Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
vemos de ter? Quem nos há de condenar? Não é o nosso próprio Salvador que morreu para não nos condenar? Para perdoar a nós, não quis perdoar a si mesmo, diz S. Bernardo. Vai, pois, pecador, ao estábulo de Belém, e agradece a Jesus Menino que treme de frio por ti naquela gruta, que geme e chora por ti sobre a palha. Agradece a teu divino Redentor que veio do céu para te chamar e salvar. Se desejas o perdão, Ele te espera no presépio para to conhecer. Apressa-te, pois, pede-lhe perdão e depois não percas a lembrança do amor que Jesus te testemunhou. Não te esqueças, diz o profeta, da i- mensa graça que te fez tornando-se fiador por ti junto de Deus e tomando sobre si o castigo que havias merecido. Não o esqueças e dá-lhe o teu coração. E saibas que, se o amares, os teus pecados não te impedirão de receber de Deus as mais abundantes e assinaladas graças, com que costuma favorecer as almas que lhe são mais caras. Tudo contribui para o nosso bem (Rm 8,28), diz o apóstolo; mesmo os nossos pecados, ajunta a Glosa. Sim, mesmo a lembrança das suas faltas é útil ao pecador que as chora e detesta, porque assim se torna mais humilde e mais grato para com Deus que o acolhe com tanto amor apesar da sua indignidade. Haverá maior alegria no céu por um só pecador que se converte, disse Jesus, do que por noventa e nove justos (Lc 15,7). Mas qual é o pecador que causa mais alegria no céu do que um grande número de justos? Aquele que, cheio de reconhecimento para com a bondade divina, se consagra com fervor e sem reserva ao celeste amor, como o fizeram um S. Paulo, uma S. Maria Madalena, uma S. Maria do Egito, um S. A- gostinho, uma S. Margarida de Cortona. Para não falar senão desta última, ainda que ela tivesse passado vários anos no pecado, Deus lhe mostrou no céu o seu lugar colocado entre os serafins, e durante a sua vida não cessou de lhe prodigalizar sempre novas graças. Vendo-se tão favorecida por Deus, disse-lhe um dia: “Senhor, concedeis-me tantas graças! Já vos 46
esquecestes das ofensas que vos fiz? — Acaso ignoras, respondeu-lhe o Senhor, a minha promessa de esquecer todos os ultrajes a mim feitos por uma alma que se arrepende sinceramente?” E de fato, é justamente isso que Ele declarou pelo profeta Ezequiel: Se o ímpio fizer penitência, eu não me lembrarei mais de nenhuma das iniqüidades que praticou (Ez 17,22). Concluamos. Os pecados cometidos pois não nos impedem de tornarmo-nos santos. Deus oferece-nos todos os seus socorros contanto que os desejemos e os peçamos. Que resta ainda? Que nos demos inteiramente a Deus, que lhe consagremos ao menos os dias que ainda nos restam de vida. Eia, pois, que fazemos? Se não avançamos, a culpa é nossa, não de Deus. Façamos com que essas misericórdias e esses ternos convites que Deus nos faz, não sejam para nós uma fonte de remorsos e desespero na hora da morte, quando não tivermos mais tempo de fazer coisa alguma, quando chegar a noite, da qual diz Jesus: Vem a noite, quando ninguém pode trabalhar (Jo 9,14). Recomendemo-nos à SS. Virgem Maria, que, segundo S. Germano, se gloria de santificar os pecadores mais perdidos obtendo-lhes não só uma graça ordinária de conversão, mas os mais assinalados favores. E Ela bem o pode fazer, pois que todas as súplicas que dirige a Jesus, são pedidos duma mãe a seu filho: “Gozando junto de Deus duma autoridade verdadeiramente material, obtendes aos maiores pecadores exímia graça de perdão”; assim fala o santo Arcebispo. Ela mesma nos anima a recorrermos à sua intercessão com as palavras que a Santa Igreja lhe põe nos lábios: Em meu poder estão os tesouros para enriquecer os que me amam (Eclo 24,25). “Vinde todos a mim, porque em mim, achareis toda a esperança de salvar-vos e de salvar-vos como santos”. Afetos e Súplicas. 47
- Page 1 and 2: Encarnação, Nascimento e Infânci
- Page 3 and 4: nos testemunhou por suas humilhaç
- Page 5 and 6: e Deus foi mais amado em poucos ano
- Page 7 and 8: sas e ameaças puderam decidir o ho
- Page 9 and 10: divina. Por isso ele se encarnou a
- Page 11 and 12: derou do homem à maneira de quem p
- Page 13 and 14: cados o teriam matado realmente, se
- Page 15 and 16: etribuir de alguma maneira a um Deu
- Page 17 and 18: ção era tão inflamado de amor po
- Page 19 and 20: parte, digamos melhor, quase todos
- Page 21 and 22: estavam satisfeitos. Queriam vê-lo
- Page 23 and 24: séria? foi o amor: Assim quis nasc
- Page 25 and 26: disse ele, mas os pecadores. Digamo
