Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
do semelhante aos homens pecadores (Rm 8,3). O apóstolo ajunta: Pelo pecado (cometido pelos judeus contra Jesus Cristo) Ele condenou o pecado (que reinava) na carne, o que significa, segundo a explicação de S. João Crisóstomo e de Teodoreto, que Deus condenou o pecado a perder o império que tinha sobre os homens condenando à morte seu divino Filho, que, embora revestido de carne aparentemente manchada de pecado, não era menos santo e inocente. Assim, para salvar os homens e para ver ao mesmo tempo sua justiça satisfeita, Deus condenou seu próprio Filho a uma vida penosa e a uma morte cruel! — É isso verdade? É um artigo de fé. S. Paulo nos assegura com as palavras: Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós (Rm 8,32). E Jesus Cristo mesmo o declarou: Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito (Jo 3,16). Célio Rodígino narra num certo Dejótaro que sendo pai de vários filhos, e querendo deixar toda a herança a um filho que ele preferia a todos os outros, cometeu o bárbaro crime de degolar a estes últimos. Deus fez justamente o contrário: sacrificou seu dileto Filho, o seu Unigênito, para salvar criaturas desprezíveis e ingratas. Pois Deus amou de tal modo o mundo que entregou seu unigênito Filho! Meditemos bem estas palavras de Nosso Senhor: Deus amou de tal modo o mundo. A palavra de tal modo lá está, diz S. João Crisóstomo, para exprimir a grandeza desse amor. Como? Digna-se um Deus amar os homens, miseráveis vermes da terra, que levaram até à revolta a sua ingratidão para com Ele? E ama-os ao ponto de dar por eles seu unigênito Filho! Não entregou por eles um de seus servos, ajunta o Santo Doutor, não um anjo, nem um arcanjo, mas o seu próprio Filho, o seu unigênito Filho, a quem ama como a si mesmo. Esse Filho Ele o deu, e como? Pobre, humilhado, abandonado de todos, entregou-o às mãos dos algozes, para ser tratado como um malfeitor e pregado num patíbulo infame! — Ó graça, ó for- 40
ça do amor de Deus, exclama aqui S. Bernardo. Ah! quem se não enterneceria ao saber que um rei, para libertar um escravo, se viu constrangido a dar a morte a seu filho único, ao objeto de todas as suas afeições, a um filho que amava como a si mesmo? Se um Deus o não tivesse feito, quem poderia, exclama S. João Crisóstomo, quem poderia superá-lo ou imaginá-lo? Mas, Senhor, parece uma injustiça condenar à morte um filho inocente para salvar o escravo que vos ofendeu. Segundo a razão humana acusaríamos certamente de enorme injustiça o pai que fizesse morrer o filho inocente, para livrar indignos servos da morte devida a seus crimes. É a reflexão de Salviano. Mas não houve injustiça na conduta divina, porque o Filho mesmo se ofereceu a seu Pai para pagar as dívidas dos homens. Foi imolado porque Ele mesmo quis, diz Isaías. Eis pois Jesus que se sacrifica voluntariamente por nós, como vítima de amor. Ei-lo semelhante a um tenro cordeiro sob a mão do tosquiador; e embora inocente submete-se, sem abrir a boca, a todos os opróbrios, a todos os tormentos que os homens lhe infligem: Como um cordeiro diante do que o tosquia, guardará silêncio e não abrirá sequer a sua boca, continua o profeta (Is 53,7). Eis enfim o nosso amantíssimo Salvador que, para nos salvar, quer padecer a morte e todas as penas que temos merecido: Verdadeiramente Ele tomou sobre si as nossas fraquezas, e ele mesmo carregou com as nossas dores (Is 53,4). Levado ao desejo de garantir a salvação dos homens, diz S. Gregório de Nazianzo, ele não recua diante dos suplícios feitos para os maiores criminosos. E quem pôde fazer isso? pergunta S. Bernardo. Qual foi a causa desse prodígio: um Deus que morre por suas criaturas! Fê-lo o amor de Deus pelos homens. O Santo considera nosso amável Salvador no momento em que se deixou prender e ligar pelos soldados no jardim de Getsêmani, como narra S. João: Prenderam a Jesus e o ataram: “Senhor, exclama ele, que há de comum entre vós e as cordas?” Senhor, diz ele, eu vos vejo 41
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não enterneceria ao saber que um rei, para libertar um escravo,<br />
se viu constrangido a dar a morte a seu filho único, ao objeto<br />
<strong>de</strong> todas as suas afeições, a um filho que amava como a si<br />
mesmo? Se um Deus o não tivesse feito, quem po<strong>de</strong>ria, exclama<br />
S. João Crisóstomo, quem po<strong>de</strong>ria superá-lo ou imaginá-lo?<br />
Mas, Senhor, parece uma injustiça con<strong>de</strong>nar à morte um filho<br />
inocente para salvar o escravo que vos ofen<strong>de</strong>u. Segundo a<br />
razão humana acusaríamos certamente <strong>de</strong> enorme injustiça o<br />
pai que fizesse morrer o filho inocente, para livrar indignos servos<br />
da morte <strong>de</strong>vida a seus crimes. É a reflexão <strong>de</strong> Salviano.<br />
Mas não houve injustiça na conduta divina, porque o Filho<br />
mesmo se ofereceu a seu Pai para pagar as dívidas dos homens.<br />
Foi imolado porque Ele mesmo quis, diz Isaías. Eis pois<br />
<strong>Jesus</strong> que se sacrifica voluntariamente por nós, como vítima <strong>de</strong><br />
amor. Ei-lo semelhante a um tenro cor<strong>de</strong>iro sob a mão do tosquiador;<br />
e embora inocente submete-se, sem abrir a boca, a<br />
todos os opróbrios, a todos os tormentos que os homens lhe<br />
infligem: Como um cor<strong>de</strong>iro diante do que o tosquia, guardará<br />
silêncio e não abrirá sequer a sua boca, continua o profeta (Is<br />
53,7). Eis enfim o nosso amantíssimo Salvador que, para nos<br />
salvar, quer pa<strong>de</strong>cer a morte e todas as penas que temos merecido:<br />
Verda<strong>de</strong>iramente Ele tomou sobre si as nossas fraquezas,<br />
e ele mesmo carregou com as nossas dores (Is 53,4). Levado<br />
ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> garantir a salvação dos homens, diz S. Gregório<br />
<strong>de</strong> Nazianzo, ele não recua diante dos suplícios feitos<br />
para os maiores criminosos.<br />
E quem pô<strong>de</strong> fazer isso? pergunta S. Bernardo. Qual foi a<br />
causa <strong>de</strong>sse prodígio: um Deus que morre por suas criaturas!<br />
Fê-lo o amor <strong>de</strong> Deus pelos homens. O Santo consi<strong>de</strong>ra nosso<br />
amável Salvador no momento em que se <strong>de</strong>ixou pren<strong>de</strong>r e ligar<br />
pelos soldados no jardim <strong>de</strong> Getsêmani, como narra S. João:<br />
Pren<strong>de</strong>ram a <strong>Jesus</strong> e o ataram: “Senhor, exclama ele, que há<br />
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