Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
Renunciei todas as coisas e as considero como esterco para ganhar a Cristo. S. Bento, filho de família opulenta, renuncia na flor da mocidade às comodidades da casa paterna, e retira-se a uma caverna onde viverá dum pouco de pão recebido de esmola dum caridoso monge chamado Romano. S. Francisco de Borja abandona todas as suas riquezas para abraçar a via pobre na Companhia de Jesus. S. Antão vende todo o seu rico patrimônio, distribui-o aos pobres e retira-se a um deserto. S. Francisco de Assis devolve ao pai até a camisa para viver mendigando o resto de sua vida. Quem ama as riquezas, dizia S. Filipe Néri, jamais se santificará. E com efeito, num coração cheio de terra não pode ter lugar o amor divino. “Trazeis um coração vazio?” essa era, na opinião dos antigos monges, a pergunta mais necessária a fazer-se aos que se apresentavam para ser admitidos em sua companhia. Perguntando se tinham o coração livre de afeições terrenas, queriam dizer: Sabei que sem isso jamais podereis ser inteiramente de Deus. Onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração, disse Jesus Cristo. Ora, tesouro de cada um é o objeto de sua estima e de sua afeição. Morrendo uma vez um rico, S. Antônio de Pádua publicou do alto do púlpito que esse infeliz estava condenado; e como prova do que avançava, disse que fossem ver o lugar onde estava o seu dinheiro, e lá encontrariam o seu coração. Com efeito foram e acharam o coração daquele infeliz ainda quente no meio de seu dinheiro. Deus não pode ser o tesouro duma alma apegada aos bens da terra; eis por que Davi fazia esta oração: Senhor, criai em mim um coração puro, tirai do meu coração toa afeição terrena, a fim de que eu possa exclamar: Vós só, ó meu Deus, sois o Deus do meu coração e a minha partilha para sempre. Quem, pois, deseja santificar-se e verdade, deve banir de seu coração tudo o que não é Deus. De que servem os tesouros, as riquezas? para que esses bens, se não podem contentar o 86
nosso coração, e se os temos de deixar tão depressa? Não amontoeis tesouros sobre a terra, diz o Senhor, onde a ferrugem e a traça os consomem; entesourai para vós tesouros no céu. Oh! que bens imensos prepara Deus no céu aos que o amam! Que tesouro é a graça de Deus e o divino amor para quem lhe conhece o valor! Comigo estão as riquezas... para enriquecer os que me amam. Deus contém em si e leva consigo a riqueza e o prêmio. No paraíso Deus só é a recompensa dos eleitos; dando-se a eles satisfaz plenamente todos os seus desejos, conforme disse a Abraão: Eu mesmo serei a tua recompensa infinitamente grande. Mas se queremos amar muito a Deus no céu, temos primeiro de amá-lo muito na terra. O grau de amor ao qual tivermos chegado no fim de nossa peregrinação terrestre, será a medida eterna do amor em que nos abrasaremos por Deus no céu. E se queremos estar ao abrigo de todos os perigos que nos poderiam separar de Deus nesta vida, estreitemos sempre mais os laços do nosso amor, a exemplo da esposa sagrada que dizia: Achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele e não o largarei mais. Como pode a esposa sagrada agarrar o seu dileto? Brachiis caritatis. Nos braços de seu amor, responde Guilherme. Sim, diz S. Ambrósio, “é pelo amor que Jesus se deixa prender”. Feliz pois quem puder exclamar com S. Paulino: “Guardem os ricos o seu ouro e os reis os seus cetros; Jesus é a nossa glória, a nossa riqueza, a nossa coroa”. E com S. Inácio: “Senhor, dai-me a vossa graça e o vosso santo amor; fazei que vos ame e seja de vós amado; e sou bastante rico e não quero outra coisa e nada mais tenho a desejar!” “Quem possui tudo em Deus, diz S. Leão, tem certeza de nunca sentir falta de coisa alguma”. Para chegarmos a essa perfeição, invoquemos sem cessar nossa augusta Mãe, Maria, e procuremos amá-la sobre tudo depois de Deus; Ela nos afirma pelas palavras que a Santa I- 87
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amontoeis tesouros sobre a terra, diz o Senhor, on<strong>de</strong> a ferrugem<br />
e a traça os consomem; entesourai para vós tesouros no<br />
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Oh! que bens imensos prepara Deus no céu aos que o<br />
amam! Que tesouro é a graça <strong>de</strong> Deus e o divino amor para<br />
quem lhe conhece o valor! Comigo estão as riquezas... para<br />
enriquecer os que me amam. Deus contém em si e leva consigo<br />
a riqueza e o prêmio. No paraíso Deus só é a recompensa<br />
dos eleitos; dando-se a eles satisfaz plenamente todos os seus<br />
<strong>de</strong>sejos, conforme disse a Abraão: Eu mesmo serei a tua recompensa<br />
infinitamente gran<strong>de</strong>.<br />
Mas se queremos amar muito a Deus no céu, temos primeiro<br />
<strong>de</strong> amá-lo muito na terra. O grau <strong>de</strong> amor ao qual tivermos<br />
chegado no fim <strong>de</strong> nossa peregrinação terrestre, será a<br />
medida eterna do amor em que nos abrasaremos por Deus no<br />
céu. E se queremos estar ao abrigo <strong>de</strong> todos os perigos que<br />
nos po<strong>de</strong>riam separar <strong>de</strong> Deus nesta vida, estreitemos sempre<br />
mais os laços do nosso amor, a exemplo da esposa sagrada<br />
que dizia: Achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele e<br />
não o largarei mais. Como po<strong>de</strong> a esposa sagrada agarrar o<br />
seu dileto? Brachiis caritatis. Nos braços <strong>de</strong> seu amor, respon<strong>de</strong><br />
Guilherme. Sim, diz S. Ambrósio, “é pelo amor que <strong>Jesus</strong> se<br />
<strong>de</strong>ixa pren<strong>de</strong>r”. Feliz pois quem pu<strong>de</strong>r exclamar com S. Paulino:<br />
“Guar<strong>de</strong>m os ricos o seu ouro e os reis os seus cetros; <strong>Jesus</strong><br />
é a nossa glória, a nossa riqueza, a nossa coroa”. E com S.<br />
Inácio: “Senhor, dai-me a vossa graça e o vosso santo amor;<br />
fazei que vos ame e seja <strong>de</strong> vós amado; e sou bastante rico e<br />
não quero outra coisa e nada mais tenho a <strong>de</strong>sejar!” “Quem<br />
possui tudo em Deus, diz S. Leão, tem certeza <strong>de</strong> nunca sentir<br />
falta <strong>de</strong> coisa alguma”.<br />
Para chegarmos a essa perfeição, invoquemos sem cessar<br />
nossa augusta Mãe, Maria, e procuremos amá-la sobre tudo<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Deus; Ela nos afirma pelas palavras que a Santa I-<br />
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