Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
misericórdia, mas ainda segundo a sua justiça: Livrai-se na vossa justiça (Sl 30,12). Deus sempre teve um extremo desejo de salvar os pecadores. Já na antiga lei Ele os seguia dizendo: Transgressores dos meus preceitos, entrai em vós mesmos (Is 46,8). Pensai nos benefícios que de mim recebestes, no amor que vos testemunhei, e cessai de ofender-me. Voltai-vos a mim (Zc 1,3), e eu me voltarei a vós para vos abraçar. Vós que sois meus filhos, por que vos quereis perder e condenar à morte eterna? voltai-vos a mim, e vivereis (Ez 21,31). Enfim a misericórdia divina do Senhor o fez descer do céu à terra, para nos subtrair à morte; assim afirma S. Zacarias: Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, graças à qual nos visitou do alto o Sol nascente (Jesus) (Lc 1,78). Mas é preciso refletir aqui no que diz S. Paulo: antes que Deus se fizesse homem, Ele era cheio de misericórdia por nós, mas não podia sentir compaixão de nossas misérias, porque a compaixão é um sentimento doloroso, e Deus é incapaz de dor. Ora, segundo o apóstolo, o Verbo Eterno se fez homem, sensível à dor como os outros homens para poder não só salvar-nos mas também ter compaixão de nós: Não temos um pontífice que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que foi tentado em tudo à nossa semelhança, exceto o pecado. Ele deveu em tudo ser semelhante a seus irmãos, a fim de ser compassivo (Hb 2,17). Quão grande é a compaixão de Jesus Cristo para com os pobres pecadores! Disso nos dá uma idéia, tomando os traços daquele bom Pastor que vai à procura da velha desgarrada, e que, depois de achá-la, convida seus amigos a regozijarem-se com ele: Congratulai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia tresmalhado (Lc 15,6). Toma-a sobre os ombros e aperta-a a si de medo de tornar a perdê-la. É por causa dessa compaixão que Ele se representou sob o emblema daquele bom pai que vendo de volta, e prostrado a 44
seus pés, o filho pródigo que o havia deixado, não o repele, mas o abraça, o cobre de carícias e quase fica fora de si de consolação e ternura vendo-o arrependido. Correndo, lançoulhe os braços ao pescoço e beijou-o (Lc 15,20). É essa compaixão que faz que, expulso duma alma pelo pecado, não se afasta, mas permanece à porta de seu coração, em que não cessa de bater por meio de suas graças para nele entrar: Estou à porta, diz Ele, e bato (Ap 3,20). É essa compaixão que o fazia dizer a seus discípulos, cujo zelo indiscreto queria tirar vingança dos que o haviam repelido: Vós não sabeis de que espírito sois (Lc 6,53). Vedes qual é minha compaixão para com os pecadores e desejais vingança? Ide; retirai-vos, porque não estais animados do meu espírito. É essa compaixão enfim que o fez dizer: Vinde a mim todos os que trabalhais e vos achais carregados, e eu vos aliviarei (Mt 11,28). E de fato, com que ternura esse amável Redentor perdoou a Madalena logo que ela reconheceu suas faltas, e a converteu numa grande santa! Com que bondade perdoou ao paralítico, ao qual restituiu ao mesmo tempo a saúde do corpo! Com que bondade se portou sobretudo para com a mulher adúltera! Os sacerdotes levaram-lhe essa pecadora para que Ele a condenasse. Mas, voltando-se para ela, disse-lhe: Ninguém te condenou?... nem eu te condenarei (Jo 8); isto é: se nenhum daqueles que te trouxeram aqui te condenou, como poderia eu fazê-lo, eu que vim salvar os pecadores? Vai em paz e não peques mais. Nada temamos de Jesus Cristo; temamos tudo de nós mesmos, de nossa obstinação, se depois de termos ofendido o Senhor, recusarmos obedecer à sua voz, que nos convida à reconciliação. Meditemos estas palavras de S. Paulo: Quem deveria condenar-nos? O Cristo Jesus que morreu... e que continua a interceder por nós (Rm 8,34). Se quisermos obstinarnos no pecado, Jesus Cristo será obrigado a condenar-nos; mas se nos arrependermos do mal que fizemos, que medo ha- 45
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mas o abraça, o cobre <strong>de</strong> carícias e quase fica fora <strong>de</strong> si <strong>de</strong><br />
consolação e ternura vendo-o arrependido. Correndo, lançoulhe<br />
os braços ao pescoço e beijou-o (Lc 15,20). É essa compaixão<br />
que faz que, expulso duma alma pelo pecado, não se<br />
afasta, mas permanece à porta <strong>de</strong> seu coração, em que não<br />
cessa <strong>de</strong> bater por meio <strong>de</strong> suas graças para nele entrar: Estou<br />
à porta, diz Ele, e bato (Ap 3,20). É essa compaixão que o fazia<br />
dizer a seus discípulos, cujo zelo indiscreto queria tirar vingança<br />
dos que o haviam repelido: Vós não sabeis <strong>de</strong> que espírito<br />
sois (Lc 6,53). Ve<strong>de</strong>s qual é minha compaixão para com os pecadores<br />
e <strong>de</strong>sejais vingança? I<strong>de</strong>; retirai-vos, porque não estais<br />
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dizer: Vin<strong>de</strong> a mim todos os que trabalhais e vos achais carregados,<br />
e eu vos aliviarei (Mt 11,28).<br />
E <strong>de</strong> fato, com que ternura esse amável Re<strong>de</strong>ntor perdoou<br />
a Madalena logo que ela reconheceu suas faltas, e a converteu<br />
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bonda<strong>de</strong> se portou sobretudo para com a mulher adúltera! Os<br />
sacerdotes levaram-lhe essa pecadora para que Ele a con<strong>de</strong>nasse.<br />
Mas, voltando-se para ela, disse-lhe: Ninguém te con<strong>de</strong>nou?...<br />
nem eu te con<strong>de</strong>narei (Jo 8); isto é: se nenhum daqueles<br />
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mais.<br />
Nada temamos <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> <strong>Cristo</strong>; temamos tudo <strong>de</strong> nós<br />
mesmos, <strong>de</strong> nossa obstinação, se <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> termos ofendido o<br />
Senhor, recusarmos obe<strong>de</strong>cer à sua voz, que nos convida à<br />
reconciliação. Meditemos estas palavras <strong>de</strong> S. Paulo: Quem<br />
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