Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo
amar”. O profeta Isaías havia predito que o Filho de Deus nasceria criança e assim se daria todo a nós, por amor. Nasceunos um Menino, foi-nos dado um Filho. Ah! meu Jesus, meu soberano Senhor e verdadeiro Deus, quem vos moveu a deixar o céu e a nascer numa gruta senão o vosso amor pelos homens? Quem vos fez descer do vosso trono elevado acima dos astros, para vos estender sobre palha? Porque vejo-vos agora deitado entre dois animais quando antes vos rodeavam os coros dos anjos? Abrasais de santo amor os Serafins, e eis que tremeis de frio num estábulo! Dais movimento aos céus e aos sóis, e eis que não podeis mudar de lugar sem o concurso de um braço estranho! Provedes ao alimento dos homens e dos animais, e tendes necessidade dum pouco de leite para sustentar a vida! Sois a alegria do céu, como pois vos ouço gemer e chorar? Dizei-me: quem vos reduziu a tanta miséria? “Quem é o autor de todas essas mudanças? pergunta S. Bernardo; é o amor”, responde ele, é o vosso amor para com os homens. Afetos e Súplicas. Ó caro Menino, dizei-me: que viestes fazer na terra? dizeime: que viestes aqui buscar? Ah! eu vos entendo: viestes morrer por mim a fim de livrar-me do inferno; viestes procurar-me, que sou ovelha perdida, a fim que para o futuro me não afaste mais de vós e vos ame. Ó meu Jesus, meu tesouro, minha vida, meu amor, meu tudo, se vos não amar a quem amarei? Onde posso achar um pai, um amigo, um esposo, mais amável do que vós, e que mais do que vós me tenha amado? Amovos, meu Deus, amo-vos, meu único Bem! Pesa-me de ter vivido tantos anos, não só sem vos amar, mas ofendendo-vos e desprezando-vos. Perdoai-me, meu amado Redentor, arrependo-me de vos haver tratado assim, arrependo-me de toda a minha alma. Perdoai-me e dai-me a graça de me não separar 240
mais de vós e de vos amar no resto de minha vida. Ó meu a- mor, dou-me todo a vós; aceitai-me, e não me repitais como mereço. Maria, sois minha Advogada, e por vossas preces, obtendes de vosso divino Filho tudo o que desejais; pedi-lhe que me perdoe e me conceda a santa perseverança até a morte. MEDITAÇÃO III. DA VIDA POBRE QUE JESUS ABRAÇA AO NASCER. Deus dispusera que no momento em que seu Filho devia nascer sobre a terra, cada qual fosse obrigado, por ordem do imperador, a ir ao lugar de sua origem para lá ser inscrito; assim José teve de ir com sua Esposa a Belém para se alistar segundo o decreto de César. Chegou então a hora em que Maria devia dar à luz o seu divino Filho; não podendo achar lugar em nenhuma casa, nem mesmo nas hospedarias públicas em que ficavam os pobres, foi obrigada a retirar-se de noite a uma gruta, e lá deu à luz o Rei do céu. Se Jesus tivesse vindo ao mundo em Nazaré, é certo que teria também nascido em pobreza, mas ao menos teria tido um quarto salubre, um pouco de lume, paninhos quentes, e um berço mais cômodo. Mas não: ele quis nascer na gruta fria e sem lume; quis que um presépio lhe servisse de berço, e que um pouco de palha rude lhe servisse de leito a fim de sofrer mais. Entremos no estábulo de Belém, mas entremos com fé. Se lá entrarmos sem fé, que veremos? Uma pobre criancinha que treme e chora, atormentada pelo frio e pela rudeza da palha em que está deitada; vendo-a tão bela teremos, sim, um sentimento de compaixão, e nada mais. Se ao contrário lá entrarmos com fé refletiremos que essa criança é o Filho de Deus, que veio ao mundo por nosso amor, e que sofre para expiar os 241
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amar”. O profeta Isaías havia predito que o Filho <strong>de</strong> Deus nasceria<br />
criança e assim se daria todo a nós, por amor. Nasceunos<br />
um Menino, foi-nos dado um Filho.<br />
Ah! meu <strong>Jesus</strong>, meu soberano Senhor e verda<strong>de</strong>iro Deus,<br />
quem vos moveu a <strong>de</strong>ixar o céu e a nascer numa gruta senão o<br />
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elevado acima dos astros, para vos esten<strong>de</strong>r sobre palha?<br />
Porque vejo-vos agora <strong>de</strong>itado entre dois animais quando antes<br />
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Serafins, e eis que tremeis <strong>de</strong> frio num estábulo! Dais movimento<br />
aos céus e aos sóis, e eis que não po<strong>de</strong>is mudar <strong>de</strong> lugar<br />
sem o concurso <strong>de</strong> um braço estranho! Prove<strong>de</strong>s ao alimento<br />
dos homens e dos animais, e ten<strong>de</strong>s necessida<strong>de</strong> dum<br />
pouco <strong>de</strong> leite para sustentar a vida! Sois a alegria do céu, como<br />
pois vos ouço gemer e chorar? Dizei-me: quem vos reduziu<br />
a tanta miséria? “Quem é o autor <strong>de</strong> todas essas mudanças?<br />
pergunta S. Bernardo; é o amor”, respon<strong>de</strong> ele, é o vosso amor<br />
para com os homens.<br />
Afetos e Súplicas.<br />
Ó caro Menino, dizei-me: que viestes fazer na terra? dizeime:<br />
que viestes aqui buscar? Ah! eu vos entendo: viestes morrer<br />
por mim a fim <strong>de</strong> livrar-me do inferno; viestes procurar-me,<br />
que sou ovelha perdida, a fim que para o futuro me não afaste<br />
mais <strong>de</strong> vós e vos ame. Ó meu <strong>Jesus</strong>, meu tesouro, minha vida,<br />
meu amor, meu tudo, se vos não amar a quem amarei?<br />
On<strong>de</strong> posso achar um pai, um amigo, um esposo, mais amável<br />
do que vós, e que mais do que vós me tenha amado? Amovos,<br />
meu Deus, amo-vos, meu único Bem! Pesa-me <strong>de</strong> ter vivido<br />
tantos anos, não só sem vos amar, mas ofen<strong>de</strong>ndo-vos e<br />
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<strong>de</strong> vos haver tratado assim, arrependo-me <strong>de</strong> toda a<br />
minha alma. Perdoai-me e dai-me a graça <strong>de</strong> me não separar<br />
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