupos<br />
mais informais, que têm maior grau de horizontali<strong>da</strong>de,<br />
como os grupos musicais ou clubes<br />
esportivos.<br />
Se a formação <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des <strong>juvenis</strong> percorre<br />
novos caminhos, a <strong>discriminação</strong> sofri<strong>da</strong> por<br />
muitos jovens continua presente, ain<strong>da</strong> que, <strong>em</strong><br />
alguns casos, com nova roupag<strong>em</strong>. Em particular,<br />
são determinantes fatores como a i<strong>da</strong>de, as<br />
características físicas e o modo de se vestir dos<br />
jovens, aspectos que mostram a in<strong>tolerância</strong> e<br />
a rejeição que existe <strong>em</strong> relação ao “ser jov<strong>em</strong>”,<br />
e as diferentes maneiras pelas quais os jovens<br />
tend<strong>em</strong> a construir sua identi<strong>da</strong>de. Além disso,<br />
é inegável que dentro <strong>da</strong>s próprias juventudes<br />
exist<strong>em</strong> certos grupos que são mais discriminados<br />
do que outros, cujo caso paradigmático são<br />
as mulheres, que afirmam ser mais discrimina<strong>da</strong>s<br />
por suas características físicas e seus modos de<br />
vestir, recaindo sobre elas estereótipos de uma<br />
cultura machista, que entende as mulheres como<br />
ci<strong>da</strong>dãs de segun<strong>da</strong> classe.<br />
Com relação às <strong>atitudes</strong> discriminatórias por parte<br />
dos jovens e seus valores diante de diversos t<strong>em</strong>as,<br />
mais do que falar de uma transição inequívoca<br />
rumo a socie<strong>da</strong>des ca<strong>da</strong> vez mais tolerantes e integradoras<br />
<strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de, o que observamos são<br />
processos complexos e cheios de tensões, pelos<br />
quais os jovens constro<strong>em</strong> suas formas de interação<br />
com os outros e suas <strong>atitudes</strong> perante diferentes<br />
t<strong>em</strong>áticas. Essa complexi<strong>da</strong>de está relaciona<strong>da</strong><br />
aos processos de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
e <strong>da</strong>s concepções do mundo <strong>da</strong>s juventudes, pois<br />
é por meio <strong>da</strong> interação com os outros que eles<br />
pod<strong>em</strong> encontrar identi<strong>da</strong>des compl<strong>em</strong>entares<br />
às suas e incorporar certas <strong>atitudes</strong> e estruturas<br />
de pensamento; ou, <strong>em</strong> caso contrário, entrar <strong>em</strong><br />
conflito com elas e se posicionar de modo crítico,<br />
a fim de defender e reafirmar sua própria identi<strong>da</strong>de.<br />
Assim, atualmente, mais do que existir diferenças<br />
<strong>em</strong> relação a <strong>atitudes</strong> discriminatórias entre<br />
jovens e adultos, ou diferenças <strong>em</strong> suas posturas<br />
perante t<strong>em</strong>áticas <strong>em</strong>ergentes, como o aborto e<br />
a legalização <strong>da</strong> maconha, o que pode ser observado<br />
são certas s<strong>em</strong>elhanças entre eles, situação<br />
que mostra a importância <strong>da</strong>s interações entre<br />
grupos de adultos e jovens para a reprodução de<br />
certas estruturas de pensamento mais conservadoras<br />
e intolerantes perante a diversi<strong>da</strong>de.<br />
Diante do exposto, a i<strong>da</strong>de, tal como indicou<br />
Segovia (2009), não seria um fator determinante<br />
com relação aos valores e <strong>atitudes</strong> para com os<br />
outros. Seria preciso, sim, considerar a influência<br />
de outros fatores estruturais, como o nível educacional<br />
e econômico, nas <strong>atitudes</strong> dos diferentes<br />
sujeitos que compõ<strong>em</strong> a socie<strong>da</strong>de.<br />
VI. Conclusões<br />
Os sentidos de pertencimento e os mecanismos<br />
de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de dos jovens estão <strong>em</strong><br />
processo de mu<strong>da</strong>nça. Assim, os grupos aos quais<br />
as juventudes ibero-americanas ader<strong>em</strong> e dos<br />
30 31
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