Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
atado como um criminoso por essa gentalha que vos quer conduzir à morte! Mas, ó meu Deus, que tendes a fazer com as cordas e as cadeias? As cadeias são para os malfeitores e não para vós, que sois inocente, que sois o Filho de Deus, a inocência e a santidade mesma. A isso replica S. Lourenço Justiniano: As cordas que arrastaram Jesus à morte não foram as cordas com que os soldados o amarraram, foi o seu amor pelos homens. “Ó caridade, exclama ele a seguir, quão forte é o teu vínculo que pôde prender um Deus!” Lançando em seguida seus olhares sobre a injusta sentença de Pilatos, que condena Jesus à cruz depois de o haver declarado várias vezes inocente, S. Bernardo não pode reter as lágrimas e assim se dirige ao Salvador: Ah! Senhor, ouço esse juiz iníquo que vos condena a morrer na cruz! Mas, que mal fizestes? que crime cometestes para merecer suplício tão cruel e tão infame reservado aos mais hediondos facínoras? Ah! entendo, meu Jesus, continua ele, entendo qual é o vosso crime; é o excesso do vosso amor pelos homens. Sim, é antes esse amor do que Pilatos, que vos condena à morte; pois que vós mesmo quisestes morrer para pagar a pena devida aos homens. Ao chegar ao tempo de sua Paixão, nosso divino Redentor suplicou a seu Pai o glorificasse logo aceitando o sacrifício de sua vida: E agora, meu Pai, glorificai-me (Jo 17,5). “Mas como! exclama admirado S. João Crisóstomo, chamais glória vossa uma Paixão e uma morte, acompanhadas de tantas dores e humilhações?” E lhe parece que Jesus lhe responde: “Sim, no meu amor pelos homens, tenho por glória sofrer e morrer por eles”. Dizei aos pusilânimes: Tomai ânimo e não temais; eis que vosso Deus trará a vingança e as represálias. Deus mesmo II. 42
virá, e vos salvará (Is 35,4). Não temas, pois, diz o profeta, já não desconfieis, pobres pecadores. Como podeis temer não serdes perdoados quando o Filho de Deus desce do céu para vos salvar, e com o sacrifício de sua vida paga a Deus o que a sua justa vingança tinha direito de exigir por vossos pecados? Se as vossas ações são insuficientes para aplacar a cólera divina, eis que a aplaca esse Menino que vedes deitado sobre palha, a tiritar de frio, a chorar. Com suas lágrimas Ele aplaca Aquele a quem ofendestes. “Não tendes razão de vos afligir, ajunta S. Leão, por causa da sentença de morte pronunciada contra vós, pois que hoje nasceu-vos Aquele que vos trás a vida”. E S. Agostinho: “Eis um dia de doçura para os penitentes: hoje apagou-se o pecado; que pecador poderia ainda desesperar de sua salvação?” Se não podeis prestar à justiça divina a satisfação que lhe deveis, eis que Jesus a oferece em vosso lugar: começou a fazer penitência por vós nessa gruta, continuará essa obra de caridade durante toda a sua vida, e a consumará na cruz, pregando toda a sua vida, e a consumará na cruz, pregando nela, como diz S. Paulo, o decreto de vossa condenação para o apagar com seu sangue: Cancelando o quirógrafo do decreto que nos era desfavorável, que era contra nós, e o aboliu inteiramente, encravando-o na cruz (Cl 2,14). Diz o mesmo apóstolo que, morrendo por nós, Jesus Cristo se fez nossa justiça. E isso, explica S. Bernardo, no sentido de que Ele nos lavou de nossos pecados. E com efeito, aceitando por nós as dores e a morte de Jesus Cristo, Deus está obrigado por justiça, em virtude dum pacto entre Ele e o Salvador, a conceder-nos a remissão de nossas dívidas. Aquele que não conhecia o pecado, diz ainda S. Paulo, Deus o fez vítima do pecado, a fim de que sejamos por Ele justos aos olhos de Deus (2Cor 5,21). A inocência mesma tornou-se vítima dos nossos pecados, a fim de que, em virtude de seus méritos, e segundo toda a justiça, tivéssemos direito ao perdão. Eis por que Davi pedia a Deus que o salvasse, não só segundo a sua 43
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à morte! Mas, ó meu Deus, que ten<strong>de</strong>s a fazer com as<br />
cordas e as ca<strong>de</strong>ias? As ca<strong>de</strong>ias são para os malfeitores e não<br />
para vós, que sois inocente, que sois o Filho <strong>de</strong> Deus, a inocência<br />
e a santida<strong>de</strong> mesma. A isso replica S. Lourenço Justiniano:<br />
As cordas que arrastaram <strong>Jesus</strong> à morte não foram as<br />
cordas com que os soldados o amarraram, foi o seu amor pelos<br />
homens. “Ó carida<strong>de</strong>, exclama ele a seguir, quão forte é o teu<br />
vínculo que pô<strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r um Deus!”<br />
Lançando em seguida seus olhares sobre a injusta sentença<br />
<strong>de</strong> Pilatos, que con<strong>de</strong>na <strong>Jesus</strong> à cruz <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o haver <strong>de</strong>clarado<br />
várias vezes inocente, S. Bernardo não po<strong>de</strong> reter as<br />
lágrimas e assim se dirige ao Salvador: Ah! Senhor, ouço esse<br />
juiz iníquo que vos con<strong>de</strong>na a morrer na cruz! Mas, que mal<br />
fizestes? que crime cometestes para merecer suplício tão cruel<br />
e tão infame reservado aos mais hediondos facínoras? Ah! entendo,<br />
meu <strong>Jesus</strong>, continua ele, entendo qual é o vosso crime;<br />
é o excesso do vosso amor pelos homens. Sim, é antes esse<br />
amor do que Pilatos, que vos con<strong>de</strong>na à morte; pois que vós<br />
mesmo quisestes morrer para pagar a pena <strong>de</strong>vida aos homens.<br />
Ao chegar ao tempo <strong>de</strong> sua Paixão, nosso divino Re<strong>de</strong>ntor<br />
suplicou a seu Pai o glorificasse logo aceitando o sacrifício <strong>de</strong><br />
sua vida: E agora, meu Pai, glorificai-me (Jo 17,5). “Mas como!<br />
exclama admirado S. João Crisóstomo, chamais glória vossa<br />
uma Paixão e uma morte, acompanhadas <strong>de</strong> tantas dores e<br />
humilhações?” E lhe parece que <strong>Jesus</strong> lhe respon<strong>de</strong>: “Sim, no<br />
meu amor pelos homens, tenho por glória sofrer e morrer por<br />
eles”.<br />
Dizei aos pusilânimes: Tomai ânimo e não temais; eis que<br />
vosso Deus trará a vingança e as represálias. Deus mesmo<br />
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