Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
que não tens necessidade dos meus bens. — Pois bem, esse Deus tão rico se fez pobre fazendo-se homem, a fim de enriquecer a nós miseráveis pecadores. Ele sendo rico se fez pobre por vós, a fim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza, diz o apóstolo. Como! um Deus fazer-se pobre! e por que? — Procuremos compreendê-lo. Os bens terrenos não podem ser senão terra e lama; mas essa lama cega de tal forma o homem, que este não vê mais os verdadeiros bens. Antes da vinda de Jesus Cristo, o mundo era cheio de trevas, porque era cheio de pecados: Toda a carne corrompera o seu caminho. Todos os homens haviam violado e alterado a lei da razão; viviam como irracionais pensando só em gozar os bens ou prazeres terrenos e descuidando-se inteiramente dos bens eternos. Mas, graças à divina misericórdia, o Filho de Deus veio esclarecer esses cegos: Aos que habitavam na região da sombra da morte nasceu-lhes o dia. Jesus Cristo foi chamado por Simeão a Luz das nações; e por S. João a Luz que resplandece nas trevas e que ilumina a todo o homem. O Senhor já nos predissera que Ele mesmo seria o nosso Mestre, e um Mestre visível a nossos olhos, que viria ensinar-nos o caminho da salvação, o qual não é outro que a prática das virtudes e esclarecimentos da santa pobreza: Os teus olhos verão o teu Mestre. Ora, esse divino Mestre devia ensinar-nos não só por sua palavra, mas ainda e sobretudo pelo exemplo da sua vida. A pobreza, diz S. Bernardo, não existia no céu; ela só se achava na terra; mas o homem não conhecia o seu valor e por isso a detestava. Eis porque o Filho de Deus desceu do céu à terra e escolheu a pobreza por companheira de toda a sua vida a fim que seu exemplo no-la fizesse estimar e procurar. Eis, pois, vosso Redentor Menino, desde o seu nascimento feito Mestre da pobreza na gruta de Belém, que por esse motivo S. 80
Bernardo chama “escola de Jesus Cristo” e S. Agostinho “a gruta do Mestre”. Por expressa disposição de Deus, o edito de César fez que Jesus nascesse não só pobre, mas o mais pobre de todos os homens, vindo ao mundo longe de sua própria habitação numa gruta que servia de abrigo aos animais. Ordinariamente os pobres nascem em suas casas e aí encontram ao menos as coisas indispensáveis: panos, lume e pessoas que ao menos por compaixão os socorrem. Qual a criança cujos pais são tão pobres que a fazem nascer num estábulo? Nos estábulos só se vêem animais. S. Lucas narra as circunstâncias desse grande acontecimento. Chegado o tempo que Maria devia dar à luz, José lhe procurou alojamento na cidade. Em vão vai de porta em porta, nenhuma se lhes abriu. Dirige-se à hospedaria, e lá não há mais lugar para eles. É assim que a Mãe de Deus se viu obrigada a refugiar-se a uma miserável gruta, onde, apesar da grande afluência de estranhos, só se achavam dois animais. Os filhos dos príncipes da terra nascem em apartamentos preparados com cuidado e ricamente ornados; têm berços de prata e os mais finos paninhos; os grandes do reino e as mais nobres damas os assistem. O Rei do céu, em vez de apartamento bem guarnecido e aquecido, não tem por abrigo senão uma fria gruta onde crescem as ervas; em lugar dum leito de plumas, só tem um pouco de palha dura e pungente; em vez de panos finos tem só alguns trapos grosseiros, frios e úmidos; dois animais formam a sua corte, e o hálito deles, substituindo o fogo, lhe aquece os membros; enfim por berço só tem uma miserável manjedoura. “Ah! exclama S. Pedro Damião, ao ver o Criador dos anjos nesse abatimento, envergonhe-se o nosso orgulho!” “E como é possível, pergunta S. Gregório de Nissa, ao Rei dos reis, que enche o céu e a terra, não encontrar para repousar seus membros vindo ao mundo, senão essa pobre manjedoura?” É que por nosso amor esse Rei dos reis quis ser 81
- Page 29 and 30: ame, ó divino Infante. Este coraç
- Page 31 and 32: tados de todo o temor e arrancados
- Page 33 and 34: sentença de Pilatos, e entrega-se
- Page 35 and 36: E quantas ações de graças não d
- Page 37 and 38: sar de amá-lo. Eis por que é prec
- Page 39 and 40: pode haver mais de um Deus. De outr
- Page 41 and 42: ça do amor de Deus, exclama aqui S
- Page 43 and 44: virá, e vos salvará (Is 35,4). N
- Page 45 and 46: seus pés, o filho pródigo que o h
- Page 47 and 48: esquecestes das ofensas que vos fiz
- Page 49 and 50: Maria, minha Mãe, que sois a esper
- Page 51 and 52: É a esses homens temerários e ing
- Page 53 and 54: Esse texto é interpretado no mesmo
