Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
ao contrário, os que se descuidam de reclamar o socorro divino, especialmente nas tentações carnais, sucumbem miseravelmente e se perdem. Eles dizem, desculpando-se, que são de carne, que são fracos. Mas como pode desculpá-los a sua fraqueza? Para terem a força que lhes falta, bastar-lhes-ia recorrer a Jesus Cristo e invocar com confiança o seu santíssimo nome, e eles não o querem fazer! Que desculpa teria quem se queixasse de ser vencido pelo inimigo, se, sendo-lhe apresentadas as armas de defesa, as tivesse rejeitado e desprezado? Se quisesse alegar a sua fraqueza, fácil seria confundi-lo dizendo: Já que conhecias a tua fraqueza, por que não quiseste servir-te das armas que te ofereciam? O demônio, diz S. Agostinho, foi acorrentado por Jesus Cristo; ele pode ladrar, mas só pode morder a quem quer ser mordido; é preciso ser bem insensato, acrescente o Santo Doutor, para se deixar morder por um cão preso à corrente, pois o demônio pode solicitar-nos, mas não forçar-nos a consentir no mal. Ele diz ainda alhures que nosso Redentor nos deixou todos os remédios necessários à nossa cura, e que todos os que morrem, por não seguirem as prescrições do médico, devem atribuir a si mesmo a sua morte. Quem se une a Jesus Cristo não é fraco, mas se torna forte pela força de Jesus. Esse bom Mestre, ensina-nos S. Agostinho, não só nos exorta a combater, mas nos ajuda também a vencer; se nos faltam as forças, vem em nosso socorro, e Ele mesmo nos coroa após a vitória. Isaías predisse que o coxo saltaria como o veado, isto quer dizer que, pelos méritos do Salvador, quem de si mesmo não possui força de dar um passo, se torna capaz de galgar as montanhas com a maior facilidade. Predisse que fontes abundantes jorrariam do solo mais árido, isto é, que as almas estéreis, que não produziam nenhum bem, se tornariam fecundas em virtudes. Predisse que, onde moravam os dragões, nasceria a verdura da cana e do junco, isto é, que os corações mais viciados, em que habitavam 54
os demônios, se abririam a sentimentos de humildade e caridade. A cana representa a humildade, porque, segundo o comentário do Cardeal Hugo, quem é humilde julga-se vazio ou desprovido de méritos; o junco representa a caridade porque, segundo o mesmo intérprete, em algumas regiões serve de mecha a arder as lâmpadas. Numa palavra, quando recorremos a Jesus Cristo, encontramos nele toda a graça, toda a força, todo o socorro: Nele, diz o apóstolo, fostes enriquecidos de todos os bens... de maneira que nada vos falta em graça alguma. É por isso que Ele se fez homem, que se aniquilou. Em certo sentido reduziu-se a nada, diz Cornélio; despojou-se de sua majestade, de sua glória e de sua força. Tomou sobre si a nossa miséria e a nossa fraqueza, para nos comunicar a sua dignidade e o seu poder, para ser nossa luz, nossa justiça, nossa santificação, e nossa redenção. E está sempre pronto a auxiliar e confortar a quem o invoca. S. João viu o Senhor com o peito cheio de leite, isto é, de graças, e cingido dum cinto de ouro. Isso significa que Jesus Cristo em certo sentido está ligado e constrangido pelo amor que tem aos homens: à semelhança duma mãe que, tendo os seios cheios de leite, procura o filho para amamentá-lo e para se desfazer do precioso peso, Nosso Senhor deseja ardentemente que lhe peçamos as suas graças e todos os socorros de que temos necessidade para vencer os inimigos que procuram sem cessar roubar-nos a sua amizade e perder-nos. O profeta exclama: Oh! como Deus é bom e liberal para com a alma que o procura com sinceridade e resolução. Se pois não nos tornarmos santos, a culpa é nossa; é que nos não resolvemos a querer só a Deus. Os preguiçosos, ou os tíbios, querem e não querem, e são sempre vencidos, porque não tomam a firme resolução de agradar só a Deus. Uma vontade bem determinada triunfa de tudo, porque quando uma alma se decide verdadeiramente a dar-se a Deus sem reserva, o Senhor lhe estende logo a mão e a força de superar todas as difi- 55
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ao contrário, os que se <strong>de</strong>scuidam <strong>de</strong> reclamar o socorro divino,<br />
especialmente nas tentações carnais, sucumbem miseravelmente<br />
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<strong>de</strong> carne, que são fracos. Mas como po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpá-los a sua<br />
fraqueza? Para terem a força que lhes falta, bastar-lhes-ia recorrer<br />
a <strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong> e invocar com confiança o seu santíssimo<br />
nome, e eles não o querem fazer! Que <strong>de</strong>sculpa teria quem se<br />
queixasse <strong>de</strong> ser vencido pelo inimigo, se, sendo-lhe apresentadas<br />
as armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, as tivesse rejeitado e <strong>de</strong>sprezado?<br />
Se quisesse alegar a sua fraqueza, fácil seria confundi-lo dizendo:<br />
Já que conhecias a tua fraqueza, por que não quiseste<br />
servir-te das armas que te ofereciam?<br />
O <strong>de</strong>mônio, diz S. Agostinho, foi acorrentado por <strong>Jesus</strong><br />
<strong>Cristo</strong>; ele po<strong>de</strong> ladrar, mas só po<strong>de</strong> mor<strong>de</strong>r a quem quer ser<br />
mordido; é preciso ser bem insensato, acrescente o Santo Doutor,<br />
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<strong>de</strong>mônio po<strong>de</strong> solicitar-nos, mas não forçar-nos a consentir no<br />
mal. Ele diz ainda alhures que nosso Re<strong>de</strong>ntor nos <strong>de</strong>ixou todos<br />
os remédios necessários à nossa cura, e que todos os que<br />
morrem, por não seguirem as prescrições do médico, <strong>de</strong>vem<br />
atribuir a si mesmo a sua morte.<br />
Quem se une a <strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong> não é fraco, mas se torna forte<br />
pela força <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>. Esse bom Mestre, ensina-nos S. Agostinho,<br />
não só nos exorta a combater, mas nos ajuda também a<br />
vencer; se nos faltam as forças, vem em nosso socorro, e Ele<br />
mesmo nos coroa após a vitória. Isaías predisse que o coxo<br />
saltaria como o veado, isto quer dizer que, pelos méritos do<br />
Salvador, quem <strong>de</strong> si mesmo não possui força <strong>de</strong> dar um passo,<br />
se torna capaz <strong>de</strong> galgar as montanhas com a maior facilida<strong>de</strong>.<br />
Predisse que fontes abundantes jorrariam do solo mais<br />
árido, isto é, que as almas estéreis, que não produziam nenhum<br />
bem, se tornariam fecundas em virtu<strong>de</strong>s. Predisse que,<br />
on<strong>de</strong> moravam os dragões, nasceria a verdura da cana e do<br />
junco, isto é, que os corações mais viciados, em que habitavam<br />
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