- Page 27 and 28: Temos ofendido a Deus; merecemos se
- Page 29 and 30: ame, ó divino Infante. Este coraç
- Page 31 and 32: tados de todo o temor e arrancados
- Page 33 and 34: sentença de Pilatos, e entrega-se
- Page 35 and 36: E quantas ações de graças não d
- Page 37 and 38: sar de amá-lo. Eis por que é prec
- Page 39 and 40: pode haver mais de um Deus. De outr
- Page 41 and 42: ça do amor de Deus, exclama aqui S
- Page 43 and 44: virá, e vos salvará (Is 35,4). N
- Page 45: seus pés, o filho pródigo que o h
- Page 49 and 50: Maria, minha Mãe, que sois a esper
- Page 51 and 52: É a esses homens temerários e ing
- Page 53 and 54: Esse texto é interpretado no mesmo
- Page 55 and 56: os demônios, se abririam a sentime
- Page 57 and 58: ta nos assegura que Ela é o “tes
- Page 59 and 60: nada pode destruir ou diminuir a su
- Page 61 and 62: trelas, as montanhas, os campos, os
- Page 63 and 64: meu serviço”. E S. João Crisós
- Page 65 and 66: deu-lhe que ia à caça dos coraç
- Page 67 and 68: CONSIDERAÇÃO VII. O VERBO ETERNO
- Page 69 and 70: nós”. E como quem ama quer ser a
- Page 71 and 72: fugir e exilar-se no Egito para esc
- Page 73 and 74: O Filho de Deus quis exercer sobre
- Page 75 and 76: mais longe: “Sofrer, dizia ela, e
- Page 77 and 78: as nossas faltas nesta vida, merece
- Page 79 and 80: CONSIDERAÇÃO VIII. O VERBO ETERNO
- Page 81 and 82: Bernardo chama “escola de Jesus C
- Page 83 and 84: Do Egito voltam de novo à Palestin
- Page 85 and 86: Francisco Regis, que o assunto ordi
- Page 87 and 88: nosso coração, e se os temos de d
- Page 89 and 90: Ó Maria, que sois a digna Mãe de
- Page 91 and 92: do-se, segundo a palavra do Apósto
- Page 93 and 94: los por trinta dinheiros, quantia i
- Page 95 and 96: à vista dum Deus que tanto se humi
vemos <strong>de</strong> ter? Quem nos há <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar? Não é o nosso próprio<br />
Salvador que morreu para não nos con<strong>de</strong>nar? Para perdoar<br />
a nós, não quis perdoar a si mesmo, diz S. Bernardo.<br />
Vai, pois, pecador, ao estábulo <strong>de</strong> Belém, e agra<strong>de</strong>ce a<br />
<strong>Jesus</strong> Menino que treme <strong>de</strong> frio por ti naquela gruta, que geme<br />
e chora por ti sobre a palha. Agra<strong>de</strong>ce a teu divino Re<strong>de</strong>ntor<br />
que veio do céu para te chamar e salvar. Se <strong>de</strong>sejas o perdão,<br />
Ele te espera no presépio para to conhecer. Apressa-te, pois,<br />
pe<strong>de</strong>-lhe perdão e <strong>de</strong>pois não percas a lembrança do amor que<br />
<strong>Jesus</strong> te testemunhou. Não te esqueças, diz o profeta, da i-<br />
mensa graça que te fez tornando-se fiador por ti junto <strong>de</strong> Deus<br />
e tomando sobre si o castigo que havias merecido. Não o esqueças<br />
e dá-lhe o teu coração. E saibas que, se o amares, os<br />
teus pecados não te impedirão <strong>de</strong> receber <strong>de</strong> Deus as mais<br />
abundantes e assinaladas graças, com que costuma favorecer<br />
as almas que lhe são mais caras. Tudo contribui para o nosso<br />
bem (Rm 8,28), diz o apóstolo; mesmo os nossos pecados,<br />
ajunta a Glosa. Sim, mesmo a lembrança das suas faltas é útil<br />
ao pecador que as chora e <strong>de</strong>testa, porque assim se torna mais<br />
humil<strong>de</strong> e mais grato para com Deus que o acolhe com tanto<br />
amor apesar da sua indignida<strong>de</strong>. Haverá maior alegria no céu<br />
por um só pecador que se converte, disse <strong>Jesus</strong>, do que por<br />
noventa e nove justos (Lc 15,7).<br />
Mas qual é o pecador que causa mais alegria no céu do<br />
que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> justos? Aquele que, cheio <strong>de</strong> reconhecimento<br />
para com a bonda<strong>de</strong> divina, se consagra com fervor<br />
e sem reserva ao celeste amor, como o fizeram um S. Paulo,<br />
uma S. Maria Madalena, uma S. Maria do Egito, um S. A-<br />
gostinho, uma S. Margarida <strong>de</strong> Cortona. Para não falar senão<br />
<strong>de</strong>sta última, ainda que ela tivesse passado vários anos no pecado,<br />
Deus lhe mostrou no céu o seu lugar colocado entre os<br />
serafins, e durante a sua vida não cessou <strong>de</strong> lhe prodigalizar<br />
sempre novas graças. Vendo-se tão favorecida por Deus, disse-lhe<br />
um dia: “Senhor, conce<strong>de</strong>is-me tantas graças! Já vos<br />
46