- Page 55 and 56: os demônios, se abririam a sentime
- Page 57 and 58: ta nos assegura que Ela é o “tes
- Page 59 and 60: nada pode destruir ou diminuir a su
- Page 61 and 62: trelas, as montanhas, os campos, os
- Page 63 and 64: meu serviço”. E S. João Crisós
- Page 65 and 66: deu-lhe que ia à caça dos coraç
- Page 67 and 68: CONSIDERAÇÃO VII. O VERBO ETERNO
- Page 69 and 70: nós”. E como quem ama quer ser a
- Page 71 and 72: fugir e exilar-se no Egito para esc
- Page 73 and 74: O Filho de Deus quis exercer sobre
- Page 75 and 76: mais longe: “Sofrer, dizia ela, e
- Page 77 and 78: as nossas faltas nesta vida, merece
- Page 79: CONSIDERAÇÃO VIII. O VERBO ETERNO
- Page 83 and 84: Do Egito voltam de novo à Palestin
- Page 85 and 86: Francisco Regis, que o assunto ordi
- Page 87 and 88: nosso coração, e se os temos de d
- Page 89 and 90: Ó Maria, que sois a digna Mãe de
- Page 91 and 92: do-se, segundo a palavra do Apósto
- Page 93 and 94: los por trinta dinheiros, quantia i
- Page 95 and 96: à vista dum Deus que tanto se humi
- Page 97 and 98: tão diferente da vossa. Mas quero
- Page 99 and 100: Permiti que antes vos historie em p
- Page 101 and 102: oferecessem um asilo a Jesus e o co
- Page 103 and 104: ademais são frios, são úmidos; e
- Page 105 and 106: em qualquer tempo para ver esse Rei
- Page 107 and 108: de salvação, uma noite de perdão
- Page 109 and 110: infinitos; se essas perfeições n
- Page 111 and 112: vo-lo dará. — Tudo o que pedirde
- Page 113 and 114: tocante exclamação dum piedoso au
- Page 115 and 116: Santo. Assim o Espírito Santo comu
- Page 117 and 118: sempre com confiança e amor, dizen
- Page 119 and 120: próprio Filho para se fazer homem
- Page 121 and 122: tros mundos, mil vezes maiores e ma
- Page 123 and 124: nho recebido de vós graças mais e
- Page 125 and 126: tenho feito. Sim, meu Deus, quero l
- Page 127 and 128: que lhe devia custar a sua qualidad
- Page 129 and 130: teu a essa injusta sentença, obede
que não tens necessida<strong>de</strong> dos meus bens. — Pois bem, esse<br />
Deus tão rico se fez pobre fazendo-se homem, a fim <strong>de</strong> enriquecer<br />
a nós miseráveis pecadores. Ele sendo rico se fez pobre<br />
por vós, a fim <strong>de</strong> que vós fosseis ricos pela sua pobreza,<br />
diz o apóstolo.<br />
Como! um Deus fazer-se pobre! e por que? — Procuremos<br />
compreendê-lo. Os bens terrenos não po<strong>de</strong>m ser senão terra e<br />
lama; mas essa lama cega <strong>de</strong> tal forma o homem, que este não<br />
vê mais os verda<strong>de</strong>iros bens. Antes da vinda <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong>, o<br />
mundo era cheio <strong>de</strong> trevas, porque era cheio <strong>de</strong> pecados: Toda<br />
a carne corrompera o seu caminho. Todos os homens haviam<br />
violado e alterado a lei da razão; viviam como irracionais pensando<br />
só em gozar os bens ou prazeres terrenos e <strong>de</strong>scuidando-se<br />
inteiramente dos bens eternos. Mas, graças à divina misericórdia,<br />
o Filho <strong>de</strong> Deus veio esclarecer esses cegos: Aos<br />
que habitavam na região da sombra da morte nasceu-lhes o<br />
dia.<br />
<strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong> foi chamado por Simeão a Luz das nações; e<br />
por S. João a Luz que resplan<strong>de</strong>ce nas trevas e que ilumina a<br />
todo o homem. O Senhor já nos predissera que Ele mesmo<br />
seria o nosso Mestre, e um Mestre visível a nossos olhos, que<br />
viria ensinar-nos o caminho da salvação, o qual não é outro<br />
que a prática das virtu<strong>de</strong>s e esclarecimentos da santa pobreza:<br />
Os teus olhos verão o teu Mestre. Ora, esse divino Mestre <strong>de</strong>via<br />
ensinar-nos não só por sua palavra, mas ainda e sobretudo<br />
pelo exemplo da sua vida.<br />
A pobreza, diz S. Bernardo, não existia no céu; ela só se<br />
achava na terra; mas o homem não conhecia o seu valor e por<br />
isso a <strong>de</strong>testava. Eis porque o Filho <strong>de</strong> Deus <strong>de</strong>sceu do céu à<br />
terra e escolheu a pobreza por companheira <strong>de</strong> toda a sua vida<br />
a fim que seu exemplo no-la fizesse estimar e procurar. Eis,<br />
pois, vosso Re<strong>de</strong>ntor Menino, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nascimento feito<br />
Mestre da pobreza na gruta <strong>de</strong> Belém, que por esse motivo S.<br />
80